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História The Kingdom - Interativa - Prólogo



Notas do Autor


Esse capítulo apresenta um pouco de alguns personagens e mais um pouco dos reinos. As fichas devem ficar mais completa com a leitura do jornal, que apresenta muita coisa e explica muita coisa também.

Esperamos que gostem, boa leitura e perdão pelos erros de português.

Capítulo 2 - Prólogo


Reino Dhoko

A manhã estava mais quente do que o normal no Reino Dhoko, Jacob Quasar foi acordado por uma das empregadas do castelo, aquele dia era muito especial para o jovem príncipe do reino, ele iria iniciar seus estudos na famosa Academia Krahker. Ele se levantou rapidamente e foi até o banheiro, ao se observar no espelho ele ajeitou os cabelos castanhos e piscou os olhos algumas vezes, o sol que entrava pela pequena janela de vidro iluminava seus olhos azuis ainda mais. O jovem príncipe sorriu ao notar que Quintus, seu lobo de estimação e seu melhor amigo, estava esperando por ele na porta.

 

Ele caminhou pelos grandes corredores do castelo acompanhado por Quintus, todos os corredores eram decorados nas cores azul, branca e dourada, existia um tapete vermelho ocupando grande parte da largura do corredor e a cada 20 passos era possível encontrar um dos solados de guarda, apesar dos recentes tempos de paz, a segurança ainda era muito valorizada e era uma das grandes preocupações da família Quasar, família real que governava o reino.

 

— Bom dia meu filho — Jacob ouviu seu pai dizer quando entrou na sala de jantar, que estava sendo usada para o café da manhã real daquele dia.

 

A sala de jantar era gigantesca, a mesa tinha 20 lugares e ocupava apenas a parte central, Tanner Quasar, o rei do Reino Dhoko estava sentado na ponta, usando sua vestimenta padrão, camisa social azul, calça preta e sapatos sociais pretos, Jacob se lembrava perfeitamente de quando era mais jovem e seu pai tinha lhe contado que gostava de tomar café da manhã usando sua armadura, mas tinha sido proibido de fazer isso pela esposa, a rainha Lia Quasar, mãe de Jacob, que estava usando um vestido azul marinho e sorria carinhosamente para o filho.

 

— Bom dia pai, bom dia mãe — Jacob se sentou à mesa e relaxou o corpo.

 

— Ansioso? — Lia perguntou encarando o filho com seus profundos olhos azuis.

 

— Tá perceptível? — Jacob perguntou.

 

— Você colocou a camisa ao contrário — Tanner disse sorrindo para o filho.

 

— É, acho que isso responde a minha pergunta — Jacob disse se levantando e colocando a camisa da forma correta — Eu não sei o que esperar de lá, eu já ouvi diversas histórias sobre a Academia e sobre como as coisas funcionam por lá, mas não sei o que esperar.

 

— Tenta não pensar demais nisso — Tanner disse.

 

— Não dá — Jacob disse rindo.

 

— Relaxa, vai ficar tudo bem maninho — Uma garota de baixa estatura e cabelos loiros entrou na sala de jantar, a princesa de Dhoko, Nathaly Quasar.

 

Nathaly era uma pesquisadora de animais e criaturas mágicas, ela tinha se recusado a ir para a Academia e também tinha recusado o cargo de futura rainha, ela raramente aparecia em casa, vivia viajando, por isso as rápidas visitas dela eram tidas como eventos. Mas dessa vez ela tinha chegado sem avisar.

 

— Porque você não avisou que estava vindo? — Tanner perguntou enquanto observava Nathaly e Jacob se abraçando — Nós poderíamos ter feito as preparações para uma grande festa.

 

— Eu só vim até aqui para me despedir do Jake e desejar boa sorte — Nathaly explicou enquanto acariciava os pelos brancos de Quintus — Eu estou avançada em uma pesquisa e preciso concluir o mais rápido possível.

