História The Mysterious Blood - 2. Aqueles olhos verdes

Por' Smiley Franslane

Abri meus olhos num sobressalto, e com um pulo pus-me a sentar na cama macia. Percebi que meu corpo estava bastante molhado de suor, mas sequer ligara para aquilo. Meus olhos já estavam mais do que arregalados.

O que teria sido aquilo? 

Balancei minha cabeça de leve, aspirando e expirando forte o ar. Teria sido apenas um mero sonho? Tal pensamente era um tanto difícil de acreditar, pois aquelas palavras haviam sido ditas em minha mente de maneira tão clara e precisa, e de certa forma tudo aquilo havia parecido ser tão real.

Um homem. A voz que dissera todas aquelas palavras, que agora estavam presas em minha cabeça, era definitivamente de um homem. E estranhamente tal voz soara tão familiar, como se eu já houvesse escutado-a uma vez, mesmo não estando perfeitamente clara, e sem que eu me recordasse de quem ela pertencesse.

Pisquei forte, e novamente remexi a minha cabeça de um lado para o outro, tentando clarear as coisas na minha cabeça. Mas se não houvesse sido apenas um sonho, o que teria sido?

-

- Smiley!

Ao ouvir aquilo, despertei-me rapidamente. Minha avó cutucava-me, chacoalhando um pouco o meu corpo. Levantei-me, incomodada com aquilo.

- Querida, você vai se atrasar para a escola! - avisou ela, com o tom rígido, ainda me balançando. E ao escutar o que ela dizia, eu soltei um suspiro de decepção.

- Eu preciso ir na escola hoje, vó? - indaguei num tom desanimado, bocejando. Minha avó fez uma breve careta, e depois soltou um riso fraco.

- Sim, você precisa, querida. - afirmou ela, o que me fez bufar alto. 

Peguei meu despertador, que estava em cima de uma caixa ao lado da minha cama, e grunhi baixo ao ver que horas eram. Seis horas e quarenta e oito minutos da manhã. 

- Eu estarei esperando lá embaixo, tudo bem? - voltei minha atenção para a senhora, que sorria de maneira gentil. Por fim, acabei por assentir, balançando levemente a minha cabeça. Ao perceber o meu desânimo, ela acrescentou. - Mas tente ver pelo lado bom, Smiley. Na escola sempre se dá para fazer novas amizades.

E, ao dizer aquilo, ela saiu do quarto, provavelmente indo me esperar na sala de estar. Com mais um longo suspiro, levantei-me da cama e fui até o banheiro para me arrumar. Depois de um rápido banho, vesti uma roupa casual para tal ocasião. Dei uma rápida ajeitada em meus cabelos, que se bagunçavam naturalmente, peguei a minha mochila, que estava largada em cima de uma das caixas - várias ainda com os meus pertences, que depois eu teria de guardá-los em meu novo quarto -, e então finalmente desci as escadas.

Surpreendi-me ao perceber que minha avó já me esperava no carro. Peguei meu celular novamente, e me surpreendi ainda mais ao reparar nas horas que ele marcava. Seis e cinquenta e seis. 

Peguei uma torrada que estava em cima da mesa e comi-a rapidamente, enquanto ia correndo para o carro. Entrei no veículo rosa, que já estava pronto para dar a partida, e então debrucei-me no banco ao lado do motorista. 

"A anos eu vivo pensando nisso. Imaginando o que poderia fazer, como poderia contar para você. Percebi que não se dá para fugir ou mudar o destino". 

Tais palavras invadiram em minha mente de maneira tão repentina, fazendo me levar um susto. Respirei fundo, e apoiei a minha cabeça na janela, tentando esquecer aquelas palavras que escutara naquele estranho sonho, que de tal maneira parecera tão... real.

-

Assim que senti o veículo hesitar, soltei um bufo alto e sai do carro, mas antes dei um beijo na bochecha de minha avó, agradecendo-a. Dei dois longos passos, ainda visualizando o fusca cor-de-rosa desaparecer de vista, e só então tomei coragem para virar-me e olhar mais atentamente para aquele lugar. 

