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História This is my last chance - Tempo


Escrita por: niveaffrs

Capítulo 40 - Tempo


Armin ainda fica em casa para o lanche da tarde e jantar.

Realmente é como nos velhos tempos, quando Mikasa não se juntava a nós sei lá porque. É um passado que eu não lembro mais.

Enquanto jogamos antes do jantar, e Armin fica interrompendo a jogatina toda hora para responder Annie, eu penso em como será amanhã.

Mikasa vai pegar carona com Levi de novo? 

Vai sozinha? 

Ou vai pedir a companhia de Armin e eu que vou ter que ir sozinho?

Vai com a gente, mas me ignorando?

-Ow, Eren! Você deixou o chefão acabar com a gente! - Armin reclama, trazendo minha atenção de volta.

-Ah, é que eu me distraí em pensamentos enquanto você namorava… - respondo, tentando parecer sarcástico. Armin arqueia a sobrancelha para mim - Hã, ela disse como que vai amanhã para a escola?

-Não…puxa… eu estou me sentindo como filho de pais separados agora… - Armin diz, me fazendo bufar - Bom, não custa perguntar…

Antes que eu o impeça, Armin manda a pergunta para Mikasa.

“Como vamos fazer amanhã? Você vai de novo com o Levi?”

-Se ela falar que vai sozinha, você acompanha ela. - eu digo, enquanto a mensagem de Armin já fica marcada como lida.

-Mas e você? - Armin questiona. Antes de continuarmos, lemos as respostas que Mikasa enviou.

“Levi viajou hoje para o litoral. Vai ficar lá uns dias.”

“Posso ir sozinha, não se preocupe.”

Eu estava torcendo para dar algum sinal de que poderíamos ainda ir juntos, mas me ignorando. Pelo menos eu estaria ainda ao seu lado.

-Você passou o dia todo de hoje me consolando, Armin! E você é o melhor amigo da Mikasa também. Eu posso ir sozinho para a escola, e você acompanha ela - eu reafirmo para ele. Logo devemos voltar ao normal, espero.

-Está bem, Eren. Se você precisar de mim, é só ir até a oficina, certo? - Armin responde, concordando com meu pedido, e nós nos damos as mãos para selar o acordo.

-E também… na escola, você fica de olho no Jeanbo por mim, enquanto eu não estiver perto. Ele teve a audácia de me falar que vai tentar a sorte… - eu conto, enquanto Armin responde a Mikasa.

“Vamos nós dois juntos, Ok?”

“Eu chego cedo aí… fala para sua mãe fazer café a mais!”

-Sério, Armin? - eu exclamo para ele, olhando com frieza - Vai ser traíra nesse ponto?

-Você que explique para a Tia Carla porque eu tive que mudar o local do café da manhã… - ele me olhando com a mesma frieza. Mas ambos estamos segurando a risada. - Nada que eu não possa vir jantar aqui todos os dias para compensar!

-Você parece a Sasha as vezes… - eu digo, fingindo dar um soco em sua barriga.

-Eu tenho que ganhar meus meios, né? Você acha que meu avô faz banquetes para mim?

Nem tento argumentar para não tocar em feridas. Armin me pergunta que história é essa do Jean, e eu mostro para ele a mensagem que recebi ontem. “Pelo menos ele está pedindo permissão, né?”, Armin zomba.

Não daria essa permissão nem em um milhão de anos!

Após Armin jantar e voltar para sua casa, eu tento enrolar o horário de dormir a todo custo.

Eu não quero que o amanhã chegue.

Não quero encarar o que tem por vir, ainda mais sem Mikasa ao meu lado.

O pior é isso. Eu poderia encarar tudo se ela estivesse comigo, mas encarar não estar com ela… Será que eu consigo?

Acho que não tenho muita escolha, não é?

Não percebo em que momento adormeci. Mas apesar de estar dormindo, minha mente está consciente.

Eu sei onde estou, porém não vejo nada. Estou completamente na escuridão. 

Sinto uma mão segurar a minha. Uma mão muito menor, parece mão de criança. Eu começo a andar sendo puxado por ela. Essa criança me guia.

-Ymir? - eu pergunto. Mas não tenho resposta.

Após algum tempo, nós paramos.

“Acalma seu coração, estamos quase lá”, a criança diz. 

A voz etérea não me permite reconhecer se é a fundadora Ymir mesmo.

E estamos quase lá? Lá onde?

A escuridão de repente se torna clara. Mas tão clara, que o excesso de claridade continua me cegando.

Quando consigo enfim abrir os olhos e focar minha visão, vejo meu próprio teto.

E agora, qual será o possível significado desse sonho?

Assim que me levanto da cama, faço uns cálculos dos meus horários de acordo com o que conheço da lerdeza de Armin, pensando na hora que ele chegará na casa de Mikasa e que horas eles irão sair de lá após ele se empanturrar.

Apesar do meu desejo de vê-la, vou tentar evitar cruzar nossos caminhos. Já basta vê-la sem poder estar com ela de verdade na escola.

-Você está atrasado! E o Armin também! - mamãe exclama, assim que desço. 

-Eu vou sozinho hoje. - eu respondo, me servindo de café e pegando um pão da cesta.

-Ah... certo. - mamãe pela primeira vez parece não ter nenhum comentário a fazer.

