História The new girl - Bardo

"You've been huntin' round for treasure

Find it all in the simple pleasures

I don't understand this life you lead

Tryna be somebody else and"-Jake Bugg, Simple Pleasures.

Hayley Evans Moore P.O.V

Isaac me balançou de um lado para o outro, enquanto eu ainda estava de olhos fechados, tentando voltar a dormir. Mas era quase impossível, ele era um péssimo despertador.

-Já to acordada, já to acordada.-Gritei levantando as mãos em defesa, pude ouvir a risada de Isaac, mas eu não consegui ver nada, alem de alguns borrões. Já que minha visão não era das melhores, e ainda mais, era pessima de manhã. O empurrei para fora do quarto, ainda tentando me acostumar á luz do sol que invadia meu campo de visão. Desejei mil vezes, ainda ter tempo para dormir mais, ou dormir por mais quatro dias. E isso ainda parece pouco para mim. Me vesti calmamente, colocando os malditos óculos. 

-Bela adormecida.-Adam gritou assim que me viu, me fazendo pular de susto. Revirei meus olhos me sentando ao seu lado, ele tinha uma alegria matinal que me irritava tanto. 

-Nem vem.-Resmunguei levando a torrada até a boca, Isaac riu me entregando o suco de laranja. Aceitei, dando um longo gole da bebida estupidamente gelada. 

-Parece que alguém acordou de mau humor hoje.-Isaac comentou rindo, com o canto da boca sujo de geleia de morango. Revirei meus olhos, novamente, limpando os farelos que caiam dentro da minha blusa.

-Hoje? Ela acorda assim sempre.-Adam retrucou, eles fizeram um toque e voltara a comer, risonhos.

-Vocês são tão chatos.-Falei me espreguiçando, e logo depois bocejando. Eu poderia dormir aqui mesmo, no balcão, de tão cansada que eu estou me sentindo. 

-Você nos ama.-Eles falaram juntos, revirei os olhos, serio eu tenho que parar, revirar os olhos é quase como respirar para mim, é automático. Eles são tão irritantes, queria bater a cabeça deles contra a mesa para assim poder tomar meu café em paz. 

-Estão redondamente enganados, e por falar em redondamente, espero que esteja usando camisinha, porque eu não vou aguentar choro de bebe algum.-Resmunguei em bom som, fazendo Adam esbugalhar os olhos.-Ninguém é surdo nessa casa, e por favor, escolham outro lugar para tentar povoar o mundo.

-Do jeito que eles estão tentando, não vai ser difícil.-Isaac comentou rindo, me fazendo dar uma pequena gargalhada.

-Vocês são tão chatos. Enfim, sim eu estou usando camisinha, e não, não estou tentando povoar a terra. E por segundo, tentem não falar disso logo de manhã e terceiro nenhum dos dois é santo. Muito menos você, Hayley.-Adam disse apontando seu dedo, ligeiramente fino e longo em nossas caras.-Dean está ai para provar.

-Você acha que é só o Dean.-Isaac ironizou, soltando uma risada gostosa em seguida, me fazendo bufar.

-Será que da pra parar?-Perguntei e eles negaram, com sorrisos de escarnio brincando em seus lábios. 

Desci da bancada, indo em direção a escada, mas assim que cheguei ao ultimo degrau uma dor invadiu minha cabeça.  Não era uma visão, estava mais para um zumbido irritante, assim que me virei indo em direção ao quarto, algo me impediu. Passos pesados vieram até mim, homens de vestimenta preta e mascaras douradas, envoltos por uma substancia gasosa, dei um passo para trás mas no momento seguinte eles haviam sumido. 

-Hey, está tudo bem?-A voz de Isaac me fez virar a cabeça, ainda assustada.

-Uhum. 

Segui para o meu quarto, ainda com as pernas bambas por causa do susto. Não era todo dia que você recebe uma visita dessas em casa, ou não recebe, será que eu tambem estou vendo coisas?  
Abracei meus braços em frente ao espelho, ainda com a mesma expressão de espanto, mas ela suavizou aos poucos. Apertei a bolsa contra a mão, praguejando de dor, assim que vi o sangue escorrer de minhas mãos. Tenho tendo problemas com isso ultimamente, as garras crescem do nada, e ainda não consigo controlar realmente a minha transformação. 

Meus braços se moviam automaticamente, já estava acostumada a fazer o mesmo caminho, eu tinha que sair mais. Isaac ainda me olhava como quem sabia que eu estava escondendo algo, mas eu não o olhei em momento algum, senti sua mão sobre a minha fazendo o aperto relaxar.

-Acho que o volante fez algo muito sério para merecer esse maltrato.-Ele constatou passando o dedo pelos pequenos arranhões que haviam ali.- Esta tudo bem?

-Esta, eu só estou exausta de tudo. Duas semanas depois, e eu ainda não consigo relaxar.- Respondi suspirando, fazendo a curva do estacionamento.-Eu me deito toda noite, esperando que alguém apareça pra me estrangular e cortar minha gargante e depois rezar para os antigos carvalhos.

-Você sabe que isso não vai acontecer.-Isaac falou em tom baixo assim como o meu, Adam ainda não sabia de nada, e se depender de minha mãe nunca saberia.

-Eu sei, mas ainda tem algo la dentro que prediz perigo.

-Sexto sentido de bruxa é fogo.-Ele brincou assim que Adam saiu do carro rapidamente, abraçando Tara por trás.-Hibrida perdão.

