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História This is (not) a dream. - Dentes-de-leão


Escrita por: svtmol

Capítulo 13 - Dentes-de-leão


Fanfic / Fanfiction This is (not) a dream. - Dentes-de-leão

A primeira coisa que eu ouvi quando recobrei a consciência foi um canto de pássaro.

Lentamente, fui abrindo meus olhos e um raio de luz quase me cegou. Quando minha visão se acomodou, me peguei observando uma janela, e nela havia uma andorinha. Ela, ao perceber que eu a olhava, abriu as asas e cantou mais alto. Por um momento, tive um vislumbre do rosto sorridente de Jisoo, suas asas feéricas douradas brilhando atrás de si.

— Eu sabia que conseguiria, Mingyu! — Ele disse. Tentei sorrir em sua direção, mas o cansaço tomou conta de meu corpo, e me vi adormecendo mais uma vez.

Quando acordei, tudo estava cinza. Pela janela, pude ver que o sol subia aos poucos, trazendo luz ao mundo. Pisquei rapidamente enquanto tentava entender onde eu estava. Era meu quarto no palácio. Tentei me mexer e senti meu corpo todo doer, arfei baixinho e olhei para baixo, vendo inúmeras faixas em minha barriga, braços e mãos, pude sentir algumas ataduras em meu rosto também. Fiz um esforço para levantar, me sentei na cama e olhei minhas mãos. Ao tentar mexer os dedos, senti ondas de eletricidade percorrerem meu corpo. Que esquisito, eu me sinto... Anestesiado.

— Mingyu? — Quase desmaiei de novo com o susto que levei, procurei o dono daquela voz e encontrei Seungkwan na porta do meu quarto, carregando um balde com água.

— Ah... E aí. — Tentei sorrir, mas a dor foi tanta que me contentei em acenar com a mão.

Seungkwan ficou parado na porta por mais uns cinco minutos, e então largou tudo no chão e correu até mim, me abraçando com força.

— Mingyu! — Ele soluçou. Seu tom de voz era tão sôfrego que decidi esquecer a dor excruciante que aquele abraço de urso me causou — Graças aos deuses! Eu pensei... Nós pensamos...

— Ei, calma lá. — Soltei uma risada e o empurrei delicadamente — Por quanto tempo eu apaguei?

— Dois dias.

— Dois dias? — Gritei, mas logo fiz uma careta com a dor que se alastrou pelo meu peito.

— Sim. — A fada segurou meu rosto — Você está bem? Como se sente?

— Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. — Soltei uma risada amarga, suspirando pelo toque delicado do outro. Seungkwan tombou a cabeça para o lado e estreitou os olhos.

— Caminhão?

— Esquece. — Toquei sua mão e observei pequenas flores desabrocharem em seus cabelos — Me sinto destruído, mas bem. O que aconteceu aquele dia?

— Não sabemos. — A fada suspirou — Suyeon, Minghao e Jihoon disseram que você começou a brilhar que nem uma estrela, e então explodiu. Ondas douradas tomaram conta do povoado todo, e, quando dissiparam, era como se a cidade nunca tivesse sido destruída. Então, você desmaiou.

— E o Monstro? — Engoli em seco, aos poucos me lembrando do ocorrido — E o povo? E... Wonwoo?

— O Monstro está com Sooyoung agora, o povo voltou para o vilarejo, e Wonwoo... — Seungkwan sorriu — Talvez seja melhor você vê-lo pessoalmente. E os outros também, poxa, você tem noção do quão preocupados nós todos ficamos, majestade? Até Jihoon ficou aflito!

— Desculpe. — Soltei uma risada nasal e beijei a bochecha de Seungkwan — Obrigado, Kwan.

Não sei se foi impressão minha, mas pude ver pequenos brilhos dourados refletirem em seus olhos, juntamente de um leve cheiro de rosas. Seungkwan sorriu, acanhado, e me ajudou a levantar. Abracei seus ombros e tentei andar, ignorando a dor em meus músculos. O castelo estava silencioso, mas pude sentir paz emanando de suas paredes, como se toda energia ruim tivesse se dissipado. Inconscientemente, abri um sorriso.

