Sasha’s POV
Ezequiel só tinha adormecido noite passada por causa dos remédios. Eu tinha conseguido voltar para casa quando já se passava de 1 da manhã, pois ele insistia em se segurar de pé. A minha preocupação dele passar mal só com Tomi foi o que ainda me fez ajudá-lo, porque ele estava mais chato do que nunca.
Naquela manhã acordei com o barulho do despertador. Respirei fundo ao sentir meu peito esquentar quase que imediatamente, sentindo que o dia me daria trabalho.
Peguei rápido o celular para saber como os Lavezzis teriam passado a noite, e o mais velho atendeu depois de algumas chamadas.
- Alô? – ele perguntou com a voz arrastada.
- Oi, Pocho. Está tudo bem por ai? – perguntei.
- Sim, e aí? – ele continuava seco assim como na noite passada.
- Também. Vou para a aula agora, mas qualquer coisa fale comigo, ok?
- Tudo bem, vou levar Tomi na aula e ir para o Camp des Loges.
- Hum, mande um beijo para ele.
- Mando.
- Até mais tarde, então...
- Até. – Lavezzi desligou sem mais desvios.
O rubor do meu peito aumentou. Massageei a área numa tentativa falha de tirar toda angústia que eu sentia.
- Droga. – pensei alto.
Resolvi me arrumar rapidamente e ir para faculdade mais cedo para colocar algumas matérias em dia. Fiz o desjejum com alguns muffins de chocolate, tomei um banho quente e pus algumas roupas que seriam consideradas mais confortáveis do que ele elegantes. Eu estava merecendo.
Antes de sair de casa, avistei um bilhete na entrada da garagem.
‘’Fui para o treino mas qualquer coisa me ligue. Espero que tenha um ótimo dia, deixei sorvete no congelador. Zlat.’’
- Só você, Zlatan. – falei sozinha, rindo.
Entrei no carro e digitei uma mensagem em resposta para o sueco.
‘’Você fez o meu dia. Obrigada.’’
Segui em direção à universidade e o gps constatou que naquela manhã o trânsito estava um caos. Bati as mãos no volante e respirei fundo.
- Mais um daqueles dias que nada parece colaborar. – resmunguei.
Agradeci mentalmente pelo fato das vagas serem enumeradas pelas matrículas e eu poder estacionar o carro sem maiores dificuldades. Saí do automóvel e fui correndo para a classe, tendo que aguentar todos os olhares sob mim ao entrar na sala atrasada.
Olhei para o relógio que ficava logo acima do quadro e seus ponteiros marcavam 12:17. Mais três minutos e eu estaria livre de mais um dia de aula. Encarei as canetas que estavam em meu estojo aberto, em cima da carteira, e deixei meus pensamentos saírem da sala de aula.
Desde o início da manhã, quando Ezequiel havia sido um completo frio comigo no telefone, ele ainda não tinha falado comigo. E eu resolvi não pressionar.
- Se não está sendo fácil para mim, pois imagine para ele. – balbuciei para mim mesma.
Senti Liz me cutucar e olhei para ela, que se sentava na cadeira trás de mim.
- Nada ainda? – ela perguntou, adivinhando no que eu estava pensando.
- Não. – respondi e ela bufou.
- Deve ser drama, dê um tempo que daqui a pouco ele já vai estar só amores com você de novo. – Liz disse e piscou, tentando me animar.
Sr. Martin encerrou o horário e nós duas no levantamos juntas, guardando nossos materiais em nossas respectivas bolsas.
- Mas estou preocupada, sabe? Sei que ele vive fazendo esses dramas, porém dessa vez é algo sério. Fico com medo de ter acontecido algo.
Liz passou seu braço direito em meus ombros e andamos juntas até onde ficavam nossos armários.
- Está tudo bem.
Deixei meu corpo se relaxar e sorri fraco para ela.
- Obrigada por me aguentar.
- Se quiser posso passar o dia com você.
- Não, tudo bem. Mas te dou carona para casa.
- Ah, amém. – ela respondeu levantando os braços em sinal de agradecimento e eu tive de rir.
Fomos juntas até o estacionamento enquanto Liz contava um de seus casos que sempre tiravam algumas gargalhadas de mim. Eu não poderia ter feito uma amizade melhor naquele lugar.
Quando pegamos a rota em direção à casa dela, recebi uma chamada me Pocho e minha única opção era atender pelo bluetooth do carro, já conectado com meu celular.
