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História The Love We're Hoping For - Caderno perdido


Escrita por: alexafolks

Notas do Autor


Obrigada pelos comentários e favoritos, sou muito grata!
Até o próximo capítulo. 😘

Capítulo 8 - Caderno perdido


26/03/2017 - Domingo

​Acordei e me certifiquei várias vezes de que não continuara dormindo. As paredes que estavam a minha volta não eram a do meu pequeno apartamento, o sofá no qual eu me encontrava deitada também não fazia parte de sua mobília e muito menos o rapaz recostado sob a poltrona ao meu lado morava comigo. Eu mal havia tido tempo para acordar, quanto mais pensar sobre a noite anterior. Tinham alguns fatos que eu ainda precisava processar, coisas que a pacata Ana nunca faria e nunca havia feito: primeiro, entrar em um bar atrás de Jake, que não era um completo desconhecido, mas também não era algo como um amigo; segundo, segui-lo até um estúdio no meio da noite; e terceiro e mais assustador, passar a noite nesse estúdio com Jake. Nesse meio tempo aproveitei para conferir a hora, não que fosse exatamente necessário, já que, era domingo e eu não teria trabalho.

 Tentei me levantar e sair discretamente sem acordar Jake que dormia um sono pesado e não mostrava sinais de incômodo à luz que entrava pela porta aberta. Obviamente falhei, acabei permitindo que minha falta de jeito sobressaísse e derrubei a minha bolsa no chão. Jake despertou lentamente. Sua expressão era confusa e de quem acabara de acordar.

- Ana? Acho que pegamos no sono ontem. - Ele falou um pouco desconcertado, afinal, a situação era inteira desconcertante.

- É... desculpe, eu não queria te acordar, eu já estava saindo. - Falei sem conseguir evitar uma leve risada quando terminei a frase. Jake estava sonolento e com o rosto marcado pela costura da poltrona na qual havia dormido. Ele riu também.

- Bom, eu não estou de carro, mas se você quiser, te levo até a sua casa.

- Não precisa Jake. Eu já te atrapalhei demais te acordando desse jeito. Obrigada de qualquer forma. - Eu disse, e em um repentino instante sem medo de me aproximar, depositei um beijo em sua bochecha e sai rapidamente.

O caminho não era longo e nem cansativo, pelo contrário, andar me fazia lembrar de casa e de boas memórias, além de que Londres era uma cidade que merecia ser vista pela manhã, sozinha, calma e inspiradora. Era inevitável a lembrança da minha família que mesmo estando há um oceano de distância de mim, me fazia sentir o peito tão apertado.

Cheguei em casa e antes que fizesse qualquer outra coisa comecei a pensar. Jake era realmente alguém especial, mas parecia um pouco perdido nas poucas vezes que eu o encontrei. Talvez sem esperança ou sozinho. Ele havia me mostrado aquela música, que eu tinha certeza que estava gravada para sempre no meu coração. Com certeza iria escrever sobre isso no meu diário.

Desde os nove anos eu escrevo em um diário. No começo eram só anotações simples, eu escrevia para o meu ''querido diário'' como havia sido meu dia, algo não muito bem relatado, eram mergulhos superficiais na minha vida, mas posso negar a importância dessa fase da minha vida literária. Foi assim até os meus catorze anos, eu escrevia sobre meus dias monótonos na escola, sobre as pessoas que eu conhecia e sobre minha família. Quando eu completei quinze, fiz uma lista de coisas que eu queria fazer, e acabei não realizando nenhuma delas, com exceção do terceiro item: nunca parar de escrever, e eu ainda não havia percebido, mas meu diário se tornara meu amigo, o único que jamais me abandonara.

 Logo eu comecei a escrever poesias, simples e com métrica pouco trabalhada, mas cheias de sentimento. Foram elas minhas melhores amigas e confidentes durante o ensino médio e adolescência. Foi aí que eu comecei a sentir mais o mundo e as pessoas e transformar tudo isso em texto, e esse sentimento era o que movia meu desejo de escrever.

Procurei meu caderno na minha bolsa várias vezes, eu tinha certeza que não estava lá. Minha vontade era dar com a cabeça na parede, como eu podia ser tão atrapalhada? Eu só podia tê-lo esquecido no estúdio de Jake, já que tinha sido o último lugar que eu havia escrito alguma coisa. Depois de uma silenciosa discussão comigo mesma eu resolvi pegar o número de Jake que eu havia guardado e telefonar para ele. 

- Alô? 

- Oi Jake, é a Ana, bem, eu esqueci meu caderno no seu estúdio e...

- Bob Dylan na capa? - ele perguntou com tom divertido em sua voz, o que me deixou completamente mais confortável com a situação. 

