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História The new Robin Hood - Dança


Escrita por: Syre

Capítulo 6 - Dança


— Segure firme o taco, você vai deixá-lo escapar assim que eu arremessar a bola. – Luke assentiu, apertando o taco. O capacete era um pouco largo e caia até sua sobrancelha. A nossa pequena plateia era formada por Sam digitando em seu notebook e Formiga comendo todos os salgados que comprou no caminho. Formiga enfiou as mãos dentro das calças e coçou o saco, pegando um bocado de biscoito depois. Eu estava prestes a vomitar em minha luva.

Arremessei a bola, não precisei fingir que estava usando todo o meu potencial só porque ele era uma criança. Lucas era o moleque mais habilidoso que eu já tinha conhecido. Brooklyn também tinha seus dons nessa idade, mas ele passava longe dos esportes, uma grande decepção para mim. Para compensar ele construía botas gravitacionais e um robô que explodia após dois passos dado. Ele não tinha obtido sucesso naquela época, mas sempre que tinha férias na escola, ele se sentava em meu barco e trabalhava em seus projetos até o amanhecer. O meu garoto era esforçado. Eu nunca escondi dele quem eu era, e esse era o maior orgulho. Eu confiava nele o suficiente para saber que não daria com a língua nos dentes.

Confiança é o que define uma forte relação, em uma amizade ou namoro. Não é possível manter nada disso sem confiança.

Lucas rebateu a bola e seu capacete caiu para frente dos olhos, ele sorria orgulhoso. Enquanto a bola voava pelo o campo, deixei o taco no chão e me pus a correr até a base. Eu estava prestes a alcançar a base quando alguém se jogou contra mim e eu caí no chão levantando poeira, mais alguém pulou e eu fiquei sem ar.

— Sai de cima de mim, seus merdas. Vocês não estavam jogando.

— Vamos almoçar, estou cansado desse jogo. – Formiga resmungou, deitando sua cabeça sobre a minha. Meu peito estava colado no chão e eu não conseguia mover as minhas mãos, pude ver os cabelos enrolados de Sam entre os braços Formiga.

— Ele é um péssimo jogador. Vamos comer. – O pequeno homem se queixou. Os meninos saíram de cima de mim e seguiram Luke que tinha abandonado seu taco e capacete no campo.

(...)

As gotas escorriam por meu corpo e paravam na toalha preta presa a cintura. O meu quarto era pequeno, porem a bagunça era gigantesca. Eu não me preocupava em arrumar nos últimos meses, eu vinha juntando o dinheiro para um novo apartamento a muito tempo e seria uma grande perda de tempo. De qualquer modo, eu conseguia me achar no meio de toda a bagunça. A minha cueca limpa estava embaixo da cama e eu tinha um par de calça rasgada sobre o abajur, nada tão complexo.

Formiga estava dividindo o sofá cama com Lucas e os dois eram uma completa confusão de braços e pernas. O fato do sol estar batendo sobre eles não era algo que os incomodava, eles iriam dormir por mais algumas horas.

Sam já estava empurrando seu notebook para dentro de sua mochila, eu ainda não conseguia entender seus horários na faculdade.

— Lá vai ele novamente.

— Hm?

— Você conseguiu deixar ela em paz por um dia. Parabéns pelo recorde. – Sam nunca se incomodou com quem eu costumava a sair, mas ele estava sempre irritado quando o assunto era Alyss.

— Ela é linda, o que eu posso fazer? — Falei bem-humorado.

— Ela era sua vítima, você deveria se afastar.

— Vitima ou não, continua sendo linda.

— Você quer transar com ela? Então faça isso e caia fora logo ou alguém vai se machucar.

— Quanto drama, tirou isso de um daqueles filmes melosos? Nós somos adultos e sabemos o que estamos fazendo. E não, eu não quero apenas foder e cair fora. Eu gosto da amizade dela. — Isso fez Sam abaixar a cabeça e gargalhar. Respirei fundo, um soco para ver se os miolos dele voltavam a funcionar seria bom.

— Amizade entre um homem e uma mulher não existe. — Ele cuspiu as palavras, como se aquilo fosse me ofender.

— Eu estou prestes a fazer isso acontecer. – Joguei a nota para pagar o aluguel sobre a cama e sai. Anos de amizade e ele parecia não me conhecer.

