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História The Pirate King's Dark Shadow - Arco IV: Aventura Mortal. Capítulo XXI:


Escrita por: CorvinusCorvus

Capítulo 22 - Arco IV: Aventura Mortal. Capítulo XXI:


- Robin, você tinha dito que o leito principal estava na nossa frente? – Nami virou seu rosto para frente, encarando a montanha. – Quer dizer aquilo!?

- Os outros navios devem estar aguardando nos outros leitos. – Robin se debruçou no corrimão, apontando para o ponto mais alto da montanha. – A largada fica no topo da montanha.

- Espera um pouco. – Nami se voltou para a arqueóloga. – Você está dizendo que nós vamos subir a montanha!?

- Isso mesmo. – Robin concordou com a cabeça. – Igual o que vocês fizeram na Reverse Mountain, não?

- Sim, mas, naquela época, havia uma enorme correnteza [...]

- E aqui também. – Robin respondeu com um sorriso. – Uma vez a cada poucos anos, uma forte corrente reversa acompanhada de muito vento chega à ilha. É isso que vamos usar. – Seu canto de olho capturava uma movimentação feita pelo cozinheiro que se aproximava com as mãos juntas.

- Eu entendi a teoria, mas... – Nami era descrente ainda com o Eternal Pose em mãos.

- Então a largada é misteriosa! – Luffy dizia sorrindo e com o corpo relaxado.

- Nada disso. – Ussop deu um pequeno tapa na barriga do capitão. Soltou um bufar conforme olhava a navegadora. – Ei, você tem certeza disso? Da última vez, nosso navio quase se arrebentou, lembra?

- Está tudo bem! Nós vamos dar um jeito. – Luffy falava com um largo sorriso no rosto.

Um movimento vindo do outro navio grudado ao dos Chapéus de palha chamou a atenção da tripulação. Crocodile tinha passado para o Going Merry, com seu olhar de superioridade e semblante assustador.

- O que você está fazendo no nosso navio, crocodilo de merda? Você tem a sua banheira. – Sanji dizia em um rosnado, junto a Zoro que se preparava para qualquer ação que o homem pudesse tomar.

- Essa corrida aceita apenas um navio por tripulação. O que acham que vai acontecer caso vocês apareçam com um segundo navio? – Permanecia com o olhar de superioridade conforme seu navio desaparecia com a mesma tecnologia usada em Alabasta, mas não passando para o Going Merry devido a uma rachadura no aparelho que juntava os dois navios. – Querem arriscar serem desclassificados? Se estão nessa corrida ridícula, é porque estão desesperados para ter algo. Estou errado?

Os chapéus de palha franziam a testa vendo o homem com o olhar superior.

- Você poderia ficar no seu buraco de crocodilo, não acha? Seria melhor do que ter um homenzinho tão repulsivo como você pisando no nosso navio. – Sanji continuava a falar, provocando o corsário com suas palavras.

- Não é só porque você virou um cãozinho treinado da Mawaha que vamos deixar que você faça o que bem entende por aqui. Você tem a sua casinha de cachorro, então volte para ela e espere seu dono chamar. – Zoro seguiu o cozinheiro, desembainhando sua espada.

- O que disse!? – Crocodile olhava com mais ferocidade para os piratas, com uma voz rouca e arrastada.

- É exatamente o que esse marimo de merda disse. Não precisamos de um cãozinho treinado aqui. Se precisarmos que dê a patinha, pediremos. Mas enquanto isso não acontecer, volte para casinha com o rabinho entre as pernas. – Sanji continuava com os insultos.

- Sanji! Zoro! – Nami falava erguendo uma das mãos, engolindo a seco, sentindo a tensão no ar. – Ei, Luffy! Faça alguma coisa.

- Não acham que estão contando com a sorte? Posso ter um acordo mútuo com o companheiro de vocês, mas isso não quer dizer que eu não tenho liberdade para fazer o que eu bem entender. – Crocodile continuava com o olhar para os chapéus de palha, apoiando sua mão direita sobre o corrimão do navio. Tinha seu olhar para Luffy. – Acredito que você se lembra do que essa mão é capaz de fazer, não é? Quer arriscar?

- Crocodile! – Luffy rangeu os dentes enquanto cerrava suas mãos.

- Eu só preciso de um segundo para transformar todo esse navio e vocês em areia e múmias. Pouco me importo se estão vivos ou mortos, se me consideram aliado ou inimigo. – Crocodile falava ainda com o tom baixo de voz. – O que me importa mesmo é... será que você é mais rápido em me acertar, Luffy do Chapéu de palha, do que a minha mão direita em secar tudo isso daqui? Esses dias viajando junto deve ter sido o suficiente para fazer com que vocês se esquecessem de quem eu sou, então permita-me relembra-los com quem estão lidando, bando de pirralhos. – Uma parte da madeira começou a secar e a rachar, descendo pela lateral, criando um rasgo que começava a ranger o piso. – Podem tentar me cortar, atirar em mim ou o caralho que for. Ainda assim não conseguirão me acertar se não tiverem agua. Mas como uma múmia seca irá acertar um crocodilo se mal consegue se manter em pé?

- O-O que está fazendo!? – Ussop falava com um suor escorrendo a seco, recebendo um olhar do corsário.

- Eu estar com o Mawaha não muda o fato de ainda ser uma ameaça para vocês. – Cerrou os olhos. – Eu posso aguentar suas palhaçadas, escândalos e falta de respeito enquanto ele está do meu lado e me “mantendo na linha” como queiram chamar, mas lembrem-se que ele não está sempre ao seu lado. E eu não sou um homem paciente.

- Não acha que está nos subestimando demais, crocodilo de merda? – Sanji tinha um sorriso no rosto. – Nosso capitão já o derrotou uma vez. Isso prova que você não é lá as coisas que falam.

- Pode até ser verdade.... mas ainda sim. – Crocodile olhava de canto para os “companheiros” de viagem. – Não acredito que todos vocês deem conta de mim... sozinhos. – O chão continuava a rachar lentamente.

- Você quem está sendo confiante demais para alguém que perdeu para um “pirata novato”. Se eu fosse você, me sentiria envergonhado. – Zoro seguia nas provocações.

- Vocês é quem estão todos cheios de si depois de terem ganhado uma luta. Estão desacostumados a ficarem frente a frente com o perigo e acham que podem me provocar com esses insultos como se eu não fosse reagir. – Tirou a mão do corrimão, a colocando a frente do corpo e criando um pequeno tornado em sua mão que começava a crescer. – Talvez ao invés de secar todo seu navio e vocês. Eu os deva jogar para o outro lado do mar e os assistir se afogarem nas aguas. O que acham?  

- Eu acho que você é um crocodilo muito convencido e que fala demais. – Zoro tinha um suor escorrendo pelo canto do rosto. – Se fosse realmente metade do que é, já teria feito o serviço ao invés de ficar de conversinha.

- Zoro, cala a boca, por favor! – Ussop gritava para o espadachim.

- Concordo com o Zoro. Você só está aí falando que vai fazer as coisas quando na verdade, não pode. Tem uma coleira presa em seu pescoço com o nome da senhorita Mawaha. Apertando cada vez que se comporta mal. – Sanji sorriu. – E é por isso que você não ataca. Não quer desrespeitar sua dona.

- Tem realmente certeza disso? Não acha que eu posso estar fingindo em concordar com tudo que seu companheiro fala ou me manda fazer? Ele não é o único que tem interesses ou ambições a serem cumpridas. – Crocodile franziu ainda mais a testa. – Por acaso ele contou para vocês como eu concordei com esse joguinho? Ou o motivo de ter aceitado essa cruzada ridiculamente insana em destruir o governo? – Sorriu com os rostos que se olhavam. – O que vocês acham que um homem como eu iria pedir em troca? Ou melhor, como sabem que não é ele quem está nas minhas mãos?

- Porque isso tudo não faria o menor sentido. Por que a Mawaha diria algo que é o oposto da realidade? Você está mentindo. – Zoro falou com o rosto franzido.

- Então por que ele não conta para vocês? – Crocodile olhou para o espadachim. – E convenhamos que essa não seria a primeira e muito menos a última vez que ele mentiria ou manipularia os fatos apenas por ser conveniente. Em Alabasta, com a marinha, e até mesmo naquela última ilha. Seu companheiro não é 100% honesto com vocês, Chapéus de Palha. Vocês não estão navegando com qualquer pessoa, diria até que estão navegando com uma raposa muito esperta e perigosa.

- Nem adianta tentar, crocodilo de merda, nós não vamos cair nessa armadilha tão óbvia. Sei que está tentando nos fazer duvidar da senhorita Mawaha. – Sanji franziu ainda mais a testa. Estava começando a ficar ainda mais puto com o que o corsário dizia. – A senhorita Mawaha não é que nem você. Nós a conhecemos e sabemos que ela não pertence ao lixo.

- Tem certeza? E o que conhecem exatamente? Sabem de todo o seu passado? Onde nasceu? Com quem viveu na sua infância? Seu tipo sanguíneo? Quem foi o primeiro com quem transou? – Crocodile continuava provocar. – Você fala como se fosse seu amigo de infância. Mas pelo pouco que ele me contou e pelo que ouvi, vocês o resgataram de uma prisão, faz o que? Um mês no máximo? Não é pouco tempo para se conhecer uma pessoa, ainda mais sendo uma pessoa cercada de mistério como o Mawaha é?

- Ainda continua com essas insinuações absurdas, é!? – Zoro rosnava furioso.

- Se está furioso com isso e está começando a duvidar da índole do seu companheiro, por que não pergunta a ele? Pergunte sobre o que concordamos e de como ele conseguiu me colocar nesse bando de palhaços. Se ele for honesto com vocês, irá contar a verdade, afinal de contas... “A senhorita Mawaha não pertence ao lixo” como eu, não é?

- Maldito...- Zoro continuava a cerrar os dentes como Luffy e Sanji faziam.

- Q-Que tal se todos nós nos acalmarmos, hein? – Nami falava vendo os companheiros se preparando para fazer um ataque. – Não chegaremos a lugar algum com essa briga toda. E além do mais, o Crocodile está certo nessa.

- Ei, Nami! – Zoro se virou para a navegadora.

- Não sobre o Mawaha. – Nami balançava a mão em negação. – Me refiro aos dois navios! Eu não duvido da índole da Mawaha! Se acalma, Zoro. – Suspirou fundo vendo o homem relaxar o semblante. – Precisamos do prêmio pois estamos praticamente quebrados. Se descobrirem que estamos com um outro navio, seremos desclassificados e perderemos todos os trezentos milhões de berris. – Disse de forma chorosa.

- Por que só não desgrudamos os dois? Não seria mais simples? – Ussop falou engolindo a seco.

- E como iriamos achar o outro navio depois? Só temos um único Eternal Pose, Ussop, sem contar que caso alguém fique no Crisântemo III, como iriam navegar pela Grand Line? O tempo é traiçoeiro demais. – Nami bufava com o comentário. – Nem o Crocodile, e duvido muito que o Mawaha, saibam como navegar por essas aguas. Vamos acabar nos desencontrando. O único jeito é esse, será que não podem aguentar só um pouco? Só até vencermos essa corrida e pegarmos o prêmio? Não estamos fazendo isso por diversão e sim por necessidade.

- Escutem a sua navegadora, Chapéus de Palha. Ela parece ser a única que sabe o que está fazendo. – Crocodile fez com que o tornado de areia sumisse. Tinha um sorriso em seus lábios com as expressões feitas pelos companheiros.

- A Nami tem razão. – Chopper falou escutando algo mais ao fundo do mar a fazendo virar a cabeça.

- É o vento! – Nami se virou para o mesmo lado que a rena. – Luffy, reforce as vergas! – Apontou para o capitão. – Ussop, cuide do leme! – Apontou para o atirador que corria desesperado. – Chopper, vá para a proa! – Ordenou para a rena. – Sanji e Zoro! Cuidem dos cabos de segurança de ambos os lados do mastro! – Falou alto para os outros dois companheiros.

- Certo, senhorita Nami! – Dizia Sanji mudando a expressão rapidamente, correndo para onde tinha sido mandado, voltando a encarar o corsário. – Depois que isso acabar, eu mesmo vou chutar a sua bunda para fora desse navio, seu crocodilo de merda!

- Estou ansioso para ver isso acontecer. – Crocodile disse com provocação, rindo conforme andava indo para um outro canto do navio.

Robin encarava o corsário conforme subia as escadas, passando pela mulher, a olhando de canto com um sorriso. Os olhares pareciam congelar com o contato, durando míseros segundos até que se desencontrassem com o homem se dirigindo até a polpa do navio.

Nami encarava as aguas turbulentas e um pouco nubladas pelo céu, vendo as ondulações que aumentavam rapidamente, balançando as folhas das arvores para um lado, parando por um instante e voltando a tremular para outra direção.

- É agora! – Nami falou baixo olhando fixamente para a agua. Uma forte rajada de vento soprou, fazendo com que as velas se estufassem e o navio se mexesse de forma brusca, quase como se o fizesse voar para frente com força. A cabeça de ovelha quase tocava as aguas do mar de tão forte que era o vento, levantando sua polpa.

O Going Merry acelerava rumo em direção a montanha, entrando em um túnel com um pequeno ponto de luz ao fundo.

