História The War - 79 ( Final)

Suho

  Eu estava preso na escuridão. É como se não bastasse abrir meus olhos, nada parecia adquirir qualquer cor à minha volta. Ouço vozes mas não consigo reconhecê-los. Sinto todo meu corpo molhado mas ao mesmo tempo seco. Será que estou preso num sonho?

 Espera, o que foi isso? Ouço sons de explosões e gritos. Eles estão em desespero. Mas quem são eles? Tento me mover mas nada acontece. Abra os olhos, Suho! Abra os olhos!

  Estou tentando!

 As vozes voltaram a aparecer. É tão familiar, até mesmo parece com a de..

 Uma luz surgiu evitando que eu completasse qualquer fala. Então eu estava com os olhos abertos por todo esse tempo? Olhei para minhas mãos e estranhei estarem tão machucadas. Não me lembro de machuca-las. Certamente isso é obra da bruxa.

A Bruxa! Sim, ela está com meus irmãos. Esses barulhos, essas vozes, será que..

- Suho, venha! – a voz familiar voltou a surgir.

  Estranhei enquanto girava por todos os lados tentando encontrar o dono de tal voz. Franzi minhas sobrancelhas enquanto nadava em direção à luz. Quando fiquei um pouco mais perto reparei na presença de uma mão. Ela movia seus dedos rapidamente, chamando por mim.

- Como posso confiar em você? – perguntei desconfiado e levemente encostando em um de seus dedos – Quem é você?

- Apenas pegue a minha mão – a pessoa ordenou sem qualquer paciência – Eu preciso que você ajude Lay.

- Lay? – Suho entrei em alerta – O que houve com ele?

- Segure a minha mão – voltou a pedir – Por favor.

  Suspirei mas não perdi mais tempo. Segurei a mão do rapaz misterioso e deixou-me ser puxado. Meus olhos ficaram irritados ao se depararem com tanta luz e cor. Enquanto os coçava nem mesmo percebi que havia não só uma pessoa em minha volta mas sim diversas. Limpei minha garganta antes de resgatar minha coragem e finalmente olhar o homem que havia me tirado daquele.. buraco negro.

- Kris? – tive que dar alguns passos para trás – O que você..? Onde está Lay? Por que está aqui?

- Não temos tempo para isso – Kris se aproximou e segurou meus ombros – Seus amigos, quero dizer, seus irmãos estão lá em cima precisando de você.

- Mas como..

- A garota também – me cortou.

  Senti meus ombros ficarem ainda mais tensos. S/N está aqui? A última vez que a vi foi.. foi quando eu morri. Bom, eu não morri exatamente mas quase morri.

- Ela está bem? – perguntei prontamente – Como a conheceu?

- Suho – uma voz feminina interrompeu o contato visual entre irmãos. Uma sereia, muito bem conhecida pelo pessoal de Exoplanet se aproximou com uma expressão preocupada – Entendemos que esteja confuso, passou muito tempo dentro desse buraco negro mas precisamos que você vá a superfície. Você precisa ajudar S/N e seus irmãos.

- Você também a conheceu? – perguntei um pouco desorientado. O que pode ter acontecido enquanto eu estava preso?

- Suho, presta atenção – Kris agarrou meus ombros e suspirou – Tenho certeza que depois de tudo isso ela irá te explicar com todos os detalhes o que aconteceu e você poderá matar a saudade mas agora não há tempo para explicações, você precisa subir. As sereias disseram que sentiram uma ligação com a guerreira e o que lhe falta está em você. Agora suba e ajuda a salvar nossa família.

  Notei como a expressão de Kris se dissolveu de séria para confusa.

- Família?

- Ainda estou um pouco confuso mas sim – revirou os olhos – Somos uma família.

Kai

Assim que vi todos os pedaços do espelho se despedaçarem e caírem no chão, fiquei aliviado. A figura de D.O. surgiu totalmente incrédula. Ele nem mesmo teve muito tempo para raciocinar quando eu pulei e lhe abracei. Sei que ele não é muito do tipo carinhoso mas eu estava com tanta saudade desse cabeçudo.

- Kai, você estava lá esse tempo inteiro? – ele perguntou descrente me abraçando de volta – Me desculpe, se eu soubesse eu..

- Está tudo bem – sorri olhando enquanto bagunçava seu cabelo – Vamos embora daqui.

 Ele concordou prontamente e então se virou na direção do portal. Enquanto estava atrás dos espelhos eu pude ver o portal se formar mas não sabia quem estava do outro lado. Agora, quando reconheci aquela cabeleira e a expressão medrosa, soltei uma risada. Não pode ser!

- Do que está rindo? – D.O. perguntou intercalando seus olhos entre mim e Helena – Conhece?

- É claro – abanei minhas mãos – É a melhor amiga da S/N.

- Ela tem amigas? – D.O. entortou os lábios – Desde quando?

- Ela é da terra – revirei meus olhos – É uma garota muito legal devo ressaltar.

- Faça isso depois – ele passou na minha frente e parou diante do portal – Venha logo, não quero aparecer na frente dela sozinho.

- Desde quando é tímido? – brinquei enquanto me teletransportava para seu lado. Ele não me deu atenção e simplesmente agarrou minha blusa e me empurrou para dentro do portal.

  Num piscar de olhos, eu apareci ao lado de Helena. Ela carregava um relógio. Por que ela está com um relógio?

- Kai – ela sorriu ao me ver – Como.. – ela olhou para o portal e deu um pulinho ao ver D.O. também surgir – Dois. Vocês dois estavam lá.

- E você? – perguntei – Como está aqui e por que... – olhei em volta – Por que nenhum monstro te ataca?

- O colar – mostrou – Ele me protege.

- Isso seria útil – passei minha mão por meu queixo e então levei uma cotovelada no estômago. Olhei surpreso para D.O. – Qual é?

- Pare de enrolar, temos que criar alguma estratégia antes que..

  Ele não teve como terminar sua frase pois nossa atenção foi toda para uma explosão gigantesca no fim do corredor. É, Baekhyun não está para brincadeira.

- Veja – Helena apontou para cima.

  Eu e D.O. nos surpreendemos ao encontrar as outras bruxas. Seus olhos nunca estiveram tão vermelhos e atrás de cada uma havia um exército de monstros sombrios.

  Repentinamente, uma delas, Yeri, foi atingida e caiu bruscamente no chão do castelo. Confusos, nós três procuramos o responsável por tal feito e acredito não ter sido o único a estranhar ver Joy com as mãos para cima, apontando para suas outras irmãs.

- O que foi isso? – D.O. perguntou.

- Não faço ideia.

- Vocês precisam ir naquela direção – Helena apontou para onde Baekhyun estava – A bruxa e S/N foram para lá. Seus irmãos também.

- Tudo bem, vamos – olhei para D.O. que rapidamente concordou e então agarrei a mão de Helena e comecei a correr.

- O que está fazendo? – Helena perguntou afoita.

- Te usando como escudo.

  Ela entortou sua boca, pareceu ter lembrado de algo.

