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História The Pirate King's Dark Shadow - Arco I: Segunda Chance Capítulo: IV


Escrita por: CorvinusCorvus

Capítulo 5 - Arco I: Segunda Chance Capítulo: IV


                                                                                   ☾

A àquela altura da noite a brisa se tornava um pouco mais fria, fazendo os pelos do corpo de Mawaha se arrepiarem com o vento que batia contra suas costas. Micco fez um barulho bem ao topo dos cabelos grisalhos, algo que lembrava um gemido de desconforto ou uma pequena reclamação, Mawaha não pode deixar de sorrir com aquele ato, julgava fofo os pequenos resmungos que o roedor fazia, os murmurinhos quando sonhava e a bagunça que deixava em seu cabelo por mexer de um lado ao outro. Micco era do tipo que falava dormindo, falava não, resmungava e isso era bastante engraçado para a mulher que conseguia o escutar.

“Esse garoto é uma bagunça viu, mas é bem fofinho também.”

Mawaha colocou uma das mãos à frente do roedor que dormia pesado como em um sinal de proteção para que não caísse conforme se levantava do chão. A morena se espreguiçou de um jeito estranho e colocou-se a andar de volta ao navio de ovelha, afundando seus pés entre as areias e as chutando com os dedos. Estava se divertindo com aquele ato bobo.

Assim que subiu ao Merry, Mawaha cogitou a hipótese de conversar com Zoro, mas logo o pensamento foi apagado de sua cabeça, tinha prioridades e uma delas era fazer uma boa xicara de café ou algo para despertar seus músculos e afastar o sono.

Mawaha subiu para a parte de cima do deck, levantando a sobrancelha ao ver o corrimão sem o entalho.

“Deveria consertar isso, tecnicamente foi a minha culpa.”

A mulher olhou para os lados na busca da peça que faltava, mas não a encontrou. Bufou e deu de ombros retornando ao seu caminho principal.

“Enfim, primeiro vamos tomar algo para despertar e depois nos preocupamos com as outras coisas. Prioridades em primeiro lugar.”

A porta da cozinha foi aberta mais uma vez e Mawaha entrou, fazendo o mínimo de barulho possível achando que iria acordar algum dos tripulantes, fechou seus olhos e focou sua audição nos pisos de baixo, ouvindo as respirações calmas, corações batentes e movimentos nas camas e redes.

“Ainda estão dormindo, que bom.”

Mawaha andou em direção a pia e aos armários, procurando algo para aquecer a agua, como um bule ou uma caneca. Abriu e fechou as portas várias vezes, achando as outras coisas que precisaria ao invés de uma caneca. Bufou em frustração e passou a olhar na parte de cima.

“Até que enfim achei esse caralho, se foder.”

Revirou os olhos vendo o pequeno bule de metal. Balançou a cabeça com calma para não acordar o roedor que ainda dormia entre seus cachos e encheu o utensilio com agua da pia. Assim que cheio, Mawaha o colocou sobre o fogão, o acendendo e esperando que a agua esquentasse.

“Será que aquele cozinheiro vai ficar bravo comigo por sair pegando as coisas deles?”

Mawaha balançou a cabeça em negação e foi se sentar na mesa, vendo um jornal sobre a madeira e o pegando em mãos. Passou os olhos rapidamente pelas matérias, mas quase nada chamava sua atenção, apenas uma que falava sobre um corsário que comandava um país em específico.

“Alabasta não é o lugar para onde eles estão indo? Hum...que interessante isso.”

Mawaha fez um bico conforme continuava a passar seus olhos pela matéria.

“[...] Graças aos esforços de Crocodile a três anos atrás, Alabasta se tornou um país sem corrupção e com vasta abundância e prosperidade. Nosso amado corsário, Sir Crocodile, que não polpou esforços para acabar com a família real que por longos anos vinha roubando a chuva de seu povo, Alabasta pode finalmente saborear o ar de liberdade mais uma vez. Suspeito talvez? [...]”

Mawaha riu anasalada.

- Farpas no monsieur Crocodile. – Murmurou e voltou a ler.

“[...] Alabasta é consolidada como uma das maiores exportadoras de tecidos, perfumaria e frutas exóticas em todo o mundo, gerando grandes lucros para o país todos os anos. E não podemos esquecer do grande salto tecnológico que o país teve nesse tempo. Entretanto, existem rumores dizendo que o país passa por problemas financeiros e problemas com a chuva, mas o governo e seu corsário de estimação. Perdão. Sir Crocodile, dizem que isso são apenas boatos gerados por opositores ao novo comando do país conhecidos como Exército Revolucionário. Seguiremos agora com uma declaração de por Sir Crocodile a alguns dias atrás.

“É de conhecimento geral que sempre houve disputas territoriais em Alabasta. Quando cheguei nesse país, fiquei horrorizado com tamanha falta de cuidado com seus habitantes pela seca, mas a primeiro instante não achei que fosse algo tão severo tendo em vista que Alabasta é um pais majoritariamente desértico [...] depois que consegui livrar o belo país da cobra que o circulava e roubava a vida do povo, fui eleito seu novo governante e fiz de tudo para que prosperássemos, mas mesmo dando o meu máximo, ainda sim existem pessoas que não aceitam sua nova realidade. E esses são o Exército Revolucionário. Um exército majoritariamente feito por apoiadores ao antigo regime e que fariam de tudo para manchar minha imagem.

Durante esses três anos, eu dei o meu melhor. Fiz de tudo para que o país tivesse uma nova oportunidade de crescer e se desenvolver. Usei meu renome como Corsário da Marinha para abrir novos caminhos e como vocês mesmos podem constatar, Alabasta segue firme e forte em sua economia e seu povo cresce e prospera. Já é difícil demais viver em um país onde a vida é praticamente impossível de ser vivida normalmente. Tornamos o impossível, possível.

Então peço que não confiem em falsas acusações ou boatos infundáveis vindos ou cedidos pelos Revolucionários[...]”

Seria isso mesmo? Simples simpatizantes do antigo governo que querem destruir a imagem impecável do país? Ou será que Alabasta está sofrendo internamente? Seria Sir Crocodile mais um corrupto no comando do país sendo acobertado pelo governo? Os escândalos envolvendo a falta de chuva, supostas vendas de drogas alucinógenas e pessoas sumindo em um país tão belo como Alabasta? Seria tudo isso mera coincidência ou uma jogada suja de opositores?”

- Parece que esse lugar será bem divertido. – Mawaha sorriu conforme o bule anunciava que a agua já fervia em seu interior. A grisalha se levantou e passou o café, vendo o marrom escuro e avermelhado pingar e escorrer para dentro da caneca que iria usar para beber. Abaixou o coador e o deixou descansando na caneca. -  Até que fiquei curiosa sobre esse tal de Crocodile. Ele parece ser um homem interessante para se brincar. – Sorriu pegando o jornal mais uma vez, o foleando e franzindo a testa.

“Estranho, não tem nada falando sobre a invasão deles naquele lugar ou sobre o sumiço de alguém, ou até mesmo uma recompensa.”

Mawaha olhou a data do jornal.

