Pov Harry
Depois de uma manhã tediosa em que o meu café se resumiu em pães italianos e Baccalà Mantecato que é um antipasto ou creme de bacalhau se preferir ser mais simples. Já estava entediado de somente ver a paisagem pela janela. E sobre o Louis, passar boa parte da manhã olhando para o notebook com uma expressão zangada e com óculos moldando e fazendo seu rosto ficar delicado, apesar dele ser muito bonito com ele, eu já estou cansado. Sentei na cama ao seu lado e passei a olhá-lo, ele se virou e começou a fazer a mesma coisa.
- Que foi Harry? -perguntou voltando sua atenção para o notebook e digitando algo.
- Você vai ficar o dia todo aí? -suspirei após perguntar.
- Por quê?
- Eu quero visitar a cidade -ele olhou para mim.
- Você que dinheiro ou algo assim? -ele perguntou e fiquei ofendido.
- Eu quero que você vá comigo -disse como se fosse o óbvio porque realmente é.
- Estou trabalhando -me olhou rapidamente voltando a atenção para o notebook.
- Só você pra trabalhar na própria lua de mel -suspirei levantando da cama e bufando.
- Harry eu preciso fazer isso afinal é o banca a gente na Itália -assenti com a cabeça.
- Beleza, vou aproveitar a nossa lua de mel sozinho, até porque é super normal quem nunca -deu ênfase no "nossa".
- Porra -ele resmungou digitando alguma coisa no notebook e o fechando. - A onde quer ir? -questionou jogando o aparelho na cama e se levantando, sorri para ele.
- A pergunta na verdade é a onde vai me levar? -disse dando um pulinho de felicidade.
- Sei de um lugar que vai gostar, vamos? -indagou pegando sua jaqueta jeans azul clara.
- Espera -fui até a mala pegando uma pequena mochila e coloquei a câmera dentro dela. - Pronto -falei colocando a mochila na costas.
- Pra quê a mochila? -louis perguntou abrindo a porta e deixando eu passar primeiro por ela.
- Eu sou um turista tenho que estar vestido a caráter -sorri para ele que fechou a porta negando com a cabeça e arrumei meu grande moletom laranja escuro que ia até a metade das minhas coxas.
Caminhei até o lado de Louis e saímos do hotel juntos, estava curioso para perguntar a ele onde iríamos porém preferi ficar em silêncio. Paramos perto de um longo canal de água com vários barcos que parecem casas flutuantes, acho que o nome deles são battelo. Louis começou a conversar com um cara e passei a admirar um pouco a decoração, nada muito chamativo em Veneza, porém tem os caminhos pequenos e estreitos que são marca registrada da Itália. Caminhos de pedras e casas pintadas de um tom chamativo em vermelho, é bem bonito.
- Oi, você também tem medo de água ou alguma coisa do gênero? -louis perguntou e assustei um pouco já que estava tão concentrado em observar a área.
- Não por quê? -perguntei olhando para o meu marido (ainda não estou acostumado a chamá-lo assim).
- Vamos fazer uma pequena viagem de barco -ele sorriu apontando para o battelo branco e também sorri.
Entramos no barco e já haviam várias pessoas ali, elas iriam para o mesmo destino que nós, e eu ainda não sei para onde vamos. Uma menina que estava sentada na cadeira e frente se virou pra mim e sorriu, devolvi o sorriso mas não entendi o motivo dela ter feito isso. Talvez seja apenas uma ômega gentil...
Se a viagem durou mais de uma hora não notei, tudo era tão bonito e a água verde realmente hipnotizava com sua leveza e suas pequenas ondas causadas pelo motor do barco. Desci do mesmo e minha boca se abriu em um perfeito círculo, que cidade é essa?
São tantas cores vibrantes que fico um pouco perdido. Virei a cabeça procurando Louis e o mesmo parecia me observar.
- Qual é nome dessa cidade? -perguntei ainda em sincronia com aquele par de olhos safira.
- Burano, é bem colorida, um pouco enjoativa mas não deixa de ser bonita. -falou neutro.
