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História The new Robin Hood - Fim


Escrita por: Syre

Notas do Autor


Desde já peço perdão caso tenha algum erro de português. Eu revisei uma vez, mas o capitulo é muito grande e eu posso ter deixado algum erro passar. Além de que eu escrevo os capítulos no celular e provavelmente o corretor trocou alguma palavra.

Enfim, boa leitura. Sejam bem-vindos ao capítulo final.

Capítulo 22 - Fim


Hoje é meu aniversário, véspera de natal. Geralmente as pessoas ficam animadas para o dia de seus aniversários, mas o meu caia em uma péssima data e eu nunca gostei de comemorar o aniversário antes ou dias depois. Mas quando você amadurece, é só mais um dia comum.

Inclinada sobre os cotovelos, eu observo Justin dormindo com um sorriso no rosto. Empurro seus cabelos para longe da testa, seu rostinho amassado, ele parece um anjinho dormindo. O peito exposto subindo e descendo lentamente. Eu toco a tatuagem que mais e me inclino para beijar sua bochecha, feliz. Feliz apenas por ter mais um dia tranquilo na terra. Do lado de fora deveria estar congelando, então aproveitei bem o meu banho quente e relaxante.

Toco meu bebê, se exibindo cada vez mais. Crescendo e ficando forte. Daqui a alguns meses ele poderá ver o mundo e eu espero que ele possa ver a beleza. A beleza que vejo mesmo nos momentos difíceis.

Eu tenho os melhores amigos, irmãos e namorado do mundo. Tenho um bom emprego. Posso comer a melhor pizza da cidade, pois ela fica ao lado do nosso apartamento. E uma vez dancei no topo de um prédio, sem temer a imensa cidade abaixo. Estou viva por mais um dia e pretendo aproveitar cada segundo da vida antes que seja tarde demais.

Sorrio, enquanto escovo os dentes, me vendo no espelho. Minha aparência está melhor do que nunca. Justin me ofereceu seus braços para que eu pudesse dormir em paz, sem pesadelos ou culpa. Apenas sonhos sobre o futuro. Sei que tudo pode ficar bem, mesmo que tenha uma grande sombra rancorosa lá fora - eu também posso chamá-la de irmão.

Tudo o que eu temo é em relação a ele. Não quero que ele machuque o bebê. Mas hoje, não irei me preocupar com ele. Irei ter um bom dia.

Faço uma trança embutida na lateral de meu cabelo molhado e faço uma maquiagem básica, querendo me sentir mais bonita hoje.

Até que eu ouço vozes:

— Ela deve estar cagando. — Ouço alguém sussurrar e seguro o riso.

— Cala a boca, tampinha. — Uma voz feminina diz.

Eu abro a porta, me deparando com Justin segurando um bolo. Formiga, Alexis, Aidan, Tess e Thomas. Andrew provavelmente não pode vir pois está trabalhando no outro lado do pais.

— Surpresa! — Eles gritam em um coro. 

Abro um imenso sorriso, cobrindo a boca com as mãos. As velas queimam e Justin entrega o bolo para mim.

— Como eu não fiquei sabendo de nada? — Pergunto surpresa.

— Porque era uma festa surpresa. — Aidan diz como se fosse óbvio.

Justin me pega pelos ombros e me empurra até a cozinha, indicando para que eu coloque o bolo na mesa. Quando eu o faço ele me puxa para um abraço, olhando em meus olhos com um sorriso antes de me beijar.

— Feliz aniversário, Ivy.

— Você é o melhor, amor. — Sorrio, encostando minha testa na sua.

— Abraço coletivo! — Thomas grita.

Formiga pula nas costas de Justin, me abraçando. E todos correm para nos abraçar. E eu não consigo parar de sorrir. Essa é o melhor aniversário que já tive. Sempre soube que tinha amigos, mas quando você é surpreendida com algo assim, enche seu coração de amor. É maravilhoso quando as pessoas que te amam se juntam para fazer algo especial para você. E eu sou eternamente grata por isso.

— Muito obrigada! Eu amo vocês. — Digo com um sorriso, tentando abraçar todos.

— Agora é a horas dos presentes. — Tess anuncia, estendendo uma caixinha com estampa de coração para mim. Eu pego para guardar, mas ela revira os olhos. — Abre agora, amiga.

— Tudo bem. — Eu abro a caixa, puxando um lingerie linda. É preta com rendas. Peças rendadas são as mais lindas do mundo, deixa qualquer mulher desejando sair por aí com calcinha, sutiã e mais nada. Tess sorri quando vê que eu gostei. — Eu amei! Obrigada.

— Mal posso esperar para ver você usando isso. — Justin assovia, sorrindo malicioso. Eu pisco para ele, que me agarra pela cintura e me beija.

Eu também. — Thomas diz, rindo. Todos se viram para olhar em sua direção. Alexis dá um tapa estalado em sua cabeça e Justin franze a testa. Thomas ergue as mãos. — Eu estava apenas brincando, Lexi.

— Legal. Agora sai todo mundo da frente, porque o melhor presente está passando. Spoiler: não é sem graça e sem criatividade, igual calcinha e sutiã. — Formiga empurra todos com o ombro. E Tess explode de raiva por dentro. Até que ela se derrete igual a mim quando vejo um minúsculo cachorro em sua mão. Ele é branco com pintas marrons e orelhinha marrom, o mesmo que eu vi em seu apartamento. — Parabéns, maluquinha. Você é parte da família agora.

— Eu estou surtando por dentro agora. Você é maravilhoso!

Formiga me abraça desajeitado e o cãozinho lambe minha bochecha. Eu pego o pequeno e seus olhos amigáveis me encaram. Sorrio, fazendo carinho atrás de sua orelha e ele fecha os olhos, aproveitando.

— Qual é o seu nome, fofura? — Pergunto com uma voz fininha.

— Tapete. — Justin diz se acabando de rir em seu canto. Formiga manda ele ir se foder.

— Não é o melhor dos nomes, acho que você precisa de um novo. Alguma sugestão? — Pergunto a todos.

— Tattoo, você sempre quis ter um gato chamado Tattoo. E é um nome fofo. — Aidan diz e todos concordam.

— Seja bem-vindo, Tattoo. — Beijo seu pelo cheiroso. Ele pede para descer e eu coloco ele no chão, ele sai correndo pelo apartamento.

Abraço um por um, sorrio com seus carinhos e a lembrancinha que cada um me trouxe. Alexis e Formiga dizem que estão morrendo de fome, então nós decidimos cantar logo parabéns para poder cortar o bolo. E eu sinto falta de Sam aqui, mesmo que não sejamos melhores amigos. Ele não fala muito.

Agradeço por ter tantas pessoas que gostam de mim, enquanto eles vibram cantando os parabéns. Justin permanece com um imenso e lindo sorriso no rosto e eu estou muito certa de que fiz a escolha certa. Ele planejou isso, um momento especial que nunca irei esquecer.

Quando o bolo é cortado, meus amigos vão indo embora pois é cedo e a maioria deles vai voltar mais tarde. Me despeço de todos eles, agradecendo repetidamente pela surpresa.

Tess e Alexis dizem que vão me esperar na garagem para que nós possamos comprar os enfeites e presentes de natal.

Justin está lavando a louça e eu o puxo para um abraço.

— Muito obrigada por isso. — Eu olho em seus olhos calmos.

— Você merece o melhor, Ivy. 

— Já que você diz. Nós temos vinte minutos livre antes que as minhas amigas surtem e decidam ir embora. — Digo com um sorriso sugestivo nos lábios. Eu caminho para atrás, encostando na bancada. Eu subo e o puxo pela camiseta, seu corpo grande e forte se choca contra o meu. Ele sorri, beijando meu pescoço.

— Eu queria, baby. Mas é melhor você descer. — Ele se afasta, resistindo. Passo as pernas em torno de sua cintura e o puxo para mais perto novamente.

— O tempo está passando, isso significa que temos um minuto a menos. Então é melhor ser rápido. — Eu seguro seu rosto, enquanto digo baixo e lentamente para que eu compreenda.

— Foda-se. Elas que esperem. — Ele leva minha mão até seu cinto e pressiona seu corpo contra o meu. Tenho certeza de que estou sorrindo como uma completa idiota, mas o que eu poderia fazer se o meu melhor presente de aniversário estava prestes a ser recebido?

— Eu preciso de você. — Sussurro, me deixando ser vulnerável nas mãos deles. 

Suas mãos grandes pressionam a minha cintura e seus dedos cravam minha pele. Agarro ele pela nuca e o puxo para me beijar, seus lábios carnudos se chocam contra os meus com vontade. Minhas mãos correm pela extensão de seu cinto, o removendo e jogando no chão. Justin pega meu corpo com firmeza, com uma das mãos ainda me segurando, ele derruba as coisas que estão sobre o balcão com a outra e me senta sobre. Eu deito meu corpo o balcão e ele para o beijo para ver meu rosto. Ele me dá aquele sorriso típico de um campeão.

— Eu amo seu corpo. Deixe me livrar de toda essa merda, você fica melhor sem. — Seus dedos queimam minha pele toda vez que os dois entram em contato. Ele se desfaz do meu moletom jogando na outra parte livre do balcão e o restante das peças também. Enquanto ele está ocupado, eu admiro cada mínimo detalhe de seu rosto angelical. Me ergo sobre os cotovelos para alcançar sua pele e beijar seu pescoço. Ele pressiona os dedos contra a minha bunda, mordendo os lábios para abafar um suspiro enquanto eu sugo sua pele. Eu quero correr meus olhos por todo seu corpo nu, inclusive seu peitoral com tatuagens e suas costas que eram minha parte favorita do seu corpo, mas eu sabia que não tínhamos tanto tempo. Pensar que alguém poderia abrir a porta a qualquer minuto era assustador e ao mesmo tempo excitante e perigoso. Misturado com as coisas que ele estava prestes a me fazer sentir, esse era o melhor presente que eu poderia ganhar.

Justin para todos seus movimentos para admirar meu corpo nu. Ele passa a língua sobre os lábios e o morde. Uma gota de suor escorrendo por sua testa.

— Nunca irei me acostumar com a maneira que você me olha.

— Eu fico fascinado por seu corpo. Por você. Porra, você é muito gostosa. Você foi feita para mim, não pode ser só destino. — Na minha frente está o único homem que pode ser sexy e fofo ao mesmo tempo.

Meu corpo está queimando, enquanto ele se desfaz da sua cueca. Ele me puxa para a beira do balcão e entrelaça os nossos dedos, um ato simples mais com tanto significado.

Aquela pequena sensação de Déjà vu quando Justin impulsiona seu corpo contra o meu sem piedade, me dando tudo o que desejo.

Ele sabia muito bem como me agradar. Para ele não era uma simples rapidinha, no meio da cozinha. Ele era capaz de tornar algo tão sem significado em um sexo incrível capaz de entrar para o meu ranking de melhor sexo - se eu tivesse um. Ele sabia exatamente como me dar prazer e ao mesmo tempo me amar. Tornando os poucos segundos especiais, deixando rastros de beijos em minha barriga, seios, ombro, pescoço e maxilar até chegar aos meus lábios.

O eco de nossos corpos suados de chocando contra o balcão preenchia o silêncio do apartamento. Minhas unhas se cravam em suas costas a cada estocada forte e rápida que me levava a plena loucura. Mal conseguindo manter meus olhos abertos de tanto revirá-los.

— Eu estou literalmente te comendo no café da manhã. — Justin diz, não desacelerando seus movimentos. Cruzo as penas ao redor de sua cintura, obrigando-o a não parar aquilo. Justin aperta meus seios e morde meus lábios.

Ele me levava em outra dimensão e sabia disso tão bem. Meu celular toca dentro da bolsa, eu sei que são elas, mas não quero parar. Não tem como parar.

O corpo quente dele contra o meu, sentindo-o por inteiro. Suas gotas de suor caem sobre meu corpo, minhas pernas não param de se comprimir contra seu corpo. Desejando o máximo contato. Tento controlar meus gemidos e Justin me ajuda, colocando seus lábios aos meus. Os gemidos roucos deles contribuem para bloquear qualquer pensamento coerente meu.

— Apertada. — As unhas pequena de Justin cravaram em minha bunda. Minha vista um pouco embaçada enxergou algo novo em seu braço, eu estava delirando ou aquilo era um 'BENZ'?

Mordi com força os lábios, mas não fui capaz de conter um último gemido. As minhas pernas em torno de Justin perderam a força e o aperto se afrouxou. Minhas mãos escorregaram de suas costas, enquanto eu mal conseguia respirar. O choque do nosso amor se espalhou por cada centímetro do meu corpo. Meus olhos se fecharam, cansados, enquanto eu tentava normalizar a respiração.

— Caralho. — Justin suspirou e deu um último impulso, apertando minha bunda. Ele saiu de dentro de mim, se jogando ao meu lado. A respiração igualmente acelerada.

— Incrível. — Sussurrei cansada. Justin ainda tinha as suas mãos entrelaçadas na minha, ele apertou a minha mão e sorriu.

— TIC. TAC. Seu tempo acabou. — Justin anunciou quando o celular começou a tocar novamente.

Me levantei ainda fraca, para vestir as minhas peças de roupa. Justin levou a mão para a cabeça enquanto assistia eu me vestindo.

Enviei uma mensagem para meninas, dizendo que já estava no elevador. E me aproximei de Justin, puxando seu braço. Sim. Estava lá. Um pouco vermelho, mas mesmo assim tatuado. Marcado em sua pele. Benz. Nós.

— Que porra é essa? — Perguntei abismada. Justin sorri, passando o dedo pela tatuagem.

— Gostou?

— Eu... Sim, mas você sabe que vai ficar no seu braço para a vida toda, né?

— Tenha mais fé no nosso amor. Essa tatuagem vai além do nosso relacionamento, é sobre a história que vivemos juntos. Quero levar ela para vida toda.

— Eu estou completamente sem palavras, irei ficar aqui o dia todo sorrindo e não vou saber o que dizer.

— Diga que me ama.

— Eu te amo, baby. — Justin finge que morreu e eu dou um beijinho nele para ele voltar a vida.

— Vá encontrar com as suas amigas, nos vemos mais tarde. — Ele aperta minha mão. Beijo seus lábios me despedindo, quando chego na porta ele grita. — E... Não se esqueça que eu te amo mais!

— Você sabe que eu te amo mais! — Grito, sorrindo como uma adolescência. Um sorriso que ninguém seria capaz de tirar.

(...)

Analiso um lindo moletom listrado, pensando se esse seria um bom presente de natal para Justin. As garotas, Alexis e Tess, estavam procurando presente para si mesmas. Alexis, era a ex namorada de Thomas que ele vinha correndo atrás desde que cheguei aqui. E agora tinha se tornado oficialmente sua namorada novamente.

Alexis é bonita, muito. Seu corpo é coberto por tatuagens e meu sonho é adicionar pelo menos mais duas a minha conta. Seu cabelo loiro é longo e repicado. E ela tem aquele olhar sexy que deixa qualquer homem caidinho.

— O que você acha que eu devo dar para o seu irmão? — Tess pergunta, se aproximando. Alexis vem atrás.

— Ele vem? — Ele não me contou nada sobre isso. Mas eu estou feliz. Apesar de meu coração está um pouco apertado por ele. Faltam menos de duas semanas para Tess se casar e ela ainda não desistiu. Se ela se casar, sei que Andrew vai ficar arrasado.

— Sim! Ele pretendia virar o natal trabalhando, eu tive de convencê-lo. — Ela ergue o sapato e a camiseta. — Qual desses?

— Boné. Ele tem uma coleção. — Ela sorri, correndo para ir buscar um.

Alexis se encosta em um manequim, cruzando os braços enquanto vê Tess se afastar. Ela ergue as sobrancelhas para mim, franzindo o nariz e eu já sei que ela não vai guardar nada para si mais uma vez. Alexis é como uma versão feminina de Formiga, com menos humor e mais alta. Ela é sincera o tempo todo e se você não gosta disso, é melhor não ser amiga dela. Mas eu gosto desse seu jeito, mesmo que seja um incômodo para boa parte da população. As pessoas não gostam de receber a verdade, elas veem isso como grosseria.

— Você não acha que ela está indo longe demais com isso? Iludindo e mesmo assim indo em direção ao altar? É uma atitude bem babaca.