(...)

Os socos que ela dá no saco de pancadas diz muito sobre os seus sentimentos, ela está com raiva, no mínimo frustrada. 

Dez dólares, é quanto custa alguns minutos com ela. Pedi para o cara que costumava ajudá-la no treino me deixar fazer isso hoje.

Ela não sabe que sou eu enquanto soca e chuta o saco de pancadas sem parar. O capuz do moletom está cobrindo o meu rosto e sua irritação não permitiu que ela olhasse além do saco de pancadas. Gostava de não ser "eu" por um tempo. Ela sempre estava na defensiva quando Justin se aproximava e eu não queria ser ele agora. Admirar ela por alguns minutos em silêncio era reconfortante, mas estranho. Eu nunca tinha feito isso com outra mulher que não fosse Ellie. É normal olhar mulheres bonitas, mas me deixar apreciar cada detalhe, era novo para mim.

Quando pensei em vir para a academia dela, tinha em mente provocar e me divertir um pouco. Talvez lutar com ela. Mas então percebi que aquele era o espaço dela, como quando eu me permito socar o boneco até que os meus dedos se esfolem e sangrem. É algo pessoal. E eu não quero que ela se sinta invadida. 

Suas sobrancelhas estão franzidas e seu maxilar travado. Talvez eu devesse perguntar o que estava acontecendo, mas ela poderia se esquivar do assunto como naquela noite.

— Eu nunca vi você calado em toda a minha vida. — Falou Alyss com um tom brincalhão. O cara dos dez dólares era falante. — Eu sei que sempre chego e deixo você falar 99% do meu treino, e talvez o meu silêncio incomode você. Mas agora, tudo o que eu queria era conversar.

Alyss prende o fôlego quando deposita golpes rápidos e articulados. Vejo potencial, ela é boa. Precisa apenas de alguns toques e um pouco mais de treino. Mas seus movimentos leves e com tanta naturalidade não deixa de ser admirável.

— Ele já foi punido pelos erros, não deveria ser assim. Eu queria ter procurado ele, mas não fiz. O destino nos juntou e eu congelei. Talvez não fosse para ser, não naquele momento. O que mais me irrita é que eu fui uma covarde, coloquei o rabo entre as pernas e deixei a oportunidade passar. Mas eu me sinto tão errada! De esconder a nossa possível aproximação para a minha família. É como se eu tivesse sete anos novamente. — O suor escorria por sua testa e pescoço, ela estava esgotada, deveria parar. Cravei os dedos no saco de pancadas, mantendo os pés firmes para não tropeçar com cada golpe. — A nossa ligação é forte demais para ser apagada com o tempo. Eu deveria abraçá-lo. Dizer que eu tinha o perdoado, mesmo que eu tenha passado a minha vida inteira culpando ele. Merda, eu surtei. Eu só queria ir para casa e chorar. Agora a minha única chance escapou por entre meus dedos. O mundo é imenso, é impossível esbarrarmos novamente. Tem uma coisa que fica se repetindo na minha cabeça, de novo e de novo. Aquele sorriso que ele me deu, continua o mesmo, desde que o conheci. 

A única coisa que consigo fazer após esse desabafo é segurar mais forte para receber os seus sentimentos. Eu não consigo abrir a boca e falar nada, talvez ela prefira o silêncio. E quando o nosso tempo acaba, ela agradece e vai em direção as pessoas que estão no tatame. E eu ainda não consigo me mover, abraçando o saco de pancadas.

Ela viu o namorado. E a única coisa que o meu cérebro produzia era "Eu tenho que encontrar esse cara, é a melhor forma de retribuir o seu favor."

Mas lá no fundo, algo gritava "Você é um imbecil."

(...)

Eu não falava com Alyss a uma semana, e eu desejava que ela me ligasse. Sam não me ajudou muito na busca pelo ex namorado dela e Formiga perguntou se eu era retardado.

A matéria do meu roubo na semana passada ainda era assunto na televisão e o hobby favorito de Formiga era assistir e comentar. Hoje por um milagre consegui ligar o videogame na hora do jornal. Eu odiava ver o tanto de sensacionalismo e mentira que a mídia espalhava, o Robin que eles estampavam na manchete estava bem longe de ser o verdadeiro.

Street Fighter é uma boa pedida quando os seus pensamentos estão distantes e você pode apertar um botão aleatório para se defender.