- Está brincando? É a cidade mais bonita que já vi -comecei a imaginar as fotos magníficas que tiraria naquele lugar.
- Se você diz.
Começamos a caminhar e Burano é uma cidade pequena porém linda, as casas são tão coloridas, azul, verde, amarelo, lilás, vermelho são incontáveis as cores vibrantes desse lugar, flores decoram as janelas, portas e até o chão de todo o lugar, mulheres de vareadas idades a bordar na porta de suas casas, homens, mulheres e crianças indo pra lá e pra cá na correria do dia a dia. E por fim o cheiro característico da cidade, diferente de Veneza que infelizmente tem o cheiro comum da poluição de cidade grande, Burano tem o cheiro do mar que qualifico como o dos peixes e dos frutos do mar em uma mistura fraca com as das algas que são pescados ou trazidos pelas ondas mais fortes, se eu disser que até sinto o cheiro da água salgada do mar, provavelmente falaram que estou maluco. Tirei minha câmera da mochila e deixei Louis um pouco de lado.
- Posso tirar um foto sua? -questionei a uma senhora que bordava um tecido bege em frente a sua casa branca com amarelo.
- Pode querido -pelo jeito que falou e pela falta de cheiro devia ser uma beta.
- Obrigado -sorri enquanto mirava nela e "click" uma foto já foi tirada.
E aproveitando que Louis estava distraído parado de frente a uma loja de tecidos, outra foto foi tirada, por essa vez dele. Andei até o mesmo, e estranhei o sino da igreja estar torto.
- O sino é mesmo torto ou estou vendo demais?
- É torto, a lenda local aqui diz que quando um anjo caiu do céu quando chegou a terra bateu no sino deixando a estrutura torta -enquanto Louis foi falando mirei no sino e com um bom ângulo lá se foi outra foto.
- Aqui tem muitas lendas? -olhei para Louis depois que perguntei.
- Algumas -louis falou entrando na loja e o segui, guardei a câmera na mochila. E observei as peças que provavelmente foram bordadas pelas mulheres da ilha.
- Quais são as outras lendas? -é interessante saber de outras culturas e lendas também.
- Quer mesmo saber? -ele indagou enquanto pegava um moletom roxo e quis saber se era pra ele ou para alguma de suas irmãs.
- Quero -me aproximei dele.
- Bom -ele olhou para mim. - A melhor daqui na minha opinião é a do pescador e sua noiva, a muito tempo os pescadores quando voltavam para casa ficavam perdidos por todas as construções serem iguais e nunca achavam o caminho, então veio um homem de fora e lhes mostrou a tinta, e isso foi a solução para todos os problemas, pintaram as casas com as cores mais vibrantes que podiam para avistar a casa de longe -louis parou de falar para me entregar um suéter bordado da cor lilás. - E então um pescador foi trabalhar no seu barco, voltando um longo tempo depois, pois se casaria neste dia, no caminho ele se deparou com uma sereia, encantado pela beleza da mesma quase caiu nos encantos e também quase foi levado para as profundezas do oceano, só que avistou a casa amarela que seria sua e de sua futura esposa, decidido a ir se casar ignorou a sereia e a mesma surpresa o pediu pra parar, disse a ele que ficou surpresa pela lealdade e coragem e o resolveu o dar um presente, a sereia bateu sua calda vermelha na água várias vezes até se formar o véu mais lindo e bem bordado já visto, o pescador voltou para casa e mandou entregar o véu a sua noiva, foi o casamento mais bem falado, no final o novo casal se deu bem pois o pescador sempre teve sorte no mar e todas as mulheres passaram a bordar na tentativa falha de chegar ao nível do véu da noiva mais bela da ilha -quando Louis acabou de falar soltei um suspiro.
- Que lenda linda, se não for apenas uma isso explicaria o motivo desse lugar parecer tão mágico, é para sua mãe? -perguntei levantando o suéter que me foi entregado.
- É só uma lenda boba, não minha mãe pode vir aqui na hora que quiser para comprar roupas para ela -louis disse e começou a andar pela pequena loja.
