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História The Stripper - Seis


Escrita por: lolimi

Capítulo 6 - Seis


O dia clareou e Jimin terminou o turno na boate.

Eram seis da manhã e as aulas iniciavam às sete. Não voltaria para o apartamento, então estava a caminho da loja de conveniência de Hoseok. Planejava se limpar e se arrumar para ir à escola lá, nem sequer cogitou retornar para casa.

Seus passos pela calçada eram dolorosos e o moletom que cobria o corpo pequeno, não era o suficiente para impedi-lo de sentir frio.

Jimin estava morto. Exausto e com dores.

Mesmo que não tivesse a oportunidade de dormir antes de ir para a escola e seu corpo reclamasse a cada vez em que os pés pisavam no chão, se sentia aliviado...

Conseguira quitar a dívida inteira que Jongmin mantinha com Spider.

Os clientes que pagaram para tê-lo por perto — apenas isso — na madrugada, não economizaram.

Fora fatigante suportar os homens lhe tocando e bajulando, na tentativa de conseguir algo a mais consigo, mas no final, as gorjetas que recebera foram altíssimas e suficientes para pagar de uma só vez os sessenta mil wons ao Spider.

Quando o garoto saiu da boate, Mingyu lhe aguardava em frente à porta. O homem certamente esperava Jimin não ter a quantia, mas não fez nada quando todo o dinheiro da dívida fora pago.

Um problema a menos.

Jimin bocejou e tirou as mãos do bolso para abrir a porta de vidro do estabelecimento de Hoseok. O sino soou estridente por todo o local e o garoto entrou, se deparando com seu hyung debruçado no balcão do caixa.

— Bom dia, Jimin-ah — cumprimentou, sonolento.

— Você parece cansado, hyung... um dia eu ainda vou ter tempo para te ajudar aqui na loja e recompensar tudo o que você faz por mim. — O menor sorriu sem a mínima espontaneidade e se aproximou, coçando os olhos lacrimejantes pelo sono.

— Eu não quero recompensas, você sabe que somos amigos, Ji. — Ele se levantou e ajeitou a postura. — E você trabalha duas vezes mais do que eu.

Jimin riu, concordou e entrou na área do balcão, onde o maior estava.

— Olívia deu muito trabalho? — indagou, hesitante.

— Você sempre pergunta isso, mas a resposta é não — disse Hoseok. — Ela é uma ótima companhia...

A porta do depósito estava aberta e Jimin se esgueirou para espiar lá dentro.

Moveu os olhos para a TV desligada e então para o sofá acolchoado.

Sentiu-se aturdido ao vislumbrar outra pessoa além de Olívia, dormindo no assento...

Jeon Jungkook...

Sua irmã estava deitada no sofá, com o corpo inteiro coberto pela manta felpuda, parecia extremamente confortável. A garota dormia com a bochecha pressionada no travesseiro de uma maneira adorável.

Na extremidade do acolchoado, jazia o moreno...

As botinhas de Olívia estavam em cima de uma almofada nas coxas de Jungkook, enquanto ele cochilava sentado, com as costas coladas no encosto do sofá e a cabeça pendendo para o lado. A boca de lábios finos se encontrava aberta e o corpo imenso parecia relaxado.

Jimin sentiu a mão quente do Jung na base das suas costas e virou a cabeça sutilmente na direção dele. Ficaria extremamente furioso por ver Olívia com um quase desconhecido caso não confiasse cegamente em Hoseok.

Se o Jeon trabalhava para seu hyung, não poderia ser alguém tão ruim...

— Ele passou a noite toda com ela.

— É verdade? — Arregalou os olhos, surpreso. E então voltou a encarar o rosto viril do vizinho. Mesmo que ele estivesse dormindo, a aparência ainda se mostrava feroz, com os brincos na orelha, maxilar definido e fios rebeldes.

— Jungkook lida bem com crianças. Ele sempre atende as que vêm aqui comprar lanches e parece bem paciente.

— Parece improvável — Jimin disse, quase em um sussurro. Seus olhos fitavam cada parte do Jeon, tentando imaginar um cenário onde o grandão se dava bem com crianças.

— Pelo que ele me contou, tem uma sobrinha... na verdade, ele não me contou, eu que descobri quando ele derrubou uma foto da carteira e meio que foi obrigado a me contar. — Hoseok coçou a nuca, rindo desconcertado. — Eu pensei que fosse irmã pela semelhança, mas ele me falou que a menina na foto é sua sobrinha.

