Viktor estava perdido em seus próprios pensamentos, observando as ondas de energia em tom de índigo que irradiavam da gema hextech. Ela acabara de passar por centenas de testes de colisão, apenas para gerar uma pequena explosão de energia antes de se retrair novamente à sua forma esférica, perfeitamente polida.
Eles haviam conseguido. A gema estava finalmente estabilizada e poderia ser usada com segurança em qualquer dispositivo tecnomágico que desenvolveram tão incansavelmente nos últimos anos.
Viktor levantou o olhar para Jayce e se surpreendeu ao perceber que ele o encarava. Talvez estivesse assim há algum tempo, com um sorriso leve nos lábios. Apesar da serenidade do gesto, seus olhos estavam inquietos. Era admiração? Surpresa? Viktor não sabia dizer.
— Vik, você é um gênio! — exclamou Jayce, avançando abruptamente e envolvendo o cientista em um abraço apertado.
Viktor ficou rígido por um momento. Jayce raramente era tão efusivo; normalmente, um toque nos ombros ou um tapinha nas costas bastava para expressar afeto. Ainda assim, o mais baixo retribuiu o abraço, desajeitado. Arrependeu-se quase imediatamente, quando Jayce apertou ainda mais.
— Jayce... n-não consigo respirar — murmurou, com dificuldade.
Jayce finalmente afrouxou o abraço, mas deixou a cabeça encostada no ombro de Viktor por mais alguns instantes. Ele inspirou profundamente, captando o perfume fresco e cítrico que contrastava com o cheiro de foligem impregnado nas roupas de trabalho de Viktor. Um arrepio percorreu o corpo do cientista quando sentiu a respiração quente de Jayce contra a pele.
— Me desculpe... acho que me empolguei um pouco — disse Jayce, rindo sem jeito, enquanto dava um passo para trás.
Viktor piscou algumas vezes, confuso, sentindo o rosto arder. Ele tentou organizar os próprios pensamentos enquanto Jayce começou a andar em círculos pelo laboratório, aparentemente alheio ao desconforto que causara.
— Precisamos comemorar! — decidiu Jayce, de repente.
Viktor lançou-lhe um olhar cansado. Já passava da meia-noite, e ele sabia que a cidade inteira estaria adormecida àquela hora.
— Não acho que vamos encontrar nenhum lugar aberto agora — observou.
— Você está certo... — Jayce parou, pensativo, e então sorriu, como se tivesse tido uma epifania. — Mas talvez não seja necessário. Eu tenho uma ideia... embora envolva invadir a sala de reuniões do Conselho.
Viktor arqueou uma sobrancelha. Havia algo no olhar de Jayce — aquele brilho travesso e determinado — que o transportou para outra época. Ele se lembrou da expressão quase idêntica que Jayce tinha quando decidiram invadir o laboratório de Heimerdinger oito anos antes.
Um sorriso discreto surgiu em seus lábios. Ele tirou o molho de chaves do bolso do colete e o jogou para Jayce, que o pegou no ar com facilidade. Ambos riram, como dois amigos que haviam redescoberto a alegria de conspirar juntos.
No caminho para a sala de reuniões do conselho, eles caminhavam lado a lado, Viktor com passos hesitantes, o peso do dispositivo metálico na perna esquerda ainda não lhe era natural. Apesar de ser uma obra-prima da engenharia de Jayce, projetada com dedicação, ele sentia como se o aparelho carregasse não apenas o peso de seu corpo, mas também a lembrança de sua própria fragilidade — algo que ele relutava em aceitar.
***
Depois de invadirem a sala, Jayce vasculhou o espaço com a destreza de quem conhecia bem os hábitos dos conselheiros. Ele foi direto até a cadeira de Salo e encontrou o que procurava: duas garrafas de vinho noxiano.
— Bingo — murmurou para si mesmo, antes de virar-se para Viktor.
O cientista estava sentado à cabeceira da longa mesa, com uma das pernas cruzadas sobre a outra, as mãos percorrendo distraidamente o couro da poltrona de adornos dourados. A visão o fez parar por um instante. Viktor parecia... poderoso ali, como se aquela cadeira fosse feita para ele.
Viktor, por outro lado, estava absorto em seus próprios pensamentos. Aquele abraço... o calor de Jayce, a proximidade, o cheiro dele. Era um gesto carregado de emoção, mas que emoção era essa? Ele não sabia ao certo. E isso o incomodava profundamente. Ele tentava se lembrar se já havia sido tocado daquela maneira antes, com a intensidade que sentira no abraço de Jayce. A resposta era óbvia: não. Viktor sempre vivera à margem do afeto humano, priorizando o progresso acima de tudo.