Formiga era o meu treinador, ele me ensinou tudo o que precisava saber para chegar onde eu cheguei. Ele me fazia suar de manhã até a noite, sem nenhuma folga. Me lembro bem de quando empurrava pneus de caminhão, corria quinze quilômetros nas ruas, fazia levantamento de peso, treinava o tiro com o arco e depois tinha que lutar contra Formiga. Eu sempre ficava destruído, com diversos hematomas e nunca era capaz de vencê-lo. 

Nesse dia eu estava cansado, sem fé e paciência. Me sentia derrotado. Eu peguei a minha mochila e sai pela porta sem dizer nada, Formiga não se importou em me seguir, por que eu voltei na semana seguinte. Eu o desafiei a lutar comigo pela manhã, sem nenhum vestígio de cansaço e braços doloridos. Ele mordeu o hambúrguer após o cachorro dar uma mordida e se esticou sobre a cadeira, as pernas curtas mal alcançando a mesa.

— Você vai pedir arrego depois de lutar com diversos homens armados, pois está cansadinho? Aguarde, pois uma bala cravada na testa vai ser um ótimo presente natal, seu merda.

Aquele dia eu descobri que ele fazia aquilo pelo meu bem. Eu iria encontrar muitas barreiras antes de chegar ao pote de ouro e precisava estar pronto para luta corpo a corpo, sem cansar. Foram necessários meses para que eu pudesse derrotar Formiga após tantos exercícios. E tinham dias que eu chorava no banheiro, cansado, com medo de desistir de uma boa causa por pura covardia. Formiga fingia que não estava notando os meus olhos vermelhos e me chamava para tomar uma cerveja jogando videogame no fim do expediente.

Formiga desviou o olhar para a televisão quando me viu o encarando por tempo demais. Sorri, feliz por ter um amigo tão pequeno, mas ao mesmo tempo tão grande.

— Não faz sentido você procurar o namorado dela, cara. Você está afim dela. É como querer um boquete e deixar outro cara receber no seu lugar. — Formiga riu, pulando em seu acento. As botas batendo contra o deque e fazendo barulho. Ele era ótimo em fazer péssimas comparações. — Está apaixonado por mim, cara de rabo? Vai babar em outra pessoa.

— Quando vocês vão entender que eu não estou afim dela? Ela é uma garota legal e se ela gosta do cara, não é problema para mim encontrar ele. — A verdade é que eu não tinha tido sucesso, eu nem ao menos estava tentando. Parecia errado.

— Se ele gostasse dela não teria cagado.

— Isso é entre eles. Estou retribuindo o favor que ela fez para mim.

— Achou alguma coisa? — Formiga parecia interessado de repente.

— O gênio hacker não quer me ajudar. Ele está focado demais no próximo assalto e estudos da faculdade.

— Ele deveria ajudar, já que ele não suporta a garota. É o único jeito dela sair do seu pé.

— Eu vou convidar ela para jantar. — Falei decidido pegando o celular. Enquanto eu escrevia a mensagem com o convite, eu mentia para mim mesmo, dizendo que era para obter mais informações que me ajudasse na busca pelo ex-namorado dela. 

— Vai? — Perguntou Formiga surpreso.

— Sim. — Mas quem eu queria enganar? Eu estava ansiosa para aquela noite. Porque eu não aguentava mais um dia sem ver ela.

(...)

Meu chakram atingiu a arma do homem e ele tropeçou para trás, pego totalmente de surpresa.

— Acho que você perdeu algo. — Apontei para a arma no chão.

— Que porra... — O homem alto rosnou.

O casal arrancou com o carro assim como eu ordenei. O bandido segurava uma mochila grande, cheia de dinheiro que ele havia roubado na loja a algumas quadras atrás.

Eu tinha visto como ele estava agindo suspeito antes de entrar na loja e anunciar o assalto. Logo em seguida ele abordou os jovens no carro, os ameaçando de morte se eles não entregassem o carro para que ele pudesse fugir.

— Você tem uma cara de bad boy de filme. Já fez algum? Carreira decaiu, Hm? O que você tem aí? — Abaixei para pegar a arma e como eu imaginava ele achou que era uma boa oportunidade para me apunhalar pelas costas. Me ergui, batendo com o cotovelo em seu nariz. Fingi surpresa ao olhar para seu rosto. — Nossa, quem fez isso aí? Foi você, carinha? Toma um lencinho para enxugar o sangue.

