História The three Lee's - Pequenas aventuras, nasceres do Sol e Lee's

The three lee's

*

Mark franziu o nariz assim que Mina soprou o cigarro fedorento em seu rosto, apenas para irritá-lo, não sabia porque continuava andando com aqueles três sendo que odiava cigarros e eles pareciam chaminés. O cheiro era horrível.

— Vocês deviam parar de fumar essa merda— Disse afastando a fumaça de perto.

— Cara, você devia parar de reclamar, isso sim— Renjun falou esticando as pernas.

— No final o Mark ‘tá certo, a gente devia parar— Taeyong concordou apagando a bituca na borracha do All-Star.

— Mas não vamos— Mina sorriu.

— Mas não vamos— Ele concordou.

— Seu namoradinho ‘tá vindo pra cá— Renjun apontou com a cabeça para um lugar fazendo Mark revirar os olhos— Um deles, na verdade.

Encarou Donghyuck vindo até si com o cabelo vermelho voando por conta do vento, o cropped preto mostrava sua barriga morena e ele vinha em passos apressados.

— Te procurei pela escola toda, mané— Falou a Mark quando o achou e o chutou de leve— Oi gente— Cumprimentou e torceu o nariz, Donghyuck odiava o cheiro de cigarro muito mais que Mark e quando o garoto o abraçava depois de ficar com os amigos ele o empurrava para longe por conta do cheiro que teimava em se impregnar nas roupas do Lee mais velho.

— Você sabe onde eu sempre fico— Deu de ombros— O que foi?

— Jeno está no treino, você me prometeu que íamos assistir hoje— Disse ofendido por Mark ter esquecido— Até comprei cheetos.

— Desculpa, eu esqueci— Pediu se levantando culpado.

— Tanto faz— Murmurou chateado— Você vem ou não?

— Vou— Concordou se virando para os amigos que encaravam a cena com sorrisinhos idiotas— Vejo vocês amanhã.

Eles acenaram de leve e deixaram Mark ir. Porque sabiam muito bem que quando se tratava de Donghyuck Mark nunca conseguiria dizer não.

Quem os via assim achava que Donghyuck havia chegado primeiro, mas a verdade é que ele chegou depois de muito tempo. Muito mesmo.

Mark e Jeno sempre foram melhores amigos, daquele tipo em que se conheciam desde a época das fraldas. Os dois Lee foram grudados por muito tempo, até que aos 15 anos Donghyuck entrou na escola, naquela época ele não tinha o cabelo vermelho, mas mesmo assim chamava a atenção, então Jeno foi falar com o aluno novo o que deixou Mark louco de ciúmes. Depois de um tempo Mark teve muitos motivos para odiar Donghyuck, porque ele era a única coisa da qual Jeno sabia falar por semanas, até que ele apresentou Mark a Donghyuck e no começo eles se odiaram, na verdade Mark odiou Donghyuck, e ele só retribuiu o ódio idiota do Lee.

Foram necessários meses para que Mark começasse a se simpatizar um pouquinho com Donghyuck, enquanto isso Hyuck começava a desenvolver uma paixãozinha pelo canadense cheio de marra. Demorou um pouco, mas com o tempo Donghyuck percebeu o porquê do Lee odiar tanto ele, e a resposta era simples, Jeno.

Qualquer um que  tivesse um cérebro saberia ver claramente que Mark gostava de Jeno um pouco mais do que um melhor amigo deveria gostar do outro, então Donghyuck se sentiu um idiota, um idiota porque claramente estava atrapalhando algo, fez o que achava mais sensato e se afastou dos dois. Jeno sentiu falta do amigo, afinal já havia criado laços com Donghyuck, e por isso ele praticamente obrigou Mark a pedir desculpas para sei lá o que ele tinha feito, o fato era que dessa vez Mark não havia feito nada, mas para alegrar o melhor amigo— Que estava numa greve de silêncio estúpida— O pobre Lee foi falar com Donghyuck, que a princípio achou mega estranho Mark ir falar consigo, e ainda por cima pedir para que ele voltasse a andar com os dois Lees.

Era estranho porque Mark ao menos queria isso, mas o mais estranho mesmo foi quando Mark se sentou ao lado de Donghyuck na aula de biologia, e todo mundo sabia que naquela aula Mark sentava com a Mina. A verdade era que Mark confiava muito em Jeno, e se Jeno gostava tanto assim de Donghyuck ele provavelmente também gostaria.

“— Ele também chora com a morte do Mufasa, vocês dois são iguais” Jeno sempre dizia, mas só ele não percebia que era o único ser humano que não chorava por isso.

Naquele dia Mark puxou assunto com Donghyuck e ambos descobriram que amavam comer batata frita com milkshake de chocolate e que a única coisa boa de morango era o suco e a bala. Donghyuck não parecia tão ruim naquela altura do campeonato.

Em certo momento era Jeno que se sentia excluído pelos dois, e então a dupla de melhores amigos Lee’s havia virado um trio de melhores amigos Lee’s. Eram três, e não era estranho por Donghyuck ter chegado depois e ter perdido várias histórias, porque parecia que ele sempre esteve ali em todo tempo.

Agora Donghyuck andava na frente com a cara fechada e um bico enorme, Mark achava fofo, mas sabia que o melhor amigo odiava quando ele se esquecia de alguma coisa, a mínima que fosse, um dia Donghyuck havia ficado bravo com Mark porque ele tinha esquecido de levar um livro pra ele, e a raiva seguiu até o final das aulas.

— Ei— Mark o chamou, mas ele continuou andando com a mochila presa num ombro só e nem se virou para ver o que ele queria— Hyuck.

Nada.

Mark correu até ele e o pegou pela mão, Donghyuck o encarou com sua melhor cara de desinteresse.

— Você sabe que eu não fiz por mal, né? — Perguntou e não recebeu resposta— Me desculpa, por favor— Fez biquinho— Prometo não esquecer mais.

— Você sabe que vai esquecer— Disse e deu de ombros.

— Dessa vez não, prometo.

— Tudo bem— Concordou e continuou puxando o amigo pela mão até a quadra.

Era uma tradição meio idiota dos dois, sempre que Jeno tinha treino eles assistiam ele  inteiro enquanto comiam cheetos e falavam sobre a bunda dos jogadores.

Se sentaram no lugar de sempre e assim que os viu Jeno correu para perto da arquibancada sorrindo.

— Achei que não iam vir hoje— Disse.

— Mark quase esqueceu.

— Eu já pedi desculpa— Se defendeu.

— Tanto faz.

— Então, vocês vão lá pra casa depois do treino? — Jeno perguntou.

— Nunca se perde uma maratona de friends, Lee— Donghyuck disse.

— Certo então, Lee— Jeno rebateu.

Era uma idiotice eles ficarem se chamando pelo sobrenome, mas já tinha virado hábito, então continuavam naquela coisa.

— Tenho que ir agora, não chamem ninguém de gostoso em voz alta ou eu juro que o treinador Kim vai expulsar vocês daqui.

