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História This is my last chance - Talvez...


Escrita por: niveaffrs

Capítulo 41 - Talvez...


Mikasa, a partir daquele dia…

Quando chego em casa, corro para o meu quarto e me tranco.

Apesar de meus pais não estarem em casa, estarem fora visitando alguém, quando me jogo na cama, enfio a cara no travesseiro para abafar o meu grito.

E como eu grito. Grito tanto.

Grito e choro contra o travesseiro até sentir minhas cordas vocais se machucando.

Grito tentando esvaziar de dentro de mim toda confusão, toda raiva, angústia, arrependimento…

Toda dor.

-Eren… - eu o chamo.

Meu coração te chama. Mas, é o meu?

Eu quero que seja o meu. Eu necessito sentir a certeza de que é o meu, e somente o meu coração quem te clama, quem está completamente em desespero por ter te dado as costas.

Por ter sido a que cortou o laço.

Mas eu precisava fazer isso. Nós precisamos entender se nossas ações até agora foram nossas, ou se foram influenciadas por eles.

Eu quero escrever a nossa história, a nossa própria história, Eren!

Tento me concentrar para manter a respiração constante.

Vou me acalmando, apesar das lágrimas não pararem de rolar dos meus olhos.

Pego o celular. Tenho mensagens de quase todos. De Connie, Jean, Sasha e Armin. Várias ligações perdidas de Levi, Sasha e de Armin.

E confesso que não ter mensagens de Eren me deixa ainda pior.

Ignoro as ligações. Estou sem condições de falar.

“Sasha: Mimi! Onde você foi parar? Você está bem? O Eren não seria capaz né…”

Sasha consegue arrancar uma risada fraca de mim. Apesar de eu odiar o apelido que Kenny me deu, eu acho engraçado quando ela me chama assim.

Ainda tenho isso para pesar na decisão que tomei. O Eren não seria capaz de me trair com a Historia?

Se ele tivesse sido honesto sobre o dia da festa, sobre tudo que aconteceu desde então… Agora também não consigo mais afirmar se tudo foi mesmo armação.

No final, Eren a beijou. Como vou somente aceitar isso?

E se tiver algo ainda a ver com… aquela do passado? Estamos repetindo um ciclo?

“Talvez, mas não dá mais, Sasha… eu pedi um tempo. Eu preciso de um tempo…”, respondo.

Enquanto Sasha não responde, eu vejo as mensagens de Armin e Jean.

“Armin: Mikasa, como você está? Eren foi te procurar sei lá onde. Onde vocês estão? ”

“Jean: Sasha está ensandecida porque não consegue falar com você. Você está bem Mikasa?”

Respondo Armin que estou em casa, que Eren deve estar voltando para dele também.

Mando uma figurinha de “tudo bem” para Jean.

Está tudo tão longe de estar bem.

Num reflexo automático eu levo a mão ao pescoço.

-Oh…

E volto a chorar. Eu devolvi o cachecol para ele.

O que você vai fazer com o cachecol, Eren?

Pensar que o cachecol, a ideia de que um mesmo cachecol também era uma das conexões…

Me faz chorar mais.

Não percebo em que momento pego no sono. Acho que adormeci enquanto não conseguia parar de chorar.

Eu sinto que despertei, mas ao mesmo tempo não consigo me mexer. Não consigo levantar. E não enxergo nada além de escuridão.

“Mikasa…?”

Escuto sua voz me chamando. Como as vozes podem ser iguais e ao mesmo tempo soarem tão distintas?

Eu só quero ficar com você, Eren. Por que eu não posso ainda?

Acordo assustada com o toque do telefone lá embaixo.

Ah, outro sonho eu sendo ela? Quando isso vai acabar?

Já não deveria ter acabado?

Enquanto o telefone não deixa de tocar, eu só jogo uma água no rosto e desço correndo.

-A-Alô?

-Ah, está em casa. Você não viu que eu liguei não? - a voz de Levi está num misto de irritação e preocupação. - Seus pais já chegaram?

-Ainda não. - eu respondo, tentando não dar espaço para ele se intrometer.

-Certo. Precisa de mim aí, Mikasa? Você está bem?

Eu hesito em responder. Levi do outro lado da linha percebe minha hesitação, e solta um suspiro pesado.

-Mé, pergunta idiota. Imagino que você tenha feito o que eu esperava mesmo que fizesse depois do que aquele pirralho fez. Você terminou com ele, né?

-Eu pedi um tempo… E você não precisava dar um soco nele! - eu solto, não conseguindo evitar de defender Eren um mínimo que seja.

-Só não soquei mais porque me seguraram. Eu sei que você pode se cuidar, mas precisando de alguma coisa, me avisa, tá? Como eu vou amanhã para o litoral passar a semana lá para cuidar da abertura da nova loja, tenho que ajeitar umas coisas na mala, mas eu ainda posso passar aí até seus pais chegarem.

-Obrigada, Levi. Eu estou bem, pode ficar tranquilo. - eu agradeço.

Eu sei que no fundo ele só está preocupado comigo.

-Está bem então. Se cuida direito e mantenha a cabeça erguida, entendeu?! Ah, e eu falei para a Petra encher você de trabalho para sua mente não ficar ociosa e fazer você pensar em besteiras, como voltar com o pirralho! Me manda notícias! - ele solta, antes de desligar na minha cara.

-LEVI! -exclamo inútilmente, colocando o telefone de volta.

Consigo me recompor um pouco até mamãe e papai chegarem em casa. Claro que eles percebem minha cara inchada, mas dou graças internamente por eles não me perguntarem nada enquanto preparamos o jantar e eles me contam da visita que fizeram aos amigos de Karanes.

Conversar sobre as trivialidades do dia-a-dia deles consegue distrair a minha mente por uns instantes.

Pelo menos até a hora de tentar dormir novamente.

Evitei pegar o celular após a ligação de Levi, com medo que tivesse alguma mensagem de Eren, mesmo desejando que ele entre em contato.

Mas já deitada na cama, quando vejo as mensagens, meu coração se decepciona um pouco de novo.

As últimas mensagens que trocamos foi hoje ainda pela manhã.

“Te aviso quando voltar do jogo, ou passo na Rivai?”

“Me avisa quando estiver em Shiganshina”

-Isso é tão difícil… Eu me precipitei? - me pergunto, bagunçando o cabelo.

Não, eu tenho que me manter firme. De toda forma, só o drama da Historia deveria ser o suficiente para eu pedir esse tempo.