Percebo que ela e papai meio que se comunicam com o olhar. Ambos sem saber o que dizer. Eles já passaram por isso, tem a experiência, mas acho que não estavam preparados ainda para me dar conselhos sobre como eu devo enfrentar essas situações de término de relacionamento.

E por maior a experiência, alguém realmente se prepara para algo do tipo?

-Armin me avisou que vem para jantar, para compensar. - eu digo, tentando quebrar a tensão desnecessária.

-Hunf! É bom mesmo! Aquele moleque! Trocar meu café pelo da mãe da Mik… - mamãe começa a dizer, mas então se engasgando do nada. - Grisha!

-Carla! - papai exclama, dando um olhar de alerta à ela.

-Vocês não precisam evitar falar o nome da Mikasa! Para vocês não mudou nada! - eu digo, já me irritando com a atitude deles. - Vou indo nessa! 

-Ah, espera, Eren! - papai me chama, saindo da mesa para pegar sua pasta que estava jogada no sofá. Ele tira um papel e me dá. - O atestado para você entregar para seu professor. 

-Ah é, tá bom. - eu jogo o papel na mochila.

Papai me explica que o consultório de Grice fica há uns quarteirões da clínica, e me pediu para encontrá-lo antes de irmos juntos. Eu já até estava esquecendo disso, apesar da falta do dente representar todo o desastre do final de semana.

Me despeço dos meus pais, coloco o fone e sigo meu caminho para a escola, me preparando para o drama que me aguarda.

Devo estar andando apressado, pois chego rápido ao final da rua. Confesso que apertei mais o passo quando passei pela casa de Mikasa. Já próximo do ponto, reconheço ela e Armin entrando no ônibus. Vê-la mesmo que a distância me dá um choque de realidade. E essa realidade volta a doer demais.

Apresso o passo para tentar pegar o mesmo ônibus, mas paro. Fico vendo eles irem. Vendo Mikasa ir.

Volto a andar devagar, engolindo o bolo de angústia que tenho na garganta. Sentindo esse bolo se transformar em azia.

E ainda dou azar de pegar o próximo ônibus e trem superlotados. Mais que o normal.

Finalmente chegando em Trost, me surpreende ver Connie parado na saída da estação.

-Ué, o que você está fazendo aqui ainda? Esperando alguém? - eu pergunto, quando chego próximo a ele.

-Estou esperando você, ué! - Connie responde me dando um peteleco bem na testa - Nossa, que horror que está seu rosto!

-Eu estou tão no modo automático que nem lembrei que ia estar parecendo um monstro de filme de terror. - eu digo, levando a mão ao local do hematoma.

-Pena que falta um tempo para o Halloween, você nem precisaria se fantasiar! HA HA HA - Connie emenda, enquanto caminhamos para ir à escola finalmente. Acho que rosno para ele ao estilo de Sasha. - E de nada, né, por ser o único que ficou aqui te aguardando! 

-Ah, é, obrigado mesmo! - eu digo, meio sem graça. Luto contra a vontade de perguntar como Mikasa estava quando ele a viu, ao invés disso coloco Connie como foco do assunto - E você falou com a Mina no sábado? Você disse que faria isso…

-Ah, tentei. Mas ela não se diz muito confiante em mim ainda. - Connie responde, murchando os ombros - Não posso culpá-la, né? 

-Não mesmo… - concordo. 

Nós dois meio que estamos no mesmo barco, ainda que eu não tenha chegado perto do que ele fez propositalmente com Mina e Louise.

Chegando no quarteirão da escola vemos o resto do pessoal, como sempre enrolando para entrar. Eu travo e me escondo na mesma esquina em que outro dia esbarramos com Jean também se escondendo.

-Você sabe que não vai conseguir evitar a Mikasa, né? Aliás, a Sasha que me contou sobre vocês… - Connie diz, sorrindo sem graça enquanto olho irritado para ele. - E você sabe que eu não sou a melhor pessoa para te dar conselhos sobre isso.

-É, sei bem dos dois fatos! Pior que hoje logo a primeira aula é Biologia… - meu estômago afunda. Tê-la tão perto, e senti-la tão distante.

Da esquina nós escutamos o sinal tocar, e continuamos o caminho enquanto vemos o pessoal entrar. Armin nos vê, mas é discreto. Mikasa está entretida numa conversa com Sasha e Jean, e não me percebe.

Ah, Jean, Jean….Você vai mesmo tomar iniciativa?

Respiro fundo. Não tem o que fazer agora. É encarar cada segundo da melhor forma que der.

Quando Connie e eu entramos na escola, alguns alunos vieram nos parabenizar ainda pela vitória do time no sábado, e alguns já sem noção, ficaram me chamando de Deus da Rose Fritz, perguntando onde está a minha Deusa.

Essa comoção repentina gerou um pouco de confusão e aglomeração.

Nessa hora, meu olhar e o de Mikasa se cruzam. Nosso olhar é ansioso, e ao mesmo tempo pesaroso.

Ela para com o pessoal para conferir o porquê dos alunos que estão no pátio estarem agitados.

Minha vontade é de gritar para eles que a minha Deusa está bem à minha frente, ela é a minha Deusa. E quando eu chego a abrir a boca para falar isso, Mikasa vira de costas, indo embora de novo.