Emoções eram, em sua visão, fraquezas humanas que atrapalhavam o progresso. Por isso, sacrificara os próprios desejos e sentimentos em nome de algo maior, em nome da evolução. Mas Jayce... Jayce parecia despertar nele algo que desafiava toda a lógica que tanto prezava.
Viktor se pegava ansiando pela companhia do parceiro mais do que desejava admitir. Sempre que ele aparecia no laboratório, precisava lutar para esconder o brilho de felicidade que, inevitavelmente, surgia em seu rosto.
E, embora tentasse ignorar, não conseguia conter o ciúme ácido que sentia ao vê-lo envolto no perfume luxuoso da conselheira Medarda. Viktor odiava essa falta de lógica, esse descontrole que o perturbava mais do que qualquer falha científica.
— No que está pensando? — A voz de Jayce o trouxe de volta. Ele estava próximo, segurando uma garrafa em uma mão e duas taças na outra.
Viktor ergueu os olhos para ele, tentando disfarçar o tumulto interno.
— Não acha que Salo vai dar falta disso? — perguntou, indicando o vinho enquanto pegava uma das taças.
— Só se ele estiver sóbrio, o que é improvável — respondeu Jayce, piscando para ele enquanto servia as taças.
Eles ergueram os copos, e Viktor quebrou o silêncio com um brinde.
— Ao sonho da Hextech.
Jayce sorriu, completando:
— Ao nosso sonho da Hextech.
***
Uma, duas, três... incontáveis taças de vinho. Antes que percebessem, a segunda garrafa já estava pela metade.
Jayce e Viktor conversavam sobre os planos para o futuro, rindo ocasionalmente entre um gole e outro. Tudo aquilo parecia um sonho — um sonho que haviam construído juntos.
O álcool começava a fazer efeito. Viktor, que sempre mantinha uma postura reservada, estava mais relaxado. Sua fala tornava-se lenta, e as bochechas, normalmente pálidas, ganhavam uma coloração rosada. Jayce, por outro lado, tinha o costumeiro ar impecável levemente desfeito. Seus cabelos estavam desalinhados, e, à medida que o calor provocado vinho subia, ele desabotoava a camisa, deixando parte do peito à mostra.
Viktor tentava não olhar, mas era uma tarefa árdua. O corpo esculpido de Jayce era um objeto de desejo há tempos, mesmo que nunca tivesse admitido isso em voz alta. Pensamentos proibidos cruzaram sua mente como um relâmpago, mas ele rapidamente os afastou. Certamente era o vinho falando mais alto.
O Homem do Progresso por outro lado, se via completamente enfeitiçado pelo parceiro, Viktor era fascinante, mesmo quando estava claramente embriagado. O rubor em suas bochechas, os olhos que brilhavam enquanto ele falava com paixão sobre o futuro... Jayce queria congelar aquele momento, guardá-lo só para si, mas conforme o ponteiro do relógio avançava, a agonia do fim se aproximava mais e mais.
— Acho que devíamos parar por aqui — sugeriu Viktor, depois de alguns segundos se silêncio entre os dois. — Está quase amanhecendo, e você tem trabalho pela manhã.
Jayce não pode conter um gruinhido de descontentamento ao imaginar que aquele momento tão incrível estava chegando ao fim, exatamente como ele temia. Congelou por um momento, encarando a taça de vinho em suas mãos para evitar o olhar inquisitivo do parceiro.
Viktor se levantou e sentiu o chão girar sob seus pés. A tontura o desequilibrou, e ele tropeçou, pronto para se espatifar no chão... mas foi aparado por braços firmes.
Jayce.
O cientista então sentiu o coração disparar enquanto as mãos do outro o seguravam com força. Antes que pudesse reagir, percebeu que seu rosto estava pressionado contra o peitoral quente de Jayce. O calor do corpo dele era como um milhão de sóis, e perfume amadeirado intenso que ele usava o envolveu completamente, como uma névoa que não queria dissipar. Além disso, era possível ouvir os seus batimentos estranhamente acelerados.
— Me perdoe Jay, acho que bebi demais... — murmurou, tentando se desvencilhar dos braços do amigo.
Jayce, no entanto, não recuou. Seu coração batia com mais força, a proximidade o deixando vulnerável de uma maneira que ele não estava acostumado. Viktor, com toda a sua complexidade, parecia tão humano naquele momento, tão real e ainda assim... inatingível.
Os olhares se encontraram. Viktor sentiu um calor inexplicável subir de seus quadris, enquanto Jayce mantinha os olhos fixos nos dele como se quisesse decifrá-lo e ao mesmo tempo, como se lutasse contra algo dentro de si mesmo.
Ele olhou para Viktor, a confusão em seu olhar, as bochechas coradas pelo álcool. Jayce sentiu o peito apertar.