 

Lia sorriu com aquilo, ela se orgulhava imensamente de ter dois filhos que eram tão próximos assim, eles raramente brigavam e quando estavam juntos extraiam toda a fofura que um tinha do outro, ela sempre sentia a sensação de dever cumprido quando via os filhos assim.

 

— Bom, então é uma pena, porque o Jake já tem que ir — Disse Tanner observando que um dos soldados estava ajoelhado na porta em forma de clemência.

 

— Meu príncipe — O soldado disse — A nave já está preparada.

 

— Obrigado — Jacob se levantou e se despediu dos pais e da irmã.

 

Ele caminhou acompanhado por Quintos e pelo soldado, eles foram até a carruagem real, seu pai insistia em não deixar carros serem usados dentro do reino, ele dizia que era uma questão de preservação ambiental que poderia salvar o mundo de cair nas mesmas armadilhas. A carruagem real era acompanhada por outras 5, novamente o foco na segurança ficava evidente, elas eram movidas a hidrogênio, uma tecnologia que ainda era nova no mercado, ela tinha substituído a tecnologia anterior, essa não apresentava falhas e tinha sido desenvolvida pelo inventor do Reino Vhersace.

 

Enquanto a carruagem deixava a grande área ocupada pelo castelo, que lembrava uma espécie de pequena ilha, as pessoas que viviam na capital observavam e saiam na rua, alguns se ajoelhavam e saldavam o príncipe, outros tentavam chamar a atenção de alguma forma. Jacob começou a pensar no grande trabalho que havia sido feito por sua família, aquele reino era governado pela família Quasar desde sempre e as pessoas em sua maioria viviam bem, o Rei cuidava para que ninguém, ninguém mesmo, tivesse fome ou sede jamais.

 

Ao chegarem no grande aeroporto, Jacob viu alguns soldados levando suas malas para a aeronave, ele olhou para trás pela última vez e sorriu ao entrar na nave branca com detalhes em azul acompanhado por seu melhor amigo, era a aeronave particular do príncipe, também era movida a hidrogênio, outra criação do inventor Simon, do Reino Vhersace. Agora o príncipe do trovão iria para sua mais nova aventura.

 

Império Vhersace

Nem tinha amanhecido e o suave tintilar de ferramentas batendo e se mexendo já podia ser ouvido pela casa. Mãos inquietas trabalhavam no que viria a ser um autômato, mas ainda num estágio muito primário. Mecanismos estavam espalhados pelo chão da sala inteira e eram aos poucos assimilados a obra em andamento. Era algo relativamente simples do rapaz juntar todas aquelas peças numa obra, mas ele queria mais. Pequenas doses de magia eram adicionadas a cada peça, nunca demais, nunca de menos, apenas o suficiente.

 

Uma brisa suave entrava pela janela do recinto. Estavam próximos do mar afinal e a oficina agora tinha três andares… é, sua paixão o rendia muito, mas ele não ligava, estar com as mãos na massa era o que o deixava feliz e se rendia algo ou não era apenas um pormenor. O rapaz bagunçou seus cabelos negros como de costume quando se distrai e se pôs apenas a escutar. Ouvia pássaros cantando sua doce melodia, o ranger da janela sendo levemente empurrada pelo vento (Precisava ajeitar isso por sinal), ouviu passos vindos da rua próxima a sua casa(Já devia estar amanhecendo para as pessoas estarem começando a ir trabalhar), ouviu o som de motores ao longe vindos de veículos anônimos que muito provavelmente eram modelos que ele mesmo projetou. O pensamento o fez sorrir: fazer algo útil para as pessoas o fazia tão feliz como projetar.

 

Faltava pouco para acabar agora. Apenas precisava calibrar o núcleo criado por ele mesmo… O trabalho todo já lhe rendeu quatro madrugadas que esteve com insônia de qualquer forma, então foi apenas lucro trabalhar naquela obra de arte.

 

— Pronto! — Exclamou satisfeito quando a última peça foi encaixada e conectado com o resto do pequeno autômato.

