História The War - 71

O silêncio predominou entre nós. Vi Chen engolir seco e então dar mais alguns passos para trás, quase trombando em Sehun que tentava se esconder atrás de Kai. Olhei para trás, onde os espinhos estavam e franzi o cenho ao notar que ali está ficando mais escuro do que antes. É como se algo estivesse se aproximando de nós. Como se algo estivesse nos sobrevoando.

S/N – Algo está se aproximando – cochichei para eles ficarem alerta. Respirei fundo e, com a mão trêmula, eu iluminei o céu. O que eu não esperava era encontrar um par de olhos avermelhados me observando. E não eram olhos qualquer.

Sehun – Kris – disse incrédulo.

Kris não demonstrou qualquer tipo de reação ao ver seus irmãos. É como se ele já esperasse por esse encontro. De repente, ao seu lado, criaturas das sombras começaram a aparecer e as criaturas do submundo começaram a nos rodear pela parte de baixo. Senti a raiva latejar por todo meu corpo. Um sentimento de traição me atingiu. Chen estava certo ao dizer que Mina iria mandar seus seres atrás de mim.

Kai – Justo quando eu pensei que teríamos um pouco de paz – resmungou tirando Sehun de perto de si e posicionando-se de frente aos inimigos.

Chen – Vocês precisam entender uma coisa – disse em tom de aviso. Seus olhos fixos nos de Kris – A partir do momento em que perdemos Exoplanet – suas mãos se acenderam - Não somos mais bem-vindos.

Sehun – Corram – ele gritou assim que criou uma rajada de vento e jogou em Kris e nos monstros no submundo.

Sem pensar duas vezes, todos nós começamos a ir pelo caminho livre. Ouvimos o som das árvores sendo quebradas e de trovões fortes começarem a surgir no céu. Chen se virou para trás e lançou 4 raios seguidos, dando um pouco mais de espaço para nós escaparmos.

S/N – Cuidado – eu disse quando agarrei Kai pelo seu colarinho e o empurrei de encontro ao meu corpo. Um ser, parecido com um touro, passo na nossa frente. Kai poderia ter sido atropelado.

O ser brecou estupidamente fazendo com que muita terra voasse pelos lados. Ele se voltou para nós e pude notar que fogo saia de suas narinas. Eu e Kai nos entreolhamos rapidamente e então percebemos que atrás dele, novas criaturas apareciam. Estamos devidamente cercados.

Chen e Sehun se afastaram de nós tentando conter as criaturas da sombra e enquanto Kai tentava desgrudar os seres do submundo de suas pernas eu corri em direção ao touro e aos outros seres que começavam a surgir. Ou vi o dominador do teletransporte gritar algo mas eu já estava concentrada demais para entendê-lo.

Abri minhas mãos e senti o fogo aquecê-las a medida que eu chegava mais perto. O touro, junto de outros monstros, também aumentou a velocidade e quando eu notei que estávamos a poucos centímetros eu pulei no chão e acertei um soco ardente sobre a terra.

No mesmo instante, todo o lugar começou a se mexer e tremer. Como eu terremoto. Com a força que eu acertei o solo, uma rachadura começou a surgir seguindo em direção aos monstros e junto dela, um rastro de fogo corria até alcança-los.

Os seres monstruosos começaram então a cair em meio ao buraco que estava sendo formado e a pegar fogo. Os poucos que conseguiam pular, acabaram queimados pelo fogo que estava aumentando sua força.

Aproveitando de tal iluminação natural, eu olhei para o céu e estranhei não ver Kris. Me virei para os meninos e me assustei ao ver uma montanha de seres da sombra em cima de Chen. Estava prestes a lançar meu gelo quando uma bola amarelada e brilhante apareceu onde ele estava. Tive que fechar meus olhos enquanto tentava chegar mais perto.

Ouvi um grito rouco e irritado logo após diversos monstros serem despedaçados e jogados para longe na floresta. Olhei novamente para Chen e quando ele se virou para mim, seus olhos estavam na cor dourada. Se ele tivesse ficado um pouco mais irritado ele poderia ter atingido seu nível Deus.

Kai – Por que seus olhos estão assim? – ele apareceu, literalmente, do nada totalmente surpreso. Olhou para mim e apontou para o irmão – Sabia disso?

Sehun – Sim, os olhos do Chen estão lindos mas será que alguém pode me dar uma forcinha aqui? – sua voz chamou nossa atenção. Ele estava sendo enforcado por uma criatura do submundo enquanto outros monstros agarravam seu corpo.