— Vik... — sussurrou, hesitante. — Faz tempo que eu quero te dizer algo, e acho que agora é a hora certa.
O rubor no rosto do moreno, combinado à respiração entrecortada, tornava tudo surreal. Viktor o observou: o cabelo despenteado, a camisa aberta, a vulnerabilidade em seus olhos. E então sentiu a mão dele em sua bochecha, um toque que o fez congelar no lugar.
— Acho que estou apaixonado por você, Viktor — confessou Jayce, com a voz baixa.
Por um momento, tudo parou. Viktor piscou, a mente um turbilhão de dúvidas. Amor?
Jayce estava falando sério? Ou era apenas o efeito do álcool? Talvez fosse um tipo diferente de amor, algo mais platônico, sim, essa era a única explicação lógica.
Ainda assim, era como se aquelas palavras expusessem algo que ele passara tanto tempo tentando esconder, até de si mesmo. Ele queria negar, queria afastar Jayce, mas algo o impedia. Talvez fosse o olhar de cachorrinho perdido nos olhos dele, ou o calor de suas mãos em sua cintura, ou a respiração entrecortada dele.
— Você está louco... — sussurrou Viktor, revirando os olhos e mais uma vez, tentando se afastar.
Jayce continuou apertando-o, pressionando contra si, um toque que com certeza deixaria marcas. Viktor sentiu seu corpo reagir, sua razão lutando contra o desejo crescente.
— Você está bêbado, Jayce. Não pode estar falando sério...
Mas Jayce o fitava com uma intensidade que o desarmava por completo. Como se quisesse devorá-lo por inteiro.
— Estou mais lúcido do que você pensa — respondeu, a voz carregada de convicção. — Apenas... me diga se você sente o mesmo, porque eu não posso mais viver escondendo isso Vik.
Viktor não entendia o porque de estar fugindo, lá no fundo, ele tinha a certeza de que também estava apaixonado, que também o queria. Mas por que era tão difícil admitir isso?
Seu corpo estava completamente paralisado, alheio às investidas do garoto de ouro. Como sua carne poderia traí-lo tão cruelmente?
— Eu sinto o mesmo, Jayce. — ele conseguiu unir forças para dizer.
Um sorriso de pura alegria surgiu no rosto do parceiro ao ouvir aquilo, e abruptamente, ele enterrou os dedos nos cabelos ondulados de Viktor, segurando-o pela nuca e puxando levemente, fazendo-o se inclinar para trás. O mesmo fez menção de protestar, mas foi silenciado pelo beijo de Jayce — lento, apaixonado e cheio de desejo.
Viktor hesitou, ainda nervoso, mas logo cedeu, retribuindo o beijo. O sabor doce do vinho misturava-se à sensação de calor que crescia entre eles. Os lábios dele eram tão quentes, tão cheios de poder e ousadia.
A língua de Jayce movia-se como uma serpente, quase como se conduzisse uma dança, e Viktor, relutante em ceder todo o controle, levava as mãos aos ombros largos do parceiro, acariciando e apertando com mais força do que pretendia. Quando seus dedos esguios alcançaram o pescoço, Jayce gemeu contra os seus lábios, provocando um arrepio que percorreu todo o seu corpo.
Viktor se afastou instintivamente ao ouvir aquilo. Incrédulo com o que acabara de ouvir. Seu olhar percorreu o corpo do moreno outra vez, sendo atraído como um imã para os seus quadris, onde suas calças pareciam ter ficado mais apertadas, de repente.
Como haviam chegado àquilo tão rápido? O que algumas taças de vinho eram capazes de fazer?
— Me desculpe V, estou indo rápido demais? — perguntou, sentindo-se constrangido com a ereção aparente, mas ao mesmo tempo incapaz de se conter.
— N-não, tudo bem. — respondeu o outro. — Eu só não esperava por isso. — confessou.
De repente, Jayce se lembrou que Viktor era uma pessoa extremamente reservada, e que, até onde ele sabia, jamais tivera alguém com quem pudesse — ou quisesse, partilhar daquele tipo de intimidade.
— Você quer? — o moreno perguntou, com um sorriso travesso estampando os lábios avermelhados pelo beijo intenso, tomando as mãos do outro com ternura e aproximando-se novamente.
Ah, como ele queria.
Queria mais do que estava disposto a admitir, mais do que achava ser capaz de suportar. Viktor não era homem de ceder a impulsos, mas ali, com o corpo de Jayce tão próximo do seu, com as suas investidas descaradas e as palavras dele ressoando em sua mente, era quase impossível resistir.
E, por uma vez, mesmo que pudesse se arrepender depois, mesmo que tudo não passasse de um sonho, Viktor decidiu se permitir.
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