- Você e Baekhyun são realmente irmãos.

Chen

- Vamos Xiumin – tentei continuar a correr mas ele não facilitava.

  Desde que saímos daquela sala, ele está zonzo e mal consegue ficar me pé. Fiquei feliz por vê-lo me reconhecer mas pelos deuses! Será que ele pode voltar a ser aquele monstro e se mostrar um pouco útil. Já ouvi todos os tipos de explosões possíveis nesse castelo e eu não fiz parte de NENHUMA DELAS. Isso me deixa louco.

- AHH – gritei assustado quando alguém agarrou meu tornozelo. Soltei todo o ar dos pulmões antes de ver o que eu teria que enfrentar.

  Segurei Xiumin com um pouco mais de força e então olhei.

- Só pode ser brincadeira – disse incrédulo. Olhei para os lados mas não havia ninguém para me ajudar – Se um lesado já dá trabalho, imagine dois!

  Fechei meus olhos por alguns instantes antes de me abaixar e erguer Luhan. Maldita hora em que a árvore da vida me escolheu para ser guerreiro. Com um irmão de cada lado, comecei a andar um pouco mais devagar.

 Agora eu sou o terceiro lesado.

De súbito, ouvi alguns passos se aproximando e quando olhei para trás de soslaio, vi diversos monstros se aproximarem. Resmunguei comigo mesmo antes de me virar e ver aquelas criaturas me rodearem. Olhei para meus irmãos e neguei com minha cabeça.

- Sabe Xiumin, você bem que poderia congelar alguns deles para mim – sugeri mas só obtive gemidos em resposta.

  Estava prestes a jogá-los no chão quando percebi que o chão estava começando a ficar azulado. Assustado, olhei para Xiumin e notei que sua mão brilhava. Espera, ele realmente ouviu meu pedido?

  Fiquei impressionado ao ver cada um dos monstros sombrios tornarem-se meros cubos de gelo. Sorridente, puxei Luhan e Xiumin para mais perto de meu corpo e comecei a arrastá-los para onde a verdadeira guerra acontecia.

- Obrigado por me ouvir – falei para Xiumin – Mas sério, o que você anda comendo?

 Suspirei e quando olhei para frente, bem longe, reparei em três pessoas correndo.

- Espera. – tentei raciocinar – Aquela é Helena?

S/N

 O castelo estava num completo caos. Monstros surgiam por todos os lados. Estava sendo impossível lidar com todos eles de uma única vez. Sehun e Chanyeol estavam longe, tentando conter o exército que tentava adentrar enquanto Baekhyun lidava com Irene e outros guardas.

  Desde o repentino aparecimento da bruxa naquele corredor, as coisas ficaram um pouco mais difíceis. Graças aos meninos ela nem mesmo teve chance de me atacar mas onde ela está? Certamente está procurando alguma maneira de nos pegar desprevenidos.

- S/N – ouvi a voz de Helena atrás de mim. Quando me virei, me deparei com Kai e D.O.

- O que? – perguntei sorridente indo em sua direção – Como foi que vocês dois escaparam?

- Eu estava preso no mesmo universo que D.O. – Kai explicou ofegante – Precisamos nos preparar. As bruxas estão vindo para cá com diversos monstros.

- Mais? – perguntei abismada.

- Precisamos ganhar tempo – disse pensativa. Olhei para o lugar de onde os meninos vieram e pensei numa alternativa – Talvez – olhei para D.O. – Se nós dois quebrássemos o chão, vários deles cairiam.

- Pode ser uma alternativa – respondeu observando o local – Tudo bem, vamos nessa.

- E o que eu faço? – Kai perguntou

- Leve Helena para algum lugar seguro e depois ajude Baekhyun – respirei fundo.

  Vendo Kai partir junto de Helena, eu e D.O. nos apressamos a tomar os devidos lugares para usar a força. Quanto mais nos aproximávamos mais eu queimava, congelava e acertava raios de luzes nos milhares de guardas que nos rodeavam. Assim que nos posicionamos, olhei para D.O. esperando uma confirmação e então finalmente pressionei minha mão naquele solo apodrecido e deixei que meu poder resolvesse o resto.

  Ouvi o barulho das pedras começarem a se rachar e levemente o chão começar a se mover. Olhei para D.O. e me impressionei ao notar que suas mãos tinham brilhos diferentes do comum. Talvez ele esteja adquirindo um nível alto de seu poder?

  Continuei a pressionar meus dedos na terra mas subitamente congelei ao ouvir meu nome ser chamado. D.O. continuava concentrado quando me levantei e olhei em volta. Os monstros não conseguiam se aproximar devido a minha barreira de gelo mas ainda assim algo estava me incomodando.

- Por que parou? – ele gritou.

- Acho que ouvi alguma coisa – respondi incerta.

  Continuei a observar cada ponto possível e quando forcei minha vista para o fim de um dos corredores, pude ver três pessoas se aproximando. Bom, dois deles pareciam precisar de ajuda para andar.

- D.O., pare – o alertei assim que reconheci quem se aproximara.

- Esperem – Chen gritou enquanto puxava um Luhan desacordado e Xiumin.. bêbado? – Eu estou chegando.

- D.O. você precisa parar agora – avisei sentindo que estava ficando cada vez mais nervosa.

   Mas parecia que D.O. estava em transe. Além do brilho em suas mãos, seus olhos reluziam a chama de seu poder. Tentei puxá-lo para trás mas de nada adiantou. Em questão de segundos, todo o lugar começou a se despedaçar. Um buraco enorme começou a seguir na direção dos guerreiros. Chen parou de correr no mesmo instante, ele olhou para trás e quando viu que diversos monstros se aproximavam deixou que Luhan caísse no chão e tentou manter Xiumin em pé.

   Raios começaram a surgir em volta de seu corpo e rapidamente ele começou a acertar cada ser que se aproximava.

   Não perdi tempo e me teletransportei para o outro lado.  Rapidamente joguei Luhan em minhas costas e segurei a mão de Xiumin.

- S/N – ele disse um tanto grogue – Voxe estava aqui o lempo todo?

- Vamos embora daqui – Chen gritou e quando agarrou meu braço eu os levei para o outro lado.

- Vocês está bem? – D.O. perguntou prontamente – Me desculpe, eu não consegui parar eu..

- Está tudo bem – Chen disse ofegante – Quando atingimos esse estágio é difícil controlar.

- Quem é esse formindo? – Xiumin perguntou chutando a perna de Luhan

- O que houve com ele? – perguntei com estranheza.

- Eu não faço a menor ideia – Chen suspirou – Ele deve ter sofrido algum trauma pós poção.

- Você não encontrou Suho? – perguntei um tanto preocupada. Tinha esperanças de finalmente encontra-lo.

- Pensei que ele pudesse estar aqui – ele engoliu seco – Kris e Lay?

- Também não sei – passei a mão por minha testa – Mas Lay não está com a bruxa. Eu a encontrei no corredor e suas filhas estão vindo para cá. Estou tentando pensar que Kris finalmente voltou para o lado da luz.