- Então é pra você? -perguntei ainda lembrando da lenda, se esses bordados não chegam aos pés do véu daquela noiva. Imagina esse tecido criando pela sereia...
- É pra você -ele parou pegando um suéter maior da cor preta.
- Pra mim? -fui pego de surpresa agora.
- Não gosta da cor lilás? -ele me fitou sério.
- Gosto -sorri para ele.
Depois dele pagar os suéter que ele comprou, caminhamos por ai e almoçamos um prato com frutos do mar, algo com polvo. Bem estranho mas saboroso.
Entramos no battelo novamente e um bons quarenta minutos estávamos em terra firme. Voltamos ao hotel e depois de um banho quase longo e um jantar com algumas palavras trocadas com Louis eu já estava deitado e com os dentes escovados. Acho que Louis bateu o recorde de palavras trocadas comigo hoje.
- Louis -sentei na cama o vendo tirar sua atenção do notebook.
- Diga -falou respirando fundo.
- Tem outras lendas de Burano? -ah, eu não posso negar que fiquei apaixonado com a cidade.
- Sim -voltou sua atenção para a tela do aparelho e revirei meus olhos.
- Conta mais uma? -questionei com os olhos "pidões".
- Você não vai me deixar trabalhar mesmo não é? -seu tom de voz saiu sério e bufei.
- Eu até deixo se contar outra lenda -mordi os lábios e lá estava o Louis tirando seu óculos de armação preta e fechando o notebook o colocando no criado-mudo.
- O que eu fiz para merecer isso -bufei diante suas palavras, você é um alfa muito chato.
- Então tá, estou indo dormir -suspirei alto e virei para o outro lado e ouvi a sua risada.
- Como toda história que começa, a um longo tempo, existiu um alfa muito bonito que jamais foi escolhido pela Lua para se casar com alguma mulher da ilha Burano, depois dos trintas ele se casou com uma também não escolhida e ela partiu deste mundo, irritado por perder seu amor verdadeiro se casou novamente e sua esposa partiu, fez isto mais três vezes e todas partirão desse mundo, o homem já cansado gritou para a Lua o deixar ser feliz e pela sua surpresa a Lua o respondeu com o seu tom de voz neutro "Tu não mereces amor porque já amas muito a si próprio" o alfa passou anos tentando entender e quando fez quarenta e cinco anos, achou uma ômega, linda e diferente das demais, propôs se casar com ela para os pais da garota e como eles já sabiam da fama de viúvo do alfa negaram a mão da menina. E por fim e sorte, conversou com ela descobrindo que a mesma era amante da cor vermelha, ele construiu uma grande casa perto do sino na cor vermelha e rezou para a Lua o deixar amar alguém mais que a si mesmo. A Lua mesmo com dor de saber o destino, o deixou experimentar uma dose pequena de amor, ele se casou com a ômega e enfim um ano mais tarde ela morreu misteriosamente, ele chorou e gritou para a Lua o devolver seu amor, já a pedra luminosa apenas suspirou e se sentiu triste. O jovem pediu tanto por um amor, e ela o deu, só esqueceu de o avisar que ele não fora feito para amar.
Virei para olhar Louis.
- Essa lenda é triste, não gostei -minha visão começou a ficar embaçada.
- Viu, era por isso que não queria te contar -ele falou como se estivesse dando um sermão e ri. Bocejei fechando os olhos.
- Não conte coisas tristes a mim -disse já caindo no sono.
- Pode deixar, não irei -ele pegou seu notebook e o óculos.
- Vamos em outra ilha amanhã? -perguntei esperançoso.
- Você não vai deixar eu trabalhar o dia todo mesmo -disse de modo grosseiro.
- Não diga como se não tivesse se divertido -o mandei um olhar bravo.
- Licença, estou tentando trabalhar e Murano.
- Murano? -perguntei quase caindo no sono.
- A próxima ilha -sorri para Louis mesmo ele concentrado no notebook.
- Boa noite Louis -disse em um sussurro fechando os olhos.
- Boa Harry -dessa vez seu tom saiu natural e sorri de olhos fechados apenas caindo no sono.
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