— Relaxa, eu calo a boca do Donghyuck pra você— Mark falou rindo e levou uma cotovelada.

— Não fui que disse que o Johnny Seo tinha uma bunda legal, idiota— Revirou os olhos.

— Cala a boca, foi só uma vez.

— É, porque depois vocês transaram— Disse como se não fosse nada, e pra Donghyuck realmente não era.

— Eca, vou treinar lembrando disso agora— Jeno fez uma careta, o treinador apitou indicando que o treino ia começar— Guardem cheetos pra mim— Falou antes de se virar e correr até a quadra.

— Sabe, eu acho uma injustiça Jeno ser o único gostoso entre nós— Donghyuck disse e Mark o encarou incrédulo.

Hyuck não tinha filtros, absolutamente nenhum e raramente ficava com vergonha de algo.

— O que? Você sabe que ele é— Abriu o pacote do salgadinho.

E Mark sabia que Jeno realmente era gostoso pra caralho, mas ele fazia questão de jogar essa informação no fundo da mente porque ele escondia para si mesmo que sentia várias coisinhas a mais por Jeno, coisas que ele não deveria sentir.

— Obrigado por ter me excluído desse pacote.

— Não, tipo você também é gostoso, mas você é um gostoso magrelo, sabe? Daqueles que você olha e pensa, nossa ele deve fazer parte de uma banda de indie.

Mark o encarou enfiando um cheetos na boca e franziu a sobrancelha.

— Obrigado, eu acho— Falou sem se importar com Donghyuck o chamando de “gostoso magrelo” seja lá o que aquilo significava.

— De nada— Deu de ombros— Ontem eu tava conversando com a minha mãe e ela disse que quando era adolescente fumou maconha e vomitou tudo, daí eu falei que se ela fumou eu também podia e isso fez com que ela ficasse dez minutos falando o quanto usar drogas era errado, mas pensa comigo, a vida parece um desperdício se você nunca fumou um beck.

— Acho que sua mãe ‘tá certa— Disse.

— Provavelmente ela ‘tá, mas eu sou um adolescente rebelde e finjo que não escuto tudo o que ela fala— Lambeu o dedão que já estava laranja— Você podia conseguir pra mim, né?

— O que?! Não! — Respondeu o encarando como se ele fosse um louco, não que ele não fosse.

— Você tem amigos que fumam, não ia pegar mal— Explicou e Mark se sentiu um tantinho ofendido por Donghyuck indiretamente ter chamado seus amigos de maconheiros.

— Eles não fumam maconha.

— O Renjun fuma, não foi por isso que ele foi parar na diretoria semestre passado? — Donghyuck tinha uma mania estranha de saber de tudo que acontecia na escola, talvez porque ele era amigo de Na Jaemin que falava com literalmente todo mundo e sabia todas as fofocas.

— Como você sabe disso? — Perguntou chocado, Donghyuck ia abrir a boca, mas logo foi cortado— Esquece, nem de fumar você gosta.

— Eu não gosto de cigarros, maconha é diferente— Se defendeu.

— Não, esquece, não vou ser o responsável por te tornar um viciado.

— Chato.

— Imbecil.

Então eles se entreolharam e riram.

— Mark.

— O que?

— E cocaína? — Perguntou levando um chute na canela que o fez fazer uma careta de dor— Doeu, idiota.

— Desculpa— Pediu abraçando o melhor amigo bem forte.

— Não olha agora, mas tenho quase certeza que o Park ‘tá olhando pra tua bunda— Sussurrou fazendo Mark ficar vermelho, então ele riu e mostrou o dedo do meio para o Park que voltou a prestar atenção no jogo sem graça.

— Você é um babaca— Mark sussurrou de volta.

— Eu sei— Concordou e se separou do abraço— Yeri quer ficar com o Renjun— Comentou.

— E?

— Ajuda ela vai— Pediu e Mark teve que gargalhar, pra quem observava de longe acharia que Donghyuck era a pessoa mais engraçada do mundo, e ele até era, mas com Mark parecia que o garoto fazia um stand-up 24 horas por dia, porque Mark ria de absolutamente tudo que Donghyuck falava como se fosse a coisa mais engraçada do mundo, e ele gostava disso em segredo.

— A gente ‘tá falando do Renjun, Hyuck— Disse— Ele nunca ficaria com a Yeri.

— Por que não?

— Porque é o Renjun— Justificou como se aquele fosse um ótimo motivo o que fez Donghyuck bufar.

— Tenta, ok?

— Ok— Concordou.

Ficaram mais uma hora ali, o cheetos já havia acabado e eles apenas sentiam muito por Jeno. Era bom conversar com Donghyuck porque ele sempre sabia o que falar, quando Mark estava apenas com Jeno era normal os dois ficarem num silêncio confortável, mas com Donghyuck por perto? Nunca ficava silêncio, e se ficasse era porque ele estava bravo. Comentaram sobre a bunda dos jogadores e chegaram na conclusão de que jogadores de baseball não tinham quase nada de bunda, o que era deprimente.

Jeno chegou um pouco depois com o cabelo molhado por conta de ter tomado banho no vestiário, e Mark prendeu a respiração ao ver o melhor amigo de regata, devia já estar acostumado com isso, mas sempre que acontecia as bochechas de Mark ficavam vermelhas de novo, porque ele era um idiota e ao menos sabia controlar seus sentimentos.

Se parássemos pra pensar Mark sentia coisas estranhas pelo melhor amigo há muito tempo, mais precisamente desde os 14 anos. Sim, Mark Lee era otário o suficiente para estar meio apaixonado pelo melhor amigo há 4 anos. Decepcionante.

Ele poderia ter se confessado a um bom tempo, mas não fez por medo, até porque nem todo mundo tem coragem de colocar uma amizade de 16 anos em risco por causa de uma paixãozinha idiota, e Mark até que lidava bem com ela, como se fosse uma coisinha incomoda que você aprende a lidar, até tinha namorado nesse período de tempo, mas no fundo sabia que sempre ficaria vermelho ao notar o quão belo Jeno era.

De certa forma Donghyuck amenizou toda a situação. porque quando ficava insuportável saber que nunca seria retribuído Donghyuck estaria ali, mostrando pra Mark que nem tudo estava perdido e que se ficasse mesmo insuportável ele seria como uma luz no túnel escuro que ajuda nesses momentos. Não que Donghyuck soubesse— Pelo menos Mark achava que não— Mas ele sempre o ajudava sem saber, e isso bastava.

Ele sabia que Jeno o consideraria um irmão pra sempre, e às vezes Mark odiava sua mãe por não ter os afastado quando estavam na escolhinha, qual é, Jeno comia catarro, se Mark fosse sua mãe com certeza o proibiria de andar com o outro Lee. Se a situação de Jeno tivesse sido igual a de Donghyuck não haveriam tantos poréns como era com Jeno, e às vezes Mark se perguntava como seria se tivesse sido ao contrário, ele e Donghyuck se conhecendo desde sempre e depois de um longo tempo Jeno virar seu melhor amigo.