— Espero que ela saiba o que está fazendo. Sei que não é fácil para ela decidir com quem deve ficar. — Ergo o moletom listrado e uma camiseta camuflada. — O que você acha?

— Acho que você deveria comprar os dois e colocar na conta dele. — Lexi dá de ombros, se afastando.

Fico parada rindo. Talvez eu deveria mesmo fazer isso.

(...)

Tess está na cozinha preparando a nossa ceia e Alexis está fazendo a arrumação da árvore de natal. E eu? Estou deitada preguiçosamente nos braços do meu namorado. Justin abraça meu corpo, afundado o nariz em meus cabelos para sentir o cheiro do meu shampoo de chocolate que ele tanto gosta.

— Eu te amo. — Ele sussurra em meu ouvido.

Justin tinha sido legal ao aceitar que a nossa noite de natal fosse aqui. O noivo de Tess iria viajar para passar o natal com a família e ela não quis ir, então ela ia passar a data conosco. E Thomas não iria passar o natal com Ellie, pois ela voltou com Aaron e seus pais estavam em Roma. A família de Alexis não liga para essa data pois não são cristãos, então cada um vai para o seu canto e comemora como quiser. Resumindo, todos tinham um motivo que os trouxeram para o nosso Natal entre amigos. E o meu era o simples fato de querer passar a data com pessoas que amo com todo meu coração.

— Eu te amo mais. — Beijo sua bochecha.

— Não, eu te amo desde que você torceu meu braço do lado de fora do seu antigo apartamento. — Justin entrelaça os nossos dedos. Eu olho para ele, o desafiando.

— Eu te amo desde que você me mandou um e-mail com meu nome escrito errado. — Digo exagerando. Justin começa a rir.

— Eu nunca escrevi seu nome errado, mentirosa! — Ele diz na defensiva, apertando meu nariz.

— Só uma vez, mas eu deixo passar porque eu te amo. — Justin beija meus lábios, enfiando seus dedos por entre os meus cabelos.

— Eu vou vomitar. — Alexis se queixa, jogando uma almofada na nossa cabeça. Nós não nos separamos. — Eu definitivamente vou vomitar.

Justin aperta minha cintura, dando alguns selinhos para terminar nosso beijo.

— No banheiro, por favor. — Justin grita enquanto ergue o dedo do meio em sua direção. Eu dou risadas da cara que Alexis faz, devolvendo o gesto de Justin.

Acho a relação deles engraçada, são como gato e rato. Mas sei que bem no fundo eles gostam um do outro.

— Já descansamos demais. Hora de por a mão na massa. — Me levanto, puxando Justin. Ele abraça meu corpo, dando vários beijinhos na minha cabeça.

— Irei buscar as bebidas, boa sorte com essa aí. — Justin saí, balançando as mãos na direção de Alexis.

— Idiota... — Alexis resmunga, enquanto coloca as bolinhas na árvore de natal.

Bocejo e estalo as costas, me preparando.

— Nós vamos ter o melhor natal do mundo. — Anúncio.

— É disso que estou falando! — Tess grita da cozinha. E eu dou risada, pegando alguns enfeites na bolsa para colocar na sala.

Justin Bieber

Formiga joga as bebidas no carrinho e eu empurro pelo mercado.

— Está debochando de mim, mas você gosta da Tess. Ela é comprometida e está pegando o Andrew. — Formiga zombou do fato de Alyss e eu disputarmos que ama mais o outro, mas é apenas uma brincadeira nossa. Nós temos o direito de sermos melosos e insuportáveis as vezes.

— Eu não 'gosto' dela, isso é coisa de criança, eu estava afim. Passado. — Formiga diz irritado.

— Finalmente superou?

— Estou afim de Alexis agora. Cara, aquela mulher... ela é gostosa para caralho. Ela parece muito com o amor da minha vida.

— Você só fica afim de gente comprometida, cara? Só falta você ficar afim da Alyss. — Brinco.

— Fiquei. Passado.

— Sério?

— Não. Ela não faz meu tipo. Mas Alexis faz. Totalmente. Nunca pensei que acharia algo sexy em uma mulher além do corpo, mas ela consegue derrubar um homem apenas com um olhar. — Formiga suspira, enquanto eu empurro as bebidas para a mulher do caixa.

— Aquele momento em que ela olhou para te chamar de 'tampinha'? Parceiro, acho melhor você desencanar. Thomas é um cara legal. E você merece uma pessoa melhor. — Alexis não é uma pessoa ruim, mas por mais estranho que Formiga seja ele é um cara incrível. Ele merece a melhor pessoa do mundo.

— Você não gosta dela só porque ela é sincerona. Nada que você disser vai mudar o fato de eu estar muito afim dela. — Quando a mulher termina de embalar, Fomiga coloca as bebidas no carinho e nós vamos para o estacionamento.

— Boa sorte. — Não consigo imaginar como deve ser sempre estar afim de alguém que ama outra pessoa. Já foi difícil demais conquistar Alyss mesmo ela estando solteira. Mulheres quando querem, podem ser difíceis para caralho. — Afinal, onde está Sam? Eu convidei ele para a surpresa de Alyss e ele simplesmente ignorou minha mensagem. Eu sinto como se ele estivesse se afastando de nós por algum motivo.

— Ele disse que está trabalhando em um projeto da faculdade. Coisas de CDF. — Formiga usa o folheto do mercado para coçar o rabo e depois joga no chão. As pessoas franzem o nariz para ele e nós dois rimos. — Se você tivesse feito faculdade, o que seria?

— Eu nasci para ser um justiceiro. Nunca pensei nisso. — Digo.

— Eu queria ter me tornado um advogado.

— Tá de brincadeira? Imagina você xingando o juiz. Seria engraçado para caralho se o juiz fosse o merda do meu pai.

— É algo que ele mereceria. Eu sempre quis ajudar as pessoas, sabe? Dar uma forcinha as pessoas boas. E você me proporcionou isso, irmão. Claro, de uma forma mil vezes mais divertida e sangrenta. — Formiga abre o porta malas do carro.

— Nada disso seria possível sem você e Sam. Então obrigado, meu homem. — Paro o que estou fazendo para dar uma tapinha em seu ombro.

— Sou homem de apenas uma pessoa. E essa pessoa se chama Alexis.

— Sou homem de duas pessoas. Da Ivy e seu homem. Vem cá, me dar um beijinho. — Eu brinco, puxando sua bochecha e beijando. E não tem nada que assuste mais Formiga do que um pouco de afeto e carinho. Ele se afasta de mim, horrorizado por eu ter ousado tocar nele.

Sabe aquele momento em que uma sensação anestésica de felicidade cobre seu mundo como uma redoma e nada é capaz de quebrar isso? É esse momento. Esse dia. Tem algo sobre esse dia que torna tudo especial. Não apenas por ser o aniversário de Alyss, mas parece que a minha vida finalmente faz sentindo. Eu não quero outra vida. Não quero outros amigos ou outra paixão. Tudo está perfeito, exatamente onde deveria estar. E isso é a vida. Nós falamos dela como se fosse uma pessoa, mas ela é o invisível. Capaz de derrubar um homem, fazendo os seus dias um inferno. Mas também é capaz de pôr um sorriso estúpido no rosto desse mesmo homem que um dia odiava tudo relacionado a vida. E você pode dizer que vive por si mesmo, mas provavelmente vai estar mentindo. Nós vivemos pelas pessoas que nos cercam. Sem elas, provavelmente iríamos desistir de tantas coisas. Sem elas nada faria tanto sentindo como agora. E a minha vida é feita disso, de pessoa incríveis que me fazem batalhar por um mundo melhor. Por uma linda mulher que abriu meus olhos e me fez acreditar no amor. E esse pequeno e esquisito homem que faria de tudo por mim e eu faria o mesmo, o homem que tem sido minha família. E aquele adolescente, convencido e aborrecido como todo adolescente. A criança que eu peguei no colo. E que agora me ergue caso eu caia. Tão incrível. Essa é a vida.

— Pega no meu pau, seu merda! — Formiga grita e sai correndo pelo estacionamento. E eu fico parado, rindo. Nada é melhor do que uma boa amizade que te faça sorrir.

(...)

A neve cai do lado de fora e os enfeites na calçada cegam cada um que passa. Eu retiro meu casaco e meu cachecol quando adentro o meu apartamento. E abandono a última caixa de cerveja no chão. O calor do aquecedor me abraça. E o cheiro delicioso de comida no forno me faz levitar. Formiga me empurra para o lado e joga sua caixa amassada de presente ao pé da árvore e Tattoo sai pela porta do meu quarto e pula na perna de Formiga, lambendo seu tornozelo. Meu amigo pega o cãozinho e se joga no sofá da sala, brincando com o mesmo.

Nossos amigos também estão jogados no sofá da sala, jogando uno. E hip-hop toca na caixa de som em alto nível, na véspera de natal. A casa está iluminada e bem arrumada. Aqueles enfeites que custam uma fortuna, mas que sem eles o natal não parece o mesmo. Isso me recordar minha infância, quando eu agarrava a borda da saia de minha mãe e ela cozinhava. Ela me chamava de 'pequeno chefe', eu comia alguns pedaços do frango ou do doce e dizia se estava bom. Sempre estava bom. A comida de minha mãe era a melhor para mim. Além de me dar a vida, ela me ensinou a cozinhar. Mas minha comida nunca chegou perto do paraíso que a comida dela levava qualquer um.

Nós não estamos brigados, mas mesmo assim sinto a distância entre nós. Foi causada pela insistência dela de trazer meu pai para perto de mim, mesmo eu insistindo que não o fizesse. O que eu poderia fazer? Ela queria a família de volta, mas isso não iria acontecer.

Eu escrevo uma mensagem para ela, desejando um feliz natal. Rolando pelas milhares mensagens dela que eu ignorei, perguntando como Alyss estava ou sobre quando iriamos nos ver novamente. Guardo o celular no bolso.

Eu permaneço na porta quando Alyss sai do quarto. Prendo a respiração quando ela caminha em direção a sala, ela ainda não me viu. Seu longo vestido toca o chão e ela parece iluminada por um grande holofote em minha mente, enquanto ela caminha lentamente. Seus saltos colidem contra o chão e seus lábios pintados de rosa mostram um grande sorriso para Andrew que faz um coraçãozinho, seus cílios tocam suas bochechas em câmera lenta. Seus olhos brilham com felicidade, diferente do olhar distante de alguns dias atrás. Tudo nela é lindo. Cada mínimo detalhe. Eu poderia passar o resto dia admirando está linda moça, mas mesmo assim iria sentir que deixei algo passar. Hipnotizado pelo jeito que ela se move. Sou obcecado pelo rosto dela, seu corpo, sua voz, o barulho de sua risada. Sou apaixonado pela mulher forte que se esconde atrás de um piscar de olhos tão adorável.

Nunca me senti desse jeito. Eu a amo tanto que por alguns segundos posso sentir a dor do meu coração batendo forte contra o peito. Finalmente posso respirar e parar de esconder um sorriso orgulhoso. Não há mais jogos entre nós. Tudo foi esclarecido. Só resta o nosso amor. O amor que de resto não tem nada. Ele é poderoso. E eu sinto ele correr por minhas veias, mais forte do que nunca. Olho para a minha tatuagem, o Benz ainda cicatrizando. Marcado. Não importa o que aconteça, nada será capaz de apagar a nossa história.

Tess abraça Alyss apertado e minha namorada sorri, retribuindo o abraço da amiga. Seu olhar me encontra e seu sorriso aumenta ainda mais, ela franze a testa e seus lábios batem sem emitir qualquer som. "O que você está fazendo aí parado?" Dou de ombros e seu sorriso adorável aumenta.

O que eu estou fazendo parado? É uma grande pergunta. Sinceramente, eu não sei. Sabe aquela sensação estranha de quando tudo está perfeito demais? Eu sinto ela agora. É quase como se meu corpo sentisse que eu não mereço momentos assim e que a qualquer momento tudo vai desabar. Mas hoje, não quero pensar sobre isso. Eu quero aproveitar.

Thomas me grita para que eu me aproxime, e Alexis revira os olhos em seus braços. Eu tento evitar sorrir. Eu gosto desta garota, ela parece um pouco comigo. Mas não posso deixar que ela saiba, então reviro os olhos também apenas para implicar.

Eu percebo que não apenas Formiga está babando por Alexis, mas Aidan também. Porra, parece que teremos uma disputa acirrada aqui.

Me aproximo de meus amigos e meus olhos coincidentemente assistem Tess passar a mão sobre a barriga de Alyss, que arregala os olhos e diz algo para amiga que leva a mão aos cabelos, bastante sem graça.

Estou imaginando. Mas minha mente trabalha, pensando nas possibilidades disso acontecer. Hoje não. Você sabe que ela não queria.

Abraço Ivy por trás, beijando seu pescoço. Ela sorri, erguendo a cabeça para beijar meus lábios.

— Onde está a bebida? — Tess pergunta, aborrecida.

— Procura no meu bolso. — Rolo os olhos. 

Ela se aproxima e puxa o bolso dos meus jeans para olhar. Eu dou um beijo rápido em sua bochecha.

— Eca! Por que você está todo engraçadinho hoje? — Ela diz esfregando a bochecha. Alyss ri assistindo nós dois, eu não largo seu corpo.

— Troque engraçadinho por fofo. E olha... — Aponto para o sofá e Tess ergue a sobrancelha. — Está vendo essas pessoas lindas sentadas no meu sofá? Eu amo cada uma delas, tirando Alexis. Vou encher vocês de beijo a noite toda, se acostumem!

— Estou apaixonada por este homem. — Alyss diz, beijando minha bochecha. Tess dá de ombros e se afasta, indo para a cozinha.

— Eu tenho algo para você. — Puxo a caixinha do bolso.

— Pensei que a tatuagem já fosse surpresa o suficiente, amor. Eu amei! Não consigo imaginar que isso é de verdade. — Ela pega meu braço e admira os detalhes, passando os dedos sobre. Puxo seu corpo para mais próximo do meu e ergo sua cabeça, querendo olhá-la de perto. Cada mínimo detalhe.

— Posso te ouvir me chamar de amor pelo resto da vida.

— Então você vai ouvir. — Ela se ergue na ponta dos pés para ficar da minha altura e entrelaça os braços no meu pescoço. Ela fecha os olhos quando encosta seu nariz ao meu. Eu abraço sua cintura e também fecho os olhos, sentindo sua respiração tocar minha pele e arrepiar cada pelo do meu corpo. Ela pressiona os lábios sobre o meu, sem força, apenas um simples toque. Mas quando eu sinto seus lábios sobre os meus, quero mais e mais como um viciado. Passo a língua sobre seus lábios e elas os abre, me deixando beijá-la lentamente. Suas mãos brincam com os cabelos curtinhos de minha nuca e eu sorrio durante o beijo. — Nunca se esqueça que você é a melhor coisa que já me aconteceu. O melhor presente que eu poderia ganhar.

— Nem é meu aniversário e eu já ganhei presente? — Pergunto em seu ouvido. Ela sorri, esfregando o rosto no meu. Eu agarro sua bunda.

— Me tendo como namorada, você ganha presente de aniversário todos os dias, amor. Celebrate everyday like a birthday. — Ela cantarola no final.

— Mulher... cantar Miguel no ouvido de um homem, você está querendo me foder? — Miguel é a única coisa que toca no rádio do meu carro. Eu sou capaz de gritar como uma garotinha se um dia eu o ver pessoalmente.

O que você acha? — Alyss morde o lóbulo da minha orelha. E eu aperto mais forte a sua bunda.

— O clima está esquentando aqui. Acho melhor eu te amostrar logo o que comprei, antes que todos presenciem uma cena muito quente. — Digo, resgatando forças de outro mundo para me afastar desta mulher.

Abro a caixinha e Alyss encara o bracelete de forma estranha. É um bracelete de ouro puro, tem um pequeno Ivy marcado. Tive que vender algumas coisas online para conseguir comprar isso. Eu não gosto de ostentar, mas queria dar algo especial para a minha garota e ela merece.

— Está brincando comigo? — Alyss pergunta, olhando bracelete de perto.

— Não gostou? Eu posso trocar... — Pergunto inseguro.

