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História The White Stone - Um Peso Sobre o Peito


Escrita por: ArikaKohaku

Notas do Autor


Olá pessoal! Quanto tempo hein?
Eu sei que não escrevo regularmente esta fic, mas isso é porque só pego nela quando estou verdadeiramente inspirada, não é um fic que eu escreva com qualquer espirito, até pq me dá um pouco de mais de trabalho. Espero que compreendam. Esta fic tem 11 caps programados, o que faz com que esteja mais ou menos o meio. Vou fazer para terminar ainda este ano LOL
Boa leitura

Capítulo 5 - Um Peso Sobre o Peito


Fanfic / Fanfiction The White Stone - Um Peso Sobre o Peito

Era quase manhã quando Legolas saiu de entre os braços do rei. Os archotes há muito que se tinham apagado. A sua lucidez estava quase totalmente sólida e ele escorregou lentamente para fora da cama. De lá de fora não ouvia música nem risadas, as coisas estavam novamente calmas na casa dos reis, depois da festa. Procurou pelas roupas que lhe faltavam e vestiu-se. Depois de vestido caminhou silenciosamente até à porta e deixou o Aragorn pesado e adormecido tal como tinha caído na inconsciência algumas, poucas, horas antes.

 

Do lado de fora não encontrou ninguém nos primeiros passos que deu, aquelas divisões estavam desertas. Aproximando-se do exterior e o ambiente foi ficando cada vez mais claro. Começou, por fim, a ver cada vez mais pessoas. Algumas delas estavam a ser acordadas por soldados para que fossem para suas casas, depois de terem caído nos vários cantos existentes. Outras eram levadas pelos próprios soldados, pois não acordavam de maneira nenhuma. Outras enrolavam-se em grupos ainda alegres e falantes e iam descendo até à cidadela. Chegou ao exterior. Os servos já limpavam a confusão gerada pela festa. Recolhendo a porcaria, varrendo os restos de comida, lançando baldes de água sobre os locais de bebidas derramadas e esfregando tudo com varas.

 

Mas apesar de ver aquilo tudo e de as pessoas se curvarem em respeito à sua passagem, ele estava ainda mais silencioso do que o que costumava ser. Estava à margem de tudo o que se passava à sua volta. Poucas eram as estrelas que ainda se viam, uma linha cor de rosa nascia no horizonte e a luz do sol fazia o céu ficar azul celeste. Não sabia ao certo o que estava a fazer ou para onde é que ia. Estava só a caminhar. Estava atordoado como se tivesse sido atingido por uma seta venenosa. Os seus pensamentos não chegavam a ser pensamentos, eram sensações e lembranças das coisas que tinham acontecido durante a noite.

 

- Senhor... - Uma servente chamou-o, mas Legolas continuava a andar pelo largo pátio, envolto naquela dormência incaracterística. Até que foi parado pela mesma servente, que talvez, de alguma forma, ou simplesmente olhando para ele, tinha previsto que ele precisava de algo. Ele olhou para a rapariga, que rapidamente o largou e fez uma simples vénia como se se desculpasse. - Senhor, precisa que lhe preparem um banho?

 

Um banho? Essas palavras soaram bem aos ouvidos do elfo. Ele apenas meneou a cabeça concordando. A servente trouxe-o de volta ao interior da casa real. Foi conduzido ao seu próprio quarto, aquele em que tinha ficado desde que voltara com Eldarion da Floresta Tenebrosa. Então, a servente que o tinha salvo da caminhada estranha, com ajuda de outras serventes, trouxe uma grande bacia de cerâmica para o quarto e ateou fogo na lareira que existia no quarto. Caldeirões de água entraram no fogo. O processo durou muito tempo até que a bacia estivesse com água suficiente para que Legolas pudesse mergulhar lá dentro. Mas o príncipe não resmungou, não abriu a boca e deixou-se levar suavemente pelas mãos das servas. Novas roupas foram preparadas, enquanto ele estava dentro de água. Os seus longos cabelos foram limpos com óleos cheirosos e escovados com cuidado, e a sua pele foi esfregada com esponjas marinhas e sais.

 

Ele sentia os toques cuidadosos das criadas que a seu pedido o deixaram sozinho dentro da água quente que foi ficando morna com o tempo. O quarto estava quente por causa da lareira e agora cheirava a um misto de lenha e óleos perfumados. O seu cabelo longo e escovado estava pousado fora da bacia onde ele se encontrava sentado com os braços à volta dos seus joelhos, de costas direitas e olhos vislumbrando o vazio. Apesar da lucidez, a sua mente ainda não o deixara conjurar qualquer raciocínio. A sua cabeça parecia estar parada a ver e a rever gravuras do que se tinha passado.

