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História The Lost (Jackson) One - Back To Neverland


Escrita por: alwaysxtired

Capítulo 9 - Back To Neverland


Bruno desperta de seu sono agraciado pela luz do sol que invade sua janela. Ele boceja e lentamente pisca algumas algumas vezes para ajustar sua visão. Sem lembrar das feridas, se vira para o lado e grunhe de dor assim que as bandagens entram em contato com o tecido. — Merda!

Imediatamente se levanta e as checha, vendo que havia voltado a sangrar novamente. Ele realmente precisa ir ao médico. 

Todavia antes que pudesse pensar em limpá-las ele se dá conta da ausência do irmão e de imediato seu coração começa a acelerar. Bruno começa a pensar que Abel foi embora e que havia perdido a única chance de ter uma reaproximação.

Não fazia sequer sentido esse raciocínio, porém o medo do abandono e de perder o irmão novamente o cegou naquele instante e, ignorando as dores e sangramento, ele levanta-se da cama e corre até o térreo.

No andar de baixo, ele chega à cozinha e vê Abel e seu primo tomando café da manhã até notarem sua presença e desviar toda atenção para ele.

Quase instantaneamente Peter se sente envergonhado. Se sente idiota por ter se desesperado a toa e por, basicamente, assumir a si mesmo que ele ainda se importa e muito com seu irmão.

— Eu… Eu tava procurando o Gerônimo.

Gerônimo foi um presente dado por Michael a seus filhos em 2006, quando Abel tinha 9 anos e Bruno apenas 5. O labrador era marrom e foi adotado ainda filhote.

— Tá lá fora. — Taj respondeu, dando uma garfada em suas panquecas.

Meio sem jeito, Mars assente e sai da cozinha.

Certificando-se que ele está longe o bastante, Taj solta o risinho que estava segurando. — Ele não estava procurando o Gerônimo, ele sabe muito bem que a essa hora ele fica lá fora.

— O mesmo de sempre? — Abel questiona, pois há anos não vê seu pet.

— O mesmo de sempre — Taj confirma. — Ele estava procurando era por você.

Tesfaye o encara com descrença.

— É verdade, ele só não vai admitir porque é o Bruno e ele nunca admite esse tipo de coisa. — retruca.

Tesfaye volta a prestar atenção em sua refeição, pensativo sobre isso levando em conta o que aconteceu ontem.

O jovem queria tanto que as coisas voltassem ao normal, mas isso parecia um querer tão impossível que até o desanima se pensasse demais.

— A Janet quer falar com você — Taj interrompe sua reflexão. — Ela vem aqui mais tarde e vai te trazer um negócio.

— Que negócio?

— Não faço ideia — deu de ombros. — Mas é importante.



Horas Depois~


Janet chega a tarde no Rancho após Taj levar Bruno ao hospital para tratar daqueles cortes. Abel está sentado em um dos sofás e logo se levanta ao vê-la.

— Oi tia.

— Oi, meu bem — Janet o abraça. — Como está?

— Mesmo de sempre — enfia as mãos no bolso do casaco. — E você?

— Eu vou bem — ajeita a alça da bolsa transversal que usa. — É bom poder vir e te ver aqui, senti muito sua falta.

Seu sobrinho sorri timidamente.

— Vem cá — Ela põe um braço em volta do seu pescoço, o guiando para algum lugar. — Tem uma coisa muito importante que eu queria te mostrar.

O destino acaba sendo um dos quartos de Neverland. Abel encara o lugar com dúvida, pois era apenas um quarto qualquer, entretanto quando sua tia lhe entrega um objeto específico ele entende o porquê da importância. 

— Esse é o álbum de fotos que seu pai fez — explica. — Ele queria fazer um álbum completo com fotos suas e do Bruno e fazer meio que uma evolução de vocês e entregar quando estivessem adultos, mas… não foi possível. 

O mais velho olha fixamente o objeto, com receio até de tocar. Era algo pensado e feito por seu pai, que pertenceu a ele. O valor emocional daquilo é imensurável.

Janet estende o braço, esperando ele pegar, porém Abel não faz menção em sequer tocá-lo.

— Abel, mesmo que isso tenha sido do seu pai, hoje é seu, não tenha medo. Isso aqui tudo é seu também — diz. — Eu não tenho ideia do que você passou lá fora esses anos todos, mas aqui sempre foi e será sua casa, não tem porque agir como se isso aqui não lhe pertencesse.

É difícil para ele acreditar em cada palavra que sua tia profere. Acreditar que Neverland, aquela casa, aquele álbum lhe pertence também, depois de tantos anos tentando se desvincular de tudo que era do Michael.