— Eu amei, amor! Meu avô me deu um bracelete exatamente assim antes de falecer e eu perdi quando estava na faculdade. Agora eu vou lembrar das duas pessoas que mais amei na vida quando eu olhar para isso. — Ela se apressa e coloca o bracelete, movimentando o braço e admirando. Sorrio, feliz por ela ter gostado.

— Ei, você nunca me contou a história do seu avô.

— Prometo te contar mais tarde. — Alyss me puxa na direção do pessoal. Ela acena os braços. — Para o jogo. Nós vamos jogar.

— A madame acha que manda no jogo? Espera sentada que depois a vez de vocês chega. — Aidan debocha.

— Aidan você é um irmão chato para caralho. Por isso o Andrew é o meu favorito!

— Espera sua vez e olha a boca. — Andrew diz sem desviar os olhos de suas cartas. Alyss bufa e me puxa para o chão junto com ela. Alyss se encaixa no meio de minhas pernas e eu abraço seu corpo.

— Você só não quer começar o jogo de novo porque está ganhando, mas aposto que se estivesse perdendo seria o primeiro a distribuir as novas cartas. — Alexis joga suas cartas para o lado, aborrecida. Ela tem o jogo inteiro em suas mãos.

— Isso te incomoda? — Aidan se inclina sobre Alexis com um sorriso sugestivo, Alexis aproxima o rosto de Aidan. O clima fica estranho, todos param para observar os dois. Alexis tem um poker face incrível e o sorriso de Aidan só falta sair andando sozinho. Quando seus narizes estão quase se tocando, Alexis exibe o dedo no meio na cara dele. Thomas franze a testa e empurra ele com o pé, sem saber o que acabou de acontecer. Se ele soubesse que mais alguém está afim de sua namorada, coitado...

Eu sou o primeiro a quebrar o silêncio, rindo. Depois todos começam a rir, menos Thomas e Formiga que encaram Aidan como se estivessem prontos para estrangulá-lo. Isso vai dar uma novela mexicana melhor do que a de Tress. Sim, acabei de dar um nome estúpido para Andrew e Tess. O que está acontecendo comigo?

— Isso foi estranho. — Alyss sussurra no meu ouvido.

— Seus irmãos e nossos amigos são muito estranhos. Nós somos os mais normais entre eles.

— Concordo. Onde está Sam? Sinto falta dele. — Alyss pega a minha mão e entrelaça.

— Ele disse que vai chegar um pouco tarde, mas a tempo para o 'show'. — Digo.

— Brooklyn está vindo?

— Ele disse que vai tentar aparecer. Você sabe, jovens são muito ocupados... — Debocho.

— Acho que no próximo ano deveríamos convidar os Anjos da guarda, assim ele iria aparecer. — Ela sugere.

— De acordo. — Sinto um cheiro de queimado. — Parece que a minha cozinha acabou de explodir. Tenho que checar isso.

— Não parece nada bom. — Alyss franze o nariz.

Eu entro na cozinha e o fedor de queimado é horrível e uma fumaça cobre o cômodo. Não vejo Tess, então me preocupo um pouco. Abro o forno e um peru queimado está lá dentro. Cinzas dele, para ser sincero. Procuro por Tess, até ver ela no chão chorando. Chorando. Ela tenta secar as lagrimas quando me vê e eu penso e girar nos calcanhares e fingir que isso nunca aconteceu. Mas não parece certo.

— Está tudo bem?

— Tudo está dando errado na minha vida!

— Não tem problema. Eu posso comprar pizza, eles não vão ligar. — Me finjo de desentendido.

— Não estou falando apenas disso. Faltam duas semanas. E eu ainda não sei o que fazer. Ele não parece magoado, rindo lá na sala. Mas eu sei que ele está. Ele ao menos consegue olhar para mim, porque ele sabe que se eu aceitar não vai ter mais volta para nós. — Ela chora mais.

— Você ama ele? — Vou direto ao ponto.

— Eu amo.

— Você ama seu noivo?

— Eu acho que amo ele, mas não como homem da minha vida. Acho que foi um afeto que cresceu com o tempo. Eu admiro quem ele é. — Tess diz, enquanto encara seus dedos como se sua vida dependesse disso.

— Sou um homem. E acima de tudo, sou humano. Assim como qualquer pessoa, acho que eles prefeririam que você fosse sincera. Eu sei que você não quer magoar nenhum deles, mas será necessário. Você precisa magoar um deles para ser feliz. Para seguir em frente. E deixar essa pessoa que você não ama também seguir em frente e ser feliz também. Você não precisa ter pena de nenhum deles ou se envergonhar de si mesma por ter amado. Você precisa ter orgulho da mulher que é. Pessoas boas são aquelas capazes de amar. E você é essa pessoa. — Tess olha em meus olhos pela primeira vez enquanto absorve as minhas palavras. Sou bom com isso. É o que percebo quando ela se ergue em um pulo e me abraça, agradecendo diversas vezes. Dou algumas batidas em suas costas, desajeitado e ela não me larga.

— Se eu soubesse que você era um gênio, teria chorado na sua cozinha meses atrás! — Ela diz animada.

— Eu não tinha o apartamento a meses atrás. — Dou de ombros.

— Que seja... eu vou ligar agora mesmo. — Ela diz e eu franzo a testa.

— No natal? É um pouco cruel...

— Você disse para não ter pena. E eu preciso fazer isso o quanto antes. Antes que me arrependa.

— Boa sorte. — Digo saindo, mas ela segura meu braço com olhos pidões. — Você quer que eu assista você terminar com seu noivo?

— Preciso de uma forcinha. Não vai demorar. — Tess pega o celular e disca rápido o número.

Me sento o balcão, aproveitando para pedir por mensagem sete caixas de pizza. Tess bate o pé, nervosa enquanto a ligação chama.

— Por que você está demorando? — Alyss pergunta enquanto entra na cozinha. Ela olha para mim e Tess, confusa.

— Ela vai terminar com o carinha dela. — Sussurro em seu ouvido. Ela tenta evitar sorrir. Seu irmão finalmente vai ser feliz.

— Alô? Dona, Marie? Eu queria falar com... Ocupado? Tudo bem, pode ser com a senhora mesmo. Diz para ele que eu não vou mais casar... Ouviu direito. Ei, não me xinge! Eu estou apaixonada por um homem maravilhoso... — Tess olha para o celular, se deparando com uma chamada finalizada. Marie desligou bem na cara dela.

— O que? — Alyss e eu dizemos em uníssono. Tess é doida.

— Ela não precisava ser tão rude comigo. Foda-se. Eu nunca gostei dela mesmo. Vamos? Eu preciso contar ao Andrew. — Tess diz afobada.

Ela apenas terminou o noivado com um cara no natal. Por celular. Mandando mensagens pela mãe dele. E assumiu que estava apaixonada por outro.

Porra... O azarado estaria bem cedo amanhã na porta de um babar, bebendo até desmaiar. Eu não poderia o culpar.

Nós a seguimos. Ela corre até Andrew e pula em seu colo. Suas cartas caem e ele se preocupa e catar as cartas de um jogo estúpido ao invés de apreciar a garota que ele tem.

Em alto e bom som, Tess diz:

— Eu terminei. Agora é só eu e você. — Andrew franze a testa e ergue os olhos da carta para Tess. Ele abre a boca sem saber o que dizer, o sorriso bobo crescendo nos lábios.

— Está falando sério? — Tess segura seu rosto, também sorrindo.

— Muito sério, bebê. Eu te amo e apenas a você. Quero passar o resto da minha vida ao seu lado. — Não vou falar os outros detalhes, porque a partir daí eles tampam no beijo e se esfregam no chão do meu apartamento.

— Bebê? — Formiga, Alexis e Aidan debocham em uníssono. Quando eles percebem o que acabou de acontecer eles se encaram.

Olho para Alyss e ela para mim e nós tentamos segurar uma risada. Thomas olha para nós e franze a testa.

— Eu sou o único sobrando aqui? — Ele pergunta.

— Sim. — Alyss, eu, Lexi, Aidan e Formiga dizemos ao mesmo tempo. E começamos a rir. Thomas bufa e se afunda no sofá.

O ponteiro do relógio alcança o número doze. Meia noite. Natal. E eu tenho as pessoas mais malucas em minha casa.

Nós passamos o resto da madrugada rindo, fazendo piadas e jogando conversa fora. As pizzas chegam e nós brindamos com as nossas latinhas de cerveja. Cantamos juntos músicas de natal. E fazemos disputas de dança, valendo um dólar. Nós brincamos com o pequeno Tattoo, apostando na direção de quem que ele iria correr. O bom e velho Guitar Hero também faz parte da nossa noite de natal e eu arrebento nos solos, até ver Alyss jogar e me humilhar. Estou um pouquinho bêbado, então fico chateado com ela. Mas passa quando ela me dá deliciosos beijos. No final da noite, completamente bêbados, abrimos os presentes do amigo oculto. Sam não veio, então Formiga fica sem nada. Ele liga para Sam e o xinga até o final da noite. E nós rimos até o sol nascer e pegarmos no sono. Alyss está entre os meus braços, próximo ao meu coração. E pessoas roncando ao nosso redor. Eu dou uma olhada em cada uma das pessoas dormindo na minha sala, monstros de boca aberta e babando. Mas que para mim, são perfeitos. Eu só fecho meus olhos quando não há mais força para mantê-los aberto e eu assisto minha garota e minha família dormindo.

Não deveria ter feito isso. Desejava nunca ter fechado meus olhos.

Alyss Lenz

Eu acordo e não há nenhum corpo para mim abraçar. Tateio o chão, ainda de olhos fechados. Não foi uma boa ideia trocar a cama pelo chão apenas para fazer companhia aos nossos amigos, agora minhas costas sente a falta.

Sou a única sem ressaca aqui, evitei bebida e cigarro. Apenas Tess e Alexis sabem o motivo. Eu preciso contar para ele hoje, não sei porque estou hesitando.

Abro meus olhos, encontrando a sala vazia. Nada além de latinhas de cerveja, caixa de pizza e guimba de cigarro. Não sei como Justin não se importa com isso tocando seu tapete felpudo.

Eu toco minha barriga. Não faz tanto tempo que a criancinha entrou aí. Posso sentir a diferença no meu corpo, mas não posso sentir qualquer movimento. Eu ansiava por sentir o pequeno chutar. Então Justin também poderia sentir que seu filho ou filha está crescendo dentro de mim.

Quando você tem uma criança dentro de você, não está sozinha. É estranho. Porque você não pode ver e nessa época da gestação ainda não posso sentir. Mas tudo em você sabe disso. Sabe que você tem que ser melhor para o pequeno ser. Mais madura e responsável. E mais uma série de cuidados. Sinto vontade de fumar agora, deitada no chão. Mas não posso fazer isso, porque isso não afeta apenas a mim.

Me levanto para procurar Justin, ele entra no apartamento. Sua cara amassada de sono e ainda um pouco aéreo. Ele segura o celular e se aproxima de mim, aparentando confusão.

— Cadê eles? — Franzo a testa. Nós tínhamos combinado de passar o natal juntos, Justin tinha dado uma ótima ideia de irmos fantasiados ao hospital fazer uma surpresinha para as crianças com câncer. Todos tinham concordando.

— Eu não sei porque foram embora. Já liguei. Chama, chama e não atendem. — Justin joga o celular sobre o sofá.

— Thomas também não atende o celular. Já procurei ele no apartamento dele, não está. — Alexis entra pela porta aberta. Ela nos encara desesperada, em busca de respostas.

— E meus irmãos? — Sinto uma pontada de medo. Todos sumirem do apartamento é muito estranho!

Um barulho de explosão nos assusta. A televisão liga sozinha, mostrando uma tela branca.

"Bom Natal, família. Vocês não poderiam imaginar a minha felicidade ao saber que nós vamos ter um evento de maior porte hoje."

Francis caminha e a câmera o segue. Ele está em um quarto branco e ao lado dele está Thomas, Brooklyn, Tess e Sam. Amarrados a cadeira.

Eu seguro firme a mão de Justin. E Alexis encara a cena chocada.

Tess está chorando. E ela começa a gritar quando Francis se aproxima dela com uma faca. Brooklyn está duro, olhando para frente sem nenhuma reação e Sam está bem relaxado. Thomas está sussurrando coisas para acalmar sua amiga.

"Eu estava esperando por um duelo. Vocês sabem o que isso significa? De irmão para irmão. Não significa três pessoas ou mais. Então como vocês quiseram passar a perna em mim, eu fui mais rápido."

“Vocês têm três horas para plantar drogas no apartamento do prefeito. E para verem que desta vez não estou brincando e que vidas estão em jogo, irei dar uma amostra." 

Francis caminha até Sam que fica nervoso pela primeira vez. Ele pega a mão de Sam e sem cerimônia, corta fora. Tess grita mais e se debate, Brooklyn observa o sangue jorrar horrorizado, Thomas continua tentando acalmar a todos.

Minhas mãos tremem sobre a de Justin e isso é demais para o meu estômago, eu quero vomitar. Mas faço exercício de respiração para tentar me acalmar. Ao meu lado, Justin sequer desvia o olhar. Uma veia pula em sua testa, enquanto seus olhos se tornam vermelho de raiva.

"— Esse não era o combinado! Essa não era a porra do combinado! — Sam berra, segurando o cotoco contra o corpo. A corda que prendia sua mão a cadeira também foi cortada. O sangue mancha sua camiseta dos Guardiões da galáxia e ele esperneia de dor.

Francis se segura. Mas ele não aguenta e começa a rir do desespero de Sam.

Ele puxa os cabelos cacheados do jovem com força, o fazendo espremer os olhos de dor. Francis dá dois tapas fortes no rosto de Sam para que ele o encare.

— Fique feliz que eu não tenha cortado seus dois braços fora, traidor. — Dito isso, Francis chuta sua cadeira com força. O baque é tão forte que quando a cabeça de Sam bate no chão ele fica mole, como se tivesse desmaiado. — É melhor serem rápido, eu sou pontual. E o próximo vai ser esse moleque. Eu estava pensando se deveria arrancar a orelha de abano fora ou dar um delicioso banho quente nele. De qualquer forma, posso decidir até lá."

A chamada acaba. Justin e eu nos olhamos apavorados. Em choque. Sem saber o que fazer.

Alexis está de joelhos no chão, chorando sem cessar. Ela toca a tela apagada e olha para nós. Está esperando nós fazermos algo.

Sei que é o pior momento, mas não posso esperar. Tenho um mal pressentimento sobre isso.

— Eu tenho algo para te contar... — Seguro o braço de Justin para que ele não vá. Ele olha em meus olhos e segura meu rosto.

— Você pode me contar mais tarde. Não é nossa última vez. Está me ouvindo? Não é a nossa última vez. — Ele diz com certeza. E me beija com força e paixão. Mas todo meu corpo sente que esse é um beijo de despedida.

Alexis insiste em vir conosco, mas Justin explica calmamente que é melhor ela ficar. Nós prometemos que vamos resgatar Thomas e nossos amigos, mesmo que não tenhamos certeza.

Aidan e Andrew entram no apartamento, animados. Eles seguram sacolas do mercado e quando percebem que tem algo errado eles perguntam o que aconteceu. Deixamos que Alexis explique pois não temos tempo.

Quando saímos do apartamento, puxo Justin e o beijo por impulso. Eu aperto forte seu corpo contra o seu, não querendo ficar longo dele nunca. Mas sei que não vamos ficar juntos.

Essa é nossa última vez, nós só não queremos dizer isso em voz alta.

(...)

Hoje está ocorrendo o baile de natal, onde apenas pessoas de alta classe se encontram. O salão é tão brilhante que chega a cegar. Um lustre de diamante pende no topo do teto como se aquilo não fosse nada e o tapete vermelho extenso nos leva para dentro do evento.

Caminho depressa, nós não temos tempo e muito menos suporte. Eu peguei o vestido mais provocante e chamativo do meu armário para causar distração. Justin está quieto em meu ponto, ele não me dá instruções, não me passa calma. Nada.

Sinto que ele precisa de saber disso. Mas não quero contar como se fosse nossa despedida, pois não é. Não pode ser.

Seguro a calda do meu vestido vermelho, longo e justo. Justin me admirou quando eu coloquei o vestido, mesmo com pressa ele se deixou fazer isso. Como se ele nunca mais fosse ver isso novamente. Ele me puxou para perto, como se não pudesse ficar tão longe de mim. Ele me beijou, um beijo longo e demorado. E mesmo que não tivéssemos tempo, nos entregamos. Quem sabe o que nos aguarda?