- Outro túnel, não! – Ussop falava conforme se segurava no mastro principal.

Sanji e Zoro sorriam inclinando seus corpos para fora do navio conforme puxavam as cordas. Aventura e adrenalina corriam em suas veias naquele momento. Robin sorria na parte de cima do navio, com os cabelos que pontavam para fora de seu chapéu balançando. Nami apesar de estar tão apavorada quanto Ussop e Chopper que gritava, ainda sim se divertia com o impulso tomado pelo vento.

- Legal! Vamos nessa! – Dizia Luffy erguendo seus braços para cima, com um largo sorriso no rosto e uma alegria contagiante.

Assim que passaram pela abertura da montanha, seus corações quase pararam pela vista que tinham. Uma outra cidade dentro da montanha, com diversos piratas que gritavam de animação e muita empolgação. A correnteza os puxavam e os gritos os saldavam deixando qualquer um da tripulação de boca aberta. Estavam subindo. Subindo a montanha enquanto ouviam os gritos animados para mais uma corrida que se iniciava.

- Entendi. Então era isso o que ele quis dizer com desfile de abertura. – Nami olhava a paisagem com um sorriso nos lábios.

- Ei, ei, ei. Eu jamais pensaria nisso, mas parece que muitos apostaram em nós, hein? – Ussop falava contente com as mãos na cintura e de peito estufado.

- Certo! Deixe conosco! – Disseram juntos Ussop e Luffy erguendo o braço.

Aos poucos os gritos de alegria eram escutados corretamente. O que eram para ser assobios de comemoração, incentivo e comemoração, na verdade não passava de um grande mal-entendido causado pela euforia do momento, o que realmente estava acontecendo eram xingamentos contra o navio com cabeça de ovelha, causando um enorme choque em Luffy e no outro homem.

- Bom, esse comportamento já era esperado. – Nami falava escorada no corrimão do navio.

- Quem é esse Gasparde? – Zoro descia as escadas com uma das mãos repousada sobre a katana.

- Mas que raridade... Você está interessado? – Nami ergueu uma das sobrancelhas.

- Ficou pesquisando sobre ele até tarde da noite, não é? – Zoro tinha um sorriso de canto, recebendo um sorriso da mulher de cabelos laranjas.

- Incrível! Estamos mesmo subindo a montanha! – Chopper se escorava no outro lado do navio, com olhos arregalados e uma alegria pulsante.

- Ainda é cedo para se impressionar. Deixe que eu te conte a grande história da grande travessia pela Reverse Mountain. – Ussop cruzou os braços e esboçou um sorriso vendo Chopper virar com rapidez, com brilho nos olhos.

Sanji se escorava nas cordas, olhando para frente e para os lados onde outros rios subiam a montanha.

- Estou vendo mais navios ali. – Apontou com a cabeça, olhando para o outro lado. – E ali também.

Pessoas corriam para o outro lado, vendo um grande navio com velas içadas e com um enorme X sobre o símbolo navegava pelo meio dos outros.  

- Uau, aquele é dos grandes. – Disse Sanji abrindo a boca com o navio vendo a grande fumaça que o acompanhava. – E é a vapor também. Nunca tinha visto um desses.

- Aquele é o grande favorito, Gasparde, a Salamandra. – Nami falava olhando para o navio.

- Aquele navio? – Sanji voltou a olhar o navio que passava mais rápido que os outros.

- Que símbolo é aquele na vela? – Ussop colocou uma das mãos sobre os olhos, os apertando para que enxergasse melhor. – É da marinha, mas está riscado.

- Sim, ele é um ex-marinheiro. – Nami falou. – Ele se tornou um pirata depois que roubou o navio que era encarregado. No momento, a recompensa pela sua cabeça é de noventa e seis milhões de berris.

- Hã, noventa e seis milhões.... – Ussop se engasgou. – Ele é mesmo dos grandes!

- Isso mesmo. E temos que tomar cuidado com o seu poder especial. – Seu cabelo tremulava com o vento. – Tudo indica que ele possui poderes de uma Fruta do Diabo. Ele é chamado de General, mas não há histórias agradáveis sobre ele.

- Histórias agradáveis? Bem, ele é um pirata. Não deveria haver mesmo... – Ussop falava.

- O que importa o que ele seja? – Luffy tinha o olhar ao contrário do grande navio. – Eu o odeio.

- Um ex-marinheiro que virou pirata? Que espécie de idiota diria isso? Não existem marinheiros que se tornam piratas, ou piratas que se tornam marinheiros. Esse cara, Gasparde, não passa de mais um marinheiro tentando fingir que é outra coisa. – Mawaha fechou a porta do convés, tinha um olhar sério, andando até um canto. – A prova disso é o emblema que carrega em sua bandeira. Se realmente fosse a porra de um pirata, usaria uma caveira como escudo e não aquele símbolo detestável. Não passa de mais um cãozinho da marinha que acha que pode ter tudo o que quer e da forma que quer. Um verme imundo que rasteja pelos mares. Que respira um ar tão puro como esse. Que tira vidas apenas por querer e mancha o nome “Pirata”. – Mawaha falava com uma voz baixa, arrastando seus dentes a cada silaba falada. – Um porco imundo que ainda segue o mesmo padrão da marinha e do governo mundial. Caçar piratas, tirar sua liberdade e a infectar com aquele que chama de certo. Pessoas como Gasparde, que fingem ser aquilo que não são, devem ter seus crânios esmagados pela sola do meu pé e seus corpos pendurados no mastro principal como exemplo para todos. Ex-marinheiro que virou pirata? Não me faça rir. Ele não passa de um lixo da sociedade que navega pelos mares exibindo aquele símbolo riscado. A vida pode não ser preto no branco como todos acham que são. Mas aquilo? Aquilo é uma afronta a qualquer um que levanta a bandeira negra da pirataria. Uma bandeira manchada pelo sangue da liberdade. – Apertava suas mãos em punho. – Sangue esse derramado por essa escoria que infecta as raízes desse mundo. Desse vasto mar. E que precisa ser exterminada. – Cuspiu na agua do lado onde o grande navio passava. – Um extermínio que eu faria de bom grado. Abraçaria de peito aberto, esmagando suas costelas e enfiando minhas unhas em suas carnes enquanto gritam de dor pedindo para que pare. – Tinha um sorriso de canto. – Talvez só assim isso aplaque o enorme sofrimento que seja viver em um mundo infestado desses parasitas.

O ar parecia pesado no deck do navio, com uma gota de suor escorrendo por cada rosto dos chapéus de palha.

- I-Isso ficou meio sombrio do nada, não é? – Ussop falava rindo de canto, ou forçando um riso. – Não acha que está exagerando, Mawaha?

- Exagerando? – Mawaha virou para o atirador. – É talvez eu esteja exagerando, narigudo. – Colocou uma mão embaixo do queixo. – Ou talvez você só seja imbecil o suficiente para não entender a raiva que carrego dentro de mim. – O brilho vermelho transparecia entre as lentes escuras, deixando o rubor pulsar em forma de fenda, parecendo ficar cada vez mais vibrante. – Quer que eu lhe dê um gostinho do quão a marinha pode ser cruel, Ussop? – Mawaha se aproximava do atirador, levantando as mãos, deixando suas unhas sobre seu rosto conforme os olhos brilhavam cada vez mais. – Quer que eu arranque metade da sua língua? Queime suas costas com ferro quente? Estoure seus músculos? Corte sua pele, tirando pedaços? Arranque seus dentes? Ou prefere que eu quebre sua mente primeiro, Ussop?

- Mawaha, se acalma. – Zoro dizia com o olhar sobre o de cabelos tingidos.

- Quer que eu quebre tanto a sua mente que quando olhar para frente, só irá ver um único caminho? Um precipício enorme que chama seu nome toda vez que fecha seus olhos para dormir, não sabendo distinguir realidade de uma alucinação tão real... tão fria e solitária que te faz ter medo de perder o controle em um surto de raiva, seguido de um ataque de pânico?  - Mawaha continuava a andar em direção ao atirador que cambaleava para trás, caindo ao chão. – Talvez depois de quebrar sua mente, te deixar insano e com um gosto pútrido na boca, eu passe para o seu corpo, o quebre feito vidro. Quebre todos os ossos de seu corpo, um a um, começando pelos menores, os fazendo cortarem seus músculos como se não apresentassem nenhuma resistência. Depois quem sabe, eu passe para seus dentes e os arranque um por um, os puxando da raiz, o fazendo gritar de dor enquanto engasga com seu sangue nojento que me faz revirar o estomago. – Mawaha tinha um olhar assustador em seu rosto. – E por último, o que acha de morrer várias vezes? Ficar entre a vida e a morte, bamboleando em uma fina linha que não sabe quando irá se romper? Almejando o descanso eterno enquanto sente todos os seus órgãos arderem pelo sangue que é destruído causado pela aniquilação completa dos seus glóbulos vermelhos. – Se abaixou rente a Ussop caído no chão, o olhando fixamente. – Já te contaram como é morrer por overdose, Ussop? Te contaram detalhadamente? Não? Então eu vou te contar.

- Senhorita Mawaha... – Sanji falava conforme observava a cena.

- A primeira coisa que você sente é uma dor insuportável que percorre todo o seu corpo. Que queima suas veias. – Apontou para os braços. – Depois você sente seus órgãos pararem um a um. Os rins são os primeiros, depois o fígado. – Apontou para cada parte do corpo. – Em seguida vem o intestino, estomago que tenta jogar toda aquela substância para fora. Aos poucos você vai perdendo a mobilidade e o controle do corpo já que a conexão com seu cérebro começa a ser cortada com uma tesoura cega. – Apontou para cabeça. – Se é que você tem um. – Disse sarcástico. – Assim que sentir a paralisia chegar, sabe o que acontece? Seu pulmão para de funcionar conforme o cérebro é desligado. Você tenta puxar a porra do ar, mas não consegue. E se conseguir, torça para não estar deitado, pois seu vomito o fará engasgar e se asfixiar. Por fim, quando estiver tremendo no chão em meio a uma possa de vomito, merda, mijo ou qualquer outra coisa que tenha dentro desse seu corpo. Seu coração para. É o último órgão de todo o seu corpo que para, porque por incrível que pareça, ainda existe um resquício de sangue que circula. – Mawaha riu baixo, mostrando os caninos. – Sabe por quantas vezes eu tive que passar por isso? Por diversas drogas testadas em mim? – Colocou uma mão sobre um dos olhos que escorria uma lagrima um pouco diferente do costume. – Eu perdi a conta em 1.300 vezes.

- MIL E TRÊZENTAS VEZES!? – Disseram em coro.

- Isso... isso não é possível. – Chopper falava com a boca aberta.

- Será que você consegue suportar tudo isso. Toda essa dor e raiva presa na garganta para poder vir aqui dizer que minha ambição é um pouco exagerada, Ussop? – Se levantou estalando as costas. – Consegue passar pelo verdadeiro inferno sem morrer e sem sofrer nenhum dano e sair como se nada tivesse acontecido, Ussop? – Olhava de canto. – Consegue pedir a foda-se o Deus que tiver nesse céu para que o salve e ter suas preces negadas, Ussop!? – Aumentava a voz. – E por fim, será que você, um serzinho patético que treme diante do perigo e que é o primeiro a abandonar o grupo por achar que “ele é um mostro, tenho medo. Vamos morrer!” Será que consegue dormir tranquilamente durante a noite, revivendo os pesadelos que passou nas mãos da marinha? Me diga, atirador Ussop. Consegue!? – Sua mão tremia em uma mistura de raiva, angústia e medo.

Mawaha esticou mais uma vez o corpo, eliminando a tensão que sentia subir por seu corpo. Abrindo a boca e deixando um grito mudo sair, algo que não foi percebido pelos chapéus de palha, os fazendo estranhar aquele ato.

- Sanji, Zoro. – Mawaha soltou um ar pesado pelas narinas, olhando para os dois por de trás do mastro. – Eu gostaria de pedir que não caíssem nas provocações do Crocodile. Ele é um maldito sádico filho da puta que sente prazer em causar discórdia. Por mais que não tolerem sua presença no Going Merry, precisam entender que querendo ou não, ele faz parte da tripulação já que eu faço parte, e ele é meu subordinado. – Sorriu para os dois homens que se entre olhavam. – Acredito que as coisas que ele disse longe da minha presença tenha causado uma pequena turbulência em relação a minha pessoa e peço desculpas a todo o estrago que ele causou. – Se virou para Luffy, fazendo uma reverencia com a cabeça. – Mas por favor, não o provoquem mais uma vez. E não se preocupem, eu mesmo vou cuidar de disciplina-lo. – Levantou sua cabeça, olhando para o corsário que pontava no topo da escada, fumando um charuto. – Se me dão licença. Eu e monsieur Crocodile temos assuntos a tratar. – Fez novamente um cumprimento com a cabeça, andando em direção ao corsário que deixava uma risada escapar. Mawaha tinha um olhar sério em seu rosto, abrindo a porta da cozinha e dando espaço para que o homem alto passasse.  Sorriu mais uma vez para os tripulantes e fechou a porta, a trancando.

- Que medo... – Nami falou baixo olhando para os outros que concordavam com a cabeça. – Por um segundo eu pude jurar que a Mawaha iria te matar, Ussop. – Deixou um ar pesado escapar pelas narinas.