 

Porém, suavemente, relaxado pelo banho, ele ia começando a pensar. Tinha sido algo diferente para Legolas. Ele ainda não sabia dizer se tinha sido algo bom, se tinha sido algo doloroso, ou algo que lhe metia medo. Se calhar um bocado de tudo. Era algo que ele ainda não compreendia. A ligação dos corpos.

 

Ele já tinha vivido muitos anos. Ele já amara, ou achava que já amara. Mas nada tinha sido como aquela noite. Nada o tinha ligado tanto ao mundo da carne como aquela noite. Ele nunca soubera que o seu próprio corpo podia ser daquela maneira. Nunca soubera que um elfo tinha tanto de sabedoria, como de raciocínio e alma e carne. Ele sentia-se diferente. Como se agora estivesse ligado à terra. Como se antes a sua mente tivesse andando demasiado longe do seu corpo e agora ele finalmente tivesse ligado a sua consciência ao seu corpo. Era difícil de explicar e compreender.

 

Os seus dedos mexeram-se pela superfície da água. Até o toque lhe parecia diferente. Era apurado como sempre, mas estava mais intenso. Rodou os dedos e ficou a ver as ondas que provocava na água. Estava também disposto a observar as pequenas coisas insignificantes, que não tinham razão nenhuma de ser. Sempre tivera boa visão, obviamente, era um elfo, mas agora observava sem ímpeto, sem propósito. Simplesmente gostava de ver. Apesar de tudo não estava emocionalmente descontrolado, embora estivesse até ali de alguma maneira atordoado, não estava furioso, na realidade, estava calmo. Talvez aquilo fosse o que verdadeiramente significava ser adulto para um elfo. O estar mais ligado à terra.

 

E ao mesmo tempo que pensava que aquela experiência lhe tinha dado novo saber, uma perspectiva diferente do seu corpo, sentia-se como uma criança que não sabia nada. Não fora paixão ou amor que provocara o que tinha acontecido. O que podia pensar do que acontecera pela noite? Era verdade que não tinha sido ele a começar, mas também não quisera terminar. Ele sabia que homens bêbedos podiam ter comportamentos inesperados, mas nunca vira tal pela parte de Aragorn. Seria a dor pela morte de Arwen que o tinha feito agir daquela maneira? Ou fora algo que Legolas fizera? Talvez Aragorn, como humano, soubesse explicar melhor.

 

- Senhor... - A servente estava de volta. Queria retirá-lo da água e ele aceitou a sugestão mais um vez. O que fizera a serva ir ter com ele para lhe perguntar se precisava de um banho? Fora a noite de festa e ela simplesmente queria o melhor para os seus senhores e amigos ou fora algo no corpo de Legolas? Ele olhou para si mesmo enquanto a serva lhe passava um pano para o limpar. Não havia nada de diferente nele, estava exactamente como sempre fora. Foi vestido e os seus cabelos arranjados. Depois a serva dispensou-se do trabalho e deixou-o sozinho no quarto. Ainda havia lenha a queimar na lareira e ele ficou a ver a madeira a ser consumida.

 

O que faria da próxima vez que tivesse que olhar para o rei? Sabia que se tivesse com outras pessoas que agiria como sempre, com decoro, com amizade. Porque acima de tudo ele era amigo de Aragorn. Mas o que falaria com ele? Tratariam das coisas normalmente? Ele sabia que em guerras longas, principalmente entre os homens, eles faziam aquelas coisas da carne para se aliviarem. Alguns elfos também. Até ali, Legolas sempre pensara que todos eles não eram mais que personagens descontroladas, que não tinham qualquer domínio sobre o corpo. Mas na realidade, o que Legolas não sabia, era que era ele que não tinha qualquer conhecimento sobre o próprio corpo. E talvez fosse isso o que tinha acontecido, tal como numa guerra, eles, ele e Aragorn, tinha usado os seus corpos para se aliviar. Mas aliviar de quê? O que queriam os homens dizer, quando diziam que se aliviavam?

 

Estava perdido e não chegava a conclusão nenhuma, essa era a sua realidade actual. Não ficou, porém, com muito mais tempo para pensar, foi chamado por uma servente. Eldarion tinha acordado. Por motivos pouco falados, todos na casa do rei, tinham começado a ver a presença de Legolas como algo constante, principalmente quando se tratava de Eldarion. Era como se a educação do primogénito tivesse passado para as suas mãos. Ninguém lhe tinha pedido ou perguntado, nem ninguém achava o facto, disso ter acontecido, estranho. Tinha simples e naturalmente acontecido. Então quando Eldarion se erguia, era por Legolas que chamavam.