Seungkwan parou em frente à uma enorme porta de madeira, ele me olhou e afagou minha cintura.

— Todos estão aí dentro.

Assenti com a cabeça e empurrei a porta, atraindo a atenção de todo mundo no recinto. Aquele lugar me lembrava o escritório de meu pai, cheio de livros e mapas, e uma escrivaninha no meio de tudo. Suyeon, que estava conversando calmamente com Jihoon, virou o rosto até mim e seus olhos se arregalaram.

— Mingyu?

— Mingyu? — Hansol e Soonyoung, sentados um de frente para o outro no chão, disseram em uníssono. 

— Mingyu! — Minghao tapou a boca, ele estava sentado ao lado de Jun, que estava deitado num divã.

— Sentiram minha falta? — Abri os braços e me soltei de Seungkwan.

Suyeon correu até mim, me abraçando delicadamente em seguida. Ela começou a soluçar compulsivamente, enquanto murmurava o quão feliz estava por me ver acordado. Em seus tamanhos originais, Minghao abraçou meu pescoço, e Soonyoung distribuiu beijinhos por todo meu rosto; Hansol se aproximou, timidamente, e segurou minha mão.

— É tão bom vê-lo, majestade. — Ele sorriu, sua voz estava embargada.

Depois de toda a comoção, meus amigos me ajudaram a sentar em uma poltrona ao lado do divã em que Jun estava. A fada se ergueu lentamente e sorriu na minha direção.

— Vaso ruim não quebra mesmo, não é?

— Te digo o mesmo. — Devolvi o sorriso, ou tentei, pelo menos — Como você está?

— Vou sobreviver. — Ele girou o torso nu, me mostrando o restante de suas asas vermelhas brilhantes — Só não vou poder voar.

— Me desculpe, Jun...

— O importante é que o Monstro se foi e você está bem, majestade. — A fada afagou meu ombro. Minghao apareceu no ombro de Jun e abraçou o pescoço alheio, se aconchegando ali — Além do mais, tive um bom médico. — Jun riu e cutucou o rosto de Minghao — Ai! Você me mordeu, seu duende fedorento!

— Não encosta esse dedo sujo em mim, sua fada imbecil!

— Ah, que saudade eu estava disso. — Ri baixinho e olhei Suyeon, ela segurava minha mão e estava ajoelhada no chão ao meu lado — Yeonie?

— Eu pensei... Nós pensamos... — Ela soluçou e apoiou o rosto nas costas de minha mão — Ah, Mingyu.

— Tá tudo bem. — Sorri e afaguei sua bochecha — Eu estou vivo, não estou?

— Ainda bem, viu. — Soonyoung fungou, ele estava sentado em meu ombro — Nunca mais faça isso.

— Sim, senhor.

Hansol sorriu em minha direção, seus olhos tinham um brilho aliviado, e Seungkwan, sentado no topo da cabeça alheia na sua forma original, me olhava da mesma maneira. Desviei meus olhos até uma pequena figura atrás da escrivaninha e reconheci o rosto Jihoon, que me encarava com os olhos cheios d'água.

— Vai ficar paradão aí? — Ergui uma sobrancelha e Jihoon fungou.

— Não acho que mereço me aproximar, tampouco seu perdão, majestade. Não depois de tudo que fiz.

— Ah, tenta. — Lancei a ele um sorriso debochado — Já faz tempo que eu estava querendo ouvir um pedido de desculpas sair de sua boca.

Jihoon grunhiu e se aproximou de mim. Seu corpo estava tenso e seus olhos não encontravam os meus.

— Me perdoe por duvidar de ti, majestade. Me perdoe pelas minhas ações imprudentes. Seus amigos me contaram toda a verdade. Eu... Eu não queria...

— Tudo bem. — Murmurei, sentindo dó — Se um doido de cabelo vermelho aparecesse, do nada, no meu reino se autoproclamado rei, eu também surtaria.

— M-Mas...

— Jihoon. — Suspirei e sorri, cansado — Passado é passado. Você não me matou e reconheceu seu erro. Acabou.