- Espero que esteja certa – D.O. apareceu ao meu lado – Porque agora temos outras coisas para nos preocuparmos.

   Segui para onde seus olhos apontavam e me surpreendi ao encontrar diversos guardas sombrios formarem uma ponte para chegar até o outro lado. Ondas de seres monstruosos pareciam ganhar cada vez mais proporção à medida que as bruxas usavam seus poderes.

  Estava prestes a quebrar sua formação quando fui atingida nas costas e arremessada para longe. Ouvi os gritos dos meninos tentando me ajudar mas logo em seguida paredes de fogo surgiram à minha volta. Um tanto atordoada, me apoiei pelos cotovelos e observei uma figura feminina se aproximar. Com suas vestes escuras e olhos vermelhos, eu nunca poderia não reconhecê-la.

  Uma aura sombria habitava ao seu redor. Mesmo um pouco desequilibrada pude ver um sorriso se formar naquela sombra escura.

- Finalmente a sós – sua voz pareceu raspar meus ouvidos – Não sabe o tanto que esperei por isso – ela riu.

  Aproveitei para me levantar e encará-la firmemente. Fechei fortemente minhas mãos, senti toda a raiva acumulada começar a se mostrar por todo meu corpo.

- Tive todo o trabalho para roubar as esferas – ela moveu suas mãos me mostrando as 11 esferas – Mas você ainda conseguiu ficar com uma. Impressionante.

- Você não é tão poderosa quanto imagina – tentei lhe acertar com gelo mas ela rapidamente desapareceu e surgiu atrás de mim.

- Na verdade – me virei rapidamente – Você não é tão forte quanto imagina.

  Irritada, corri em sua direção e tentei atingi-la de todas as maneiras possíveis. Fogo, gelo, luz, vento. Nada acontecia. Ela facilmente me despistava e me acertava pelas costas. Graças à cura eu não me machucava tanto mas aos poucos comecei a sentir cortes mais profundos.

- Sabe – ela começou a me rodear. As paredes feitas de fogo começaram a se aproximar – Eu demorei muito tempo para conquistar tudo isso. Anos atrás, quando aquele maldito guerreiro me prendeu na prisão Overdose eu pensei que seria meu fim. Mas então ela apareceu.

  Torci minha boca ao vê-la se retorcer como se a sombra passeasse por seu corpo.

- A sombra estava com tanta sede de vingança quanto eu. Formamos uma bela dupla não acha?

- Você é um monstro – olhei em seus olhos – Fez com que suas filhas aderissem ao lado errado do universo. Aniquilou diversos seres inocentes e pelo o que? Pela árvore da vida? Por que essa cisma toda com um pedaço de planta?

- Foi essa planta quem lhe deu poderes – num piscar de olhos ela apareceu diante de mim e prensou sua mão em meu peito – E eu quero arrancar cada pedaço que ela colocou em você.

   De súbito, senti uma dor horrenda correr minhas veias. Minhas pernas perderam suas forças e fui obrigada a inclinar todo o meu corpo em sua direção. Tentei agarrar sua mão que apertava contra meu peito mas palavras desconhecidas saiam de sua boca fazendo com que eu mal conseguisse me mover.

- Você irá causar toda a ruína – ela sussurrou contra meu ouvido cravando ainda mais suas unhas em mim – Veja – a bruxa agarrou meu queixo e me fez olhar em volta.

   Senti as lágrimas começarem a se formar em meus olhos ao ver os guerreiros apertarem seus peitos. Eles estavam sentindo a mesma dor que eu e os monstros da sombra estavam se aproveitando disso.

- Vocês todos são interligados – ela disse sorridente – Com o feitiço certo – uma mecha do meu cabelo foi colocada atrás de minha orelha – Eu posso acabar com todos vocês.

    Quando ela aprofundou ainda mais sua mão, eu percebi que não havia mais o que eu fazer. Era o fim. A destinada a salvar o universo será a causadora de sua total destruição. Meu coração doía a medida em que ela dizia mais palavras desconhecidas. Eu não conseguia me mover e as lágrimas saiam descontroladamente.

  Os meninos pareciam perder o ar e tentavam ao máximo manter-se em pé. Helena estava correndo em suas direções tentando mantê-los à salvo mas eu sabia que nada disso aconteceria. Nem mesmo seu colar poderia nos ajudar agora.

  De repente, tudo começou a se mover em câmera lenta. Meus olhos ficaram cansados e meus sentidos começaram a desaparecer.

- S/N – ouvi alguém me chamar e olhei em sua direção.

   Uma lágrima ácida pareceu correr por minha bochecha. Mal conseguia enxergá-lo mas nunca deixaria de reconhecê-lo. Sua expressão preocupada me lembrou a última vez que nos vimos. Já faz tanto tempo.

  O irônico é que antes eu havia presenciado sua “morte” e agora é ele quem verá a minha.

- Suho – movi meus lábios mas já era tarde demais.

 Quando pisquei meus olhos, fui obrigada a usar minhas mãos para tampar a claridade que havia encontrado. Assim que eles se acostumaram, olhei a minha volta e soltei todo o ar de meus pulmões pensando se meus pensamentos estavam realmente corretos em relação a esse lugar.

- Perdida? – uma voz masculina chamou minha atenção.

  Me virei para encontrar o homem misterioso e acabei ficando boquiaberta. Os olhos, o cabelo, até mesmo o formato do nariz e da boca, esse só pode ser..

- Deneb – ele estendeu seu braço – Sou o pai dos meninos.

- Eu.. eu sei – disse ainda incrédula, apertando sua mão – Espera, se eu estou te vendo quer dizer que..

- Ainda não – ele riu abafado e então indicou com sua cabeça para que continuássemos a andar – Você está no mundo das almas. Aqui você encontrará todos os seres bons que já foram mortos pela sombra.

- Mas eu só vejo você – disse confusa.

  Deneb sorriu de lado e num estralar de dedos, diversos seres começaram a aparecer. Desde humanos até pequenas fadinhas. Seria impressionante encontrar tal mistura se o contexto não fosse tão triste.

- A sombra causa estragos desde muito tempo – explicou cabisbaixo – Veja só, ela me tirou dos meus filhos – me olhou ressentido – Nunca estamos preparados para a morte.

- O senhor fez um bom trabalho com eles – tentei consolá-lo – Sei que não é a mesma coisa mas eles te amam muito. Os meninos evitavam entrar no assunto mas sempre vi muito carinho em seus olhos quando você era mencionado.

- E eu sempre vi o carinho com que eles olhavam para você – retrucou – Eu sempre estou por perto, entende? Tento ajudá-los mesmo longe. Peço desculpas por Baekhyun, é muito difícil entrar na cabeça dele.

- Ó, não precisa se desculpar – abanei minhas mãos – Águas passadas.

   Ficamos em silêncio por alguns instantes enquanto caminhávamos. Era muito estranho estar ao seu lado. O homem que até hoje serve de exemplo para meus tão queridos amigos está aqui, junto de mim. Analisei suas roupas e até mesmo sua semelhança com os guerreiros. Parece que estou lendo um livro novamente.