 

Então a noite de Legolas continuou com a manhã de um novo dia. A casa real ainda não tinha parado. A alfazema da noite continuava a ser limpa. A cozinha não tinha deixado de funcionar. Às refeições da noite seguiam-se a primeira refeição da manhã, embora em muito menos quantidade e pompa de circunstância. Na casa real apenas permaneciam as gentes que lá trabalhavam, os convidados ocasionais e a família do rei. Depois de recolher Eldarion, que estava a ser vestido pelas suas amas, Legolas juntou-se a outros no salão. Não estavam lá muitos reunidos, a noite tinha sido pesada e muitos ainda dormiam, como o rei.

 

Os dois príncipes serviram-se à vontade e juntaram-se aos outros. Calado, Legolas, ouvia-os. Contavam alegremente os acontecimentos da noite. Comentavam os disparates, elogiavam as cantorias. E todos eles se sentiam calmos e em paz. Não havia nada para ter preocupação. Alguns até brincavam com Eldarion e o mesmo refilou que tinha perdido tanta coisa por se ter ido recolher mais cedo. Os adultos riram-se. Ele teria muitos anos e muita vida pela frente para provar os melhores vinhos e fazer as melhores festas. E até lá que aproveitasse a sua infância.

 

Lá fora as nuvens tinham-se reunido e formado uma camada grossa cinzenta no céu. Lentamente começou a ficar mais frio e a chover. O rei só apareceu quando a tarde chegou, também ele fora ajudado a banhar-se pelos seus serventes e já se encontrava com um aspecto organizado, embora se notasse que estava com uma notória ressaca por causa dos seus movimentos lentos e a sua fala ligeiramente arrastada, ele próprio não se conteve de dizer que o seu estado não era o melhor para conversas demasiado intensas. Era um rei palerma naquela manhã.

 

Quando se reuniu aos outros, Aragorn não agiu de maneira diferente, ou pelo menos Legolas não lhe denotou um comportamento diferente. O elfo estava com Eldarion sobre as suas pernas e ensinava-lhe calmamente como fazer a música ressoar das cordas de uma harpa. Também Legolas tentou manter-se o mais calmo possível, porém sentia-se nervoso, não sabia o que devia dizer ou que fazer, e era pouco discutível que o seu coração batia forte. Foi Aragorn que acabou por o acalmar na sua incerteza, quando se lhe aproximou para poder cumprimentar o filho que não tinha ido ter com o pai por estar demasiado fascinado com a harpa.

 

Ele baixou-se junto de Eldarion e Legolas, com um joelho sobre o chão, remexeu os cabelos negros e rebeldes do seu herdeiro. Eldarion falou que a próxima festa que houvesse ele não queria ir para a cama mais cedo. Disse que ia aprender arpa e que seria o melhor compositor e que na festa seguinte a música seria por sua conta. Aragorn riu-se, achando graça à demanda do filho. Beijou-lhe a testa e depois virou-se para Legolas.

 

- Estás bem? - A pergunta saiu suave dos seus lábios e os seus olhos depressa capturaram os olhos de Legolas.

 

Havia algo mais calmo dentro do rei. Mas havia também uma nova e compreensível dor. Talvez Aragorn achasse que tinha sujado a memória da sua falecida esposa, talvez tivesse nojo ao dar-se conta que tinha dormido com o seu melhor amigo, talvez fosse um pouco do caso misturado dos dois. Mas aquela pergunta serenou Legolas rapidamente, independentemente do que se tinha passado, Aragorn ainda parecia ser Aragorn e Legolas ainda parecia ser Legolas. O elfo reganhou o seu olhar de confiança e até soltou um pequeno sorriso, meneando a cabeça. Ele estava bem se as coisas se mantivessem calmas. Se eles não revolvessem em ondas a situação que tinha ocorrido pela noite. Se se mantivessem sãos e equilibrados.

 

- Eu estou bem.

 

Aragorn sorriu levemente e mostrou uma expressão suave. Aquele não era um dia de trabalho, por isso, o rei levatou-se deixando o filho e Legolas na sua lição de arpa e juntou-se às conversas de outros homens. Alguns felicitaram o rei pela festa. Outros desejavam luz na sua vida. E enquanto as conversas se desenrolavam e Eldario já conseguia tomar um verso simples na harpa e chuva do lado de fora intensificou-se. O silencioso elfo aproximou-se de uma das janelas e observou o mundo exterior. A cidade branca estava ligeiramente cizenta. E para lá dela os campos enchiam-se de lama, mas agradeciam pela chuva. Legolas fechou os olhos e deixou que o cheiro dos campos lhe entrasse no corpo e lhe limpasse os sentidos. Como se estivesse a ser purificado.