— Mesmo assim, ainda me sinto envergonhado. — Jihoon coçou a cabeça — Tem algo que eu possa fazer para compensa-lo?

— Seja um rei justo e bom para Siena. — Falei, convicto — E, pelo amor de tudo quanto é santo, se resolva com Seokmin! Se case com ele de uma vez, ou sei lá.

— C-Casar? — A voz de Jihoon saiu fina de desespero, quase ri — A-Ainda é muito cedo!

— Que seja, só não deixe o coitado esperar mais do que já esperou. — Dei de ombros — Aliás, cadê ele?

— Em seus aposentos. — Jihoon murmurou — Ele também desmaiou depois... De tudo.

— Oh.

Um silêncio se instalou no ambiente. Suyeon se ergueu e se sentou no braço da poltrona em que eu estava, então aproveitei para apoiar minha cabeça em sua coxa. Tudo doía em meu corpo, até respirar estava difícil, mas, estranhamente, eu me encontrava em paz. Não sentia mais aquele peso em meus ombros, como se meu propósito aqui tivesse sido cumprido.

— Alteza! — Levei um susto com a voz repentina de Seungcheol, juntamente com a porta se abrindo bruscamente — Oh, majestade. — Ele se curvou ao me ver — Fico aliviado em vê-lo fora de sua cama.

— Obrigado. — Acenei com a cabeça na sua direção.

— Queria me dizer alguma coisa, senhor Choi? — Jihoon pigarreou.

— Ah, sim. — O guarda se endireitou — Seokmin acordou.

— S-Seokmin... — Jihoon perdeu o balanço por um momento, e então me encarou.

— Vá. Ele precisa de você. — Falei, sorrindo doce. Mal tive tempo de piscar, e Jihoon já havia corrido dali com Seungcheol em seu encalço.

— Que paz. — Jun murmurou, e Minghao assentiu com a cabeça.

— O povo está bem? — Perguntei.

— Sim, já até voltaram à sua rotina. — Hansol sorriu.

— Ótimo. — Engoli em seco e olhei minhas mãos — E Wonwoo? O-Onde ele está?

Todos do recinto se entreolharam por uns segundos, e, então, Suyeon se ergueu.

— Vem, vou te levar até ele.

Minha amiga me ajudou a andar até a porta que dava para o jardim. Respirei fundo e me soltei dela, mancando para fora do castelo. O sol quase queimou meus olhos, então ergui uma mão para escondê-los da luz, e tentei encontrar Wonwoo. No meio das tulipas amarelas, havia alguém sentado, seus cabelos escuros se mexiam com o vento, e seus olhos cinzas observavam o horizonte. Meu coração parou por alguns segundos e um sorriso dançou pelos meus lábios.

— Wonwoo. — Falei, enquanto mancava na direção dele — Wonwoo!

O dito cujo virou a cabeça e arregalou os olhos, se erguendo rapidamente.

— Mingyu?

Meu sorriso se intensificou e as lágrimas acumuladas no canto de meus olhos finalmente escorreram pelo meu rosto. Wonwoo correu até mim e me abraçou com força. Agarrei sua camisa e me apoiei nele para não cair, minha felicidade e alívio de tê-lo em meus braços novamente era tanta que ajudou a anestesiar minha dor. Senti suas mãos segurarem meu rosto delicadamente e me afastei, soltei uma risada ao ver seus olhos brilhando num amarelo forte.

— Está feliz em me ver? — Perguntei.

— Não existem palavras o suficiente para expressar o que estou sentindo agora. — Ele soluçou — Eu amo você, Mingyu.

— Também amo você, Wonwoo. — Falei e encostei seus lábios nos meus. Era como se fosse a primeira vez, aquele sentimento de euforia e felicidade extremos explodiram em meu peito, fazendo com que eu não prestasse atenção em mais nada além de Wonwoo e seus toques delicados pelo meu corpo.

— Eu pensei que tivesse te perdido. — Ele sussurrou quando nos separamos, e apoiou sua testa na minha.