- Sah? – ele foi o primeiro a falar. Olhei para Liz e ela tentava se controlar para ele não perceber que havia mais alguém ali.
Fiz cara feia para ela parar de se debater e a garota balbuciou ‘’estou empolgada’’ para mim e mordeu a própria mão logo em seguida.
Balancei a cabeça em sinal de desaprovação, rindo, e finalmente o respondi.
- Ei, Pocho. Tudo bem?
- Sim. Já saiu da aula?
- Só vou deixar minha amiga na casa dela e vou para a minha. Por quê?
- Tomás tem um jogo hoje e quer que você vá. – ele disse incerto.
Liz soltou um grunhido e tive que brigar através de olhares com ela mais uma vez.
- Tudo bem, só me dizer o horário e onde que encontro vocês lá. – falei séria.
- É... na verdade queria que viesse almoçar comigo antes. Podíamos ir juntos, se quiser. – Lavezzi gaguejou e foi minha vez de rir internamente.
- Está bom, daqui a pouco estou aí.
- Estamos te esperando.
Desliguei a chamada e Liz finalmente pôde se expressar devidamente. E assim ela soltou um grito.
- Ai, finalmente, eu já estava quase morrendo aqui. – ela disse depois.
Nós duas rimos.
- Eu te disse. – ela continuou. – esse argentino não fica mais sem você, Sah.
- Até parece. – respondi negando com a cabeça.
- Sei do que estou falando. – ela deu de ombros e a deixei na porta de sua casa.
- Me conte tudo depois, viu? – Liz insistiu e eu concordei com a cabeça.
Segui para o lar de Lavezzi e em pouco tempo eu já chegava.
A porta estava aberta e eu entrei sem avisos, saindo a procura dele pelos cômodos da casa.
Fui achar o Ezequiel sentado na sala de estar. Ele estava sentado na mesa, tomando um mate. Seu rosto se encontrou com o meu quando entrei e o argentino abriu um sorriso enorme, típico dele.
Fiquei aliviada ao vê-lo ‘’normal’’ de novo e me aproximei devagar. Ele estava impecável com sua barba e cabelos no lugar, blusa de moletom, calças e tênis. E claro, não podia faltar seus acessórios de sempre.
Mesmo com minha aproximação, ele não se levantou; não desviou seu olhar do meu e me conduziu com seus olhos castanhos.
Me encaixei entre suas pernas e o beijei, sentindo suas mãos envolvem minhas costas.
Quebramos o beijo quando o som dos passos de Tomi tomaram conta da sala.
- Senti sua falta. – Lavezzi disse sem retirar suas mãos de mim.
- Eu também, Pochito.
- Sah! – Tomi gritou ao me ver e correu até a mim, me abraçando em seguida. – você vai assistir meu jogo de futebol com meu papá?
- Eu não perderia por nada! – exclamei e o garoto abriu um sorriso igual ao do pai.
- Yes! – disse comemorando com seus braços para cima.
- Ok, agora você tem que almoçar para ir logo encontrar com seus amigos. – Ezequiel nos cortou, o puxando até a cozinha.
Quando Tomás se dispôs a ir sozinho, Pocho me segurou pelo braço.
- Posso antes falar com você um pouco? – ele me perguntou e eu concordei com a cabeça.
Nos sentamos num sofá que ficava em um pequeno cômodo entre a cozinha e a sala de jantar e Lavezzi se virou para mim.
- Preciso te pedir desculpas por ontem. – ele começou.
- Você foi grosso comigo sendo que eu era a única que estava te protegendo. – respondi e ele olhou para seus pés fingindo estar conferindo algo nos tênis.
- Eu sei, fui um babaca. Fiquei nervoso de saber que ia ter que parar de jogar de novo. Mas sei que não é desculpa.
- Tudo bem, só não faça isso de novo. Tem acontecido com frequência e não é uma coisa que eu esteja disposta a conviver.
Ele tornou a olhar para mim, com um semblante triste.
- Decepcionei não somente a você, mas também a mim mesmo e não vai acontecer de novo. Pelo menos não com você. – ele disse rindo e eu o acompanhei.
- Agora me conte como foi lá hoje de manhã.
- Foi melhor do que eu esperava, para te falar a verdade. O psiquiatra me explicou que meu cérebro tende a ‘’desligar’’ quando percebe um sinal de uma provável pancada, e isso que me fez desmaiar.
Concordei com a cabeça para ele prosseguir.