Formiga que observava tudo encostado na parede, estava se desmanchando de rir.

Seu rosto fechou, remoendo a raiva e dor, enquanto o sangue escorria por sua mão. As sirenes da polícia soaram, ele desistiu de prolongar nosso confronto e tentou fugir.

Formiga apenas colocou o pé quando ele estava correndo e voltou a roer as unhas.

O puxei pela gola da camisa. — Você esqueceu o lenço, Hollywood.

— Me larga, porra. Você acha que é o único com direito de roubar nessa cidade? Você não conhece a minha história. — Ele se debateu, tentando acertar um soco ou chute. Apenas o empurrei para o chão.

— Deixe isso para o caderno de reclamações. Mas antes, você vai ver o sol nascer quadrado. — Fui pego de surpresa quando sua faca perfurou a parte mais fraca do meu uniforme e entrou em minha carne, dilacerando com suas curvas.

Consegui me afastar, sentindo a dor e o suor escorrer por minha testa. Não me lembrava de ter feito tanto esforço.

Pisei sobre sua mão com faca, não medindo força. A sirene ficava próxima e seus dedos não tinham mais força para segurar nada. O puxei pela camisa, acertando um chute na lateral de seu rosto. Ele tentou revidar, mas eu torci seu punho, o puxando para atrás de seu corpo. Até o fazer se ajoelhar de dor. Cravei minha flecha em sua panturrilha, o fazendo gemer e o impossibilitando de fugir até que a polícia entrasse na rua.

— Você acha que é invencível, mas existe alguém maior do que você, e todo esse ego vai te derrubar.

— Obrigado pelo concelho. Boa noite atrás das grades. — Pisei sobre a flecha, deixando ela se afundar mais em sua carne. Ele gritou, chamando atenção.

Caminhei em direção a moto de Formiga e tropecei antes mesmo de conseguir chegar perto. Não conseguia puxar o ar e os meus joelhos perderam a força. Lágrimas embaçavam a minha visão e em meio a forte dor desconhecida, eu consegui olhar para trás e ver a faca de Formiga atingir um homem encapuzado no outro lado da rua. Cai de peito no chão, sem força. A dor era tão forte que eu não conseguia raciocinar e o vomito já estava indo em direção ao chão. Não importava o quanto do meu almoço eu colocava para fora, a dor angustiante ainda estava lá.

Formiga me virou, olhando apavorado para a minha barriga. Segui seu olhar, uma lança me atravessava e o sangue jorrava. Vomitei novamente.

— P-pode... — Se tornou tão difícil falar que eu tive que respirar para continuar e isso doeu tudo em mim. — Arrancar.

— Isso vai doer para caralho, mas nós não temos tempo. — Sem dar tempo para me preparar, Formiga puxou a lança com toda força e ela saiu me rasgando por dentro. O grito que arranhou a minha garganta foi tão alto e assustador que nem parecia meu. Sem pestanejar Formiga tirou a camiseta e rasgou, amarrando em volta do buraco que não parava de jorrar sangue. O sangue continuou jorrando, não importava quanto Formiga apertava o pano no corte.

Formiga tentou me erguer, mas a única coisa que a puta dor me permitia fazer era dormir. Parecia o certo a se fazer. O sangue manchava a minha mão, era algo realmente lindo. Uma obra de arte.

Formiga me jogou sobre os ombros e tirou forças que eu imaginava que ele não tinha, para me jogar sobre a moto. Ele subiu dando partida.

Formiga se virou para mim, acertando um forte tapa na cara que não era nada comparado com a dor que eu sentia.

— Fica acordado, seu jumento. Segura em mim, o mais forte possível. Se você cair vão passar por cima da sua cabeça de vento.

Balancei a cabeça e segurei nele firme, a cabeça caindo sobre seu ombro. Ele acelerou, vi a viatura entrando na rua enquanto a gente saia. A noite era fria, fria demais. Formiga cortava carros no caminho. Muito rápido. Minha vista estava embaçada, meu corpo mole e eu estava exausto. Não faltava muito para chegar ao barco, mas para mim parecia uma eternidade.