“É de ontem. Talvez saia alguma coisa hoje, mas ainda sim é algo estranho.”   

Mawaha deu uma olhada de canto vendo o coador já com o pó escuro, colocou o jornal de baixo do braço e tirou o utensilio de cima do copo, o colocando dentro da pia para que escorresse o resto do café dentro do ralo e não sujasse nada. A mulher tomou um pouco da bebida escura e fez uma careta. Tinha queimado a língua. Soprou um pouco o líquido que ondulava dentro da caneca e aproximou os lábios aos poucos, bebendo devagar o café e fazendo outra careta. – Amargo demais. – Colocou a língua para fora.

- Tem açúcar no armário de cima e mel, se você quiser adoçar o seu café, senhorita Mawaha. – O loiro falou com os olhos focados na mulher.

Mawaha quase derrubou o líquido quente no chão e em si, tinha se assustado com a voz repentina. Estava tão concentrada no jornal e em seu café que nem escutou os passos até a cozinha ou o coração batendo. Para que servia uma audição tão boa como a sua se iria ficar se assustando toda hora?

- Aí merda...– Falou trocando a caneca de mão e balançando a suja de café até a pia. Sentia aquela queimadura sobre a pele, mas não doía tanto quanto imaginou e até que era gostosa de certa forma. Mawaha ligou a agua e deixou que caísse sobre a pele. – Que susto que você me deu, Sanji. Nossa, quase tive um troço.

- Perdão, senhorita Mawaha, não quis lhe assustar. – Sanji passou para o outro lado da mulher, tirando a caneca de suas mãos e a colocando na pia conforme abria o armário de cima e tirava um pote de açúcar. – Quantas colheres?

- Hum? – Mawaha fez um barulho com a boca, fechando o registro e olhando para o cozinheiro, percebendo os fios dourados bagunçados ao topo de sua cabeça.

- Quantas colheres de açúcar você gosta de tomar no seu café, senhorita Mawaha. – Sanji repetiu com uma voz suave, sorrindo de canto.

- Não sei, não lembro como gosto do meu café. – Mawaha olhou para a parede a sua frente, colocando a mão molhada sobre o queixo. – Por que você não decide para mim, Sanji? Assim eu posso ter uma base de como eu gosto dele. – Se virou para o loiro e sorriu.

- É uma boa ideia, senhorita Mawaha. – Sanji concordou com a cabeça, pegando uma segunda colher e a colocando sobre os cristais transparentes de açúcar e os levando em um montinho para o café preto. Colocou duas colheres e misturou. – Prove e vê se está de seu agrado.

“Ele está um pouco diferente de antes, não está tão. Qual a palavra?”

- Obrigado. – Agradeceu pegando a caneca das mãos do cozinheiro e tomou um pouco do café, ainda sentindo um amargor em sua boca e fazendo uma careta. Colocou a língua para fora. – Não, ainda amargo.

- Então vamos para mais uma colher. – Sanji pegou a caneca das mãos da mulher e colocou mais uma colherada no líquido, mexendo e passando para grisalha. – Tente agora.

“Gado.”

Mawaha bebeu mais um pouco de café, ainda sentindo aquele gosto intenso, mas um pouco mais doce e equilibrando com o café.

- E então? – Sanji tinha um sorriso nos lábios. – Está de seu agrado?

Os olhos da grisalha focavam no cozinheiro, vendo como tinha um sorriso bonito e como a voz estava mais suave e rouca. Sua mente logo foi puxada para o ocorrido de horas atrás, a fazendo ficar com as bochechas vermelhas.

- O que foi, senhorita Mawaha? Está tudo bem? – Sanji abaixou a cabeça para a mulher, tinha um olhar preocupado.

“Parou com essa putaria aqui. Não, eu me recuso passar por isso de novo.”

Mawaha balançou a cabeça de um lado para o outro tentando espantar o pensamento, preocupando ainda mais o cozinheiro.

- O que foi, senhorita Mawaha? Está se sentindo mal? Teve algum pesadelo essa noite? – Sanji parecia cada vez mais preocupado, se aproximando da mulher que se afastava e ficava com as bochechas ainda mais vermelhas.

“PUTA QUE PARIU, MAWAHA! SE CONTROLA, MULHER!”

A grisalha continuava a chacoalhar a cabeça de um lado para o outro, com os olhos fechados e dando tapas em sua bochecha.

- Senhorita Mawaha! – Sanji segurou a mulher em seus braços, a olhando preocupado e a vendo parar em súbito. – Está tudo bem. – Afirmou com uma voz calma e protetora. – Ninguém irá te machucar aqui, está tudo bem.

“⋆Mawaha abriu a boca algumas vezes, focando nos olhos de Sanji e em seu rosto. Não era alto o suficiente para a fazer se sentir mais baixa, tinham quase a mesma altura, diria que com um centímetro de diferença.

“Não olha. Mawaha, não olha!”

Seus olhos acinzentados desciam devagar pela face do cozinheiro, reparando em tudo. De como o cabelo repartido cobria um de seus olhos, na sobrancelha enrolada, nos olhos claros.

“MAWAHA, PARA DE OBSERVAR ESSE GADO. É SILADA, MULHER!”

No nariz pontiagudo, nas bochechas rosadas.

“É SILADA BINO, ESSE HOMEM É SILADA!”

 De como apertava suas mãos nos braços.

 Escutava seus pensamentos gritando para se afastar, mas não queria. Queria se divertir um pouco mais, provar os lábios de Sanji mais uma vez, mas da forma correta dessa vez. Já tinha provado os de Zoro e constatados que eram macios e que seus beijos eram bem violentos e intensos, fazendo jus ao espadachim. Mas e Sanji? Como seriam os dele? Seriam doces e calmos? Ou seriam capazes de surpreender?

- Senhorita Mawaha. – Sanji falou baixo, apertando um pouco mais os braços da mulher enquanto ela se aproximava inconscientemente.

- O que foi, Sanji? – Mawaha tinha um olhar sedutor em seus olhos, soltando as mãos do cozinheiro e subindo as para o pescoço, tomando todo o cuidado para que o café não caísse. Estavam bem pertos, com os lábios quase se tocando. Mawaha podia ouvir o coração acelerado do cozinheiro e ver o sangue que começava a escorrer do nariz. Sorriu de canto e passou sua língua pelo fio que descia pela boca, subindo até o nariz.

“Puta que pariu, eu vou mesmo pegar o gado? É SERIO ISSO!?”

Sanji segurou a cintura com as duas mãos, a puxando para mais perto, mas foi apenas isso que fez, não aproximou os lábios e só ficou encarando a mulher.

- Não é do tipo que toma iniciativa, senhor cozinheiro? Tem vergonha? – Mawaha falava rente a boca do loiro, mordendo os lábios e sentindo os dedos afundarem em sua cintura. O cheiro de cigarro se misturava com o café, tornando um perfume de pouco agrado para as pessoas e até enjoativo. – Quer que eu te beije de novo? – Mawaha beijou a ponta do nariz do cozinheiro com um sorriso em lábios.

Sanji concordou com a cabeça.

“Hum....cozinheiro safado. Para de dar asa para cobra voar! SE VALORISA, HOMEM!”