 

—  O que está pronto, bebê? — Uma voz feminina curiosa vinda de trás o sobressaltou. Rapidamente o rapaz guardou o seu trabalho no bolso de seu casaco.

 

— N-nada! Que susto, idiota! Por sinal… por que está acordada tão cedo? — Ele recuperou a compostura e já ia se levantar quando foi empurrado pro chão novamente.

 

— Porque alguém tem que abrir a oficina, não é mesmo? São oito da manhã, bocó! — Respondeu revirando os olhos. — Não é surpresa eu acordar sem alguém ao meu lado na cama, mas dessa vez nem me deitar com ela fui… Insônia de novo?

 

— Eu? N-nã… — Tentou começar a inventar uma desculpa, mas simplesmente não podia mentir para aqueles dois olhos esverdeados. Suspirou — Sim… Você me conhece, Anne. Simplesmente não consigo descansar quando tenho algo na cabeça he he.

 

— Que seria…? — Perguntou agora mais inquisidora.

 

— Fez café? Hoje é um dia maravilhoso para tomar café, não acha? — Tentou desviar de assunto, mas sabia que não ia ser tão fácil.

 

Simon de repente sentiu algo passando por sua cintura e entrando no bolso do casaco. Ele pulou pro lado como reflexo, se levantando. Agora existiam duas Annes e uma jogava para cima e para baixo uma esfera metálica na cor bronze com diversas runas brilhando em azul fluorescente. O rapaz revirou os olhos, mas soltou um risinho. Já espera que isso fosse acontecer.

 

— O que é isso, guri? — Falou Adrienne um tanto intrigada. Nunca vira um objeto como aquele mesmo nos protótipos do marido.

 

— Você sempre estraga a surpresa, né pequena? — Simon riu quando viu que sua esposa não entendeu nada - Beija a esfera.

 

Adrienne estava bastante desconfiada, mas conhecendo ele sabia que não ia conseguir arrancar nenhuma informação a mais. Decidiu então fazer exatamente o que disse. Seus lábios tocaram a superfície da esfera fria, mas nada aconteceu durante alguns segundos. Ela olhou para o rapaz como se dissesse “era pra acontecer algo?” quando o objeto começou a esquentar e tremer. As luzes azuis foram ficando cada vez mais fortes até que ele se acendeu por completo.

 

— Feliz dois anos de casados, meu núcleo —  Disse Simon enquanto um pequeno pássaro autômato sobrevoava o local com alegria demasiada.

 

Era uma andorinha, a ave favorita da garota e ele sabia disso. Foi um trabalho minucioso e definitivamente nenhum outro mecânico que ela conhecesse conseguiria fazer algo tão complexo. Por alguns segundos Adrienne só conseguiu admirar o vôo suave da ave enquanto a mesma aterrissou em seu ombro e a fez carinho com sua cabeça. Penas de cor semelhante as runas se espalhavam pelo corpo do animal fazendo o contato ser bastante agradável e terno.

 

A garota, agora apenas em uma, abraçou Simon forte e depois o beijou delicadamente. Seus olhos demonstravam o carinho grande que era compartilhado entre os dois. Um pequeno sorriso malicioso surgiu no rosto do rapaz.

 

— Você devia ter visto a tua cara — Soltou não conseguindo mais segurar a risada. Uma leve irritação veio a garota.

 

— Idiota! — Riu também, dando um fraco soco no ombro do marido — Você acabou de quebrar a nossa regra de “Não presentes em datas comemorativas” — Disse fingindo estar emburrada.

 

— Eu sei, eu sei. Não resisti, fazê o quê? He he. — Riu e levantou o dedo para o autômato se empoleirar. — O beijo foi a forma dele saber quem é o seu dono. Agora ele obedece apenas a ti… Ah! E ele tem mais algumas...

 

Ele ia começar a explicar melhor o funcionamento da ave quando foi interrompido por um beijo inesperado.