Connie me dá uns tapas nas costas, me trazendo de volta. Enquanto ele fica agradecendo os parabéns por nós dois, eu ignoro todos.

Eu só preciso me concentrar em vencer esse dia.

A primeira batalha é ao chegar na sala de biologia. Sasha, que se senta com Jean nessa aula, está sentada ao lado de Mikasa. Ela me olha dando os ombros e sorrindo sem graça, como se não tivesse tido muita opção. E eu tomo seu lugar ao lado de Jean. Claro que isso causa murmúrios na sala. 

Óbvio que todos viram e sabem o que aconteceu no sábado.

Historia está em seu lugar de sempre, ao lado de Ymir. As duas parecendo distantes uma da outra. Sinto que seu olhar está em mim, mas eu não sei se sou capaz de conter minha raiva se eu sequer olhá-la nos olhos também.

“Não falei que ia dar nisso, pode pagar”, ouço Samuel falando para Thomaz, e esse respondendo “Mas tem que saber se o Eren ou a Mikasa que entrou com o pé na bunda!”

Espera, eles apostaram que eu e Mikasa iríamos terminar?

Eu fecho os punhos, pronto para me levantar e encará-los, mas Jean me chuta por debaixo da mesa.

-Ow! - eu reclamo

-Se controla. - ele fala, me olhando irritado e eu o olho mais irritado ainda.

-Sabe que eu estou devendo um soco nessa sua cara de cavalo pela mensagem que você me mandou, né? - eu retruco, e ele ri.- Rindo de nervoso?

-Rindo porque você é um idiota! Só de lembrar disso eu morro de gargalhar! - Jean rebate. Ele se endireita na cadeira e me encara - Mas eu falei sério. Você sabe muito bem.

-Já que você pediu permissão, eu não deixo você tomar a iniciativa… - eu digo. 

Seu olhar é tão desafiador quanto o meu é para ele.

-Eu já considerei sua furada de olho no fim do outro trimestre como permissão concedida, Eren. Só vou retomar de onde eu parei.

Eu não posso dar a resposta que Jean merece, ou simplesmente só enchê-lo de porrada, porque o professor Moblit chega bem nessa hora. Ele repara na repentina mudança de cadeira, mas não fala nada e começa a aula.

Não consigo me concentrar na aula de Biologia e nem nas demais que se seguem. Jean realmente nem vai esperar a situação esfriar para correr atrás de Mikasa? Não bastou a Historia se intrometer o tempo todo, agora ele vai ser a pedra que não vai deixar a gente retornar?

Droga, e eu nem consigo argumentar contra a furada de olho, mas se ela quisesse algo com ele, Mikasa teria sequer me dado abertura? Ou… 

Ou realmente é tudo obra…

-EREN! Não vai para o refeitório não? 

Me assusto com Connie. Ué, estou tão no modo automático que só fui de uma aula para a outra sem nem perceber? Estamos só nós dois na sala de aula.

-Cara, você está que nem um primo meu quando terminou o relacionamento. Isso que ele ainda foi largado no altar…

Eu olho para Connie meio incrédulo.

-Você está tentando me ajudar contando isso?

-Não, só estou comparando mesmo. Anda logo! 

Connie me puxa pelo braço, quase me fazendo cair da cadeira. Realmente ele não é o melhor em ajudar numa situação dessa, mas estou contente dele permanecer ao meu lado, enquanto os demais ficam ao lado de Mikasa. 

Eu sei que no fundo todos estão divididos de que lado estar. Eu mesmo pedi que Armin apoiasse Mikasa, e Sasha deve estar seguindo o tal do “girl code”. E Jean sendo exceção nessa divisão da turma, já que ele se senta confortavelmente, sem remorso algum, ao lado dela na mesa onde costumávamos ficar todos juntos.

Está confortavelmente ao lado onde eu é quem deveria estar.

Connie e eu pegamos nossos lanches e encontramos um lugar vazio para comer em paz. Só que ter um segundo de paz mesmo está difícil. Não consigo tirar os olhos de Mikasa e Jean. Tá que todos na mesa riem de algo. Mas do que? 

Não, Mikasa, não dá esse sorriso para ele!

-Ow, seja discreto! - Connie reclama, olhando a mesa também.

-Você acha que Jean vai mesmo tentar a sorte com a Mikasa? - eu pergunto a ele, sem pensar. - Assim, tão depressa e na minha cara?

-Hã? - Connie me olha estranho, e então olha para a mesa onde o pessoal está - Ah...é, ele parece bem descontraído com ela, né?.

Meu estômago afunda mais um pouco. Me arrisco a me intrometer?

No que eu decido me arriscar, a mesa onde estou com Connie é invadida por alguns dos caras do time. Entre eles Floch, Jurgen, Gordon e o intragável do Dieter.

-Eren! Por que você não se sentou com a Historia? Vocês não são o casal agora? - Jurgen solta, fazendo os outros caras rirem, e me provocarem.

-Que aconteceu na sua cara? A Mikasa quem fez isso? - Gordon emenda

Connie e eu nos olhamos. Seu olhar pede para que eu me contenha. Está difícil.

-Finalmente meu casal favorito juntos… - Dieter solta, também fazendo os outros rirem.