— Qual é a dele? — Jimin se virou para Hoseok, curioso. — Quero dizer... você sabe algo sobre a vida dele?

— Bem... não muito. Ele não me conta muita coisa. — Hoseok deu de ombros. — Mas eu sei que ele passou por muita merda. Tem uma vida difícil, entende?

— Entendo — respondeu apenas, pois Jimin sabia exatamente como era viver rodeado de dificuldades que a cada dia, ou lhe davam forças para continuar, ou uma vontade imensa de desistir...

É, Jimin entendia.

— Posso usar o banheiro do depósito? — perguntou, depois de um tempo. — Preciso tomar um banho e me ajeitar antes de ir para a escola, eu tô grudando de suor. — E muito sujo com todas as digitais que, terrivelmente tocaram o meu corpo... foi o que pensou, sem externar.

Hoseok assentiu, lhe avisando que havia sabonete, shampoo, toalhas e se precisasse de algo, era para chamá-lo.

Jimin agradeceu, e com a mochila nas costas, carregando todos os pertences de que necessitaria, ele entrou no banheiro, tirou as roupas e deixou que a água lavasse toda a imundície que sentia colada na pele.

O garoto assistiu todos os toques que recebera sendo levados pelo ralo, se sentindo mais leve ao constar que não cheirava mais a suor e cigarros.

E após sair do interior do boxe, limpo, parou em frente ao espelho, vislumbrando todo o próprio corpo exposto, sem vestimenta alguma.

Tentou não se atentar demais aos leves hematomas marcados na cintura porque não queria pensar sobre eles, mas sua mente traiçoeira o conduzia até as memórias...

As manchas roxas eram antigas, de uma semana atrás, na noite que Jongmin chegou bêbado — mais uma vez.

Jimin estava no caminho do irmão e fora alvo da irritação dele. O menor tentou se defender e machucar Jongmin como ele lhe feria, mas pouca ação estava ao seu alcance quando se tratava de lutar contra o Park mais velho.

Jongmin chorou, se ajoelhou e implorou por perdão quando o viu deitado no chão frio e Jimin não o desculpou, tendo a certeza de que isso o machucaria mais do que qualquer golpe que viesse — com sorte — a acertá-lo.

No fim, o que lhe restava era tentar esquecer. Detestava os momentos em que era agredido, porque lhe faziam sentir fraco e submetido, até mesmo humilhado. Por isso sempre tentava deslembrar...

Desviou o olhar do próprio reflexo e se direcionou para a mochila aberta sobre a tampa da privada. Pegou uma pequena embalagem redonda de relaxante muscular, abriu a tampa e começou a aplicar sobre a pele.

Seu corpo inteiro estava dolorido e cansado, o gel refrescante ajudava os músculos na medida do possível.

Espalhou o relaxante pelas coxas, braços e abdômen. Precisava passá-lo nas costas e estava com dores demais para alcançá-la. À vista disso, gritou o nome do seu hyung. Não se importava se ele lhe visse sem roupas, tampouco se reparasse os hematomas em si. Hoseok já havia o visto em situação pior.

Quando berrou "Hoseok!" pela terceira vez e ele ainda não aparecera, Jimin pensou que ele estivesse atendendo na loja e não quis atrapalhar.

Ao parar de chamá-lo, no entanto, a porta fora aberta bruscamente.

O corpo grande de Jungkook, a face apressada e preocupada, tomaram a imagem da entrada rapidamente.

Jimin pulou pelo susto e cobriu as marcas roxas em seu corpo com as mãos pequenas, a parte íntima estava exposta, mas não era isso que ele se preocupava em esconder.

— O que tá fazendo? Sai daqui! — A raiva dominou as feições suaves do menor. Não se incomodava em verem seu corpo nu, o que o perturbava, era repararem o quão machucado estava.

E era exatamente o que o Jeon fazia. Os olhos escuros dele, pouco arregalados, não disfarçavam...

— Sai logo daqui! — repetiu o menor, agarrando a toalha e envolvendo o corpo nela.

— Eu te escutei gritar, achei que aconteceu algo. — Ele enfim se pronunciou. — Precisava gritar assim?

— Oh! Desculpa, te acordei? — Jimin, irritado, se sentia vulnerável por ser visto naquela situação.

Jeon nada o respondeu.

— Não aconteceu nada, ok? — disse o loiro, rude. Não conseguiu mais encarar Jungkook então sua atenção se desviou para as lajotas peroladas do banheiro. — Pode chamar o Hoseok, por favor?

