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História The Rise of Evil - A Decisão de Deus


Escrita por: Ovelha-chan

Capítulo 15 - A Decisão de Deus


Capítulo 15 - A Decisão de Deus

 

O anjo que passava pela porta era Miguel.

Em sua forma de guerreiro, seu corpo brilhava em conjunto com seu arco. Trazia no rosto uma expressão aflita, que contrastava de maneira pavorosa com sua postura de ataque.

O sangue das penas que arrancara ainda não havia coagulado, deixando suas asas encharcadas de uma cor dourada.

- Miguel, que bela surpresa. Não esperava sua companhia. Pelo que eu soube, neste horário eu havia marcado uma audição com nosso pai.

- Lúcifer, meu irmão. Supliquei ao vosso criador que me permitisse estar ao seu lado nesse momento. Essa não é uma situação fácil e eu imaginei que fosse precisar de apoio.

Em um instante, a raiva que se acumulara dentro de mim pela repentina invasão começara a diminuir. A presença inesperada de Miguel poderia ser deveras benéfica. Meu irmão faria de tudo para me apoiar, desde que considerasse justo.

Com calma, voltei ao assunto que precisava ser abordado.

-Soube que Miguel e eu voltaremos a lutar como nos velhos tempos. Isso me alegra imensamente, pois terei o prazer de relembrar experiências magníficas.  Porém, infelizmente, creio que lutar contra Astérea possa ser um grande problema. Ela é uma oponente cuja força é comparável à sua, meu pai. A destruição que ela poderia causar nas tropas que temos chega aos campos do inimaginável.

Fiz uma longa pausa, esse seria um ponto muito importante. Como esperado, Miguel agiu em minha defesa.

- Raziel já fez algumas previsões dessa batalha, e é verdade que nenhum dos resultados era realmente positivo. Grandes perdas são o mínimo que podemos esperar.

Olhei para o rosto do criador. Parecia exatamente igual ao dia em que fui criado. De fato, parecia me que ele não envelhecia. A sua expressão porém, não lembrava em nada o sorriso protetor e animado de quando o vi pela primeira vez.

- É por causa desse futuro incerto e desanimador que eu venho interceder por uma causa que considero a solução adequada. Como pode acompanhar, meu pai, eu larguei Joyeuse para dedicar-me ao meu dom espiritual. Tornei-me um diplomata cuja expertise é incontestável.  Creio que tentar convencer Astérea a pedir perdão é mais viável e mais garantido. Nós estabeleceremos nossos termos e talvez ainda seremos capazes de conseguir uma aliada.

- Mesmo assim, sabemos que até mesmo a conversa com a deusa da noite pode ser perigosa, então nossas tropas celestiais estarão por perto, atentas a qualquer sinal de problema. – Miguel sabia dos riscos dessa operação, que se dirigiam principalmente a mim. Eu sentia sua dor emanar em cada palavra, mesmo que desejasse com todo o coração que não fosse capaz de fazê-lo. Meu irmão se importava comigo além do que eu conseguia lembrar. Tentei afastar esses pensamentos, que tornavam cada vez mais difícil prosseguir com meu plano.

Nosso pai podia decifrar o que sentíamos através de nossa aura, o que poderia ser um grande problema. Concentrei-me no plano de energia, para conseguir manter minha aura estável.  Havia dias, eu sentia meu poder angelical fora de controle. Jamais algo do tipo havia ocorrido em todo o céu. Nosso pai havia se esforçado para que nenhum de nós pudesse superar sua força ao tentar rebelar-se.

Desde que os primeiros sonhos começaram a visitar-me durante a noite, pude sentir minha força angelical deixar-me aos poucos. Algumas das minhas penas começaram a adquirir um aspecto acinzentado, escurecendo aos poucos; fato que pude ocultar graças ao sangue dourado que cobria toda a superfície das minhas asas.

Deus nos observava em silêncio, refletindo. Seu corpo emanava um brilho que tornava difícil olhar diretamente para si, mas era incapaz de amenizar sua expressão séria. Tudo em nosso pai parecia divino; desde seu cabelo na altura dos ombros que caía em curvas das mais variadas cores, até sua pele que refletia e adicionava luz em qualquer lugar. Sua face impunha respeito, mas alguns traços delicados denunciavam que tendia a ser, muitas vezes, sensível. Tantas vezes me perguntei em qual momento que o egoísmo de nosso pai subjugou todo o bom potencial que nele habitava. Poderia ter sido um pai bondoso, um criador exemplar e uma divindade única. Infelizmente, por tanto se esperar desse ser, acabou tornando-se arrogante, prepotente, ciumento e egoísta. Agora seu brilhante filho, mais engenhosa criação, também tomado pelo egoísmo faria o possível para destituí-lo de seu papel. Mas o egoísmo que me dominava, trazendo raiva e indignação, provinha do amor que sempre senti por nossa espécie. Toda a injustiça que nos rondava e o sofrimento que isso causava precisavam ser eliminados. Ao convencer Eva a comer o Fruto proibido, já estava decidido a acabar com esse mundo podre e sem sentido.

Minha missão já havia iniciado já algumas eras antes, quando com toda a minha essência, deixei-me chorar, gritar e sofrer. Em meio a dor, algumas das minhas palavras ecoaram pela alma do universo e, muitos e muitos milênios depois, até mesmo alguns humanos sentiram em suas almas meus gritos, transformando-os em sua própria dor e os levando à sua realidade. Pouco me lembro do que foi dito naquele dia, mas lembro de uma das passagens escritas por humanos a partir disso:

“Ai, pobre de mim! Ai, infeliz! Aqui estou para entender, ó Deus, já que me tratas assim, que crime, cometi contra vós nascendo? Mas se nasci já compreendo que crime cometi... Aí está motivo suficiente para vossa justiça e rigor, porque o crime maior do homem é ter nascido”. *

Eles, é claro deixaram minhas palavras como se fossem suas próprias, tomando de nós a originalidade e superioridade, assim como fizeram desde que foram criados.

- Lucem Ferre, como seu pai e criador de toda a sua espécie, eu o autorizo a buscar a vitória por meio da diplomacia. – Nosso criador parecia levemente preocupado, mas sabia que essa decisão era inevitável.

- Que assim seja, meu pai. – Curvei-me em reverência, sabendo que a cessão estava encerrada. Deveria realizar os mesmos passos da vinda, assim terminando o ciclo da audiência divina.

- Gostaria de apresentar mais alguns assuntos, se me permite. - Miguel provavelmente começaria a apresentar um plano para nosso pai. Não duvido que Raziel já o tivesse auxiliado com as previsões antes que o Miguel partisse para me encontrar.

Saí do cômodo feito de mármore, safiras e ouro branco. Olhei para o caminho a ser percorrido e as etapas a serem cumpridas. A dor que seria sentida nesse ritual não seria nada comparada ao grande passo que eu estava prestes a dar. Não consegui impedir-me de sorrir, chegando até mesmo a gargalhar.

Mais do que apenas resolver isso sozinho, conseguindo ainda mais reconhecimento e conquistando uma confiança ainda mais cega e inabalável por parte de Deus, eu tornaria Astérea minha aliada pessoal.

 


Notas Finais


* Trecho do texto teatral "A Vida é Sonho" de Calderón de La Barca


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