- Hum...então você é esse tipo de homem. – Mawaha mordeu a bochecha de Sanji que segurou um gemido. – Que gosta de ser dominado por uma mulher bonita, não é?

Sanji apertou a cintura, subindo seus dedos.

“Sanji...você...”

- Eu quero ouvir você dizer. – Mawaha sussurrou no ouvido do homem, o ouvindo relutar. – Se disser o que eu quero ouvir. Eu te beijo. 

O cozinheiro relutou mais uma vez, resmungando.

- Sanji. – Mawaha chamou com uma voz mais forte, se afastando do homem aos poucos. – Parece que você não quer tanto isso, não é? Então não há motivos [...]

- Eu gosto... – Sanji puxou a mulher por um dos braços, segurando o rosto com a outra mão como em uma caricia em sua bochecha enquanto falava no ouvido. – Eu gosto de ser dominado por mulheres bonitas...

- E é obediente também. – Mawaha sorriu de canto, aproximando seus lábios do cozinheiro. Sentindo a respiração quente sobre a pele, causando arrepios em meio a um beijo calmo e suave. ⋆”

- Senhorita Mawaha? Está me escutando? – Sanji chamou por mais uma vez, puxando a grisalha de volta a realidade. Mawaha balançou a cabeça, apertando os olhos e sentindo uma dor na têmpora.

- Estou, perdão Sanji, acho que acabei sonhando acordada. – Mawaha se afastou do cozinheiro, pegando o jornal do chão e indo o colocar de volta onde o encontrou.

- Não dormiu essa noite? – Perguntou o cozinheiro voltando a pia e começando a lavar os utensílios dentro.

- Pode deixar aí que eu lavo, Sanji, afinal, foi eu quem os sujou. – Colocou a caneca sobre a mesa e se aproximou do loiro que tinha as mangas da blusa puxadas para cima.

- Pode deixar, senhorita Mawaha, você é nossa convidada aqui e seria falta de educação colocar os convidados para trabalhar. – Sanji sorriu para a mulher grisalha que se sentiu envergonhada.

“Puta que pariu mulher! Você acabou de ter um sonho vivido com esse cozinheiro e ainda quer ficar perto dele!? VOCÊ ESTÁ LOUCA!?”

- Tem certeza? Não seria nenhum incomodo para eu ajudar a lavar a louça, principalmente se foi algo que eu sujei. – Mawaha ignorou o pensamento, o afastando para longe.

- Tenho, pode deixar comigo, senhorita Mawaha. – Sanji continuava com aquele mesmo sorriso para a mulher, virando seu rosto para pia.

Mawaha abriu novamente o jornal naquela matéria sobre o corsário e aquilo martelava em sua cabeça. Por que aquele homem era tão importante assim? E que relação tinha com a marinha?

- Sanji. – Chamou a atenção. – Quem é esse tal de Crocodile?

- Hum...- Murmurou o cozinheiro olhando para cima. – Não sei muito bem, senhorita Mawaha. Só sei o que li nos jornais.

“Não sabe?”

- Verdade? – A mulher mordeu os cantos da boca, olhando o chão e pensando. – Mas você não é daqui da Grand Line?

Sanji terminou de lavar a louça, a secar e a guardar cada coisa em seu devido lugar.

- Não, eu sou do North Blue. – Sanji deu uma rápida olhada para grisalha e foi para a geladeira da cozinha pegar algumas coisas para preparar o café da manhã. – Por quê?

- Não, nada, só estava pensando em uma coisa aqui. – Mawaha continuava a morder a parte interna de sua boca, pensativa. Estava curiosa e ansiava por uma resposta que saciasse essa sede por conhecimento ou entendimento e não a receber era frustrante.  

“North Blue? Parece ser um lugar bem longe daqui.”

- Essa foi a primeira vez que tivemos uma conversa mais longa, percebeu isso senhorita Mawaha? – Comentou o cozinheiro colocando alguns legumes e proteínas diversas sobre a mesa.

- Hum? O que? – Mawaha foi tirada de sua nuvem de pensamentos. A matéria do jornal tinha mesmo cativado sua curiosidade junto ao comentário do cozinheiro. Era quase como uma coceira que não parava. – Foi mal, não prestei atenção no que você falou.

O cozinheiro riu.

- Você gosta de viver no seu mundinho particular, não é? – Sanji se virou para Mawaha que tinha a cabeça pendida para o lado e um olhar pensativo. – Eu estava dizendo que essa foi a nossa maior conversa até agora.

- Sério? – Mawaha franziu a testa. – Nem tinha reparado.

- Sim, nas vezes que falamos, você só respondia as minhas perguntas ou éramos interrompidos pelo espadachim cabeça de mato ou quando você estava me beijando. – Sanji parou no instante que falou, causando um silencio constrangedor do comodo. Limpou a sua garganta e voltou a se virar para preparar o café da manhã. 

- Sobre aquele beijo, Sanji [...]

- Não precisa falar nada, senhorita Mawaha. Eu entendo o motivo, não se preocupe. – O cozinheiro falou atropelado e com uma voz aguda. – Agora se me dá licença, tenho que preparar o café da manhã.

- Claro, eu devo estar te atrapalhando, não é? Então se me der licença. – Mawaha pegou a caneca de café e foi até a porta, a abrindo e sentindo o radiar do sol bater em seu corpo.

Era bem provável que seu rosto tinha adquirido uma coloração rosada pela memória da noite passada e piorado ainda mais com aquele sonho vivido de instantes atrás. Queria enfiar sua cabeça dentro de um buraco e nunca mais sair de lá. Porra, estava tendo uma conversa tão boa com o cozinheiro, tinha até esquecido, mas obviamente que aquele maldito incidente proposital tinha que vir à tona.

“Puta merda, pela primeira vez que eu tenho uma conversa agradável com aquele cozinheiro, isso acontece!? Se foder!”

Resmungava mentalmente vendo que seu corpo tinha retornado a forma diurna como da outra vez e com isso Mawaha não viu a necessidade de usar aquela “blusa” improvisada de bandagens e as tirou, enrolando em um bolo nas mãos com certa dificuldade pela caneca.

- Vai derrubar o café se continuar assim. – Disse Micco se esticando sobre os cabelos.

- Te acordei? – Mawaha continuou a enrolar as faixas, as amarrando umas as outras.

- Não, eu já estou acordado a algum tempo, mas estava com preguiça de falar alguma coisa. – Micco se colocou mais a beirada da cabeça, segurando nos cabelos e observando o moreno terminar de as enrolar.

- Verdade? – Falou olhando para as faixas, vendo onde poderia as colocar e torcendo para que o roedor não tivesse escutado nada daquilo.

- É. – Micco ficou quieto por alguns segundos. – E eu meio que vi o sonho vivido que você teve com o cozinheiro. Foi até que bem interessante.

- Shiu. – Mawaha fez um som com a boca. – Não fala nada. Você não viu nada.

- Claro, vou fingir que não vi você imaginando aquele cozinheiro loiro dizendo que gosta de ser dominado. – Micco desceu pelos cachos grisalhos, olhando nos olhos de Mawaha. – E que lá no fundo você quer pegar ele.