Kai se teletransportou para perto de seu irmão e acertou, logo em seguida, um soco na criatura que o enforcava.  Sehun respirou forte e quando ergueu sua mão para acertar os outros seres que lhe incomodava eu mirei em direção a sua perna, onde outras criaturas o agarravam, e lancei três lanças de gelo. Todos morreram na hora.

Estranhei o silêncio. Eu e Chen caminhamos para perto de Sehun e Kai e quando reparei no pescoço do dominador do vento me assustei ao ver as marcas das garras em sua pele clara. Ele até mesmo parece não estar sentindo dor. Levantei minha mão para tentar tocá-lo mas antes que eu tivesse a chance senti algo cortar meu braço e me derrubar no chão.

Os meninos se movimentaram rápido tentando me ajudar mas logo todos sumiram da minha vista. Preocupada, tentei me levantar mas senti todo meu corpo ser puxado de volta para o chão. Mas que dor é essa? Está insuportável!

Agarrei meu ferimento tentando conter o sangramento e franzi as sobrancelhas ao notar um liquido azulado perto do corte. Ouvi meu nome sendo chamado de longe e quando tentei me sentar novamente, um pé apareceu diante do meu ombro e forçou-me para trás.

Kris está com os olhos vermelhos e está mirando uma arma em direção a minha cabeça. Ele não parece estar a fim de conversa.

Nesses breves segundos, parei para reparar em sua aparência. Como ele seria sem toda essa aura sombria? Como ele era com os meninos? Ele também os amava? Ria de piadas bobas e comia a comida de D.O.?

Ele era um bom irmão?

Kris – Você – seu tom de voz era ressentido – Você me causou muitos problemas. – ele apertou um pouco mais seu pé contra meu ombro. Fraquejei e quando tentei segurar sua bota, não me senti forte o suficiente. Como é possível? – Não consegue se mover, é? – ele sorriu maléfico – Sabe o que tem aqui dentro? – ele mexeu a arma e só então notei no liquido azul dentro dela. –  Aqui possui uma mistura do sangue de seres que já foram mortos pela sombra.

Arregalei meus olhos.

Kris – Ó, você está assustada? – ele riu ainda mais. – Está sentindo dor? – ignorei lhe responder. Sim, estou sentindo dor – Sabe.. – ele se abaixou e tocou minha cabeça – Você está sentindo toda a dor que esses seres sentiram antes de morrer – franzi minha boca tentando conter as lágrimas de saírem do meu rosto. Sinto uma queimação enorme por todo meu corpo. Lembro-me da punição que a árvore me deu quando não cumpri minha missão. Aquilo foi horrível. Mas o que estou sentindo agora não há nem mesmo explicações cabíveis. – Toda a agonia, todo o desespero. – seu rosto ficou diante do meu. Olho no olho.

Tentei erguer minha mão, quero loucamente acertar um soco em seu belo rosto mas tudo parece estar em câmera lenta. Até mesmo as ações dele parecem estar mais devagar. Pisco várias vezes tentando não me sentir zonza.

Um calafrio corre por minha espinha e uma sensação conhecida me faz franzir as sobrancelhas. Kris se afasta alguns centímetros mas pelo reflexo em seus olhos eu percebo que os meus trocaram de cor. Confusa, percebo que meus sentidos estão voltando. Meus dedos estão voltando a se mover.

Kris mantém sua atenção em mim. Ele parece não saber como agir. Vejo a veia de sua testa saltar e por alguns segundos, seus olhos voltam ao tom normal.

S/N – Kris? – pergunto.

Ele se levanta e pressiona a arma em seu cabeça. Parece estar com muita dor.

S/N – Kris, você está bem? – mesmo cambaleando eu consigo me levantar.

Kris – Cale a boca a Suho – ele grita voltando-se para mim com raiva nos olhos. – Você está mentindo para mim

Me sobressaltei ao ouvir o nome de Suho. Kris jogou a arma no chão e gritou ainda mais alto. Teria ele visto algo em meus olhos? Algo que deixou a sombra presente dentro de seu corpo apavorada?

S/N – Eu não estou mentindo – decidi mentir. Talvez eu saiba dizer o que Suho diria – Você é meu irmão. – arrisquei e mordi minha boca torcendo para estar certa.

Kris em questão de segundos, como se não sentisse mais nada, agarrou a arma novamente e avançou para cima de mim colocando a pistola embaixo do meu peito.