- Mil e trezentas vezes? – Chopper olhava para baixo vendo o pequeno rato acenar com a cabeça. – Você viu isso acontecendo, Micco?

O ratinho ruía conforme andava até Chopper que esticava sua mão, o colocando perto de seu rosto e o ouvindo com atenção. A cada frase dita, mais a expressão do médico mudava, a deixando triste, seria e com raiva. – Como o Mawaha suportou tudo isso? E por tanto tempo?

- O que foi, Chopper? O que esse rato está dizendo? – Sanji falava olhando para o roedor que continuava a falar.

- Falando bem por cima do que ele disse. – Chopper engoliu a seco. – Quando o Mawaha estava preso. Ele era visitado algumas vezes na semana, onde alguns guardas o pegavam e levavam para outro lugar que o Micco não soube dizer onde era. – Franziu a testa. – Ele só sabia de uma coisa. Quando ele era trazido de volta para a cela. Era diferente de antes, algo sempre parecia diferente. Ia desde seu cheiro até mesmo sua aparência. E todos os dias, sempre era a mesma rotina. Guardas entravam na cela trazendo comida, o ouvindo gritar de dor e desespero. Abusando do poder que tinham e do tempo que tinham para o transformar em seu saco de pancada particular. – Chopper coçou a ponta do olho. – Um em específico foi o que mais causou problemas para o Mawaha. O responsável pelas cicatrizes em seu corpo. – Um barulho chamou a atenção de Chopper, um ruido.

- Por que ele está contando isso só agora? Por que não disse nada antes? – Zoro encarava o animal entre as mãos de Chopper.

- Nem mesmo ele sabe ao certo. – Chopper franziu a testa. – É como se essa memória tivesse surgido em sua cabeça de repente.

- Surgiu de repente? – Nami falou olhando para a pequena reunião. -  Como algo surge de repente? Isso é impossível.

- Não tenho ideia, mas é o que o Micco disse. – A rena continuava com os olhos para o animal entre as mãos. – Ele também pediu para que ninguém comente sobre o que foi dito aqui com a Mawaha e que esqueçam o que aconteceu.

- Esquecer!? Como vamos esquecer uma coisa dessas? – Nami continuava a falar, olhando para os companheiros que tinham os olhares baixos. – Não é, pessoal?

O silêncio caiu sobre o convés, tendo apenas o barulho dos navios que passavam envolta do Going Merry, desferindo xingamentos e insultos ao pequeno navio de ovelha. Não tinham animo ou cabeça para pensar ou reagir.

- Nossa, que barquinho é esse? – Dizia o capitão de um navio que passava ao lado dos Chapéus de Palha. – Acha que vai conseguir sobreviver à Grande Queda com isso?

Nami subiu seu olhar, reconhecendo o rosto do homem que falava tamanhas atrocidades.

- Aquele é Vigaro, o Enforcador. – Disse a navegadora com um sorriso se formando de canto. Outro navio e mais outro e mais outro se aproximavam de Going Merry, diminuindo a distância que tinham para navegar. – Merda, se continuarem assim, vão acabar esmagando o Crisântemo III. – Dizia entre os dentes.

Conforme subiam a encosta da montanha e com a gravidade fazendo seu trabalho, fazendo com que os Chapéus de Palha se inclinassem perto do chão pela subida extremamente inclinada.

- Estamos nos inclinando muito rápido! – Chopper falava se aproximando do chão ainda com o roedor em mãos, enquanto a outra segurava no corrimão da escada.

- Está tudo bem!  Não há problema! – Nami dizia subindo onde era a parede do navio, tinha um sorriso em seu rosto.

Os piratas competidores continuavam a subir a grande encosta, vendo a celebração e a cidade se tornarem um pequeno grão de areia em meio a altura que estavam.

Assim que chegaram ao topo, a imagem do alvorecer tiravam seus fôlegos, fazendo por Chapéus de palha abrirem bem os olhos para o horizonte e para o sol que iluminava seu corpo. Luffy gritou de alegria junto a um pouco de medo que tomava conta de seu corpo à medida que Merry e os outros navios despencavam do céu, pousando de polpa na agua e voltando a fazer seu percurso pela correnteza.

- Aquela foi a Grande Queda!? – Nami falava com o rosto pálido olhando a gigantesca queda, quase tendo seu coração saindo pela boca.

- Navegadora, não é hora para ficar impressionada! – Robin falava sentada no corrimão de cima conforme uma batalha começava a ser travada entre os navios piratas.

 

[Dentro da cozinha do Going Merry]

- Olha só, eu poderia jurar que você iria pintar seu cabelo de preto. – Crocodile ia se sentar em uma cadeira. Cruzando as penas e com um olhar alto. – Nunca pensei que você iria escolher misturar preto e verde. Até que ficou bonito.

Mawaha andava na direção do corsário, se colocando a sua frente. Seu rosto era sério, talvez o mais sério que já tenha ficado. Esticou uma de suas mãos e segurou entre as têmporas do homem, as apertando.

- Me dá um único motivo para não arrebentar a sua cabeça, Crocodile. – Sua voz era forte e raivosa, arrastando os dentes um sobre o outro. – É sério? Vai querer fazer joguinho de manipulação com os Chapéus de Palha usando o nosso acordo como ponto de partida? Você realmente está querendo me tirar do sério não está? Você é burro?

- Querendo não. Conseguindo. – Crocodile continuava na mesma posição, erguendo a cabeça e soltando a fumaça que passava pelas palmas da mão de Mawaha. – Já disse que é irritante te ver fingindo estar tudo bem. E confesso, pela primeira vez em duas semanas, pude ver uma expressão tão bela como aquela. Mesmo com você a cobrindo com uma das mãos. Era o mais puro desprezo.

- Acha que eu sou a porra de um brinquedo que pode cutucar à vontade, me desestabilizar para ter o mínimo de excitação ou diversão? – Mawaha apertou um pouco mais as têmporas. – Eu estava tendo um dia tão bom. Tinha finalmente relaxado depois de tanto tempo, mas aí veio você. Provocando e instigando o caos, e depois veio aquele filho da puta do Ussop.   

- Não sei se você está surdo ou o que for, mas quem começou as provocações, foram seus companheiros Chapéus de Palha. Se quiser colocar a culpa em alguém, coloque em si mesmo que me trouxe para esse navio mesmo sabendo que nós temos nossas diferenças. – Olhava por entre os dedos. – Você disse que iria aceitar as consequências e aí estão elas. As aceite.

Mawaha não respondeu, apenas continuou com o mesmo semblante no rosto conforme abaixava a mão. Puxou um longo ar pelos pulmões e o soltou conforme cruzava os braços.

- Certo. E o que descobriu? O que os membros da Baroque Works disseram a respeito daquela prisão? – Ergueu o queixo, o olhando com superioridade.

- Nada de importante. Pelo que meus homens disseram nessa investigação, é quase como se eles estivessem tentando encobrir a tal prisão onde você estava. Não existe registro ou qualquer outra informação... Igual a sua existência, em si, Mawaha. – Encarava os cabelos cacheados que tinham o topo verde e as pontas escuras. – O jeito que você escolheu pintar o cabelo é estranho. Começou pelo mais claro primeiro e terminou com o tom escuro. É quase como se tentasse esconder a impureza com uma cor mais bela por cima.

- Tem certeza absoluta? – Mawaha ignorou o comentário sentindo a inclinação do navio, o fazendo andar até a parede junto ao corsário.

- Por mais que eu goste de causar intriga. Estou dizendo a verdade, meus homens não encontraram nada. Ainda. – Seu corpo parecia sentir uma pressão na sola dos pés. – Parece que estamos subindo.

- Aguardo respostas então. – Mawaha ignorou novamente o corsário, franziu a testa e soltou um ar pesado. – Então viemos aqui para nada. Você tinha dito que poderíamos conseguir algumas informações aqui, mas nada. Apenas um balde de agua fria.

- Não é tão fácil quanto você pensa que é, Mawaha. Principalmente quando se trata de informações sigilosas do governo mundial. Essas, principalmente, parecem ser bem mais importantes do que qualquer outra. – O corpo começava a sentir a pressão sumir, tendo poucos segundos de alívio até que ambos os corpos fossem jogados para o teto. – Inferno!

- Mas o que está acontecendo lá fora!? Que porra! – Mawaha tinha o corpo preso ao de Crocodile, tentando se levantar, mas a pressão puxava seus dois corpos para mais perto.

- É a Grande Queda.  O início da Corrida Mortal. – Crocodile falada cerrando os dentes pelos toques no corpo feitos sem intenção pelo grisalho de cabelos pintados. – Ei, dá para parar de se mexer! Eu quero sair tanto quanto você!

O som do casco batendo na agua os soltaram do teto, fazendo ambos caírem com força no chão, com Mawaha sofrendo a maior consequência. Além de ter seu corpo batido no chão, ainda teve o corpo de Crocodile batido contra o seu.

- Desgraça de crocodilo. – Virou seu rosto no chão pela batida no nariz, o fazendo virar, apertando a ponta e ficando desnorteado por alguns segundos.

Crocodile se levantou do chão, limpando suas roupas e ignorando Mawaha que o xingava de todos os nomes possíveis. Voltou a se sentar novamente na cadeira.

- Sua noite deve ter sido muito boa ontem, principalmente para voltar com o rabo lotado de porra. – Cruzou as pernas.

- Falando desse jeito até parece que somos casados e que eu te traí. Tá com ciúmes por um acaso? – Mawaha apertou a ponta do nariz conforme erguia uma das sobrancelhas na direção do homem.

- Não diria com ciúmes, mas sim incomodado por não ter sido o primeiro a usar seu cú para me aliviar. – Crocodile falava em um tom monótono, fazendo o ex-grisalho engasgar com o ar.

“O QUE!?”

- O que!? – Mawaha tossia colocando a mão à frente da boca, dando tapas sobre o peito com a outra mão e quase tendo um treco. – Você falou certo isso? Eu estou ficando maluca?

- Não, você ouviu certo o que eu disse. – Crocodile continuava a falar se levantando da cadeira e indo em direção ao ex-grisalho que se afastava, o fazendo bater contra a parede do navio.

- O que deu em você? Tá estranho. Muito estranho. Primeiro lá naquela ilha e agora isso? Tô te estranhando, viu. – Mawaha olhava com o rosto de lado, franzindo a testa e empurrando ainda mais seu corpo para trás. – Não era você que vivia dizendo que nem fodendo ou morto iria transar comigo? O que foi que mudou?

- Esse é o problema, Mawaha. – Crocodile aproximou o corpo ainda mais, o até onde conseguiu. – Saber que você foi fodido a noite toda por algum desconhecido qualquer me deixou incomodado. Estragaram a minha mercadoria.

- Você está brincando né? É brincadeira isso, né? – Mawaha falava com um sorriso no rosto não entendendo muito o que estava acontecendo. Não podia identificar se o corsário estava falando sério ou não.

Crocodile bufou, passando uma de suas mãos pela cintura do mais baixo, o puxando para cima.

- Meu plano era te instigar ao ponto que você se entregasse por vontade própria de corpo e alma, mas infelizmente você não fez isso. Talvez tenha sido uma má ideia trazer alguém como você para um lugar como esse. Só foi tirar meus olhos de você por um segundo que você já estava aí procurando o pau de outra pessoa para te satisfazer.

“O QUE!? ISSO É SÉRIO!? Não, não é possível. Certeza que é uma pegadinha. Cadê as câmeras!?”

- Opa, parou aí, Lacoste do Deserto. Eu não estou entendendo a brincadeira. – Mawaha sentia o hálito de Crocodile bater contra seu pescoço, junto aos beijos que eram deixados. Beijos estalados e cheios de mordidas que causavam certas cócegas. – Ei! Ei! Ei!  Eu não estou gostando dessa brincadeira!

- Eu não estou brincando. Na realidade, estou falando muito sério. – Crocodile subiu os beijos até o ouvido, tirando o aparelho que atrapalhava, o jogando para um canto. – Acha mesmo que eu iria oferecer meu sangue de bom grado sem querer algo em troca? Todas aquelas mordidas que você me deu ao longo desses dias, para depois parar repentinamente como se eu fosse uma caixinha de suco vazia. – Segurou o rosto em mãos, apertando as bochechas e vendo os olhos arregalados. – Eu disse que você estava pegando coisas demais de graça e sem me dar nada em troca.

- Seu cú! Você disse que iria aumentar a dívida para compensar tudo! Foram suas palavras. – Mawaha tinha a boca aberta e a testa franzida.

- Eu perguntei sobre o que você achava sobre eu aumentar sua dívida para compensar os gastos que anda me dando. Nunca cheguei a dizer que tinha a aumentado realmente, disse? – Crocodile ergueu uma das sobrancelhas conforme passava o polegar sobre o lábio, vendo Mawaha negar com a cabeça. – Você quem interpretou errado. Tem que aprender a escutar melhor.

“Pior que o Koza disse a mesma coisa... Irônico, não?”

- Independente! Ainda sim isso é muito estranho! – Mawaha falava sentindo mais beijos e mordidas serem deixados pelo pescoço. – AINDA MAIS AQUI NO MERRY! – Fechou os olhos com força.