- Você não acredita em si mesma? – perguntou repentinamente.

- Como assim?

- Não se acha poderosa? – explicou arqueando as sobrancelhas – Seja sincera.

- Eu sei que sou poderosa – tentei soar convicta – Mas.. mas existem tantas dúvidas na minha cabeça e isso.. isso me faz perguntar se..

- A árvore fez a escolha certa?

- Exato! – disse exasperada – Como sabe?

- Porque eu me fiz essa pergunta durante muitos anos, S/N. Até mesmo quando já tinha os meninos. Sempre me perguntei porque um homem comum como eu poderia ter sido escolhido para uma missão tão nobre? E adivinha?

- O que?

- Eu morri sem entender meu propósito.

- Isso é..

- Deprimente – completou soltando um largo suspiro – Mas isso não quer dizer que você precise seguir os meus passos – subitamente ele se virou e agarrou meus ombros – A vida está te dando uma chance, S/N. Mostre a eles quem você realmente é. Mostre seus poderes. Mostre sua força. Mostre o que é ser uma guerreira de verdade.

- Mas.. e se eu falhar?

- Você não irá falhar – garantiu – Você é a escolhida! Você é a esperança!

- Por que eu estou aqui, Deneb? – perguntei semicerrando meus olhos.

- Porque alguém precisava abrir os seus olhos – sorriu – E também, você não pode morrer agora, meu filho está te esperando do outro lado.

- Qual deles? – perguntei na brincadeira.

- Você sabe de quem estou falando – ele me manda uma piscadela e então todo o ambiente pacífico volta a se transformar em ruínas e desastres.

Suho

  Uma dor forte em meu peito fez meus passos cessarem. Criei uma enorme barreira de água tentando evitar que os monstros se aproximassem mas eles estavam quase chegando até mim. Meus olhos estavam fixos em S/N. Queria encontrar uma maneira de chegar mais perto mas com essa dor eu não conseguiria ir a lugar nenhum.

Observei com tristeza meus irmãos caírem no chão e serem atacados. Estava aliviado por encontrá-los vivos mas também me sentia triste por nosso encontro ser tão dramático e desequilibrado.

  Consegui dar alguns passos, me aproximando aos poucos daquela parede de fogo quando fui surpreendido por uma explosão. E não foi algo que explodiu mas sim S/N. Abanei todo o ar que atrapalhava minha visão e me peguei boquiaberto com o que eu via. A bruxa já não tinhas suas mãos cravadas em seu peito. Agora, S/N é quem a segurava pela gola de seu vestido e dizia algumas palavras.

  Nunca pensei que pudesse ver algo tão lindo em toda minha vida. Sua aura parece ter sido restaurada. Sua pele está brilhando e é possível notar todas as dominações a rodearem. S/N conseguiu! Ela atingiu seu poder máximo. Não é possível que exista um ser mais forte do que ela.

   A dor que sentia em meu peito desaparecera. Olhei rapidamente para os outros guerreiros e eles também pareciam melhores. Até mesmo uma garota desconhecida parecia estar ajudando. Preciso me lembrar de perguntar sobre ela mais tarde.

 A mão de S/N começou a cintilar. Á sua volta, as esferas de poder apareceram e começaram a se misturar, ela vai acabar com isso de uma vez.

- Não faça isso – Joy surgiu do outro lado de S/N. Estava aos prantos – Por favor, ela é minha mãe.

Diferente do que eu pensei, ela não largou a bruxa. Sua cabeça estava virada na direção de Joy mas o poder continuava a tomar proporções em sua mão. De repente, uma sombra agitada começou a correr por todo o campo e ir na direção de S/N. Não pensei duas vezes antes de começar a correr e tentar acertá-lo de todas as maneiras possíveis.

- S/N, S/N – eu gritei chamando sua atenção – Cuidado com a sombra.

 Assim que seu rosto se virou para mim, a bruxa desapareceu de sua mão juntamente com Joy. Olhei, atordoado, para onde a sombra parecia estar mas ela também desaparecera. A medida em que chegava mais perto de S/N reparei que os guardas e monstros sombrios também pareciam simplesmente deixar de existir.

 Tentei manter esse fato de lado e quando finalmente fiquei a centímetros de S/N, a puxei para meus braços e a abracei. Pelos Deuses! Eu pensei que iria morrer com arrependimento.

- Não acredito que esteja realmente aqui – disse enquanto a apertava um pouco mais – Eu senti tanta a sua falta.

- Também senti sua falta – ela me olhou com um sorriso nos lábios e então, para minha surpresa, me beijou.

  Precisei só de alguns segundos para raciocinar direito e então finalmente desfrutar de sua boca que tanto desejei durante esses tempos. Sinto tanta raiva de mim por ter evitado deixar meus sentimentos crescerem. Mereço ser feliz também, não é?

- Você não me molhou dessa vez – ela disse ainda com os olhos fechados. Linda – É um bom sinal?

- Pode ter certeza que sim – sorri de lado e voltei a abraçá-la.

 S/N

- O que você disse para a bruxa? – Suho perguntou depois de me soltar

  Nem mesmo podia acreditar que isso estava acontecendo. Foram tantos acontecimentos repentinos que parece que ainda estou tentando assimilar o que é real. Eu realmente acabei de encontrar o pai dos meninos e ainda liberar o poder total? Encontrei Suho depois de todo esse tempo e o beijei? Uau.

- Apenas a verdade – sorri analisando seu rosto. Estava com saudade – Que ela nunca irá me derrotar.

  Lentamente um sorriso foi surgindo em seus lábios e quando ele estava prestes a dizer algo, reparamos numa movimentação à nossa volta. Os guerreiros haviam se juntado e nos observavam risonhos e cansados.

- Parece que alguém se deu bem – Kai piscou para mim.

 Em meio a brincadeiras, Suho foi recepcionado por seus irmãos com muita euforia. Todos eles o abraçaram e diziam que sentiram falta de um líder. Baekhyun foi o que mais demorou para soltá-lo. Não conseguia parar de dizer que se sentia culpado pelo o que aconteceu.

- Você sabe que eu teria feito aquilo por qualquer um de vocês – Suho o acalmou – Não precisa se desculpar.

- Sei que estamos num momento de reconciliação mas vocês repararam que todos os monstros sumiram? – Chanyeol apontou para todos os lados – Assim que S/N agarrou a bruxa e Joy apareceu, todos desapareceram.

- Talvez elas tivessem algum feitiço de proteção – Sehun chutou.

- Duvido muito disso – Chen falou e devido ao tom de sua voz, todos nós nos viramos em sua direção.

  Rapidamente, todos os guerreiros trocaram olhares assustados e se posicionaram. Helena, que estava perto de Xiumin e Luhan, os puxou para perto das pedras e ali os deixou, para sua segurança. Suho veio novamente para meu lado e consentiu com sua cabeça me dando a entender que agora era a hora. Minha hora.