 

— Às vezes você fala demais, SiDF —  Disse com um sorriso terno. O beijou novamente, mas dessa vez mais prolongado que os últimos. O pássaro voou do dedo de Simon quando suas mãos calejadas passaram a deslizar pelos cabelos ruivos de Anne, afagando-os lentamente enquanto ela o puxava para o sofá. Mais uma vez ele foi empurrado, mas agora numa superfície bem mais macia. Ela se sentou ao lado dele e deu tapinhas em sua perna, indicando o garoto para deitar lá como sempre fazia. Ele revirou os olhos entendendo as intenções dela, mas aceitando e deitando conforme subentendido.

 

— Às vezes você pode ser bem chata sabia? — Reclamou de forma infantil, mas logo fechou os olhos.

 

— Uhum, olha quem fala! — Disse entre risonha. Começou a afagar os cabelos negros de seu marido da forma que apenas ela sabia. — Você merece um descanso, meu amor... não adianta fingir que não precisa.  

           

Adrienne olhou pela janela enquanto continuava a carícia. Enormes prédios se estendiam até onde sua vista alcançava. Mesmo de longe podia se ouvir o barulho distante dos motores funcionando, indo de canto a outro carregando pessoas que com certeza estariam atarefadas. Todo mundo sempre estava atarefado em Mechatera, capital do Império Vhersace. Sentiu um pouco de pena delas já que poucas paravam para apreciar momentos como aquele.

 

— Ansiosa para deixar esse lugar? — Perguntou Simon. Ele a observava em seu devaneio. Seus olhos expressavam a tranquilidade e o sono que sentia. A maga fez um “shh” baixinho e voltou a olhar para janela.

 

— Não sei dizer… Por um lado quero muito conhecer outros lugares… principalmente a academia. Mas por outro... — Ela respirou fundo, tentando reorganizar seus pensamentos — Esse é todo o mundo que eu conheço, não sei se estou pronta para deixá-lo. Vou sentir falta de acordar cedo com o barulho de motores funcionando… da forma que os prédios brilham a noite rivalizando com as estrelas… De como aqui o natural e o tecnológico conseguem viver em plena harmonia.

 

— Além disso… lá eu não vou poder passar tanto tempo com você. — Disse por fim — Vou  sentir falta de dividir a cama com você, das suas piadas mais idiotas, de poder ver seus olhos concentrados em algum projeto mirabolante — Riu ao se lembrar das vezes em que Simon congelava pensando em algo. — E você? Ansioso para…

 

Quando baixou o olhar para o tecnomago em seu colo percebeu que ele já caíra no sono. Revirou os olhos. “Claro que ele já está dormindo”, pensou. Não fazia mal ela mesma descansar um pouco… a viagem seria longa e o teimoso de seu marido quer porque quer ir na sua moto. Quem diria que o maior inventor de todo Império fosse tão apegado ao passado. Adrienne encostou a nuca no sofá e se juntou ao marido nos sonhos.

 

Reino Lehrone

As cinco da manhã Lyana já estava de pé, treinando na Academia particular do castelo. Aquele era um grande dia e ela estava particularmente inquieta. Trajando somente um top vermelho e uma legging preta, a garota socava sem dó o saco de areia a sua frente. Os longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo que deixava somente a franja de fora balançavam com os movimentos dela. Seus olhos, também castanhos soltavam faíscas. Literalmente. A princesa de Lehrone não havia tido uma noite confortável. Saíra escondido mais uma vez na calada da noite para levar comida e suprimentos para as partes mais pobres da capital do reino. Vulcano era uma cidade muito próspera... Para aqueles que tinham dinheiro. Por mais que se esforçasse as coisas nunca pareciam melhorar, e isso a frustrava imensamente. Conforme sua mente viajava suas mãos golpeavam cada vez mais forte, machucando os dedos e se inflamando com pequenas chamas, até que num golpe o saco de areia explodiu em chamas, rasgando-se em dois. Lyana bufou, correndo para o extintor de incêndio no canto da sala. Era o quinto saco de treino que ela destruía na semana. Depois de apagar todo o fogo ela sentou-se no chão, respirando fortemente. O suor escorria pelo seu corpo cansado. Suas mãos latejavam intensamente. Ela examinou-as e percebeu que estavam completamente inchadas e ensanguentadas. Talvez fosse prudente passar na enfermaria antes de se arrumar.

