1. Spirit Fanfics >
  2. The Kiss Of Midnight >
  3. Capitulo 40

História The Kiss Of Midnight - Capitulo 40


Escrita por: Lauraticforever

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 40 - Capitulo 40


Pov’s Ally

—Não quero ir embora mamãe. -Ela choramingou.

—Audrey eu já te expliquei que precisamos voltar para a minha cidade natal, lá é tudo mais fácil para nós duas. -Me abaixei a sua altura e ajeitei seu casaco, o tempo frio daqui me deixava muito preocupada quando eu saia com ela nas ruas.

   Ela revirou os olhos e eu a fuzilei.

—Faça isso de novo e será a última vez. -A adverti.

   Voltei a pegar em sua mão e assim fomos em direção a um parquinho que tem no centro da cidade.

—Hoje é nossa última noite aqui então se quiser aproveitar vá em frente. -Dei de ombros apontando para as pessoas distraídas ao nosso redor.

   Mexi um pouco em seus cabelos loiros os deixando um pouco bagunçados.

—Você já sabe as regras. –Sussurrei lhe mandando uma piscadela e assim ela sumiu do meu campo de visão, só espero que não deixe rastros.

   Vi um banco vazio e me sentei nele, não estava muito a fim de tirar a vida das pessoas hoje, pois minha cabeça mil não deixava. Não sei como irão reagir ao descobrirem sobre Audrey, mas não pretendo contar agora. Minha mente não cansa de dizer que o melhor seria eu acabar de vez com Sarah, mas isso seria impossível.

   O toque do meu celular fez todos os meus pensamentos evaporarem.

—Alô. -Atendi no segundo toque.

—Uma mulher tão linda como você não deveria ficar sozinha a essa hora da noite, pode ser perigoso. -Eu sou o perigo.

—Por favor, não me diga que esta aqui em Louisiana Francis. -Automaticamente comecei a olhar para todos os lados, a última coisa que eu preciso agora é que ele esteja aqui.

—Pode ficar tranqüila morena, estou do outro lado do mundo se quer mesmo saber, mas isso não quer dizer que não tenha ninguém fazendo isso por mim. -Riu e eu apenas revirei os olhos.

   Eu não tinha como saber em meio a todas aquelas pessoas quem estava de olho em mim.

—Fala logo o que você quer não posso me distrair muito com Audrey fora de casa. -Falei ainda observando tudo ao meu redor.

—Já que você vai voltar amanhã para Craisville queria saber se já escolheu o lugar onde vai ficar quando voltar. –Perguntou.

—Comprei uma casa para eu e ela morarmos por algum tempo.

—Será o melhor para vocês?Se quiserem podem ficar comigo. -Se ofereceu o mais preocupado possível.

—Obrigada, mas acho que será mais confortável para nós duas uma casa só para nós. -Sorri.

   Por fim ele deu um suspiro, pelo seu tom de voz parecia não ter tido um dia muito bom.

—Você sabe que não estou de acordo com o que você esta prestes a fazer, não sabe?

—Ninguém esta, mas eu preciso Francis.

—Você sabe que não precisa. -Sua voz soou como um sussurro.

—Eu não vou me tornar humana. -Sussurrei também.

—Ally você prefere matar o pai da sua filha a se tornar humana?-Ele voltou a perguntar.

—Não é exatamente assim Francis. –Tentei me defender.

—E se ela se tornasse humana?-Questionou.

—Você sabe que ela não pode ser transformada idiota.

—Estou tentando ué.

—Não sei por que esta se preocupando tanto assim com o Austin.

—Minha preocupação não é com Austin e sim com a Audrey, quer mesmo que a garota cresça sem a presença de um pai?

—Ela vai ficar bem Francis. –Bufei já impaciente.

—Você não pode decidir isso por ela.

—E nem você pode decidir isso por mim. Boa noite. -Desliguei sem esperar resposta.