“Mikasa! Você está online! Vou te ligar.”, é a mensagem de Armin. Meu celular já está tocando antes de eu sequer responder.

-Oi, Armin…

-Como você… ah, pergunta com resposta óbvia né. Você não está bem também.

Também?

-Você se encontrou com o Eren?

-Sim, eu estava na casa dele esperando ele voltar pra lá. Quando chegamos em Shiganshina ele saiu correndo para te encontrar… Ele não entrou em detalhes, só me contou que você terminou com ele.

-Ah… bem… - eu gaguejo. Que vontade de perguntar como ele está! Respirando fundo, eu prossigo. - Como eu poderia continuar, Armin? Além dessa tal vida passada, eu devo só aceitar mesmo mais uma vez a armação da Historia? Aceitar mais uma vez que ele omitiu as coisas? Eles se beijaram na frente de praticamente toda a escola!

-Eu te entendo, Mikasa. Eu não te liguei para ser advogado do Eren. - Armin continua - Foi estupidez dele achar que estava protegendo vocês ao invés de contar logo do dia da festa e do dia que a Historia o abordou. Sobre hoje, tá na cara que foi outra armação…

-Que tenha sido, Armin. Mas eu tenho meu orgulho também, não posso… - eu respiro fundo de novo, tentando travar minhas lágrimas de voltarem a cair. - E o que o Eren quer proteger? É essa tal única vida que aquele Eren parece falar por ele? Eu também não sei mais se estamos agindo por nós, ou por eles...

Armin parece hesitar em continuar a falar. E o que é que se tem a dizer numa situação dessas?

-Eu te disse, não foi, Armin, que eu sabia que o Eren me faria sofrer…?

-Eu não tenho nem como defender o ponto Historia, foi um vacilo. Não intencional, mas foi. E com relação a isso dessa vida passada, amanhã eu… - Armin para de falar por um instante, tossindo - eu vou ver se lendo o livro maldito eu descubro algo! Tudo o que aconteceu desde então… nem minha religião explica mais.

Eu consigo dar uma risada. Realmente acho que não há uma religião que explique essa situação.

-Eu acredito em vocês, ainda, Ok? E você sabe que precisando de mim, é só me chamar, né? Eu vou fazer o meu melhor para me dividir…

-Relaxa, Armin. Eu entendi que amanhã você já vai se encontrar com ele…E eu preciso ficar sozinha mesmo.

-É, eu imaginei isso… Fica bem, tá? Me manda mensagem se precisar desabafar!

-Tá, obrigada pela preocupação, Armin! - agradeço.

Assim que desligamos, eu começo a me sentir um pouco mal por Armin, por ele ter que fazer um esforço de consolar a mim e Eren. Vou tentar preocupá-lo o mínimo possível.

Tento dormir, mas simplesmente não consigo pegar no sono.

Meu cérebro e coração travando uma batalha entre o arrependimento de deixar Eren, e a convicção de que nós precisamos desse espaço, desse tempo distante um do outro.

O meu coração, a princípio, vence a batalha. Eu não resisto em mandar uma mensagem para ele.

“Você está bem? Eren, eu sinto muito… eu… eu só queria resolver tudo isso da melhor maneira possível, eu não sabia mais o que fazer… eu quero você de volta.”

Mas então meu cérebro me faz apagar a mensagem. Não adianta voltar agora. Não seria a mesma coisa.

Não seríamos os mesmos.

O inchaço em meus olhos começa a pesar em minhas pálpebras, me fazendo por fim fechá-los e pegar no sono. Após um tempo, me sinto desperta, apesar de ainda só ver novamente escuridão.

Sinto as lágrimas voltarem a rolar, e uma mão delicada enxugá-las. Parece uma mão de criança.

Quem? Quem é?

Me sinto agitada. Eu preciso abrir os olhos, preciso acordar.

“Em breve você poderá despertar”, a voz infantil fala para mim, fazendo meu coração acelerar e também acalmar.

Abro os olhos, assustada, puxando o ar com tudo. De novo esse sonho? Como assim poderei despertar? O que isso significa?

Apesar de parecer ter dormido pouco, pelo horário até que eu acordei tarde. Percebo os raios de sol entrando pelas frestas da janela.

Me permito ficar um pouco mais na cama, enrolada em posição fetal. Tudo bem se eu ficar aqui o dia todo? O que eu costumava fazer quando eu e Eren não estávamos namorando e eu não me juntava a ele e Armin?

Não lembro mais.

-Bom dia, querida!

Me sento na cama num pulo, e me surpreendo com mamãe entrando com uma bandeja com o café da manhã. Conseguindo segurar a bandeja com um braço, ela usa o outro para abrir a minha janela e iluminar meu quarto.

-Hã… mamãe? Por que..?

-Hum, achei que você precisaria de um mimo. Preparei seu café da manhã favorito! - mamãe responde, apoiando a bandeja na cama com um belo “Asagohan”.

-Nossa...nem sei o que dizer. Muito obrigada!

-Comece pela sopa de Missô! Ela já vai dar aquela revigorada! - mamãe diz, me entregando o recipiente com a sopa

Começo a atacar o café da manhã tradicional de Hizuru, tomando a sopa de Missô e então partindo para o arroz e o omelete, que lá se chamam respectivamente de “gohan” “tamagoyaki”, me sentindo empolgada pela primeira vez em dias.

Após um tempo só me observando comer, mamãe se ajeita na minha cama, deixando as costas reta.

-Hum...Filha, o que aconteceu ontem? O Levi mandou para o seu pai um aviso sobre proibir visitas do Eren, para o seu bem e o do Eren, se o menino for esperto…

Eu engasgo com o suco de laranja. Não sei como me sentir com a superproteção do Levi, mas ele definitivamente está exagerando.

-Só falta o Levi ter pedido para me tirar da Rose Fritz…- eu respondo com ironia, e a exclamação que mamãe dá me faz olhá-la incrédula - Ele pediu isso mesmo?

-Bem, ele sugeriu… - mamãe responde dando os ombros - Você sabe que ele te vê como uma irmã mais nova, ele diz pensando em seu bem.

Solto o hashi na bandeja, suspirando um pouco derrotada. Fico olhando a comida, já perdendo o apetite.

-O Levi não abriu o bico? - pergunto, já que ele saiu falando tudo isso para os dois. Novamente o olhar de mamãe o denuncia. Claro que ele abriu. E sabe-se lá como foi que Levi contou tudo. - Ah, que saco…

-Seu pai está meio que uma fera lá embaixo, quase ligou para o Grisha. - mamãe conta, mas antes que eu reagisse, ela põe a mão em meus ombros - Calma, eu controlei ele, ok?

