História The Witcher - The last wish - O tal bardo

Cirilla de Cintra

Acordei com o sol queimando a minha perna. Não reconheci o lugar de imediato, mas quando vi Yurga deitada próxima a mim as lembranças vieram a minha cabeça com violência. Suspirei mais uma vez me lembrando da morte trágica de Melissandre, por que as pessoas a minha volta sempre morriam?

Levantei em silêncio e caminhei até um dos quartos procurando pelos outros, mas tive que parar e levar minha mão a boca para não rir quando encontrei Yen e Geralt dormindo juntos e pelo que eu conseguia ver, eles estavam sem roupas.

Voltei para o meu quarto com um sorriso aliviado, pelo menos algo bom estava acontecendo em meio a toda aquela bagunça. Meus pais estavam de acertando!! 

Fui até o banheiro e voltei até o quarto.

- acordou cedo – Yurga disse se espreguiçando quando me viu passar pela porta – quando você ficava aqui costumava acordar bem mais tarde e reclamar de tudo.

Ri.

- Aprendi algumas coisinhas desses últimos meses, quer que eu ajude com o café?

Yurga sorriu e se levantou. Minha vida havia mudado da água para o vinho desde o ataque a minha cidade. A dor ao lembrar da morte de minha avó ainda era grande, porém eu sabia lidar melhor.

Ajudei Yurga o máximo que pude e aprendi algumas coisas novas. Yennefer havia me dito que eu precisava aprender a me virar, pois nem sempre ela ou Geralt estariam por perto. E ela estava certa, como estava na maioria das vezes.

Por fim, ouvimos vozes se aproveitando e Zola apareceu junto com um homem. Ele tinha os cabelos achocolatados, roupas engraçadas e um bandolim nas costas.

- Mulher, encontrei esse rapaz perto de nossa casa, ele estava fugindo de alguma coisa e parece faminto.

- Na verdade eu estava fugindo do vilarejo próximo, Sodden pra ser exato. Tive alguns... Problemas por lá, mas não quero atrapalhar, só peço um pouco de pão e vinho para seguir minha viagem.

- Não se preocupe com isso – a mulher ao meu lado disse – apenas sente e descanse, na verdade – ela franziu o nariz – talvez seja melhor tomar um banho primeiro.

- Eu agradeceria minha senhora – ele se curvou em agradecimento – realmente estou em estado lastimável, cai em um lodo enquanto fugia.

Ouvi os passos atrás de mim e sabia que Geralt e Yen haviam acordado.

- Jaskier! – A voz de Geralt disse num misto de surpresa e confusão.

- Geralt? – o homem se virou e franziu o cenho – Yennefer!

Minha mãe arqueou a sobrancelha e começou a andar parando apenas quando se sentou ao meu lado, ignorando totalmente a presença do homem.

- Bom dia, querida.

- Bom dia, mãe.

- O que? O que vocês... Espera – o rapaz passou a mão no rosto e olhou para cada um de nós – É claro que vocês estariam juntos, mas... Quem é a criança e porque ela chamou Yennefer de mãe? Ela se parece com você Geralt, pensei que nenhum dos dois pudessem ter filhos e... Espera... Ela é... não pode ser, há quanto tempo não nos vemos? Estavam juntos todos esses anos?

- Cala a porra da boca, Jaskier! – Geralt bufou – Conversamos depois que você tomar um banho, está fedendo.

- Ótimo, agora sou ofendido pelo senhor sujeira – o tal Jaskier respirou fundo e se voltou agora Zola – meu senhor, onde posso me limpar?

- venha comigo rapaz, não sei de tenho roupas que sirvam pra você... É magro demais...

Ele continuou falando enquanto sumiam no corredor.

- Quem era? – questionei quando Geralt sentou a mesa.

- hum – ele começou a comer um pão de forma irritada.

- Um velho amigo de Geralt – Yen disse – eles não se viam há muito tempo.

- ela não parece gostar de você – disse com o cenho franzido encarando seus olhos violetas – não gostei dele.

Ela sorriu para mim e colocou algumas frutas cortadas no meu prato.

- coma.

Ficamos em silêncio tomando o café até que Yurga se levantou para fazer alguma coisa, testando apenas nós três

- vocês vão se casar?

Geralt se engasgou com o vinho e Yen me encarou.

- Por que pensa isso?