- E os Beatles na contra-capa. - ele soltou um riso contido que me fez rir também.

- Eu ainda estou aqui no estúdio Ana, se quiser voltar para buscar. 

- Eu já estou saindo. 

(...)

Cheguei no estúdio e Jake ainda estava lá, não sabia exatamente o que ele estava fazendo, mas parecia bem concentrado. Ele só percebeu a minha presença lá quando eu acabei deixando a porta bater. Nós dois rimos. 

- Agora eu preciso saber o que você tem contra o Bob.

- Ele claramente copia minhas letras. Um artista sem originalidade. - Jake falou em um tom sério, mas logo caímos na gargalhada novamente. - Aqui está o seu diário, Ana. 

- Muito obrigada, você não imagina o quanto isso é importante para mim, se eu perdesse eu não sei o que faria...

- Ele está são e salvo Ana. 

- Obrigada. É, bom, eu vou indo, você está ocupado e eu...

- Se quiser pode ficar. Eu estava tentando algumas coisas aqui, com a música que eu te mostrei ontem. Você já comeu alguma coisa? 

- Ainda não tive tempo de pensar em comida. 

- Quer tomar um café?

E fomos nós pela gelada e recém amanhecida Londres. Paramos em um café perto do estúdio e fizemos nossos pedidos. Logo se estabeleceu uma agradável conversa, como se fossemos velhos amigos a relembrar a infância. Ele me contou como foi crescer em Nottingham, os amigos e as aventuras. Eu contei como tinha sido crescer em São Paulo, embora minhas lembranças não fossem tão interessantes como as dele. 

Eu sempre achei que, se a vida fosse um grande filme eu seria apenas uma figurante, como aqueles personagens que ficam apenas no fundo das cenas acompanhando o desenrolar da história dos personagens principais. E pela primeira vez na minha vida me senti a personagem principal. Como se a minha história realmente valesse apena e fosse interessante para ser assistida. Jake me fez sentir assim e eu sou eternamente grata à ele por isso. Pena essa sensação ter durado pouco nesse dia.

A garota loira e alta entrou elegantemente no café em que estávamos. Seu perfume invadiu a respiração de todos que estavam ali. E Jake parecia conhecer esse cheiro muito bem, pois em questão de segundos sua expressão se tornou contida. E eu voltei a me sentir como a garota que apenas figura e assiste de longe a brilhante história dos personagens principais. 

Ela cumprimentou Jake com um aceno, e quando estava prestes a mudar a direção de seus passos para Jake, hesitou. Ela me viu, e sem esboçar qualquer emoção em seu rosto, voltou a andar para a saída. 

Se eu já me sentia intrusa naquela cidade, esse sentimento se expandiu inevitavelmente naquele momento. Senti como se aquele não fosse o meu lugar. Afinal, o que eu estava fazendo? Ficando amiga de Jake Bugg? Sendo um obstáculo para a possibilidade de reconciliação com Roxy? Por isso que figurantes sempre ficam no fundo da cena, porque não nasceram para ter um lugar na história. 

- Jake, eu preciso ir. 

Ele direcionou o olhar vazio para minha direção. Pareceu despertar de uma transe, saindo dos pensamentos em que estava mergulhado. Eu deixei dinheiro na mesa e sai. Ele veio logo atrás. 

- Ana, aonde você vai?

- Olha, foi legal isso tudo Jake, mas eu não posso continuar com isso. Você tem a sua vida, e eu tenho a minha. Eu não quero te atrapalhar. 

- Eu estava há meses sem compor Ana. Depois que eu te encontrei, naquela festa, e você me falou sobre seus sonhos de um jeito tão inspirador, eu mudei de alguma forma. Tivemos uma conversa tão sincera, que eu não teria com qualquer outra pessoa que eu conheço. Você me fez mudar, e aquela música que eu escrevi foi por sua causa. Você me fez reencontrar meu sonho.

Jake estava parado na minha frente, na calçada do café que estávamos. Seus olhos estavam brilhantes e mais azuis do que qualquer outro azul que existia. E as palavras que ele acabara de me dizer cravaram em meu peito. Ele sempre fora alguém que eu admirei de longe, mas em uma reviravolta insana do destino eu estava ao seu lado, escutando ele me dizer aquelas coisas que eu nunca imaginaram alguém me dizendo.

Não tenho que dizer que essa era a deixa perfeita para um beijo, tenho? Ele se aproximou lentamente, seus olhos nos meus. Meu corpo tremia, eu podia ouvir meu coração batendo, e creio que ele também. Nos juntamos em um beijo calmo e cheio de sentimento. E eu posso dizer que nesse momento, eu fui completamente feliz, como eu nunca havia sido antes. Eu podia me aninhar naquele beijo para todo o sempre.




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