-Nós terminamos… eu terminei com ele… - conto para mamãe.

Não consigo olhar para ela. Eu sinto que já chorei todas as lágrimas que eu tinha ontem, mas se sobrou algumas, no momento em que eu olhá-la nos olhos, esse resto de lágrimas vão cair.

-Ah, filha…

Mamãe tira a bandeja para colocá-la na minha mesa de estudos, e quando se senta de novo na minha cama, me puxa para os seus braços.

Eu não queria mais chorar.

Mas receber esse colo me faz colocar tudo para fora de novo, chorar tudo de novo.

Sentir toda a dor de novo.

-Coloca tudo para fora, meu amor. Eu sei que você tem reprimido muitas coisas nesses últimos dias. Eu estou aqui, tá? - mamãe diz, enquanto eu soluço um choro tão pesaroso, tão desesperado, enquanto me agarro em seus ombros. Percebo que ela também enxuga as lágrimas que acabaram escapando, chorando por mim.

Não sei quanto tempo ficamos assim, mamãe me abraçando e me consolando. Mas chego num ponto que só não consigo mais chorar. Sinto que esgotei tudo.

Isso me faz perceber o quanto eu já estava esgotada.

-Posso dar minha sincera opinião? - mamãe me pergunta, segurando meu rosto entre suas mãos para olhar em meus olhos. Eu só afirmo que sim, e limpando as lágrimas do meu rosto, ela sorri para mim - Antes de dar minha opinião, vou contar algo. Desde que conhecemos os Yeagers, que Carla e eu nos tornamos amigas mais íntimas, nós víamos como você e o Eren, até sem perceber, pareciam estar em sintonia.

Eu arregalo os olhos para ela.

-C-Como assim? - pergunto, fungando.

-Hum, é como se um fosse a Terra e o outro a Lua? Acho que posso explicar o magnetismo assim, apesar do evidente esforço de cada um de não se aproximar tanto. Carla e eu nunca entendemos isso, mas ficamos aguardando ansiosas! Ah, bem, desejo de mães que acham que os filhos combinam talvez? - mamãe sorri, limpando as lágrimas que eu sem perceber deixei que voltassem a cair pelo meu rosto.

-Acho que vocês criaram expectativas demais…- eu digo, fazendo mamãe rir agora.

-”Unmei No Akai Ito”... foi o que sua avó me disse quando contei sobre seu pai, quando o conheci, e quando contei sobre o Eren logo que conhecemos os Yeagers.

Arregalo os olhos de novo. ”Unmei No Akai Ito”, ou a lenda do fio vermelho do destino. Automaticamente levo de novo a mão ao pescoço, mesmo sabendo que o cachecol não está mais em minha posse.

-Agora, a minha opinião… - mamãe continua, colocando sua mão sobre a minha que deixei em meu pescoço. - Eu acho que o fio de vocês está embaraçado agora, mas vocês vão conseguir desfazer os nós e se reencontrar de novo.

-E se esses nós não forem nem dessa vida, mamãe? - eu pergunto - Nós vamos conseguir desembaraçar nós de outra vida para sermos felizes nessa?

-Será que essa vida não é justamente para isso? Talvez seja nessa vida que vocês irão desembaraçar esses nós da outra. Quem sabe? - mamãe responde, com mais perguntas.

Eu fico em silêncio, voltando a comer e pensando. Da forma que Eren às vezes fala, não teremos outra vida para desembaraçar nó algum.

Após o café da manhã reforçado, fico na cama mais um pouco, até para fazer a digestão enquanto busco um pouco mais de ânimo. Após sair do banho e me trocar, pego o celular para ver as mensagens.

Minha mensagem apagada para Eren está marcada como “lido”, mas ele não me mandou nada.

Eu respiro fundo.

Ainda tenho mensagens de Sasha, Connie, Jean.

“Sasha: Qual é o seu endereço mesmo? Depois do almoço aqui em casa eu vou dar um pulo aí!”

-Sasha! - exclamo para mim mesma, mas logo passando o endereço por mensagem.

“Não é muito longe? Você não tinha planos com o Nicollo?”, respondo. Antes de eu ver a mensagem de Armin, Sasha me responde rápido.

“Sasha: Eu tinha sim, mas ele entende que preciso estar com você hoje! Te aviso quando estiver em Shiganshina! Só me passa o número do ônibus que eu pego da Estação!”

“Eu vou te buscar lá. Obrigada por vir, Sasha!”

Enquanto desço para avisar mamãe da visita inesperada de Sasha, leio a mensagem dos outros.

“Connie: Bom dia flor do dia! Desculpa não ter percebido a armação antes dela acontecer para ajudar a salvar você e o Ereno :s Como você está?”

“Fica tranquilo, Connie. Estou bem, tá? Obrigada por se preocupar comigo também! Te vejo amanhã! :)”

“Jean: Oi! Você está bem? Eu iria à Shiganshina ver você, mas não quero te causar problemas com o Eren. Tenho certeza que ele iria na sua casa me bater só por isso ¬¬’”

Sinto meu rosto corar um pouco com a mensagem de Jean. Eu não sei como estão os sentimentos dele por mim atualmente, mas espero que a preocupação seja só por nossa amizade, e não por outras intenções.

“Obrigada pela preocupação, Jeanbo! :) Eu estou bem. Nos vemos amanhã na escola!”

“Connie: Sasha me contou que está indo aí hoje. Se eu não estivesse de castigo ainda, iria também! <3”

Meu coração pesa um pouco. Além de Armin, os outros terão de se dividir também entre Eren e eu. Que problema acabamos causando.

Mamãe se empolga com a visita de Sasha, e aproveita que ela virá para trabalhar na sobremesa nova que ela tinha pensado para a inauguração da Rivai do litoral.

Passo o tempo esperando Sasha avisar que chegou na estação ajudando mamãe, e quando ela chega, papai faz a gentileza de me levar até a estação para a buscarmos.

-Sabe que eu até não comi tanto em casa depois que você falou da sobremesa? Sua mãe é tipo a fada dos doces! Eu fico sempre emocionada! - Sasha exclama, assim que entramos no carro.

-Não duvido! Mamãe vai te fazer cobaia, então coma o quanto quiser! - eu digo, fazendo papai engasgar.

