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História The Nurse - Reality Next


Escrita por: VenturineEmy

Capítulo 2 - Reality Next


Vancouver, CAN: 08:00

Scarley Mendler narrando: 

Trabalho. Esse sempre foi o meu lema de vida. Sempre acreditei que na vida nada vem fácil e por isso eu persisto.

Desde pequena, quando eu era zoada pelas minhas colegas de escola por ser uma garota diferente das outras, eu aprendi isso. Mas isso não era verdade, eu não era diferente delas. Elas só me achavam diferente porque eu não tinha pai mas sim um padrasto (um grande filho da puta e covarde). A maioria delas eram garotinhas de classe média baixa e que agiam feito socialites mirins. Já eu, graças ao meu padrasto que felizmente está morto, cresci sendo uma garota de classe média alta. Porém diziam que eu agia feito uma "desclassificada" — assim que eles me titulavam, mas eu sempre me considerei uma garota normal. 

Eu tinha em mente que nada do que eu possuía era verdadeiramente meu. Eram do meu padrasto, e só dele, foi ele quem conquistou. Por isso nunca assumi nenhum tipo de superioridade sob as outras. O que é estranho, pois mesmo assim elas me julgavam.

Agora, já aos vinte e quatro anos de idade, com uma carreira estabilizada — sendo uma das mais famosas advogadas de Vancouver — posso dizer que tudo o que conquistei é verdadeiro, e meu. 

Com excessão do meu namorado, Dylan, que só namoro por comodismo. Na verdade não sei muito bem porque eu o namoro, talvez lá no fundo eu tenha medo de acabar ficando sozinha.

Dylan era o único cara que aceitava toda essa minha teoria de que só se pode conseguir algo se trabalhar até a exaustão. Mas ele não tomava pra si essa teoria, pois nunca arranjava uma merda de emprego que prestasse.

— Scar, eu desisto disso. — Falou jogando, literalmente, o folheto de vagas de emprego da cidade pro ar. Diferente das outras vezes que ele jogava e eu sempre fazia questão de pegar, deixei que caísse enquanto caminhava pela sala em busca das chaves do meu carro. 

— Você viu a chave do meu carro por aí? Eu procuro mas não encontro. — Falo completamente concentrada em procurar as chaves, logo em seguida escuto Dylan bufar por eu ter o ignorado. — Desculpe Dyl, mas eu estou atrasada. Não tenho tempo para os seus xiliques agora. 

— Mas o seu expediente é às nove, e ainda são oito e dez! — Exclamou indignado, mas em seguida baixou a guarda. Ele sempre baixava. — Tudo bem, tem razão em se dedicar.

— Encontrei! — Exclamei sorrindo, logo depois de ter encontrado as chaves do carro atrás de uma almofada no sofá. — A faxineira vai chegar às dez porque minha mãe volta de viagem hoje à noite. Espero que você esteja bem longe antes da faxineira chegar. — Falei assim que destrancava a porta. Dylan assentiu.

Não falei mais nada para ele e fui em direção ao elevador. O contato dos meus saltos sob o  chão de mármore preto do meu prédio, causava um toc toc alto e ritmado. Consequentemente fazia com que eu chamasse atenção dos vizinhos — que eu não fazia a menor idéia do porque de estarem ali àquela hora da manhã, extremamente desnecessário.

Antes que eu pudesse chegar frente ao elevador, a porta se abriu repentinamente revelando Beatrice — minha amiga mais próxima. Ela saiu esbaforida de dentro da cabine do elevador. Estranhei isso porque quase sempre que eu a encontrava ela emanava calma, muito diferente do seu estado atual.

Franzi o cenho a encarando enquanto ela se aproximava de mim.

— Scarley, esqueci a minha bolsa ontem á noite na sua casa. Por favor, volte comigo até lá para que eu possa pegá-la? — Eu odiava quando alguém próximo de mim cometia o erro de me chamar pelo nome, preferia que me chamassem de Scar, mas por falta de tempo, decidi relevar.

Beatrice, apelidada de Trice, era minha melhor amiga desde a faculdade. Ela foi a pessoa que mais me ajudou a crescer nesse mundo da advocacia, pois quando eu começei a ingressar na Faculdade, mesmo ainda tendo pouca experiência, ela já estava exercendo a sua profissão. 