                                                              ***

—Não esta se esquecendo de nada?-Sarah perguntou enquanto seus olhos se alternavam entre Audrey e eu.

—Não que eu saiba. -Rapidamente fiz uma lista mental para confirmar minha hipótese.

—Ótimo. Agora vem cá minha lindinha, irei sentir saudade. -Ela disse para minha filha que corria em direção aos seus braços.

   Desviei o olhar, nunca gostei muito da aproximação das duas, Sarah não fazia bem a ela.

—Tome cuidado Ally. -Agnes se manifestou pela primeira vez desde que chegamos ao aeroporto.

   Ela estendeu os braços para mim e sorri ao abraçá-la.

—Tem certeza de que não quer vir comigo?-Sussurrei em seu ouvido.

—Eu não posso Ally. Não agüentaria ver ele e não poder nem ao menos lhe tocar. -Ela falou também em voz baixa.

—Prometo que não te decepcionarei. -As lágrimas começavam a queimar e eu não conseguiria segurá-las por muito tempo.

—Na verdade você esta me decepcionando desde que lhe avisei sobre engravidar e você me desobedeceu Ally. -Ela deu uma risada fraca, mas que tinha um sentimento de tristeza oculto. —Você não deveria deixar ela te manipular.

—Você sabe que não tem outra alternativa Agnes.-Uma lágrima teimosa preencheu minha bochecha.

—Sempre tem uma saída Ally. Não deixe que te digam o contrário. -Senti algo frio tocar meu ombro e percebi que eram suas lágrimas.

—Acha que vai conseguir suportar Sarah enquanto eu estiver fora?-Mudei de assunto enquanto olhava de relance para a mulher que brincava com minha filha a alguns metros de nós.

—Na verdade não, quero viajar, conhecer o mundo, nunca tive essa oportunidade e acho que agora chegou à hora de eu ter um descanso. -Deu um sorriso.

—Só espero que tudo dê certo. -Dei um longo suspiro.

  Ela não disse mais nada e apenas me abraçou uma última vez.

—Mate-a Ally, é só o que eu te peço. -Sua voz foi muito menos que um sussurro e me arrepiou dos pés a cabeça.

  Afastei-me dela uns segundos depois e a morena me deu um último olhar antes de se dirigir a Audrey.

—Tchau Sarah. -Falei enquanto lhe estendia a mão, ela, porém me puxou para um abraço.

—Não me faça ter que fazer todo o trabalho por você. -Foram suas únicas palavras.

    Coloquei meus óculos escuros, com uma mão carreguei minha mala enquanto que com a outra eu segurava a mão de Audrey.

   Não olhei pra trás enquanto íamos em direção a fila de embarque, nem deixei que minha filha fizesse isso, só iria piorar as coisas.

                                                                 ***

  O táxi que nos conduzia até minha nova casa era calado até demais o que só piorou o clima, pois Audrey desde que saímos do avião não diz nenhuma palavra o que me preocupa um pouco.

—Já fiz sua matricula no colégio, será o mesmo que eu estudei em minha vida toda. -Tentei puxar assunto.

—Começo amanhã não é?-Perguntou ainda olhando a janela.

—Sim. Alias nossa casa já esta totalmente habitável, os caras da mudança fizeram todo o trabalho ontem então nada de ficar acordada até tarde tentando me enrolar mocinha. -Fiz cócegas em sua barriga e ela gargalhou tentando se esquivar.

—Não quero ir para o colégio. -Ela se aninhou em mim.

   Já se passa das dez horas da noite e nós duas sem sombra de dúvidas estamos totalmente esgotadas do longo dia.

—Não quer, mas vai. Você só tem quatro anos menina, não manda nem na roupa que veste. -Tentei prender o riso e ela fechou a cara.

—Só espero que eu conheça gente naquele lugar que valha a pena, não suportava aqueles idiotas do antigo colégio. -Revirou os olhos.

   Com minha unha dei um leve aranhão em seu braço.