Chegaram na casa de Jeno, que na verdade era a casa da tia dele, porque a casa dele de verdade ficava no jardim dos fundos. Ártemis, sua gata, veio passar entre as pernas de Donghyuck, que odiava gatos, mas suportava Ártemis por conta de Jeno, ele franziu o nariz e fez um barulho irritante pedindo mentalmente pra gata deixá-lo em paz.

— Não faça isso pra minha gata, é extremamente rude— Jeno disse pegando a gata no colo que encarava Donghyuck como se soubesse que ele a odiava.

— Ela me odeia— Falou.

— Ela é só uma gata— Retrucou fazendo careta.

— E me odeia mesmo assim.

— Ninguém te odeia Hyuck, nem mesmo a Ártemis— Mark falou se jogando no sofá, afinal aquela casa também era meia dele.

— Você ouviu isso, Jeno? Mark Lee está tentando ser fofo?

— Acho que ‘tá com febre— Colocou uma das mãos na testa do Lee mais velho que a afastou com um tapa que fez Jeno sorrir.

— Vocês são muito chatos.

— Esquece, voltou a ser ele mesmo— Donghyuck riu e Jeno riu também.

— Vamos logo pro meu quarto, ‘tô exausto— Jeno disse colocando a gata no chão que saiu correndo pro quintal.

Mark se levantou de má vontade e seguiu os outros dois garotos para o jardim, onde tinha a casa de Jeno e o porão, onde ficava seu quarto. A verdade era que a casa de Jeno era uma bagunça, a mãe do garoto havia morrido quando ele ainda era muito novo e Mark se lembrava vagamente da mãe dele, quando ela morreu o pai de Jeno veio morar com a irmã, e depois de alguns anos construiu uma casa pequena e aconchegante no quintal imenso da casa da tia de Jeno. Resultado, Jeno tinha duas casas e ainda tinha um porão inteiro só pra ele. Donghyuck dizia que ele tinha sorte por ter duas geladeiras a disposição dele.

Quando eram crianças Mark e Jeno viviam no quintal, porque tinham uma cabaninha ridícula e minúscula do Batman montada embaixo da árvore mutante, esse nome surgiu depois dos garotos perceberem que o tronco da árvore parecia ter um tipo de tumor esquisito, e eles viviam lá, quando contaram pra Donghyuck sobre a cabaninha ele cismou que queria montar de novo para viver a experiência também. O resultado foi três adolescentes em cima um dos outros com as pernas pra fora da cabana.

Desceram até o porão e Donghyuck se jogou na cama de Jeno, ele era educado na casa da tia do Lee ou na casa do pai dele, mas quando entrava no porão era como se ele estivesse na própria casa.

— Eu tenho que tomar um banho e tirar uma soneca, depois a gente faz a maratona, pode ser?

Era quinta-feira, mas mesmo assim os três faziam maratonas diversas, de acordo com Donghyuck sexta não era dia para estudar de verdade, então eles acabavam indo cansados para a escola no dia seguinte. Os três sabiam que era uma ideia estúpida, mas quem liga? Ainda faltava muita nota vermelha para eles repetirem de ano.

— Tudo bem, bebê— Donghyuck concordou. Mark nunca chamava nenhum dos dois de apelidos carinhosos e Jeno gostava de dar apelidos sem sentido, o de Donghyuck era Haechan e o de Mark nem era um apelido de verdade, era apenas seu nome coreano, que por sinal ele sabia que o garoto odiava, mas Donghyuck tinha mania de chamar eles por apelidos carinhosos e embaraçosos como neném, bebê, e até mesmo amor— A gente te espera.

— Ok, já volto— Disse subindo as escadas novamente pra ir usar o banheiro e tomar banho.

Eram apenas Mark e Donghyuck de novo. Se deitou ao lado do outro Lee o empurrando pro lado o que o fez resmungar.

— Sabe— Ele falou baixinho— Queria conhecer o mundo todo.

— Eu sei— Sorriu.

Donghyuck tinha um jeito bonito de viver, ele era livre, não tinha regras na própria vida e fazia tudo o que tinha vontade. Ele não esperava um sim ou um não, apenas fazia. Tanto Jeno quanto Mark achavam isso incrível, porque Donghyuck era um espírito livre, um passarinho solto para voar, ele sabia viver e essa era sua maior virtude.

— Mas quando eu for vou levar você e o Jeno junto comigo.

— Por que? — Mark perguntou juntando seu dedinho no dele e pode ver o sorrisinho de Hyuck de soslaio.

— Não consigo viver sem vocês, deixaria tudo pra trás, menos vocês dois— Disse— Ainda tenho a esperança de que vamos morar juntos e vamos ter vizinhos legais igual em friends.

— Jeno nunca deixaria você pintar a porta de roxo— Murmurou.

— Jeno não tem que deixar nada.

— Você tem razão, porque se ele não deixasse você ficaria com mais vontade de fazer— Explicou.

— É.

Jeno chegou depois com o cabelo pingando e óculos de descanso, sorriu pros dois e se jogou em cima deles que resmungaram e o empurraram pro chão. Depois de muito empurra empurra, e ataque de cócegas Jeno conseguiu deitar em sua cama e depois de alguns cafunés de Donghyuck no cabelo e carinhos sutis de Mark em seu braço ele apagou.

Para não acordá-lo Donghyuck se rendeu a não ficar tagarelando e apenas ligou a televisão assistindo qualquer coisa que passasse, Mark colocou o fone de ouvido e abraçou o amigo de lado, que deitou a cabeça em seu ombro, depois de dez minutos os três garotos estavam adormecidos.

*

Estava frio, não um frio cortante, apenas aquele friozinho chato e ótimo para ficar debaixo das cobertas, mas era óbvio que não seria isso que Donghyuck faria.

Tinha acabado de ler um livro qualquer e sentiu uma vontade imensa de assistir o nascer do sol, ainda era uma da manhã então daria tempo.

Donghyuck era sempre assim, tinha ideias malucas no meio da madrugada e não sossegava até cumpri-las, um dia ele foi até a cidade vizinha apenas para ir numa festa das lanternas, porque na opinião dele se sentiria no filme da Rapunzel. Ele tinha ideias loucas, mas possíveis.

Pegou o celular e desceu a escada na ponta dos pés, fazendo o máximo de silêncio que conseguia. Discou o número de Mark porque sabia que ele provavelmente estaria dormindo, diferente de Jeno que sempre ficava acordado naquele horário, no quarto toque ele atendeu.

— Qual a ideia maluca da vez? — Perguntou sonolento e Donghyuck riu baixinho.

— Eu estava lendo um livro, e os personagens viram o nascer do sol juntos, pensei que também poderíamos ver.

— Agora?

— Agora.

— E o Jeno?

— ‘Tô indo pra casa dele agora— Respondeu— Te espero lá.

— Tudo bem, chego em dez minutos— Ditou e logo depois desligou.

Quando chegou na casa de Jeno o garoto foi em direção ao quintal, caminhou até o vaso de tulipas e pegou a chave do porão embaixo dele, era onde Jeno sempre guardava a chave reserva do porão.