-Bem, com parcimônia, né, para não ficar com dor de barriga! - papai comenta, me fazendo olhá-lo um pouco brava - O que?

-Ah, Tio, eu tenho estômago muuito forte! - Sasha responde, passando a mão na barriga, me fazendo rir e papai parecer preocupado.

Quando chegamos em casa, Sasha e eu ficamos na cozinha ajudando mamãe a fazer a sobremesa nova, e também outras que ela precisará levar para a Rivai nessa próxima semana em que Levi não estará por aqui para buscar.

Enquanto cozinhamos, Sasha e mamãe conversam bastante sobre tudo, até sobre uma novela da TV que as duas acompanham. E mesmo ficando mais quieta, eu me sinto bem de estar passando esse tempo assim com elas. Principalmente rindo das reações de Sasha a cada beliscada que ela dá nas sobremesas.

Assim que subimos para meu quarto, meu celular faz som de notificação. Apesar de saber que não é de Eren, meu coração se acelera ao pensar que pode ser uma mensagem dele.

Mas é de Armin.

“Como vamos fazer amanhã? Você vai de novo com o Levi?”

“Levi viajou hoje para o litoral. Vai ficar lá uns dias.”, eu respondo.

Será que foi Eren quem pediu para ele perguntar?

Eu mando outra em seguida, não esperando resposta de Armin.

“Posso ir sozinha, não se preocupe.”

-Hum, verdade, né? - Sasha indaga, bisbilhotando por cima do ombro - Desculpe, não resisti!

-Sei, sei! - eu debocho, rindo.

Vemos Armin digitando, e aguardamos.

“Vamos nós dois juntos, Ok?”

“Eu chego cedo aí… fala para sua mãe fazer café a mais!”

-Aha! O Armin se aproveita dos dotes culinários da sua mãe também? - Sasha pergunta - Até parece eu!

Eu dou risada.

-Sempre que pode, ele aproveita sim. Aqui e também na… - na casa do Eren, eu ía falar, mas fico quieta.

-Quer conversar sobre o que aconteceu ontem? Eu não queria tocar no assunto na frente dos seus pais, sabe… - Sasha diz, segurando minha mão nas dela.

Eu apoio minha outra mão por cima das mãos dela, dando um sorriso fraco.

-Não tenho muito o que dizer. Eu terminei com o Eren… - eu respondo.

-Ué, não foi um tempo? - Sasha pergunta, me olhando surpresa, e depois parecendo pensar a respeito. - É, se bem. Dar um tempo e terminar é a mesma coisa…

-É… - eu suspiro, me largando sentada na cama, e puxando Sasha junto.

-Olha Mimi, eu acho que você aguentou até foi é muito desde aquela palhaça da Historia pulando no Eren! Não que eu ache que o Eren tenha feito tudo de propósito sabe… - Sasha começa, com um ar mais confuso - Sei lá… É que eu não acho que ele estivesse te traindo com a Historia, num jogo tipo o que o Connie estava fazendo com a Mina e a Louise. Ele pareceu sempre tão concentrado em tentar não deixar nada afetar vocês dois, que se descuidou.

-Talvez tenha sido isso, Sa. É que… não é só esse o problema… - eu respondo.

Sasha me olha confusa, mas antes mesmo de eu falar, ela exclama como que ligando os pontos.

-Se eu estivesse cobrando dinheiro mesmo daquela aposta que fizemos sobre não tocarmos no assunto, eu já teria o suficiente para comprar o smartphone novo que eu ando namorando, viu! - Sasha diz, e eu lhe dou um peteleco na testa. - Au!

-Você e o Nicollo não tiveram… esses deja vus? - pergunto para Sasha

-Ah, bem… - Sasha suspira.

Ela fica um tempo pensando, depois me olha sorrindo, continuando a falar.

-Às vezes percebo um excesso de zelo dele, talvez seja reflexo do trauma daquela vida estranha lá. Mas eu tento não pensar muito sabe, em como eu e o Nico éramos naquela vida, eu já até esqueci de verdade uns detalhes. Eu mantenho em mente algo até que o Eren me disse, que eu sou a Sasha Blouse dessa vida! Eu estou namorando com o Nicollo dessa vida. É nossa oportunidade de sermos felizes hoje, independente de quem fomos.

Eu fico em silêncio, ponderando suas palavras, e não conseguindo evitar de sentir um pouco de inveja de Sasha. Ela e Nicollo não parecem sofrer essa influência direta de quem foram no passado. Até mesmo Annie e Armin não parecem passar por isso. E se acontece com eles, é de forma sutil.

Por que então nós somos os diretamente afetados, Eren? Será que é porque o nosso destino, nossas escolhas, pode não somente afetar a nós, mas pode também afetar o de todos?

-Por que tem que ser tudo confuso, Sasha? - eu exclamo de repente.

-Vai saber, Mimi. Eu ainda acho que são só algumas provações que vocês tem que passar. Logo você e o Eren irão se resolver!

-Mimi…ai de você se juntar o coro com o Kenny hoje, hein?

-Eh? Ele vem hoje?

-Acho que sim, todo domingo ele, Kuchel e o Levi jantam conosco.

-E que horas ele chega mais ou menos para eu ir embora? Seu tio é estranho!

Eu dou risada de Sasha, e nós passamos o resto da tarde nos distraindo com outras coisas até a hora que ela tem que ir de verdade. Nossa amizade me ajuda a tirar a mente dos problemas com Eren.

Mas assim que Sasha precisa voltar para casa, e eu fico novamente sozinha com meus pensamentos, eu não consigo pensar em outra coisa senão em como iremos nos encarar amanhã.

Pelo menos ao dormir eu tenho uma noite sem sonhos, simplesmente apago e até acordo um pouco atrasada. Corro para me preparar e arrumar minhas coisas, e quando desço para o andar de baixo, me assusto vendo Armin já sentado com meus pais na sala de jantar.

-Eu falei que ía chegar cedo… - Armin diz, se adiantando aos meus pensamentos.

-Com relação a comida, você e a Sasha podem se dar as mãos, hein! - eu provoco, sentando ao seu lado e me servindo também.

-Meu bolso que o diga… -papai sussurra, saltando na cadeira após eu lhe dar um chute - Mikasa!

-Armin, você sabe que é sempre bem vindo aqui em casa! Inclusive, você tem que vir mais vezes, viu! Ser o meu cobaia igual a Sasha e… - mamãe tosse antes de continuar - e aprovar as minhas invenções para a Rivai!