—O que eu já te falei quanto a revirar os olhos para mim?-Perguntei.

—Prometo que essa foi à última vez. -Acariciou o braço discretamente.

   O motorista deu um rápido olhar para nós duas e pelo reflexo do espelho consegui hipnotizá-lo telepaticamente para ele não ouvir minhas palavras seguintes.

—Já te avisei ontem e essa será a última vez, torne a fazer isso e te deixou sem sangue por uma semana.

   Ela me olhou assustada e eu apenas ignorei seu olhar de cachorrinho abandonado.

—Apenas estou tentando te criar da melhor forma possível Audrey, tenho que impor regras a você. -Tentei ser o mais firme possível em minhas palavras.

—Eu sei e é por isso que te amo mais que tudo nesse mundo. -Com seus bracinhos pequenos ela me deu um abraço desajeitado que eu correspondi.

   Ela é a melhor coisa que já me aconteceu.

   Depois de mais alguns minutos chegamos a minha casa.

   O motorista me ajudou com as malas enquanto Audrey já abria a porta com a chave reserva que lhe entreguei.

Quando finalmente entrei em casa percebi que a loira já havia sumido do meu campo de visão, subi às malas escada a cima e joguei algumas de qualquer jeito pelo meio do corredor, isso será trabalho apenas para amanhã.

Eu iria levar apenas para o meu quarto uma delas. Dei uma rápida conferida em todos os quartos e claro no que Audrey já estava e por fim fui para o meu.

   Joguei minha mala de qualquer jeito no canto do quarto e fui em direção ao banheiro.

   Depois que tirei peça por peça de toda a minha roupa dei uma rápida olhada no espelho e sorri com o resultado.

   Por fim liguei o chuveiro e deixei que a água escorresse todos os meus problemas em direção ao ralo.

   Podia já ser tarde da noite, mas ainda assim preferi que a água gelada tomasse conta de mim. Era boa a sensação.

  Passei minutos que para mim foram horas e então me enrolei em uma toalha, fiz um coque em meu cabelo e por fim sai do banheiro o que foi um total erro.

    Austin estava sentado na ponta da minha cama, ele olhava fixamente para a parede vermelha do quarto, parecia que ela fosse algum tipo de televisão onde o programa parecia estar muito interessante.

  Dei um rápido pigarro e só então ele recobrou a consciência.

—Os cabelos dela são iguais aos meus. -Sua voz estava tremula.

   Não sei se foi o banho relaxante ou a presença repentina de Austin, mas eu havia esquecido completamente que Audrey estava em casa e que a qualquer momento poderia ver ele, ou melhor, que ele fosse atrás dela.

—Não me diga que... -Ele me interrompeu.

—Ela não me viu. -Deu um sorriso triste que não me convenceu nenhum pouco, não depois do que ele disse duas semanas atrás.

—O que esta fazendo aqui?-Perguntei da forma mais seca possível.

—Preciso falar com você.

—Mas eu não. -Fui em direção a porta do quarto a qual passei a chave. Audrey não pode nem ao menos sonhar que ele esta aqui.

—Até quando vai ser desse jeito?-Perguntou exasperado.

—Até quando eu me livrar de você. -Escancarei a porta do closet e de lá tirei uma jaqueta preta, blusa preta, calça de coura preta e uma bota cano alto preta. Não posso negar a paixão por essa cor e apesar de ter uma mala ainda fechada no canto do quarto ele me fez ficar tão desconsertada que terminei por usar roupas do guarda roupa.

   Joguei tudo sobre a cama em cima de Austin e ele resmungou baixo.

—Até eu me livrar de você.

—É justamente sobre isso que eu quero falar. -Um sorriso animado surgiu nos seus lábios.

—Você não vai me deixar em paz, vai?-Suspirei já cansada por tudo o que aconteceu durante o dia.

—Não. -Mandou uma piscadela e eu apenas lhe enviei o dedo do meio.

   Joguei a toalha nele e comecei a me vestir.