Abriu a porta e desceu a escada saltitante vendo Jeno sentado em frente ao computador jogando alguma coisa enquanto comia porcaria, estava de moletom e com o óculos de descanso.

— Oi— Donghyuck disse animado e Jeno levou um susto.

— Oi— Sorriu— Qual loucura você quer cometer hoje, Lee?

— Estava afim de roubar um banco— Disse se jogando na cama do amigo— Lee.

— Louco demais— Riu.

— Só quero ver o nascer do sol— Deu de ombros.

— Assim, do nada? — Perguntou indo em direção a sua cama, empurrou o óculo que já estava na ponta do nariz e se sentou ao lado de Donghyuck.

— Li num livro.

— Mark já está vindo?

— Já— Respondeu encarando Ártemis que dormia em cima da cômoda.

Tanto Jeno quanto Mark já estavam acostumados com Donghyuck aparecendo em suas casas de madrugada propondo alguma ideia, ir na casa mal assombrada do fim da rua, beber na ponte, pular do penhasco em direção ao lago… Todas ideias dele.

A verdade era que Hyuck odiava uma vida costumeira e faria de tudo pra ter experiências novas, beijava muitas pessoas, experimentava sabores novos de sorvete, tentava coisas diferentes.

Quando começaram a serem amigos, os três, Donghyuck sentia receio de praticar suas ideias malucas, até que um dia ele contou pra Jeno que queria ir andar de skate, mesmo não sabendo, e Jeno apenas disse “Vamos antes que você perca a coragem”, mesmo que ele também não soubesse andar de skate. Naquele dia beberam uma coisa azul que provavelmente tinha alguma droga e ajudaram um menino com o relacionamento conturbado, e foi algo simples e idiota, mas pros dois foi um dia maravilhoso.

Não existiam dias tediosos com Lee Donghyuck.

— Você devia parar de ficar vendo live e comendo essas besteiras— Falou para Jeno que fez uma careta.

— Pessoas na nossa idade fazem isso, Hyuck.

— Pessoas da nossa idade vivem, Jeno— Rebateu— Isso não é viver.

— O que é viver então?

— Qualquer coisa, menos o que você faz— Empurrou o amigo de leve com o ombro, ele riu e balançou a cabeça.

— Melhor eu me trocar— Se levantou— Tem certeza que não vamos parar em nenhuma boate drag dessa vez?

— Foi só uma vez, e eu estava bêbado! — Jogou uma almofada nele que riu.

Jeno foi se trocar e começou a se despir na frente de Donghyuck, não que ele ligasse. O Lee deu um assobio e Jeno mostrou o dedo do meio. Não era como se Donghyuck já não tivesse falado, mas achava o amigo um completo gostoso, devia ser os treinos de beisebol ou todas as vezes que Jeno ia pra academia.

Mark entrou na mesma hora com o fone de ouvido e o all-star surrado de sempre, Donghyuck queria não ter percebido, mas ele reparava demais, mesmo sem querer, nas reações de Mark em relação a Jeno, e podia afirmar que o canadense encarou um pouco demais o Lee seminu.

Não sabia como se sentia em relação a isso, havia descoberto há um tempo que Mark gostava de Jeno, não porque ele havia lhe contado, e sim porque sabia ler os amigos muito bem. Sempre que os três estavam juntos Mark encarava tempo demais Jeno quando ele falava, e na rodinha de amigos dos três ele era o único que ria das piadas sem graças de Jeno, só pra ver ele abrir um sorriso e Mark suspirar. Chegava a deixar Donghyuck com pena, porque Jeno sequer parecia reparar. A língua dele coçava para perguntar a Mark toda a verdade, mas respeitava o espaço do amigo.

No começo achou que seria desconfortável ficar naquele  fogo cruzado, mas Mark sabia esconder muito bem seus sentimentos, e se Donghyuck não reparasse tanto em tudo, nunca iria descobrir que Mark gostava de Jeno.

— Demorei? — Perguntou se jogando ao lado de Donghyuck. Ele estava com a cara amassada e cabelo bagunçado, mas ainda assim conseguia ser lindo.

No começo de tudo Donghyuck desenvolveu um crush besta por Mark, porque ele parecia tudo que o Lee mais amava, magro, interessante e lindo, na cabeça de Donghyuck ele era perfeito, perfeito pra si, daquele tipo que você imagina uma história clichê que nunca vai ser de fato cumprida, e naquela época Mark o odiava, o que tornava tudo mais divertido.

No final, Donghyuck percebeu os sentimentos de Mark por Jeno e então trancou o que sentia pelo Lee mais velho num baú e o jogou no meio do oceano para sempre.

Quando se tornaram amigos o sentimento voltou, então Donghyuck percebeu que jogar tudo o que sentia pelos ares não era a solução. Analisou suas chances e concluiu que elas eram um total de 0, e então Mark começou a namorar Yeri, sua amiga, logo depois. Juntando toda a situação, algumas lágrimas e decepções Donghyuck esqueceu Mark de vez.

Agora eram apenas melhores amigos, e o Lee apreciava isso.

— Nem tanto— Jeno respondeu.

— Pra onde vamos afinal? — Mark perguntou para Donghyuck que ponderou.

Mordeu a unha como sempre fazia quando estava pensativo e sorriu ao ter uma resposta.

— Vocês lembram do prédio da Heejin?

— Sim… — Responderam desconfiados.

— Tem uma escada de emergência do lado de fora que leva até o terraço, acho que dá pra ver o nascer do sol lá.

— São mais de quinze andares, Haechan— Jeno lembrou indignado.

— Você por acaso tem medo de altura? — Perguntou erguendo a sobrancelha e Jeno suspirou se dando por vencido— Mark?

— Você pegou algo pra beber? — Perguntou se referindo a bebidas alcoólicas.

— Não.

— Sinceramente, você é péssimo planejando as coisas— Mark disse— Vamos passar no mercado e comprar alguma coisa.

— Somos menores de idade— Jeno lembrou.

— Ok, vamos roubar alguma coisa— Disse dando de ombros e Donghyuck sorriu, já Jeno arregalou os olhos— O que? Andar com a galera da pesada te dá algumas vantagens.

— Não reclame, Nono— Donghyuck falou se levantando animado— Diversão!

— Eu deveria me preocupar com você feliz pela hipótese de roubarmos algo? — Perguntou amarrando o cadarço.

— Relaxa Jen, eu sou ótimo no que eu faço— Mark sorriu de lado— Vamos?

— Vamos!

Então os três garotos saíram pela rua deserta, com apenas uma mochila vazia e seus celulares guardados no bolso. Se empurravam e riam de coisas sem muito sentido, porque aquela era a graça, se divertir apenas com a presença um dos outros.

Quando avistaram a lojinha de conveniência Mark passou as instruções pra Jeno que iria enrolar o carinha do caixa que parecia estar muito entediado. Donghyuck pegou Mark pela mão e entrou logo depois de Jeno, os dois foram rumo ao último corredor onde ficavam as bebidas, não havia nenhuma câmera de segurança o que melhorava tudo. Mark abriu a mochila e enfiou uma garrafa de vodka cara nela.