 

— Não pense que vou lhe dar uma academia nova se continuar destruindo essa —Disse uma voz feminina atrás dela.

 

Na mesma hora, Lyana se levantou. Aquela voz pertencia a ninguém menos do que sua mãe, Maritza Asari. A rainha estava fardada com o uniforme militar do reino, e ostentava no peito as cinco estrelas que compunham a insígnia de um General do Reino. A rainha era muito parecida fisicamente com Lyana, os mesmos cabelos castanhos ondulados e os mesmos olhos castanhos expressivos. Maritza estava parada, de braços cruzados, encarando friamente a bagunça que a filha mais velha havia feito. Numa velocidade recorde, Lyana levantou-se e bateu continência.

 

— Senhora! Me desculpe, senhora. — falou, com a postura totalmente ereta.

 

— Descansar. Vá se arrumar, ainda temos uma reunião do Conselho de Guerra antes de você sair. — pontuou Maritza sem um pingo de emoção em sua voz.

 

— Sim senhora.

 

Lyana bateu continência mais uma vez e caminhou para fora do quarto, mas foi interrompida antes de sair.

 

— Lyana — chamou Maritza, e a garota se virou, ainda numa postura séria, com as mãos atrás das costas — Passe na enfermaria antes, suas mãos estão uma vergonha. Da próxima vez coloque alguma proteção pelo menos, uma Tenente-General não pode estar incapacitada se algo surgir. Muito menos hoje, você tem uma impressão a passar.

 

— Sim senhora. Não vai mais acontecer — completou a garota, sua voz tão fria quanto a da mãe.

 

A princesa marchou pelos corredores do palácio, soldados saudando-a a cada esquina, batendo continência ou se curvando. Ela carregava uma aura pesada, era aquela pessoa que você não conseguiria olhar nos olhos sem desviar o olhar, uma presença realmente marcante. Lyana era uma mulher verdadeiramente bela, seu corpo era definido mas sem ser desproporcional, suas curvas arrancavam suspiros de nobres, soldados e plebeus. Mas todos sabiam que ninguém deveria se meter com a Tenente-General de Lehrone a menos que ela quisesse.

 

Ao alcançar a enfermaria, Lyana abriu as portas com cuidado. O aposento não era muito grande, seu quarto conseguia ser três vezes maior. Tudo variava em tons de azul e branco, numa das paredes estavam duas camas, divididas por uma cortina de hospital e alguns aparelhos entre elas. Do outro lado uma pequena mesa com vários papéis e, atrás dela, uma senhora de curtos cabelos brancos e pele negra, trajando um vestido amarelo e um jaleco branco, folheando um caderno até ter sua atenção voltada para a garota. Ao perceber quem era, a senhora abriu um largo sorriso, levantando-se e se dirigindo para onde Lyana estava.

 

— Minha princesinha. Pensei que não viesse me ver antes de partir — falou a mulher, arrancando um enorme sorriso da garota para em seguida envolvê-la em um caloroso abraço.

 

Lyana relaxou pela primeira vez em dias e permitiu-se aconchegar nos braços daquela mulher que cuidou dela durante toda sua vida.

 

— Jamais faria isso ami — Respondeu a princesa.

 

A mulher sorriu com as palavras da princesa. “Ami” significa “mãe” na linguagem de seus antepassados, e a jovem princesa desde que se entende por gente a chama assim. Akello Ngige é uma das maiores médicas de todo o reino de fogo e trabalha especialmente no castelo a serviço da família real. Sendo uma criança muito difícil e inquieta, a enfermaria era um dos lugares que Lyana passava mais tempo. Akello viu aquela garota/mulher a sua frente nascer, crescer e tornar-se uma das maiores militares que o reino já viu. Conhecia-a como a palma de sua mão. Lyana levantou as mãos, deixando-as no campo visual da mulher mais velha com um olhar culpado.