- Ei, velho da cabeça grisalha. Vai ficar ai até quando!? Vem ajudar a gente aqui fora!  – Zoro batia na porta com força, tanta força que rompeu o trinco. Encarando a cena a frente. Mawaha com bochechas vermelhas, Crocodile pendido contra seu pescoço deixando beijos estalados que podiam ser escutados, e uma mão que passava por entre a roupa e a pele morena. – Ah... vejo que estou atrapalhando vocês. – Zoro falou fechando a porta o mais rápido que tinha aberto.

- Puta... merda! – Mawaha falava pausadamente, escutando as risadas vindas de Crocodile conforme seu corpo era solto. Cerrou os olhos para o homem alto. – Por que você está rindo?

- Junte os pontos, Mawaha. – Disse o corsário indo se sentar, cruzando as pernas novamente e com um sorriso satisfeito.

- Juntar os pontos? Juntar os pontos de que? – Mawaha franziu a testa vendo o homem dar de ombros e continuar a rir. Sua mente funcionava de forma lenta, o fazendo olhar para cima pensando nas possibilidades e no que tinha acontecido a poucos instantes. Foi quando uma chave girou em sua mente. – Filho da puta! Agora tudo faz sentido! – Mawaha puxou o ar pela boca, fazendo um barulho. – Você falou sobre o nosso acordo como um duplo sentido sabendo que eu não tinha contado para eles ainda! Usou o fato de eu sempre estar com você como carta para isso e eu nem percebi! Ficou me seguindo para cima e para baixo o tempo todo! Não recusando de nenhuma forma eu ficar aqui no seu navio, tomar banho aqui de vez em quando e até mesmo usar o seu quarto quando eu precisei! – Mawaha puxou o ar mais uma vez. – Foi por isso que o Zoro me perguntou aquilo a alguns dias atrás! Eu até estranhei as perguntas que ele estava fazendo e o porquê dele estar todo diferente. Foi você, seu maldito manipulador do caralho! Você vem plantando essa sementinha do mal já faz algum tempo!

- Bingo. – Crocodile falou colocando outro charuto entre os lábios, o acendendo. – Mas você também tem que dar os créditos para aquele espadachim. Se ele não fosse do tipo ciumento, acho que teria demorado mais.

“Ciúmes de que? Tá doido?”

- Eu não percebi nada porque estava com várias coisas na cabeça e você usou isso ao seu favor. Nossa, mas como você é um corno do caralho. – Mawaha continuava com a boca aberta em surpresa. – Eu sabia que tinha alguma coisa nisso. Você estava agindo muito estranho, não parece ser do tipo que faz essas coisas.

- Outra expressão muito boa de se ver. Você percebendo que caiu em uma armadilha tão simples. – Crocodile pegou o Aerís e o jogou para Mawaha.

- Tipo você em Alabasta quando eu peguei tudo o que queria? – Mawaha respondeu no mesmo nível vendo o sorriso no rosto do corsário sumir. – Sinceramente, viu. Eu acho que estou precisando encurtar a sua coleira. A deixar mais apertada.

Mawaha bufou e saiu de volta ao deck principal, arrumando o aparelho no ouvido.

 

[Antes da cena humilhante]

- O que eles estão fazendo!? – Gritou Ussop com a vista da chuva de balas a sua frente.

- Parece que a corrida começou. – Zoro tinha um sorriso no rosto e o vento batendo contra sua pele.

- Começando agora, vale tudo. – Robin falava com um sorriso no rosto.

- Ussop, fique de guarda no convés da popa! – Nami mandou recebendo um resmungo vindo do atirador.

Ussop seguiu para a popa do navio, vendo um grande navio bem no seu encalço, disparando os canhões frontais, pegando as aguas e fazendo com que Merry se mexesse de um lado para o outro.

- Já veio um atrás de nós... – Resmungava o atirador andando de um lado par ao outro pela turbulência das aguas, pegando sua touca e a amarrando bem firme ao topo da cabeça. Preparou o canhão, o acendendo e atirando a única bala com toda potência que tinha, queimando a frente do navio. – Isso! Aqui está o maior homem de todos, Ussop!

Os navios a frente do Going Merry travavam batalhas intensas, com direito a balas de canhão voando de um lado para o outro e cascos batendo uns aos outros. Os chapéus de palha observavam o espetáculo a sua frente, se reunindo quase todos a frente do navio.

- É demais, não é, pessoal? – Luffy perguntava com um sorriso no rosto.

Navios tinham seus lemes destruídos pelas balas, os fazendo baterem contra as paredes do canal, fazendo madeiras voarem e acertarem alguns desavisados, ou até mesmo destruindo construções.

Logo atrás vinham os gigantes que eram um dos queridinhos do público, rindo alto e fazendo uma loucura. Pegando impulso para saltarem sobre o canal e atingir o oceano primeiro que todos. Sua tática era arriscada e mal executada, os fazendo cair com tudo em terra firme, os desclassificando da corrida.

Nami observava como a curva bem a frente era traiçoeira, levando os navios mais experientes e imprudentes a baterem com tudo no paredão.

- Chopper, puxe o leme! – Falou a navegadora com um suor escorrendo em seu rosto.

- Eu estou tentando! Mas não funciona! – Chopper puxava o pedaço de madeira com a cabeça de ovelha com tudo o que tinha, não o movendo nenhum centímetro.

- Se continuarmos assim, vamos bater! – Nami falava ficando cada vez mais desesperada.

- Vou buscar aquele lá de cabelos grisalhos. Ele anda muito folgado ultimamente. – Zoro comentou sendo ignorado pelos companheiros.

- Ei, estamos saindo da rota! – Ussop falou pontando a cabeça para o lado de onde o leme ficava.

O paredão se aproximava cada vez mais do Going Merry, deixando Nami e os outros cada vez mais apreensivos e com os nervos à flor da pele. Ficando a minutos de baterem a toda velocidade.

- Precisamos de algo... e rápido. – Nami franziu a testa, mordendo a ponta das unhas conforme via Zoro voltar com uma expressão da diferente que tinha saído. – Cadê o Mawaha?

- Ele está ocupado, no momento. – Falou o espadachim olhando para frente. – Se eu chutasse o navio por baixo,, ajudaria a amortecer?

- Não dá para fazer isso! – Nami falou alto para o homem que tinha os olhos a frente e os braços cruzados. – Ah, um amortecedor. – Parou com a briga, olhando o capitão a sua frente. – Luffy... – Chamou.

Luffy pulou para frente do barco, inflando seu corpo como um balão e o impedindo que acertasse a proa com tudo contra os escombros. Luffy prendia a respiração com força, girando seu corpo e arremessando Merry pelos ares. Ussop correu para a popa do navio, chamando o capitão e estendendo sua mão para que pegasse.

- Mas... O que a gente faz agora!? – Gritou Chopper.

- O que está acontecendo!? – Mawaha saiu da cabine e quase infartou no chão devido à altura em que estavam. – PORQUEONAVIOESTÁVOANDO!?

- Gran Fleur! – Robin tinha as mãos cruzadas a frente do corpo, criando diversos braços ao lado do navio que iam em direção a uma construção, a usando de apoio para puxar o navio de volta as aguas.

- Legal, Robin! – Luffy dizia sendo levado junto ao navio.  

A àquela altura, haviam bem menos navios do que no início. Talvez já estivesse com a metade dos piratas que tinham iniciado.

- Nem dá para acreditar que isso vive acontecendo. – Sanji olhava para a frente. – Não sei como sobrevivemos até aqui.

- Obrigado, Robin. – Nami falava com um sorriso nervoso no rosto. – Justo como eu planejei.

- Mentirosa! – Falava Zoro.

- Aí vamos nós. Vamos aproveitar o resto da viagem. – Robin tinha um sorriso no rosto.

- Sim, eu estou muito empolgado. – Luffy descia as escadas com um sorriso no rosto, olhando para trás. – Parece que estamos entre os últimos, mas está apenas começando. É por isso que é ótimo ser pirata!

Zoro sorria com a resposta do capitão, enquanto Nami murmurava a quantidade de dinheiro que estava envolvida e Sanji olhava para o convés superior.

- Certo! Vamos lá, pessoal! – Luffy falava com empolgação em sua voz, sendo concordado pela tripulação.

Com os ânimos um pouco mais calmos e a batalha entre navios fortes e competitivos mais branda. Sanji foi até o ex-grisalho que olhava o mar escorado no corrimão.

- Ficou bonito. – Sanji falou olhando os cabelos cacheados.

- O que? – Mawaha tinha o olhar distante para o horizonte que mal havia percebido a aproximação do cozinheiro, só quando escutou sua voz.

- O seu cabelo. Ele ficou bem bonito com essas cores de tinta. Preto e verde escuro. – Dizia o cozinheiro acendendo um dos cigarros.

- Verde? Como assim? – Mawaha se virou para Sanji, franzindo a testa com a resposta.

- O seu cabelo. Ele está com o topo verde e as pontas pretas. – Sanji falava não entendendo a expressão que Mawaha fazia.

- Não, ele está completamente preto. Eu pintei ele de preto. – Mawaha falava ainda com a testa franzida e com os braços cruzados. – Eu não sou nem doido de pintar meu cabelo com uma cor que eu não gosto.

- Senhorita Mawaha, eu sinto informar, mas o seu cabelo está verde e preto. – Sanji continuava a falar recebendo um aceno negativo com a cabeça vindo de Mawaha.

- Não está não. – Mawaha deitou a cabeça para o lado. – Ei, Nami! – Chamou ouvindo um soar com a garganta. – Qual é a cor que está o meu cabelo? Preto por completo ou verde e preto?

- Que pergunta é essa? – Nami ergueu uma das sobrancelhas. – É claro que ele está verde e preto, Mawaha. Achei um pouco ousado da sua parte pintar ele desse jeito.

- Não. – Mawaha negou com a cabeça.

- Como assim não? Ele está verde e preto! – Nami falava mais ao fundo do navio sendo seguida pelos outros da tripulação.

- Vocês estão vendo certo? Eu tenho certeza de que pintei ele de preto. – Mawaha cruzou os braços, olhando para o roedor ao chão que balançava a cabeça em negação. – É brincadeira não é?

- Senhorita Mawaha. – Chamou Sanji. – Será que é possível que você não enxergue tons de cores? Que seja daltônica?

- Hã? Que pergunta é essa, Sanji? É claro que eu não sou daltônico. Vocês é quem estão confundindo as cores. – Mawaha continuava com os braços cruzados a frente do corpo, tinha um suor escorrendo pelo canto da bochecha. – Certeza que é preto.

- “Ela é igualzinha ao Zoro no quesito direção. Morre mas não aceita que está errada.” – Sanji bufou. – De qualquer forma, ficou bonito.

“Que!? Que porra foi essa agora!?”

- Valeu. – Mawaha falou com um sorriso de canto voltando a se virar para olhar o mar, olhando o reflexo na agua e estranhando aparência. Conforme as aguas mexiam, suas lembranças eram reviradas e um sentimento surgia. – E foi mal.

- Pelo que? – Sanji se escorou no corrimão.

- Você sabe. – Apontou para baixo, um pouco mais abaixo da cintura. – Não foi por querer. E por ter o provocado também. Não consegui resistir.

- Não precisa lembrar desse assunto. Sério, isso evita que tanto eu quanto você fiquemos constrangidos. – Sanji falava limpando a garganta.

- Eu sei, mas só queria me desculpar por aquilo. Vai que você ficou bravo ou chateado. – Mawaha voltava a olhar as aguas do mar. – E não se preocupe, eu não vou chegar perto do seu pescoço.

- Nunca que eu ficaria bravo por aquilo. Foi uma reação involuntária. Coisas assim acontecem. – Sanji falou olhando para o ex-grisalho com um sorriso no rosto. – Mas mesmo se fosse proposital, não ficaria bravo.

- Pervertido. – Mawaha falou sem pensar duas vezes, voltando a realidade e negando com a cabeça. – Eu falei sem querer! Foi mal.

Sanji não pode conter o riso e começou a rir baixo, olhando para o mar, ouvindo Mawaha soltar um longo bufar pelas narinas quase tão melancólico quanto seu olhar.

O silêncio caiu sobre os dois, ficando por longos minutos enquanto os pensamentos de ambos voavam pelo horizonte.

- Será que um dia você poderia me ensinar, Sanji? – Mawaha continuava com a vista para o mar. – A cozinhar. Acredito que eu não seja tão bom nisso como nas outras coisas. – Se virou para o cozinheiro. – Além disso, poderíamos passar mais tempo juntos, conversando e se conhecendo melhor, não é?

A pergunta de Mawaha fez com que o homem loiro quase tivesse um ataque do coração, deixando suas pernas bambas e fazendo com que o de cabelos coloridos começasse a rir.

- Eu teria o maior prazer do mundo em te ensinar a cozinhar, senhorita Mawaha! – Sanji falava alto atraindo a atenção para os dois, fazendo o de cabelos coloridos rir ainda mais. – Quando sairmos dessa corrida, prometo que vou começar a te ensinar.

- Legal. – Mawaha sorriu de canto voltando a olhar o mar com a mão apoiada na bochecha.

Do outro lado da pista de agua, o navio de Gasparde seguia a todo vapor, jogando a fumaça escura para a atmosfera conforme seguia rumo ao mar.