- Eu não quero pegar ele, pelo amor! Foi só um sonho vivido oriundo do cansaço e um pouco de estresse acumulado. Nada de mais. – Mawaha bebeu seu café, engolindo o líquido, um pouco mais frio e se engasgando.

- Calma, eu não estou te julgando. Se eu fosse um humano que passou tanto tempo preso como você passou, sem nada para me divertir e tendo meus prazeres negados, obviamente que eu iria querer transar com a primeira pessoa que visse. – Fez uma pausa. – Ou sonharia acordado em fazer ele pedir para ser dominado. – Micco riu com o moreno se engasgando com o café mais uma vez, tossindo e quase colocando os pulmões para fora.

- Micco! – Brigou com o pequeno rato que continuava a rir.

- Vejo que está de bom humor hoje. – Zoro falou encarando o homem de cima a baixo. – Teve um bom sonho essa noite? – Sorriu malicioso e provocativo. – Foi comigo?

- Primeiro o cozinheiro e agora o espadachim? Caralho, Mawaha, você é uma pessoa de gostos duvidosos. – Continuava o roedor em meio as risadas.

- Só um minuto. – Sinalizou com as mãos conforme pegava o roedor e o aproximava de seu rosto. – Micco, volta lá naquela pedra e traz a minha katana para cá. – Enfatizou vendo o espadachim revirar os olhos. – E o caderno que eu devo ter deixado também.

- E como eu vou trazer as duas coisas para cá? Eu só sou um ratinho, não tenho polegares opositores. – Micco comentou erguendo as patas da frente e se sentando entre as mãos.

- Amarre as faixas na katana e no livro e os puxe para cá com a boca. – Mawaha apontou para as bandagens perto do roedor. – Eu sei que você consegue.

- Isso pode até funcionar, mas [...]

- Só vai, Micco, por favor. – Mawaha cortou o roedor, o vendo cerrar os olhos e encarar os dois homens.

- Está bem, eu vou ir lá buscar suas coisas. – Micco colocou as faixas na boca e pulou da mão do moreno quando já estava em uma altura adequada. – Vou dar espaço para vocês dois se pegarem.

- Mais que ratinho filho da puta. – Mawaha estava boquiaberto, soltando o ar de seus pulmões e com um olhar exausto no rosto.

- Você estava falando com um rato? – Comentou Zoro com os braços cruzados e uma das sobrancelhas erguidas.

- Sim, por quê? Tem algum problema com isso? – Mawaha terminou o café e seguiu Zoro até um canto onde se sentaram.

- Nenhum problema, só achei curioso. – Zoro se sentou na parte de cima do deck, onde ficava mais perto da cabeça de ovelha enquanto Mawaha se sentou na parte de baixo da escada, colocando a caneca em um dos degraus. – Você e aquele rato são bem próximos, não são? Lembro que ele estava com você quando te salvamos e depois ele me levou até você lá no meio da ilha.

- Não diríamos que somos próximos, mas sim. – Mawaha ergueu a cabeça para o céu, fechando os olhos e sentindo o calor bater em seu rosto. Não se cansava daquela sensação.  – Se não fosse pelo Micco talvez eu não tivesse saído de lá tão facilmente.

- Nem mesmo com a nossa ajuda? – Zoro perguntou olhando o moreno de cima.

- Não sei. Talvez sim, talvez não. Não tem como saber. – Mawaha abriu os olhos e pendeu a cabeça para o lado. – Mas de uma coisa eu sei, sou grato por ele ter me ajudado, se tivesse que passar mais um dia naquele lugar, provavelmente eu iria perder a minha cabeça ou me matado. Dos males, o menor.

- Hum...- Resmungou o espadachim ainda olhando o moreno que sorriu fraco e abaixou a cabeça, cutucando seus joelhos. Não sabia o que dizer naquele momento para aliviar o peso, as palavras de Mawaha eram bastante sombrias, mas eram ditas de forma tão natural que passavam a ser tristes.

- Acabei de lembrar de uma coisa importante. – Falou o grisalho subindo a cabeça e olhando para Roronoa que ainda o encarava, o fazendo ficar constrangido. – O que foi? Está me encarando por quê? – Cobriu a frente do peito com as mãos. – Pervertido.

- Do que você se lembrou, Mawaha? – Zoro falou calmo ainda prestando a devida atenção no grisalho. – Alguma coisa do seu passado?

- Não, isso não. – Franziu a testa. – Você. – Apontou para o espadachim. – Você não me contou sobre essa enorme cicatriz no seu peito.

Zoro olhou para baixo, para a blusa e riu anasalado.

- Disse que iria me contar ontem, mas nada. Ficou só enrolando. – Continuou o moreno ainda com a testa franzida. – Vai me contar ou não?

- Eu não fiquei te enrolando, não. Coisas mais importantes aconteceram ontem que eu nem me lembrei disso. – Zoro apontou para a própria boca, vendo o moreno pender a cabeça para o lado e a expressão mudar para uma envergonhada e indignada. O espadachim riu da careta.

- Espadachim pervertido. – Comentou balançando a cabeça em negação.

- Está bem, eu vou te contar a história dessa cicatriz. – Zoro sorriu de canto, se ajeitando no chão e fechando os olhos. – Antes de virmos para a Grand Line, lá no East Blue onde pegamos aquele cozinheiro tarado, eu encontrei uma pessoa. Um homem incrivelmente forte. – Tocou a cicatriz que aparecia pela gola da blusa. – Seu nome era Mihawk olhos de Gavião. Ele é atualmente o maior espadachim do mundo e eu achei que poderia o enfrentar, então o chamei para um duelo e bom, o resultado não pode ser outro. Mihawk me derrotou e me deixou quase morto e essa cicatriz é uma lembrança de como eu ainda estou distante de realizar o meu sonho. Preciso ficar mais forte se o quiser derrotar.

- Por que você chamou um homem que claramente era mais forte do que você para um duelo? O título dele já não mostrava o tamanho da força? – Mawaha pendeu a cabeça para o lado confuso.

- Títulos são apenas títulos, Mawaha. Nesse mundo existem pessoas incrivelmente fortes sem nenhum título para mostrar isso, tanto quanto existem pessoas fracas que usam títulos de imponência para causar medo nos outros. – Zoro falou em um tom macio de voz. – Mas você está certo, eu sabia que estava longe dele no quesito força, mas não sabia que era tanto assim. – Sorriu pela cicatriz. – Mesmo sendo mais fraco em relação a ele, eu queria testar minhas habilidades, pois é só enfrentando um adversário mais forte e poderoso do que você que terá uma noção de quanto ainda é preciso melhorar. Sem adversários fortes para serem superados ou obstáculos, qual o sentido de se tornar forte?

- Isso parece papo de gente suicida, você sabe disso, não é? – Brincou Mawaha.

- Diz a pessoa que a meio instante atrás cogitou a hipótese de morrer caso não conseguisse sair daquela prisão. – Respondeu o espadachim.