Olho para ele com fúria. Desde que entrei no time ele tem sido um imbecil. Primeiro com as insinuações, depois tentando me derrubar do posto de titular ao afetar meu relacionamento com Mikasa.

Olho Floch, e ele parece olhar com receio para os veteranos. Foi algum deles que mandou ele segurar Mikasa no dia da festa? Não me surpreenderia se fosse Dieter quem o mandou fazer isso.

Eu poderia só perguntar para Dieter qual o propósito dele em fazer tudo isso. Inveja por eu ter ganho a confiança do treinador Shadis logo de cara?

-Finalmente mesmo, né, Dieter… - eu começo, dando a ele o meu melhor sorriso cínico.

Sinto toda minha frustração, raiva, ódio, tudo de ruim que acumulei nos últimos dias se concentrar em meu punho, que vai de encontro certeiro ao nariz dele. A força do meu soco deve ter sido equivalente com a do soco que Levi me deu. Talvez mais, pois Dieter não só cai de costas com a cadeira, como voa uns centímetros com ela.

Eu pulo sobre a mesa, e paro em cima dele, disparando um soco atrás de outro. Lembrando que ele e Historia armaram para que ela conseguisse o que queria no sábado. E como eu não posso bater nela, eu bato nele.

Ele tenta se esquivar de mim, às vezes tenta me acertar um soco, mas sou mais ágil. Desvio fácil, e o acerto fácil também. Tenho a experiência de algumas vezes me meter com os valentões da outra escola, antes da transferência para cá.

Todos os alunos do refeitório já estão em torno de nós, alguns incitando mais a briga, outros só observando. Connie e mais alguém tenta me puxar, mas eles não conseguem me soltar.

Naquela época só tinha uma pessoa forte o bastante para me parar.

E atualmente continua sendo ela a única forte o suficiente que consegue me desgrudar de Dieter.

-Yeagah… bocê mi baga! - Dieter grita, tentando conter o sangramento do nariz. Vê-lo assim me faz rir.

O refeitório cai em silêncio após um apito ensurdecedor.

-Bando de insolentes…Yeager, Ackerman, Dieter, sala dos professores AGORA! - o treinador Shadis grita, soltando mais uma apitada.

-Ah, não acredito... - Mikasa exclama. Ela ainda está segurando meus braços, e eu entro em conflito com o desejo de virar e abraçá-la.

Só que ela me solta antes de eu sequer reagir apropriadamente ao seu toque, seguindo o professor. Olho todos ao redor. Ah, que belo show que eu dei para esse povo falar ainda mais. Passo por cima de Dieter, pisando em sua barriga (ugh!) e seguindo logo atrás de Mikasa.

Olho para trás, Connie e Floch estão rindo do estado que deixei Dieter. Não só eles, mas também vários alunos. Inclusive Historia, que o olha desafiante. Não que a reação dela importe para mim, mas ta aí uma coisa que eu ainda preciso entender que é a relação dos dois nisso tudo.

-Dério, teinadô, nã balei dada, e esse baluco be adacou - Dieter tenta falar. Ele segura um lenço no nariz, cedido pela professora Nanaba, para estancar o sangramento.

Estamos no escritório da sala dos professores, utilizado justamente para esses casos quando algum professor precisa falar em particular com algum aluno ou pai de aluno.

-Treinador, antes de tudo, a Mikasa não tem nada a ver com a briga. Ela só me puxou de cima do idiota aqui… - eu digo, olhando com um pouco de receio para ela.

Mikasa me devolve um olhar bravo, que me faz engolir em seco.

-Sei. Sorte que estou de bom humor. Ackerman, liberada. - Treinador Shadis responde.

Mikasa não me olha ao sair, e praticamente corre antes que o Treinador possa mudar de idéia e envolvê-la na provável detenção que eu e Dieter iremos pegar.

-Eu não tenho coragem de dar detenção para os meus dois melhores arremessadores. Faltam só dois jogos. DOIS! Para trazermos a taça do Interescolar para cá. Não me importa a diferença entre vocês, seus trastes, desde que sejam eficientes nos próximos jogos! Agora… se a gente perder a semifinal, podem esperar a pior detenção de todas, ouviram?

-Bas ele tem qui bagar ago-a! Como bou teinah assim? - Dieter exclama, apontando para o nariz.

-Cala a boca, imprestável, e vai logo para a enfermaria! 

Dieter bufa e sai da sala esbarrando com tudo em mim. Eu respiro fundo para não testar mais a sorte que estamos tendo.

-E você, Yeager, o que aconteceu aí? - o Treinador aponta para o meu rosto, suavizando um pouco mais o tom de voz.

-Tentaram me assaltar sábado no meu bairro. - eu minto, fazendo o treinador arregalar os olhos - Inclusive, meu pai me deu um atestado porque eu tenho consulta com o dentista hoje. O soco que me deram arrancou um dente fora. É que está na minha mochila…

-Caramba, Yeager. Você me entrega o atestado amanhã na aula. Sem problemas. 

-Hã...tá. Obrigado, Treinador. - eu fico meio sem jeito. Por que ele está sendo simpático? - Eu posso ir?

-Sim, sim…

-Okaay… - eu dou as costas, pronto para ir embora.

-Espere, Yeager… - assim que o Treinador me chama, eu viro de volta - Use os treinos como uma forma de você liberar toda a frustração. Não vá desistir do time agora!