 Em frente ao castelo, as 5 bruxas apareceram e permaneceram paradas, nos observando. Mas o que realmente nos causou tanto choque foi ver o que se formava atrás delas. Todos os monstros sombrios se misturavam numa onda escuro e enorme. As bruxas moviam suas bocas dizendo provavelmente as mesmas palavras.

  Quando elas se calaram, uma por uma foi desaparecendo, e a medida em que isso acontecia, aquele ser sombrio ficava ainda maior e assustador. A última bruxa a desaparecer foi Joy, todos nós pudemos notar seu olhar fixo em Chen. De certa forma, eu sentia que ela não queria realmente estar fazendo aquilo.

 Por um instante, não se ouviu nada por todo o lugar. O monstro, que tinha mais de 5 braços, dentes terrivelmente afiados e grandes e pernas gigantescas permanecia parado mostrando que apenas esperava a nossa deixa.

- Não é o melhor momento – Suho sussurrou – Mas quem é a garota que está com Xiumin e Luhan?

- Chegou a hora – ouvimos Chanyeol gritar do outro lado e acender suas mãos.

- Helena – respondi o olhando brevemente – Uma amiga da terra.

 Ele afirmou lentamente que havia entendido mas sei que estava com diversos pontos de interrogação em sua mente.

- Vamos lá – Chen gritou encorajando a todos os seus irmãos e então começou a correr.

  A criatura das trevas também começou a se mover e a cada passo dado, o chão se rachava e tremia. D.O. pediu para que fossemos na frente enquanto ele tentava controlar o equilíbrio do solo. Chen começou a acertá-lo com raios enquanto Chanyeol tentava queimar suas pernas.

 Sehun e Suho se juntaram e um furacão de água começou a surgir e Kai se teletransportava ao redor do monstro tentando deixa-lo confuso. Com toda essa mistura de dominações, eu e Baekhyun pudemos parar para analisar qual seria o melhor momento para atacá-lo de vez, de modo a acabar com isso.

- O coração, veja – ele disse apontando.

 Em meio a toda aquela escuridão, o peito do monstro brilhava fracamente mostrando a sombra de 5 pessoas. 5 bruxas.

- Você sabe o que tem que fazer – ditou olhando profundamente me meus olhos – Só você consegue – tocou uma última vez meu ombro e então se juntou a seus irmãos.

  Olhei para minhas mãos e depois me lembrei das palavras de Deneb. “Você é a esperança”

  - Eu vou conseguir!

 Comecei a correr para pegar impulso e então voei. Fui na direção do monstro e congelei suas pernas e braços. Criei uma crosta em cima de seus pés e então peguei certa distância ficando diretamente na direção de seu coração. Os guerreiros que antes atacavam, agora estavam parados, me observando.

 Olhei rapidamente para cada um deles até que me fixei em Chen. Durante todo esse tempo, eu não conseguia lidar com a dominação do raio. Talvez agora seja a hora de finalmente usá-la para acabar com tudo isso.

 Em meio a grunhidos e gritos partidos da criatura sombria, eu ergui minhas mãos e respirei fundo. O raio lentamente começou a aparecer e tomar grandes proporções. Com os braços mirados na direção correta, eu esperei que toda minha luz se concentrasse apenas no raio.

 Em certo ponto a luz chegou a ser tão, mas tão clara que nem mesmo eu enxergava direito. Mas quando senti que finalmente havia conseguido, eu agarrei o raio com força e olhei uma última vez para as bruxas.

- Acabou para vocês – foi o que eu disse antes de lança-lo com toda a força possível.

  Quando atingido, o monstro rugiu alto e começou a se destruir. Todos fomos atingimos por uma onda enorme de poder o que me fez perder o equilíbrio e cair no chão. Fiquei um tempo no chão até que pudesse me recuperar e quando me sentei, limpei meus olhos e olhei em volta, fiquei boquiaberta. Tudo havia voltado ao normal. A terra agora estava com grama e flores. Árvores renasciam. O céu brilhava com um azul nunca visto por mim.

 Com um sorriso nos lábios, me levantei e fiquei maravilhada. Isso sim é Exoplanet.

- Você conseguiu! – ouvi a voz de Helena atrás de mim e quando me virei foi recepcionada por seus braços – Eu sabia que conseguiria. Você tem noção do quão legal foi o que você fez? Aquele raio.. nossa, sério, quando eu crescer quero ser que nem você. Como fez aquilo? Seus olhos, você tinha que ver seus olhos, nunca brilharam tanto e..

- Ei, calma – acabei rindo de seu entusiasmo – Vai ficar sem voz desse jeito.

- Desculpa é que.. – ela não parava de sorrir – Estou tão orgulhosa – soltou um suspiro, encantada.

- Bom, na verdade eu acho que..

  Fui interrompida quando dois braços rodearam minha cintura e me ergueram por trás.

- Você estava demais lá em cima – Suho disse animado. Ele passou a mão por meu rosto e sorriu admirado – Você salvou Exoplanet.

- Não diria que foi algo que fiz sozinha – mexi meus ombros – Mas.. obrigada.

  Nós dois trocamos sorrisos e quando ele se aproximou para me beijar fomos interrompidos pelo barulho de algo caindo. Helena deixou que o relógio caísse no chão e em questão de segundos, a figura de uma pessoa começou a aparecer.

- Tao? – Suho perguntou em choque.

- Não acredito – ele olhou desacreditado para nós – Estou livre e.. me lembro de você – apontou para Suho. Ele não perdeu tempo e abraçou seu irmão o mais forte que pode – Eu me lembro de você, Suho. Me desculpe por tudo o que eu fiz, de verdade, me desculpe. Senti tanta a sua falta.

- Também senti sua falta – respondeu emocionado.

  Deixando os dois terem um momento a sós, eu e Helena fomos para o outro lado, onde os outros guerreiros se parabenizavam e ajudavam alguns dos sobreviventes, antes aprisionados, a entenderem onde realmente estavam.

- Quem é aquele com Kai? – Helena perguntou.

  Procurei pelo dominador do teletransporte e quando o avistei, sorr.

- Aquele é Taemin – respondi – Seu melhor amigo.

Kris

- Você fez a coisa certa, Kris – a sereia disse para mim antes que eu voltasse para superfície – Veja – ela moveu suas mãos mostrando as maravilhas do mar – Sem você, os guerreiros não teriam conseguido entrar no castelo.

- Eu fico feliz em ter tomado essa decisão – sorri um pouco nervoso – Você acha.. acha que irão me perdoar?

- Eles já te perdoaram – ela assegurou passando a mão por meu ombro e me mandando um sorriso acolhedor – Agora, leve Lay para cima. Ele precisa respirar seu ar natural para acordar.

- Ele vai ficar bem?

- Sim, ele vai.

  Olhei uma última vez para todas aquelas criaturas e sorri agradecido. Mesmo tendo um lado sombrio dentro de mim, eles me ajudaram e consequentemente salvaram meu irmão. Nunca poderia ser mais grato.