Dentro das fornalhas quentes era possível escutar os xingamentos descontentes dos trabalhadores cheios de fuligem, mãos calejadas por segurarem o cabo da pá, e algumas fraturas nos músculos pelos movimentos repetitivos que faziam desde seu primeiro dia.

O suor escorria por sua testa devido ao calor gerado pelas brasas. Roupas sujas pelas fumaças que subiam e o cheiro característico de carvão queimado.

- Merda... – Dizia um dos homens com o pé enfaixado, afundando a pá entre os carvões e retirando uma boa quantidade. – Graças ao caçador de recompensas e ao pirralho, nós fomos rebaixados a alimentadores da caldeira.

- Que humilhante. – Disse outro homem todo enfaixado.

- Eu não aguento mais isso! – Disse o primeiro colocando a mão na cintura.

- Quem deu permissão para alimentar a caldeira? – Dizia uma voz cansada e velha, rouca pela fumaça inalada.

- Ah, cala a boca! – Gritou o primeiro homem. – Não estamos fazendo isso por gostar!

- Esse não é um trabalho para gente como você. – Um homem de certa idade andava se escorando nas paredes, arrastando seu corpo junto de seus olhos como se estivesse à procura de alguém. – Onde está o Anaguma?

- Anaguma? – Disse o primeiro homem com cabelos rosados erguendo uma das sobrancelhas.

- Meu assistente. – Respondeu o velho com os fios de cabelo queimado.

- Ah, eu escutei alguma coisa a respeito. Algo sobre sair para matar piratas. – O de cabelos rosa tinha uma mão embaixo do queixo conforme o olhar subia para cima pensativo.

- O que disse!? – O velho rangia com a garganta.

O navio pirata com cabeça de ovelha navegava pelas ilhas calmas, tremulando o azul que se misturava com o céu em meio a uma brisa fraca e calmante, passando por arquipélagos e bancos de areia.

- Não estou vendo os outros navios. – Nami falava baixo olhando para os lados sem nenhuma vista conhecida.

“De novo. Hoje, de novo, foi igual lá em Alabasta... Ontem antes de eu sair com aquela criança arrombada do caralho que eu vou quebrar na porrada quando encontrar de novo. Onde já se viu deixar todas essas marcas no meu corpo? Ah... como eu vou quebrar ele no cacete, se a gente se encontrar de novo... Não, não, você tá perdendo o foco, Mawaha. Segue a linha de raciocínio que você estava. Que era.... qual mesmo? Ah, lembrei. Foi que nem em Alabasta, do dia para noite, meu corpo recuperou as forças e foi como se eu não tivesse gastado nada ou me esgotado. Mesmo com o sangue do Kirin ainda circulando pelo meu corpo, ainda sim conseguia sentir o cansaço, mesmo sendo pouco. Mas depois, não, mesmo tendo uma noite de sexo bem intenso... Enfim, isso não faz sentido. Mesmo que fosse o sexo, ele teria feito efeito quando eu dormi com o Koza, o que não foi o caso. No dia seguinte, meu corpo continuava cansado, um pouquinho menos, mas ainda sim...Então o que é isso? Essa equação não está fazendo sentido, sinto que falta alguma coisa que eu estou deixando passar. Algo muito importante.”

- Eles devem ter escolhido uma rota que acharam melhor. – Ussop seguia no pensamento.

- Como tudo parece calmo, vou aproveitar e cozinhar um pouco. – Sanji andou em direção a cozinha recebendo um ovacionar de Luffy.

- Vá checar os danos no navio, Zoro. – Nami falava.

- Eu sozinho!? – Zoro reclamou.

- Eu vou com você, Zoro. Não tenho nada para fazer mesmo e vai que você se perde no meio do caminho, não é? – Mawaha se levantou de onde estava encostado, seguindo o espadachim pelo navio.

- Cala a boca! – Zoro falou alto cruzando os braços e bufando.

Os dois homens checaram primeiro as partes inferiores e com maior importância no navio, não vendo nada que pudesse causar sérios problemas lá para frente, apenas alguns arranhões feitos pela quase batida nos destroços e algumas coisas fora do lugar graças a Grande Queda.

“Algo que estou deixando passar.... Algo importante e que esteve presente em todo momento...”

- Nada aqui, tudo tranquilo. – Mawaha olhou os dormitórios, fechando as portas e voltando pelo corredor. – Só algumas coisas fora do lugar, mas tirando isso. Tudo está normal.

- Bom, agora só falta onde guardamos as galas de canhão e o banheiro do fundo. – Zoro cruzou os braços, dando espaço para Mawaha passar. – E olha só, você voltou a ter essa forma.

- É... meu ciclo acabou ontem de noite, eu acredito. – Mawaha pendeu a cabeça para o lado, franzindo a testa. Achando estranha aquela conversa.

- Então toda vez que seu ciclo menstrual começar, você vai ficar o tempo todo na outra forma? Isso é um pouco estranho. – Zoro falava subindo pela escada ainda com o olhar para frente.

- Pelo que parece. Sim. Por que a pergunta? - Mawaha tinha uma sobrancelha erguida em curiosidade.

- Nada, apenas curioso para entender como seu corpo estranho funciona. – Deu de ombros passando pelo deck principal e indo em direção a outra cabine onde guardavam as pólvoras e todo resto da munição.

“Até que a conversa parece um pouco... normal? Normal demais, eu diria.”

- Hum... você é estranho. – Mawaha abriu a porta para que Zoro passasse. – Agora vai, anda logo. Vai fazer o seu trabalho e procurar furos no navio.

- Agora você deu para me dar ordens também? Francamente, não sei qual das duas é pior. Você ou aquela mulher que fica me dando ordens o tempo todo. – Zoro esfregava os cabelos conforme olhava pelos cantos.

- Você é o segundo no comando, senhor imediato. Sendo assim, é a sua função dar uma geral no Going Merry. – Mawaha falava sarcástico fechando a porta e seguindo Zoro com os olhos, não encontrando nada ou nenhum problema.

- Eu não gosto de receber ordens. – Zoro colocou a mão sobre as katanas, sentindo algo apertar contra sua cintura. – O que foi? Está com medo daqui também?

- Não, não é isso. – Mawaha apoiou a cabeça entre os ombros do espadachim, respirando pesado e apertando a cintura.

- Se está preocupado com o que ele falou, pode ficar tranquilo. Eu não caio tão fácil nessas coisas. – Zoro cruzou os braços a frente do corpo. – E pouco me importo se você vai ou não me contar qual foi o acordo que fizeram.

- Por que não vai me questionar? Não é essa sua função?  - Mawaha continuava com a cabeça presa entre o pescoço e o ombro de Roronoa.

- Eu já te disse naquela primeira noite. Disse para você confiar em mim e pedi que fizesse o mesmo, não? Então, é isso o que eu estou fazendo. – Zoro se virou sentindo novamente a cabeça apertar contra o ombro. – Estou confiando em você, Mawaha.

- Não é burrice confiar cegamente em alguém? E se eu for uma má pessoa? – Mawaha continuava a falar afundando ainda mais o rosto contra a pele.

- Por que está agindo assim? Nem está parecendo você no dia a dia. Aquela pessoa inabalável, sarcástica e que sempre tem uma resposta na língua. Olhando assim, até parece que você é uma pessoa frágil e que está ao ponto de quebrar. – Zoro falava sentindo as mãos apertarem sua blusa.

- E se essa pessoa que eu estou mostrando agora... essa pessoa insegura... que tem medo de tudo e que.... – Mawaha fez uma pausa engolindo a seco. – Que não sabe direito o que está fazendo. E se essa pessoa for realmente quem eu sou? Você iria me desprezar? Iria ficar tão irritado igual daquela outra vez? Decepcionado?

- Idiota. – Zoro deu um soco no topo da cabeça, escutando um xingamento, o fazendo sorrir. – Claro que não. Eu ficaria bem mais aliviado, pois aí eu não teria que ficar tentando descobrir como você realmente está se sentindo. – Bufou colocando as mãos sobre os cabelos pintados. – Prefiro ver como você é de verdade do que uma imagem que eu sei que é falsa.

- Por quê? – Mawaha continuou.  

- Chega de porquê, porquê, porque e por quê. Não tem uma resposta para isso. Só prefiro ver você assim. Isso me deixa mais tranquilo. – Acariciou os cabelos, fazendo um carinho mais longo e por mais tempo. – Seu cabelo ficou bonito, Mawaha. Gostei dele assim.

Mawaha sentiu como se algo espetasse seu coração com aquelas palavras, o fazendo prender a respiração por alguns segundos. Um peso no peito que não parecia sair por nada.

- Calado, cabeça de alface! – Mawaha falou ao deixar uma mordida bem rente ao pescoço e ser afastado pelas mãos do espadachim que gritava xingamentos.

- Qual o seu problema!? Que porra, Mawaha! – Zoro falava passando a mão sobre o machucado, apertando a pele enquanto o ex-grisalho virava seu rosto, o sentindo mais quente que o normal.

“Que PORRA FOI ESSA!? Tá ficando doente, Mawaha!? Só pode, não é possível!”

- É impossível conversar com você as vezes. Inferno. – Zoro continuava a apertar o meio da pele, mexendo seu ombro para aliviar a tenção. Foi quando seus ouvidos captaram algo, seus e de Mawaha.

Os dois se entre olharam com o barulho que vinha do fundo, franzindo a testa e se aproximando da pequena porta. Zoro abriu a porta do segundo banheiro olhando em volta na esperança de encontrar algo.

- Se queria se esconder, então escolheu o navio errado. – O espadachim falava pronto para sacar a katana, conforme entrava no pequeno comodo indo um pouco mais para o canto. – Esse é um navio pirata.

Sua sombra quase cobria a parede do banheiro, o fazendo franzir a testa pelo silêncio que caía. A tenção crescente no ar e os três corações batendo forte.

Em poucos segundo, uma pequena figura surgiu de dentro da banheira, apontando uma pistola para o espadachim que ágil rápido indo em com a mão aberta em sua direção, enquanto outra mão fazia o trabalho de puxar a arma do caminho, passando sua palma pela boca do cano, a puxando e ouvindo um disparo.

Zoro pressionou o rosto e a cabeça da pequena sombra contra a parede, apertando a bochecha.

- Uma criança!? – Zoro dizia prendendo o ar.

- Conhece essa criança? – Mawaha passava a arma para a outra mão, olhando o sangue pingar pela pele e um buraco se formar entre o meio da mão. O sangue escorria pelo braço, formando uma pequena poça no chão.

- Ei, grisalho idiota, sua mão está sangrando! – Zoro falava com o olhar para o homem que apertava a arma na outra mão, a trincando em alguns pontos.

- É... ela está. – Mawaha continuava a olhar o sangue que escorria, fechando sua mão com dificuldade, sentindo a dor e a queimação causada pela pólvora.

A criança em poucos segundos apagou com a força que tinha batido a cabeça, perdendo a consciência e não entendendo o que as vozes falavam.

- Nossa como você é um homem cruel. Não pega leve nem com uma criança! – Nami falava observando a criança ainda desmaiada, mexendo o rosto de um lado ao outro.

- Não pude evitar. Ele tinha uma pistola! – Zoro falava sentado ao chão com um dos olhos abertos.

- O Zoro é tão malvado... – Luffy e Ussop irritavam o espadachim à medida que a criança ia abrindo os olhos.

- Seus idiotas. – Zoro falou em um rosnado baixo para os dois homens enquanto Sanji anunciava que a comida já estava pronta.

- Ah! Você já acordou! -Chopper falava com um sorriso no rosto vendo o pequeno clandestino piscar os olhos.

Aos poucos sua visão ia se acostumando e desembaralhando, ficando surpreso com o médico a sua frente.

- O veado, falou! – Gritou a criança se levantando da cama improvisada e indo para um canto.

“Cala a boca, pirralha barulhenta do cacete...”  

- Eu não sou um veado! Sou uma rena! – Chopper gritou de volta.

- É pior ainda! – A criança continuava a gritar.

- Cala a boca, seu imbecil! – Chopper continuou vendo a criança mexendo a boca como se quisesse dizer alguma coisa.

- Se ia chama-lo de monstro, pode esquecer. – Nami interrompeu a discussão. – Na verdade, ele é um grande médico. – Tinha um sorriso no rosto conforme apontava para frente. – Se bem que não é bom em controlar as próprias emoções.

- Sua idiota! Elogios assim não me deixam felizes! – Chopper falava se mexendo de um lado para o outro, com um sorriso em seu rosto. – Maldita!

- Viu? – Nami apontou mais uma vez. A criança tocava por todo seu corpo na busca de algo que não estava em lugar algum, sentindo o desespero em seus olhos. Nami pegou a arma quebrada e a colocou sobre a mesa. – Está procurando por isso? Se você trouxer algo assim para um navio pirata, ninguém poderá reclamar, caso acabe morto. – Fechou o semblante. – O que você quer?  Quem te mandou?

A criança olhava para o chão, rangendo os dentes e apertando suas unhas curtas contra a parede.

- Bem... – Chopper falava olhando para os companheiros. – A criança ainda está mal. Depois a gente pergunta. E, além disso [...]

- Para mata-los. – Disse a criança recebendo um olhar de todos na sala. – Para matar todos vocês e conseguir dinheiro!