Como ele adivinhou que eu até pretendia mesmo pedir para sair, assim que eu entregasse hoje o atestado?

-Hã...tá. Farei isso. - respondo, acenando positivo com a cabeça e enfim saindo.

Que clima eu vou ter para jogar, olhando para a cara daqueles imbecis traidores que se intrometeram na minha vida?

Não sei como vou filtrar isso.

Saindo da sala dos professores encontro Mikasa parada no corredor. Meu coração aperta e ao mesmo tempo quase sai pela boca.

-Você estava me esperando? - eu pergunto, olhando surpreso para ela.

-Ah, bem… - Mikasa hesita um instante - Sério, Eren, para que você fez isso? Por que foi se meter numa briga?

-Não é como se o Dieter não estivesse merecendo, não é? Depois de tudo o que ele fez com…- eu respondo, mas ela me interrompe.

-Ele… Ai, pra que esperei… - Mikasa de repente me dá as costas e começa a sair.

-Não, espera aí Mikasa! - eu a seguro pelo braço, virando-a para mim. - Para de me dar as costas só por um segundo!

Nós ficamos em silêncio, tentando decifrar os pensamentos um do outro. Mas assim que meu olhar recai em seus lábios, despertando todo desejo do meu corpo de tê-la de volta em meus braços, Mikasa se afasta, se soltando de mim.

-Você ficou porque ainda se preocupa comigo. - eu afirmo. Uma faísca de esperança aquecendo meu coração.

-Óbvio, né, Eren! Não vou deixar de me preocupar com você…- Mikasa responde, cruzando os braços.

-Então…

-Mas não quer dizer que eu esteja bem, que tudo já esteja bem!

-E até quando eu devo esperar então, Mikasa? - eu pergunto, começando a me sentir irritado - Devo esperar até perceber que você está bem, e que me superou? Que vai seguir em frente, sei lá, com o Jean? Eu vi bem como vocês estavam todos de risinhos no intervalo!

-QUE? - Mikasa exclama, me olhando brava e decepcionada.

Idiota! De tudo o que eu tinha para falar, implorar, por que isso saiu da minha boca?

-Quer saber, Eren, só me deixa em paz! Eu não vou lidar com mais isso também!

Mikasa se vira e sai correndo. E eu começo a andar porque sou obrigado, já que ainda temos mais um período de aula. 

Estraguei tudo mais ainda. Eu tive uma oportunidade de poder consertar um pouco as coisas com ela, e ao invés disso, só fui um trouxa! 

Que esse dia inútil acabe logo. Só quero me enterrar na cama e ficar lá para sempre!

Não me atrevo a sequer olhar para Mikasa durante o restante das aulas. E assim que o sinal indicando o fim do dia toca, eu praticamente saio correndo da sala. 

-Zeke? 

Saindo pelo portão vejo Zeke encostado em seu carro, estacionado do outro lado da rua. O que ele veio fazer aqui? Afe, que não tenha a ver com a Historia isso!

E claro que ele chama atenção das meninas que estão plantadas admirando ele.

-E aí, maninho? - Zeke me puxa, assim que eu o alcanço, para um abraço. 

“Lembrei dele na feira, o irmão do Yeager”, “Afe, que DNA maravilhoso”, algumas garotas comentam, me fazendo corar e Zeke rir. 

-Estou lisonjeado agora! Então, estou a caminho da clínica para falar com o papai, e ele me pediu para aproveitar e te dar uma carona. O que foi isso aí no rosto?

-Ah, eu… - hesito em falar. - Te conto no caminho, vamos logo!

-Não quer dar carona para o Armin e a sua namor…

-Anda, anda… - eu apresso, fazendo Zeke entrar logo no carro, e entrando e sentando rápido no banco ao seu lado. 

-Tá, tá…

Zeke arranca, e eu me permito ficar um pouco aliviado. Tá, eu poderia dar a carona pelo menos para Armin, mas só quero ficar sozinho agora.

-Quer desabafar o motivo dessa pressa…?

Tenho certeza que papai não mandou ele para me buscar a toa. 

-Você vai contar para a sua namorada, que vai comentar com a pessoa que eu menos quero que saiba da minha vida - respondo.

Até porque essa pessoa é justamente a principal causa de todos meus problemas.

-Caramba, Eren, eu não trairia sua confiança assim. - Zeke responde, me deixando sem graça. - Bom, pelo jeito a minha cunhadinha anda pegando no seu pé ainda…

-Ela só estragou a minha vida! - eu praticamente grito, assustando ele.

Não sei o que é que me dá, mas não consigo controlar a língua e simplesmente vomito tudo.

Conto para Zeke tudo o que aconteceu. Desde as armações de Historia até meu término com Mikasa, tomando cuidado para não entrar nos detalhes sobre a vida passada.

Prefiro não correr o risco de termos alguma lembrança daquela vida. Da relação daquele Eren e daquele Zeke, e confundir ainda mais as coisas.

Coloco tudo para fora. E ter feito isso com meu irmão parece ter tirado um pouco o peso do peito. É até um pouco diferente de desabafar com Armin, que devido a amizade comigo e Mikasa, acaba tendo que ficar em cima do muro.