— Ah, mas você não vai se livrar de mim tão fácil assim. — Sorri ladino e Wonwoo suspirou.

— Ainda bem.

— Podemos sentar? — Murmurei — Estou todo dolorido.

— Oh, claro, desculpe.

Ficamos por ali durante algum tempo. Apoiei minha cabeça no ombro de Wonwoo enquanto observava as tulipas balançando com o vento, e sentia o dedão de Wonwoo afagar minha mão.

— Você não está com frio? — O mago disse, virando o rosto até mim — Só está usando calças.

— Seu amor já é o bastante para me aquecer. — Respondi, me aconchegando ao seu lado.

— Ah, pelos deuses, Mingyu. Vamos entrar, você precisa de um banho e roupas limpas.

— Quer dizer que estou fedido?

— Mingyu!

Soltei uma risada, mas deixei que ele me levasse castelo adentro. Fiquei observando seu rosto próximo do meu, enquanto ele me ajudava a me despir e a entrar na banheira. Wonwoo entoou algum feitiço e tocou na água, ela se aqueceu e a dor em meu corpo diminuiu. Suspirei e apoiei minha cabeça no batente da banheira, ainda observando o rosto de Wonwoo.

— O que foi? — Ele ergueu uma sobrancelha enquanto jogava os sais dentro da água — Você não para de me olhar.

— É que você é lindo.

— Mingyu... — Ele me repreendeu, mas pude ver seu rosto se avermelhar.

— Estou tentando memorizar cada pedacinho seu. — Murmurei, sentindo minha garganta fechar a cada palavra — Para quando eu... Ir embora.

Wonwoo parou de se mexer e baixou o olhar. Seus ombros caíram e ele suspirou alto, voltando a me encarar. Senti meu coração quebrar ao ver suas orbes brilharem num azul intenso.

— Tinha me esquecido desse detalhe. — Ele riu, amargo, e se ajoelhou ao lado da banheira — É como se, ao mesmo tempo que lhe tenho de volta pra mim, eu vou lhe perder de novo. Maldita profecia.

Me inclinei até nossos rostos ficarem a centímetros de distância. Afaguei sua bochecha e o beijei delicadamente, suspirando extasiado ao sentir seus lábios se mexerem junto dos meus. Ao nos separarmos, sorri ao ver seus olhos num tom de rosa claro.

— Você nunca vai me perder, porque eu nunca vou te esquecer.

— Nem eu. — Ele reprimiu um soluço e tocou minha mão em seu rosto — Meu coração é seu, Mingyu.

— E o meu é seu, Wonwoo.

Ficamos por ali durante mais um tempo, pelo menos até Seungkwan bater na porta e dizer que o Guardião queria me ver. Wonwoo me ajudou com as roupas e colocou ataduras nas minhas queimaduras que ainda não tinham cicatrizado. Seja qual for o feitiço que Wonwoo colocara na água, eu me sentia mil vezes melhor que antes, até conseguia andar sozinho de novo. Logo, fui em direção ao salão principal, onde encontrei todos reunidos no centro.

Seokmin se apoiava em Jihoon e, por mais cansado que aparentava estar, ele sorria. Suspirei e bati minhas mãos, chamando a atenção de todos no recinto.

— Seu rei chegou.

— Uma hora junto de Wonwoo e você já está novinho em folha. — Minghao estreitou os olhos — O que vocês fizeram?

— Eu fiz um feitiço de cura, seu pervertido. — Wonwoo fechou a cara, arrancando risadas minhas e dos nossos amigos.

— Mingyu. — A voz de Seokmin saiu rouca e baixinha, quase não escutei. Ele parecia tão abatido e doente, fiquei deveras preocupado, mas, surpreendentemente, ele tinha um brilho alegre nos olhos — Obrigado por me salvar, e me perdoe por...

— Não peça desculpas! — Ergui um dedo e me aproximei dele, afagando seu ombro — Você foi a vítima aqui, nada disso foi sua culpa. No entanto, você, mocinho — Olhei Jihoon — pediu desculpas a Seokmin?