   Austin me encarou totalmente perplexo.

   Revirei os olhos.

—O que foi?Não é nada que você não tenha visto.

   Ele continuou calado.

—Quer tirar foto?Dura mais. -Por mais que estivesse irritada cheguei até a fazer uma pose mandando um beijinho para ele.

   Eu realmente levava a ironia a sério.

—Você esta bem?-Franziu a testa percebendo meu incomodo com sua presença.

—Você que veio até a minha casa, não me culpe. -Terminei de fechar a bota.

   Ele continuou calado.

—Acho bom ser rápido, não quero deixar minha filha sozinha por muito tempo. -Eu penteava meu cabelo enquanto ia em direção ao meu celular no bolso da calça que ainda estava no banheiro.

   Joguei meu celular para ele que pegou antes que batesse em sua nuca o que de fato não seria tão ruim assim.

—Ligue para Francis, o mande vir até minha casa. -Ordenei.

   Ele arqueou a sobrancelha.

—Francis?-Seu olhar desafiador me fez gargalhar a plenos pulmões. Quem me visse pensaria que eu estava louca, mas de raiva.

—Não estou pedindo para você ligar, estou mandando.

   Ele apenas assentiu ainda de cara fechada e discou o número de Francis.

                                                                      ***

    Já se passava da meia noite e o único som que podia ser ouvido ao nosso redor era o do salto das minhas botas.

   Não dissemos nenhuma palavra desde que saímos da minha casa.

—Como você esta?-Tentou puxar assunto e eu apenas o fuzilei.

—Não me venha fazer perguntas pelas quais não esta nem ai para as respostas. -Fui curta e grossa.

—Porque você é tão fria?Não sou eu que estou tentando matar você.

   Mentalmente contei até dez, esse cara esta me testando.

—Quer mesmo saber como estou?Bom minha vida esta uma merda. -Dei um sorriso sarcástico por fim.

—Não é só a sua. -Desdenhou.

  Chega.

—Olha se você for voltar a falar idiotices eu juro que não só vou te bater como também te jogo desacordado no primeiro beco que eu ver.

   Ele riu.

—Eu só estava tentando quebrar o gelo. -Deu de ombros.

—Por mim morreríamos congelados. -Olhei ao nosso redor e só então percebi que não sabia onde ele estava me levando.

—Isso é uma armadilha?-Perguntei parando bruscamente.

—Do que você esta falando?-Franziu a testa.

—Aonde você esta me levando Austin?-Meu tom de voz se agravou.

—A minha casa.

—Sua casa é do outro lado da cidade. -Em minha mente automaticamente já pensei em mil e uma formas de me defender caso algo acontecesse.

—Eu tenho outra afastada da cidade. -Deu de ombros.

—Desde quando?-As palavras vinham espontaneamente.

—Há mais de sessenta anos eu acho, mas o que isso... -Franziu a testa.

—Porque nunca me contou?

—É sério isso Ally?Vamos logo, já esta muito tarde para você andar sozinha. -Tocou em minha mão para eu adiantar os passos e o afastei rapidamente.

—Em primeiro eu queria te dizer que o meu lugar é à noite e em segundo posso me virar muito bem sozinha. -Falei o deixando falando sozinho enquanto caminhava a sua frente.

   Os próximos dez minutos voltaram a ser preenchidos apenas por minhas botas que poderiam fazer um buraco a qualquer momento.

   Nesta parte da cidade existem apenas algumas casas, a maioria é abandonada.

—Como foi à gravidez?-Voltou a tentar puxar assunto.

—Porque você insiste tanto em...

—Eu tenho o direito de saber.

   Dei um grito.

  Pode parecer loucura, mas a única coisa que eu preciso no momento é gritar.

—Ficou maluca?Vai acordar todo mundo. -Ele disse tapando minha boca com a mão e eu apenas o mordi.

   Vi um pouco de sangue escorrer por entre ela e eu ri contente.