A minha mão escorregou quando eu cochilei e senti o vento forte enquanto meu corpo tombava. Buzinas. Formiga segurou firme a minha mão e me puxou de volta, enquanto a moto tremia na pista, quase batendo em um carro. 

E tudo ficou preto.

(...)

Zumbidos. Pessoas cochichando. O bater de uma porta. Teclados. Gotas. Um toque. Vozes. Feminina e masculina. Desespero. Dor. Escuridão. Mais dor. Eco. Outro idioma? Eu não consigo entender. A única coisa que eu entendo é a dor. Ela me faz abrir os os olhos.

Estou sobre uma cama, sentindo o leve balanço de um barco. Minha camiseta favorita está aos pedaços, rasgaram ela para alcançar o machucado. Tento erguer a cabeça para ver o que me afetou dessa forma, mas está coberto por gazes. E dói. Ardia, cada centímetro dentro de mim.

— Ele acordou. — Disse um cara de cabelos azuis arrepiados. Formiga.

Me tremo todo quando uma mão gelada toca a minha testa: — Você ainda está com febre, precisa tomar esse remédio. — Uma mulher que eu nunca vi em toda a minha vida colocou um comprimido e um copo em minhas mãos.

Sam puxou coberto até o meu peito e ajustou o meu travesseiro para que eu pudesse tomar o remédio sem engasgar.

— O que aconteceu? — A minha garganta queima e nem a água é capaz de fazer esse ardor passar.

— Te atacaram quando você estava distraído.

— Quem? Como?

— Viu? Ele já acorda enchendo o saco. Foram os melhores três dias de toda a minha vida. — Se queixou Formiga, revirei os olhos. — Não tem como a gente saber. Ele estava encapuzado, gênio.

— Você precisa ficar de repouso, acabou de levar pontos. — A mulher desconhecida me empurrou assim que eu tentei me levantar para pegar o meu celular. Olhei para ela pela primeira vez, ela era morena e alta com um porte atlético.

— Onde está o meu celular? — A minha garganta estava seca e minha voz saiu em um fio.

— Eu liguei para ela e avisei. Está tudo bem. — Sam fala pela primeira vez.

— Ela ficou esperando por mim? — Tinha tudo para dar certo, eu tinha usado o dinheiro do apartamento para reservar algo mais caro para nós dois. Ela parecia animada, apesar de receosa e me deixou ajudar com a escolha do vestido. Tudo para nada. Para um perfeito filho da puta me colocar na cama por dias.

— Não se preocupe, ela está ciente do seu estado e liga constantemente para saber como você está. Agora relaxa e coma um pouco. — Sam colocou uma garrafa de água na cômoda ao lado e trouxe uma sopa.

— Por que Alyss não está aqui e ela está?

— Não sabia que Alyss era formada em medicina, da próxima vez eu ligo para ela. — Sam rebateu, irritado.

— Que dia é hoje?

— É o dia de você calar a boca e tomar essa merda. — Aceitei a sopa de Formiga, contrariado.

— Vocês são tão carinhosos. — A doutora sorriu.

— Desculpa, eles são burros como uma porta. Como você se chama?

— Brianna. — Ela indicou a porta. — Vocês precisam sair para deixar ele descansar um pouco.

— Eu estava atrasado para o meu encontro de qualquer maneira. — Sam deu de ombros.

(...)

Eles não deixaram Alyss me visitar, então tive que passar a minha semana conversando com ela por celular. Brianna aparecia uma vez por dia para ver o meu estado e o machucado já estava melhorando quando ela me deu alta. Não significa que a dor diminuía quando eu dava os meus primeiros passos, subindo e descendo no barco.

— Não misture o remédio com álcool. E nada de fazer muito esforço, você está livre, mas não significa que possa abusar. Ainda precisa repousar e se recuperar.

— Obrigado. — Comemorei a abraçando. Ela foi pega totalmente de surpresa e me abraçou desajeitada.

— Eu espero nunca ter que te ver de novo, pois você foi um grande problema.

— Talvez você me veja mais uma vez no jantar que eu vou pagar.

— Justo.

(...)

Depois de deixar Brianna em casa após o jantar, me dirigi ao apartamento de Alyss. Respirar, caminhar e levantar peso ainda era uma coisa que me causava dor. O síndico pediu para avisar a Alyss sobre a correspondência e depois de uma boa negociação, ele me deixou levar a imensa caixa até o apartamento dela.