— Claro que pedi! — Jihoon rosnou e abraçou o torso de Seokmin, arrancando uma risada do maior.

— Bom mesmo.

— Mingyu. — Ouvi a voz de Chan. Me virei e o encontrei nos braços de Soonyoung, sua expressão estava serena e ele sorria — É muito bom lhe ver assim, tão animado de novo.

— Ah, que isso. Aliás, obrigado, Chan. — Me curvei — Por tudo.

— Eu que agradeço, majestade. — Ele tocou meu braço — E como foi dito na profecia, você salvou Siena. Nós temos uma eterna dívida com você.

Senti meu coração acelerar com aquelas palavras. Observei cada rosto naquela sala, todos eles brilhavam em alívio, felicidade e gratidão, e todos estavam direcionados a mim. Sempre tive um sonho de ser reconhecido por algo que eu mesmo fiz, não pelo meu pai ou minha mãe, mas por mim. Somente eu. Porém, mesmo imaginando incessantemente em como seria a sensação, nada no mundo poderia me preparar para o sentimento real. Era a mais pura e genuína felicidade. Meu peito inflou e eu senti algumas lágrimas se formarem no canto de meus olhos, pela primeira vez eu me senti completo, realizado. Foi uma das melhores sensações que eu poderia experienciar.

— Sabem de uma coisa? — Funguei e sorri, entrelaçando meus dedos nos de Wonwoo — Não me arrependo de ter vindo para cá, mesmo que fora por meio de uma escolha aleatória. Conhecer vocês foi uma das melhores coisas que me aconteceu.

— Ah, Mingyu! — Seungkwan fungou, piscando sem parar — Não me faça chorar!

— Digo o mesmo, majestade. — Hansol sorriu, seus olhos também estavam marejados.

— Foi uma honra lutar ao seu lado, Mingyu. — Jun me deu uns tapinhas nas costas.

— Lhe servir também foi uma honra. — Minghao sorriu.

— Sim. — Soonyoung me abraçou — Foi uma honra ser seu amigo, Mingyu.

Dessa vez não segurei as lágrimas, comecei a chorar enquanto o abraçava de volta. De pouco a pouco, todos se juntaram ao abraço — até Jihoon! —, e eu me senti em paz com o calorzinho que cada corpo emanava. Sim, o que Chan e Sooyoung fizeram fora insensível e imprudente — onde já se viu? Trazer a mim e a Suyeon para outra época, e deixar com que nos apegássemos a todos, para que, não muito tempo depois, tivéssemos que abandoná-los —, mas também tenho que agradecê-los por nos dar, me dar, essa oportunidade.

— Uma pergunta. — Falei quando o abraço em grupo terminou — O que aconteceu comigo naquele dia?

— Sooyoung lhe concedeu uma benção. — Chan respondeu — Você teve ajuda de toda Siena, Mingyu, de toda energia de cada ser vivo deste reino. No entanto, tenho certeza que essa benção só foi ativada pela sua determinação e coragem.  — O Guardião sorriu — Seu coração é de um guerreiro.

Fiquei até sem graça com o tanto de elogio. Soltei uma risadinha e cocei o braço.

— Ah, que isso.

— Está se fazendo de humilde, é? — Jun empurrou meu ombro — Pateta.

— Ei! Me respeite! Eu salvei seu reino!

Jun revirou os olhos e todos riram. Pelo canto do olho, pude ver Seokmin e Jihoon sussurrando entre si. Suspirei e me aproximei dos dois.

— Jihoon. — Falei, convicto — Temos que nos resolver com o vilarejo, não acha?

— Sim, majestade. — O duque sorriu minimamente.

Decidimos que iríamos todos juntos. Porém, enquanto Seungcheol preparava as carruagens, Seungkwan e Jihoon insistiram para que eu colocasse outras vestimentas e usasse a bendita coroa do rei. Depois de muito tempo apenas me arrumando, chegou a hora. Os seres mágicos voltaram ao seu tamanho original para não ocuparem tanto espaço; Seokmin insistiu em ir em seu cavalo como guarda real, mas Jihoon o arrastou para dentro da carruagem; enquanto ajudava Wonwoo, Suyeon e Hansol a entrar no veículo, vi Jeonghan andando no meio do jardim com uma cesta no braço, ele parecia perdido em pensamentos, mas seu olhar encontrou o meu e ele acenou na minha direção. Só naquele momento que percebi que, de todas as pessoas que conheci aqui, Jeonghan era o mais misterioso. Tudo o que eu sabia dele era que ele é jardineiro e que casara com Seungcheol. Estranho.