Com tensão no ombros e peito estufado, ele segura o álbum. Gentilmente passa a mão em toda a capa dura que contém a frase "To my two little boys, my life" escrita.

Janet observa sua feição surpresa e nostálgica. — Vou te deixar a sós, sei que precisa de espaço.

Ele a vê acenar enquanto sai do ambiente, o deixando ali sozinho com seu passado. Realmente ele não queria que ela fosse, mas entendia que precisava desse momento a sós.

Abel se senta no chão e inspira profundamente, antes de abrir o álbum. É tão estranho começar a desenterrar tudo que ele tanto tentou esconder, é como revisitar um lugar que sempre evitou ir por conta de sentimentos ruins.

Por um momento ele esquece de respirar assim que vê as primeiras fotos. Logo de cara, é notável que estão em ordem cronológica, pois as do início são suas e do Bruno recém nascido; Michael foi fotografado com sorrisos de orelha a orelha enquanto carregava seus filhos com poucos dias/semanas de vida.

Ver o brilho no olhar do pai ao tê-lo nos braços faz Abel lembrar das vezes que Michael segurava seu rosto e dizia que o amava enquanto olhava em seus olhos. “Eu te amo, filho. Nunca esqueça disso, eu sou muito feliz em ser seu pai”, ele dizia em suas memórias.

Poucas vezes após a morte do pai ele sentiu seu coração aquecido como sentiu agora. É engraçado como apenas seu pai o faz sentir assim, mesmo que não estivesse mais aqui.

Seu primeiro aniversário também foi documentado, uma sessão de fotos havia sido feita e nela estavam fotos dele todo lambuzado de bolo. 

Essa foi meu pai que tirou, lembra, ao ver uma que mostrava Bruno sentado numa escada usando um moletom com capuz rosa e calça azul escura enquanto sorria ao lado de Abel que vestia um casaco preto com detalhes brancos fazendo carinho no Gerônimo.

Bruno e ele haviam praticamente implorado para o pai lhe darem um cachorro e mesmo relutante, decidiu enfrentar seu receio que tinha e lhe deram de presente, apenas com a condição de que cuidariam e seriam responsáveis.

Uma sequência de fotos que chamou sua atenção foi uma de Michael sentado na janela com um pequeno Bruno no colo e Abel sentado ao lado; Outra do mesmo cenário, porém num ângulo um pouco mais lateral o astro segurava o caçula para mais perto enquanto o mais velho se cobria com a cortina.

Já na terceira foto Michael deixou os irmãos sentados um ao lado do outro e ficou de pé de frente para ambos. 

Abel sente uma sensação de apego e nostalgia ao ver mais fotos dele e do irmão juntos. Questionamentos de como a relação deles se quebrou tanto passam por sua mente enquanto folheia o álbum.

— Eu lembro desse dia. — comenta, sorrindo. 

Michael havia feito um ensaio de fotos no jardim de Neverland, estava ensolarado, o que favoreceu bastante o produto final. Takes de ambos irmãos de mãos dadas, outra de juntos numa motinha, e uma deles andando no passeio de concreto foram suficientes para fazer o mais velho se emocionar.

— Queria que nada tivesse mudado. — Abel fecha os olhos, se imaginando tendo aquela vida simples novamente, sem preocupação alguma e cercado pelas duas pessoas mais importantes da sua vida.

Por que aquilo tinha que mudar? Porque seu pai teve que partir? Por que ele teve que fugir? Ele havia feito tantas escolhas difíceis que agora, refletindo, começou a se perguntar se realmente tinha cabimento fazer tudo que fez.

— O que foi que eu fiz? — Se questiona com lágrimas surgindo nos olhos. — Eu sinto que estraguei tudo. Será que se eu tivesse ficado as coisas seriam melhores? Se eu tivesse ficado e dado apoio ao Bruno nossa relação seria melhor? Será que era melhor eu não ter ido embora?

— Eu só queria que as coisas fossem como antes, que nada tivesse mudado, que nós três estivéssemos juntos — Suas gotas de água caem por cima das fotos, felizmente não molhando-as devido ao plástico. — Eu só queria que nossa família ainda existisse.

Abel agarra o álbum contra seu peito e cai no choro, deixando parte de sua tristeza guardada sair de si. Toda essa dor havia sido presa por tanto tempo que agora a cada oportunidade de libertar era impossível evitar.

Poucas vezes ele se permitiu desmoronar assim, especialmente em seus próprios braços. 

— Eu só queria ele aqui de novo. — soluça.


✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧


— Abel? — Taj bate na porta. — Abel, posso entrar? 