Alyss havia tomado a minha chave da última vez que eu estive aqui, então toquei a campainha e esperei.

Tess abriu a porta, ela usava um vestido de dormir e tinha os cabelos bagunçados, seu arrependimento foi completo.

— O seu menino de ouro está aqui. — Ela anunciou voltando para o quarto, provavelmente para se trocar. Entrei deixando a caixa no chão. Pressionei o curativo, sentindo a dor do esforço. Brianna iria me matar.

Quando eu ergui a cabeça Alyss já estava em cima de mim, ela me abraçou com tanto entusiasmo que fomos parar no chão. Mesmo assim ela não parou de beijar o meu rosto e me apertar.

— Nunca mais faça isso.

— Ei, estou bem.

— Você quase morreu, seu imbecil.

— Os meus amigos são sensacionalistas. Não foi nada demais. — Me sentei trazendo ela comigo, Alyss não seu moveu, ainda abraçada a mim. Fiquei parado, não sabia se deveria me mover. Ela já estava proporcionando dor suficiente por dois.

— Posso ver?

— Está coberto, mas te mostro qualquer dia. Aposto que vou carregar essa marca para a vida toda.

— Como aconteceu?

Segurei seu rosto, admirando sua beleza mesmo por traz dos olhos cansados. 

— Eu soube que você começou a trabalhar. Isso é muito bom. — Um sorriso se expandiu em seu rosto e ela passou a mão por meus cabelos, o tirando do rosto. A verdade é que ela estava surpresa com a pergunta, ela esperava que eu fosse deixar a minha ferida ser assunto do dia.

— Já era um trabalho certo, pois a dona da revista é uma grande amiga da minha mãe. Ela me deixou mostrar os meus trabalhos.

— Como foi o seu primeiro dia?

— Diferente do que eu esperava. Eu achava que haveria muita rivalidade, mas as pessoas de lá são como uma família, estão sempre se ajudando. — Na corretora os ares eram de rivalidade, eles fingiam ser seu amigo mas não pestanejavam na hora de roubar seu cliente. — Espera.

Alyss se levantou e saiu correndo para o quarto, me sentei no sofá aguardando por ela. Tinha uma mensagem de Brianna que eu sorri ao ler "Obrigada pelo jantar. E lembre-se: repouso é bom."

"O seu turno já acabou. E obrigado por me acompanhar, eu provavelmente estaria tentando decifrar o cardápio até agora se não fosse por você." Digitei e guardei o celular no bolso.

— É só apertar o botão. — Alyss voltou com Tess, segurando uma câmera. Ela se sentou ao meu lado, se encaixando em meus braços.

— Eu sei tirar uma foto. — Desdenhou Tess.

— Sobre o que é isso?

— Eu preciso de uma lembrança de nós dois.  — Ela olhou em meus olhos, sua voz estava coberta por sentimentos.

Eu ainda estava estranhando, ela nunca mostrou se importar tanto comigo e eu não esperava que ela fosse dar o braço a torcer desta vez.

— Desde quando você passou a me amar tanto? — Provoquei.

Nós fizemos algumas poses para a foto, mas as nossas favoritas foram as mais espontâneas. Principalmente a última, aquela em que Alyss me deixou sem palavras.

— Desde que você quase me deixou.

(...)

Os meninos me mandavam mensagem toda vez para checar se eu estava bem e não importava quantas vezes eu confirmasse, não parecia convincente para eles. Ignorei a mais nova ligação de Sam, tentando voltar o foco na conversa a mesa. Alyss tinha ingressos para o jogo de basquete de hoje e não tinha como recusar. Repouso. Esse era eu gritando de raiva com o jogador no campo, dançando, pulando e pegando cada uma das meninas no colo quando os Mets venceram. Longe de ser uma boa ideia, a dor era tanta que eu evitava pensar que os pontos tinham rompidos.

A pizzaria mais próxima foi a nossa jornada. Pena ser mais frequentada por família. Era um caos de crianças correndo e fazendo barulho.

Eu era o mais sóbrio a mesa. Elas estavam no terceiro copo de cerveja, enquanto eu mal tinha chegado a metade do meu primeiro.

— Advogada, legal. Vou ligar para você quando eu estiver atrás das grades. — Ergui a sobrancelha, brincando. Alyss pegou uma próxima fatia.