Mesmo olhando para o chão, Jimin percebeu o moreno hesitando antes de se virar e fechar a porta. Ele parecia preocupado...

Umedeceu os lábios e suspirou, apertando a toalha com mais força contra o corpo.

Não entendia o porquê tinha tanto medo que os outros sentissem compaixão por si...

Hoseok não demorou para vir ampará-lo, ele massageou suas costas doloridas e lhe encheu de perguntas sobre os hematomas. Jimin respondeu todos os questionamentos do hyung e usou de todos os argumentos possíveis para impedi-lo de ir atrás de Jongmin, até mentiu sobre ter o socado também, pois só isso fez o Jung se acalmar.

Mais tarde, Jimin acordou Olívia e ajeitou a menina para ir à escola. Os dois fizeram o desjejum em uma cafeteria e Jimin se sentiu satisfeito por ser capaz de proporcionar uma boa refeição à irmã, comprou bolos e doces caseiros feitos com açúcar orgânico, que não fariam nenhum mal a ela.

Os dois comeram como não faziam há dias e entre conversas, risadas e troca de carinhos, aproveitaram o momento juntos.

O único problema, fora que Olívia não parava de falar em como Jungkook-oppa era legal.

[...]

As primeiras aulas foram entediantes, ele não conseguiu prestar atenção porque estava há cerca de, vinte e seis horas sem dormir, talvez mais, ele não sabia ao certo. A questão era: o sono o atrapalhava.

Então, no horário de intervalo, após bocejar uma centena de vezes, Jimin caminhou até a mercearia mais próxima e bebeu duas latinhas inteiras de energético... se a sua força de vontade não o mantivesse acordado, a bebida composta por taurina, cafeína e guaraná, o manteria.

Comprou alguns lanches também e comeu todos. Sobrou duas barrinhas de cereais que ele guardou no bolso do moletom, junto a uma cartela de cigarros.

Enquanto voltava para a sala, caminhando pelo pátio, Jimin viu Jeon Jungkook, rodeado de garotos.

Franziu o cenho e parou ao perceber quem eram as companhias dele...

O grupo de delinquentes e repetentes.

Jimin os conhecia e sabia que não eram as melhores pessoas para manter uma relação. Na verdade, não gostava nenhum pouco daqueles garotos, os encontrara diversas vezes na boate e fazia de tudo para evitá-los. Uma vez tentou denunciá-los para Siwon, avisando que alguns eram menores de idade, mas seu chefe fora franco lhe respondendo que não se importava.

De qualquer forma, pensou que Jungkook desejasse se enturmar com pessoas parecidas com ele. A maioria no grupo de delinquentes, eram repetentes, como o Jeon. E também, havia inúmeras semelhanças entre eles, o modo de se vestir e a aparência audaciosa eram duas delas.

Lembrou-se de uma das barrinhas em seu bolso e de como planejava entregá-la a Jungkook.

Ele cuidara de Olívia e a menina pareceu tê-lo adorado, Jimin apenas queria agradecer de alguma forma, mas não falaria com ele enquanto os delinquentes estivessem por perto, eles sempre lhe enfureciam, o chamando de Angel J e outros apelidos inoportunos.

No fim, deu de ombros e decidiu que antes de ir para a sala, passaria no fundo da construção. Precisava se distrair um pouco e o tabaco seria o seu escape.

Fora isso que fez.

Como não tinha um isqueiro consigo, uma garota que fumava por perto, lhe fez a gentileza de emprestar o dela. Durante o tempo em que tragava a fumaça, a nicotina atingiu seu cérebro ligeiramente, lhe fazendo sentir uma sensação prazerosa.

Pensou em Jungkook se enturmando com o grupo de delinquentes e não deixou de murmurar um "idiota, fazendo péssimas amizades". No entanto, constatou que se ele fosse seu amigo, também não andaria em boa companhia. Ao menos, de acordo com seus colegas de turma, nenhum pai ou mãe gostaria de ver o filho conversando com Park Jimin.

Gargalhou de si mesmo e ao terminar o cigarro, ofereceu a barra de cereais que entregaria a Jungkook, para a garota que lhe emprestou o isqueiro.

Calmo o suficiente, ele retornou para a sala em passos extremamente preguiçosos.

Parou em frente a porta da turma e suspirou, seus pés cobertos pelo tênis surrado de sempre, se preparam para dar o primeiro passo na sala.