-Realmente, eu não sei se é só medo ou se estou ficando maluca. Eu vi coisas hoje, e eu não tenho certeza se era real ou não.-Respondi olhando em seus olhos, passaram a ser preocupados. Contei exatamente o que vi, desde o zumbido estranho até os caras estranhos. Isaac me olhou ainda com a preocupação estampada nos olhos, mas ele não sabia o que dizer, nem o que fazer.

As aulas foram normais, ou seja, chatas e entendiantes. Nos reunimos em uma mesa no jardim, já que Isaac tinha contado a eles. Abri o livro numa pagina aleatória, fingindo ler para não ter que encarar os olhares deles. 

-O que acontece quando alguém tem a experiencia de quase morte e volta vendo coisas? Ou quando alguém é sensitiva/bruxa/loba vê caras de roupas pretas e mascaras?

-É bem mais fácil dizer hibrida, não soa como se eu fosse uma aberração ambulante.-Comentei ainda fingindo ler o capitulo de biologia. 

-E é incapaz de dizer o que é real e o que não é?-Stiles completou, apreensivo e nervoso.

-E tem visões demoníacas de um parente morto?

-Os três estão loucos.-Isaac disse simples, atraindo olhares repreensivos.

-Como assim os três? São quatro pessoas vendo coisas.-Lydia comentou confusa, e Isaac pigarreou.

-Ele não quer dizer que Hayley está louca, porque sabe do gênio difícil dela.-Stiles respondeu cansado da ladainha, me fazendo o olhar brava.-Alias, pode pelo menos tentar ser útil?

-Eu passei minha infância inteira trancada dentro de um freezer, ser útil é uma coisa nova para mim.-Isaac retrucou seco, fazendo meu coração bombear descompassado, ele odiava minha pena, mas era quase impossível não sentir.

-Ainda usa essa história?

-É, talvez.

Revirei meus olhos, bufando, Stiles e Isaac só sabem brigar, é a unica coisa que eles fazem de melhor. Ouvi passos se aproximando e logo ergui a cabeça, vendo Kira parada em nossa frente.

-Oi, desculpem, mas não pude deixar de ouvir a conversa de vocês. E eu acho que talvez, eu saiba que do que estão falando.-Ela falou torcendo a mão uma na outra, nervosamente.- Há uma palava tibetana para isso, chama-se bardo.

-Ela quer dizer que estamos malucos.-Falei irônica, passando a língua entre os dentes sorrindo debochada.

-Significa literalmente "estado intermediário". O estado entre a vida e a morte.-Ela continuou, intercalando o olhar entre nós.

-E como é que você se chama?-Lydia perguntou daquele jeito que espanta todos os novatos, fiquei chocada por ela não arrasta-la e e dizer que amou a jaqueta dela ou qualquer coisa. Abri o caderno, desenhando símbolos que vieram em minha mente.

-Kira.-Scott respondeu prontamente, e pude perceber as cabeças se virando em sua direção.

-Yukimura.-Completei ainda concentrada em seja la o que minha mão esteja rabiscando.

-Esta na nossa sala de história.-Scott respondeu envergonhado.

-Está falando de Bardo no budismo tibetano ou indiano?-Lydia perguntou ainda com um pé atrás.

-Os dois, eu acho.-Kira respondeu se sentando ao lado de Stiles.-Mas tudo o que estavam falando, tudo isso acontece no bardo. Há diferentes estados progressivos em que pode ter alucinações ou em que pode ouvir coisas, e em que podem ser visitadas por divindades serenas ou raivosas.

-Com raivosas, você quer dizer demônios?-Perguntei levando meu lápis a boca, e ela assentiu sorrindo levemente.

-Exatamente, Hayley.

-Demônios, por que não?-Stiles perguntou irônico, me fazendo rir.

-Se existem diferentes estados progressivos, qual é o ultimo?-Allison perguntou curiosa, progressão, você morre, é assim que acontece.

-A descida direto para o inferno, ou seja, a morte.-Respondi por Kira que assentiu, eu sabia um pouco sobre Bardo, porque meu irmão teve que fazer um trabalho sobre isso no nono ano e eu o ajudei.

-É, você morre.-Kira reforçou simples, dando de ombros.

Nós nos entreolhamos, preocupados, e nervosos. É claro, estávamos indo direto para o ultimo beijo da morte. Assim que Kira saiu, Lydia puxou rapidamente meu caderno, o olhando confusa.

-Eu não sabia que você falava japonês.-Ela comentou, a olhei confusa e negando com a cabeça.

-Nem eu, deve ser porque eu não falo.-Respondi, jogando meus cabelos para o lado, ela mostrou o caderno com o simbolo: 鬼, estampados em todas as folhas brancas do caderno.

-Então, você escreve.-Ela respondeu folheando o caderno, eles me olharam como se perguntassem o que significava, mas eu não fazia ideia do que aquela merda significava.

-Eu já vi isso antes... A Lydia desenhava arvores, e estava relacionada ao nemeton. Talvez, signifique Bardo ou algo do tipo.-Stiles comentou dando de ombros.

-Mas eu não sou uma banshee, e se alguém chegar e dizer: Sim, você é mais uma criatura sobrenatural. Eu juro que esfolo a cabeça dele no chão dessa escola.-Respondi pegando meu caderno, e voltando para dentro da escola. 

Deve ser mais alguma coisa boba, que eu vi por ai e ficou na mente. Pensei jogando o caderno dentro do armário, o fechando, tentando esquecer qualquer simbolo japonês estranho, que eu desenhei enquanto eu estava distraída.