 Segurando Lay em meus braços, eu nadei até a superfície. Quando finalmente fiquei em terra, o coloquei deitado na grama e me joguei ao seu lado, recuperando o fôlego. Realmente, o ar de Exoplanet é bem melhor do que lá em baixo.

 De repente, ouvi Lay começar a tossir. Rapidamente me virei em sua direção e o ergui. Bati em suas costas até que conseguisse respirar devidamente e relaxasse. Assim que se acalmou, ele coçou seus olhos e me olhou. Sua primeira expressão foi de total choque.

- Kris? – ele se afastou um pouco – O que você..

 Não deixei que terminasse e o abracei. Sei que provavelmente está muito confuso mas agora que me lembrei de tudo o que aconteceu percebo o tanto que senti falta de meus irmãos. Nunca poderia me perdoar pelo o que fiz enquanto ajudava a sombra. Só espero que Lay possa me perdoar e não me olhar com medo.

- Eu sou.. o Kris – disse o olhando nos olhos – O verdadeiro.

   Lay pareceu analisar um pouco meu rosto até soltar um pequeno sorriso destacando suas covinhas. Ele voltou a me puxar em um abraço e suspirou.

- É bom tê-lo de volta, Kris.

  Sempre me fiz de durão mas agora, pensando em tudo o que aconteceu não consegui evitar que algumas lágrimas caíssem. É errado sentir tanto alivio assim?

- Kris e Lay estão aqui – uma voz conhecida chamou nossa atenção.

  Quando nos separamos, vimos D.O. e Chanyeol correrem em nossa direção.

Sehun

  Estava ajudando algumas fadas a encontrarem o caminho para a floresta encantada quando vi uma pessoa vir na minha direção. Quando nossos olhos se encontraram, me senti um tanto perdido. As memórias correram diante dos meus olhos e tive que respirar fundo antes de poder realmente ter qualquer contato com ele. Sei que a sombra o controlava mas algumas coisas é difícil esquecer. De qualquer forma, ele ainda é meu irmão e o amo.

- Oi – Luhan disse baixinho.

- Oi.

- Está ajudando as fadas? – perguntou.

  Quase revirei meus olhos.

- Estou.

  De súbito, Luhan se aproximou e me abraçou espremendo meus braços. Fiquei sem reação. Olhei para o lado e encontrei Baekhyun, Xiumin e Chen rindo da situação. Ridículos.

- Me desculpe, me desculpe, me desculpe – ele repetiu – Eu não queria ter feito aquilo. Eu nunca mataria meu irmãozinho. Você sabe, não é?

- Sem essa de irmãozinho – me soltei e o olhei com um sorriso nos lábios – Se quer saber, eu já sou bem grandinho.

  Ele riu.

- Sem ressentimentos? – perguntou.

- Hum, eu provavelmente vou te lembrar disso todas às vezes que querer alguma coisa – dei de ombros – Mas não é nada que você não possa aguentar.

- Com quem você aprendeu a ser assim? – Luhan implicou.

- Com Baekhyun.

- Mentira – o dominador da luz gritou do outro lado.

Baekhyun

- Uau, vocês acreditam que tudo isso realmente aconteceu? – Chen perguntou enquanto tentava deixar Xiumin em pé.

  Sim, mesmo depois de tudo ele continua um pouco zonzo devido ao feitiço que jogaram nele. É engraçado de ver.

- Se formos analisar tudo o que passamos, não merecíamos mais do que a vitória – suspirei – Foram tantos problemas e batalhas.

- Quem diria que aquela garota estranha viria a se tornar nossa salvadora – Xiumin disse enquanto se sentava.

- A árvore não poderia ter escolhido alguém melhor – sorri vendo S/N se juntar a D.O. e Chanyeol que corriam na direção do mar.

- E como você está? – Chen perguntou.

  Não entendi.

- Digo, em relação a tudo, S/N, Suho..

- Não poderia estar melhor – suspirei – Não era para ser eu e não estou magoado por causa disso. Na verdade, talvez eu apenas estivesse com saudade de sentir, entende? Desde que o papai morreu eu nunca mais fui o mesmo e quando vi a oportunidade eu quis agarrá-la. Mas não era o meu amor verdadeiro.

- A guerra fez bem a você, Baekhyun – Xiumin sorriu de lado – O que pretende fazer agora?

- Não tenho certeza – mordi minha boca enquanto olhava para todo aquele campo até que meus olhos pararam em Helena. Ela conversava animadamente com Kai e Taemin – Mas parado não irei ficar.

  Chen e Xiumin se entreolharam sem entender.

- E você Chen? – perguntei – Você está bem depois de tudo com Joy?

- Seria mentira se eu dissesse que estou totalmente bem – remexeu seus ombros – Queria que as coisas tivessem dado certo entre nós.

- O que vocês acham que aconteceu com as bruxas? – Xiumin perguntou.

- Devem estar no submundo – Chen respondeu prontamente – A sombra nunca tolerou falhas. Provavelmente agora elas se tornaram apenas mais um lixo dela.

   Eu e Xiumin nos entreolhamos um pouco surpresos pelo tom de suas palavras. Aproveitei do silêncio que se formara e voltei a olhar para Helena. O que eu não esperava era ver diversas almas saírem exatamente do lugar de onde S/N derrotou a sombra.

- Mas o que é isso? – perguntei dando alguns passos para frente.

 Diferente do que eu pensava, as almas não eram assustadoras. Na verdade apresentavam uma coloração angelical, quase igual ao céu. Ainda estava em dúvida até ver uma delas ir em direção ao grupo de fadas. Todas elas ficaram muito felizes em revê-la.

- São as almas boas mortas pela sombra – me sobressaltei ao ver Lay aparecer do meu lado – Elas estão livres. Finalmente poderão ir para o céu.

- Desde quando você está aqui? – perguntei.

- Acabei de chegar – respondeu mexendo em meu cabelo – É bom te ver.

- Você me assustou – levei minha mão ao meu peito.

- Só quis te impressionar.

  Estava prestes a implicar com sua aparência perturbadora quando senti alguém cutucar meu ombro. Estranhei a expressão que Lay fizera ao olhar quem estava atrás de mim. Até mesmo Chen e Xiumin paralisaram.

 Quando me virei, a única coisa que pude fazer foi ouvir o som dos meus batimentos ficarem mais rápidos.

- Olá, filho – meu pai disse com um sorriso simples no rosto.

  Não consegui dizer qualquer palavra. Analisei sua figura na minha frente e senti vontade de chorar. Ele é uma das almas libertas. Por um momento acreditei que pudesse ter voltado.

- Vocês cresceram – ele disse olhando para mim, Lay, Chen e Xiumin – Vejo que fiz um bom trabalho.

- Pai – Lay foi o primeiro a dizer alguma coisa – Eu..como que..

- Na última vez eu não consegui me despedir – ele disse ressentido.

   Atrás dele, vi meus outros irmãos começarem a se aproximar. Todos tinham a mesma expressão. Até mesmo S/N parecia em choque.

- Ó, vocês todos estão aqui – Deneb se virou e sorriu para cada um de seus filhos – Fico feliz em vê-los juntos.