- vocês dormiram juntos e se amam, eu não vejo motivo para estarem separados e também... Assim seríamos uma família. Eu teria... Uma mãe e um... Pai? – franzi o cenho e Geralt olhou para mim e para Yennefer.

- Você é uma criança, o que sabe sobre casamentos? – disse por fim e sorri.

- Sei que vocês são dois cabeças duras, mas fico feliz que tenham se acertado – me levantei e limpei o vestido – vamos ficar aqui hoje? Quero treinar com Zola, mostrar o quando melhorei com a espada.

- hum... – Geralt disse.

- Ainda não sabemos o que vamos fazer – Yen respirou fundo – mas temos um tempo para você mostrar suas habilidades para Zola.

- esta bem – sorri e os deixei, queria encontrar com Yurga e perguntar algumas coisas.

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Já havia passado da hora do almoço quando nos sentamos na grama embaixo de uma árvore. Geralt havia passado muito tempo conversando com Jaskier e agora ele estava ajudando Zola a cortar lenha.

- Transfira a água desse pote para o jarro – A voz de Yen me tirou dos meus pensamentos.

- Por que Jaskier irrita tanto o Geralt?

Ela riu.

- ele é um Bardo, sua natureza é ser irritante.

- e por que ele olha tanto para mim? – já estava me incomodando com os olhares do homem enquanto ele tocava o bandolim.

- Geralt provavelmente disse que você é a princesa Cirilla, ele era o bardo da corte de sua avó. Estava presente no dia em que sua mãe se casou, o dia em que Geralt requeriu a lei da surpresa.

Encarei o homem de forma mais analítica, não me recordava de sua presença nos bailes de Cintra.

- entendi.

Eu transferia a água da forma que Yen havia pedido. Magia de base já era natural para mim, porém tinha dificuldade em conectar algo mais poderoso, pelo menos era mais difícil fazer isso quando eu não estava em perigo...

- Por que estamos fugindo? – eu a encarei e ela suspirou.

- o rei de Nilfgaard nos encontrou, eles querem a magia que está em seu sangue... Não vamos deixar que nada de ruim te aconteça, por isso... – ela respirou fundo – provavelmente iremos para o local onde Geralt foi criado.

- a casa dele?

- a casa do Bruxo que o transformou em um Bruxo.

Eu arregalei os olhos e deixei toda a água cair na grama. Havia ouvido coisas terríveis sobre bruxos na minha infância.

- eu não quero ir...

- não se preocupe querida, eu não vou sair do seu lado – Eu a abracei e deitei a cabeça em seu colo. Yennefer me acalmava e mesmo com medo eu sabia que nem ela e nem Geralt deixariam algo de ruim acontecer comigo.

No restante do dia ficamos assim, treinando feitiços simples, conversando com Yurga. Quando entrei na casa novamente, Jaskier se ajoelhou aos meus pés repentinamente.

- minha rainha, eu peço perdão por não ter demonstrado o devido respeito. Eu deveria reconhecer imediatamente os traços da princesa Pavetta em sua face e a postura herdada da falecida rainha Calanthe, que os deuses a tenham.

- Levante-se – disse – não sou a rainha.

- sempre será, o reino é seu por direito. Mesmo não ostentando uma coroa em sua cabeça, ainda é o leão de Cintra.

Encarei Yen que sorriu.

- Leãozinho – ela acariciou meu cabelo e foi se sentar ao lado de Geralt.

Respirei fundo e a segui.

- até quando ficaremos aqui?

- Partiremos amanhã pela manhã – Geralt disse e senti algo estranho na forma como ele encarou Yennefer.

- O que estão me escondendo?

- não é nada querida, não se preocupe.

Franzi o cenho e cruzei os braços. Eles estavam mentindo.

- Jaskier irá nos acompanhar – Geralt disse por fim.

- Por que? – disse mais baixo encarando o bardo que não parava de tocar e cantarolar. Quem aguentaria aquilo durante toda a viagem? Não sabia para onde iríamos, mas o caminho seria infinitamente mais longo com ele.

- Ele pode ser útil – Yen mexeu em meus cabelos. Eu estava sentada em algumas almofadas entre suas pernas enquanto ela e Geralt estavam em um banco de madeira.

- ele pode ser irritante, isso sim... Agora útil? Eu duvido – disse mais baixo, porém o riso discreto e anasalado de Geralt me provou que ele ouvira.