Ainda estou atordoada. A cena de Francis cortando a mão de Sam fora, se repetindo na minha cabeça. E isso deve ser o que assombra Justin, o fazendo se manter tão calado. Brooklyn também está em risco, será o próximo. A criança que ele viu crescer e cuidou. O menino que ele prometeu dar um futuro maravilhoso. Agora estava amarrado, esperando pelo próximo passo doentio de Francis.

E eu não sei se Justin percebeu, mas Sam disse algo estranho. Ele estava tão relaxado, como se soubesse que nada ia acontecer a ele. E depois ele falou sobre o combinado. Que combinado? Talvez eu esteja indo longe demais em meus pensamentos e Sam tenha feito apenas um acordo para salvar a própria pele. Não que isso torne ele menos culpado.

— Tudo vai ficar bem. Eu prometo. — Sussurro, sabendo que Justin está ouvindo. Aperto mais forte minha bolsa de mão. Eu não tenho certeza, então porque estou dizendo isso como se tivesse?

Como Francis sabia que Justin e eu pretendíamos lutar juntos? Qual eram os planos de Francis? Ia além de nós dois. Ele pretendia incriminar o prefeito. Do jeito que ele é maluco, bem capaz que ele pretenda dominar a cidade enquanto todos estão ocupados com a prisão do prefeito. 

Tantas perguntas. Nenhuma resposta. Estamos no escuro. Completamente.

Sinto meu estômago embrulhar. Estou com medo. Quero vomitar para ver se essa sensação vai embora. Quero vomitar por conta do cheiro de peru assado. Quero vomitar porque estou grávida.

Porra. É tão errado não dizer isso para ele agora. Se isso não correr bem além dele não saber, nunca vai poder imaginar. Eu fui completamente estúpida, ironizando o fato dele querer ter filhos comigo. Ele deve pensar que eu não quero.

Este é meio maior sonho. Quando eu descobri que estava grávida de Mark eu não consegui parar de sorrir. Foram os melhores meses da minha vida. Até que eu perdi.

Entrei em depressão. Eu queria fugir, me isolar e chorar. Por que aquela pequena criatura tinha que me deixar? Eu era jovem, mas eu iria cuidar bem dele. Eu juro que ia. Tinha comprado até um ursinho. Aquele momento em que você percebe que aquilo realmente vai acontecer e você deseja comprar tudo para o seu bebê. Mas ele não era forte o suficiente. O talvez, não era para ser. Foi traumatizante. Depois disso, eu perdi tudo. Meu casamento. Meu marido. A confiança. Mas nunca perdi a vontade de ser mãe, apenas tinha medo de perder meu amado bebê novamente. Perder um pequeno ser que você ama com todas suas forças sem ao menos conhecer e depois perdê-lo, é a pior dor que uma mulher pode sentir.

Entretanto, eu tenho uma segunda chance. Eu tenho Justin. Não posso ter medo. O bebê precisa de uma mãe forte. E eu vou ser.

Hoje à noite, irei dar um fim a isso. As noites em claro, aos pesadelos. Pelo meu filho ou filha e também por Justin. Pela nossa família que está prestes a ser formada.

Vejo o prefeito. Um homem velho, com o cabelo tingido. Ele é alto, como Moon. E quem não soubesse poderia pensar que ele era filho biológico do mesmo, pois eles se parecem.

O homem conversa com um casal. Ele não bebe nada, como se não quisesse perder nenhum momento. Muitas responsabilidades. Eu entenderia.

— Boa noite, senhores. — Digo com uma voz suave. O casal responde meu comprimento e o prefeito me analisa. — Peço perdão por interromper os senhores.

— Sem problemas, senhorita. No que posso ajudar? — O prefeito pergunta, encantador.

Eu dou meu melhor sorrir.

— Estou procurando por seu filho, Mack Oliver. Ele pediu para que o encontrasse aqui.

— Liguei para ele centena de vezes, o mesmo disse que vai se atrasar um pouco. Quer se juntar a nós enquanto o aguarda?

— Seria um prazer, mas eu tenho que retocar o batom. Foi um prazer conhecê-lo.

— Espero vê-la mais vezes. — Ele diz, simpático;

— Se o seu filho parar de me enrolar algum dia. — Deixo no ar, tocando o ombro do prefeito como se fossemos velhos amigos. — Desculpa! Moon continua repetindo para que eu pare de tocar nas pessoas, mas é uma mania.

— Sem problema algum, senhorita. E eu tenho certeza de que ele vai fazer a escolha certa. Não leve para o pessoal, ele é muito envergonhado. Posso te contar um segredo? — Eu balanço a cabeça e ele sorri. — Ele me disse na semana passada que estava apaixonado pela senhorita.

— Sério? — Me engasgo. Tento controlar meu nervosismo. Justin provavelmente está borbulhando do outro lado da linha. — Será nosso segredo, senhor. Agora, eu tenho que ir. Tenha uma boa noite.

Eu me despeço do outro e vou embora, balançando o cartão entre os dedos.

Mas eu não consigo chegar até a saída. Moon surge na minha frente e me puxa pelo braço com força para a pista, onde um cara está cantando umas baladas românticas de natal. Ele puxa meu corpo para perto e eu travo o maxilar, pois seu pai está olhando e eu não posso simplesmente estragar o plano.

— O que você acha está fazendo? — Ele segura meu rosto com força e sussurra em meu ouvido, eu ouço a raiva em sua voz. Me afasto.

— Desde quando o que faço se tornou da sua conta? — Pergunto.

— Não me faça de idiota. Você estava conversando com meu pai quando eu cheguei.

— Estava perguntando se você estava bem, por causa do... você sabe. Até você me machucar. — Me faço de vítima. Ele bufa.

— Mentira. Eu vi você roubar algo dele. O que você pegou?

— Seu número. Para poder te ligar mais tarde. — Contorno de forma rápida.

— Não sabia que a mão do meu pai tinha se tornado o bolso dele. — Mack aperta a minha cintura. Eu respiro fundo para não enterra um suco no nariz dele. — Minha família não está participando da guerra de vocês. Devolva.

— Eu não posso fazer isso, Mack. Você não sabe o que está em risco. — Sou sincera.

— E você sabe o que eu arrisquei para chegar perto de você? Eu tive que ficar preso em casa por dias por causa do corno do seu namorado. — Ele aponta para o roxo ainda em seu olho, coberto por maquiagem. — Se redima e devolva ou eu irei ter que manchar a minha imagem e fazer você devolver a força.

— Você está me machucando.

— Tenho cara de quem está dando a mínima? — Ele aumenta o aperto sobre meu braço.

— E você realmente acha que eu dou a mínima para sua família ou a sua reputação? — Sussurro próximo ao seu rosto. Mack franze a testa irritado. Empurro sua mão para longe do meu corpo. — Você não tem qualquer prova de que eu peguei algo. Então se você quer fazer uma cena, faça-a para Francis.

Dito isso, eu vou embora sem olhar para trás.

Justin Bieber

— Onde você conseguiu essa cocaína? — Alyss pergunta.

— Tenho informantes. Eles conseguem algumas coisas para mim. — Empurro as luvas pelos dedos de Alyss. Ela ajeita a minha máscara.

— Você acha que isso é certo? O que estamos fazendo? — Ela abre e fecha a mão para luva encaixar.

— Não estamos fazendo por um capricho, e sim pelos nossos amigos. E o prefeito nunca foi flor que se cheire. Eu sei que ele escraviza imigrantes. — O fato dos nossos amigos estarem em risco me impediu de entrar naquele salão e foder com a vida de Mack. Felizmente não fiz isso e Alyss se saiu muito bem.

Alyss fica mais aliviada.

Seguro o rosto de Alyss, observando a mulher linda que eu tenho. Apenas uma hora, é o temos.

O banheiro é apertado, nos deixando mais próximos. Eu tampei a placa da moto e nós jogamos spray de tinta nas câmeras do prédio.

— Se proteja. A qualquer custo. — Não temos tempo para um momento romântico, então eu tenho certeza de que Alyss ouviu e abro a porta do banheiro.

Alyss guarda a cocaína no bolso do casaco. E nós descemos do terraço do prédio que foi um pequeno sufoco para saltar aqui, pois Alyss tinha medo de que eu a deixasse cair.

Alyss segura um bastão, o capuz caído sobre o rosto e um boné preto. Ela quebra uma câmera enquanto nos descemos as escadas. O próximo corredor é o do prefeito.

Coloco uma flecha no arco, me preparando. Ela fica atrás de mim, como se fosse um escudo.

*SLASH, SLASH, SLASH*

Três homens caem no chão e o corredor está limpo. Alyss dá um chute em um deles, desmaiando o homem que está prestes a pegar sua arma. Eu abro a porta enquanto Alyss desarma os seguranças, amordaça e amarra os que estão conscientes.

Seguro no batente da porta, me balanço e derrubo um homem com um forte chute. Alyss entra, torcendo o braço de um deles e o derrubando no chão. Ela amarra ele, enquanto eu acerto uma flecha na roupa de um deles e o prendo contra a parede. Checo a hora. Falta meia hora. Nós demoramos tanto assim?

Procuro um lugar para colocar a droga. Escondido, mas nem tanto. A droga precisa ser encontrada.

Escondo em uma caixa de cereal. E Alyss digita uma mensagem contando isso a Francis. Não sei o que ele vai fazer para que os policiais encontrem as drogas, mas já fizemos a nossa parte.

— O que você está olhando? Vamos. — Alyss me apressa.

— Não. Se eu deixar essa droga aqui e for embora, os seguranças vão avisar que estive aqui. Os policiais vão ter certeza de que plantei. Preciso roubar algum dinheiro para eles saberem que esse era o meu objetivo e que o fato do prefeito portar drogas ilegais é uma coincidência. — Chuto as portas do imenso apartamento até achar o escritório. Empurro os livros para o lado até encontrar o cofre.

Pego o dispositivo que Formiga inventou e pressiono sobre a porta, me afastando. Alyss observa.

Onde está Formiga? Talvez ele conseguiu fugir. Eu espero.

A porta se abre sozinha e eu puxo uma bolsa do bolso. Alyss joga os malotes de dinheiro, joias e outras coisas que estão no cofre para dentro da bolsa e coloca na bolsa.

— Até que tudo correu bem. — Alyss segura minha mão. Eu a puxo para perto, abraçando seu corpo e a protegendo. A vaso quebra contra as minhas costas, meus dentes trincam. Puxo meu arco, apontando a flecha para o prefeito, mas ele tem uma arma.

— Eu sabia que tinha algo nesta garota. E ela é boa, não percebi que ela tinha me roubado até procurar pelo celular em meu bolso. — Alyss se esconde atrás de mim, não posso ver seu rosto mas sei o quão assustada ela está. — Mas trabalhar para o Robin? Existem trabalhos mais dignos.

— Como se um corrupto pudesse falar algo sobre trabalho digno. Toma vergonha na cara. — Atinjo ele com uma flecha na coxa. Nada. Nenhuma reação a dor, nenhum movimento. O prefeito sorrir.

— Já senti mais dor na minha vida do que uma simples flechinha, filho. Pode guardar suas armas da idade média. Não tem saída, a polícia já está vindo. E dest... — Alyss cala o homem com um tiro na bochecha. Ele cai no chão imediatamente, sem vida. O sangue jorrando.

Alyss deixa a arma cair e observa o homem, horrorizada. Guardo a arma no cinto e puxo para sair, mas ela não se move.

— Eu... — Ela tenta dizer, mas não encontra as palavras.

Estalo as costas, tentando expulsar a dor. Mas os cacos me machucaram bastante.

— Você fez o necessário. Vamos. — Eu a puxo, mas ela não se move. Ela continua olhando para o homem morto. O sangue jorrando por sua cara estourada no carpete branco. — Alyss, esse não é o momento para se arrepender. Nós precisamos ir embora!

Alyss olha para mim e de novo para o homem, seu rosto fica pálido. Eu seguro seu ombro, com medo dela cair. Mas ela me empurra e se curva, vomitando no homem morto. E quando ela percebe que acabou de vomitar nele, ela vomita mais.

— Porra. Você está bem, Ivy? — Ela olha para mim, seu rosto passando de horror para uma pedra. Sem sentimentos.

Ela limpa os lábios com a manga do moletom e me puxa.

— Vamos sair daqui.

(...)

Não sei se o prefeito disse aquilo apenas para nos amedrontar, mas enquanto descemos a escada depressa - quase tropeçando nos degraus, nós não ouvimos nada. Nenhuma sirene, passos ou movimento.

Largo a minha faca em um segurança no corredor que grita:

— Que porra é essa? — Quando nos vê.

E nós corremos em direção ao prédio do lado para pegar a nossa moto estacionada.

Nós subimos depressa e eu acelero. Dez minutos. É tudo que nós temos para chegar no ponto de encontro.

E poderia ser fácil chegar lá nessa velocidade. A neve caindo sobre nós, os pisca-pisca passando como um borrão em nossa visão. O vento congelante fazendo Alyss me apertar com mais força, tentando expulsar o frio.

Entretanto, as sirenes finalmente se fazem serem ouvidas. Tão alta como a batida de nossos corações. E quem diria que Robin sentiria medo mais uma vez. Eu tenho a mulher que me ama na garupa da minha moto, seu corpo tão próximo ao meu pela milésima vez. Seu coração tão grande batendo contra minhas costas dilaceradas.

E eu não quero que nada aconteça com ela. E também não quero que nada aconteça com nossos amigos. E com meu garoto, Brooklyn.

Duas viaturas nos perseguem. O barulho cada vez mais próximo e ensurdecedor.

Eu sempre soube que iria ouvir esse barulho mais uma vez. Sempre soube que esse era o meu destino. Os caminhos que eu tomei me levavam a isso.

Mas esse não é o momento para se entregar. Para temer. Há muito mais em risco. E hoje, isso acaba. Hoje, eu preciso ser o herói não apenas dos desfavorecidos. Como dos meus amigos. E da mulher que eu amo. E eu serei.

Os poucos carros que estão na estrada da cidade saem do caminho, dando passagem pela polícia. Não tenho mais como ganhar vantagem em cima deles, cortando os transportes, coisa que uma viatura não pode fazer.

Motos chegam. Eles atiram. Alyss pressiona suas unhas contra o meu estômago e eu desvio.

Somos nós contra diversos.

— Alyss, eu preciso que você tome controle. — Eu grito, virando a curva, nossos joelhos quase sarando o chão quente.

— Não! Eu não posso fazer isso! 

— Nós vamos ser mortos! Apenas segura e mantenha o braço firme. Tudo que você precisa fazer é ir reto. Eu vou me livrar deles.

— Nós vamos ser mortos se eu fizer isso!

— Confia em mim. — Alyss me solta e se aproxima mais para alcançar o guidão. Eu tiro a mão, deixando ela tomar o controle. A moto balança, virando. Coloco a mão novamente, tomando o controle.

— Eu não consigo! Eu não consigo ver! — Suas mãos tremem no guidão. Eu aperto firme os seus dedos.

— Mantenha essa velocidade. Não vira! Eu preciso fazer isso agora! — Eu ordeno. Sei que isso vai deixá-la mais nervosa. Mas não há momentos para ser fofo agora.

Eu tiro a mão e apesar de balançar um pouco, ela mantém a velocidade. Olho a frente, não tem nenhum carro.

Puxo a arma, ao nosso lado um policial aponta a arma para nós. Ele vira a moto contra a nossa e eu puxo forças sei lá dá onde para chutar a moto. Isso faz ele perder o controle e Alyss também, mas assim como ele, ela consegue retomar. Acerto um tiro no pneu da frente, a moto vira e ele capota ficando para atrás.

— Parem ou vocês irão se machucar! — O policial diz no megafone. Eu atiro em seu vidro, causando uma leve rachadura no vindo blindando, mas o suficiente para ele não conseguir enxergar e virar demais o volante. O carro atropela uma das motos que nos perseguem.

— Quase lá. — Digo para Alyss.

Os dois carros aceleram, se colocando a nosso lado. Um deles bate contra a moto e ela bate de encontro com o outro carro. Tento acertar no pneu, mas eu erro. Droga.

Ouço um barulho de tiro, mas não vejo ele nos atingir. Alyss toma o controle da moto novamente. Respiro fundo, tentando atirar no pneu do carro. E desta vez eu acerto.