Após não ouvir resposta, o primo adentra mesmo assim e a primeira vista ele não encontra ninguém, porém ele ouve um pequeno soluço vindo do lado direito atrás da porta e então vê Tesfaye sentado abraço com o álbum enquanto alguns resquícios de choro ainda estão presentes.

— Oh Abel — Ele se aproxima do primo e se senta ao lado. — Eu vim te ver justamente por causa disso, como você tá.

— Eu tô destruído — responde. — Foi como recapitular uma vida inteira antes de perder meu mundo.

Taj acaricia suas costas e o guia para deitar em seu ombro. — Imagino o quanto deve estar sendo difícil cara, é um puta trauma pra lidar sozinho todo esse tempo.

— Muito — afirma. — E sinceramente não sei se tem como eu lidar com isso porque é uma dor que nunca vai embora, especialmente se você for enfrentar.

— Posso te dar um conselho, de coração? 

Abel se afasta e o olha, assentindo. 

— Você e o Bruno deviam fazer terapia — Assim que seu primo abriu a boca pra falar ele rapidamente continuou. — Não fique ofendido Abel, terapia realmente ajuda e tenho certeza que vai fazer vocês dois aprenderem a lidar melhor com seus traumas.

— De verdade mesmo, eu sei que muita gente acha que ir num psicólogo ou fazer terapia é coisa de gente maluca, mas não é, juro, vai ser realmente bom pra vocês. Se quiser, posso até te indicar alguns.

Abel espera Taj terminar para enfim dizer. — Eu fiquei meio ofendido com você achando que eu pensasse isso sobre e terapia.

Taj ri, gostando do bom humor trazido por ele para descontrair mais a situação. — Foi mal.

— Tipo, eu entendo que seria bom pra mim, mas sei lá — Ele coça a nuca. — Eu fico com receio… Não sei explicar o porquê, eu só fico desconfortável.

Taj oferece uma hipótese. — Será que é porque você teria de lidar consigo mesmo? Com seus traumas e inseguranças?

Abel fica em silêncio, apenas confirmando a suspeita.

— Olha, pensa um pouco, tá? Vai te fazer bem, vai ser bom ter alguém pra te ouvir desabafar sem julgamentos.

— É, acho que sim…

— Sabe o que seria bom também? Você e Bruno se acertarem — Abel franze a testa. — Vocês devem pôr um ponto final nisso tudo, abrir o jogo, cada um contar sua versão e ser sincero.



No Dia Seguinte~


Abel pensou nas palavras do primo e decidiu seguir seu conselho. Está mais do que na hora de ambos se acertarem definitivamente e expôr todo ressentimento um com o outro para assim seguirem em frente e voltarem a restabelecer a relação fraternal que tinham.

Todavia, ele também não conseguia esconder seu nervosismo e ansiedade dessa situação toda. Sua razão e emoção disputam o controle de si, entretanto se mantém firme em sua decisão.

Ao chegar na porta amadeirada ele dá três batidas, anunciando sua presença.

— Bruno, precisamos conversar. — entra no quarto do irmão.

— Sobre? — Ele arqueia uma sobrancelha. Seu irmão nota as ataduras recém postas no lugar das cicatrizes.

— Você sabe — fecha a porta e caminha até Bruno que está sentado com o celular em mãos. — Sobre o que houve.

Bruno deixa o celular de lado, com aflição se fazendo presente.

— Eu acho que a gente deveria colocar tudo em pratos limpos, falar tudo que realmente sentimos e pensamos. Pôr pra fora tudo que está aqui. — Abel aponta para o próprio peito.

Bruno não consegue manter o contato visual e fixa seus olhos no próprio colo onde suas mãos brincam com a bainha da sua camisa.

— Você está disposto a conversar sobre isso? — pergunta, com seriedade escrachada.

O mais novo morde os lábios. — É melhor, é bom a gente colocar um ponto final nisso tudo, eu acho. — falou com leve pausas entre as palavras.

Abel assente.

Silêncio desconfortável se instala no quarto. Nenhum deles sabe como prosseguir com tal assunto tão sensível para ambos. Os dois passaram anos com esse ressentimento dentro do peito, porém nunca se prepararam para caso esse dia chegasse.

— Melhor você começar. — Bruno timidamente diz.

— Certo — O primogênito ajusta a postura e mentalmente organiza a escolha de suas palavras. — Antes de qualquer coisa eu queria que você soubesse que eu não fugi porque eu quis, ao contrário do que você provavelmente pensa.

A incredulidade na face de Bruno trouxe um misto de raiva e mágoa.