Trice é, inegavelmente, uma mulher invejável. De arrancar suspiros de qualquer uma e qualquer um. Além de linda, ela era experiente e muito efetiva. Mas como dizem, "os alunos superam os professores", e eu superei Trice. A minha postura perante a empresa era melhor e mais persuasiva do que a dela. Isso fazia com que eu conquistasse tudo, ou quase tudo que eu quisesse. 

Ela era apenas convincente quando estava calada. Não conseguia amedrontar ninguém em um tribunal, ela era irritantemente doce de mais. 

— Não dá, Trice, tenho que chegar cedo na empresa hoje. Mas Dylan ainda está lá, pode ir. — Falei, procurando a chave do apartamento na bolsa. — Com certeza ele voltou a dormir ou está no banho, então leve as chaves por garantia. 

Notei um pequeno sorriso de satisfação quase brotando no canto dos lábios de Trice. Não entendi bem o porquê, então resolvi ignorar. Dei um beijo de cada lado em seu rosto, entrei no elevador e apertei o botão que faria o elevador se deslocar até o saguão.

***

Hoje tudo estava muito mais tranquilo por aqui. De certa forma isso me deixava incomodada. Eu gostava de toda aquela correria para resolver, analisar, e ignorar casos. Alguns me arrancavam grandes e altas risadas, porque eram realmente hilários.

Como por exemplo, uma vez em que um senhor veio até aqui para reivindicar os direitos dele. Pois sua esposa que ele aturou por 35 anos —  ele quem utilizou esses termos —, havia batido as botas e no testamento todos os seus bens foram repassados para o hamster dela. 

Diante disso, confesso que foi quase impossível ser profissional, mas consegui e hoje o viúvo cuida do hamster apenas para não deixar de ser rico.

Não demorou muito para que  eu fosse embora. Normalmente eu ultrapasso o horário do expediente, mas como minha querida mãe já deve ter chegado de viagem, não custa eu estar lá para fazer companhia á ela.

Pego meu carro e tomo o caminho de volta para o meu condomínio. 

Pelos corredores o barulho do salto já não era tão alto e ritmado como pela manhã. O cansaço no meu corpo já se fazia presente e era díficil ser poderosa estando cansada.

Assim que abri a porta do apartamento para que eu pudesse entrar, fui recebida com um abraço caloroso de mamãe. 

— Scar! Estou com tanta saudade... — A voz dela soou abafada, pois me apertava forte. 

Eu também sentia muito a falta dela. Ela não mora comigo e praticamente depende de mim. Não me incomodo em sustenta-la, é minha mãe. E ela só não trabalha por conta da sua idade e dos danos que a vida lhe causou — e esse dano tem nome, sobrenome, uma conta bancária gorda e um corpo em decomposição. 

— Também senti muito a sua falta mãe. Mas já pode me soltar agora, sabe que não irei fugir.  — Ri fraco para ela e ela me soltou. Me olhou com ternura e eu sorri.

— Tem trabalhado muito? Oh sim, com certeza você anda trabalhando muito. Filha.. lembra quando eu te disse que... — A interrompo. 

— Que eu sou jovem, tenho que curtir minha vida, conhecer novas pessoas... — Reviro os olhos. — Mãe, eu não sou mais uma adolescente. Essa é a minha nova realidade. — Ela suspirou. Eu sabia que ela sentia muito, e eu não tirava sua razão.

Ela não concorda e nunca concordou com o fato de que eu trabalho a maior parte do tempo. Mas isso é praticamente contraditório, já que o dinheiro do meu trabalho é o mesmo que paga as viagens e os luxos dela.

— Não vou mais te contrariar, pelo menos não agora. — Enfatizou o ‘agora’, mostrando que não desistiria dessa conversa que, para mim, era uma enorme perda de tempo. Eu não iria mudar. — E como vai o Dylan? E a Trice? 

Mamãe perguntou isso apenas por educação. Sei que ela não gosta do Dylan, e muito menos da Beatrice. Ela diz que vê algo diferente nos olhos deles, algo negativo.

— Eles estão bem. Só os vi hoje pela manhã, mas não tem problema. Eles sabem que você está aqui então não irão se importar com o meu sumiço ou sentir minha falta. — Dei de ombros demonstrando falta de interesse.

— Ok, chega de falar de trabalho, de Dylan, de Trice... Estou com muitas saudades e quero curtir a minha filha já que não é sempre que posso. — Sorri largo.