- Bem, se você prefere ser direto... – Nami bufou. – Mas havia muitos outros navios. Por que escolheu justo esse?

- Não é obvio? Nós somos os famosos Piratas do Chapéu de Palha. – Ussop se escorava na parede com um sorriso orgulhoso no rosto.

- E daí!? Esse navio parece ser o mais fraco entre todos! – Dizia a criança ainda encostada em um canto ouvindo os piratas na porta começarem a rir. – Parem de rir! Eu estou falando sério! – Gritava de raiva.

- Ei, vá se deitar. Seu corpo [....]

- Sai de perto de mim! – Empurrou Chopper, recebendo um olhar furioso do outro integrante que tinha a mão enfaixada, sentado ao chão, ao lado do corsário que parecia pouco interessado na conversa e gritaria.

- Piratas estão acostumados a serem jurados de morte. – Luffy sorria com os braços cruzados, atraindo a atenção da criança. – Mas, se você não está preparado para arriscar sua vida, não está pronto para me enfrentar.

Uma mão surgiu sobre a mesa, pegou a arma e a jogou em direção a criança que olhava o objeto com um suor escorrendo por seu rosto.

- Mostre se está falando sério. Ou será que era só um blefe? – Robin falava olhando a criança do lado de fora da cabine.

- “Não me provoque!” – A criança rangia os dentes, pegando a arma e a apontando para frente. – Maldita! – Disparando a arma em questão de segundos, atingindo um tiro em Luffy que não surtiu efeito. A arma estourou em mãos devido aos rachados, causando pequenos machucados junto com a bala que voltava e acertava a parede, a deixando em choque. – O que foi isso!? – Suas pernas tremiam, o fazendo cair de joelhos no chão soltando a arma. – Uma....f-fruta do diabo.

- Isso mesmo. Você conhece? – Nami sorria.

- Eu nunca saí do meu navio. – Dizia a criança.

- São frutas misteriosas. O lado negativo é que você se torna um peso morto e não consegue nadar. Mas, em troca, consegue poderes superior ao de um ser humano. – Dizia a navegadora ainda com o mesmo sorriso no rosto. – No nosso grupo, a Robin e o Chopper também possuem esses poderes. – Nami parou apontando para o canto onde o homem alto apenas observava. – E aquele ali também, mas ele não pode ser considerado parte do nosso grupo. Não se importe com ele.

- Esse veado? – A criança se abaixou.

- Eu sou uma rena! – Chopper cresceu seu corpo fazendo a criança se assustar.

- Ma... Matem-me – Dizia a criança com a cabeça baixa e o corpo trêmulo, se sentando no chão. – Andem logo e me matem! Mas que merda! Acabem logo com isso!

“Nossa como essa pirralha é irritante para um santo de um cacete! Se quer morrer de uma vez, se joga na porra do mar sozinha, com pedras amarradas em sua garganta e não fica aí pedindo para alguém te matar.”

- Eu diria que é uma decisão impressionante. Mas você não está dando pouco valor a sua vida? – Nami ergueu uma das sobrancelhas.

- Não preciso de sermão de um bando de piratas que mais parecem a escória dos mares. – Olhava por baixo do chapéu que usava. – E por que eu daria? É inútil viver sem esperança! É melhor não existir.

“Escória?”

Mawaha ergueu as mãos para cima, dando de ombros e soltando um bufar. Se levantou do chão limpando as roupas e batendo a palma das mãos.

- Onde vai, senhorita Mawaha? – Perguntou Sanji vendo o garoto andar em direção a porta. – O almoço já está pronto.

- Vou ir para o Crisântemo III. – Olhou para criança de cima a baixo. – Sinceramente, eu não estou nem um pouco a fim de escutar uma pirralha falando que quer morrer na mão de piratas desconhecidos ou lamentando o infortúnio que é a vida. De depressivo, já basta eu. – Bufou. – Caguei se sua vida é pateticamente inútil ou se você se sente como um lixo ou peso morto. Se realmente quer se matar, amarre várias pedras na garganta e se atire no mar. Ninguém aqui vai te impedir ou te salvar.  Você não passa de um clandestino que entrou no navio, apontou uma arma para o imediato e machucou um dos tripulantes. – Mostrou a mão enfaixada. – Mas se bem que eu não posso te culpar por esse machucado, afinal de contas, eu quis enfiar minha mão na frente da arma. – Continuava com os olhos para a criança. – Você está se achando muito para a pouca bosta que é. Não passa de uma fedelha que mal saiu das fraldas e fede a desespero. Pessoas como você me irritam e me entediam muito fácil.

- E você se acha melhor do que eu por que é um pirata que não tem medo de nada? Não me faça rir! Vocês piratas não passam de um bando de lixo que navegam pelos mares, destruindo tudo por onde passam. Prefiro morrer aqui a voltar para o meu navio e ter essa mancha comigo. – A criança gritava.

- Mesmo? – Mawaha ergueu uma das sobrancelhas abrindo um sorriso conforme os chapéus de palha começavam a sentir um arrepio na espinha. Em questão de segundos, Mawaha tinha seu joelho pressionado contra a garganta da criança, a pressionando com força, fazendo cuspir saliva. – Já que não tem nenhuma vontade de viver e fica aí menosprezando seus salvadores, então eu vou ter o imenso prazer de tomar a sua vida. Pode ser?

- Não tem motivos para viver? – Nami tinha o olhar sério para a cena a sua frente. – Se você está vivo, não pode falar sobre morte!

Mawaha olhava de canto de olho, colocando as mãos no bolso, apertando um pouco mais o joelho contra a garganta.

- Para! Já basta! – Chopper puxava a roupa do ex-grisalho o vendo apertar ainda mais seu joelho. – Se continuar a pressionar a garganta, vai acabar matando ele!

Mawaha afastou o joelho da garganta, vendo a criança escorrer pela parede, quase chegando ao chão e recebendo um chute perto da orelha, não forte para machucar seriamente, mas forte o bastante para causar uma tontura.

- Ei! – Chopper falou correndo até a criança caída com um corte que sangrava.

- Ridículo. -  Bufou pesado olhando a criança passar a mão por seu rosto.

- O almoço está pronto! – Anunciou Sanji colocando um panela grande sobre a mesa, fazendo Luffy correr junto aos outros, enquanto o caos era instaurado no pequeno comodo com Chopper quase desmaiando pela agressividade, Nami pouco se fodendo com a criança que chorava no canto e os outros que se serviam.

E mais uma vez o clima da Grand Line tinha se provado implacável. A poucos segundos atrás, o sol raiava no céu. Um sol quente e ardido, mas agora, uma chuva de flocos de neve caia em meio as aguas, cobrindo o navio com um cobertor branco.

Em um dos cantos da escada, a criança clandestina residia encolhida entre suas pernas, com a cabeça protegida do frio, pensando em seu passado e em seu avô.

- Já faz tempo que está nevando assim... – Sanji falava trazendo uma coberta para acriança encolhida. – O Clima aqui da Grand Line me impressiona. – Se sentando na escada e jogando o cobertor quente por cima da cabeça. – Nosso médico está com medo de que você pegue um resfriado. – Se recostou um pouco mais. – Quando a senhorita Nami era pequena, sua mãe foi morta por piratas bem a sua frente. E esses mesmos piratas a usavam como escrava até nós aparecermos. Eu mal posso imaginar como aqueles oito anos foram terríveis para ela. – Sanji suspirou mais uma vez. – Aquela rena também teve um passado bem complicado. Assim como os outros. Bom, pelo menos, nisso somos todos iguais. Por mim, você deveria continuar vivendo. Eu sei que as coisas são difíceis. Mas, se as superar, poderá ver o amanhã. – Soprou a fumaça do cigarro. – Acho que você ainda não pode entender isso.

O clandestino levantou a cabeça.

- O que foi aquilo? Você foi bem legal com aquela criança. – Ussop falava com um sorriso de canto junto a Luffy.

- É mesmo. Por que será? – Sanji olhava para cima com uma mão repousada abaixo do queixo.

“Se superar as coisas difíceis, poderá ver o amanhã, é?”

Mawaha bufou no deck do outro navio, vendo a neve cair no meio da palma de sua mão. O frio batia contra sua pele, arrepiando cada centímetro de pelo que tinha, deixando a ponta dos dedos roxas e mais frias do que costumeiras conforme a pulseira que usava escorria pelo pulso parando onde o braço começava a engrossar.

- Ainda tenho que devolver essa pulseira. – Sorriu de canto abaixando o olhar, passando a esfregar o machucado ao centro de sua mão. – Até lá, tenho que continuar, não é? – Bufou em um sorriso. – Continuar empurrando a minha existência com a barriga.

Sentiu algo ser jogado contra seus cabelos e corpo, um longo casaco de pelos, cheiroso e macio, mas ainda assim, não se moveu.

- Vai congelar se não vestir algo mais quente. – Crocodile olhava Mawaha de cima, o vendo imóvel, apertando o machucado em sua mão, manchando a atadura de sangue.

- Estou vivo, não é? Essa dor só pessoas vivas, sentem, não é? – Falava baixo enfiando a unha do polegar contra a pele. – Não é mentira. Sou um humano que se machuca como os outros, certo?

- Se vai continuar a se machucar desse jeito, vou pegar meu casaco de volta e te tirar do meu navio. Não quero seu sangue nojento manchando meu piso. – Viu quando o grisalho franziu o rosto. Soprou a fumaça.

- Você disse que queria ver todas as minhas expressões não é? Que essa era a única condição para me deixar permanecer aqui no Reginaldo Crisântemo III – Mawaha falava ainda apertando a palma.

- Esse não é o nome dele. – Crocodile continuava a o ver apertar a mão. Respirou fundo. – Sim. Foi minha única condição.

- Posso quebrar esse acordo só hoje? Por favor? – Mawaha olhava para frente sentindo um peso abater seu peito e sua garganta. – Não quero mostrar essa expressão.

- Não. – Crocodile falou com uma voz grossa andando para a frente de Mawaha que continuava com o casaco sobre os cabelos, causando sombra em seu rosto.

- Você é realmente um tirano. – Falava baixo. – Então eu posso lhe mostrar ela lá dentro? Não quero que os outros a vejam.

- Não vão. Eu estou cobrindo o seu rosto. Ninguém pode a ver. – Crocodile passava a mão com o calor humano pelo rosto, deslizando seu polegar sobre a pele fria conforme erguia o queixo. – Me deixe ver sua verdadeira expressão, Mawaha. – A voz era um pouco baixa, junto a um sorriso calmo que surgiu no canto do rosto conforme via a expressão feita. Secando algumas lagrimas que escorriam de seus olhos. – Essa... essa era a expressão que você estava escondendo no meio da corrida, não era? Uma que nem mesmo os chapéus de palha viram. Apenas eu... É uma boa expressão. – Fez um pequeno carinho na bochecha sentindo as mãos com dedos frios segurarem sua mão e roupas. Vendo a boca se abrir em um grito mudo conforme mais lagrimas escorriam. – A única que realmente combina com você.

 

[Em algum lugar do pátio de apostas]

Uma pequena fogueira acesa com as chamas incandescentes queimavam um pequeno livro que em questão de segundos se transformou em cinzas.

- Não tem problema? Era a ficha de inscrições. – Dizia uma mulher sentada no colo olhando para o fogo.

- Aquela pilha de papeis...- Ria o homem. – Não é mais necessária.

 

[De volta a corrida]

Os navios navegavam por aguas claras e com tempo limpo, seguindo um curso enquanto o navio de Gasparde seguia em outra direção com seu motor movido a vapor.

- Estamos claramente fora da rota. – Dizia Bascúd andando em direção ao homem sentado à frente do navio. – Por que não está fazendo nada?

- Não há o que ser feito. – Gasparde sorria olhando o mar enquanto seu braço direito encarava o homem de jaqueta amarela. – Tudo isso é um jogo. Um pouco de diversão para aliviar o tédio.

- Senhor Gasparde! – Chamou um dos subordinados de baixa patente subindo as escadas do convés superior. – Um dos navios está nos seguindo!

- Quem é? – Perguntou o ex-marinheiro fechando o rosto.

- É o Willy! – Respondeu o pirata. – O tritão Willy.

- Então um vilão de verdade foi o primeiro a aparecer! – Gasparde se levantou de onde estava sentado.

- Onde você pensa que vai, Gasparde? Acho que está nos fazendo de bobos? – Willy brandia sua clava na mão, olhando fixamente para o navio do homem. – Não é à toa que tenho olhos!

- Ele está vindo com tudo. – Gasparde sorria vendo o navio mais atrás do seu. – Preparem-se para a batalha! Finalmente vamos brincar com alguém.

- Sim! – Disse o homem alegre, correndo e descendo as escadas.

- Mas acho que eu não vou participar. – Gasparde continuava com seu olhar para o mar.

Merry entrava em perseguição conforme outro navio aparecia atrás, um maior e comandado por um pirata de terceira linha que nenhum dos chapéus de palha conheciam.

- Estou surpreso por terem sobrevivido até aqui! – Dizia o pirata. – Mas cruzar o caminho do grande Vigaro [...]

- O que? Que sujeito irritante. – Falava Zoro dando as costas para o navio.

Mawaha soou com a boca em um assovio.

