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História The Necropsist - Boas garotas obedecem.


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 2 - Boas garotas obedecem.


— Jimin Park, mas pode me chamar apenas de Jimin. Podemos ser amigos, não acha? — perguntou mesmo sabendo que eu não responderia com aquela fita na boca. Estava a lambendo, tentando desprender a cola, mas não estava adiantando muito e, mesmo se conseguisse desprendê-la, me manteria em silêncio por medo. — Ou Chim Chim, era meu apelido na escola — comentou enquanto mexia algo na panela, falando em tom casual, como se eu não estivesse amarrada numa cadeira de sua cozinha.

Ele estava cozinhando como qualquer pessoa faria seu jantar numa noite comum. O ambiente estava com cheiro de carne e condimentos, mas sentir cheiro daquilo numa casa que ficava acima de um necrotério, havia descoberto fazia poucos minutos, apenas me dava náuseas.

Jimin havia me dito que os instrumentos não eram para mim, a não ser que eu me comportasse mal ao ponto de merecê-los.

— Você também tem um apelido na escola? — questionou fitando-me por um segundo ao me ouvir balançar a cadeira, tentando soltar meus pés. — Se importa se eu te chamar de Lis? Acho um apelido muito bonito, seu nome também é bonito. — Voltou-se ao que fazia, meneando levemente a cabeça.

Eu não tinha noção de como ele sabia meu nome e nem do motivo por qual estava ali, mas ele sabia bem mais além disso.

— Acho que se você deixar de lado que eu matei seus pais, podemos nos entender — diz tirando a panela do fogo e encostando-se na bancada, virando-se para mim. — Você vai cair e eu vou te deixar no chão — avisou em tom mais sério, observando-me sacudir o corpo com a ansiedade que o desespero causava quando ele me encarava.

Levantei o rosto e fitei o teto ao sentir as lágrimas se formarem novamente, se eu chorasse outra vez, Jimin viria até mim secar meu rosto, como já havia feito três vezes desde que me trouxe para a cozinha e a proximidade dele me deixava apavorada.

Tentei gritar ficando desesperada ao vê-lo apanhar uma faca e vir até mim, encostando a lâmina gelada em meu rosto, mas era apenas um aviso. Ele arrancou sem delicadeza alguma a fita de minha boca e e eu fitei-o engolindo em seco, vendo-o erguer levemente uma sobrancelha quando permaneci quieta mesmo sentindo meu rosto arder, com medo de gritar e aquela faca atravessar minha garganta.

— Crianças da sua idade costumam ser bem faladeiras, essa fase de pré-adolescência é cheia de palhaçadas — disse deixando a faca na bancada e pegando um prato no armário, voltando até o fogão para servir uma porção generosa antes de retornar ao meu lado e sentar-se voltado para mim. — Vamos conversar, eu sei que tem muito para dizer. — Misturou um pouco do arroz no caldo da carne e estendeu-me a colher a colher cheia, neguei tentando me afastar, mas ele não me deu muita escolha, segurando minha cabeça parada pelo queixo e forçando minha mandíbula até eu reclamar e abrir a boca.

Cuspi assim que o alimento foi enfiado em minha boca, sujando o rosto e a camisa de Jimin de comida e eu me arrependi no instante em que meu corpo tremeu ao vê-lo se levantar com o punho cerrado. O homem seguiu para a bancada, usando um pano de prato úmido para limpar-se, suspirando fundo antes de retornar até mim com um semblante sério, aproximando mais sua cadeira da minha e virando-me para si, havia ficado bravo.

— Eu não cozinhei à toa, você vai comer — disse trazendo-me para quase entre suas pernas, segurando meu rosto parado com força suficiente para eu sentir suas unhas curtas marcando minha pele.

Mas Jimin afastou sua mão rapidamente, me olhando surpreso após receber uma mordida forte no polegar, segurando o dedo e olhando após a listra vermelha na unha e o corte causado por meus incisivos inferiores em sua carne começou a tender um filete de sangue.

Jimin levantou devagar e foi lavar o machucado, as lágrimas voltaram a correr por meu rosto e eu abaixei a cabeça aguardando que ele voltasse com a faca que deixou na bancada, mas ele passou direto por mim, indo para qualquer outro cômodo da casa, deixando-me sozinha na cozinha. Olhei em volta tentando de forma inútil ver alguma saída daquilo, não havia como eu me soltar.

Estava com as pernas bem amarradas na cadeira e a dormência em minhas mãos, causadas pela fita levemente apertada, estava já me causando dor. Tentei mover a cadeira e acabei caindo de lado no chão, gritando curto com o susto, desesperei-me tentando me soltar antes de Jimin vir até a cozinha novamente, ele não parecia ser alguém com muita paciência, mas ele simplesmente não retornou mais naquela noite.