— Aposta quanto que o Jeno está gaguejando nesse exato momento? — Donghyuck perguntou rindo baixinho.

— Não preciso nem apostar pra saber que é verdade, mas ele vai enrolar o cara por tempo o suficiente— O outro assentiu e enfiou umas latinhas de cerveja na mochila— Como se sente furtando algo?

— Eu, Lee Donghyuck, confesso que estou morrendo de medo de ser preso— Disse— Mas a adrenalina de ser pego melhora tudo.

— Não está na sua lista de coisas a fazer?

— Ser preso? — Perguntou e Mark assentiu— Bom, está, mas não queria ser preso quando minha mãe teria que me buscar na delegacia, ela me mataria.

— Isso é verdade— Concordou rindo— Acho que já temos o que precisamos— Concluiu pegando uma barra de cereal no meio do caminho.

Foi até o caixa como quem não queria nada e pagou pela barrinha, Jeno pareceu aliviado por ter visto os amigos, ele era péssimo enrolando os outros, mas era ainda pior fazendo algo errado. Jeno tinha muito medo de ser pego fazendo alguma merda.

Os três saíram e então Donghyuck começou a rir, Jeno não estava achando nada engraçado então amarrou a cara.

Na realidade Mark não esperava ter que roubar alguma coisa naquele dia, mas fez porque sabia que Donghyuck amaria a ideia, não a ideia de roubar algo em si, até porque era moralmente errado e os três sabiam disso, mas porque ele amava  sentir adrenalina, a mínima que fosse.

Era estranho como apenas a chegada do terceiro Lee havia abalado o jeito de viver de Mark e Jeno, eles eram calmos no geral, iam em algumas festas, faziam maratonas, jogavam de madrugada e outras coisas normais demais, mas a partir do momento que Donghyuck passou a virar um deles as coisas mudaram, porque todo dia eles viviam uma nova aventura. E sinceramente? Eles agradeciam todo dia por terem achado Donghyuck.

Ele estava animado, e isso era perceptível por qualquer um dos dois que trocaram um sorriso cúmplice quando e Donghyuck não estava olhando. O garoto era o mais mimado do trio, talvez porque fosse o mais carinhoso, ou apenas porque havia chegado depois e Mark e Jeno se sentiam culpados de o deixarem excluído de alguma coisa, e Hyuck amava porque se sentia um reizinho.

Colocou os braços em volta do ombro dos dois garotos e os três andaram colados por um bom tempo, até perceberem que não estavam indo pra lugar nenhum.

— Hyuck, você sabe pra onde a gente ‘tá indo? — Mark perguntou.

— Não— Respondeu simplista.

— Donghyuck! — Jeno disse parando de andar— Estamos andando por todo esse tempo sem saber pra onde estamos indo?

— Não hajam como se estivessem surpresos, vocês realmente acham que eu sei como chegar lá?

Eles se entreolharam e perceberam que aquilo não era nenhuma novidade.

— Não— Responderam juntos.

— Então vamos continuar andando até acharmos— Deu de ombros.

— Espera aí— Mark disse— A gente sabe que o prédio da Heejin fica perto shopping.

— Sabe? — Jeno perguntou confuso.

— Eu sei.

— Como você sabe? — Donghyuck perguntou— A gente só foi na casa dela uma vez, e bêbados.

— Fiquei com ela verão passado— Deu de ombros e Donghyuck fez a maior cara de ofendido por não saber disso, Mark tinha uma mania chata de esconder de literalmente todo mundo as pessoas com quem ele ficava, e como o Lee era o maior fofoqueiro sempre queria saber quem Mark andava beijando— Enfim, estamos no caminho errado.

— Certo— Jeno disse— Temos que ir pra lá então— Apontou pra direção oposta.

— O que seria de mim sem vocês? — Donghyuck perguntou dramaticamente.

— Um nada— Jeno riu.

Caminharam mais lentamente pra direção certa, fizeram uma batalha de rap e ajudaram um moço bêbado com dinheiro pro táxi, que talvez fosse usado pra comprar mais bebida, e depois de umas horas finalmente acharam o tal prédio.

Não era difícil entrar nele, porque a escada de emergência ficava do lado de fora, só precisavam de um empurrãozinho pra subir.

Jeno impulsionou Donghyuck pra cima fazendo o famoso pezinho e depois ajudou Mark, ele subiu por último e então no meio de várias reclamações eles subiram dezessete andares. Se jogaram no terraço cansados e Mark não tardou pra abrir a mochila e tirar de lá as latinhas de cerveja.

A vista de lá de cima era bela,  conseguiam ver os prédios da cidade e a lua brilhante.

— Que horas são? — Jeno perguntou abrindo a latinha.

— Quatro e vinte— Donghyuck respondeu após olhar o horário.

— Ainda temos um bom tempo pra ficar aqui em cima— Mark relembrou.

Donghyuck colocou uma playlist de folk no seu celular e começou a contar uma história sobre como ele havia chegado à conclusão que queria assistir o nascer do sol, porque ele sempre explicava como tinha chegado em certas ideias, e depois começou a tagarelar sobre a história do  livro.

Ele sempre fazia aquilo, contava sobre histórias que ele lia pros dois melhores amigos que escutavam tudo, não porque estavam interessados de verdade na história, mas porque amavam a voz de Donghyuck ditando coisas animadamente, seja lá que coisa fosse essa.

Depois de uma garrafa de vodka quase acabando e uma hora com Donghyuck falando sem parar os meninos observaram o céu ficando em tons alaranjados, aos pouquinhos o Sol foi aparecendo, bem lentamente. E quando ele apareceu Donghyuck sorriu.

Sorriu tão lindamente que os outros dois garotos se sentiram cegos com tamanho brilho. Havia um motivo para Jeno ter apelidado Donghyuck de Haechan, o garoto e o Sol eram uma combinação única, Donghyuck já era lindo por si só, com a pele de cor única, o cabelo vermelho vivo e o piercing dourado na orelha, mas com o Sol beijando sua pele ele conseguia ficar ainda mais bonito, como se ele fosse um deus e Mark e Jeno eram apenas pequenos mortais o observando

Ele estava feliz, tão feliz que não parou de sorrir um segundo.

— Eu amo vocês— Ele disse depois de um tempo com toda a sinceridade do mundo.

Por que Donghyuck amava de um jeito bonito, intensamente, o tempo todo.

Jeno sorriu e Mark sorriu minimamente sem deixar a mostra o quanto amava aqueles dois.

— A gente também te ama— Jeno respondeu e o abraçou de lado.

— É— Mark concordou, mas ficou fora do abraço porque não gostava muito deles, não adiantou muito, pois Donghyuck revirou os olhos e o puxou para o aperto deles.

Então os três ficaram ali, abraçados, com o Sol os observando e guardando consigo o segredo dos três amigos, que por algum motivo tinham os corações um pouco acelerados.