Meu braço estava sobre a mesa, uma ofensa as etiquetas. Descansei o rosto sobre a mão, observando Tess. Nome legal, eu ainda não conseguia acreditar que não era um apelido.

— Eu estou noiva. — Ela apontou para a aliança no dedo. Recuei, sem entender.

— E o que tem? — Ela revirou os olhos.

— Você obviamente está dando em cima de mim. Estou apenas colocando as cartas na mesa.

— Eu não estava dando em cima de você.

— Ok, então você é míope e precisa enfiar a cara no meu rosto para me enxergar. E obviamente um cisco entrou no seu olho, pois você não para de piscar para mim. Além de você ter quase jogado Alyss no chão para sentar ao meu lado. — Alyss estava olhando para nós, tentando não rir.

— Que maluco! Desculpa, não percebi. — Esfreguei a nuca, de repente me sentindo envergonhado.

— Você vai ir no show do Peter? — Alyss perguntou, mudando de assunto para encobrir meu constrangimento.

— Claro! Bebida por conta da banda. Alguém vai dar prejuízo...

— Eu tenho uma viagem de trabalho para essa semana. Desejava poder ir.

— Ah não! Eu já estava pensando no nosso vestido igual. — Alyss enrugou o nariz, desaprovando.

— Não iria igual a você nem se me pagasse. Não somos gêmeas. — Essas palavras pareciam ter um peso para ela, eu só não entendia o motivo.

— Pode ser sincero, Bieber. Nós somos quase gêmeas.

— Eu bebi, mas não o bastante para achar vocês parecidas. Nada em comum.

— A beleza. E os sapatos caros. Nós também somos bastante engraçadas.  — Tess estava convencida de suas palavras.

— Vocês são no mínimo esforçadas. Já vi comediantes melhores. — Empurrei as notas na mesa. — Estou de saída. Alguém quer dividir o táxi? Eu tenho que pegar minha moto no seu apartamento.

— Não! Não pode acabar assim. É sábado e eu quero diversão. Tess, você chama as pessoas. Justin, você compra as bebidas.

— Você não pode dar festa no seu apartamento. Vai incomodar os vizinhos.

— Nada que uma boa conversa não resolva. Vão ser poucas pessoas. Vamos lá.

(...)

Alyss disse poucas pessoas, mas logo seu apartamento está lotado. Uma pessoa vai chamando outra e não para de chegar gente. Uma hora de festa e já tem porta retrato quebrado e sujeira para todo o lado.

Eu estava tentando manter o nível do som baixo, para que o síndico não viesse reclamar, mas Alyss não parecia se importar com isso.

Alyss dançava sobre o balcão com suas amigas, e eu tentava impedir o lado protetor de afastar todos os caras de lá, já que ela estava de vestido. Seus olhos estavam fechando, sentindo a música, o copo em uma das mãos, enquanto a outra estava para cima.

Estava tentando não ser tão antissocial. Eu sempre gostei de festas, mas eu estava cansado, ainda me recuperando. Me sentei em um sofá, verificando as diversas chamadas de Sam. Ele não parava de me ligar. Retornei a chamada.

— Vem dançar. — Uma morena me puxou para o meio da pista, meu celular caiu no chão e eu não conseguia achar. Ela me puxou pela a camisa, colando o corpo ao meu.

— Ei, espera. Meu celular. — Tentei me afastar, mas ela começou a dançar, segurando a minha mão.

— Deixa isso para lá. — Sussurrou em meu ouvido.

— Você poderia me solta um pouco? Eu estava no meio de uma chamada importante. — A mulher bonita riu, como se eu tivesse contado uma piada. Ela estava bêbada, como todos aqui.

— Desculpa, Meri, mas agora é minha vez. — Meri deu de ombros e me largou, procurando outro cara. Olhei para o lado e Alyss estava segurando meu celular. — Me agradeça depois.

— Ufa! Ela era louca. — Alyss riu de mim e depois nós ficamos nos olhando em silêncio, se não fosse pela música alta. — Eu tenho que ir.

— Ah, não. Fica mais tempo! Dança comigo. Eu estava falando sério.

— Sam está me ligando diversas vezes, acho que ele precisa de mim. — Alyss fez biquinho.