—Melhor eu gritar para o nada do que com você. -Dei um sorriso.

—Mas respondendo a sua pergunta sobre a gravidez tenho que lhe dizer que foi muito complicada e quase perdi o bebê. Na hora do parto eu havia perdido muito sangue e quase tive uma hemorragia.

—Eu sinto muito Ally. -Disse parecendo estar realmente muito mal e não era por causa da sua mão que já estava sem nenhuma marca.

—Não sinta você nem estava lá para poder se culpar de algo. -Ironizei e ele engoliu em seco.

—Quando foi que percebeu que estava apaixonado por Lucy?-Por incrível que pareça essas palavras não soaram de má fé ou muito menos como sarcasmo, era uma pergunta que eu realmente estava a fim de saber a resposta.

—Ally não precisa perguntar, sei como é difícil isso para você sendo que...

—Te amava. -Completei. —Uma coisa não tem nada haver com a outra Austin, mas acho que seja justo você me responder sendo que desde que cheguei até agora eu não lhe escondi nada. -Relembrei.

 —Nunca me apaixonei por Lucy. -Ele foi sincero. —Mas ela parecia ser a mulher ideal para mim, de quem eu realmente precisava,ela me entende,é doce e todos a amam. Ela cuida de mim.

—Se ela é tudo isso então porque nunca se apaixonou?Lucy parece ser o sonho de consumo qualquer homem se for analisar as características dela. -Ri.

—Eu tentei, tentei até mais do que devia, mas havia um problema. -Ele disse mais baixo a última parte.

—Qual?-Perguntei surpresa ao ouvir alguém dizer que a feiticeirinha tinha defeitos.

—Ela não era você. -Ele disse e eu automaticamente congelei.

—Não gosto de brincadeirinhas de mau gosto Austin. -Senti que minha voz poderia matá-lo a qualquer instante.

—Sei que para você eu não tenho um coração o que na maioria das vezes é verdade, no entanto, em toda minha vida eu nunca encontrei ninguém como você Ally. -Ele parou a minha frente e segurou em minhas mãos.

    Meu cérebro não conseguia assimilar a hipótese de eu as tirá-las de perto dele.

—Não sei se você percebeu, mas tudo o que tenho feito há mais de seis anos é para você Ally.

   Continuei imóvel, perdida em seus olhos, naquele momento eles eram meu refúgio.

   Flashes me atingiram como um raio e nossas lembranças vieram à tona.

   Quando ele me salvou de Francis, deixou o livro sobre meus cuidados,quando cuidou de mim em Nova Iorque, ficou com ciúmes de Brady ou até mesmo quando me mandou a mensagem no dia da formatura querendo que eu me encontrasse com ele em um dos últimos andares do prédio.

   Lembro até hoje do seu desespero quando precisou me matar ou como quando Agnes me contou sobre como ele chorou no dia do meu enterro.

—Será que em meio a tudo o que a gente já viveu você ainda não percebeu?-Ele perguntou.

   Minha boca estava seca e eu não conseguia pronunciar uma letra sequer nem se quisesse.

—Eu te amo. -Um momento depois suas mãos já estavam em meu rosto e meus olhos ainda continuavam fixos nos seus.

   Nossos narizes roçavam um no outro. A sensação era incrível.

—Eu te amo mais do um dia acreditei ser possível amar alguém.

   Aproximou seus lábios dos meus à medida que eu fechava meus olhos.

—Não podemos Austin. –O pouco de sanidade que ainda me restava tentou me alertar e mesmo assim minha voz era mais baixa do que um sussurro.

—Desde quando seguimos as regras?-Sua voz estava tão rouca quanto a minha e sem esperar resposta por minha parte seus lábios tocaram os meus.

   A sensação era nova, parecia que nunca havíamos nos beijado antes, mas de uma forma boa.

   O seu gosto era o mesmo, mas talvez a necessidade de ambos os lados tenha contribuído para o beijo ser ainda mais especial.