-Uau, eu sabia que a Historia era meio, hum, azeda, mas não imaginava que era nesse nível… Espera! Não é melhor abrir uma ocorrência contra o namorado da Tia Faye?

-Que ocorrência nada… e eles não são mais namorados. Não tava sabendo? 

-Ah, que sorte a dela. Esse tal Levi me provoca arrepios.- Zeke comenta, me fazendo rir, e rindo também. 

-Sabe, tem uma coisa que eu odiava quando o papai falava, mas é o clichê mais assertivo. Dá um tempo mesmo. Espera. - Zeke continua, me fazendo arquear a sobrancelha para ele - Se a garota Ackerman pediu isso, então deixa ela pensar, se reorganizar. Quanto mais você pressioná-la mais ela vai se afastar, Eren. 

Respiro fundo, soltando o ar lentamente. No começo, eu não consegui controlar os meus impulsos, e Mikasa ficou comigo. Mas porque ela também queria. 

Agora que ela não me quer, pelo menos por enquanto, eu vou ter que ser paciente, o que é muito difícil. E eu sendo meio babaca, como fui hoje, com certeza não vai me ajudar.

Por que não dá para voltar no tempo mesmo?

Até chegarmos em Shiganshina, Zeke e eu continuamos conversando sobre os meus problemas, e também sobre outros assuntos, retomando um pouco do laço fraterno que eu nunca liguei de ter com ele. Até tenho a coragem de perguntar como ele aguenta estar no meio de tantas tramoias articuladas pela mãe dele, o fazendo rir e dizer que não tem muita escolha. 

-Você deu sorte de nascer livre… - ele comenta.

Não tenho tanta certeza quanto a essa liberdade.

Em Shiganshina, tanto ele quanto papai me acompanham até o dentista, e após isso, acabamos tendo um momento de pai e filhos durante o intervalo de papai da clínica para o almoço. 

Depois eu volto a pé mesmo para casa, enquanto Zeke aproveita para tratar do assunto que tinha para falar com papai.

Aproveito a caminhada para pensar no conselho de dar tempo às coisas. De esperar.

Tempo.

Tempo, tempo, e tempo. 

É só o que me resta.

E se é de tempo e espaço que você precisa, Mikasa, então eu vou dá-lo a você.

Só que o tempo passa, e passa rápido. 

E eu temo que nós possamos nos perder enquanto o tempo simplesmente voa.

Também faço uso do conselho do treinador Shadis. Concentro parte da frustração acumulada para me dedicar aos treinos. Para o nosso azar como alunos, o jogo da semifinal foi reagendado para um sábado pré semana de provas finais do trimestre. E a final cairá num domingo antes do início das férias.

E em todo esse tempo, me esforçando para ficar na minha, a única coisa que pude fazer é observá-la. Ficando quase que excluído da turma, principalmente durante o período da escola.

Connie, Armin e Annie são os que ainda se dividem para me fazer companhia no refeitório nos intervalos da aula. Floch é quem acabou se tornando uma presença constante ao meu lado.

-Eu ainda tenho que fazer você de saco de pancadas, ou acha que eu esqueci da sua gracinha? - eu digo a ele, no dia em que, sozinho, Floch veio se sentar comigo e Connie.

-Quanto rancor você tem dentro desse coração aí, Yeager? - Floch zomba, dando uma mordida em seu salgado.

-Um acumulado de milênios… - eu solto, fazendo Connie rir e engasgar. 

-Vou te falar a verdade. Eu não tive escolha, tá? Era fazer o que o Dieter e o Gordon mandaram, ou ser expulso do time e perder o desconto na mensalidade da escola! - Floch solta, me fazendo engasgar. -É, é...Então desculpa, tá! Mas eu tive que pensar em mim e no bolso dos meus velhos!

 -Eu estou agora mais é bravo de não saber que estar no time dava desconto na mensalidade! - Connie diz - Será que dá tempo de conseguir isso?

Floch dá os ombros para Connie.

-Sei, eu vou escolher acreditar em você no momento. Mas não garanto que em alguma hora eu simplesmente não comece a bater em você do nada. Esteja avisado! - eu respondo, fazendo Floch rir e dizer que é justo. - Você deve saber então o porquê de toda essa perseguição dele comigo.

-Sei lá! Ele sempre pareceu interessado na Historia, então não entendia o porquê dele ficar “shippando” vocês! Não sei o que é que rolou entre os dois…- Floch responde, não me surpreendendo com a resposta - E com certeza a inveja de você assumir o posto de titular né… 

Penso se de alguma forma eu não deveria revidar tudo de mal que Dieter me fez praticamente de graça, por nada relevante de fato. Mas a minha melhor resposta com certeza é a dedicação ao time, deixando o Treinador Shadis com a certeza de que ele não substituiu Dieter por mim a toa. Isso vai doer bem mais no ego frouxo dele.

Floch, além de já ser minha dupla nos jogos de Baseball, se tornou minha companhia na biblioteca da escola para os estudos para as provas finais. Ele não é tão inteligente quanto Armin, até porque ninguém é, mas conseguimos nos ajudar de alguma forma.

Até porque, quando toda turma do 2º ano meio que toma conta das mesas da biblioteca para estudarmos juntos, eu não consigo me concentrar. Toda minha atenção vai para troca de olhares que por vezes Mikasa e eu nos perdemos.