 

Reabriu os olhos quando sentiu a presença do rei ao seu lado. A janela grande iluminava-os com a luz fusca do fim de tarde. Os serventes, em breve, iriam começar a preparar o jantar e a acender os archotes da casa real. O som da chuva continuava. E Legolas olhou para Aragorn. O rei estava sem a coroa ou o manto real. Vestia-se com simplicidade, embora com requinte. Sempre o conhecera daquela maneira. Os cabelos estavam limpos e escovados, assim como a barda. Aragorn tinha um porte aristocrático e digno. Ele era um líder, desde o seu coração, até aos seus olhos sinceros. O elfo admirava isso no amigo.

 

Ao sentir-se observado também o rei contemplou Legolas. O que ia na mente daquela criatura fascinante, perguntava-se. Conhecia Legolas há tantos anos. Sabia conhecer muito sobre a personalidade e as características do amigo. Mas achava sempre haver um traço misterioso. Havia sempre algo que lhe faltava conhecer. E ficaram minutos encarando-se. Eles não tinham medo de se olhar de frente. Não era como rivais, também não era como amantes, sempre fora assim, era como dois seres que mesmo diferentes se olhavam de forma igual, com respeito e maturidade.

 

- Ontem à noite... perdoa-me. - Pediu Aragorn com sinceridade. Legolas finalmente quebrou o contacto visual e voltou os seus olhos para os pingos da chuva que batiam no beiral de pedra da janela. Por que é que aquele pedido de perdão lhe doía? Por que é que sentia que um pedido de perdão tornava as coisas tão erradas? Por que é que tinha que estar a sentir tanto?

 

- Não há nada para perdoar. Os homens fazem coisas destas, certo? Chama-se aliviar, não é? - Questionou, querendo compreender algo mais sobre o mundo dos homens. O porquê daquela ligação deles com os corpos, com a carne, com a terra, que era algo tão insignificante, quando o espírito era mais valoroso.

 

- Sim, os homens costumam fazer estas coisas. - Também Aragorn se moveu e ficou de lado, olhando a chuva e mais próximo de Legolas. - Mas eu não sou os outros homens. Eu não costumo fazer estas coisas. Não é decoroso. Não é puro e mostra falta de controlo. Foi um erro.

 

- Um erro?

 

- Um descontrolo é um erro.

 

Legolas murmurou algo baixinho, que Aragorn não compreendeu, mas viu Legolas cair nos seus próprios pensamentos. Ele continuava sem compreender. Agora estava ainda mais confuso. Sempre achara que aquelas coisas era tipicamente humanas e naturais. Que os homens usavam aquela maneira de aliviar os seus corpos, pois de outra forma descontrolavam-se, mas afinal o próprio alivio era um descontrolo? Ou seria apenas um descontrolo para a posição do rei?

 

- Além disso, não o devia ter feito na casa que teve a presença da minha Rainha. - E Legolas manteve-se silencioso. Se noutros momentos se tinha sentido mais sábio, com os conselhos que podia dar, daquele momento, ele não sabia nada. Tudo aquilo era novo para ele. - Legolas, eu quero que partas.

 

- Queres que parta?

 

- Sim. Sempre fomos amigos e neste momento, eu quero ser o mais honesto que posso. O de aconteceu esta noite foi um erro. Mas foi um erro de que gostei. Ter a tua presença por perto vai fazer com que eu queira cair nesse descontrolo novamente. Eu vou querer fazer o mesmo erro. Mas eu não posso fazer.

 

- A primeira vez foi descontrolo e um descontrolo é um erro. E se da próxima vez não for um descontrolo? É um erro também? Fica a ser simplesmente indecoro e impuro. Embora eu não compreenda porquê. Mas se queres que eu parta, eu fá-lo-ei. - Prometeu Legolas, sentindo um peso sobre o peito. Um peso que ele foi passando a identificar como tristeza. Mas tristeza porquê? Por deixar aquela casa e Aragorn? Aquela casa não lhe era nada e Aragorn era apenas um amigo. - Partirei assim que o Mago Screw encontrar a fonte que provocou a morte de Arwen, se puder ser.

 

Aragorn apenas concordou com a cabeça. E Legolas sentiu-se ainda mais ignorante e magoado. Não era sábio no que tocava aos homens.  


Notas Finais


ya um pouco de angst... sorry about that... see ya
Estou a tentar não sair do contexto da história orginal, mas se por acaso isso acontecer, por favor, digam-me. Falarei sobre a origem do mago Screw em breve.
Mil beijos


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