 

— Acho que devo ter sujado seu jaleco ami, me desculpe — falou a garota encolhendo os ombros.

 

— Tudo bem filha, não será o primeiro nem o último — Disse a mulher com um sorriso, conduzindo Lyana até a cama mais próxima — Deixe-me dar uma olhada. Você fez um belo estrago dessa vez mocinha, mas eu dou um jeito, não vai precisar de pontos nem nada.

 

— Obrigada ami. — Falou Lyana com um sorriso, aquele era um dos únicos lugares de todo o reino em que ela sorria. — Estou nervosa. É hoje que viajo com o Henrik.

 

— Eu sei. Soube que vai ensinar o jovem príncipe na Academia. Meus parabéns. —Akello conversava e ao mesmo tempo limpava os ferimentos, que deveriam arder mas Lyana não parecia se importar.

 

— Vou ensinar algumas disciplinas para todos. O rei quer que fique de olho nos outros herdeiros, relatórios semanais ele disse.

 

— Era o esperado. Você vai se sair bem, vai te fazer bem sair desse reino por algum tempo, ver pessoas diferentes, tirar sua cabeça do mundo Asari.

 

Lyana bufou inquieta. Ela não sabia como se sentir sobre sua ida. Por um lado estaria mais livre e poderia respirar ares de um lugar em que o Rei de Asari não estivesse de olho o tempo todo. Por outro lado, se ela não estivesse no reino para oferecer o mínimo de ajuda para o seu povo, quem o faria? Aquela ditadura em que viviam só favorecia aqueles que já eram abastados e deixava o povo a mercê das vontades do rei. A fome e a pobreza era algo que grande parte da população vivenciava. Mas enquanto dinheiro e riquezas estivesse entrando nos cofres reais, tudo bem para o Rei e companhia.

 

— Pare de se torturar, isso não te leva a lugar nenhum. Nunca se sabe o que você pode encontrar nessa viagem, que tipo de possibilidades podem surgir. Aproveite minha menina, viva um pouco — Disse a mais velha, segurado o queixo da garota e dando um beijo em sua testa.

 

— Tem razão ami… Mas eu vou sentir sua falta de todo jeito. Quem vai me remendar se não você? — brincou a princesa arrancando um sorriso da negra.

 

Akello passou a mão pelos cabelos da mais nova. Aquela garota era seu maior orgulho, assim como bem mais precioso. Era uma alma boa demais para aquele lugar, Lehrone definitivamente não merecia uma existência tão cheia de luz quanto a da princesa.

 

— Você vai dar um jeito minha garota. E falando nisso. Está proibida de treinar por uma semana ouviu? Se você ousar socar alguma coisa nesses sete dias eu juro que vou saber e te colocar de castigo como fazia antigamente.

 

Lyana permitiu-se gargalhar com a fala da mulher e abraçou-a forte. Aquela sim era sua mãe, sempre havia sido e sempre seria. Se havia alguém de que ela sentiria falta, seria de Akello.

 

— Amo você ami. Eu vou voltar inteira, prometo.

 

— Também amo você meu bem. Acho bom mesmo. Agora vá se arrumar que sua nave sai às sete e seu pai não gosta de atrasos.