- E me prescreveu uns remédios para ansiedade, concentração e para dormir, essas coisas. Disse que não vai demorar para meu organismo acostumar e eu poder pisar nos gramados novamente. – Pocho disse sorridente.
- Fico feliz de ouvir isso, Pochito. – eu disse e peguei em sua mão.
Ele me deu um selinho e finalmente fomos almoçar. Logo após, iríamos levar Tomi a seu pré jogo. O mini Lavezzi tinha sua animação estampada na cara pela presença do pai famoso que quase nunca podia comparecer aos eventos do filho.
Depois de uma pratada de Paella, eu e Ezequiel fomos ajudar Tomás a arrumar suas coisas para a partida. O garoto havia conferido algumas dezenas de vezes seus pertences e por fim pudemos ir ao campo de futebol que presenciaria aquele jogo.
- Nós vamos ficar aqui na arquibancada, mas qualquer coisa é só me gritar que vou até você, ok? – Ezequiel instruiu o filho e ele concordou com a cabeça, indo em direção a seu técnico e seus companheiros de time.
Tomás jogava num pequeno clube da cidade porque Lavezzi não queria que ele começasse no PSG e fosse favorecido lá dentro por ser filho dele. Porém, não demoraria muito para trocá-lo para as categorias de base do mesmo time que ele, já que Tomi estava superando as expectativas do pai.
Nós nos sentamos na pequena arquibancada que se chocava com o campo e alguns outros pais olhavam insistentemente para nós, mas Pocho parecia não se importar e eu tentei fazer o mesmo.
Quando o jogo começou, Tomi parecia tentar se esforçar mais que qualquer um de seus companheiros de time e todos ali sabiam o porquê.
- Depois você precisa conversar com ele e falar que não precisa se sentir pressionado por você, Pocho. – falei para Ezequiel e ele olhou para mim.
- Você tem razão, e eu nunca tinha percebido o quanto isso o afetava. Até hoje. O garoto vai sentir dores nas pernas a semana inteira de tanto correr para lá e para cá. – ele disse e nós dois rimos.
Tomi acabou se exaltando demais e levou um cartão amarelo por ter atingido um adversário em vez da bola. Ele praguejou e recebeu um olhar repreensivo do pai, que o fez mudar de semblante na mesma hora. Sabia que levaria um sermão por aquilo quando chegasse em casa.
Senti meu celular vibrar e vi que era uma mensagem de Liz.
‘’Então quer dizer que agora já fazem programas em família, é?’’
‘’Como assim, garota?’’
A resposta dela foi um anexo. Abri o link e dei de cara com algumas fotos minha e de Lavezzi alguns minutos atrás, no mesmo lugar em que estávamos. Algumas páginas no instagram falavam sobre termos ido a um jogo de Tomás e sobre como aquilo poderia estar tomando um rumo mais sério.
‘’Esse povo não tem mais o que fazer’’ – respondi.
‘’Concordo, mas amei as fotinhas. Vocês são tão fofinhos juntos.’’
‘’Cale a boca, bobona.’’
‘’Depois me conte sobre como fizeram as pazes. Se foi com sexo, por favor, não conte.’’
Eu dei uma gargalhada alta.
- Do que está rindo? Deixe eu ver. – Pocho disse tentando puxar o celular de minhas mãos.
- Não é nada demais, só que já tem fotos nossas daqui na internet e Liz está zoando com a minha cara. – puxei o telefone de volta.
Ele deu de ombros e voltou a assistir à partida, que encerrava sua primeira metade.
‘’Você não presta. Depois conversamos’’ mandei a última mensagem para ela.
Quando o juiz apitou para o intervalo e nós vimos Tomás acompanhar os amigos até o pequeno vestiário para receber as devidas instruções para o restante da partida, algumas pessoas que assistiam ao jogo pediram fotos para Lavezzi e ele educadamente as tirou.
- Valeu por esperar pacientemente. – ele me agradeceu depois que o deixaram ‘’em paz’’.
- Ossos do ofício, não é? – respondi e Pocho reagiu com seu sorriso que derretia cada célula do meu corpo.
Ele me encarou por alguns segundos, me analisando profundamente.
- Você é incrível, sério. Obrigado por me dar uma chance.
- Na verdade foram algumas chances, mas tudo bem, de nada. – falei fingindo superioridade e ele gargalhou.
Lavezzi me puxou para um beijo e, pela primeira vez, eu me senti em casa.
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