-Sempre que a senhora quiser, tia! Eu estou à disposição! - Armin responde, colocando a mão direita sobre o coração, imitando o mesmo movimento que Petra fez um tempo atrás.

-Como é mesmo o nome que a Sasha deu ontem… Food Tester? - mamãe me pergunta, e eu dou risada.

O café da manhã com Armin é agradável e divertido. Assim como com Sasha ontem, esse momento com ele me faz espairecer por um instante, nós até atrasamos para sair.

Mas ao chegar ao portão e começarmos a descer a rua, eu sinto que algo falta.

Ele falta.

-Armin… Como que… - eu hesito. Mas eu preciso saber. - Como que o Eren estava ontem?

-Com a cara inchada, o Levi fez um belo estrago. Ele vai ter que fazer implante ainda… - Armin começa, desembuchando. Eu prendo a respiração. - Ele está tão perdido quanto você.

Solto o ar devagar. Armin me dá uns tapinhas nas costas, e fica segurando meu ombro até chegarmos ao ponto de ônibus.

-Um dia de cada vez, hein? Ele sabe que você precisa de espaço, então quando você e ele estiverem prontos, vocês vão se resolver.

-Quem sabe… - eu respondo, dando um sorriso fraco - Obrigada por estar comigo hoje, Armin.

-Você é minha melhor amiga também! Eu estou aqui para apoiar vocês, independente de como for.

Armin bagunça meu cabelo, e eu me esforço para não chorar agora. Sinto vontade de perguntar se eles descobriram algo lendo o tal livro, mas seguro a curiosidade. Saber de mais algo, adiantaria de alguma coisa?

Até o ônibus chegar ficamos conversando sobre assuntos que até precisávamos por em dia. Coisas que eu e Armin compartilhamos antes de eu e Eren, e dele e Annie. Ao mesmo tempo que a nostalgia desse momento é boa, ela também me remete a dor da realidade que decidi viver agora.

E é disso que eu preciso me lembrar, que foi minha decisão seguir por esse caminho, sem você, Eren, até que eu tenha a certeza de que tudo foi feito e sentido por nós.

Mas como escapar da vontade de correr para você, assim que te vejo descendo a rua após já estar dentro do ônibus?

Quando Armin e eu chegamos à estação de Trost e caminhamos para a saída, todos da turma estavam nos esperando, como sempre. Dessa vez inclusive Jean está aqui ao invés de nos encontrar na escola.

É perceptível que eles tentam ser discretos com relação a ausência de Eren, e eu não sei se me sinto agradecida ou incomodada. Armin e Annie inclusive evitam fazer o show de sempre, ficando somente de mãos dadas, igual Nicollo e Sasha.

-Tudo bem? - Annie me pergunta, dando um soco de leve em meu braço.

-Sim, tudo bem! - eu respondo com confiança. Não quero e nem posso me fazer de vítima com eles.

-Bom, vamos indo? - Jean pergunta a todos, seu olhar recaindo em mim.

-Eu vou ficar aqui…- Connie anuncia, assim que começamos a andar. - Alguém tem que…

-Obrigada, Connie. - eu digo a ele, sorrindo sinceramente.

Armin bate em seus ombros, agradecendo com o olhar também, e nós seguimos o caminho para a escola. E a cada passo sinto meu coração começando a acelerar, e minha cabeça fica tonta com a ansiedade de que em breve não terei outra alternativa senão vê-lo. O que me lembra…

-Sasha, senta comigo na aula de Biologia, tá? - eu peço, a surpreendendo - Por favor…

-Você vai roubar minha parceira de aula assim na caruda, Mikasa? - Jean brinca, nos fazendo rir.

-Jeanbo, eu sempre vou colar de você ainda, não se preocupe! - Sasha rebate, nos fazendo rir mais.

Nós ficamos enrolando como sempre no portão até ouvir o sinal tocar. Quando chegamos próximos das escadas que dão acesso às salas, ouvimos o burburinho de uma comoção. O pessoal pára para conferir o que é, mas meu coração já sabe que tem algo a ver com ele antes mesmo de eu me virar.

“Eren, Yeager!”, “Connie, Springer!” “Parabéns pela vitória!”, “Contamos com vocês para ir para a final agora!”

“Eren, cadê a sua Deusa?”

Nessa hora, assim que eu também me viro, nossos olhares, ansiosos e sentidos, se cruzam. E mesmo distante, eu posso até ler seus pensamentos, eu sei o que Eren quer dizer.

Me dizer.

Mas eu me viro de novo, seguindo o caminho para a sala.

Se eu o olhasse por mais um segundo, eu perderia meu orgulho indo até ele.

E pela forma que os demais alunos estão falando e sussurrando enquanto eu passo, todos já estão assumindo que ele e Historia tem algo, de que eu fiquei como a traída.

Então, o que eu seria se no meio desse drama, eu corresse até ele?

Quando entramos na sala, nossos próprios colegas de sala começam a murmurar, fofocar, e eu tento de alguma forma bloquear o que eles falam. Faço um esforço para não olhar Eren entrando na sala, percebendo que fiz Sasha sentar em seu lugar, o forçando a se sentar com Jean.

Mas é difícil quando ouço Samuel e Thomaz falarem da aposta que fizeram sobre nós. Como podem ser cruéis assim?

Jean parece estar contendo Eren de encarar os dois, e se não fosse pela chegada do Professor Moblit, parece que os dois iriam começar a brigar também. Do que falaram?

Me esforço para manter o foco nessa e nas aulas que seguem, mas ver Eren agindo no modo automático tira toda minha concentração. Eu te machuquei tanto assim? Só que você não percebe o quanto eu também estou machucada, Eren?

Na saída para o intervalo, sou praticamente arrastada por Sasha e Jean. Não sei se querem me proteger, mas eles não me dão chance de sequer olhá-lo. Armin e Annie nos seguem logo atrás, e perto do refeitório Nicollo se junta a nós. Enquanto lanchamos, engatamos um papo qualquer sobre um reality de culinária que principalmente Annie, Jean, Sasha e Nicollo acompanham, e alguns casos do último programa nos arrancam gargalhadas.

Será que eles vão perceber que apesar de estar rindo, eu me sinto quebrada? Que estou chorando como uma louca por dentro?

-Que confusão é aquela? - Nicollo estica o pescoço. Sasha o imita, se aproveitando para encostar o nariz no pescoço dele.

-Opa, é briga! - Jean exclama, se levantando para ver melhor.