— Você pode não acreditar, mas eu não fiz aquilo porque eu quis — insistiu. — Quando Michael- quer dizer, nosso pai, se foi eu senti como se uma parte de mim tivesse ido embora. No dia que aconteceu aquele assassino tinha me chamado pra ir lá no quarto e quando eu cheguei lá… — Sua voz falha um pouco, porém consegue prosseguir. — …Foi minha última memória dele.

Bruno se mantém quieto.

— E depois daquilo, eu não sei, foi como se a ficha não caísse. Eu não queria acreditar. Depois da notícia eu não sabia o que fazer, nem o que sentir ou sequer reagir. Meu mundo tinha caído, eu tinha perdido a pessoa mais importante pra mim.

A esse ponto Tesfaye leva alguns segundos para segurar a emoção. Relembrar dessa trajetória dolorida que tanto insistiu em evitar não era nada fácil. 

— E então eu me vi cercado de todo mundo enlutado. Aquilo foi insuportável e… — pausou suas palavras para reformular sua frase. — … Toda cobrança que eu tive de você e ver a família toda daquele jeito… Eu não consegui suportar, mas eu não culpo você, nunca culpei porque sabia que estava sofrendo também.

Culpa regurgita violentamente no estômago de Peter, que sente a ânsia de vômito aflorar junto com o arrependimento.

— Óbvio que não foi a melhor escolha, mas eu só queria fugir daquilo tudo, daquela realidade e-e então eu fugi, eu fui embora. Eu não queria ter feito aquilo, só fiz por puro desespero porque eu me senti sem nenhum apoio.

— Por que você chama ele assim? — Bruno se desvia do assunto, por não saber o que dizer em relação a tudo que ouviu.

O mais velho inspirou fundo, umedecendo os lábios. — Depois que ele se foi, eu-eu quis esquecer de tudo que me lembrava dele, doía demais.

Se arrependimento matasse, o mais novo estaria a catorze palmos abaixo do chão.

— Voltar aqui, ver os mesmos lugares, estar meio que em casa de novo é algo difícil ainda.

— As lembranças.

— Sim, muitas… 

Bruno contorce os lábios, abraçando a si mesmo tamanho o desconforto proferido. — Confesso que eu fiquei com muita raiva de você todos esses anos, culpei você por quase tudo, mas eu sabia que não era culpa sua.

— Eu estava com raiva e foi muito mais fácil despejar toda essa tristeza e frustração em você do que aprender a lidar. Também não fiz de propósito, no fundo eu ainda me importava e muito com você, eu queria que você voltasse, eu queria meu irmão de volta. — o mais novo não conseguiu evitar em chorar ao desabafar o que estava preso em seu coração.

— Primeiro a gente achou que tivesse sido um sequestro, mas quando a polícia disse que não tinha indício e que você teria fugido eu fiquei inconformado. Eu não quis aceitar, não quis aceitar que eu tinha perdido outra pessoa que eu amava.

Abel toma o irmão num abraço e o mesmo, ainda com lágrimas descendo continua a falar.

— Eu fiquei com raiva quando você disse que eu era mimado, mas no fim você tinha razão — sua voz soa abafa. — Eu fiquei bravo porque você estava certo, eu realmente te crucifiquei porque eu estava sofrendo, sendo que você também estava e eu nem liguei. Só pensei em mim mesmo.

— Eu fui um egoísta de merda, me desculpa, me desculpa por tudo! Pelo o que eu disse, pelo o que eu fiz, tudo. Você não merecia isso Abel, me perdoa por favor…

Alívio se entranha na pele de Abel ao finalmente ouvir um pedido de desculpas vindo de Bruno. Aquilo simboliza mais do que nunca que seu irmão nunca o odiou de verdade e só estava magoado, porém queria muito ser perdoado.

— É claro que eu te perdoo, irmãozinho. — O primogênito o mantém abraçado, afagando seus cachos exatamente como fazia quando era mais novo. — Me desculpa também, eu não devia ter fugido e te deixado pra trás. Foi a pior escolha que eu podia ter feito.

— Te desculpo. — Bruno diz com a voz mais fina, por estar contida.

Bruno enfim o abraça de volta e mergulha no conforto que aquele gesto lhe traz. O sentimento de estar em casa, em um lugar e momento que lhe pertence é algo tão grandioso e além de que palavras possam explicar.

Claro que a relação de ambos não voltaria a ser como antes de um dia para o outro, porém já é um grande avanço eles terem se perdoado e reconhecido seus erros.

Por mais magoados e ressentidos que estivessem, o amor fraternal sempre falou bem mais alto.



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