Só em Shiganshina eu consigo estudar para valer com Armin, e com Annie às vezes, quando ela fica na casa dele para o final de semana.

-Obrigado, Armin! Está difícil conciliar os treinos e os estudos agora. O Treinador Shadis está com sangue nos olhos para vencermos a semifinal. E eu e o Floch estamos no mesmo barco, a gente tenta.

Estamos na minha casa, fazendo um trio de estudos, repassando as matérias que irão cair nas provas que já se aproximam.

-Não fala muito do Floch não, o Armin fica com ciúmes! - Annie brinca, fazendo Armin exclamar um “Hey” para ela - Armih! Admite, vai! Você estava sim reclamando outro dia que o Eren só fica com o Floch!

-Annie, fica quietinha! - Armin reclama, ficando vermelho e tentando tapar a boca dela.

-Seu herege! E a gente só não fica mais tempo juntos porque você me trocou pela Annie nos finais de semana! - eu provoco.

-Você que não quer se encontrar com a gente em Trost! - Armin responde de volta

-Eu lá vou ser vela de sete dias agora! - eu rebato.

-Nada mais justo vez ou outra você ser vela para nós… - Armin retruca.

-Tsc! Você sabe que sempre vai ser minha pessoa favorita, né? - eu digo, apertando o ombro dele com força, e ele aperta o meu do mesmo jeito.

-É claro que sei… você não é ninguém sem mim! 

-Eu não curto relacionamento amoroso a três, tá? - Annie solta, nos fazendo tossir, e começando a rir da nossa cara vermelha. 

Ficar na companhia dos dois me fez perceber o quanto eu sinto sua falta, Mikasa. Principalmente quando acho que me acostumei com a sua ausência.

Tem momentos que eu me obrigo a sentir um mínimo de indiferença com relação a você. A amaldiçoar que, para a cada dia que eu me sinto afundar sentindo sua falta, você esteja se afundando ainda mais na saudade que sente de mim.

Mas então eu me arrependo desses pensamentos, porque eu quero voltar a te fazer feliz, Mikasa.

“...então por que você só não volta comigo? Você já não teve tempo o suficiente?”

E apago a mensagem logo em seguida, pela zilhonésima vez.

E enquanto continuo me acovardando para lutar, o tempo continua passando.

-Eren! Sai desse celular e vai terminar de se arrumar! Nós vamos nos atrasar! Se bem, Grisha… tem certeza que é uma boa ideia eu ir nisso? 

-Carla, Zeke mesmo falou que se você ousar não comparecer, ele vem te buscar na marra! - papai responde para mamãe.

-Tá, Tá… Ai Eren, vai pelo menos pentear esse ninho que você está chamando de cabelo! - Mamãe reclama para mim. - Daqui a pouco a Faye e seus avós chegam aqui para irmos!

-Mas eu já penteei ele, mãe! - eu reclamo. Faz um tempo que não corto o cabelo, e ele mais comprido, com as pontas chegando até a orelha, fica difícil de ajeitar.

Aquele dia em que Zeke me deu carona e falou  com papai, foi para contar que ele e Frieda noivaram. Papai achou estranho o noivado rápido, mas só havia um único motivo para tanta pressa. Tem um mini Zeke ou mini Frieda a caminho, e hoje vamos à festa oficial para anúncio do noivado deles.

E a pressa toda é só para evitar os comentários nesse meio de elite que eles vivem. Provavelmente quando a criança nascer, dirão que nasceu prematura.

Não que eu não esteja feliz pelo meu irmão, ou de ganhar um sobrinho ou sobrinha, mas infelizmente eu vou ter esse laço eterno agora com a pessoa que eu menos queria.

A festa do noivado está sendo no enorme jardim da mansão dos Reiss. Reconheço alguns rostos famosos que vejo pela televisão. Me intimida um pouco estar com um pé nesse mundo que o Zeke vive, que eu nem tinha ideia.

Eu, mamãe, papai, tia Faye e meus avós ficamos isolados numa mesa. Até parece uma armação da megera, já que ela pegou antipatia também pelos ex-sogros e cunhada por eles não terem ficado do lado dela na separação com papai, e ter apoiado o relacionamento com mamãe.

Algumas pessoas vêm cumprimentar principalmente o papai, não deixando de ser educados com o restante de nós. Diferente da Dina, que só cumprimentou papai muito saidinha para o meu gosto, e fez questão de nos ignorar.

Essa megera não estava de rolo com o candidato lá?

Os adultos engataram uma conversa com Rod Reiss, pai de Frieda e Historia, e mais outros três meninos. Eu nem sabia que Frieda e Historia tinham ainda tudo isso de irmãos. E esse cara é estranho... fica olhando esquisito para Tia Faye, deixando ela desconfortável.

Durante a conversa chata, recebo mensagem de Floch no “WhatsDis”.

“E aí? A festa de noivado está boa? Deve ter uns bons drinks aí, que inveja!”

Ele está digitando, e digitando… Fico aguardando para ver o que é que ele quer.

“Então, tava dando uns rolês aqui no Shopping de Trost com a Louise… E nós vimos algo meio comprometedor.”

Digitando, digitando. Nossa, como ele é lerdo. Mandasse um áudio!