Apenas permaneci no chão frio de madeira, prestando atenção no silêncio agonizante instalado na casa e só dormi após ser derrotada pela exaustão que meu psicológico sofria.

 

O que me acordou foi o som de alguém mexendo as coisas na pia e o cheiro costumeiro de panquecas e geleia de frutas. Era pêssego e por um segundo eu não tive noção da realidade. Mamãe amava geleia de pêssego, mas mamãe estava morta e eu me lembrei disso ao abrir os olhos e ver as pernas de Jimin.

Ele vestia roupas mais despojadas e seu cabelo estava bagunçado, parecia ter acabado de levantar da cama. Eu continuava caída no chão, no mesmo lugar do dia anterior. Jimin se voltou para mim ao me ouvir resmungar de dor quando tentei mover o pescoço, estava com torcicolo por ter passado a madrugada com a cabeça praticamente pendura, além de que boa parte de meu corpo doía por ter dormido em péssima posição.

— Eu avisei que te deixaria no chão caso caísse, isso que dá não me obedecer —  disse enquanto amontoava três panquecas perfeitamente alinhadas no prato, despejando a geleia de um amarelo dourado por cima delas. Ele havia retirado as cascas do pêssego, assim como mamãe fazia.

O homem sentou-se no chão ao meu lado e cortou um pouco das panquecas, trazendo uma porção até minha boca e eu virei o rosto, fazendo uma careta por conta da dor horrenda que me mover daquele jeito causava, mas eu não queria comer algo feito por Jimin.

— Eu realmente não sei como te agradar — resmungou desistindo após algumas tentativas de me fazer comer, olhando-me ofegar cansada, havia dormido pouco e mal. — Por que não quer comer? É seu café da manhã favorito. — Levou o pedaço que me recusei a comer até a boca, então não estava envenenado, mas eu não estava com apetite. Queria apenas fugir dali e pedir ajuda, mas lembrar que sairia daquela casa sem ter a quem retornar fez o nó em minha garganta subir. Queria ver meus pais, mas não havia como eles voltarem por mim.

Senti a mão de Jimin segurar meu queixo e trinquei o maxilar achando que tentaria me alimentar novamente, mas o homem estava segurando meu rosto para secar as lágrimas que começaram a se formar. Seu polegar que eu mordi estava enfaixado e ele suspirou fundo ao notar que eu encarava o band-aid. Encostei a cabeça no piso, deixando transparecer meu medo e minha tristeza, fechando os olhos e tentando conter os soluços.

 

Jimin desamarrou meus pés e cortou a fita em minhas mãos, pegando-me pelo pulso e tentando me levar para outro cômodo enquanto eu gritava. Eu sabia os tipos de coisa que aguardavam garotas que ficavam sozinhas com homens estranhos, eu não queria aquilo em hipótese alguma, preferia que ele quebrasse meu pescoço ali mesmo.

O loiro me arrastou à força até o banheiro e jogou-me lá dentro batendo a porta após. Levantei do chão de azulejos brancos com pressa e fechei a trava da porta, procurando algo útil no armário, mas haviam apenas sabonetes, rolos de papel higiênico e cosméticos, nem uma mísera lâmina de barbear ou qualquer coisa pontuda. O armário acima da pia continha tubos de pasta de dente, espuma em spray para barbear, mas ainda nenhuma lâmina.

Encontrei também frascos laranjas vazios, não possuíam rótulo, lembravam os remédios que mamãe tomava para dormir às vezes.

Quase caí da pia, onde havia subido para mexer no armário alto, quando ouvi a maçaneta da porta ser girada e forçada.

— Você trancou, é sério? — perguntou forçando a porta com mais força. — Abre logo isso, eu só quero te entregar as roupas — disse batendo na porta, afastei-me sentando no chão, a janela no topo do box era alta e estreita demais para sequer minha cabeça passar, não havia saída no banheiro.

Após alguns empurrões, Jimin conseguiu fazer a tranca da porta ceder, olhando-me sentada no chão de azulejos com uma feição não muito amigável. O homem jogou uma toalha e algumas roupas minhas ao meu lado, dizendo que eu deveria tomar um banho sozinha antes que ele mesmo viesse o fazer por mim. Tentei sair de fininho do banheiro depois de algum tempo de silêncio, achando que Jimin estaria em outra parte da casa, mas ele estava parado ao lado da porta aguardando que eu saísse e me segurou quando tentei correr.