Todos nós nos levantamos também para ver, e reconheço alguns caras do time de Baseball no meio da confusão. Meu coração acelera. Não é possível que seja…

-Mikasa! É o Eren! - Armin exclama, confirmando minhas suspeitas.

-Maníaco, o que ele pensa… Mikasa! Espera aí! - Jean tenta segurar minha mão, mas eu a afasto rapidamente.

Quando dou por mim já estou passando por entre os outros para me aproximar do centro da briga. Vejo Connie e Floch tentando puxar Eren, para separá-lo de Dieter, mas não conseguem.

É como na época em que ainda estudávamos em Shiganshina, quando só eu conseguia livrá-lo dos valentões. Olhando a cena, penso se não deixo Eren bater mais um pouco em Dieter, mas vê-lo já machucado, a ponto de se machucar mais, me faz entrar no meio e puxá-lo.

Bem a tempo do Treinador Shadis chegar e apitar, fazendo todos se calarem e possivelmente ficarem surdos.

-Bando de insolentes…Yeager, Ackerman, Dieter, sala dos professores AGORA! - o treinador Shadis grita, soltando mais uma apitada.

-Ah, não acredito... - eu exclamo. Só me faltava pegar detenção ainda.

Ainda estou segurando os braços de Eren, e assim que sinto seu corpo ficar tenso devido ao meu toque, eu o solto antes que ele pudesse reagir de alguma forma e sigo o professor sem olhar para trás. Ele nos leva para a sala privada da sala dos professores.

Magnífico.

-Dério, teinadô, nã balei dada, e esse baluco be adacou - Dieter tenta falar.

Não posso negar a satisfação de ver o estado que Eren o deixou.

-Treinador, antes de tudo, a Mikasa não tem nada a ver com a briga. Ela só me puxou de cima do idiota aqui… - Eren diz, então me olhando com receio.

Apesar de saber que Dieter merecia apanhar, e merecia apanhar mais ainda, eu devolvo um olhar bravo para ele, que o faz engolir em seco.

O que deu nele para se meter numa briga?

-Sei. Sorte que estou de bom humor. Ackerman, liberada. - Treinador Shadis responde.

Eu saio rápido antes que o Treinador mude de idéia e me envolva na possível detenção que Eren e Dieter irão pegar.

A sala dos professores está quase vazia, cada professor já deve ter saído para as salas das respectivas turmas. Ficaram ainda somente a professora Rico, o professor Mike e a professora Nanaba.

Tento passar rápido, mas meus ouvidos acabam capturando uma conversa dos professores Mike e Nanaba que me faz andar mais devagar na saída.

-Até quando você continuar me maltratando, hein Nana? - o professor Mike diz para a professora Nanaba.

-Ah...não sei, eu não tinha dito que só te perdoaria depois de um século? Já se passaram quantos anos? - Nanaba responde, fazendo contas nos dedos - Faltam ainda uns oitenta e poucos anos para eu te dar uma chance de novo!

-Se comportem, tem alunos aqui ainda! - a professora Rico rosna para eles - Tudo bem com o seu namorado, Mikasa?

-Ah… - minha mente quase responde por mim de que o Eren não é mais meu namorado, mas eu freio a língua - É… digamos que o Dieter o fez chegar no limite.

-Bem, não vamos mentir que todo mundo aqui já quis fazer o que o Eren fez, mas… shhh, segredo, tá? - Nanaba responde, piscando para mim e fazendo os outros professores rirem.

Eu dou um risinho amarelo, e peço licença para voltar. Só que ao invés de seguir o caminho para a sala, eu fico no corredor, esperando.

Dieter sai primeiro, e para a sorte dele, ele passa batido por mim, sem me direcionar a palavra. Após uns minutos, Eren sai, nossos olhares travando um no outro assim que ele me vê.

Eu prendo a respiração para evitar que meu coração saia pela boca devido ao impacto que recebo por enfim ter ele tão perto de novo.

-Você estava me esperando? - Eren me pergunta.

-Ah, bem… - eu hesito. Ele parece surpreso por eu ter esperado. - Sério, Eren, para que você fez isso? Por que foi se meter numa briga?

-Não é como se o Dieter não estivesse merecendo, não é? Depois de tudo o que ele fez com…- Eren responde, mas eu o interrompo.

Ele quer conversar sobre tudo aqui e agora mesmo?

-Ele… Ai, pra que esperei…

Eu definitivamente ainda não estou nem um pouco pronta, nem me sinto segura ainda para ter esse embate com o Eren tão já. Minha reação é só virar e tentar ir embora, mas ele me segura pelo braço, me virando para ele.

-Não, espera aí Mikasa! Para de me dar as costas só por um segundo!

Apesar do silêncio que paira entre nós, parece que sinto a pulsação de nossos corações retumbando em meus ouvidos. Estamos próximos demais. Quando seu olhar recai em meus lábios, eu tenho que reunir toda a força que possuo para não ceder e me afasto dele, soltando meus braços.

-Você ficou porque ainda se preocupa comigo. - Eren diz, não perguntando, e sim afirmando.

-Óbvio, né, Eren! Não vou deixar de me preocupar com você…- eu respondo, cruzando os braços.

Como ele esperaria que eu agisse diferente?

-Então…

-Mas não quer dizer que eu esteja bem, que tudo já esteja bem!

-E até quando eu devo esperar então, Mikasa? Devo esperar até perceber que você está bem, e que me superou? Que vai seguir em frente, sei lá, com o Jean? Eu vi bem como vocês estavam todos de risinhos no intervalo!

-QUE? - não acredito que ele está falando isso.

Como que ele pode achar que eu agiria levianamente logo após tudo o que passamos e sentimos?

Começo a sentir até raiva dele agora. Ele achar que eu simplesmente daria alguma chance tão rápido à alguém, quem quer que fosse, me decepciona.

-Quer saber, Eren, só me deixa em paz! Eu não vou lidar com mais isso também!

Eu me viro e saio correndo. Tentando bloquear novamente a vontade de gritar e chorar.

Antes de entrar na sala da próxima aula, eu corro para o banheiro. Por sorte está vazio, e eu tomo uns minutos jogando uma água no rosto para me acalmar.

Esse dia está acabando. Um dia de cada vez, Mikasa. Como o Armin disse.

Encaro as outras aulas fingindo prestar atenção, fico até ansiosa para ir logo para a Rivai. De alguma forma, manter minha mente ocupada lá, num lugar onde eu não tenha que ver o Eren constantemente se transforma na melhor opção momento.