Sorrio. Mais um e a gente pode finalmente resgatar os nossos amigos.

A mão de Alyss fraqueja e eu pressiono minha mão livre contra a sua. Mas seus dedos tremem demais e sua respiração fica ofegante enquanto seu rosto cai sobre o meu ombro. Tento ver seu rosto pelo retrovisor, mas o capuz está sobre seu rosto.

— Alyss? Você está bem? — Pergunto com a voz tremendo de medo. Seu corpo amolece mais sobre o meu.

— Eu fui... — Ela engole o seco e completa com a voz trêmula. — ...baleada.

Não tenho tempo para tomar o controle. A viatura restante bate contra a moto. Alyss não tem mais força para tentar controlar a moto. A moto vai para a calçada, pessoas correm. E ela finalmente para quando bate em uma árvore, nos jogando para longe. Eu tento segurar o corpo de Alyss, mas ela é lançada para mais longe do que eu. Minha cabeça bate com força contra o chão. E eu vejo as luzes da viatura, o sangue por toda roupa de Alyss e apago.

(...)

— Acorda. — Alguém joga água gelada em mim, me acordando. Pisco, tentando me acostumar com a luz.

Olho ao redor, tentando reconhecer o lugar. E por incrível que pareça, não estou preso. Estou de pé, sendo segurado por duas pessoas.

Reconheço o lugar, um parque a céu aberto.

Meus machucados sentem o toque da água gelada e todo meu corpo dói. A queda foi feia, mas parece que estou vivo. Então ignoro a dor.

Procuro por Alyss. É a prioridade. Ela está no chão, desacordada. O rosto tocando o chão frio, sangue seco manchando sua blusa. Mas eu não posso ver ela respirar e nem se mover. Isso me desespera. Me mexo, tentando me liberar dos homens. Mas eles são fortes. E eu acabei de sofrer um acidente, sinto dor, ainda estou confuso e não estou me esforçando o suficiente.

Ele aparece. Postura relaxada, as mãos no bolso do sobretudo preto que combina com suas calças e botas. Seu cabelo bem alinhado, nenhum fio fora de ordem. Ele tem aquele olhar de deboche. Como se não se importasse com nada além de si mesmo.

Respiro fundo. Foda-se a calma. Esse homem tem destruído nossas vidas desde que conheci Alyss. Não importa que a culpa não tenha sido dela, ele continua voltando para atormentar quem não merece.

Todos meus pensamentos são formas de matar esse cara ainda hoje. Mesmo que eles tenham pego meus equipamentos e meu uniforme, ainda sou mais forte e habilidoso que um magrelo cético. Espremo meus punhos e respiro fundo quando ele se aproxima de Alyss.

Tento torcer o braço de um dos seguranças e jogá-lo contra o outro. Mas esses caras são dois. Muito maiores do que eu e mais forte. Um deles chuta com força meus joelhos, me fazendo ajoelhar. Eu tento me erguer, mas ele me empurra para baixo novamente.

— Nós conseguimos o que você queria. Agora solte nossos amigos e nos deixe em paz. — Francis pisca os olhos lentamente, se agachando para dar uma olhada no rosto de Alyss. Ele joga o cabelo dela para longe do rosto, tem sangue seco em sua boca. Isso me desespera muito.

— Nunca prometi nada a vocês. E no final todos vão morrer, então não tem porque ficar se contorcendo e tentando lutar. — Francis diz indiferente. Ele ergue a blusa de Alyss para olhar a bala em suas costas. Eu suo frio, percebendo que não foi apenas de raspão. Ninguém estancou, ela está perdendo muito sangue. Eu preciso dar um jeito nisso.

Tento acertar minha cabeça contra um dos seguranças, ele dá um passo para trás e depois volta para sua posição.

— Se você simplesmente vai nos matar. Então porque não nos deixou lá para morrer? — Pergunto.

— Vocês não iam morrer. Ser preso é diferente. Não seja estúpido. — Essa noite sinto que Francis está diferente, mais amargo. Nenhuma centelha do humor habitual. Ele pressiona o dedo onde Alyss foi baleada e ela grita. Eu fecho os olhos, não querendo ver minha garota sofrer sem poder fazer nada. — Vocês mataram o prefeito. Isso significa que não seguiram o que eu mandei. Então irei ter que explodir cada canto dessa cidade, mas antes irei matar vocês dois. Vocês três, que seja. Nate, mantenha os olhos dele abertos. Quero que ele assista isso.

Explodir a cidade? Esse merda está delirando? Eu não consigo entender porque esse porra é tão obcecado por nós. Ele deveria simplesmente nos matar com um tiro na cabeça. É melhor do que ouvi-lo discursar.

Alyss acorda, ofegante. Seus dentes rangendo de dor. Faço muita força para me soltar. Porra.

Nate surge ao meu lado, ele segura minhas pálpebras para que eu mantenha os olhos aberto. Engulo em seco. Ele quer que eu o assista machucando Alyss, mas quando eles tiverem distraídos vou dar meu jeito.

Alyss tenta se sentar, mas a dor a faz cair no chão. Ela procura por mim, as lagrimas brilham em seus olhos quando ela me vê sendo contido. Ela leva a mão a barriga, se certificando de algo. Seus lábios ressecados tremem de dor.

Pisco os olhos. Mão na barriga. Três. Vômito. Sexo sem camisinha. Contar.

Puta que pariu! Eu não consigo respirar. Simplesmente não consigo. Nós estamos na pior situação do mundo. Estou ferido. Alyss está muito mais ferida. E estamos prestes a morrer. E descubro que ela está esperando um filho meu.

É um choque. Sequer posso fechar os olhos para colocar a cabeça no lugar. Meus olhos ressecados pelo vento ardem. E meu peito bate forte, enquanto eu não sei se sorrio ou se choro. Minha criança. Nossa. Uma vida. Eu sempre quis ter um filho. Mas agora, poderia perder minha única chance.

Travo meu maxilar. Apertando os punhos tão firme que sangue nenhum passa e meus dedos ficam completamente brancos. Francis olha para mim com as mãos na cintura, ele sorri. Eu vou socar tanto o rosto dele que ele nunca mais vai poder sorrir.

— Foda-se. Nos deixe aqui para explodir com a cidade. Você pode nos amarrar se quiser, mas nos deixe em paz. Você é um porra miserável e carente. Se tudo que você queria era atenção, conseguiu. Agora já pode parar com o show. Porque a cada segundo que eu sou obrigado a encarar seu rosto nojento, meu estômago pede para que eu vomite dentro das suas calças. Depois que eu cortar seu pau fora. — Digo tudo que está na minha mente. Alyss me apoia, seu olhar me incentiva a continuar. Mas seria necessários muitos xingamentos para definir um lixo de humano como esses e eu não conheço tantos.

Sem desviar os olhos de mim, Francis puxa sua faca. Me fazendo arrepender de cada palavra dita. Seu rosto é uma pedra, enquanto ele empurra as costas de Alyss para o chão. Ela morde os lábios, tentando evitar gritar por causa da dor. Meu coração aperta, ele realmente vai matar a própria irmã na minha frente.

Eu me debato mais, agora não parando de tentar me debater por um segundo qualquer. Ele não vai matar minha família. Eu aceito que ele acabe com a minha vida, mas a deles não. Eu grito, tentando chamar sua atenção. Mas Alyss não olha para mim. Ela encara ele, o desafiando. Não vejo medo no olhar dela. Idiota. Não seja assim. Tudo que esse merda quer é uma disputa.

— Alyss, não faça isso! Não faça essa merda caralho! — Eu grito, mas ela não me dá ouvidos.

Francis agarra o pescoço de Alyss e aproxima seu rosto do dela. Ele fala alto para que eu possa ouvir.

— Uma cópia de mim, eu até aceito. Mas duas? Você sabe que eu nunca aceitaria isso. Sabe que foi por isso que fiz questão de matar o primeiro ou não sabe? — Ele aperta o pescoço de Alyss, ela tenta se livrar do aperto. Enquanto seu olhar treme. Ela não sabia. Esse cara é completamente insano. Ele é mil vezes pior do que eu poderia imaginar. — Eu nunca vou deixar você ter uma família. Porque eu não tenho uma família. E você também não. Nós dois somos família e assim deveria ser para sempre. Lembra quando éramos pequenos e você disse "Somos nós contra o mundo?"

Respiro fundo e me acalmo. Se gastar toda minha energia tentando lutar, nunca vou conseguir me soltar. Procuro por uma arma no chão. Nada.

— Eu tinha três anos. Só imitei o que ouvi na televisão. — Alyss se engasga com as próprias palavras quando ele aumenta o aperto.

— Imitação ou não. Isso definiu toda a minha vida. Todos os meus planos. — Eu odeio este homem, mas também sinto pena. Ele é refém das ilusões que criou na própria cabeça.

— Eu não me importo um caralho. — Alyss cospe em seu rosto.

O rosto de Francis se torna em uma carranca de raiva. Ele enfia lentamente a faca na lateral da barriga de Alyss. E eu tento mais do que nunca lutar. Não posso deixar ele matar o nosso filho. Mas inutilmente, não sou capaz de impedir. Sou posto ali para assistir a mulher da minha vida receber mais uma cicatriz que ficará marcada nela pelo resto da vida. Enquanto ela batalha. Sua batalha é silenciosa. Ela não se move. Ela não grita. Tudo que ela faz é travar o maxilar para evitar emitir um pio, enquanto ela encara seu pior pesadelo sem desviar. Ele quer vê-la chorar, espernear, suplicar. E talvez até mesmo pedir para que ele seja a família dela. Ela não dá isso a ele, por mais que seu corpo sinta a dor.

— Morto. Morto. Morto. Mal nasceu e logo estará morto. Mas a verdade é que há três de nós no momento. E essa noite, só irá restar um. — Francis aumenta o aperto no pescoço dela enquanto enfia faca lentamente em sua barriga. A faca já cortou sua pele, a ponta adentra sua barriga. Dilacerando o que vê pela frente. Sequer posso imaginar a dor que ela está suportando. — Mas desta vez, vou ter certeza de me livrar de três pessoas em uma única vez.

Francis olha para mim, sorrindo. De repente, alguém derruba seu corpo. A faca continua cravada em Alyss, enquanto um homem acerta um soco na cara de Francis.

— Eu pensei que fôssemos amigos! Você mandou esses filhos da puta matarem o meu pai! Você vai pagar por isso, seu doente de merda! — Moon grita, acertando o punho contra o rosto de Francis mais uma vez. Francis gira, acertando a cabeça de Moon contra o chão. E em seguida acertando um soco em seu rosto.

— Doente? Sim. É melhor do que ser um filhinho de papai carente por atenção. Ops, filhinho de ninguém. Parece que o papai está morto. — Francis diz. Os dois rolam no chão, acertando chutes, socos e outros golpes. Sangue e mais sangue.

Nate se afasta para ajudar seu chefe e algo derruba um dos homens que me segurava. Enquanto ele está caído, tentando entender o que aconteceu. Eu torço o braço do outro e chuto sua cabeça. Ele cai, e algo me atinge na cabeça. Eu caio no chão, segurando minha cabeça ensopada. Os cacos caem ao meu lado. E eu tento me levantar, mas caio. Tonto e sem força. Minha cabeça dói muito, não consigo abrir os olhos.

Brooklyn aparece em um borrão em meu campo de visão. Ele vem se aproximando, mas eu aceno. Ouvindo um zumbido na minha cabeça.

— Ajuda. Alyss. — Eu sussurro. Mas ele me ignora, tentando me levantar. Eu empurro ele, caindo no chão novamente. — Alyss.

Ele finalmente me obedece, correndo até Alyss. Moon e Francis ainda estão brigando, mas mais um oponente participa.

Alguém me puxa por trás e me enforca. Eu movo meu pescoço, acertando minha cabeça contra o nariz da pessoa repetidas vezes até ela me soltar. Me viro, agarrando o pescoço do cara e acertando dois socos que o nocauteiam. Minha cabeça explode por completo e eu caio sobre meus joelhos, tentando me levantar mesmo com a dor. Mas minhas pernas tremem, sem força. E minhas costas ainda estão fodidas.

— Só pedi para que apertasse o maldito botão na hora certa e eu iria te dar a melhor vida que alguém já teve. Mulheres, dinheiro, álcool, mais mulheres e quanta droga você aguentasse cheirar. Mas você fraquejou. Sempre soube que você era fraco demais para ser meu aliado. — Francis lentamente, como se Moon não fosse capaz de entender suas palavras.

— Eu não era seu aliado! Eu era a merda do seu amigo! Fui seu amigo por todos os anos naquele orfanato. Te protegendo quando queriam te bater e você merecia. Te defendendo quanto zombavam de você. E nem quando eu fui adota, eu te abandonei. Eu continuei fazendo ligações. E suplicava para que deixassem você passar pelo menos um dia comigo na minha nova casa. Sabe por que você vive repetindo que está sozinho? Porque você é cego. Só vê o que quer. Nem mesmo quando Alyss estendeu a mão para você e te deu a família que você tanto queria. Nem assim você conseguiu enxergar. Sabe por que? Você sempre quis o que não poderia ter. Essa é a única coisa que tem movido a sua vida. Primeiro você queria a empresa. Depois a cidade. E quando você não pôde ter a cidade, decidiu que iria acabar com ela. Está fazendo o mesmo com Alyss. Só porque ela não é manipulável, você vai matar ela. — Moon mexe os braços e grita furioso, saliva voando para todo lado.

— Para início de conversa. Nunca fui seu amigo. Eu não sou amigo de ninguém. Amizades não servem quando você tem pessoas para fazer o que você manda. — Com isso, Francis dá um tiro na testa de Moon. Ele cai no chão, morto. Ele acabou de morrer e foi a única vez que gostei dele.

Brooklyn caí no chão com Alyss. Ela não consegue se manter de pé. E ele ainda é uma criança fraca. Francis se vira para eles com a arma, seu rosto manchado com o sangue jorrou de Moon.

Eu me ergo. Procurando por uma arma no bolso dos seguranças desmaiados. Esperto. Eles não têm arma alguma. Então irei lutar com meus próprios punhos.

Francis dá um tiro na minha coxa. Sei disso pois está sagrando, mas eu não sinto. Eu continuo correndo.

— Fica parado ou o próximo tiro vai ser bem na sua cara. — Ele mexe a arma enquanto fala.

Ele puxa mais uma arma do sobretudo e ergue na direção de Alyss e Brooklyn, os impedindo de fugir.

De repente, Thomas surge. Ele acerta a cabeça de Francis com um enorme guarda-sol, provavelmente do parque. Francis deixa uma das armas cair e eu aproveito para pular sobre ele.

— Eu não vou a lugar nenhum! — Alyss protesta quando Thomas e Brooklyn a levantam.

Eu seguro o cano da arma, tentando virar ele para longe do meu corpo. Francis atira na minha costela. Eu acerto minha cabeça com força contra a dele, e arranco a arma jogando longe. Francis morde meu ombro, como um animal. E eu sinto que ele é capaz de arrancar minha pele fora. Empurro seu queixo com força e acerto o cotovelo contra seu rosto. 

— Eu não vou deixar você morrer! Você está sagrando muito. — Thomas grita com Alyss.

— Eu não vou deixar ele morrer! Eu só saio daqui com ele! — Ela grita de volta.

Fico desnorteado quando Francis enfia os dois dedos nos meus olhos. Ele se aproveita disso para golpear meu rosto. A dor deixa minha garganta seca, mas eu grito para eles:

— Não deem ouvidos. Tirem ela daqui! Nós dois temos assuntos para resolver. — Travo o maxilar, desviando do próximo soco. Enrolo a perna no ombro dele e o impossibilitando de me bater. Mas minha coxa dói para caralho agora, meus olhos, minha costela, minha cabeça, meu ombro. Tudo dói. Eu estou completamente fodido. Tão fodido que a dor me fez mijar nas próprias calças. E eu não me envergonho disso, porque qualquer um com tamanha dor faria o mesmo. Mas mesmo com a dor, não vou desistir. Preciso derrubar ou simplesmente mantê-lo ocupado. Alyss precisa ir para um médico e ser atendida. A essa altura, ele deve ter afetado o nosso bebê. E qualquer segundo pode ser vital. Ela precisa se salvar. E salvar a pequeno vida que nós criamos. Eu posso morrer hoje. Seja por um golpe de Francis, ele explodindo Nova York ou simplesmente por sangrar sem parar. Eu não me importo! Eu iria morrer por dentro se algo acontecesse com os dois. Com a minha Alyss.