 

Respirei fundo olhando as roupas que Jimin me entregou, eram do meu guarda roupa, ele devia ter voltado para pegar ou já tinha algumas guardas. Andava notando que algumas roupas minhas estavam sumindo, mas achava que estavam para lavar ou havia esquecido na casa de alguma amiga e pensar que se Jimin fosse a causa disso, significaria que estava fazendo havia já algum tempo me fez começar a ficar mais assustada, então evitei continuar focada naquilo.

Tomei um banho quente, lavando bem meu rosto, estava com os olhos e o nariz ardendo de tanto chorar. Sequei-me e vesti as roupas que Jimin me deu, mas permaneci no cômodo até ouvisse Jimin reclamar ao lado de fora pela demora.

 

Não importava o quanto eu gritasse e chorasse por socorro, a casa era afastada e não possuía vizinhos próximos, apenas Jimin estava ouvindo meus gritos e ele se irritou com isso rapidamente. Acabou me calando novamente, dessa vez com um pano amarrado em minha cabeça, entre meus dentes, mas assim eu ainda conseguia resmungar.

 

Um carro buzinou enquanto Jimin me amarrava na cabeceira de uma cama no andar acima, olhando-me chorar trêmula e tentando pedir que ele, por favor, não me machucasse.

— Eu não vou te tocar — disse checando se o nó estava perfeito, eu não conseguiria andar mais que quatro passos para longe da cama e minhas mãos estavam novamente presas. — Vou te deixar ficar solta se for uma boa garota, mas até lá, você irá continuar assim — diz se levando e reclamando um "— Já vai!" ao ouvir a buzina novamente.

 

Eu ouvi Jimin receber os peritos na sala que era no andar baixo, falando sobre meus pais como se fosse surpreendente ouvi-los descrevendo como encontraram o local, como se ele mesmo nunca tivesse estado lá e feito tudo aquilo. Não suspeitariam de Jimin, ele examina mortos e não "faz" mortos, para aquelas pessoas deveria ser loucura pensar que Jimin fosse capaz de matar, vivendo assim tão rodeado de morte e sendo uma das chaves mais importante em todas as investigações que envolviam vítimas fatais.

Não conseguia fazer muita coisa, mas ainda assim tentei, mesmo eu pulando no piso de madeira e tentando chamar atenção, não parecia ser barulho suficiente. Eu não conseguia chegar na decoração para derrubá-la e nem gritar com a língua e mandíbula presas pelo tecido apertado e o som abafado pelo pano.

Joguei-me de rosto na cama, fitando a parede de um tom azul pastel do quarto em que Jimin me trancou, eles foram embora alguns minutos depois e sequer me ouviram. Eu estava pedindo por socorro desesperadamente e ninguém ouviu, a polícia estava procurando em lugares da cidade inteira, mas jamais procurariam onde eu de fato estava presa. Estava assustada, desesperada e agora frustrada, sem esperanças.

 

Jimin abriu a porta do quarto após algum tempo, estava já trajando um avental e luvas de látex, com a máscara cirúrgica no pescoço e roupas de manga longa. Ele andou até mim, desamarrando meu tornozelo da cama e segurando-me pelo nó que prendia minhas mãos juntas para garantir que eu não saísse de perto de si.

Descemos o elevador novamente para aquele local frio com cheiro de hospital e químicos fortes, fitei Jimin por um segundo sem entender o que ele queria me mantendo viva, se ele iria me matar no cômodo para poupar o tempo de me carregar ou se me congelaria viva, já que assegurou que não me torturaria com aquelas coisas quando me viu assustada com os bisturis e alicates de tamanhos diversos.

Àquela altura, morrer não me parecia uma má opção, eu provavelmente não seria mais livre com vida e não queria viver presa com um maníaco até morrer de inanição por me negar a comer.

Assim que Jimin empurrou as portas duplas do local, meu coração acelerou e minha respiração descompassou ao ver os corpos com etiquetas iguais presas no dedão, Jimin conteve meu recuo segurando-me pelos ombros e permaneceu me empurrando até próxima das macas onde estavam ambos os corpos de meu pai e mãe.

— Não tenho tanto o que fazer hoje... Quer ser minha ajudante? — perguntou me largando para ir olhar seus feitos de perto, caí de joelhos no chão, sentindo meu peito retorcer, respirando rápido demais para filtrar oxigênio do ar, meu estômago embrulhou e eu vomitei a última refeição que havia comido com meus pais antes de eles me colocarem para dormir, empurrando meu corpo com os pés até bater as costas num armário de gavetas onde guardavam os corpos. — Você só está me dando trabalho... — reclamou olhando o vômito no chão e eu me contorcendo em agonia no canto do cômodo frio, engasgando em meu próprio choro e respirando com dificuldade.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui.


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