Assim que o sinal toca, anunciando o final da última aula, o vejo sair em disparada, sem sequer esperar Connie para o treino deles hoje. Eu solto um suspiro, e demoro para guardar minhas coisas enquanto o restante da turma sai.

-Tudo bem? - Armin me pergunta. Claro que ele, Annie, Sasha, Jean e Connie ficariam.

-Sim… - eu digo, enfim levantando da cadeira. Tem que ficar tudo bem.

Eu tenho que ficar bem.

Saindo da sala, Nicollo se junta a nós. Ele e Sasha, e Armin e Annie vão na frente, eu ficando atrás com Jean e Connie.

-Ow! Caramba! - Connie exclama, batendo na testa e nos fazendo olhá-lo - Eu estava esquecendo do treino! Eu vou lá!

-Como você poderia esquecer isso? - Jean exclama, olhando confuso para Connie.

-Ah, é que o Er… Er! Eu sou esquecido mesmo! Bom, falou povo!

Connie sai distribuindo toques de punhos com os meninos, e em nós meninas ele só bagunça o cabelo, quase recebendo um chute de Annie, que o faz sair correndo.

Quando voltamos a andar, me sinto estranha de ficar atrás sozinha com Jean. A pergunta acusatória de Eren volta com tudo nos meus pensamentos.

“Que vai seguir em frente, sei lá, com o Jean? Eu vi bem como vocês estavam todos de risinhos no intervalo!”

-Como ele pode…- eu sussurro.

-O que? - Jean me pergunta

-Hã? Ah, nada, eu só… estava pensando alto. - eu respondo, fazendo Jean soltar um resmungo parecido com uma risada.

Ficamos no caminho da saída da escola até a Rivai e a estação mais em silêncio, já que os casais a frente de nós estão mais focados um no outro, e na breve despedida.

E agora para onde eu olho parece que só tem casais em plena harmonia, enquanto eu estou travando a batalha em manter minha decisão, ou voltar atrás. Até mesmo após Eren ter sido tão tonto comigo mais cedo.

-Bom, até amanhã, gente! - eu digo chamando a atenção dos casais assim que chegamos no farol onde eu tenho que virar para chegar a Rivai.

-Ah… me avisa quando chegar em Shiganshina? Eu dou um pulo rápido na sua casa para ver como você está! - Armin me diz, me puxando para abraçá-lo - Qualquer coisa me manda mensagem, tá?

-Para mim também! Você pode falar mal dos meninos comigo! - Annie solta, me abraçando por trás, me fazendo rir.

-Eu vou criar nosso grupo de meninas no “What’sDis” - Sasha exclama, nos abraçando também. - Sai, Armin, é “girl hug” agora!

-Ow! A Mikasa é minha amiga há mais tempo do que é de vocês! - Armin reclama enquanto é empurrado por Sasha.

-Mas você vai ter que confraternizar com o inimigo, shiu! - Annie rebate.

Eu começo a rir para controlar a vontade de chorar, apertando mais o abraço em Sasha para não deixar o desespero tomar conta de mim.

Quando nos soltamos, eu limpo as lágrimas que teimosas ainda rolaram pelo meu rosto. Mas talvez essas lágrimas sejam pela gratidão de estar recebendo todo esse apoio.

Eu espero que você também o receba, Eren. Não era minha intenção deixá-lo completamente para trás.

Batendo meu limite do horário para estar na Rivai, eu me despeço de todos, mas ainda fico até vê-los atravessando a rua. Com exceção de Jean.

-Ué, você não pega o ônibus na estação também? -eu pergunto, começando a andar, e Jean andando ao meu lado.

-Ah, é, tem um ponto mais próximo da Rivai, eu posso pegar de lá. Assim eu te faço um pouco mais de companhia.

-Ah, sei… - fico desconfiada, principalmente ao ver Jean engolindo em seco.- Bom, obrigada!

-Não se preocupe que eu não vou ser daquele tipo que a menina mal terminou e já está correndo atrás. - Jean de repente solta, me surpreendendo - Eu posso ter provocado o Eren um pouco, mas...

-Provocado o Eren como, Jean? - eu pergunto.

-Ah, bem… eu disse que esperaria por você, não disse, Mikasa? Eu posso não ter resistido e provocado ele a respeito disso… - Jean diz, me fazendo soltar uma exclamação frustrada.

Agora até faz sentido a desconfiança de Eren, mesmo sendo infundada com relação a mim!

-Jean! Por que? - eu indago, olhando brava para ele, mas não deixando ele responder - Olha, eu não quero saber! Sua amizade é importante para mim, e a minha resposta continua sendo...

-Ow, calma! Eu sei que a sua resposta continua sendo a mesma. Eu não vou forçar a barra. Ok? - Jean apoia sua mão em minha cabeça, aproximando seu rosto do meu - Saiba que eu vou estar sempre do seu lado, da forma como você me quiser, Mikasa. Ser seu amigo é o suficiente.

Após me dar um beijo no rosto, Jean sai andando para seguir o seu caminho. Me deixando completamente atordoada. Ele está fazendo algum jogo?

Isso é demais para minha cabeça.

Chegando um pouco atrasada na Rivai, eu peço desculpas à Petra, correndo para vestir o uniforme e iniciar minhas atividades. Como planejei, faço do meu trabalho na Rivai o passatempo para ocupar minha mente, para não deixar a ociosidade me fazer falhar.

Também me dedico mais atenção aos treinos de Vôlei, já que após as férias iniciará a temporada de campeonato interescolar da Rose Fritz do Vôlei feminino, além de ter que pensar também nos estudos para as provas finais que se aproximam.

E me concentrando nessas coisas, eu não percebo como o tempo passa. Como ele parece voar.

Eren parece estar se esforçando para respeitar o tempo que pedi a ele. Após nossa discussão no corredor das salas dos professores, ele não me procurou nenhuma vez. Ver ele se afastando da turma dói em mim, me deixa com sentimento de culpa, mesmo com Connie, Armin e Annie sendo os que se dividem para ficar com ele também.

Até reparo como que nesse tempo que está correndo seu olhar mudou, ficou diferente. Aliás, seu olhar transmite indiferença a quase tudo e a todos ao redor, mesmo quando está rodeado dos amigos, até quando está com Floch, que parece ter se tornado sua companhia constante, apesar do que ele também nos fez. Connie me contou depois sobre a conversa onde Floch disse que não teve escolha, senão obedecer os veteranos. O que para mim não é justificativa.