— Eu também preciso de você. — Suas palavras me deixaram sem ar. Ela entrelaçou os dedos ao meu, me puxando mais para perto.

— Precisa?

— Sim, não tem como dançar sozinha. — O meu sorriso diminuiu, mas eu não a larguei.

— Tudo bem. Uma dança.

(...)

Acordei no chão, com o peso de um corpo sobre mim. A luz do sol me cegou assim que abri os olhos. Minha garganta estava queimada, resultado dos shots da noite passada.

Nada de bebida. Remédios no horário certo. Repouso. Eu sou péssimo em seguir ordens.

Me lembro um pouco da festa, dançar com Alyss, jogar Beer Pong e beber até não aguentar mais. Até que o síndico ligou, avisando que a festa estava impossibilitando os vizinhos de dormir. Nós colocamos todos para fora e jogamos alguns copo e garrafas de bebida no lixo, até o cansaço vencer e irmos dormir. Alyss se arrastou no meio da madrugada até a mim, e se deitou comigo no chão. E agora seu corpo pesado estava se tornando um incômodo que eu não conseguia me desvencilhar.

— Você poderia me soltar? — Alyss estava como um bicho preguiça, abraçado em sua árvore. Ser a árvore de alguém não era algo bom.

— Não.

— Eu quero mijar.

— Bacana...

— Não é nada bacana. — Consegui desgrudar ela de mim, com bastante esforço. Alyss bufou, virando para o outro lado.

— Levante a tampa.

— Obrigado por me ensinar o que eu já sei. — Levantei a tampa.

— Você é retardado ou o que? Era para fechar a merda da porta.

— É só você não olhar. — Dei descarga e Alyss entrou no banheiro, me empurrando para fora.

— Eu vou tomar um banho. Faça algo de útil, um café seria bom.

— Você vai fazer algo hoje?

— Dormir. 

— Você estava muito louca ontem. — Me joguei no sofá. Alyss apareceu na porta com a boca cheia de espuma, sua sobrancelha estava erguida em dúvida.

— Estava? Não lembro disso.

— Você deixou os homens tomarem bebida na sua barriga. Também fez uma dança para os convidados. Você deu suas roupas para as mulheres na festa e distribuiu beijos.

— Minhas roupas!? Onde estavam você e Tess nessas horas? Vocês deveriam ter me impedido. — Ela recuou para cuspir na pia e gritou. — Foi um selinho pelo menos?

— Sim, claro. — Tentei repreender um sorriso. Alyss voltou, secando o rosto com a toalha. Seus estavam arregalados.

— Oh, não. Isso quer dizer que não foi.

— Não exatamente.

— Repito a pergunta anterior, onde estavam meus amigos naquela hora?

— Espera. Ivy League Lenz, me chamou de amigo?

— Sim? Não que você seja meu amigo agora. Você não fez um bom papel na noite passada. — Ela cruzou os braços, fingindo revolta.

— Eu não sou seu pai preso no século passado para impedir que você se divirta.

— Apenas impedir que eu passasse vergonha servia.

— Irei anotar, quem sabe eu acerte na próxima. Você pode arrumar isso enquanto eu faço algo para almoçarmos. — Peguei os ingredientes no armário e as panelas. De repente eu me lembrei que faltava alguém. — Onde está Tess afinal?

— Ela está noiva. — Alyss me alertou.

— Qual é o problema com vocês mulheres? Eu não estou afim dela.

— É apenas o aviso de uma amiga, está muito na cara. Você não parava de olhar ela dançando. — Ela conectou o aspirador a tomada. Seu tapete antes branco, estava com marcas de sapato.

— Claro que não.

— Vamos fingir que ninguém percebeu então.

— Eu estava olhando para você, tudo bem? Ela é legal, mas não é o meu tipo. E eu não me envolvo com pessoas comprometidas.

— Pode dizer, a Ivy aqui dança muito bem. — Alyss balançou os quadris, deslizando o aspirador pelo tapete sujo. Nós dois ficamos rindo por um bom tempo.

E eu não podia negar, ela estava certa.


Notas Finais


O que vocês estão achando do rumo da fanfic? Deixe um comentário para que eu saiba. Toda crítica construtiva é bem-vinda. Espero de todo coração que vocês estejam gostando. ❤

Até a próxima.
https://ask.fm/SyreIs


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