 

Depois de mais alguns abraços, Lyana dirigiu-se ao seus aposentos. Rapidamente tomou um banho frio e vestiu o uniforme militar de seu país. Ela carregava no peito esquerdo a insígnia de Tenente-General de Lehrone composta por três estrelas de prata alinhadas horizontalmente, cargo mais alto depois de sua mãe. Ela seria enviada para a Academia como professora, ordens diretas dos reis para que ela supervisionasse os treinos do irmão mais novo, o herdeiro do trono. Além disso seria uma ótima oportunidade para vigiar as atividades dos futuros herdeiros dos outros reinos que ingressariam na Academia. Seu uniforme vermelho e negro estava perfeitamente alinhado e ela terminou de calçar as botas antes de sair. Não sabia exatamente o que esperar se sua saída, mas tinha um estranho pressentimento que aquele ano traria algo grande. Se isso seria bom ou ruim, só o tempo poderia dizer.

 

Não houveram despedidas entre a família Asari na hora da partida. Lyana curvou-se perante os reis, e adentrou a nave vermelha com seu irmão. Ela mesma iria pilotar, no compartimento só havia dois lugares, um para ela e outro para o irmão. Depois de colocar o capacete, a princesa ligou a nave que com um alto ruído alçou vôo. Os olhos da garota faiscavam, a Academia que se preparasse, pois a Jovem Incendiária de Lehrone estava a caminho.

 

Reino Bhenur

Era noite. Horário em que quatro dos cinco reinos dormiam e os barulhos e risadas macabras vinham todas do reino Bhenur. O reino mais sombrio, mais temido e cercado de lendas que nunca fizeram sentido para nenhum dos habitantes; depois que o sol ia embora, aquele povo deixava de ser silencioso, eles despertavam e a bagunça que faziam podiam ser ouvidos de todos os locais em quase todas as noites.

 

Entre aquela algazarra, estava a princesa primogênita do reino, Selene Elizabeth Morgan. A jovem morena de dezessete anos observava seu povo pela janela de seu quarto em uma das torres do castelo, o festival parecia estar bombando, tanto que seu pai liberou a cor vermelha para ajudar na decoração; tudo enfeitado em vermelho, preto e cinza era realmente algo que ninguém estava acostumado a ver dentro de um reino que costumava a ter festas apenas decoradas em preto e cinza.

 

Selene usava um belíssimo vestido vermelho, um corpete colado com uma saia curta na frente e longa atrás, onde tudo era enfeitado com uma renda preta. Seus cabelos estavam presos na lateral de sua cabeça e caiam sobre seu ombro esquerdo, deixando sua tiara mais visível, juntamente com a maquiagem de “boneca voodoo”. E onde deveria ter um comprimento de seu delineador, estavam três pequenos rubis para enfeitar, pedras que eram o motivo da festa daquela noite.

 

Seus lábios pintados em um tom escuro de vermelho abriram um sorriso com todas aquelas criaturas maquiadas de forma macabra circulando e dançando em volta de uma fogueira enorme. Aquele reino abrigava três tipos de habitantes: os magos que seriam comuns em todos os reinos; os Pesadelos, criaturas que parecem seres-humanos comuns se não tivessem suas peles extremamente pálidas e os olhos completamente negros, sendo que esses têm poderes sobre os sonhos das pessoas e obviamente, o último tipo de habitantes de Bhenur, são o que não podia faltar, as sombras.

 

— Ah! Aí está você. — Selene se virou um pouco para poder ver sua mãe, Janneth Lahey Morgan e rainha de Bhenur. — Seu pai está te esperando na sala do trono. Você sabe o quanto ele está animado para essa ocasião.

 

As minas do reino estavam fazendo sucesso. Parecia ser a época dos rubis e isso, era mais um motivo para fazer uma festa semelhante aos antigos Dias dos Mortos que ocorria no México. Logicamente, a família real participaria daquele evento assim como todos os outros que ocorriam semanalmente ou diariamente do mesmo jeito que o anterior.

 

— Eu não quero ir. — Falou a princesa com arrogância na voz. — Prefiro aproveitar daqui. Ao fim do festival, terei que dormir e quando despertar vou para aquela academia ridícula.

 

— Já conversamos sobre isso, Elizabeth. — Alegou a rainha com a expressão e tom de voz firme de sempre. — Ou você vai para essa escola, aprende a controlar seu ION, cria aliados e coloque medo em outros magos ou teremos que arrumar um casamento para você em pouco tempo.