- Me pegou. – Mawaha sorriu de canto, juntando os joelhos e repousando a cabeça entre eles enquanto encarava o homem. – Você falou que existem pessoas com títulos fortes e que impõem medo, mas no final das contas não passam de fracos. Isso se aplica aos Imperadores do Mar também ou eles são realmente fortes?

- Eles são fortes mesmo. – Luffy se juntou a conversa, se catapultando para cima do corrimão, sorrindo largo para Mawaha. – Bom dia, Mawaha.

- Bom dia, Luffy, dormiu bem hoje? – O grisalho sorriu de volta para o do chapéu de palha que balançava a cabeça.

- Uhum, e você? Dormiu bem essa noite? – Luffy desceu ao chão e se sentou perto de Zoro, ficando em um ângulo onde conseguia ver o grisalho.

- Eu não gosto de dormir, Luffy, por isso não o faço. – Mawaha riu anasalado pela careta feita por Luffy. – Mas obrigado por perguntar.

- Hã? Mas dormir é tão bom, você pode sonhar com várias coisas e relaxar o seu corpo. Pode até sonhar com um montão de carnes!  - Luffy dizia indignado com a resposta recebida. – Não gosta de dormir, que absurdo! Você tem que gostar de dormir sim! Faz bem para saúde.

- Ei, Luffy, não é algo tão simples assim. – Zoro se juntou a conversa, dando um peteleco na testa do capitão.

- Como não, Zoro? É só fechar os olhos quando se sentir cansado e dormir! É algo até que simples. – Continuou a falar ainda mais indignado, fazendo Mawaha rir mais ainda com as falas do pirata. – Está decidido. – Luffy falou alto, apontando para o grisalho que limpava o canto dos olhos. – Você vai dormir comigo, Mawaha. Toda à noite, a partir de hoje.

- O que? – Mawaha dizia em meio as risadas que iam se acalmando. – Luffy, isso não é uma boa ideia.

- E por que não? – Perguntou o capitão cruzando os braços. – Dizem que dormir com alguém que você gosta ajuda a relaxar ainda mais o corpo.

- Não é tão simples assim, Luffy. – Mawaha bufou ainda com um sorriso nos lábios. – Ele é sempre assim? – Perguntou para o espadachim que concordava com a cabeça.

- É simples sim! Você vai dormir comigo a partir de hoje, Mawaha. – Continuou Luffy, abrindo um sorriso ou ver o grisalho levantar as mãos em sinal de rendição.

“Às vezes eu esqueço como é difícil discutir com o Luffy.”

Mawaha revirou os olhos e voltou a apoiar sua cabeça entre os joelhos.

- Então quer dizer que eles são realmente fortes, não é? – Mawaha murmurou com um sorriso no canto dos lábios.

- Sim, fortes para um caralho. – Luffy sorriu junto com o grisalho. – Até a marinha reconhece o poder deles.

“Interessante. Pessoas poderosas que causam medo até mesmo na marinha. Parece divertido isso.”

- Você está com aquela mesma expressão de antes. – Comentou Zoro, puxando o grisalho de seus pensamentos.

- Que expressão? – Mawaha franziu a testa.

- De que está planejando algo. – Zoro focou no grisalho enquanto Luffy os olhava sem entender. – Não está pensando em puxar briga com um deles, está?

- Claro que não, eu não sou doido. – Mawaha riu anasalado. – Posso ser forte e ágil, mas sei reconhecer meus limites.

- Hum. -  Murmurou o espadachim.

- Só estava pensando que isso parecia divertido, todo esse lance de marinha, governo mundial e imperadores do mar. Essa briga sem sentido que só faz terceiros sofrerem. Só isso. – Mawaha se levantou do chão quando um ruido chegou em suas orelhas. – Não sou do tipo de gente que puxa briga para defender a causa de milhões, Zoro. Só entro em uma quando quero algo em troca. Não sou altruísta.

- Do que vocês estão falando? – Luffy continuava a olhar os dois homens perdido no assunto.

- Não é nada, Luffy. – Mawaha subiu no corrimão do navio, olhando para baixo e vendo Micco pulando e sinalizando para o grisalho. – Apenas esqueça, foi só um erro de interpretação do Zoro, nada demais.

Mawaha pulou para a orla, pegando a katana, o livro e colocando Micco de volta em seus cabelos. Voltou para dentro do Merry, descendo do corrimão e voltando a se sentar.

- E o que vocês vão fazer hoje? – Perguntou com uma das mãos sobre a cabeça, fazendo uma caricia no roedor ao topo.

- Partiremos para Alabasta, já ficamos bastante tempo nessa ilha e provavelmente despistamos qualquer navio da marinha que estivesse nos seguindo. – Luffy se espreguiçou e se levantou, sendo seguido por Mawaha. – Daremos continuidade para a nossa jornada. – Sorriu.

- Então finalmente iremos para essa tal Alabasta? Hum...interessante. – Mawaha esboçou um sorriso pegando a caneca vazia das escada.

- Também está animado para ir? – Luffy tinha olhos brilhantes conforme andava de costas.

- Confesso que uma coisa me chamou a atenção sobre esse país. – Mawaha olhava para o de chapéu de palha, intrigado como conseguia andar daquele jeito e não tropeçar.

- E o que foi? – Subiu as escadas para a cozinha, de costas.

- Algo que li no jornal mais cedo, talvez aquela matéria tenha sido um pouco sensacionalista, mas ainda assim conseguiu despertar uma curiosidade. – Mawaha olhava para os degraus que o garoto subia, subindo uma mão com sinal para o ajudar. – Vai cair se continuar a subir desse jeito.

- Nah, não se preocupa com isso. – Luffy sorriu e foi em direção a cozinha sendo acompanhado pelo grisalho. – Mas o que a matéria dizia?

- Você não leu o jornal que estava em cima da mesa? – Mawaha tinha um olhar.

- Não gosto de ler, acho entediante. – Abriu a porta da cozinha, dando as costas para Mawaha e pondo sua atenção no cozinheiro concentrado. – Ei, Sanji! O café da manhã está pronto?

“Ele não gosta de ler? Mas é tão interessante ler e divertido. Mas tanto faz, não vejo problema em contar para ele. É divertido conversar com o Luffy.”

Mawaha deu de ombros.

- Ainda não Luffy. EI! PARA DE PEGAR AS COISAS! – Gritou Sanji ao bater nos braços que esticavam e atacavam as comidas parcialmente prontas sobre a mesa de madeira. – TODO DIA ISSO, LUFFY!

- Mas, Sanji, eu tô com fome. – Falava o do chapéu de palha encolhendo os braços a cada tapa que recebia

Mawaha riu anasalado vendo a bagunça que era cozinhar com Luffy por perto, O garoto parecia um saco sem fundo de fome.

- Ah, senhorita Mawaha, você está aí? – Sanji empurrava Luffy para longe, mas tinha seu olhar voltado para o grisalho. Sua voz era fina e idêntica as vezes anteriores que falou com o cozinheiro.

“Aí está, esse é o cozinheiro que eu me lembrava. O gado por mulher.”

- Então esse é o gosto para homens? Que interessante, isso diz muito sobre a sua personalidade. – Micco comentou sobre os fios.