Mais tarde durmi juntamente com Yen e Geralt, nós duas na cama e ele na poltrona ao nosso lado. Jaskier ficou na sala e tocou aquele maldito instrumento até Geralt ir até lá e arrancar de duas mãos. Yurga e Zola ficaram no quarto dessa vez, estavam cansados e nós já havíamos modificado demais sua rotina simples.

Partimos logo que o sol nasceu. Yurga abasteceu uma bolsa cheia de mantimentos para o nosso percurso. Como o bardo não tinha montaria, fui no cavalo de Yen e ele usou o meu, me deixando extremamente irritada.

- Quando pararmos em algum vilarejo compramos uma mula para ele – Geralt disse quando se aproximou de nosso cavalo.

- por que não deixou ele ir na Plotka?

Geralt franziu o cenho e me repreendeu pelo olhar, eu havia andando poucas vezes em sua égua, porém já vira Yen andando várias vezes sem ele se opor.

- Hum... Isso é injusto, ele é grande demais para o Boarch.

Yen riu.

- Ele não pesa muito mais que você querida e se fosse andando nossa viagem demoraria muito mais tempo.

- Quantos dias de viagem? – encarei Geralt.

- hum... – ele olhou para o céu – talvez consigamos chegar em uma semana, se o tempo continuar estável.

- por que não abre um portal, mãe?

- porque eu preciso conhecer o local para onde iremos ser teleportados – ela disse.

- onde vamos dormir?

- em alguma parte segura da floresta – ela disse e eu bufei encostando o rosto em suas costas.

- preferia ter ficado com Yurga.

- isso é necessário Ciri – a voz de Yen era mais séria – Esse homem irá te ajudar com sua magia, seu treinamento irá se desenvolver bem mais do que comigo e também, não está curiosa para saber como é o local onde Geralt se transformou no que é?

Ele a encarou com os olhos cerrados e eu sorri.

- você está mais curiosa do que eu – respirei fundo e fechei os olhos, aquela seria uma longa viagem.

Eu não sabia quanto tempo havia se passado, mas sentia minha bunda dolorida e minhas costas doendo por causa do tempo de viagem. Finalmente chegamos próximos de um lago e mais afastado vi uma caverna.

Caminhamos até lá.

- Vamos passar a noite aqui – Geralt saiu de cima de Plotka e o seguimos. Usou sua magia para limpar as folhas dentro da floresta e espantar alguns animais.

- Finalmente – disse descendo do cavalo.

- Tenho que admitir, andar a cavalo é bem mais prático – o tal bardo disse e sorriu para mim.

- Mãe, podemos tomar um banho no lago?

Yennefer assentiu e pegou uma sacola disse algo para Geralt e seguimos para o rio.

- por quanto tempo esse cara vai ficar conosco? – reclamei sentindo a água gelada arrepiar minha pele.

-Ele é um velho amigo de Geralt, costumavam andar juntos, na verdade foi por culpa de Jaskier que meu destino se cruzou com o dele.

- Sério?

- Sim, molhe os cabelos para eu levar – ela disse ficando atrás de mim e derramando algumas essências em meus cabelos.

- me conte como foi.

- Na época eu estava em um vilarejo, prestava alguns serviços a população e Jaskier havia arrumado problemas.

- ele parece fazer isso com frequência.

Ela riu.

- Sim, com muita frequência... Geralt estava atrás de um Djinn para conseguir dormir e Jaskier foi vítima de um desses desejos.

- e como se apaixonaram?

Ela riu e me virou para sua direção.

- você está curiosa demais, enxágue – ordenou e eu obedeci.

- por favor...

Ela respirou fundo enquanto lavava os próprios cabelos.

- Eu o enfeiticei, o fiz destruir um boa parte do vilarejo enquanto eu tentava subjulgar o Djiin. Não consegui e nesse processo Geralt me salvou do poder destrutivo do gênio e bom... Terminamos juntos.

- mas se separaram.

- sim, e nos encontramos novamente a nos separamos novamente... – deu de ombros.

- dessa vez será diferente.

Ela arqueou a sobrancelha.

- e por quê tem tanta certeza leãozinho?

- Ora – sorri – por que agora vocês tem a mim.

Yennefer sorriu e me puxou para um abraço desajeitado me fazendo rir. 

- Não quero ser mãe de um leãozinho sujo, lave deu rosto direito.

Eu a obedeci e respirei fundo enquanto a encarava.

Nós seríamos uma família, eu tinha certeza.

Continua...