“Jean e Mikasa passeando por aqui também, saindo de uma loja de roupas femininas. A não ser que ele tenha esses gostos peculiares, mas sei lá, suspeito… E eles pareciam estar bem, bem, você sabe, vai. E não vi o resto dos seus amigos com eles… Acho que estão num encontro hein. Só pra te avisar e você tomar atitude, caramba!”

Eu leio e releio. Não sei o que pensar. Não é como se Jean não tivesse me alertado. 

Mas, Mikasa, por que? Você… realmente está fazendo isso?

Está seguindo em frente com o Jean mesmo?

“Ok, acho que então esse é o sinal de que ela se decidiu, né?”

-Tudo bem eu dar uma volta? - pergunto aos meus pais, me levantando da mesa.

-Claro. Cuidado para não se perder! - mamãe alerta.

-Garoto, você é da classe da Historia, né? Procure por ela para ficar com o pessoal da mesma idade. - Rod Reiss me diz. 

Eu aceno positivo com a cabeça, como se eu fosse mesmo fazer isso. Ah vá.

Eu preciso de ar. 

Estamos ao ar livre, só que me sinto claustrofóbico.

Como é que os adultos resolvem isso? Ah é… 

Vejo um cara segurando uma bandeja com bebidas de cor meio dourada, conversando animadamente com alguém.

-Oi, isso é whisky, né? - eu pergunto, já pegando um copo.

-Hã, sim, mas não posso servir para menores…

Eu o ignoro e simplesmente dou um golão. Tomo o conteúdo amargo todo de uma vez. Ele só não é tão amargo quanto o meu humor agora. Antes que o garçom me impedisse, pego outro copo, mas a pessoa com quem ele está conversando tira a bebida da minha mão.

-Eren Yeager! Pare com isso!

Eu não havia reconhecido Historia. Vestida de forma elegante, como uma garota da elite de Paradis, ela quase parece respeitável.

-Depois a gente continua a por o papo em dia. Leva essa bandeja antes que esse idiota cause um estrago!

Historia empurra o garçom, que sai apressado olhando para trás, e então se vira para mim com apreensão no olhar. 

Eu já a olho com desprezo. Tudo o que estou passando é culpa dela. E me dá agonia estar aqui respirando o mesmo ar que ela.

Deve ter outro garçom que não vá se importar se eu roubar um drink da bandeja. Eu me viro para iniciar minha busca, e Historia segura meu pulso, o soltando logo em seguida. Quando me viro para ela, ela está balançando a mão como se tivesse tomado um choque. Ela se lembrou de algo? Dessa vez nada aconteceu comigo.

Nós ficamos nos encarando por um tempo, até Historia soltar um suspiro e quebrar o silêncio.

-Sabe… eu ainda preciso de explicações do que é que eu vi naquele dia. - ela diz, cruzando os braços, baixando o olhar para o pé.

-Eu não sei do que você está falando… - eu respondo.

Historia levanta o olhar para o meu, primeiro surpresa, e depois dando seu típico sorriso de sarcasmo.

-É, eu não esperava mesmo que você de repente fosse ser simpático comigo. Não depois de tudo… - Historia respira fundo de novo, e então continua - Sabe quem era aquele garçom?

Eu fico quieto, sem responder. Até tento forçar a memória, mas elas parecem bloqueadas.

Aquele sonho com a criança foi o último evento que eu tive com lembranças relacionadas aquele Eren.

-É como se ele fosse aquele fazendeiro com quem… eu tive uma filha, Eren. Ele é igual… E ele é filho de um dos funcionários da casa, nós crescemos juntos… 

Eu continuo quieto, esperando Historia chegar aonde ela quer com todo seu papo.

-Eu não tive coragem de conversar com ninguém a respeito do que aconteceu quando te beijei, nem com a Frieda. A única pessoa com quem eu queria falar, está me evitando… - Historia continua - A Ymir está me evitando. Eu até me sinto envergonhada… Eu parecia ser uma boa pessoa, se aquelas imagens forem sei lá, de alguma vida passada. Como eu me tornei nisso? Nessa… menina malvada tão detestável…

-Olha, Historia, eu entendo como você está se sentindo, com relação a essa confusão das lembranças… Só que no momento eu não consigo ter um pingo de simpatia, ou pena por você. O que você e o Dieter fizeram comigo e a Mikasa…

-Eu sei, eu sei… Ah! Que situação irritante… - Historia exclama, contendo as lágrimas que se acumulam nos olhos. - Sabe, eu achei mesmo que estava afim de você. Eu queria muito ter você, Eren! Provar que eu posso ter quem eu quiser. Eu manipulei o Dieter, que sempre correu atrás de mim para ficar enchendo mesmo seu saco e provocando a Mikasa quando você entrou no time, prometi que se ele me ajudasse eu daria a ele o que ele queria, mas…

-Mas eu não quero ouvir mais nada, Historia! Pelo bem dos nossos irmãos, e… - quase solto “pelo bem da criança”, mas aqui provavelmente se alguém souber da gravidez de Frieda, é escândalo na certa. - Você sabe… Pelo bem deles, você só se mantém longe de mim. 

-As fotos…- Historia insiste, assim que me viro.

-Não importam mais… 

De que adianta me importar agora?

O que está feito, está feito.

Não tem volta.

Ela não volta.



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