- Calado. – Murmurou para o roedor. – Ah, sim Sanji. – Sinalizou com a caneca em uma das mãos. – Vim lavar ela.

- Ah, não se preocupe com isso, senhorita Mawaha, pode deixar dentro da pia que eu lavo para você. – Sanji continuava a dizer com o mesmo tom de voz, tendo seu corpo passado por Luffy que continuava a devorar algumas comidas prontas. – EI, LUFFY!

Mawaha riu anasalado com a cena e foi direto até a pia, revirou os olhos em diversão e pôs se a lavar a caneca, ligando a agua e o ensaboando.

- Eu disse que podia deixar aí dentro para lavar, senhorita Mawaha. – O loiro tirou a caneca ensaboada das mãos do grisalho, passando para as suas enquanto tentava afastar o capitão com suas pernas.  

O toque repentino das mãos do cozinheiro fez um choque ser sentido sobre a pele do moreno, um choque que subiu até sua espinha, causando um arrepio.

“Ei, ei, ei! Parou com isso!”

-  Hum...... - Micco provocou.

- Sanji! Eu estou com fome. – Luffy chamou.

- Se continuar comendo a comida desse jeito, o café da manhã vai demorar ainda mais para ficar pronto! -  E Sanji brigou mais uma vez com o capitão.

- Eu acho melhor levar o Luffy lá para fora, ele está te atrapalhando aqui, né? – Mawaha limpou a garganta junto com as suas mãos ensaboadas, as passando de baixo da agua e secando em um pano do lado. O grisalho se aproximou do capitão do navio, tocando em seus ombros. – Vamos Luffy, ou o Sanji vai ficar bravo e o café da manhã irá demorar ainda mais para ficar pronto. – Olhou para o cozinheiro. – Não é, Sanji?

- Exatamente como a senhorita Mawaha falou. – Confirmou o cozinheiro.

- O que?? – Reclamou.

- Vem, vamos indo para outro lugar, Luffy. – Puxou o de chapéu de palha. – Por que não me mostra o navio? Assim, caso eu aceite a sua proposta, já vou saber onde estão as coisas.

- Serio mesmo? – Luffy mudou completamente de postura em questão de segundos. Suas prioridades tinham mudado. O capitão sorriu largo e saiu puxando o grisalho para fora da cabine.

                                                    

                                                       Alguns Dias Depois

Os chapéus de palha se divertiam dentro do navio de ovelha, fazendo uma “pequena reunião” que estava mais para uma festa cheia de boa comida, bebida e brincadeiras vindas da parte de Luffy, Chopper e o Ussop. Mawaha era o único mais afastado, apenas observando eles se divertirem e rirem alto. Não era como se não gostasse da companhia deles, mas tinha adquirido uma aversão a multidões ou lugares onde pessoas ficavam muito reunidas, se sentia um pouco desconfortável e exausto com toda a energia envolta.

Mawaha foi mais para a frente do navio, se sentando perto da cabeça de ovelha e olhando o mar a sua frente e abaixo de seus pés descalços. A brisa que batia entre seus dedos e a agua salgada que espirrava faziam cócegas em suas solas e lhe davam uma sensação de estar andando sobre o céu, pisando sobre as nuvens e as aguas, como se pudesse as controlar ou tivesse tal poder. Ouvia o som de tudo abaixo do Merry, não só os chapéus de palha, mas sim dos peixes que passavam por baixo do casco de madeira ou das feras imensas que ficavam bem mais abaixo da superfície, só esperando uma oportunidade ou um navio desavisado para atacar e o levar para o leito do profundo mar azul. Era assustador as vezes, pois via eles em sua mente como se estivesse frente a frente, mas não deixavam de ser bonitos os famosos reis dos mares, todos de cores, formas e tamanhos diferente. Aquilo disparava sua curiosidade de tal maneira que se não tivesse medo do mar, pularia nas aguas escurecidas pela noite e nadaria com eles. Morrer? Que se foda o medo de morrer para as presas afiadas de um rei do mar, isso não se comparava nada com a sua curiosidade avassaladora e necessidade de saber.

Sua mente era como um jarro gigantesco que nunca era enchido por completo, sempre faltava alguma coisa, mais um pouco de conhecimento, saber ou ânsia por saciar os mistérios daquelas águas. Seus olhos estavam fechados, mas sua mão trabalhava com afinco sobre as folhas brancas do diário que escrevia, desenhando cada traço correto de cada animal ou ser gigantesco que passava em sua frente. Não precisava de olhos para ver se o desenho estava certo, só precisava escutar e ver com os ouvidos. Só isso.

- Se continuar na beirada desse jeito, vai cair na agua e virar comida de Rei do Mar. – Zoro puxou Mawaha para a realidade com a sua voz.

- Está me atrapalhando a desenhar, Zoro. – Mawaha esboçou um sorriso ainda com os olhos fechados e terminando de fazer um último traço. – Fica de boquinha fechada enquanto eu termino.

- Está desenhando o que? – Zoro perguntou se escorando do lado da de cabelos grisalhos, escutando um barulho sonoro de S vindo dos lábios da mulher. Cruzou os braços a frente do corpo e ficou olhando as mãos escreverem algo que não entendeu.

- Pronto. – Mawaha abriu os olhos e olhou para o desenho feito que cobria duas páginas do diário junto das escritas a sua volta.

- E o que é? – Novamente perguntou.

- Não está vendo? É um Rei do Mar que acabou de passar por baixo do Merry. – Mawaha mostrou o caderno para o espadachim que franzia a testa em dúvida. – Não acredito que esse tenha sido o maior que já passou por aqui essa noite, mas foi o que mais me chamou a atenção. – A grisalha olhava para o desenho junto ao espadachim. O desenho tenebroso de um dos Reis do Mar, com presas afiadas e boca aberta mostrando as dúzias de fileiras de dentes, olhos esbugalhados e brancos por completo, com um corpo sinuoso e escamas postas para fora, com pedaços de animais mortos presos a elas, sendo arrastados pelo mar conforme se mexia entre as aguas, as gengivas expostas e com buracos de onde saiam pequenos parasitas semelhante a peixes pilotos presos aos tubarões. Mawaha tinha um brilho estranho nos olhos.

- Bizarro. – Comentou o espadachim com um olhar de nojo e medo misturado nos olhos. – Você está inventando isso, não está?

Mawaha revirou os olhos e fechou o caderno, o guardando dentro do bolso e repousando sua cabeça no braço apoiado sobre sua coxa.

- Por que você não acredita quando eu falo que posso ver as coisas de baixo do oceano? Tirando o Luffy e o Chopper, o resto da tripulação nunca acredita. – Murmurou.

- Hum? Disse alguma coisa? – Zoro bebeu um pouco do rum dentro do copo que tinha em mãos, voltando seu olhar distraído para a grisalha que suspirava.

- Nada, eu não disse nada, Roronoa Zoro. – Mawaha fechou os olhos e suspirou de novo. Estendeu sua mão e pegou o copo do espadachim, bebendo sua bebida.

- Ei! Se esta com vontade, vá pegar a sua própria bebida! – Brigou o de cabelos verdes, puxando o copo de volta para sua mão e vendo Mawaha lamber o canto da boca. – Mal-educada.