- Pai? – Sehun perguntou. Seus olhos pareciam vermelhos, ele estava tentando evitar que as lágrimas caíssem – É você mesmo?

  Meu pai afirmou rapidamente.

- Sabe, desde que eu morri, eu nunca abandonei vocês – ele disse para todos – Podem não me ver mas.. mas eu sempre estou lá. Quando vocês contam piadas, eu rio, quando vocês se machucam, eu estou do seu lado para lhe curar e quando vocês choram eu também choro. Por isso, D.O. para de chorar – ele apontou.

  Automaticamente todos nós nos viramos para ele. D.O. ficou vermelho feito a flor das sereias e enxugou o rosto. Parecia emburrado por ter sido pego no flagra.

- Por que faz isso, pai? – D.O. resmungou arrancando risadas de todos nós.

- Porque eu te amo. Pais fazem isso.

  D.O. revirou os olhos.

- Bom, antes de ir, eu gostaria de dizer a cada um de vocês que estou orgulhoso. Suho, sei que sempre duvidou de si mesmo. Sempre teve suas inseguranças mas saiba que eles não poderiam ter tido um melhor líder para lhes guiar. Eu não teria feito melhor do que você – ele olhou para S/N – Sei que vocês dois farão coisas extraordinárias juntos.

- E o senhor conhece S/N? – Chanyeol perguntou confuso.

- É claro que conheço – piscou – Somos grandes amigos.

  Todos nós olhamos para ela.

- Eu não sou de revelar segredos – ela olhou para suas unhas e aproveitou para se esconder atrás de Suho.

- Sehun – Deneb olhou para ele e sorriu – Você sabe que está destinado a grandes feitos, certo? O que fez em El Dorado foi apenas o começo. Você sempre será útil para essa equipe.

- Xiumin, você que sempre toma conta de seus irmãos com tanto carinho e esforço. Eu não poderia estar mais orgulhoso do que você se tornou. Vejo muito de mim em você e espero que continue assim com o passar dos anos.

- Chanyeol, meu filho esquentadinho. Tome cuidado com suas travessuras. Você pode acabar queimando alguém sem querer. Se confiar mais em seus instintos vai poder fazer maravilhas por Exoplanet. Viaje, explore o universo. Lute pelo o que acredita.

- Luhan, Kris e Tao. Ah, vocês passaram por uma fase ruim, não é? Os acompanhei de perto e sei o quanto devem estar sofrendo por dentro. Mas vejam só, no final todos estão reunidos. Sem ressentimentos. Não importa o que aconteceu, vocês são uma família e sempre farão parte dela. Não nego que me senti culpado por tudo o que ocorreu com vocês. Talvez se eu não tivesse entrado em contato com aquela bruxa nada disso teria acontecido – respirou fundo – Mas saibam que eu os amo assim como os outros.

- Kai, o que eu poderia dizer para você? Sempre te achei um grande símbolo de perfeição. E não, antes que seus irmãos venham me contrapor, isso não é favoritismo. Sempre amei a todos igualmente. Kai, você tem um coração enorme, sem você e Lay, S/N não teria conseguido chegar onde está. Vocês foram os primeiros a acolhê-la. Siga sempre suas intuições. Você tem um futuro maravilhoso te esperando.

- Lay, assim como disse à Kai, você é o símbolo do amor e carinho. Meu filho querido, me pergunto se fui pai suficiente para um filho como você! Pessoa tão boa assim é difícil de se encontrar mas veja só, aqui você está.

- Chen – ele riu – Perdi as contas de quantas vezes chorei de rir com você. Todas as vezes em que Xiumin congelou sua língua ou ainda quando você implorava por Coca para S/N.

- O que é coca? – ouvi Chanyeol perguntar.

- Você foi o primeiro a atingir seu poder total. E sim, eu estava lá quando aconteceu. Fui o primeiro a te aplaudir. Claro, talvez isso tenha acontecido porque eu era a única alma naquele castelo mas fiquei muito feliz por testemunhar um acontecimento tão importante em sua vida. Sei que não estarei em todos, mas espero que sempre se lembre de mim nessas horas.

- D.O., meu querido filho chorão, tente se abrir um pouco. Seus irmãos sempre estarão abertos para você. Sei que tem medo de confiar nas pessoas mas não perca tempo sendo sempre fechado. As pessoas querem ouvir você falar e querem sua companhia. E a propósito, sempre gostei da sua risada. Não vejo ela como sua fraqueza.

   Por fim, Deneb olhou para mim e sorriu. Eu já estava com os olhos cheios quando reparei que agora seria o adeus. Seu destino final.

- Me lembro quando você era pequeno, Baekhyun. Sempre muito sorridente, brincalhão. Por diversas vezes me perguntei se isso lhe faria algum mal na sua formação. Dizem que pessoas muito felizes acabam por sofrer mais em momentos tristes. Mas eu nunca poderia impedir você de rir e fazer suas travessuras. Sempre adorei te ver correr e alegrar a todos em sua volta. Sei que muitas vezes você sente como se estivesse fazendo alguma coisa errada ou ainda que como se não pertencesse a esse lugar mas saiba que o que eu vejo em você é muito poderoso. Você é forte e conseguirá sim vencer essa batalha que tem consigo mesmo. Eu acredito em você, só basta você acreditar em si mesmo.

  Abaixei minha cabeça me sentindo incapaz de olhar para meus irmãos. É incrível que esse velho saiba dizer as palavras certas mesmo em momentos como esse. Senti Chen apertar meu ombro em forma de carinho e então fechei meus olhos.

 Talvez sejam sentimentos demais para um único dia.

S/N

Ver os meninos se despedirem fez com que eu sentisse uma falta enorme dos meus pais. Pensar que não me despedi devidamente deles sempre me deixa um pouco chateada. Eu não gostaria de sentir o que Deneb sentiu. Refletir e chegar à conclusão de que esqueceu, faltou algo.

- Você está bem? – perguntei para Suho enquanto acariciava sua mão.

- Estou – afirmou depositando um beijo na palma de minha mão – Só.. só não estava devidamente preparado para isso – riu amargurado – Sinto.. sinto muita falta dele. Meu pai sempre será minha inspiração.

- Eu sei que sim – deitei minha cabeça em seu ombro.

- E que história é essa de conhecê-lo? – perguntou fazendo cosquinhas na minha barriga.

- Ei, ei, é melhor parar. Eu sou o ser mais poderoso do universo, esqueceu? Posso te congelar, queimar, prender, arremessar. Não me venha com cosquinhas.

- Aé? Você pode fazer todas essas coisas? – perguntei irônico – E molhar? Você pode?

- Na verdade, não posso.

  Surpreso, ele parou as cosquinhas e me encarou confuso.

- Não tenho essa dominação porque eu não preciso dela – sorri de lado – Eu já tenho alguém que a usa por mim.