— Você sempre foi um problema. Não sei por que não dei um fim em você assim que descobri sua identidade. Você simplesmente fodeu com a grana de todos os meus sócios, quase me impedindo de dominar a empresa dos Lenz. E você sempre interrompe todos meus planos com a minha irmãzinha. — Francis tenta alcançar a arma que ele deixou cair perto de nós.

Com uma força que eu não sei de onde tirei, consigo deslocar seu braço. Ele grita e se contorce quando eu solto seu corpo.

— Eu vou fazer você sangrar e depois farei você beber seu próprio sangue. — Subo em cima de seu corpo. Segurando seu rosto estupidamente amedrontado.

— Se eu apertar esse botão. Eu irei explodir completamente a cidade. Não ouse tocar em mim. — Ele ergue um dispositivo com um botãozinho vermelho. Dou dois tapinhas no rosto dele e rio.

— Explode. — Desafio. — Explode a porra da cidade todinha. Seja um covarde, se esconda atrás de uma 'carta na manga'. Tá aí o seu maior defeito. Francis, O monstro. Não passa de um bebê chorão que rasteja para a barra da saia da mãe quando não consegue lidar com algo. Alyss fodeu com você duas vezes, sem precisar de anos elaborando planos feitos para falhar. E você só conseguiu ferir ela, pois foi covarde. Um moleque atira pelas costas. Um homem deixa seu oponente erguer a arma e só assim atira. Onde eu quero chegar com isso? Lugar nenhum. Porque o único lugar que você vai, será a cinco palmos da terra. E eu espero que você aproveite a estadia.

Antes que eu pegue o dispositivo, Francis aperta o botão. Seus olhos brilham. Até nada acontecer. Completamente nada. Flocos de neve caindo ao nosso redor. Mas nenhuma explosão. Francis aperta de novo, com mais força.

— Não! — Ele grita e aperta de novo. — Não! Não! Não!

Eu acabo com sua choradeira, esmurrando seu rosto sem dó. Eu não paro para respirar ou me queixar sobre a dor que lacrimeja os meus olhos. Eu faço o que prometi desde que conheci esse ser desagradável. Destruo seu rosto e o mancho de sangue. Os ossos de Francis fazem barulho enquanto são destroçados por meus punhos, cada um deles. E mesmo assim, Francis não grita. O que é reconfortante, porque sei que está causando dor. Senão, ele estaria discursando sem parar. Eu deixo todo meu ódio e magoa se afundar nele na forma de um soco. Tudo que ele fez para nós. Para todas as pessoas que ele feriu. Seu sangue mancha minha camiseta e espirra em meu rosto. Seu corpo está mole, como se ele estivesse desmaiado. Mas eu não quero parar. Nem pretendo. Essa sensação é muito boa. Depois disso, Alyss e eu iremos nos mudar para outra cidade. Longe de todo caos. Irei contratar o melhor psicólogo para que possamos deixar as cicatrizes no passado. E no futuro, iremos receber nosso filho ou filha.

Algo me taca para longe, quase que uma força sobrenatural. E o que mais me assusta é que esse pesadelo ainda não acabou. Sam encosta a arma na cabeça de Francis e atira duas vezes, dando um fim a sua vida atormentada.

Me ergo com dificuldade, para agradecer a Sam. Ele ainda tem que me explicar algumas coisas, mas seja o que for eu o perdoo.

Entretanto, quando o meu primeiro melhor amigo ergue a arma em minha direção. É como se meu mundo tivesse sido esmagado.

— Eu perdi a minha mão por sua culpa. E você não vai sair impune. Eu avisei desde o começo para não se envolver com essa garota estúpida, pois traria problemas para nós. Você não me escutou. Você nunca me escuta. Não se preocupa com nada além de si mesmo e os seus interesses. Você coloca pessoas inocentes na linha de fogo, apenas porque sabe que elas te apoiam sempre. Mas eu não. Você é fodido e egoísta e eu cansei de ser usado. Apenas um cara que pode conseguir informações e a opinião é descartada. Eu sou mais do que ajudantezinho seu. E eu estou completamente cansado de ser visto apenas como isso. — Sam está diferente. Sua cabeça está raspada e ele deixou uma imensa barba crescer. Ele não parece a pessoa mais sã que eu vi hoje, mas sei que a mágoa dele vai passar. É isso que Francis faz. Fazia. Ele manipulava as pessoas, as fazendo enxergar algo que não existe. Assim como a vida toda dele foi, uma perfeita ilusão.

Eu conheço esse homem em minha frente. Ele não é capaz de matar uma formiga. Não sei como ele fez o que fez a poucos segundos. Mas quem é capaz de julgar um momento de fúria. E eu sei que o cara que eu dividi o apartamento tem um bom coração e nunca me machucaria. Eu irei ajudá-lo com as cicatrizes também. Mesmo que a dele seja a pior de todas, ele nunca será capaz de recuperar a mão. Mas não é o fim do mundo. Não quando você tem pessoas que te amam.

Me aproximo, encostando a cabeça contra a arma. Sam treme, com o dedo sobre o gatilho.

— Você sempre foi mais do que isso para mim. Você é minha família. Se você quiser, atira. Acaba logo com isso. — Digo calmo. Eu não tenho medo. Não temo meu amigo.

— Família? Minha mãe morreu mês passado. O que você fez? Você não sabia, porque sequer se importou em perguntar. Você sempre empurra mulher para mim. Se você é meu amigo, como não sabe que eu sou gay!? Lydia descobriu isso em apenas uma semana! — Ele gesticula. Mexendo a arma nervoso. E desta vez eu tenho medo. Sam está descontrolado, não sabe o que está fazendo. E talvez, eu tenha o machucado mais do que imaginava. É engraçado que nós fazemos feridas nos outros com uma simples conversa ou a falta de uma pergunta. Todos somos vulneráveis a isso. As pessoas.  — Eu era seu amigo, mas você nunca foi o meu. Você sempre se importou apenas com si mesmo e seus estúpidos problemas. Você arruinou Robin. Alyss arruinou o resquício de coisa boa que tinha em você.

— Eu sinto muito por ser tão desligado. Mas se você quer me matar, faça. — Ergo as mãos, me aproximando. Tudo que eu preciso é tomar sua arma. Depois podemos conversar sem nenhuma tragédia.

— Matar você? Eu não vou matar você. Só vou me certificar de que você esteja aqui no exato momento em que a polícia chegar. — Ele diz.

Ele me odeia. Ele odeia Alyss. E eu nunca percebi. Isso me acerta como um soco. Ele poderia me deixar e viver sua vida, rompendo nossa amizade. Mas ele me odeia ao ponto de me querer preso.

— E tudo que vivemos? Você vai se esquecer dizer por causa do que Francis fez? — Desta vez não estou tentando acalmar ele. É uma pergunta que eu preciso ouvir a resposta.

— Você é tão estúpido. Eu estava ao lado de Francis desde o começo. Eu arrumei aquela missão do Robin para você deixar Alyss sozinha e ele poder mandar alguém para buscá-la. E agora? Eu contei a ele o plano de vocês de matá-lo em conjunto. Que ele descanse em paz. A única pessoa que me proporcionou os melhores momentos da minha vida. Ver você sofrer. — Sam sorri. Ele raramente sorri.

Eu fui traído. Pior do que ser traído por uma pessoa que você é apaixonado, é ser traído por um amigo. Uma amizade de anos. Tudo isso porque estive ocupado demais pensando apenas em mim e Alyss, quando pessoas ao redor precisavam da minha atenção. Eu mereço isso.

— Eu mereço, mas não posso deixar você fazer isso. Alyss precisa de mim.

— Ela sempre precisa. Mas hoje, você não vai poder marcar presente. Pois a polícia já está aqui. E eu irei te dar um terceiro tiro, se for necessário para manter você aqui. — A luz do helicóptero nos ilumina. E Sam continua com a arma erguida. Realmente, não tem volta. Não posso arriscar morrer. Talvez este seja o fim que eu mereça.

Um barulho de tiro. Procuro o alvo, e percebo que é Sam quando cai já sem vida. Tess deixa a arma cair no chão, chocada com o que acabou de fazer.

— Agora nós temos que ir, Alyss! Eu acabei de matar uma pessoa. Acabei de matar Sam! — Tess choraminga, tentando puxar Alyss. Ela reluta.

Alyss ainda está lá. Sagrando, sendo segurada por Thomas. Brooklyn trouxe um carro e ele buzina para mim, acenando para que eu entre. Eu permaneço parado.

— Depressa. Nós precisamos ir embora, amor! — Sinto dor na sua voz, enquanto ela tenta impedir o sangue de jorrar.

— Levem ela. A força se necessário. Não posso arriscar, todos vocês podem ser presos. Precisam ir rápido. Vou manter eles ocupados! — Eu ordeno. Isso é tudo que eles precisam ouvir. Se eu fraquejar, eles irão querer me levar e são pegos.

— Eu te amo! Eu te amo, seu estúpido. — Alyss grita, chorando. E Thomas a leva para dentro do carro. Tess dá um aceno triste para mim e entra ao lado de Alyss.

— Eu te amo também, Ivy! — Eu grito para ela e para a noite.

Meu coração fica apertado quando eles vão embora. E eu me deixo de joelhos, no chão. Sentindo dor. Sentindo o vazio.

Quando eles estão longe, viaturas e mais viaturas chegam. Diversos homens saem com as armas apontadas para mim. Eu choro, não por estar sendo preso. Mas porque talvez esta seja a última vez que a verei.

Luzes de câmera cegam meus olhos e eu sou algemado quando o policial anuncia a minha prisão. Eu olho para trás uma última vez, antes de ser empurrado para dentro da viatura. Sam está sem vida no chão, o homem que dividiu uma vida comigo. O mesmo homem que me traiu.

— A queda de Robin Hood aconteceu hoje à noite. A polícia recebeu uma ligação informando o paradeiro de Robin. E encontramos além dele suas três vítimas. — Uma repórter diz, pedindo para a câmera filmar os corpos.

Sem cerimônia, tudo fica preto. E a dor desaparece quando eu desmaio.

(...)

— Nós vamos precisar de sangue. Depressa! — Ouço alguém grita. 

Eu abro meus olhos, enxergando tudo embaçada. Um espaço em branco está sobre mim. E sinto como se um carro tivesse passado em cima de meu corpo. Tento me mexer, mas tem uma algema que me prende a maca.

Todo esses bancos e luzes cegam os meus olhos, então eu fecho os meus olhos, tentando recapitular tudo o que aconteceu até eu parar aqui.

— Por que nós precisamos salvar ele? Além de ladrão ele é um assassino, merece morrer. — Parece que alguém está furioso.

Eu até riria, se isso não fosse fazer a dor me chutar de volta.

— Porque passar o resto da vida na prisão, é uma punição maior do que morrer.

Isso faz meu coração saltar até a boca. O que? Essa é a minha sentença!?

Não posso ficar aqui. É minha última chance de fugir. Eu preciso ver Alyss. Não posso passar o resto da minha vida longe dela sem enlouquecer.

Mas não tem saída. Estou sangrando até a morte. Eu deveria fugir com a maca presa ao meu braço?

Relaxo na maca. Não tem saída. Esse é o meu fim.

— Ei! — Abro os olhos quando um dos médicos mascarado empurra o outro. Eu reconheço esses olhos, mas não sei dizer de onde.

Em um só movimento, o sujeito enfia uma agulha em meu peito e injeta algo que faz meu coração queimar. Do mesmo jeito que veio, o homem vai embora. Os outros médicos questionam quem ele é e o que ele injetou em mim. Eu questiono se isso vai me fazer morrer hoje ou se eu vou ter de me matar mais tarde.

(...)

Sabe quando você tem o ego lá em cima e algo derruba esse ego com um tapa? O meu foi mil vezes pior, não só passaram por cima dele como todos pisaram sobre.

Sempre fui o tipo de homem que confia mais em si mesmo do que deveria. Mesmo quando era uma missão com o triplo de homens que eu estava acostumado, eu encarava sozinho. Sam achava que eu estava dando um tiro no meu próprio pé. E eu sabia que poderia estar fazendo isso, mas eu tinha confiança em mim. Derrubando um por um com as minhas flechas.

E olha onde estou? Eu não consegui combater quatro homens. Três deles desarmados. 

Eu poderia ter lutado mais. Poderia ter sido mais rápido. Sam estaria vivo agora. Francis poderia ter sido morto por minhas próprias mãos. Alyss e eu poderíamos fugir, nos mudar para outra cidade.

Mas não adianta me arrepender de cada coisa que fiz. Pois agora não tem volta. Os presidiários fazem festa enquanto eu caminho pelo corredor, batendo suas mãos contra a barra e gritando xingamentos para mim.

— Achava que o Robin era um monstro. Olha esse franguinho! — Um deles zomba. Está na faixa dos cinquentas, tem um bigode e dentes podres. Eu cuspo sobre ele e os policiais me empurram para que eu ande mais rápido. O homem limpa o rosto e sorri, batendo na barra. — Eu vou pegar você, franguinho! Fiquei sabendo que não vai sair daqui nem tão cedo.

Sou jogado na cela no final do corredor. São três homens. Um jovem na faixa dos dezoito anos, mas já está na prisão de alta segurança. Ele tem um boné, o que é proibido aqui. Ele gira o boné na cabeça e pula da cama e me analisa quando eu entro. Não abaixo a cabeça e o analiso também.

Ao lado esquerdo da cela está um cara na faixa dos quarenta anos. Ele é todo tatuado, até o rosto. Ele sorri para mim, me analisando também. Na cama de baixo está um senhor de sessenta anos, ele continua deitado lendo seu livro e não se importa em olhar para mim.

Me sento no chão, ao lado da privada. O cara do boné senta na cama e me continua me olhando e outro cruza os braços, encostado contra a parede. Travo o maxilar, irritado com esses merdas me olhando.

Levo os joelhos até o peito e cubro o rosto com a mão, tentando me acalmar. As ataduras apertando meus machucados com esse movimento, mas eu me deixo sentir a dor sem demonstrar.

Não acredito que vou passar o resto da minha vida nesta cela com esses dois imbecis. Não consigo acreditar que com vinte anos, ainda tenho mais setenta anos dentro desta prisão. Isso se eu viver até os noventa anos, o que eu não acho provavelmente.

Neste momento, meu vídeo deve estar passando na televisão. Alyss deve estar no hospital. Ela estava bem debilitada da última vez que a vi. Ela vai se culpar pelo o que aconteceu conosco, pelo o que aconteceu comigo. Mas a culpa é apenas minha. Confiei em quem não deveria, ninguém é 100% confiável. Onde está Formiga agora? E Sam vinha me traindo a meses, por isso ele se afastava cada vez mais de nós.

Nem Alyss era confiável. Francis sabia que ela estava grávida, Tess também. Todos deveriam saber, menos eu. Se eu soubesse que ela estava grávida... eu não sei. Teria ter feito algo! Eu não teria sido tão inútil.

O que ela vai fazer? Explicar a criança que o pai está preso pois era um marginal? Ela vai criar o nosso filho, sozinha?

Sei que ela vai fazer um bom trabalho. Mas me mata profundamente saber que não vou estar lá, não vou ver a criança crescer, assistir as suas birras, ajudar a decorar o quarto do bebê e comprar brinquedos para a minha criança. A criança nunca vai me amar. E eu já amo um pequeno ser que mal conheço. Como isso é possível?

Um soco. Um tiro. Nada machuca mais do que isso. Saber que não irei poder fazer nada. Aqui dentro desta prisão, eu não sou ninguém. A vida de todos vai seguir e tem que seguir.

Eu acerto um soco na minha própria cara. Todos olham para mim, achando estranho. Mas eu estou pouco me fodendo para eles. Pouco me fodendo para mim.

Nunca mais terei momentos como aquele. Conversando na cama, tocando a mulher que amo e sentindo seu toque. Eu não queria acordar, mas agora os meus sonhos se tornaram em pesadelo. A mulher linda que eu tirei vários minutos para observar caminhar e assisti dormir. A risada que eu poderia colocar para repetir. Não irei sentir seus lábios nunca mais. Nunca mais irei sentir o calor do seu corpo com o meu. Sem cafés da manhã. Apenas uma tatuagem em meu braço, é o mais perto de Alyss que vou chegar.