Mas essa indiferença toda de Eren some quando os nossos olhares se cruzam. Como quando estamos com toda a turma do 2º ano na biblioteca da escola, formando um grupo de estudos para as provas.

Por vezes nos perdemos em nossos olhares, e eu me sinto a ponto de falhar comigo mesma em relação ao tempo que pedi a ele.

Será que estamos perdendo o timing para conversarmos de novo, Eren?

Será que minha insegurança para tentarmos de novo está me afastando cada dia um pouco mais de você?

O que é que você tanto digita para mim no “What’sDis”, mas nunca me envia?

E como você ousa deixar o cabelo ir crescendo, se tornando tão parecido com...

-Oi, Terra para Mikasa! - Jean me chama atenção.

-Ah, desculpe… Me distraí. - eu respondo, dando os ombros para ele.

Eu, Jean, Sasha, Nicollo e Connie combinamos de estudar sábado à tarde na Rivai, após o término do meu expediente. Armin e Annie que estavam para vir, tiveram que mudar os planos devido a um mal estar repentino que o Sr. Arlert sofreu de manhã, me deixando completamente aterrorizada.

“Armin, eu posso mudar meus planos também e acompanhar você e seu Vô! Como ele está?”

“Estamos no Pronto Socorro, mas ele está estável. Eu sei que você está precisando de reforço nos estudos, fica tranquila! Obrigada, Mikasa! <3”

“Me mantenha informada, tá?”

-Nossa, essa folha de exercícios do Mike é praticamente igual a nossa do ano passado, eu devo ter aqui ainda, esperem! - Nicollo diz, após analisar a folha que Sasha passou para ele. Ele vasculha a mochila, procurando entre um monte de folhas amassadas.

-E eu que achava que era desorganizado, hein… - Connie zomba, nos fazendo rir, e deixando Nicollo vermelho.

-É… acho que tem bem um ano que não limpo isso aqui. Aha! Aqui! A desorganização valeu a pena!

Nicollo está nos ajudando a estudar para as provas trazendo o material dele do ano passado. E sinceramente se não fosse por essa ajuda, eu acho que dessa vez eu até corria risco de pegar alguma recuperação.

Passamos algumas horas estudando e conseguimos revisar tudo o que nos propomos. E quando enfim finalizamos, descansamos tomando “Bubble Tea”, novidade que Levi trouxe para a franquia em parceria com uma marca famosa de chá.

-Man, você é nosso salvador da pátria! - Connie exclama, pulando em Nicollo para abraçá-lo enquanto saímos da Rivai - Você é o meu mais novo crush!

-Sai pra lá que você não faz meu tipo! - Nicollo responde brincando, tentando afastar Connie que está puxando ele para fingir que vai lhe dar um beijo.

-Você quer morrer, Connie Springer?!

Sasha começa a dar mochiladas em Connie, que sai correndo na frente, tentando escapar do ataque dela. Nicollo corre logo atrás, para parar Sasha, e acaba a pegando no colo.

Que saudades de quando fazíamos esse tipo de demonstração exagerada em público, Eren.

-Mikasa… será que você ainda tem um tempo para ir ao shopping comigo? - Jean me pergunta, parando no meio do caminho.

-Agora? - Eu o olho com um pouco de suspeita

-É que amanhã é aniversário da minha mãe… Eu não sei o que dar de presente!

Jean dá os ombros sem graça, ficando vermelho, e eu seguro um riso para não deixá-lo mais envergonhado.

-Bom, sorte que meu castigo já acabou, então acho que posso ir. Se formos rápidos, tá? - eu respondo, já pegando o celular e mandando mensagem para avisar mamãe.

-Tudo bem! Eu já até sei em que loja ir, mas preciso de uma opinião feminina. Se os doidos não tivessem corrido e se separado, eu teria chamado para virem também… - Jean responde, enfiando as mãos no bolso - Só justificando para você não achar que é alguma armadilha minha, tá?

-Eu sei, ok? - respondo, sorrindo para ele, o deixando vermelho de novo.

Sua reação me faz tossir.

Nós andamos até o Shopping, que por sorte também é perto da Rivai, conversando sobre o que exatamente ele tem em mente para dar de presente à mãe dele. Conforme Jean joga as idéias, eu dou algumas opiniões, assim quando chegamos na loja ele fica somente na dúvida entre escolher qual bolsa comprar da marca da loja em que estamos.

-Ah, obrigada Mikasa! Eu aposto que demoraria um século aqui, ou acabaria nem vindo! O presente é para dar uma apaziguada nela. Ela ainda não me perdoou muito pela estripulia daquele dia da festa.

-Sua mãe parece ser mesmo tão brava. Mas eu sei como é… - respondo cruzando os braços, pensando na bela dupla superprotetora que meu pai e Levi formam.

Infelizmente, eu acredito que meus pais, aliás, meu pai e Levi só me liberaram mesmo por causa do meu término. O que me chateia. Eles não aceitariam o Eren de volta?

-Aliás, se seu castigo acabou, porque você ainda está trabalhando na Rivai? - Jean me pergunta, me tirando de meus pensamentos.

-Ah, bem, hoje na verdade foi o último sábado, semana que vem estou liberada, até por causa das provas. - eu respondo.

Na saída do shopping reconheço Floch com Louise na fila de quiosque de sorvete, ela distraída no celular, e ele estava nos olhando e digitando.

Isso me causa um frio na espinha.

Na volta para casa, enquanto me distraio pelo celular vendo uma página no “Eldiagram” de notícias, passo por uma postagem que anuncia o noivado de Zeke e de Frieda.

Na sequência de fotos, tem uma de Eren e Historia,

Na foto, ele está de costas para ela, que está segurando seu pulso, como se eles estivessem de mãos dadas.

“Herdeira Reiss, segunda na linha de sucessão, com possível namorado. Gatinho, não?”

-Ha! Ha,ha,ha… - eu rio.

A ideia de eu saber novamente por outra foto de que Eren e Historia podem estar num relacionamento para valer chega a ser até hilária.

É por isso que você respeitou meu espaço, Eren?

No fim das contas, você não pretendia sequer voltar?

Talvez nessa vida eu também não esteja predestinada para ser sua, assim como na outra.

Nosso fio de destino está tão embaraçado, que não acho que seja nessa vida, nem em outra que ficaremos juntos, Eren.

Será que em alguma vida conseguiremos ser um do outro, sem todo drama?

Talvez…



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