Depois de uma hora ali em cima Donghyuck bocejou, e concluiu que era melhor ele ir pra casa dormir, na verdade, ir pra casa de algum dos amigos dormir porque ele estava com preguiça de ouvir os sermões da sua mãe. Quando pararam na frente da casa de Mark Donghyuck o abraçou com força e agradeceu por ele ter acordado uma da manhã pra sair com ele, sempre se sentia agradecido por tudo que os amigos faziam por ele.

Mark se despediu e entrou em casa, sua mãe nem se importava mais com o filho chegando de manhã, ela apenas sorria e falava: “Donghyuck?”, então Mark concordava e ela balançava cabeça.

Jeno passou o braço pelo ombro do amigo e então os dois foram em direção a casa dele, que ficava na esquina da casa de Mark. Entraram no porão e Ártemis miou ao ver o dono, que como o bobão que era correu até a gata para fazer carinho nela. Donghyuck apenas rolou os olhos e deitou na cama de Jeno.

— Vem dormir— Chamou Jeno dando tapinhas na cama.

Tirou o tênis e a jaqueta e depois se jogou ao lado do garoto que resmungou de leve, deitaram lado a lado com os ombros se encostando, um feixe da luz do Sol entrava por uma janelinha que tinha ali o que tornava o porão um pouco iluminado, e Jeno pode observar todas as pintinhas presentes no rosto de Donghyuck, se juntasse todas daria para fazer uma constelação.

— Estou cansado— Jeno disse.

— Eu também— Murmurou— Já imaginou que se não fosse por mim você seria um nerd lolzeiro?

— Se não fosse por você eu não seria metade do que eu sou hoje— Confessou e ele sorriu.

— E o Mark?

— Mark já virou parte de mim, como se fosse um terceiro pulmão, mas com você é diferente… É como se fosse um milagre— Então Donghyuck riu.

Quando conheceu Jeno ele só o imaginava como o garoto popular do time de beisebol, mas era bem mais que isso. O Lee se mostrou um amigo carinhoso, as vezes engraçado e que por mais que fingisse que não, considerava seus amigos a coisa mais preciosa para si. Era um pouco tímido no começo, mas depois se mostra o completo oposto disso.

No meio de uma confusão de coisas novas Jeno foi o melhor de Donghyuck por muito tempo, antes dele fazer outros amigos como Jaemin e Yeri e até mesmo Mark, Donghyuck só teve ele. Se sentiu um pouco culpado por tirar Jeno de Mark por um tempo, mas é que os dois se davam tão bem juntos que parecia que sem ele Donghyuck queimaria. Entraria em uma combustão lenta e dolorosa.

Não era uma história com um super enredo, era simples, idiota, mas era uma das melhores para os dois. Jeno não havia mentido em nenhuma palavra, Donghyuck era seu milagre, e por mais que Donghyuck não falasse Jeno também era o seu, porque junto com ele veio amor, amizade, carinho e claro, Mark.

— Você vai aumentar o meu ego assim.

— Cala a boca— O empurrou de leve.

— Ei, você não devia falar assim com o seu milagre— Zombou e viu o amigo revirar os olhos de soslaio.

— Boa noite, Donghyuck.

— É de dia, Jeno— Riu e Jeno virou de costas pra si o ignorando— Boa noite, Nono— Disse por fim e abraçou o amigo, porque tinha mania de dormir abraçando alguma coisa, Mark odiava, mas Jeno amava.

Fechou os olhos e inspirou o cheiro de Jeno antes de cair completamente no sono Donghyuck pensou que eles pareciam um casal daquele jeito, sorriu achando graça e capotou de vez.

Sonhou que era um deus do Olimpo, e que Mark e Jeno eram meros humanos que o visitavam as vezes. Não tinha sentido, mas com Donghyuck as coisas nunca tinham.

*

Quando chegou em casa, no meio da tarde, a mãe de Donghyuck começou a brigar com ele, não que ele estivesse escutando. Amava sua mãe, mas ela tinha mania de brigar com ele por quase tudo, então Donghyuck apenas ignoraria.

Ouviu o barulho da porta e deu graças a deus ao ver o padrasto entrar.

— Chegou cedo— Ele brincou com o garoto que riu.

— Quer me dar uma força? Mamãe está brigando comigo há dez minutos.

— Eu ainda estou aqui! — A mãe disse ficando vermelha e Donghyuck levantou para abraçá-la.

— O que você fez agora? — O padrasto perguntou divertido.

— Só fui assistir o nascer do Sol.

— E não me avisou!

— Mãe, você estava dormindo— Revirou os olhos.

— Deixa o menino, Minji— Falou guardando algumas compras na geladeira— Ele só quer virar um maconheiro de humanas.

— Maconha?! — Ela arregalou os olhos e Donghyuck gargalhou.

Sua mãe tinha um forte senso de proteção, e aquilo não era só com ele. Quando Taeil, o filho do seu padrasto e seu irmão de consideração, também fazia coisas do tipo ela dizia o mesmo discurso. Chegava a ser engraçado, porque apesar dos vinte minutos de bronca os dois garotos sempre faziam de novo, e claro que o padrasto os ajudava.

— Estou brincando, querida— Tranquilizou apertando de leve seu ombro.

— Tanto faz, Donghyuck nunca me escuta mesmo— Jogou as mãos pro alto— Apenas me mande uma mensagem da próxima vez, fiquei preocupada.

— Tudo bem— Concordou.

Depositou um beijo na testa da mãe e subiu para o seu quarto. Não sabia o que queria fazer agora, mas tinha certeza que ficar parado em casa não era uma delas. Mandou uma mensagem para Jeno e depois outra para Mark perguntando se eles queriam sair, mas ambos os garotos disseram que iam ficar o dia inteiro jogando juntos. Eles sempre faziam isso, e Donghyuck não se sentia excluído, na verdade se sentia aliviado de não participar da noite de jogos deles, porque era um tédio e Donghyuck odiava jogar por tempo demais.

Ligou então para Jaemin, que estava assistindo Gossip girl pela quarta vez, mas que por muita insistência aceitou sair com Donghyuck. Quando ligou para Yeri descobriu que a mesma estava disponível, não que ela fizesse muita coisa.

Então os três marcaram de se encontrar no parquinho perto da escola, que era vazio nesse horário.

O dia estava fresco e o vento bagunçava o cabelo de Donghyuck frequentemente, o que ele odiou. Avistou Jaemin sentado no balanço enquanto mexia concentrado no seu celular, ele levantou o olhar e encarou o amigo que se sentou no balanço ao lado.

— Seu cabelo ‘tá bagunçado— Foi a primeira coisa que disse.

— O seu também— Retrucou.

O que não era verdade, o cabelo de Jaemin sempre parecia perfeito, com o tom cor de rosa e os fios perfeitos colocados no lugar certo.

— Acha que Yeri demora demais? — Perguntou.

— Espero que não.

— Tomara que ela traga alguma coisa pra gente beber, preciso desestressar.

O Lee riu e assentiu.