- O navio dele lembra um Galé. Que incrível. Acho que nunca tinha visto um antes. – Mawaha tinha um sorriso de canto e os braços cruzados a frente do corpo. Fechou o rosto em questão de segundos. – Mas se bem que ele pode ser um Karve também, já que ele não tem remos para o transportar.

- Por que está dando tanta importância para isso? – Zoro falava olhando o grisalho, reparando em suas expressões que pareciam mais suaves e relaxadas que o costumeiro.

- É ele! É o sujeito do início da corrida. – Ussop apontava para o navio ignorando o que o homem falava.

- Acho que o nome é Vigaro. – Chopper se juntou a conversa.

- Hã? Pensei que fossemos os últimos. – Robin seguiu junto de Chopper, ignorando o pirata preso a sua cola.

- Éramos os últimos? – Mawaha se virou com a testa franzida vem os companheiros concordarem com a cabeça. – Hã? Que bosta.

- Quer dizer que ele são os últimos? – Luffy perguntou com as costas para o grande navio.

- O que!? – Gritou Vigaro.

- Ele ficou bravo por ouvir a verdade! – Nami falou se encolhendo em um canto.

- Vamos triturar vocês [...]

Um tiro com estilingue foi feito, acertando bem ao meio do rosto de um dos piratas que vinha na cola de Going Merry.

- Eu... eu acertei? – Ussop parecia impressionado com a mira, esquecendo que era o atirador do grupo.

- Ótimo, Ussop! – Nami fez um sinal com a mão.

- O que acharam disso!? – Ussop falou alto com o peito estufado vendo os piratas do outro navio o encarar. – É com vocês agora. – Foi se esconder ao fundo do navio pelo medo, dando espaço para o trio.

- Legal! Lá Vai [...]

- Espera aí. – Sanji falou.

- Nós dois cuidamos disso. – Zoro continuou andando em direção a mais à frente da popa do navio.

- Fiquei quieto e assista. – Sanji terminou.

Ambos os homens subiram no topo das caveiras a frente do navio.

- Não é nada pessoal, mas, se querem uma briga, vão ter. – Dizia Zoro olhando para os homens mais abaixo.

- Eu ainda tenho que fazer o jantar. – Comentou Sanji.

- Um minuto basta. – Disseram em coro.

-Tem algo estranho... – Mawaha franziu a testa, olhando para o mar. Sentia como se fosse um arrepio no fundo da cabeça, quase como se uma ameaça se aproximasse. – Na agua.

- Estranho? O que quer dizer com isso? – Crocodile ergueu uma das sobrancelhas.

Mawaha não respondeu apenas continuou a olhar para algo enquanto o caos se desenrolava. Bem embaixo do navio dos piratas de Vigaro, o mar mudava, tomava uma sombra escura que crescia, pegando Merry e subindo como se fosse uma enorme bolha de agua. A sombra da agua aos poucos se revelava junto as outras que as seguiam.

Gigantescos animais marinhos conhecidos como Reis dos Mares surgiam da agua, uma figura mais assustadora do que a outra, com cicatrizes de batalhas e partes faltando de seus corpos sinuosos. Alguns não possuíam olhos, enquanto outros tinham pedaços de carne ainda presos e só esperando uma oportunidade para cair e alimentar outras criaturas marinhas. Algas, musgo, cracas e todo tipo de vida residia em suas costas, assim como escamas afiadas e barbatanas com espinhos que desciam pelas coluna. Deixando a vista ainda mais tenebrosa e amedrontadora.

Alguns ainda sangravam, manchando os mares com o tom vermelho. O famoso “Sangue na Agua”. O medo nos piratas era evidente, mas mantinham suas bocas fechadas com medo de atrair sua atenção.

- Que lindos... E um pouco aterrorizantes também. – Mawaha tinha o olhar para os animais conforme o navio despencava em meio as aguas. Um brilho que vinha com o início de uma longa e fodida for de cabeça gerada pelo caos, o obrigando a apertar suas têmporas.

- Se segurem! – Gritou Luffy esticando o braço, cutucando uma das enormes narinas do animal.

- O que vai fazer, Luffy!? – Nami gritava em desespero vendo o animal marinho mover o canto dos lábios e soltar uma longa e potente rajada de ar, os jogando para frente.

Dentro do navio, a confusão continuava por pouco, com a criança clandestina tendo dificuldade para respirar, caída ao chão, se apoiando nas tabuas, trêmula e com o rosto pálido. Estava com medo pelas monstruosidades que nadavam naquelas aguas.

- Ah, eles afundaram. – Luffy falou vendo o navio que os seguia se partir em dois e conhecer o fundo do oceano.

- E-Ei! E o Zoro e o Sanji!? – Ussop falava preocupado com os dois homens que não tinha visto depois que os reis dos mares apareceram.

- É mesmo! Ei! – Luffy falou alto saindo correndo desesperado em busca de seu imediato e cozinheiro.

Algum tempo havia se passado desde o incidente com os animais grotescos, com o jantar pronto e os chapéus de palha reunidos, comendo e saboreando mais uma refeição feita por Sanji.

- Não podia ter pegado a gente, mais cedo? – Zoro olhava para o capitão que enchia a boca de comida, sendo ignorado por completo.

Ao canto da cozinha, a criança intrusa tinha seus braços presos ao joelhos, servindo de apoio para seu queixo enquanto observava a cena alegre e farta a sua frente, se relembrando de imagens do passado, o fazendo abaixar a cabeça.

- Ei, não vai comer? – Luffy tinha observado aquela criança todo o tempo, e assim que teve uma oportunidade, foi ao seu encontro. Se agachando a sua frente, apontando com o polegar para a mesa. – Tem para você também.

- Vocês são sempre assim? – Dizia a criança com um olhar fechado e a boca pendida para baixo, fazendo o capitão do navio entortar a cabeça com a pergunta. – Vocês me mandaram parar de falar sobre vida e morte de forma banal! E, então, fazem coisas perigosas como aquela como se não fosse nada! Vocês poderiam ter morrido!

- É, aquilo foi bem perigoso. – Luffy dizia com um sorriso no rosto.

- Isso não é motivo de riso! – Falou alto. – Você não tem medo de morrer?

- Claro que eu tenho. – O sorriso permanecia em seu rosto.

- Então, por quê!? -  Gritou novamente.

- Quando eu era criança, um pirata salvou a minha vida. Aquele homem perdeu um braço por mim. – Riu anasalado tirando o chapéu de palha, o olhando. – Um braço é um preço pequeno a se pagar. Fico feliz que esteja seguro. Foi o que ele disse, e é por isso que eu jamais jogaria minha vida fora. Mas... eu tenho uma ambição. Algo que eu quero fazer. A qualquer custo! Vai ser bem difícil, mas eu já decidi que vou conseguir. – Olhou para a criança. – E, se eu morrer tentando, está tudo bem.

Nami olhava para a cena, esboçando um sorriso mais tranquilo e calmo. Descendo seu olhar para a bussola, estranhando a direção que apontava. Era como se algo não estivesse certo.

                            ☾

Em algum lugar do vasto mar onde estavam, balas de canhões eram disparadas contra o mastro principal, destruindo o resto que tinha sobrado. Corpos espalhados pelo chão do deck junto a madeira e destroços.

- Capitão, o navio está condenado! Temos que fugir! – Gritava um dos companheiros.

- Como isso... – O homem olhava para sua tripulação morta ao chão, com pouco sobreviventes feridos mortalmente ou que não teriam mais capacidade para desempenhar suas funções novamente. Mais uma bola de canhão foi disparada, acertando o chão a frente do homem que olhava com desespero, o fazendo cair. – Aqui não é Partia!? – Mais balas foram disparadas em sua direção, o consumindo em meio as chamas junto ao seu navio, afinal. Um capitão sempre afunda com seu navio.

Os chapéus de palha tinham os olhos bem abertos e sobrancelhas franzidas pelo rastro de destruição, escombros e desastre que seguiam por um pequeno trecho. Com o fogo queimando vivo em um barco mais a frente que afundava.

- Aqui é uma fortaleza da marinha! – Nami gritou com um suor escorrendo por seu rosto.

- Nós os afundamos? – Perguntava um dos marinheiros na vigia.

- Sim, afirmativo. – Respondeu o homem que olhava por um telescópio, colocando seu corpo para frente. – Há outro navio vindo por lá.

- O que está acontecendo hoje? – Disse o homem com óculos e braços cruzados. – Não para de chegar navios piratas.

- Senhorita Nami, o que significa isso? – Sanji apontou para frente enquanto olhava a mulher.

- Mas não há erro! A agulha está apontando para frente. – Nami falava olhando o Eternal Pose.

- Eu disse. – Mawaha tinha as mãos cerradas em punhos fechados com força, abrindo o machucado recente, o fazendo pingar. – Uma vez marinheiro, sempre marinheiro. Ex-marinheiro? Que papo furado do caralho. Não vou me surpreender nenhum pouco se isso for uma armação daquele homem. Um homem que se diz ser um pirata mas usa o estandarte da marinha? É tão ridículo quanto o Ussop achar que eu sou um espião ou vampiro. – Rangeu os dentes. – Não. Pela experiencia que tenho, tenho certeza absoluta de que isso foi obra daquele “suposto pirata”. Sinto cheiro de lixo e traição de longe.

- Por que você acha isso, Mawaha? – Chopper falava franzindo a testa.

- Depois eu quem sou o paranoico. Você está fazendo suposições e acusando alguém sem ter provas de nada. – Ussop falava olhando a grisalha de cima a baixo, franzindo a testa. – Como que pode ter certeza disso?

- Porque faz sentido, Ussop. – Mawaha cruzou os braços. – Não tem o que explicar. Só faz sentido e pronto. Nem eu sei como explicar, só sei que foi ele. Sinto isso rastejando sobre a minha pele.

- Mas não tem como. Esse de fato é um Eternal Pose. – Nami olhou para a bussola junto a Sanji.

- Ei, e se o Eternal Pose for falso? – Robin olhava de canto fazendo Nami e Sanji se entre olharem e arrancarem o nome de cima.

- Navarone!? – Nami tinha a boca aberta.

- Merda, bem que eu senti cheiro de trapaça nisso. – Sanji franziu a testa.

- O Mawaha está certo. Isso foi o Gasparde. – Luffy olhava para frente com um semblante sério. – Ele é o único que faria uma coisa dessas.

- Do que vocês dois estão falando? Não tem como saber. – Nami falava olhando para Luffy e Mawaha que encaravam a fortaleza da marinha.

- Não há dúvidas! – Luffy dizia ainda com os olhos para a frente.

- Acho que ele está certo... – A criança subia as escadas, se aproximando do grupo. – Enquanto estávamos navegando, eu vi um grande carregamento de Eternal Pose no armazém. Esse deve ser um deles.

- Piratas enganando piratas, não é? – Zoro tinha o olhar no de boina.  – Pelo jeito, o “grande” General, não passa de [...]

- Um maldito de merda. – Terminou Sanji.

- Ele não é um pirata, Zoro. Vocês sim são piratas. – Arrastava ainda mais os dentes cerrando os olhos para o lugar com luzes que vasculhavam as aguas. – Aquele homem... é só um parasita que infecta suas vítimas, manipula e usa os meios precisos para sair na frente. Não é um pirata. É só a porra de um marinheiro. Um resto de aborto que deveria ter morrido no nascimento.

- O que faremos agora? Vamos atrás dele? – Ussop se aproximava do pequeno grupo.

- Sem um verdadeiro Eternal Pose, não temos como. É impossível. – Falava a navegadora.

- Isso mesmo, agora é tarde! É tarde demais! – A criança se enfiava no meio da conversa, gritando e abaixando a cabeça. – Agora o vovô...

- Seu avô? – Nami franziu a testa.

- Não é meu avô de verdade, mas ele salvou minha vida. Ele está doente. E, os piratas dizem que ele não é companheiro e não dão remédio a eles. – Continuava a falar. – É por isso que eu...

- Você veio para esse navio para poder comprar o remédio... – Nami falava baixo, vendo a criança concordar com a cabeça.

- Desculpa interromper esse momento tocante de “preciso salvar quem amo”, porque eu tenho que fazer uma pergunta. – Mawaha ergueu a mão para cima. – Ei, pirralha irritante, me responde uma coisa. Depois que você matasse os piratas malvados desse navio e pegasse o Eternal Pose. Como iria voltar para o seu avô? Onde iria comprar o remédio? – Cruzou os braços. – Suponhamos que você saiba navegar em um navio e soubesse ler uma bussola, ainda sim teria o problema de estar indo para o lugar errado, não teria? E digamos que, por um milagre, você fosse na direção certa, onde compraria esse remédio? Com seus companheiros piratas? Os mesmos que negaram algo tão vital para o homem que cuidou de você? Acha mesmo que eles seriam honestos ao ponto de lhe dar algo desse tipo?

- O que está querendo dizer? – A criança olhava por baixo da boina, tinha o semblante fechado.

- Não é obvio? – Mawaha tinha um sorriso de canto. – Acho que você sabe onde eu quero chegar. Te mandaram em uma aventura tão perigosa como essa, para caçar piratas onde as recompensas variam entre trinta milhões, oitenta milhões e noventa e seis milhões de berris, em um mar repleto de perigos, não só como aqueles reis do mar, mas como tempestades que se formam do nada. Ciclones gigantescos. Chuvas de granizo e até mesmo, temperaturas que chegam abaixo de zero, só para pegar uma recompensa para um remédio? Parece um pouco estranho isso, não? E que remédio é esse para ser tão caro?