—Desista de tudo isso Ally, desista de tentar levar essa história insana adianta e eu prometo que ninguém ira tocar em você ou muito menos em Audrey. Vamos embora nós três, para algum lugar onde ninguém vai poder nos encontrar. Por favor, Ally apenas desista. -Ele me apertava cada vez mais contra si.

   Por mais que quisesse aceitar a proposta dele,ainda assim não podia,era muito arriscado.

—Eu não posso. Quando ela descobrir além de te matar, fará o mesmo comigo e com Audrey, não podemos correr esse risco Austin.

  Ele me analisou por um momento, parecia tentar querer enxergar algo além dos meus olhos.

   Por fim apenas suspirou conformado enquanto balançava a cabeça negativamente, parecia só então ter caído em si.

—Tudo bem, mas você confia em mim?-Perguntou me encarando intensamente.

   Ele já havia me feito essa pergunta uma vez e de primeiro falei que não, mas não havia mais como negar, eu confiava nele até debaixo d’água.

—Sim. -Afirmei com a cabeça.

—Então venha. -Pegou em minha mão e assim continuamos nosso trajeto.

    Esta sendo meio difícil processar tudo o que aconteceu nos últimos dois minutos.

   O que ele quer dizer com venha comigo?Vamos embora?Estamos bem?O pior disso tudo é que apesar de tudo o que ele me disse ainda não é como se fosse o que eu esperava, mas preferi espantar esses pensamentos.

   Apenas continuamos a caminhar até quase o final da cidade quando avistei uma casinha azul totalmente simples, ela não possuía andares e tinha uma aparência antiquada.

—Não é do seu fetiche casas de bonecas pobres. -Tomei nota ao ver a pequena casinha a minha frente.

   Parecia não ser habitada há anos, mas não deixava de ser atraente.

—Não comece. -Disse enquanto retirava do casaco uma chave.

   Depois de aberta pude ver que a decoração era rústica.

—Quer me matar no meio do nada para que ninguém encontre meu corpo e culpem você?Bem pensado. -Tentei brincar.

   Ele ignorou totalmente a minha brincadeirinha de mau gosto.

—Entre. -Indicou com o queixo.

   Arqueei a sobrancelha.

—Você primeiro. -Ele revirou os olhos e ainda assim relutante entrou a minha frente.

   Dei uma última olhada na rua quase deserta e tranquei a porta atrás de mim.

—Então porque estou aqui?-Perguntei me jogando no sofá empoeirado que havia na sala.

   Nem ao menos uma TV aquela coisa tinha.

   Austin não respondeu e apenas sumiu em meio a aquela casa estranha.

   Fiquei pensando de onde ele tirou esse lugar.

—Quando você fugiu no dia do pacto o livro meio que explodiu, parecia não ter mais nenhuma serventia, porém mesmo assim eu consegui recuperar algumas páginas que não estavam queimadas ou molhadas por conta da chuva. Poderiam servir para algo. -Ele voltou com uma pilha de folhas amareladas, algumas estavam até meio rasgadas.

   Ajoelhou-se a minha frente e despejou a pilha em meu colo.

—O que você quer que eu faça com tudo isso?-Perguntei enquanto analisava as folhas. Algumas delas tinham instruções para magia negra, outras para invocação de espíritos, alguns desenhos de como fazer um ritual de sacrifício, gatos pretos e mil e uma coisas sendo que nenhuma delas parecia me interessar.

—Talvez conseguíssemos parar Sarah. -Ele disse revisando algumas páginas. Parecia que já havia separado as que lhe interessava.

—Aqui existem muitas coisas que poderiam estar ao nosso favor Ally, mas isso requer a cooperação de nós dois. -Me deu uma rápida olhada e voltou aos papéis.

—Se conseguíssemos fazer com que isso desse certo estaríamos livre. -Ele me entregou uma folha somente, em meio a milhares ele apenas me entregou uma, no entanto, pelo brilho em seus olhos parecia ser a mais importante.