No entanto, parou novamente, assim que levantou o olhar e viu o novato Kim Taehyung deixando um pacotinho triangular sobre sua carteira. O garoto ajeitou a posição do pacote umas três vezes e olhou ao redor de forma suspeita, como se fosse uma criança cuidando para não ser flagrada fazendo algo errado. Logo o Kim voltou para o próprio lugar e quase pulou da cadeira ao encontrar Jimin parado na porta.

O loiro franziu o cenho, pensando o que diabos o futuro aluno destaque colocara em sua mesa. Algo positivo não era, já que o Kim se enturmara com os mesmos estudantes que zombavam do Park dia após dia.

Aproximou-se velozmente da carteira e os olhos castanhos arregalaram ao vislumbrar a metade de um sanduíche natural empacotado sobre seu caderno.

— Ele não fez isso — queixou-se baixinho, entre dentes.

Sentia-se humilhado. Com raiva.

O Kim certamente queria brincar consigo, seus colegas de turma fizeram o mesmo há um ano e Taehyung andava com essas mesmas pessoas...

Então ele com certeza estava zombando de si! Com certeza, se abrisse o sanduíche, encontraria pedras e lama dentro! Com certeza ele gargalharia quando Jimin estivesse chorando, com fome e abrisse um sanduíche feito de pedras e lamas!

Olhou furioso para o Kim e ele lhe encarava curioso, mas desviou o olhar, constrangido quando fora pego no flagra pelo loiro.

Ele parecia inocente, mas Jimin, com rancor de uma gozação que fora feita consigo há um ano, aprendera a não confiar em nenhum dos colegas de classe, nem nos rostos mais ingênuos...

Agarrou o pacote triangular com força e andou, irritado, até parar em frente ao Kim. Colocou de qualquer jeito o sanduíche sobre a carteira dele e sequer notou os olhos extremamente arregalados e assustados do garoto. Assustados demais e nada zombeteiros.

— Você só pode estar brincando se acha que vou cair nessa! — disse, controlando o tom da voz, sua vontade era gritar, mas não queria chamar atenção. — Antes de fazer alguma zombaria comigo, pergunte aos seus amigos se eles já não fizeram antes... ninguém cai na mesma merda duas vezes!

— O quê? Não, não, eu não...

O Kim começou a negar e gesticular desesperadamente.

E Jimin o interrompeu.

— Vai ter terras e pedras quando eu abrir isso? — Seus lábios tremeram em cólera.

Na primeira vez que lhe fizeram isso, Jimin era fraco demais para confrontar alguém, ele apenas chorou e continuou com o estômago doendo de fome. Na época, ainda não ganhava o suficiente para conseguir sustentar ele e Olívia, então quando faltava alimento, a irmã era prioridade.

— Não! Por Deus! Você entendeu tudo errado! — O novato se levantou, preocupado e Jimin percebeu que ele era bem mais alto que si. — Eu só queria fazer amizade com você!

— Amizade? Comigo? — indagou, quase debochando.

— Sim, por que parece surpreso?

A pergunta pareceu tão inocente que Jimin quis rir.

— Eu posso te dar mil respostas para isso...

— Eu juro que não fiz nada! Só não encontrei nenhuma outra forma de conversar com você... me desculpe, eu deveria ter se aproximado com mais cuidado... — O Kim era grande como um touro e sua voz era grave e digna de um líder, mas ele parecia manso como um coelho.

Jimin suspirou, cansado demais para continuar a discussão.

— Só... não faça mais isso.

Taehyung assentiu com um balançar de cabeça desesperado e Jimin lhe deu as costas, retornando ao seu lugar. Ele sentou na cadeira e uma imensa vontade de fumar o tomou.

— Não tenho um minuto de tranquilidade — praguejou, sozinho.

Olhou para o novato Kim novamente, cabisbaixo na carteira dele. O garoto parecia entristecido, mas Jimin ainda estava desacreditado de sua inocência.

As meninas da turma estavam em volta dele e encaravam Jimin com raiva, nojo e desgosto.

O loiro deu de ombros. Após um tempo recebendo os mesmos tipos de olhares, era quase normal, não negava que lhe machucavam, porém, na maior parte do tempo, ele tentava não se importar... às vezes conseguia, às vezes não...

Ainda vislumbrando o novato, não tentou esconder a surpresa ao vê-lo desembrulhando o sanduíche.

De frango.

Não eram pedras, nem lama.

Taehyung levou o pedaço de pão até a boca e o abocanhou.

E Jimin, se sentiu terrível.

"Quando imposto a um trauma, o corpo implanta o seu próprio sistema de defesa."

Meredith Grey



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