- O que está insinuando, maldito? – Falava com a voz que saía por entre os dentes. – O que quer dizer com isso!?

- Eles te mandaram para cá, pois queriam se livrar de você e do seu velho avô, não é obvio o suficiente? Não vai me dizer que acreditou quando te disseram as palavras “deixe-o tentar, acredito em sua força”. Elas não passaram de uma grande mentira, e sabe o porquê? – Mawaha andou em direção a criança, pondo uma das mãos sobre os joelhos, segurando a bochecha e a levantando como se não pesasse nada. – Porque você é fraco e um estorvo na vida deles. Uma pirralha que não sabe fazer nada além de gritar e se martirizar pelos cantos. Que treme enquanto segura uma arma e não pensa nas consequências de suas ações. – Virou seu corpo, levando a criança para a ponta do navio, a colocando suspensa sobre as aguas escuras. – Acha mesmo que você iria voltar para o seu navio capenga, para o velhote doente que chama de avô, com o remédio que precisa e com o resto de uma recompensa? Realmente achou que seria tão fácil tudo isso? Você não planejou nada. Não pensou nas possibilidades. Não estudou seu alvo, apenas entrou de cabeça no primeiro navio que viu ou que julgou menos intimidante.

- Ei, Mawaha, você está exagerando. – Chopper falava sentindo um suor escorrer por seu rosto.

- Eu estou falando, então fiquem quietos. – Olhou de canto. – Você fede a imprudência e a piedade, é quase como se quisesse que outras pessoas fizessem as coisas para você. Não passa de um peso morto. Um saco de batatas podre só esperando para ser descartado da forma mais ridícula possível.

- Cala a boca! Você não sabe do que está falando! – Falava alto se debatendo entre a mão que segurava sua bochecha. – Não sabe das coisas que já passamos!

- Você têm razão, eu não sei, mas olha só!? Eu não ligo. – Mexeu sua mão de um lado para o outro. – Quer ouvir a verdade? Então aqui está ela. Você foi descartado igual ao velho doente que chama de avô. Perdeu sua utilidade quando mostrou que é fraco e se deixou levar pelas emoções, não medindo o que realmente é importante para você. Assim como nós fomos enganados pelo Gasparde com esse Eternal Pose falso. Uma armadilha de principiante. – Riu anasalado. – Você foi enganado com esse sentimento tolo de esperança. Em achar que voltaria para seu navio, para o seu avô e o curaria. Entenda de uma vez, pirralha burra do caralho. Você não vai ver ele de novo. Uma pessoa com o seu pensamento, está fadada a morrer de um jeito ou de outro, pois é isso o que acontece com pessoas fracas. – Mawaha virou a mão, soltando a criança entre o chão de madeira, a olhando com um olhar alto. – E é por isso que eu odeio crianças.  

- E o que você sugere que eu faça!? Qual é o proposito disso tudo agora? – A criança falava com o olhar baixo, rangendo os dentes e apertando a mão no chão. – O que eu posso fazer!?

Mawaha deu de ombros.

- Você é idiota? O velho não salvou sua vida para você ficar fazendo e falando coisas assim. – Luffy continuava a olhar para frente.

- Eu sei disso! – Disse juntando os lábios conforme algumas lagrimas se juntavam em seus olhos.

- Se sabe, então, viva. Mostre o quão forte e determinado você é, e vá salva-lo daquele navio! – Luffy falava com um sorriso no rosto. – Se você não vai fazer nada, não pode ficar falando em arriscar sua vida.

- Luffy... – Nami falou baixo.

- Eu não preciso que...gente como você me diga isso! – As lagrimas rolavam pelo rosto.

- Então está tudo bem. Eu vou lá acabar com ele. – Luffy se virou, tinha um sorriso determinado em seu rosto. Você vêm?

- Eu vou! – Falou ainda em meio ao choro. – Eu vou sim!

- Certo! – O sorriso aumentou mais ainda.

- Então é isso. – Nami falou em meio a um bufar com um sorriso em seu rosto. – Não podemos desistir de trezentos milhões de berris assim. Se bem que precisamos de um Eternal Pose verdadeiro.

- Ei, falando desse jeito... até parece que vocês querem enfrentar o Gasparde. – Ussop tinha um suor preso em seu rosto, junto ao um som rompante de bala de canhão que cortava o céu. – Merda! Atiraram em nós!

Luffy inchou seu corpo novamente, fazendo a bala de canhão ricochetear e acertar uma ponta do rochedo conforme o navio era virado.

- Ei, Nami. – Mawaha se aproximou da navegadora, batendo suas unhas sobre a bussola. – Será que você pode me dar esse Eternal Pose?

- Por quê? – Nami ergueu uma das sobrancelhas com o pedido.

- Acredito que ele vai ser de grande importância lá para frente. – Mawaha sorriu fraco, fazendo Crocodile erguer uma das sobrancelhas.

- É para uma fortaleza da Marinha, você sabe, não é? – Nami passava a bussola para o ex-grisalho que deixava uma risada anasalada escapar. – Não está planejando fazer nada imprudente, está? – Não recebeu uma resposta, a fazendo erguer uma das sobrancelhas.

- Ótimo! Vamos lá! – Luffy desceu ao chão com o corpo desinchado e com um sorriso que se estendia de orelha a orelha.

- E-E-Esperem! Como nós vamos encontra-lo!? – Ussop falava olhando para o capitão, o segurando e mexendo de um lado para o outro.

- Com o nariz do Chopper. – Luffy apontou para a rena.

- Só pode ser brincadeira... – Soltou suas mãos de Luffy, olhando para baixo.

- Não se preocupem. Deixem que a navegadora cuida do resto. – Nami falava com as mãos na cintura.

- Vocês são sempre tão animados? – Robin os olhava com um sorriso no rosto.

- Sim, quase todo dia. – Zoro respondia descendo para o deck principal, seguido dos companheiros.

Um longo bufar foi solto das narinas de Mawaha que passava para o outro navio, abrindo a porta de acesso, andando pelo corredor entre as cabines fechadas e indo para a cabine do capitão.

Seus olhos encaravam o Eternal Pose, passando a unha pelo vidro conforme abria o armário vazio, só esperando para ser preenchido com novas aquisições. Tinha um olhar sério para o vidro, vendo o reflexo de Crocodile a olhando por cima dos ombros.

- Você sabe que para fazer isso, vai precisar de mais do que apenas alguns Bilions, não é? – O corsário tirou o casaco que usava e começou a desabotoar a manga de sua blusa, deixando o pulso a mostra, com uma pequena cicatriz deixada pelos caninos. – E sabe também que isso terá grandes consequências, não sabe? – Crocodile não recebeu nenhuma resposta vinda de Mawaha que continuava a olhar o Eternal Pose com um olhar fechado em seu rosto. O homem passou sua mão por cima do ombro, deixando o pulso bem perto dos lábios enquanto a outra subia pelos cabelos, segurando os fios entre o meio dos dedos da mão dourada, puxando a cabeça um pouco para trás. – Beba. Você parece estar precisando.

- Você fala como se eu estivesse planejando algo, crocodilo velho. Mas sinto decepciona-lo que não estou, apenas senti vontade de começar uma nova coleção de Eternal Pose. – Mawaha virou o rosto, o olhando pelo vidro. – Eu não quero seu sangue.

- Como é teimoso. – Franziu a testa, levando o pulso ainda mais para a boca, apertando a pele contra os lábios, o abrindo lentamente até que atingisse os caninos afiados. Assim que a pele se rompeu, o sangue começou a fluir para dentro da boca, junto a língua que passava por cima, fazendo uma pequena caricia e arrepiando os pelos do corpo. Mawaha subiu uma das mãos, segurando o pulso e pressionando ainda mais seus dentes contra a pele ainda com os olhos focados na bussola. – Está bebendo bastante para alguém que não quer, não é? Está a quanto tempo sem tomar nada? Algumas horas? Um dia? – Crocodile apertou os cabelos escuros contra a mão, puxando ainda mais a cabeça para trás, a fazendo bater quase contra o peito. Os olhos escuros pela lente o encaravam, ainda com o brilho avermelhado da íris. – Você pode mentir à vontade para os seus companheiros e para si mesmo também, mas não para mim. Conheço esse olhar, Mawaha, é um olhar perigoso e desafiador. Um que existe apenas em pessoas que foram traídas ou muito machucadas. Um olhar que pode trazer impérios a sua completa aniquilação se usado direito. Ou, matar aquele que o tem por incompetência. – Bufou em um sorriso apertando ainda mais os dedos no cabelo. -  Esses olhos... seu olhar me incomoda. É quase como se eu me sentisse preso entre as presas de um terrível predador prestes a estraçalhar meu corpo.

- Mas você está. – Mawaha afastou a boca do pulso, sorrindo de canto conforme o sangue era limpo pelo polegar do corsário. – Você é minha presa, ou será que já se esqueceu?

- Você fala como se eu não fosse capaz de te matar facilmente. Só preciso secar seu corpo ou te estrangular. – Crocodile continuava com um olhar forte para Mawaha que voltava a morder outra parte do seu pulso.

- Se fosse por suas mãos, ficaria honrado. – Mawaha falou com os lábios presos ao pulso claro, chupando o líquido vermelho com vontade, ainda encarando os olhos do corsário.

- Não se ache demais, Mawaha. – Soltou a mão dos cabelos, a descendo e colocando sobre a lateral do corpo, segurando um pouco abaixo do peito. Crocodile continuava a encarar o rosto de Mawaha, sorrindo de canto enquanto apertava mais o pulso contra a boca. – Essa é uma boa expressão. É quase como se você estivesse dizendo que é superior a qualquer um. Tem um ar de desprezo nela. Talvez essa seja a que eu mais tenha gostado.

- Maldito pervertido. Por que justo as minhas? Poderia ter de qualquer outra pessoa, mas escolheu justo as minhas. Por quê? – Mawaha soltou o pulso, passando a língua pela boca para limpar o sangue preso.

- Porque eu estou tomando algo que nenhum chapéu de palha já teve. Estou tomando deles a experiencia de ver tão belas expressões como essa que está fazendo agora, ou aquela lá fora. – Passou sua mão pelo pescoço, o segurando e apertando. – Você e as suas expressões são meus agora. Você e eles tomaram algo de mim, então eu estou tomando algo deles. É uma troca justa, não é?

- Tanto faz. – Mawaha olhou para a estante de livros. – Vou precisar de mais livros, os que você tem aqui, eu já li quase todos.

- Posso arranjar mais. Quem sabe na próxima parada? – Passou o polegar por um canto do pescoço. – Tenho um dono manipulador, egoísta, mimado, sádico e que raramente se satisfaz com as coisas que tem. Sempre querendo mais. Mais sangue. Mais sexo e mais poder.

- E eu tenho um cachorrinho que não sabe se comportar mesmo estando em uma coleira apertada. Que gosta de causar intriga pela diversão, e que gosta de me levar a beira da insanidade por ser teimoso demais. E que grande maioria das vezes, parece até que vai morder a mão que o acaricia. Será que deveria descarta-lo o ou não? Ou quem sabe, apertar sua coleira ainda mais, quase o deixando sem ar. Talvez se implorar o bastante, eu a afrouxe um pouco mais.  – Mawaha sorriu em um bufar, voltando a olhar o corsário nos olhos.

- Eu me pergunto o que será que os Chapéus de Palha iriam dizer ao ver você assim? É quase como olhar para um monstro com fome e ferido. Que lambe as próprias feridas para que elas não pinguem nos outros, e que esconde a sua dor. – Apertou o polegar sobre a pele do pescoço. – Será que teriam medo? Nojo? Ou quem sabe, ficariam excitados?

- Então você me considera um monstro? – Ergueu uma das sobrancelhas.

- Claro que sim, desde o dia no deserto. E de novo naquele dia em que tomaram Alabasta de mim. Uma pessoa normal não faria o que você fez. Apenas monstros são capazes de tais coisas, Mawaha. – Crocodile continuava, esfregando seu polegar pelo pescoço e com uma voz um pouco mais macia, mas ainda assim o olhar permanecia. – Os semelhantes se reconhecem, não é?

- E isso te deixa excitado? De pau duro? – Mawaha sorriu de canto.

- Veja por si só. – O corsário pressionou a cintura com o corpo de Mawaha, não tendo nenhum efeito ou volume. – Por mais monstruosa que seja as suas verdadeiras expressões, ainda sim você não desperta nenhum interesse em mim. Não passa de uma pequena diversão.

- Entendo. – Olhou para o lado ainda com o sorriso no rosto. – Acho que vou ter que começar a me esforçar mais então.

“Se não te deixo excitado, então porque escuto seu sangue fluir mais rápido e o cheiro de adrenalina quase sufoca a minha cabeça, Crocodile? Assim como um monstro reconhece outro. Um mentiroso também tem essa mesma capacidade.”

Mawaha deixou uma risada baixa escapar por sua boca, fazendo o homem mais alto erguer uma das sobrancelhas conforme subia seu dedo, o colocando entre os lábios, dentes e a língua. Molhando a ponta e apertando a pele contra a mão.



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