   Em meio a todas aquelas palavras o que mais me chamou a atenção foi à pequena lista que havia no canto inferior da folha.

•Incapacitar pessoas.

Ligação de almas.

Ligação de corpos.

Reversão do feitiço de ligação de corpos.

Feitiço do suicídio.

 Esse último fez meu coração acelerar, Austin só poderia estar brincando comigo.

—O que você quer dizer com tudo isso Austin?-Não consegui evitar que minha voz tremesse.

—Já tem mais ou menos duas semanas desde que você voltou e desde então tenho pesquisado a respeito de tudo o que esta acontecendo e terminei pensando que isso nos ajudasse. -Ele apontou para a folha que tremia em minhas mãos.

   Não consegui dizer nada, meu coração que provavelmente já estava na minha boca não deixava que minha voz saísse.

—Calma Ally, nós iremos ficar bem. -Ele disse vendo meu desespero quanto à última frase no papel.

—Deixe-me explicar. Primeiro iremos ’’ incapacitar’’ Sarah, ela estará meio que em um transe. -Ele parecia estar mais calmo do que como de costume.

—Desde o pacto nossas almas meio que estão ligadas uma a outra e isso é o problema de tudo isso.

    Franzi a testa.

—Em parte precisaremos terminar a ligação para logo em seguida reverte-la e por fim o suicídio. -Estava sendo quase impossível de controlar as lágrimas.

—Não iremos morrer Ally, bom em parte sim iremos morrer, mas para nos tornarmos humanos.-Meu coração quase congelou.

—Isso é ainda pior Austin. -Consegui dizer uma frase em minha defesa ao menos.

—Você prefere uma eternidade sendo atormentada ou uma vida finita onde pode ser feliz?-Eu via o desespero em seus olhos.

   Continuei calada.

—Você vai poder ter uma vida normal, cuidar da sua filha do mesmo jeito que sempre e lhe ensinar tudo o que aprendeu,irá vê-la crescer, se casar e um dia será avó. O fato de você morrer daqui a muitos anos não quer dizer que você vai deixá-la. -Seus olhos marejaram.

—A escolha esta em suas mãos Ally. -Deu um longo suspiro.

   Eu não podia pensar muito, não tinha tempo para isso. Sarah me deu um mês para acabar com Austin e não sei quanto tempo essa idéia dele pode durar.

  Por mais que pareça estranho não estou fazendo isso por mim, estou fazendo por Audrey.

—Eu aceito. -Essa sem sombra de dúvidas é a frase mais sensata que falei em todo o dia.

   Austin largou os papéis no chão e rapidamente me abraçou.

   Devolvi o gesto e automaticamente fechei os olhos. Era bom ter ele tão perto assim de mim de novo.

—Eu te amo. -Ele disse pela segunda vez nessa noite. Afastou seu rosto do meu pescoço e o aproximou do meu rosto em encontro aos meus lábios, embora eu tivesse sido mais rápida e esquivado.

—O que foi?-Ele perguntou intrigado.

—Eu aceitei irmos adiante com esse plano, não um pedido de casamento Austin.

—Mas você disse que me amava. -Ele franziu a testa.

—Exatamente. Eu disse que te amava, não disse que ainda te amo. Esses anos foram muito difíceis para mim Austin e com eles eu aprendi a controlar meus sentimentos. Quando você me encontrou na floresta antes de me ‘’matar’’ eu queria dizer que te amava o que de fato naquele momento era verdade, eu te amava mais do que amava qualquer um a minha volta, mas acho que com o tempo e com todos ao meu redor dizendo que você não era bom para mim eu terminei acreditando nisso. Não posso negar meus sentimentos por você Austin, mas eles não são tão fortes como já foram algum dia. -Fui direta.

—Se o problema for eu estar noivo não se preocupe, eu cancelo o casamento, hoje mesmo se você pedir. -Ele estava desesperado.