Meus olhos se arregalaram um pouco. Aquela escola era realmente bem menor e mais simples do que a que antes eu frequentava. Mas não que eu realmente fosse ligar para aquilo.

Era um enorme, porém não imenso, edifício, com altas paredes pintados de um vermelho vinho, já bastante desgastado com o tempo, e diversas janelas largas enfileiradas, acompanhando as colunas da mesma cor avermelhada. Além disso, uma grande torre elevava-se um pouco mais a direita do centro do prédio, e no seu topo havia um grande relógio, que quase não se dava para notar da distância em que eu estava. 

Várias pessoas caminhavam pelo o que seria um pequeno pátio em frente àquele ambiente, composta de uma grande pista, rodeado por um gramado extremamente verde, que terminava (ou iniciava) em um grande portão, que com certeza seria a entrada principal da escola. E havia ainda uma enorme placa um pouco acima desse portão, onde se lia "Blodhills High".

Por fim, pus-me a respirar fundo e caminhar em direção a entrada, com os passos um tanto acelerados, talvez devido ao meu nervosismo. Sim, eu de repente não era mais aquela pessoa toda confiante, que conseguia fazer amizades tão facilmente, como eu era antigamente. Era como se, depois do acidente dos meus pais, eu tivesse me isolado dos outros, guardando-me apenas para mim mesma.

E, talvez eu realmente tivesse feito isso...

-

Eu estava indo em direção a sala do diretor da escola, como haviam me mandado fazer, quando ao virar uma esquina, de repente esbarrei em alguma coisa. Isso fez com que a mochila, que eu pendurava em apenas um de meus ombros, caísse no chão, esparramando assim o meu material pelo chão - que provavelmente teria estourado, ou coisa parecida.

Sem ao menos pensar, abaixei-me para recolher todo o meu material - cadernos e estojos espalhados por todo o chão -, e só então percebi que alguém ajudava-me a recolher os meus pertences, que também estava abaixado. Demorei mais um pouco para perceber que eu não havia esbarrado em alguma coisa, mas sim em alguém. Isso fez com que as minhas bochechas instantaneamente corassem, envergonhada.

Levantei meus olhos para ele - sim, era um cara - , que naquele instante estava ainda abaixado. Instantaneamente, acabei reparando em seus cabelos que eram de um castanho bem escuro e ligeiramente bagunçados. E, só quando ele levantou seu rosto para mim que eu pude encarar seus olhos verdes. De um verde tão... intenso.

Ao perceber que nos encarávamos por um certo tempo, o que teria sido bastante constrangedor, balancei minha cabeça de leve, e tentei sorrir de maneira mais normal possível, assim que meu rosto a essa altura já estaria completamente ruborizado.

- Hm, obrigada. - falei, um pouco baixo demais, agradecendo-o por ter me ajudado recolher as minhas coisas. No entanto, ele pareceu ter escutado-me, pois logo balançou a cabeça, assentindo, e sorriu de lado.

- Imagine. - apenas respondera ele, gentilmente.

De maneira tão involuntária, permaneci-me a encarar-o por mais um breve tempo. Porém, ao perceber que seus olhos, tão verdes, logo voltaram a me fitar, senti-me de uma maneira tão tensa, o que me fez resolver enfim cessar aquilo, abaixando o meu olhar. Sem olhar para ele, dei meia volta e sai dali, tentando manter os passos desacelerados.

Porém, enquanto eu andava, minha mente se lotava de estranhos pensamentos. Sem querer, lembrara daquele momento em que ele olhara-me bem nos olhos, fazendo-me também encarar os seus, que de certa maneira deixara-me tão constrangida, no entanto, também passara-me uma sensação estranhamente tão... boa?

Assim que já tivera andado bastante, afastando totalmente daquele lugar, hesitei meus passos. Franzi minhas sobrancelhas, e percebi que eu não fazia mais ideia para onde eu estava indo. Era como se, naquele momento, todos os meus pensamentos sumissem da minha cabeça.

Pois, de uma maneira tão estranha, era como se apenas aqueles olhos surgissem em minha mente naquele momento.