- Resmungão. – Virou seu corpo para dentro do navio, vendo a festa ainda continuar, a fazendo sorrir com toda aquela comemoração. Já estavam a dias em alto mar e até aquele momento da festa estava ficando entediada com as mesmas coisas que via e fazia. A rotina era sua pior inimiga, mas graças a Luffy e aos outros que sugeriram aquela “pequena reunião”, seu tedio foi morto como o de todos os outros.

- Por que não se junta aos outros ao invés de ficar aqui isolada? – Perguntou o espadachim bebendo mais um pouco do álcool. – Não se sente solitária?

- Nem um pouco, prefiro ficar aqui no meu canto só vendo vocês se divertirem de longe e conversando com alguém as vezes. – Mawaha pendeu mais ainda sua cabeça com um sorriso no rosto. – Não sou do tipo que curte multidões ou a animadora das festas. – Esticou as costas. – Ficar e observar de longe é mais o meu estilo.

- Você é bem introvertido, não é? – Comentou o espadachim vendo o roedor no meio de todos, brincando com Chopper. – Até mesmo o seu hamster de estimação está se divertindo.

- Ele é um rato, espadachim disléxico, não um hamster. – Falou Mawaha bocejando.

- Eu sei que ele é um rato, não precisa me corrigir. – Zoro bateu com a bunda do copo contra os cabelos grisalhos.

- Idiota. – Murmurou ainda sorrindo vendo Luffy se aproximar dos dois com Micco em suas mãos e com um largo sorriso no rosto.

- Ei, Mawaha! Você tem um amigo bem interessante aqui, sabia? – Dizia entre risadas junto do roedor que ria ou grunhia junto. – Esse carinha sabe se divertir.

- Eu estou vendo. – Mawaha estendeu a mão para Micco que pulou das do chapéu de palha. – Você está cheirando a álcool, Micco. Está bêbado por um acaso?

- Noope...eu estou bem. – Disse o ratinho entre soluços, fazendo a grisalha rir anasalada.

- Certo, certo, vou fingir que acredito nessa sua afirmação. – Mawaha o colocou deitado sobre suas coxas, vendo os olhos brilharem do capitão do navio conforme os levantava.

- É tão incrível isso, Mawaha! Você entende realmente ele, não é? – Luffy tinha um largo sorriso nos lábios e olhos dourados de curiosidade. -  Como você consegue entender o que ele fala!? Será que você é tipo o Chopper!? Comeu alguma Fruta do Diabo e conseguiu essa habilidade!?

- Se eu tivesse comido alguma Fruta do Diabo como você ou o doutor Chopper, eu não poderia entrar nas aguas do mar, não? – Mawaha respondia com um sorriso no rosto vendo Luffy contorcer a cara com a resposta. – Posso ter medo da água, mas ainda sim consigo nadar.

- Você tem razão. – Luffy fazia uma careta. – Então como consegue entender o que ele está falando?

- Não sei. – Deu de ombro, rindo anasalado com a careta. – Eu só consigo.

- Isso não é resposta. – Bufou Luffy.

- Vejamos. – Mawaha coçou o queixo e depois a nuca. – Quando o Micco fala comigo é quase como um sussurro baixo e no fundo da cabeça que assim que é pego pelo meu cérebro, ele aumenta e eu consigo o escutar. – Franziu a testa vendo o do chapéu de palha pender a cabeça para o lado. Não estava entendendo nenhum pouco da explicação e Mawaha também não estava conseguindo direito. Coçou a nuca. – É difícil de explicar, Luffy, pois nem eu sei como que isso funciona, mas eu prometo que quando tiver uma resposta, eu vou te contar.

- Promete? – Perguntou Luffy ainda com a cabeça pendida para o lado e com os braços cruzados a frente de seu corpo.

- Claro. – Mawaha sorriu para o garoto enquanto Zoro permanecia os observando. – Eu também estou curioso para saber o que é [...]

[...] Estou aqui [...]

- [...] Isso. – Mawaha franziu a testa e virou seu rosto com tudo para suas costas, olhando o mar de um canto ao outro.

- O que foi, Mawaha? – Perguntou Luffy com os olhos em Mawaha que olhava para o mar.

- Vocês isso escutaram? – Perguntou a grisalha ainda com os olhos no horizonte do oceano. –Perdão, eu quis dizer se vocês escutaram isso. – Franziu a testa.

- Escutou o que? – Luffy continuava a olhar para frente com a cabeça pendida para um dos lados.

- Foi tipo um sussurro no ouvido, mas ao mesmo tempo foi quase como um grito que veio da frente.  – Mawaha voltou a olhar para os dois homens sem entender o que estava querendo dizer.

- Não, eu não escutei nada. – Falou Zoro vendo o copo vazio. – E você Luffy?

- Também não. – Respondeu o do chapéu de palha. – Tem certeza de que escutou algo?

- Uhum, e foi estranho, como se estivesse perto e longe ao mesmo tempo. – Mawaha continuava com a testa franzida, tocando suas orelhas e sentindo um arrepio subir pela coluna. Bufou e balançou a cabeça. – Não, devo estar escutando coisas por causa da bebida.

- Deve ser mesmo. Você não faz do tipo que bebe, certeza que é fraquinha para bebida. – Provocou Zoro vendo a mulher lhe mostrar o dedo do meio.

- Vocês dois são engraçados juntos. – Riu Luffy com a cena.

- É esse espadachim idiota! Ele gosta de me provocar e encher o meu saco [...]

[...] Venha até mim [...]

Mawaha se levantou rapidamente da beira de Merry com Micco em mãos e subiu na cabeça de ovelha, olhando para os lados rapidamente e para frente.

- De novo, eu escutei de novo. – Falou com um olhar serio em seu rosto, apertando seus dentes sentindo uma angústia abater seu peito.

- De novo, deve ser efeito do álcool. – Comentou Zoro olhando para a mulher a sua frente.

- Não, não é. – Mawaha murmurou, fechando seus olhos e tapando os ouvidos.

“Vamos, Mawaha, se concentre. Tente achar novamente essa voz.”

Respirou fundo, puxando o ar com força pelas narinas e depois o soltando pela boca.

“Vamos.”

Dessa vez não escutou a voz que parecia estranha e distorcida. Não. Foi uma sensação bem forte em seu peito e corpo, um arrepio dos pés a cabeça e uma sensação amarga na boca que vinha com um cheiro de areia e ventos quentes.

- Lá! – Apontou para frente, abrindo os olhos. – Está vindo daquela ilha lá na frente.

- Ilha? Que ilha? – Luffy subiu na cabeça de ovelha junto de Mawaha, colocando seu corpo para frente e apertando bem os olhos. – Não estou vendo nada.

Mawaha tinha um olhar serio no rosto, apertando seus dentes com força.

- Ei! Ussop! – Chamou o atirador que respondeu ao fundo. – Vê se estamos perto de alguma ilha.

- Okay. – Respondeu o atirador em meio a risadas, subindo no mastro do navio.

- Eu tenho certeza de que estamos perto de uma ilha, Luffy. Não consegue ouvir? – Mawaha perguntava tapando os ouvidos e apertando os olhos. – Não consegue os ouvir?