 

— Eu já falei que consigo comandar o reino do jeito que eu sou, mãe! — Implicou a princesa. — Fora que eu só tenho dezessete anos e…!

 

— Sem mais, Elizabeth. Me recuso a ouvir você tentando quebrar as tradições, de novo. — O fato da mãe usar o sobrenome da filha para se referir a Selene era comum, a princesa era acostumada. — Já tive que aturar seu pai e você não aceitando seu casamento, ir para Krahker e cumprir suas ordens é um acordo muito fácil.

 

Selene virou os olhos e andou alguns passos até sua penteadeira, onde se encontrava um par de luvas compridas de cetim vermelho, colocou as mesmas e uma capa preta que fosse o suficiente para protegê-la do frio nos braços, porém, que deixasse suas pernas expostas.

 

— Você é tão encantadora, minha filha. — A mãe sorriu orgulhosa. — É tão bela quanto eu, isso impressiona a todos do reino. Mal sabem que todo esse visual, fui eu que te ensinou a usar.

 

— Mãe! — Selene riu, repreendendo-a. — Vamos logo para esse evento. Aposto que será muito mais animada que a da semana passada.

 

A mãe lançou um olhar sombrio para filha, que entre eles, era uma forma de carinho. Selene sorriu de forma sarcástica e caminhou a passos fortes até a sala do trono, na esperança de que os barulhos de feitos por seu salto-alto fossem ouvidos por todos do castelo a cada passo que ela dava.

 

Seu pai e sua mãe estavam vestidos com roupas cinzentas, sua irmãzinha caçula vestia-se de preto e Selene teria o destaque em vermelho, para que pudesse aproveitar sua última noite antes de viajar para a Academia Krahker. Todos usavam maquiagens semelhantes às usadas por Selene, mas Wendy, sua irmãzinha caçula de treze anos, com a esperança de querer competir com a primogênita teria colocado cinco pequenos rubis no lugar de um longo delineador de olhos, ao invés de três como Janneth e Selene.

 

Reunidos, a família real saiu pela porta da frente do castelo, não havia se quer um habitante que não os reverenciava e após um minuto de silêncio em tributo a presença dos Morgan; todos voltavam a aproveitar. As cidades de todo o reino eram convidadas para o evento que sempre acontecia em uma região próxima ao castelo, no centro do reino, cidade que chamam de Darkland.

 

As músicas semelhantes às antigas mexicanas tocando altamente nem eram os destaques da bagunça que podia ser ouvida até mesmo de outros reinos, o principal eram os gritos de alegria, as risadas macabras e as aclamações a fogueira que ficava no centro de todo o festival. Mas, não, o fogo não era o que todos conhecem, tinha uma forte coloração de vermelho-escuro e não passava muito calor, sua fumaça era ilusória e deixava os habitantes que podiam senti-la mais loucos; o que na visão do rei, diverte seu povo. Tanto que o mesmo havia criado aquele tipo de chama.

 

— Você vai mesmo embora, Selly? — Perguntou Wendy com uma carinha manhosa que ela não tinha mais idade para fazer. — Posso ficar com seu quarto? Ele é maior que o meu.

 

— Sem chance, Callidora. — Selene a encarou com mistério estampado no olhar, usando o sobrenome da caçula. — Eu vou voltar logo, não vai ser difícil mostrar a eles que eu sou a Deusa das Sombras e que nenhum desafio é complicado para mim.

 

— Radical, fera. — Wendy virou os olhos. — Vá beber um ponche, quem sabe você não deixe de ser tonta.

 

— Vai, continua duvidando. — Selene provocou. — Você sabe, não há obstáculo que me faça desistir dos meus objetivos.

 

— Eu sei, eu te conheço. — Retrucou Wendy como se fosse óbvio. — Você é tonta naturalmente, só estou te oferecendo um ponche.


Notas Finais


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