Esfrego o dedo sobre o Benz. Outro homem vai amar ela mais do que eu, vai cuidar dela e do meu filho ou filha. Vai tocar ela. E fazer ela feliz do jeito que não sou capaz, pois estou preso. Sem segundas chances para mim.

Medo de ficar sozinho. Todos têm. Você tem, pode admitir. Gostar de passar um tempo sozinho, aproveitando sua própria companhia é diferente de estar completamente só.

E eu sinto agora. Não sou mais valente. Não sinto dor. Eu sinto este medo. O que eu sou sem meus amigos? O que eu sou sem a pessoa que amo? Eu não sou ninguém.

E eu tento reter as memórias. Expulsar elas para longe de mim. Não quero rever o que eu não vou ter novamente. Não quero sofrer. Mas eu já estou sofrendo. Já estou completamente destruído.

Eu lembro de Alyss e eu correndo pela cidade. As pessoas saindo do nosso caminho e nos encarando como se fôssemos loucos. Seus cabelos na época longos e loiros, balançando com o feito. E o seu sorriso, enquanto ela segurava firme a minha mão. Ela não soltou minha mão aquela noite. Nós encaravamos como dois apaixonados. Segurei seu corpo firme aquela noite, enquanto eu beijava seus lábios. Foi a primeira vez que fiz amor com alguém.

Eu acerto outro soco na minha própria cara. Estúpido. Para de se lamentar. Você sempre soube que estava segurando o que nunca poderia ter. Sempre soube da possibilidade de estar aqui hoje ou pior, morrer. Eu me acerto outro soco. Respirando fundo.

— Quer uma ajudinha, ai maluco? — O de boné pergunta, rindo.

— Se mete na sua vida. — Digo entredentes.

— A mocinha está nervosa. Parece que vamos ter que acalmá-lo. — O tatuado bate no ombro do outro.

— Vão chupar meu pau? — Pergunto cético.

— Nós vamos te arrebentar, seu merda. — O tatuado rosna.

Eu levanto em um pulo. Eles dão um passo para trás, mas logo voltam a pose de durão. Sem enrolação, eu pego o tatuado pelo pescoço e bato sua cabeça duas vezes contra a grade com uma força absurda. Quando eu largo, ele cai mole no chão. Desmaiado. Encaro o de boné e ele ergue a mão.

— Calma, cara. Eu só estava brincando.

— Mas eu não estava.

Depois que eu derrubo o segundo, os seguranças abrem a minha cela. Me puxando para fora e me levando para onde mereço.

(...)

Vazio. Desesperança. Nada.

Eu não sinto nada quando me jogam na solitária. Eu caio no chão, ficando por lá o resto do dia.

Eu não tenho nada de agora por diante. Os amigos que fiz. A mulher que amei. Família. Inimigos. Eu tenho nada. Um completo vazio.

Não sinto dor. Não sinto nada. E é isso que me destrói. Completamente.

Eu não tenho porra nenhuma. Vou passar o resto da minha vida nessa prisão. Até morrer. Não tenho ninguém. Ninguém para me salvar.

Como se o céu estivesse caindo na minha cabeça. Nenhuma luz. Apenas a escuridão.

Ela não pode esperar por mim, porque eu não vou sair daqui nunca. Tudo o que eu conquistei, todas as brigas estúpidas, todo o amor, para nada. Eu deveria ter desistido antes, assim eu não seria destruído dessa maneira.

Me arrasto para o canto. Minha cabeça dói, meu maxilar dói. Se eu não tenho ninguém. Se eu não tenho nada. Eu quero morrer. Sério, não tem motivos para continuar aqui. Eu sou um inútil. Já fiz tudo que deveria ter feito. Eu não sirvo para mais nada.

A raiva ferve dentro de mim. Eu odeio todo mundo. Eu me odeio. Sou um fraco de merda. Quando as coisas ficam difíceis você prefere morrer? Grande herói! Robin Frouxo Hood. Você é um merda. Sam foi um grande merda. Eu deveria tê-lo matado com as minhas próprias mãos. Eu deveria ter visto isso antes. Por culpa minha Alyss pode morrer. Meu filho pode morrer.

Seu filho já está morto. Eu sei disso. A parte de mim que iria restar no mundo morreu. Por culpa só sua.

Eu sinto ódio. Muito ódio.

Eu caminho pela pequena cela, tentando respirar fundo e pensar mais calmamente. Não funciona. Essa porra não funciona.

Seguro na parede, tentando me acalmar. Foda-se a calma. Foda-se tudo. Não me resta merda nenhuma.

Eu bato com a cabeça contra a parede. A primeira vez é fraca, mas eu sinto uma leve dor. Encosto a cabeça na parede. Você sempre soube que isso iria acontecer. Não importa quantas pessoas você conheça ou ame, nenhuma delas vai estar ao seu lado quando você morrer. É preciso fazer o que tem que ser feito.

Mas eu temo. Eu não tenho coragem de acabar com a minha própria vida, eu sou um covarde.

Travo o maxilar, sentindo o ódio presente em cada parte do meu sangue. Bato com a cabeça contra a parede, dessa vez com mais força. Faz um alto barulho. A dor é tão esmagadora que me deixa tonto.

Para. Sempre há uma saída. Você pode sair daqui e fugir com Alyss e Brooklyn. Talvez o filho de vocês pode estar bem.

Essa merda é mentira. É uma esperança que eu não posso me dar, porque eu vou passar o resto da minha vida preso aqui. E mereço isso. Mereço por ser um ingênuo de merda e acreditar que os mocinhos são bons. Mentira.

Jogo minha cabeça contra a parede. E de novo, com muita mais força. O ar fica preso no meu peito. A dor me acerta em cheio, não consigo respirar. Fico tonto e tropeço, caindo no chão. O sangue mancha minha mão quando eu seguro minha cabeça.

Hilário. Olha para você. Se alguém pudesse ver a humilhação que você está se submetendo, com toda certeza iria rir.

Como se eu me importasse com a opinião de alguém. A minha vida acabou. O que a opinião de alguém faria de mal a alguém que já está morto por dentro.

Eu borbulho de raiva. Meu rosto dói. Minha cabeça dói. Minha alma dói. Agora tudo dói. Estava tudo perfeito, até um filho da puta de merda foder com a sua vida. Você deveria ter matado ele antes. Deveria ao menos ter se esforçado. Você é um merda, fracassado e medroso. Vivia andando com a cabeça erguida, peito estufado. Mas por dentro era só mais cachorrinho medroso.

Eu seguro minha cabeça que lateja. E grito com toda a minha força. Não por segundos. Por minutos. A minha garganta não apenas arranha como se despedaça. Eu caio novamente no chão, sem forças. Sem voz. Para que eu iria querer voz? Não tenho ninguém para conversar.

No dia em que apareci de surpresa na casa de Alyss pedindo para ela fingir ser minha namorada por causa da minha mãe, eu sabia que aquilo não era necessário. Eu sou adulto. Posso dizer que segui em frente e se minha mãe não acreditar, não há nada que eu possa fazer. Mas mesmo assim, eu me dirigi a casa dela. Eu fui porque fiquei intrigado por ela. Tinha o desejo de saber mais. Sabe aquele momento em que você conhece alguém, logo fica pensando em quando vocês vão se ver novamente. E você procura suas redes sociais, para ver nas fotos os detalhes que você não foi capaz de ver pois não queria encarar a pessoa como um louco. Eu me senti exatamente assim. E não importava se já tínhamos nos beijado, talvez fosse o que eu queria na época. Eu decidi voltar no apartamento dela. Mesmo que não precisasse. A verdade é que eu estava sempre voltando e buscando por mais.

E Alyss... Merda. Sempre determinada. Sempre me beijando quando eu decidia me afastar. Sempre me surpreendendo. Nossos momentos sempre foram memórias persistentes em minha cabeça. Por melhores que fossem, eu queria tirar da minha cabeça. Estava me apegando a ele cada vez mais.

E aqui estamos. Espera... aqui não estamos. Se eu soubesse, tentaria impedir de acontecer. Porque eu sou covarde. Odeio pensar em como ela está sozinha agora.

Acerta o punho contra o chão com toda força. A dor me faz chorar. Como um bebê chorão. Eu me contorço sentindo a dor da morte. É tão profunda. É tão fodida. Sangue para todo lado, enquanto eu continuo repetindo esse movimento. Acabando comigo mesmo. Ninguém pode acabar comigo além de mim mesmo. Se alguém é capaz de tirar minha vida, essa pessoa sou eu. E eu vou fazer isso.

Me lembro de quando conheci Formiga. Ele tinha arrumado uma briga no bar, pois tinha aperto a bunda de uma mulher comprometida. Ele estava fodido de bêbado. E mais fodido ainda quando o marido da mulher o seguiu no beco ao lado do bar, com seus amigos. Formiga poderia lidar com todos os doze, mas ele estava muito bêbado. Eu observei de longe. Na época não era um bom lutador, mas tinha achado o boca suja bem bacana. Além de achar covardia o que o corno estava fazendo. Mas eu só tomei coragem quando Formiga estava sagrando no chão, assim como eu agora. Não sei como, mas consegui meter a porra em todos eles. E 'salvei', Formiga. Ele tinha se tornado leal a mim desde então. Tinha se tornado minha família, um irmão. Mas onde está ele agora? Eu não tenho ninguém. Ninguém liga para o coitadinho do Robin, sangrando no chão.

E ninguém liga para voz em minha cabeça. A voz sangrenta que nada mais é do que eu mesmo. A voz que zomba de mim, sou eu. A voz que me assiste cair, sou eu. A voz que vai dar o último suspiro, é a minha.

O que você estava esperando? Uma história com um final feliz? Pessoa sorrindo, beijos... como em um filme de romance ou aqueles livros melosos? Sinto muito em dizer, mas esse livro é sobre a queda de um homem. O fim dele. E ninguém mais quer saber sobre ele, então por que ele leva tanto tempo para levar a história ao fim?

A dor é tão grande que eu vomito tudo que está no meu estômago, não como nada a um dia inteiro, fico surpreso que ainda tenha algo no meu estômago. Eu caio no meu próprio vômito. Patético.

Não sei de onde arrumo tanta força, mas eu me ergo uma última vez. Eu penso sobre Alyss, uma última vez. Vejo ela chorando. Ela me odiando por fazer isso. Mas não tem saída para mim. Com um último suspiro, eu atinjo minha cabeça contra o chão. Assisto meu corpo cair sem poder fazer nada e tudo fica escuro.

Antes eu queria descobrir como a morte era. O filme da sua vida passa em sua cabeça? Você sente dor? Não. A morte é nada além de uma escuridão infinita.

Robin Hood, está morto.

Alyss Lenz (SETE MESES DEPOIS)

"— Olá, cidadãos de Nova York. Se vocês estão vendo esse vídeo já sabem quem eu sou. Então eu não vou precisar mais disso. — Justin puxa o capuz, remove a máscara e a balaclava. Revelando seu rosto para toda a cidade. — Gravei esse vídeo pois sabia da possibilidade de ser preso ou morto. Mas se vocês estão vendo esse vídeo, significa que eu estou morto. Finalmente irei ter uma amostra do inferno, será que eu vou gostar?

Justin ri, apesar de aparentar estar nervoso. Abraço meu próprio corpo, chorando.

— Não. Volta para casa! — Eu grito, mas ele não pode ouvir.

— Sempre fui julgado, condenado e apedrejado. Bandido, babaca, miserável, desocupado e marginal, são alguns xingamentos que recebi ao longo dessa trajetória. Se eu me arrependi? Nem um pouco. Eu vim de uma família rica, como vocês devem saber agora. Meu pai era como os homens corruptos que Robin fez justiça. Agora deve estar em todos sites, garoto mimado e privilegiado. E aí que se enganam. Vivi nas ruas por um longo tempo, não por decisão minha. Mas do meu pai. Vi de perto a miséria, pobreza, mas nunca a falta de esperança e me orgulho disso. Me orgulho de ter feito o bem a essas pessoas pelo tempo em que estive vivo. Fiz justiça pelas pessoas que não tinham ninguém ao seu lado na batalha diária da vida. 

Tento respirar, parece não ter ar o suficiente ao redor para preencher os meus pulmões. Coloco a mão sobre a barriga onde tem uma vida. Os curativos escondendo a cicatriz que ficaria ali para sempre, permanecerá lá para sempre. Me lembrando do dia que poderia ter perdido duas pessoas que amo, mas o meu pequeno guerreiro sobreviveu. Não sou capaz de lidar com tudo isso, mesmo tendo um pedaço dele dentro de mim. Já chorei tanto que as lágrimas já secaram. Já gritei tanto que mal tenho voz. Tantas horas sem dormir e já estou delirando. Vendo vislumbres de Justin entrando, tocando minha barriga e sentindo nosso filho. Me beijando e sorrindo.

— Eu dediquei minha vida ao Robin para chegar até aqui e passar essa mensagem a vocês. Não olhem apenas para o próprio umbigo. Sejam mais gentis, não só com quem é igual a vocês. Amem o próximo, isso não se resume apenas a quem tem a mesma opinião que vocês ou a mesma condição. Ajudem quem precisa. Valorizem a vida. E abram o olho! Se vocês acham que eu sou o mal da cidade, então estavam com os olhos fechados o tempo todo. — Justin escancara um sorriso verdadeiro. Ninguém deveria imaginar o quão jovem Robin era. O sorriso de Justin ilumina meu dia por alguns segundos, até eu perceber que ele nunca mais vai sorrir para mim. — Com isso me despeço das pessoas que me apoiaram, as pessoas que me odiaram, meus amigos e família. E principalmente, quero me despedir da pessoa que mais amei.

Ele não diz meu nome, mas seus dedos esfregam a tatuagem "Benz". Ele toma um fôlego e sorri pela última vez, encerrando a mensagem:

— Nos vemos por aí, Nova York. Pois um adeus nunca é um adeus.

E tudo fica preto.’’

Acordo com alguém apertando minha campainha e junto com ela, explodindo a minha cabeça. Chorei a noite toda, como em todos os dias e a dor de cabeça está suportável.

Toda noite sonho com o pior dia da minha vida, quando eu descobri que Justin morreu, através de um vídeo no jornal. Não tive tempo para me preparar, eu estava sentada na cama do hospital. Esperando os advogados conseguirem que eu fosse visitar Justin. E então eu soube que ele está morto.

Me arrasto até a porta, abrindo.

— O que foi? — Pergunto sonolenta, coçando os olhos. Tem sido mais difícil do que nunca acordar cedo, já que estou completamente sozinha. Em um apartamento que costumava ser dele.

Sete meses e mesmo assim não consigo evitar os momentos de tristeza profunda.

— Bom dia, Joaninha. — Formiga entra pela porta, me chamando por um apelido que ele inventou de última hora. Ele tem um suporte com dois cafés na mão. Ele não é assim, mas tem sido cuidadoso desde que Justin foi embora. 

Morreu. Você precisa se conformar com isso. As lagrimas já brilham em meus olhos e meu nariz arde, querendo chorar novamente.

— Sinta-se a vontade. Mas eu vou dormir. — Me arrasto de volta para cama e ele me segue. Prefiro dormir, sendo sempre assombrada pelo vídeo de Justin ao ficar acordada e chorar o dia inteiro.

— Isso é hora de dormir? São onze horas da manhã, garota. Tess disse que vai preparar seu almoço, cadê ela? — Formiga sobe com seus sapatos na minha cama, ele cruza as pernas.

— Ela sabe que eu preciso dormir até 15h para descansar.

— Você fica na cama o dia inteiro, vai acabar ficando depressiva. Você precisa levantar e ver gente. — O tom de Formiga é diferente, ele nunca falou tão sério na vida.

— Preciso dormir quando estou com sono. — Me cubro, fechando os olhos.

— 24h? — Ele puxa uma barra de chocolate do bolso. — Que seja, trouxe café e chocolate.

Me sinto como uma bola. Nenhuma roupa cabe em mim, parece que a minha barriga está prestes a explodir a qualquer momento e o bebe vai sair andando.

— Estou com desejo de Sorvete nesse exato momento. — Pego o chocolate de sua mão, com um sorriso.