- Do que está falando, Mawaha? Ouvir o que? – Luffy franziu a testa, ficando preocupado com Mawaha que se abaixava na cabeça de ovelha, apertando os ouvidos com força. – Ei! Mawaha!

“Dói!”

- Alto! Está muito alto! – Mawaha continuava a falar, apertando ainda mais seus ouvidos.

- Mawaha? O que foi? – Micco perguntava tocando nos cabelos grisalhos.

- Eu os estou ouvindo! – Bateu com a testa na madeira e com lagrimas nos olhos.

“Está doendo demais! Faça parar!”

- Ouvindo o que Mawaha!? Ei! – Luffy dizia preocupado, tocando nas costas de Mawaha e olhando para Zoro.

- Mawaha! – Micco chamava junto a Luffy.

- O que foi Luffy? – Perguntou os outros que se aproximavam dos três, todos com olhares preocupados nos rostos. A comoção tinha chamado a atenção.

“Faça parar!”

Mawaha gritou com a dor em seus ouvidos, batendo ainda mais a cabeça contra o chão e com os olhos cheios de agua.

- O que foi senhorita Mawaha!? – Perguntou Sanji junto a Nami.

- Chopper, ajuda aqui! – Chamou Luffy puxando Mawaha para baixo e a deitando no chão, a vendo se contorcer e o nariz começar a sangrar. – Mawaha!

- Mawaha! – Todos falaram se juntando ao entorno da grisalha.

“Os faça calar a boca! Estão gritando e arranhando!”

- FAÇA OS CALAR A BOCA! – Mawaha gritou mais uma vez, apertando ainda mais o seu corpo no chão, sujando os cabelos grisalhos com o sangue que não parava de escorrer do nariz.

- Chopper, faça alguma coisa! – Falou Zoro.

- O que está acontecendo!? – Perguntou Nami em preocupação. – Luffy, o que aconteceu?

- Não sei, nós estávamos conversando e brincando quando de repente o Mawaha ficou assim, dizendo que estava escutando uma voz estranha. – Falou Luffy segurando os braços de Mawaha.

“Estão gritando! Gritando para caralho! Vão fazer minha cabeça explodir desse jeito!”

- Ela está dizendo que estão gritando. – Falou Micco para Chopper. – Gritando tão alto que parece que a sua cabeça vai explodir.

- Quem está gritando, Micco? Como assim? – Perguntou o médico rena para o ratinho.

- Como assim, Chopper? – Perguntou Sanji. – Quem está gritando?

- A Mawaha? – Chopper perguntou para Micco que discordava com a cabeça.

- Não, não a Mawaha. Outra coisa! Tem alguma coisa gritando dentro da cabeça dela! – Falou Micco.

“Faça os calar a boca! Eu não consigo respirar!”

- Ela está dizendo que não consegue respirar por conta disso. – Micco falava para a rena.

“Está tudo girando! E as [...]

-[...] Vozes não param! Estão pedindo ajuda. Gritando por socorro! – Continuava Micco.

- Que vozes, Micco!? – Luffy pegou o roedor em mãos.

- Terra a vista! – Gritou Ussop de cima do mastro.

“Dos [...]”

Grunhiu Micco.

- O que quer dizer com isso, Micco? – Perguntou Chopper sem entender.

- O que foi Chopper? O que ele disse? – Sanji perguntou.

- Tem certeza de que ela disse isso? Certeza absoluta? – Continuou o médico rena vendo o pequeno rato concordar com a cabeça

- Chopper! – Chamou Zoro.

- Corações. – Falou Chopper. – O Micco disse que a Mawaha está escutando os corações da ilha inteira, como se estivessem gritando e arranhando!

- Corações? – Luffy olhou para o mar a frente, vendo a ilha se mostrar no horizonte.

- É Alabasta. – Falou Nami com o Eternal Pose em mãos. – Chegamos em Alabasta.

- Ei, Micco! Está me dizendo que o Mawaha está escutando os corações de toda a ilha!? – Luffy balançava o roedor em mãos.

- Ele disse que sim e disse que está ficando cada vez mais alto também! – Continuou o médico.

- Como isso é possível? Tem certeza de que escutou certo? – Perguntou Sanji.

- Não é hora para isso, primeiro temos que resolver esse problema. – Zoro apontou para o chão. – Ela não pode continuar assim.

- O Zoro tem razão, não podemos deixar a Mawaha desse jeito. – Concordou o médico chegando perto da grisalha. – Me ajudem a levantar ela e a levar lá para baixo.

Sanji e Zoro se aproximaram da grisalha, segurando seu corpo e o puxando para cima.

- Me soltem... – Mawaha falou cortado, se afastando dos dois homens e quase perdendo o equilíbrio.

- Senhorita Mawaha! – Falou Sanji.

- Mawaha! – Seguido dos outros.

- E-ei! – Luffy soltou o ratinho e tentou segurar Mawaha que balançava de um lado para o outro. – Mawaha...

- Fiquem quietos...- Murmurou tossindo um pouco de sangue que tinha entrado em sua boca devido ao nariz.

-  Mawaha, é melhor ficar deitado. – Falou Nami tocando no ombro da grisalha que ignorava e tentava subir de volta a cabeça de ovelha.

Mawaha tropeçava nos próprios pés e se não fosse por Luffy ou pelos outros, já teria caído várias vezes no chão. Estava tonta e com os olhos cheios de agua pela dor, mas ainda sim continuou a subir e a se colocar bem em cima da cabeça.

- E-ei...- Falou Luffy.

Mawaha puxou bastante ar pelo nariz, o máximo que conseguiu, inflou seus pulmões e gritou a pelo ar.

- CALEM A PORRA DA BOCA!

Seu grito fez com que todos ficassem quietos no navio, olhando uma para o outro e sem entender.

O silencio perdurou por alguns poucos segundos.

- E-ei, senhorita Mawaha [...]

- EU MANDEI FICAREM QUIETOS! – Gritou mais uma vez, com mais força e entonação. Sua voz parecia um rugido de tão forte que era. – SE QUEREM SEREM SALVOS OU SE QUEREM PEDIR AJUDA, PRIMEIRO ME DÊEM UMA COISA DE VALOR! – Continuou. – EU NÃO SOU A PORRA DE UM ALTRUISTA QUE OS IRÁ AJUDAR DE BOM GRADO!

Depois disso, Mawaha sentiu os gritos pararem e sumirem assim como suas forças, a fazendo quase cair ao chão, sendo segurada por Luffy.

- Mawaha! – Falou o do chapéu de palha em desespero.

“Finalmente, o silencio.”

Mawaha aos poucos fechou os olhos e sorriu de canto.

- Malditos corações egoístas e cheios de ódio...- Murmurou sorrindo fraco antes de apagar por completo.

“Tão venenosos e sedentos por sangue. Ah como isso me deixa animado.” 


Notas Finais


Nossa jornada chega a uma pequena pausa, meus caros companheiros.

Subirei em seu navio no próximo mês, quando a lua refletir as aguas em um brilhou prateado e inabalável.


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