Kris – Você me abandonou – disse entredentes. – Você me deixou para morrer.

S/N – Eu nunca faria isso – disse tentando disfarçar meu nervosismo. Se ele ainda me vê como Suho talvez eu possa tirar vantagem.

Notei uma movimentação perto das árvores. Os meninos devem estar voltando de onde quer que eles tenham sido jogados.

S/N – É a bruxa quem lhe faz mal – disse e senti ele pressionar a arma um pouco mais forte – Somos uma família, Kris – olhei em seus olhos – Sou seu irmão, eu nunca te deixaria para trás.

Seus ombros pareceram cair um pouco. Kris pareceu ceder numa pequena porcentagem. A força com que segurava a arma diminuiu e ele tentava digerir o que eu estava falando.

Kris – Você não é o Suho, é? – ele perguntou desconfiado mas antes que pudesse fazer qualquer outro ataque, ele desmaiou diante do meu corpo e caiu sob a arma.

Coloquei a mão sob meu peito e respirei aliviada. Estava sendo difícil não acertar um golpe nele. Mas o que posso fazer? A família de Exoplanet é minha também. Tenho que tentar ajuda-los mesmo nunca tendo o visto antes.

Olhei para os lados esperando encontrar os meninos mas franzi o cenho ao não encontrar nenhum deles. Cocei minha cabeça e quando me voltei para o corpo de Kris, acabei dando um salto pelo susto e soltei um gritinho de surpresa.

S/N – Lay? – perguntei chocada. Ele sorriu como sempre fazia mostrando suas covinhas. Um tanto emocionada, tentei lhe abraçar, mas tudo o que consegui foi me desequilibrar e quase cair no chão. Esse não é ele de verdade. – O que você é?

Lay – Minha alma está aqui com você, S/N – ele se aproximou e tocou meu ombro. Por que ele pode me tocar mas eu não? Injustiça. – Não tenho tempo para te explicar mas preciso que você se apresse.

S/N – O que está acontecendo? – perguntei preocupada – Você está bem? Os meninos..

Lay – Não posso conversar muito agora – ele olhou para os lados, parecia assustado. – Eles logo voltarão aqui, mas você precisa correr, o tempo está acabando, S/N. A bruxa irá...

S/N – Irá o que? – gritei – Lay...

Lay – Você precisa pegar o atalho entre o lago das sereias sombrias e o bosque dos carvalhos – me olhou atentamente – É o caminho mais seguro para chegar até o castelo da sombra.

S/N – Mas eu não conheço esses lugares, Lay. Como vou chegar até lá?

Lay – Eu enviei alguém para você.

S/N – Quem? – perguntei e olhei para os lados. Não há ninguém

Lay – Ele já vai chegar – disse calmo e sorriu de lado. Só então reparei em como ele está abatido. Seus lábios estão um pouco roxos e parece que não come a um bom tempo. – Tenho que ir..

S/N – Espere – supliquei – Como.. como você está? Os meninos eles...

Lay – Estamos esperando por vocês – ele apertou seus dedos em meus ombros – Diga a meus irmãos que eu sinto falta deles.

S/N – Mas como você sabe que eu..

Ele foi embora antes que eu completasse minha fala. Irritada, passei a mão por meus cabelos e o baguncei. Ouvi Kris resmungar algo e mandei que ele calasse a boca. O momento é meu agora.

S/N – Quem ele poderia ter mandado? – perguntei desconfiada.

Ouvi o som de galhos serem quebrados e então me virei para trás e já fiquei em posição de ataque para caso um monstro aparecesse. Dei alguns passos mais a frente e quando eu estava prestes a iluminar o lugar, eu reparei numa boa quantidade de areia cair perto de mim.

S/N – Sand? – perguntei chocada ao ver meu antigo amigo de El Dorado.

Sehun – Voltamos – consegui ouvir seu grito vindo do outro lado. Seus passos, misturados aos se seus irmãos, chegaram mais perto de mim e pararam repentinamente – Desde quando o senhor areia tá aqui? E, pelos deuses, o que houve com seu braço?

Kai – E por que Kris está desmaiado em cima de uma arma?

Chen – Esse é o colar da Joy? – ele foi o primeiro a chegar perto de Sand.

O homem de areia parecia estar mais tímido do que nunca. Tinha a cabeça baixa e as mãos juntas. Acabei por me lembrar de vê-lo entregar as esferas de poder para as bruxas. Mas se Lay o enviou até mim, ele é de confiança, certo?