— Da última vez o monstrinho me fez ir lá e depois você disse que não queria mais porque eu demorei. Então não vou buscar.

— Ei! A criança vai nascer com cara de sorvete. — Digo rindo.

— Melhor do que ter a sua cara. — Formiga derruba a cabeça para trás rindo. Eu engulo em seco, tentando não chorar. Mas as lagrimas veem e Formiga olha para mim apavorado. — Porra! Não chora, desculpa!

— Eu achei engraçado, não se desculpe. — Digo enxugando as lagrimas.

— Imagina se não tivesse achado engraçado. Hormônios a flor da pele. — Formiga diz rindo, bebericando seu café.

Não há um segundo que eu consiga ficar sozinha, isso é bom e ruim. Pois meus amigos param suas vidas para virem nos ver. O bom é que eles ocupam minha cabeça, então não tenho muito tempo para lembrar de como a minha vida é uma merda. Eu sei que não deveria dizer isso, não estou passando fome, tenho amigos e irmãos maravilhosos. Mas além disso, não tenho mais nada. Não me sinto viva como antes. Os dias passam como mais um dia de rotina, comer para não ficar doente e para o bebê ter um bom crescimento. Preparar as coisas para a chegada do bebê. Ver as coisas entediante nas redes sociais, pessoas demais apaixonadas. E ver meus amigos. Depois disso, dormir e acordar de novo. Isso não é vida!

Mesmo que digam que depois a dor diminui, passa. Isso nunca acontece. Toda vez que olho para a colagem de fotos que eu tirei de Justin, eu sinto como se meu coração tivesse sido esmagado. Quero odiar ele por ter desistido dele, por ter desistido de nós. Mas como eu posso odiá-lo se as vezes penso em fazer o mesmo?

— A rainha acaba de chegar! Com seu rei. — Tess anuncia, entrando no quarto abraçada a Andrew.

— Que coisa mais brega. — Formiga bufa.

— Mais uma dessas e eu vou vomitar. — Digo. Formiga e eu fazemos um toque, rindo.

Andrew e Tess estão noivos, ele deu a ela uma aliança que custa uma casa. São o casal mais feliz que já vi na vida. E me dói admitir, mas as vezes fico incomodada com eles se tocando, sorrindo e se beijando. Porque eu queria ter isso de volta, queria ter o amor da minha vida aqui.

— Dois invejosos. — Andrew resmunga, pulando na cama ao meu lado direito. Ele encosta a cabeça em minha barriga e diz com uma voz fina. — Como está o meu garoto?

— Não é um garoto. É uma menina. — Digo sorrindo.

— Finalmente decidiu descobrir? — Ele pergunta. Falta pouco para o bebê nascer e eu não quis saber o sexo, porque eu tinha certeza de que era menina.

— Não precisa. Eu sei que é uma menina.

— Então... como estão as minhas garotas? — Ele pergunta, beijando minha bochecha.

— Uma delas vai pior do que nunca. — Cubro o rosto, envergonhada por admitir. — Como eu vou lidar com isso? Como posso contar a minha filha que o aconteceu com o pai dela sem parecer uma louca?

Se para mim lembrar de tudo o que passamos parecia loucura. Imagine para uma criança.

— Sei que você está com medo. Mas nós vamos dar um passo de cada vez. Todos juntos. — Tess diz, segurando a minha mão.

— Mas ele não está aqui. Ele não vai voltar. Porque ele está morto. E eu estou tão cansada. Eu não consigo parar de pensar nele. Não consigo parar de chorar. Não sinto vontade de comer. Sinto como se ainda estivesse dormindo, vivendo um pesadelo. E eu me odeio por as vezes pensar que seria melhor estar morta também, só assim para minha dor acabar. Me odeio porque ela não merece ter uma mãe tão fraca.

— Uou. Vem cá, querida. — Andrew me puxa para os seus braços e eu desabo. Eu fecho meus olhos, chorando contra seu peito. Eu não queria que nenhum deles me vissem fraquejar, mas eu estou tão cansada de fingir que sou forte quando tudo que quero é chorar.

Eles nunca sabem o que dizer quando eu surto. Porque eles sabem que o que estou dizendo é verdade, então não tenta mentir só para me agradar.

Sinto mais pressão e braços me agarrando. Tess também me abraça, afundando o rosto em meu pescoço. Ela faz cafuné em minha cabeça e eu tento controlar meu choro, mas esse é o momento certo para deixar as lágrimas lavarem minha alma. Porque quando as lagrimas secarem, preciso ser forte novamente. Preciso ser mãe.

— Eu... Bem... vou buscar seu sorvete. — Formiga diz da porta, sem graça.

— Não precisa. Fica. — Eu digo, tentando engolir as lagrimas.

— Você sabe que eu posso dizer algo estúpido a qualquer momento, não sou confiável.

— É por isso que você era amigo dele. E se tornou meu amigo também.

— Pensei que fosse por causa da minha bunda sexy. — Formiga diz brincando.

— Por isso também. — Digo rindo.

Formiga corre e pula em cima de nós. Andrew e Tess empurram ele para o lado, desesperados. Ele cai no chão, gemendo.

— Idiota, o bebê! — Nós três gritamos em uníssono.

Tess abre espaço para Formiga se deitar ao meu lado. E nós ficamos abraçados por toda a tarde. E dessa vez, eu paro de chorar e confesso que não sinto mínima vontade. Justin iria gostar que eu ficasse bem. E não tem como não ficar bem quando parte da sua família está ao seu lado e uma parte do amor da sua vida está crescendo cada vez mais dentro de você.

UMA SEMANA DEPOIS

Dou uma última olhada para o quarto do bebê, as paredes rosas com bolinhas brancas e cada coisinha mais fofa que a outra. Mas o que eu mais gosto é uma blusinha que Aidan deu escrito ‘’Filha da mãe.’’ Os inúmeros ursos que Tess comprou estão na prateleira, quase forma a cor do arco-íris. E Alexis deu uma linda jaquetinha para quando ela estiver maiorzinha, ela disse que meu bebê precisa ser estiloso igual a ela.

Eu deixo a minha nova casa, a caminho do hospital. Los Angeles, quem diria que um dia estaria morando aqui. Prestes a receber meu primeiro filho.

Todos me acompanham no hospital. Até mesmo Brooklyn e os anjos da guarda. Todos viajaram apenas para dar as boas-vindas a nossa menina.

Como sempre, ansiosa, estou contando os segundos para segurar a minha garota em meus braços. E toda sua família aposta se será menina ou menino. Eu não aposto, pois sei que iria ganhar o dinheiro de todos.

Trouxe uma fotinha de Justin no bolso, para quando ela nascer poder ver o papai. Quando ela estiver maior, irei contar a história de seu pai. Um herói fora das revistas em quadrinho, que nos protegeu até o fim. Tenho certeza de que ela irá amar e eu vou contar todas as suas histórias de aventura para ela. Irei contar como nos conhecemos e como o pai dela as vezes era idiota.

Fico nervosa quando sou levada para a sala de cirurgia para finalmente receber o meu bebê. Imaginando com quem nosso bebê vai se parecer ou se vai nascer com cara de sorvete.

Meu coração está abarrotado de amor, esperando pela chegada da pequena. E hoje, não irei chorar pois sinto a presença dele. Ele está aqui em espirito, me dando suporte. E eu sei que sou capaz de enfrentar qualquer desafio que surgir em minha frente.

Depois que Justin morreu, todos ficaram arrasados. Ninguém foi capaz de acreditar que isso tinha acontecido. A cidade se tornou um caos, manifesto e marchas de seu povo. As pessoas agradecendo por ele ter sido o Robin Hood deles e não ter desistido de lutar por eles. Quando eu vi isso, mesmo que por noticia, meu sorriso quase saiu do rosto. O coração batendo forte e orgulhoso.

Justin sempre foi um homem incrível. Seja com uma pessoa que não conhecia, com os amigos e família. E principalmente comigo. Justin era um homem incrível, com seu amor pelas pessoas exalando como o perfume mais cheiroso. Ele era bom com crianças, jovens e idosos. E sempre fazia todos se sentirem especiais, como se nós tivéssemos um objetivo. E não que temos mesmo? Quando Justin se foi, pensei que seria melhor não ter se apaixonado por ele. Talvez ele ainda estaria vivo ou eu não estaria sofrendo tanto. Mas graças a nossa paixão, hoje finalmente irei segurar o fruto do nosso amor. E essa é a beleza da vida. Ela toma de você o que você mais ama, mas ela deixa um pequeno pedaço como lembrança. Ela deixa esperança e luz para quem quer que for. Nunca é fim para nós. Nunca é tarde demais para querer viver e amar.

As lagrimas escorrem como um rio em meu rosto, enquanto eu faço força para o bebê sair. Aidan se contorce, segurando a minha mão.

— Vai com calma! — Ele diz.

— Então troca de lugar comigo, seu idiota! — Eu grito com raiva e os médicos dão risada.

— Mais um pouco de força. Está quase saindo. — Thomas instrui calmo. Thomas se ofereceu para fazer meu parto e eu não poderia estar e mais boa mão. Eu travo o maxilar, fazendo o máximo de força que consigo. Minha careta deve estar péssima, o suor escorre por meu rosto. — Aí, aí. Isso!

Eu respiro fundo, me jogando contra a cama. Todos comemoram, inclusive Aidan. Mas eu não tenho forças. Eu observo os médicos cortarem o cordão umbilical e embalarem uma criaturinha vermelha.

— Parabéns, mamãe! — Thomas me entrega a minha pedrinha preciosa. E eu começo a chorar quando vejo seu rostinho.

— Ela é linda. — Digo admirada. Holland é cabeluda, os cabelos espetados para o ar. Os olhos fechados, enquanto ela se meche sem parar. Seu narizinho é como o meu e a boca é exatamente como a do pai. Ela é coisa mais linda que eu já vi na vida.

Um sorriso rasga o meu rosto, segurando com cuidado o meu bebê. Nosso bebê.

Sim. Ela é, assim como a mãe. — Sua voz arrepia os pelos da minha nuca. Meus dedos tremem, segurando o corpinho do meu bebê e eu fico com medo de olhar para o lado. Seus dedos secam as minhas lágrimas e ele beija o topo da minha cabeça. Engulo em seco e olho para o lado nervosa.

Ele está ali. A cabeça raspada com alguma cicatriz. A mão relaxada no bolso dos jeans. Um sorriso imenso e rosto molhado pelas lagrimas. Parado ao meu lado, admirando nosso bebezinho. Vivo. Sei que não estou delirando, sinto o cheiro de seu perfume.

— Vai ficar só me olhando ou vai deixar eu segurar a nossa pequena? — Ele pergunta com um sorriso. Nossa pequena segura o dedo dele e abre um pouco os olhos, olhando para nós.

— Como? — Pergunto com a voz tremula.

— Irei resumir. Formiga me drogou no hospital, antes de eu ser preso. Assim como ele desativou os explosivos de Francis. Eu enlouqueci na prisão sem vocês. Me machuquei um pouco. Isso junto com a droga, contribuiu para que eu parecesse realmente morto. O que seria de mim sem esse homem?

— O que? Ele sabia que você estava vivo esse tempo todo!? — Todo esse tempo e Formiga agiu como se Justin realmente tivesse morrido. Eu odeio e amo essa cara.

— Sim. Confesso que foi difícil esperar até hoje para te ver, mas valeu a pena esperar. Hoje é o melhor dia da vida. — Eu não digo nada, apenas o beijo. Sentindo como se o oxigênio que dividimos tivesse me trago de volta a vida. Seus lábios se parecem com o mundo. Meu mundo. E eu choro enquanto o beijo, não de tristeza, mas de felicidade. Quem poderia imaginar que ele não estava mentindo. Ele disse que não era nossa última vez e realmente não foi.

— Holland, conheça seu papai. — Entrego para Justin e sorrio quando ele encara a pequena com medo de deixar cair. Mas logo ele se sente seguro e relaxa. Descanso a cabeça em seu braço. E juntos nós admiramos a nossa pequena.

Thomas deixa o resto do pessoal entrar desde que eles não façam barulho, mas assim que a porta fecha eles começam a gritar e festejar. Justin e eu recebemos muitos abraços e beijos. E Holland é admirada como se fosse uma obra de arte em um museu e eles comemoram quando pegam ela no colo, como se ela fosse um troféu.

Justin me dá um selinho. E eu seguro sua mão, admirando a minha família completa aqui.

Hivy, te apresento Aidan, Andrew, Tess, Formiga, Alexis, Thomas, Brooklyn, Adam e aquele idiota é o Aaron. Está linda mulher você já conhece e eu, sou seu papai. Seja bem-vinda a família! — Holland abre um sorrisinho quando Justin acaba de falar e todos comemoram.

Nem toda história tem final feliz. Este é o momento em que a minha história se torna feliz novamente, mas esse ainda não é o final para nós.


Notas Finais


É, chegou ao fim. E é engraçado perceber que eu terminei uma historia pela segunda vez, algo que eu nunca pensei que seria capaz de fazer.
Meus livros favoritos são de ficção cientifica e qualquer outro que tenha muita ação. Com Robin Hood, descobri que amo escrever cenas de ação – mais do que cenas de romance, devo confessar. Para quem não sabe, estou escrevendo esta fanfic pela segunda vez. Pois na época me forcei a escrever, isso gerou um final do qual não gosto.
Voltei em 2016 para reescrever essa história que é uma das minhas favoritas. Não recebi tanto incentivo quanto na primeira versão, estava desanimada pensando que as pessoas não estavam gostando. Mas eu continuei, pois sabia que mesmo não comentando tinham pessoas lendo. E que se estavam lendo, a nova versão não estava tão ruim assim. Continuei porque amo esse universo, cada personagem e cada diálogo. Pois amo Robin e amo Benz.

Se tem alguém aqui que leu a primeira versão sabe a grande mudança que eu fiz na fanfic e espero que não tenha desagradado, pois eu gosto delas. Eu amo a paixão que o Justin tem, com tudo. Amo o fato dele não se importar de demonstrar os sentimentos e ajudar as pessoas. Ele não é imbatível, ele tem medo. E quando ele ama, ama com todo coração.

Eu amo a Alyss dessa versão. Antes eu não acreditava muito nela, eu criei uma mocinha que precisava ser salva. E nessa versão eu criei uma mulher forte, que pode amar e as vezes pode ser salva. Uma personagem que não é perfeita, as vezes é egoísta, sente medo e acredita no melhor das pessoas a maioria das vezes. Mas que não deixa de ser uma mulher poderosa, capaz de lutar pelo que quer, lutar para se defender, lutar pelo o que ama. Pois nós mulheres, somos assim. Podemos ser o que quisermos.

Sei que esse não é o melhor final e talvez não seja o final que muitos esperavam. Eu também sou uma pessoa com a expectativa lá em cima e sempre acabo me decepcionando com as coisas. Mas acontece que esse é o meu segundo final. O segundo final da fanfic, o segundo final da minha vida. Não queria prolongar a fanfic, apenas para ter mais capítulos sem conteúdo. Porque além de ser cansativo para mim, é para os leitores. Então eu estou satisfeita que ele tenha acabado neste capítulo.

Talvez, se alguém quiser eu posso postar alguns bônus. Pois escrevi alguns capítulos do dia-a-dia de Benz, coisas bestas e fofas. E também escrevi algumas coisas do futuro deles.

Eu desejava mostrar mais do Robin em ação, mas a maioria das pessoas vieram por conta do romance e não gostava tanto de ver o dia-a-dia do Robin. Acreditem em mim, Robin fez mais coisa do que aparece nos capítulos – Ele não só apanha, galera. Ele ajudou mais pessoas do que vocês podem imaginar.

Quero agradecer por acompanharem e acreditarem em mim. Sou uma pessoa que desiste das coisas facilmente, mesmo que eu goste delas. E se estou finalizando essa história, não apenas gosto dela como amo. E ela vai viver para sempre no meu coração e em minha cabeça. Continuarei escrevendo sobre Benz e os outros personagens, mas para mim que não consigo viver longe deles. Obrigada por tudo, galera! E como diria Robin. Nos vemos por ai, pois um adeus nunca é um adeus.

OBS: Caso tenha restado alguma dúvida, pergunte nos comentários ou no meu ask que eu explico para vocês.
https://ask.fm/syreis


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