—Eu nunca pediria que você deixasse de ser feliz com uma mulher que realmente esta disposta a se entregar de corpo e alma por você para que me escolhesse. -Dei um sorriso triste.

—Mas... Eu te amo. -Ele sussurrou.

—Eu sei, mas, por favor, não me faça dizer essas mesmas palavras sendo que não serão verdadeiras, isso só me machucaria mais ainda. -Mesmo hesitando toquei seu rosto.

   Ele fechou os olhos com a demonstração de carinho.

—Talvez algum dia eu perceba que sempre foi você Austin, mas não agora, não quando por dentro ainda estou em um caixão. -Colei nossas testas.

—Como você mesmo disse, vai se tornar humano vai poder ter uma vida com Lucy e eu prometo deixar você ver a Audrey. -Tentei animá-lo.

—E quanto a você?Também poderei te ver?- Perguntou e uma lágrima solitária escapou de seus olhos.

   Não a deixei que permanecesse por muito tempo e logo a afastei de sua bochecha.

—Prometo que nunca mais sairei da sua vida, bom nunca é uma palavra muito forte, no entanto, prometo ficar ao seu lado até meus cabelos ficarem brancos. -Jurei isso não só para ele como também para mim mesma.

                                                                      ***

—Então o que precisamos é reunir o número máximo de bruxas que conseguirmos?-Perguntei encostando minha cabeça em seu ombro.

     Meu braço estava entrelaçado no seu e ele estava me levando de volta para casa.

—Sim. Tem a Kira, Trish, Tia Sofia e se você permitir a Lucy. -Ele disse.

  Dei um sorriso.

—É claro que eu permito, mas também poderíamos tentar convencer Belinda de ajudar. -Belinda é uma das últimas bruxas originais que ainda existem, seria muito útil.

  Ele assentiu com a cabeça.

—E quanto à parte de nos tornarmos humanos?-Indaguei.

—Deixe comigo. -Ele garantiu e parou em frente a minha casa.

—Esta parecendo até que somos um casal adolescente de namorados e que você esta me trazendo em casa no meio da noite com meu pai podendo aparecer a qualquer momento para te bater. -Tentei achar algo engraçado em todo o dia.

—Agora você foi longe demais. -Gargalhou alto e eu dei um tapa em seu braço. -Todos devem estar dormindo seu idiota. -Reclamei.

—Você fez o mesmo hoje minha linda.

   Revirei os olhos, mas não podia negar que era divertido estar com Austin sem termos uma briga.

—Quer entrar?-O convidei.

—Não. Ela não faz idéia de quem eu sou e já esta tarde demais para isso. -Ele se aproximou de mim e mais uma vez meu corpo estremeceu.

  Mas Austin me respeitava fora que já havíamos conversado mais cedo sobre nossa relação. Por fim me deu apenas um beijo na testa.

—Tente mudar a cabeça dela em relação ao pai. -Disse e o vi se distanciar em meio à neblina que se formava na rua.

   Já deve se passar das quatro da manhã.

   Não demorou muito e eu já estava de volta a minha nova casa.

  Quando cheguei à sala notei Francis sentado em um dos sofás com o celular em mãos, parecia estar preocupado e quando me viu notei que não era comigo.

   Antes de tudo perguntei por ela.

—Onde ela esta?

—Dormindo. -Sua voz tensa fez meus músculos ao mesmo tempo relaxarem por parte dela estar bem quanto me fez enrijecer pelo seu olhar.

—O que aconteceu Francis?-Perguntei já temendo o pior por qualquer motivo que invadisse minha mente.

—Sente-se. -Sua voz realmente não estava ajudando em nada.

   Não sei de onde tirei forças para caminhar, porém quando dei por mim já estava ao seu lado no sofá.

   Ele respirou fundo, parecia temer a minha reação.

—Dez esta morto.


Notas Finais


Bom é isso,não sei se vcs gostaram,mas independente da sua opinião quero que vcs as exponham nos comentários.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...