Quando conheceu Jaemin ele não era como é hoje, tudo bem que com 15 anos você é um adolescente cheio de espinhas e hormônios a flor da pele, mas de um jeito estranho Jaemin sempre foi bonito, daqueles que você olhava com inveja e suspirava pensando queria ser ele. Mas aos 15 anos Jaemin só era bonito, não saia para as festas, não beijava duas pessoas diferentes por dia e nem se apaixonava dez vezes a hora por qualquer pessoa bonita na rua.

Então os pais dele se separaram, e ele virou o que é hoje, não que alguém achasse ruim porque apesar de ter mudado Jaemin ainda era fantástico. Ele falava com todo mundo, sempre era gentil e flertava até com a tia da cantina. Ele era um bom amigo, e acreditem ou não a primeira palavra que ele disse a Donghyuck foi “Você é bonito, me encontra no banheiro depois da aula?” Donghyuck se lembrava de ter franzido o cenho, mas aceitou. Naquele dia eles se pegaram na última cabine do banheiro e de um jeito estranho os dois viraram amigos.

Yeri chegou com o ukelele preso nas costas e um sorriso animado. Ela sempre estava animada. Se sentou no chão de frente para os amigos e tirou da sua bolsa uma garrafa de cachaça barata, Jaemin fez cara de nojo, mas vindo de Yeri qualquer bosta com álcool era possível.

— Não reclama— Ela disse abrindo a garrafa— Nem é tão ruim.

— Você é uma bebum, qualquer coisa não é tão ruim pra você— Jaemin disse pegando a garrafa das mãos da menina, quando engoliu o líquido fez uma careta horrível— Tem gosto de álcool puro.

— Espero que não seja— Yeri deu de ombros— Ei Donghyuck, você conseguiu falar com Mark sobre Renjun?

— Aham— Murmurou— Mas Mark acha que não vai dar em nada, estamos falando do Renjun.

— E de mim— Ela respondeu— Qualquer um quer me beijar.

— Ouch— Jaemin murmurou— Onde Renjun se encaixa na sua lista?

Yeri era meio maluca, talvez completamente maluca, e acreditem ou não ela tinha uma lista de pessoas para beijar, mas não eram nomes que estavam presentes nelas, e sim personalidades, coisas como jogador do time de beisebol— Que ela completou com o Yukhei— Alguém do grêmio estudantil. Era mais como uma meta idiota.

— Em gatinho rebelde— Ela falou fazendo os dois meninos se entreolharam e desataram a rir— Parem de rir, idiotas.

— Gatinho rebelde? Desculpa, mas é tosco demais até pra você— Donghyuck falou e ela fez uma cara de ofendida.

— Tanto faz, só quero beijar ele.

— Boa sorte— Jaemin desejou.

Yeri virou amiga de Donghyuck primeiro, porque ela era namorada de Mark, e depois dos dois terem ficados sozinhos numa festa eles viraram amigos, um tempo depois o Lee apresentou a garota para Jaemin e os dois viraram um grude, sempre juntos, pra cima e pra baixo. Até que Yeri e Mark terminaram, na maior paz do mundo, e Jaemin ficou com a Yeri, daí a amizade dos dois ficou ainda mais forte, talvez fosse a forma de Jaemin de fazer amigos, beijando eles primeiro.

— Mudando de assunto, vocês não sabem quem começou a namorar— O Na disse animado, ele sempre se animava falando da vida dos outros.

— Quem? — Yeri perguntou pegando o ukelele em mãos.

— Yuqi e o Lucas.

— A líder de torcida? — Donghyuck perguntou e ele assentiu.

— Quantos meses será que eles duram? — Yeri perguntou começando a tocar.

— Aposto dois.

— Quatro— Donghyuck disse depois de pensar.

— Escutem a música nova que eu fiz— A menina disse cortando o assunto Yuqi e Lucas.

Ela começou a tocar as notas e um som reconfortante foi ouvido, introduziu uma canção e Donghyuck e Jaemin começaram a cantarolar junto, quando perceberam já estavam numa roda imensa de canto, porque pessoas estranhas começaram a se juntar para ouvir Yeri cantar com a ajuda dos amigos. Quando ela saia com o ukelele aquilo sempre acontecia.

E Donghyuck amava sempre que eles ficavam daquele jeito, cantando enquanto não tinham nada a mais para se preocupar. Era bom.

Já era noite quando Donghyuck voltou pra casa, ligou para Mark— Que estava com Jeno— E contou seu dia para eles, sempre faziam isso, continuou tagarelando até que percebeu que os dois garotos tinham caído no sono.

— Boa noite— Desejou e riu soprado desligando a chamada.

O Lee olhou para a lua de sua janela e anotou mentalmente que um dia deveria fazer uma roda de violão na praia enquanto estava de noite. Sorriu imaginando como seria, Mark e Jeno tocando violão enquanto ele cantava olhando para as várias estrelas no olhar dos dois.

Parecia perfeito.

*

Era quarta-feira e a mesa do refeitório estava uma bagunça, quase sempre era, Yukhei estava com o braço por cima dos ombros de Yuqi e jogava biscoitos em direção na boca de Mark que tentava pegar no ar, Donghyuck e Jaemin discutiam sobre alguma coisa e Yeri reclamava que Jaehyun e Taeyong eram melosos, normalmente os amigos de todos se juntavam naquela mesa, menos os de Mark, já que eles se achavam bons demais pra estar ali, a não ser Taeyong, que só se sentava naquela mesa por conta do namorado.

Era uma mistura estranha, mas dava certo.

Jeno estava alheio ao assunto e Mark percebeu, por isso sorriu pra ele e o empurrou com o ombro.

— Você ‘tá fedendo a cigarro— Murmurou.

— Eu quase sempre ‘to— Mark deu de ombros— Não tenho muito o que fazer sobre isso.

— Carregar um perfume na sua bolsa parece uma boa coisa— Jeno comentou.

— O Hyuck faz isso por mim.

E ele fazia mesmo, sempre dando borrifadas de perfume em Mark para que aquele cheiro ruim saísse de si. Não funcionava direito, mas ele continuava fazendo.

— Ei Mark— Yeri o chamou do seu outro lado.

— Oi— Se virou para ela dando as costas para Jeno.

Quando os dois namoravam Jeno se sentia excluído quase sempre, até mesmo quando Donghyuck estava perto deles, Yeri tinha aquela coisa que fazia Mark esquecer qualquer um pra falar com ela, e ainda era assim, quase sempre pelo menos. Às vezes eles acabam se beijando ou transando de novo, parecia que a garota tinha um imã que o atraía, e apesar do término eles eram bons amigos.

Jeno bufou, odiava admitir, mas sentia um baita ciúme da menina. Gostava mais de jogar na cara de Donghyuck o quanto ele era ciumento, porque sinceramente, Jeno odiava sentir ciúme o mínimo que fosse.

Óbvio que Mark nunca descobriu seus ciúmes, e nem descobriria.

Apoiou o rosto com a mão emburrado ouvindo por cima os dois falarem sobre Renjun, Donghyuck percebeu o repentino mau-humor do amigo e sorriu acolhedor pra ele, como estavam separados não teve como Donghyuck fazer alguma coisa a não ser pedir para Jaemin chamar Yeri pra conversar.