E então assistimos vários filmes, comemos várias besteiras, contamos as novidades uma para a outra, rimos juntas e matamos a saudade. Eu realmente havia me divertido muito, muito mais do que nas minhas noites com Dylan, ou nas noitadas na balada com Beatrice. A melhor companhia que eu poderia ter era, sem sombra de dúvidas, a companhia da D. Carolyn, que apesar de me contradizer e ser um verdadeiro paradoxo, era a única que com certeza se importa verdadeiramente comigo. A única que se arriscaria apenas para me ter à salvo.

 

2 dias depois; 07:00.

Falei que nem Beatrice e nem Dylan sentiriam minha falta. E realmente não sentiram.

Os dois dias em que tirei apenas para dar atenção a mamãe não recebi nem uma mísera ligação de ambos. 

Talvez Dylan estivesse bravo por eu não ter dado atenção para ele. Mas Beatrice? Não fiz nada pra ela. Ela poderia muito bem ter entrado em contato. 

E por incrível que pareça, isso não me irritava nenhum pouco. Eu também não senti falta de nenhum dos dois. Mas como minha agenda se encontra lotada, não posso dar motivos para que Dylan queira brigar depois. Não tenho tempo pra isso. 

Então resolvi fazer uma surpresa para ele. Acordei bem cedo naquela sexta-feira chuvosa — o que foi um grande sacrífico — e comprei algumas coisas que Dylan gosta para o café da manhã. Certamente ele iria comer tudo aquilo sozinho. Pois eu odeio praticamente todo o tipo de comida que Dylan adora. 

Arrumei tudo em cima da mesa de marfim da sala de jantar impecável do apartamento de Dyl. Fiquei até impressionada em ter feito aquilo sozinha — tirando a parte de que tudo aquilo foi comprado pronto. 

Eu tinha a cópia das chaves do apartamento dele. Então eu havia entrado e feito tudo silenciosamente. Depois de quase tudo pronto, resolvi espera-lo acordar. 

A demora de Dylan estava começando a me intrigar. Ele não acordava tão tarde. 

Andando pelo corredor até o quarto de Dylan, me surpreendo ao escutar vozes. Duas vozes. A voz de Dylan e uma feminina. A voz masculina que eu sempre escutava um eu te amo, e a voz feminina que sempre ouvi conselhos e encorajamentos.

Mas agora vejo que tudo isso foi falso. Tudo uma grande farsa. 

Eu me peguei encostada na porta do quarto de Dylan, — quarto no qual já passei noites —, tentando escutar o que tinha lá dentro. Pergunto a mim mesma o que ainda estava fazendo ali. Mas eu não tinha respostas. E passei a não ter ainda mais quando escutei claramente o meu nome saindo nojentamente na voz de Beatrice.

— Scarley está com a mãe dela, Dyl, você sabe que ela não vai te dar atenção como eu. — Ela falou com uma voz irritante e manhosa que eu nunca teria a capacidade de repetir. 

— Tem razão Trice, agora esqueça Scarley. Já basta saber que hoje á noite terei que aguentar o blá blá blá dela e da mãe no pé do meu ouvido. — Escutei uma gargalhada de Trice e logo depois um silêncio considerado perturbador tomar conta do quarto. Minha respiração estava descompensada e eu não conseguia mover os meus pés. Consegui tomar atitude quando os gemidos forçados de Beatrice tomaram conta do quarto.

Forcei minhas pernas a se moverem e corri rapidamente de lá. No saguão atraí olhares de várias pessoas por conta do meu desespero aparente. Peguei meu carro e saí sem rumo e em alta velocidade.

Onde estava a verdadeira Scarley?

Onde estava a mulher forte que cresceu vendo a mãe apanhar e mesmo assim não desistiu dos seus sonhos, hm?

Onde ela estava?

Ela não estava aqui, e talvez nunca tenha estado.

Eu me sentia em uma cena de filme. Aqueles que eu sempre considerei irritantes por terem drama demais, amor demais, importância demais... E mesmo os odiando eu desejei estar dentro deles. Desejei pensar: “isso só acontece em filmes”.

Mas nem tudo acontece apenas em filmes, a realidade está mais próxima do que imaginamos. 

E eu não imaginaria que ela estivesse tão próxima de mim. 

Tão próxima quanto o impacto de um caminhão de quatro toneladas à cem quilômetros por hora na pista contrária.

Tão próxima quanto a destruição.

Tão próxima quanto a dor.

E tão distante quanto a esperança de não ser o fim.


Notas Finais


Os personagens:

Scarley (Cara Delevingne)
Dylan (Simon Nessman)
Beatrice (Kendall Jenner)


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