   Por um momento ele pareceu viajar em ideias. É como se estivesse ligando diversos pontos até finalmente chegar na resposta. Quando concluiu sua equação, ele me mostrou um sorriso enorme. Acho que nunca o vi desse jeito. Suho estava prestes a me segurar quando algo estranho aconteceu.

- O que é isso? – perguntou assustado.

  Olhei para baixo e vi que eu estava desaparecendo. Mãos, pés, pernas. Eu estava deixando de existir.

- Não, não, por favor – Suho tentava me pegar mas suas mãos me atravessavam.

- O que está acontecendo? – Sehun se aproximou em choque – S/N, o que está acontecendo?

- Ela está desaparecendo – Baekhyun disse com pesar.

- Ela, ela não pode nos deixar – Chanyeol gritou – Façam alguma coisa, Lay faça alguma coisa.

- Não há nada que eu possa fazer – sussurrou.

  Ver a expressão de cada um deles foi como uma facada. Sentir o desespero de perdê-los novamente me deixou com medo e aflita. Por que eu preciso sofrer dessa maneira? Por que as coisas não podem acontecer do jeito certo?

 Do outro lado, pude ver que Helena também estava desaparecendo. Ela me olhava também querendo explicações mas a única coisa que eu queria fazer era chorar.

- S/N, me escute – Suho me chamou quase aos prantos – Me escute bem, eu irei te buscar, te procurarei em todos os universos até que nos encontremos novamente. Não irei apagar nem as menores memórias. Não importa o tempo que dure, irei sempre chamar por você.

 Quis tocar-lhe o rosto e dizer que tudo ficaria bem mas num último piscar dos olhos, eu já não estava lá. Cai de joelhos num chão escuro e frio. Levei minhas mãos até meu rosto e gritei de raiva e dor. Eu só queria poder ter aproveitado mais. Queria tê-los abraçado uma última vez.

 - As palavras de Deneb nunca fizeram tanto sentido não é mesmo? – uma voz conhecida me fez abrir os olhos.

- E.L? – me levantei – Por que você está aqui?

- A pergunta certa é o que você está fazendo aqui – me corrigiu – Você está no meu castelo.

- Por favor – corri em sua direção – Me explique o que está acontecendo! Por que eu voltei? Por que diabos fui escolhida para isso? Por que fui escolhida para sofrer tanto?

- Como ousa mostrar tanta ingratidão – para minha surpresa, E.L se virou e me acertou em cheio no rosto. Me afastei em choque – A árvore já havia decretado seu fim no mesmo instante em que foi escolhida. E não me pergunte porque você foi escolhida, não passa de um pirralha viciada em quadrinhos.

- Por que fui mandada embora? – gritei – Você nunca responde as coisas que preciso. Seja sincera uma vez na vida.

- Porque você já fez o que tinha que ser feito, S/N – também gritou – Aquele não é seu lugar, a terra é. Aquele universo não pertence a você, ele pertence a mim!

- O que?

- Achou mesmo que tinha algum parentesco com Xiumin? – ela riu – Fala sério, eu inventei isso.

- Por que você faria isso?

- Porque fui obrigada – disse entredentes – A árvore me controla, se eu não seguir suas ordens, sou punida. Eu não faço ideia se você tem alguma ligação com aqueles garotos, apenas disse coisas para que você não desistisse. 

- Então.. – me afastei – Você não é a irmã de Xiumin..

- Óbvio que não – revirou seus olhos – Acha mesmo que eu faço parte daquela família ridícula? Puff, eu sou filha de uma pessoa muito mais poderosa.

   Continuei a encará-la até que ela se virou para mim me mostrando seus olhos vermelhos.

- Você.. você e filha da bruxa má? Como é possível?

- Como eu disse antes, fui a única a conseguir entrar em contato com a árvore, mas naquela época, eu era fraca e a árvore se aproveitou disso. Ela apagou minha memória e fez eu me tornar... isso – disse com desgosto – Era para mim ter voltado – se virou com ódio nos olhos – Era para mim ter ajudado a minha mãe a ter derrotado você.

- E.L eu não..

- Agora, eu ao menos posso me vingar de você – ela sorriu maléfica fazendo uma faca surgir em sua mão – Farei isso pela minha mãe.

  E.L começou a correr em minha direção mas eu não me movi. Se tudo era mentira, por que eu fui escolhida? Ver E.L cheia de raiva não me dá medo. De certa forma sinto pena. A árvore a enganou de todas as maneiras possíveis.

- Por que fui escolhida? – perguntei quando senti o toque da faca em meu peito.

  Mas antes que o pior acontecesse, E.L desapareceu e todo o lugar mudou. Eu estava de volta para meu quarto. Olhei para baixo e fiquei um tanto aliviada por não ter nenhum se quer arranhão. Entristecida, olhei para meu quarto com pesar. Nada mais daquilo existia. Bonecos, pôsteres, livros. Eu já não tinha nenhum nas paredes ou prateleiras.

  De repente, ouvi o som de passos na escada e minha porta ser aberta bruscamente. Helena estava ofegante e parecia em desespero.

- Aquilo foi real? – ela perguntou.

- Eu não sei mais – disse baixinho – Não sei mais de nada.

(..)

Meses depois

O relógio marcava 3 horas da manhã. Subi as escadas de casa e quando entrei no meu quarto, me joguei na cama. Sei que deveria estar com minha turma festejando a formatura mas simplesmente não consigo. Já tem meses desde que consegui me divertir de verdade. Sorrir de verdade.

  Meus pais fizeram questão de me dar o vestido mais belo e sempre tentam me agradar. Me sinto mal por eles. Que filha mis ingrata! Por isso que hoje não os avisei que havia ido embora. Espero que se divirtam e bebam bastante. Não precisam de mim com minha cara amarrada.

 Helena se recuperou mais rápido do que eu. Claro, eu já esperava por isso até porque ela não ficou em Exoplanet por tanto tempo mas eu sei que em dias diversos ela pensa nos meninos.

 Todas os dias antes de dormir me lembro das palavras de Suho. Ele prometeu que iria me encontrar. Eu também tentei encontra-los. Tentei abrir um dos portais mas eu não tenho mais meus poderes.

 De repente ouvi o som de algo cair em baixo da minha cama. Estranhei e então me levantei da cama e me abaixei para ver o que era. Estendi minha mão e primeiramente gritei ao pensar ter tocado numa aranha, em seguida voltei a procurar e encontrei um papel enrolado. Quando o puxei para o claro, não o reconheci.

 Suspirei enquanto ia até minha escrivaninha e o abria. Deve ser alguns dos cartazes que fiz para a formatura.

 Mas não era.

- Como.. – olhei novamente para debaixo da cama – Como é possível?

  Passei meus dedos por toda sua extensão e percebi que minhas mãos começaram a tremer. Nunca poderia deixar de reconhecer tais desenhos. Tal título.

 Um pôster de The War estava aqui. No meu quarto, na minha mão. Olhei para os lados, nervosa e sentindo meu coração bater rápido como nunca, peguei uma fita crepe e o colei na minha parede. O observei com total nostalgia e quando eu menos esperava..

 Ele brilhou.