Nunca tinha falado pra ninguém do seu ciúme de Yeri, mas Hyuck tinha mania de saber tudo sobre todo mundo sem ao menos perguntar, e não foi novidade quando ele descobriu que Jeno não gostava muito quando o melhor amigo estava com ela.

Quando terminaram Jeno se sentiu um pouquinho feliz demais por ter o amigo de volta para si, 100%. Não era totalmente carente de atenção igual Donghyuck, mas quando o assunto era Mark ele virava um. Hyuck era livre como um passarinho pousando de galho em galho, então Jeno o enxergava de outro jeito, mas Mark sempre foi seu Mark, que morava na esquina da sua casa, que escalou todas as árvores do bairro com ele, que fazia carinho pra ele dormir, que atendia ligações no meio da madrugada para o escutar chorar e o comprava chocolates sem caramelo, porque sabia que Jeno odiava.

Seu Mark. Seu irmão mais velho, ou alguma coisa assim. Jeno era completamente mal acostumado quando o assunto era Mark, talvez porque ele o tivesse mimado muito desde sempre.

Com Donghyuck as coisas eram quase assim, claro, o amigo o mimava o tempo inteiro, atendia suas ligações e fazia quase tudo que Mark também fazia, mas não era como um irmão para si.

Na verdade Jeno tinha uma visão única de Donghyuck.

Quando se conheceram Donghyuck já era como uma estrela cadente, roubando a atenção de todos, distribuindo sorrisos e brilhando o tempo inteiro. A medida em que foram crescendo ele foi brilhando cada vez mais, como se fosse uma estrela que iluminava tudo, de uma forma tão intensa que chegava a te cegar.

Donghyuck era como uma obra rara, você admirava de longe, a cortejava, mas saberia que nunca poderia tê-la, porque ela é especial demais pra qualquer um.

Jeno era um mero mortal, e em sua concepção Donghyuck era a própria chama do inferno. Não compactuavam, porque Donghyuck seria demais pra qualquer um.

Mark fez um biquinho quando Yeri começou a dar atenção para Jaemin e então ele se virou de novo para Jeno.

— O que ela queria? — Jeno perguntou baixinho.

— Concluir mais um objetivo da lista dela— Respondeu bebendo o suco de morango.

— Hm— Foi tudo o que respondeu.

O sinal bateu e todos foram saindo do refeitório Jeno foi em direção a aula de química, que fazia com Mark.

Se sentaram na mesa de sempre e Mark parecia concentrado na lição, Jeno o cutucou e sussurrou um psiu.

— O que?

— Está mesmo fazendo a lição? — Perguntou.

— Alguém tem que ter um futuro— Zombou.

— Nosso acordo era nenhum de nós termos um.

— Mentiroso, eu sempre disse que ia ser um astronauta e dar o nome de um planeta de Lee.

— Pobre criança iludida— Fez uma cara de pena.

— Cala a boca— Riu.

— Quer ir lá em casa hoje?

— Mas eu já vou amanhã— Disse.

— Está recusando ir na minha casa? — Fez cara de ofendido.

— Nunca— Retrucou— Só que hoje meus pais querem ir em um restaurante comigo— Explicou— Sabe como é, “Mark, você nunca para em casa”— Imitou a voz da sua mãe.

— Sei— Suspirou.

— Parece que só porque eu sou adotado ela tem a necessidade de ficar grudada em mim, como se tivesse que provar alguma coisa.

— Ela só quer ser uma boa mãe, e você não devia reclamar, pelo menos você tem uma, biológica ou não.

— Ok— Concordou— Vou tentar ir.

— Ok— Respondeu de volta copiando a resposta de Mark.

Jeno quase nunca se incomodava em falar de sua mãe, afinal quase se lembrava de verdade dela, eram apenas borrões então o garoto preferia apenas guardar pequenas coisas das quais ele se lembrava.

O sinal bateu e o garoto foi para a aula de filosofia, que era uma bagunça, Yukhei começou a tacar bolinhas de papel nas pessoas e então uma guerra começou. Subitamente o garoto se levantou e subiu em cima da cadeira, coçou a garganta e todos o encararam curiosos.

— Sábado— Começou— Festa na minha casa.

Depois do pequeno aviso todos começaram a comemorar animados, afinal quem não gostava quando o garoto mais divertido e maluco da escola dava uma festa numa mansão?

Quando as aulas acabaram Jeno procurou Donghyuck e o chamou para ir em sua casa também. Então os três caminharam em direção a casa de Jeno, no meio do caminho pararam na casa de Mark que foi avisar sua mãe que voltaria antes das 20:00.

— Vocês não acreditam— Donghyuck começou jogando sua mochila no chão que acabou assustando Ártemis— Hoje eu fiquei com um menino do primeiro ano, e eu juro pra vocês que foi o pior beijo da minha vida— Se jogou na cadeira dramaticamente.

— Nem deve ter sido tão ruim— Mark retrucou.

— Foi pior que isso— Fez careta.

Jeno ficou quieto, ele não gostava de comentar sobre as pessoas que Mark ou Donghyuck beijavam por aí, ambos tinham a si mesmo para isso ou seus outros amigos. Ele escutava, mas era só isso.

— Yukhei vai dar uma festa sábado— Jeno disse e pode ver os olhos de Donghyuck brilharem com a notícia.

— Graças a Deus algo para fazer— Ele falou animado.

— Iupi— Mark disse fingindo animação.

Donghyuck amava festa, adorava se arrumar inteiro, dançar, beber e socializar. Jeno gostava, mas era indiferente, ele bebia, beijava uma pessoas, mas era só isso. Mark as suportava, ele enchia a cara 80% das vezes e era só isso.

Mas no final os três acabam indo.

Eles se jogaram no chão e apoiaram o notebook no colo de Jeno, assistiram alguns filmes até a mãe de Mark ir na casa do outro Lee o chamar, aquilo era rotina, a mãe do menino fazia isso desde quando eram crianças e a tia de Jeno também.

Donghyuck ficou mais um tempo até que a mãe dele o ligou pedindo para que ele voltasse para a casa e passasse no mercado, deixando Jeno sozinho.

Além de sair com os amigos ou ficar de bobeira com eles Jeno não fazia muita coisa, às vezes ia na quadra do bairro jogar com Yukhei e Jaehyun ou ia na academia, mas em geral ele ficava em casa, fazendo carinho em Ártemis enquanto jogava o dia todo.

Sua tia odiava quando ele fazia isso, mas ela passava tanto tempo em seu restaurante que não conseguia fazer o menino sair da frente do computador.

Jeno se assustou quando viu Mark e Donghyuck entrarem em seu quarto no meio da noite, e ele logo pensou que eles novamente iam fazer alguma coisa maluca, mas os dois só deitaram na sua cama e dormiram logo em seguida. Às vezes eles faziam isso, e não era estranho porque eram Mark e Donghyuck ali.

Seu Mark e seu Donghyuck. Suas pessoas favoritas no mundo inteiro.