— Entra logo, cabeçudo. — Minghao puxou minha orelha e eu soltei um gritinho irritado, me sentando ao lado de Wonwoo.

Logo estávamos na praça central. Quando desci da carruagem, percebi que todo povoado se juntara no local. Reconheci o rosto de Minseok dentre a multidão e sorri em sua direção enquanto me posicionava na frente de todos. Comecei a ficar nervoso com aquele tanto de olhos sobre mim, me senti em uma apresentação de seminário da minha faculdade. Respirei fundo e abri a boca para começar meu discurso, mas fui interrompido pelas palmas de alguém. Antes que eu tentasse encontrar quem fora, todos ali presentes fizeram o mesmo, gritando e assobiando em seguida. Ergui as sobrancelhas, surpreso, enquanto observava os rostos felizes e agradecidos de cada um naquela praça.

— Vida longa ao rei! — Começaram a gritar. Não vou mentir, me subiu uma vontade enorme de chorar, nunca me senti tão amado em toda minha vida. Era uma sensação incrível. Depois de saborear aquela amaciada no meu ego por mais alguns minutos, ergui a mão, e, logo, todos se calaram.

— Obrigado. — Falei em alto e bom som, sorrindo — De verdade, obrigado. Agradeço por confiarem em mim e por tudo que fizeram por mim. Confesso que não teria derrotado o Monstro sem a ajuda de vocês. A esperança que mantiveram em mim, mesmo depois de tudo ir por água abaixo, foi o estopim que eu precisava. — Suspirei e encarei o lugar como um todo, observando as árvores, as montanhas no horizonte, os muros, o pequeno rio... E então sorri — Espero que, finalmente, Siena possa prosperar em total paz e harmonia. Não comigo, claro, mas com o verdadeiro rei. — Chamei Jihoon, que se aproximou de mim, timidamente — Este homem aqui sempre fez até o impossível para lhes proporcionar o melhor, e tenho certeza que ele continuará assim.

— Majestade! — Ouvi a voz de Jinyoung — Você... Não irá ficar?

— Oh, não. — Balancei a cabeça — Vocês não precisam mais de mim. Já lhes ensinei tudo que precisavam. De agora em diante, vocês estão livres. Livres de qualquer maldição ou profecia.

— Espero que possam me perdoar pelos meus atos imprudentes. — Jihoon disse, finalmente — E que possam me dar mais uma chance. Me provarei digno de comandar Siena.

— Você é mais que digno, Jihoon. — Sussurrei em seu ouvido e sorri em sua direção. O outro abaixou o olhar, envergonhado, e encarou a multidão.

— Nestes dois dias, desde a destruição do Monstro, você cuidou bem de nós, alteza. — Minseok se curvou na direção de Jihoon — Você tem meu voto de confiança.

— O meu também. — Reconheci a voz de Jihyo, que também se curvara. Observei, maravilhado, um por um, todos ali presentes repetirem o ato.

Decidi, então, pegar aquela coroa que pinicava até meu cérebro e colocar sobre a cabeça de Jihoon.

— Pois então, está decidido! — Ergui os braços — Lee Jihoon, o novo rei de Siena!

Novamente, todos bateram palmas e gritaram, comemorando a coroação do novo rei. Pude ver Seokmin se aproximar de Jihoon e os dois se abraçarem; me virei para meus amigos e me surpreendi com Soonyoung beijando Chan, mas nem consegui formular as coisas direito, já que Minghao e Seungkwan o arrancaram de perto do Guardião e começaram a descer o tapa no duende, gritando sem parar o quão "sem vergonha" e "desrespeitoso" ele era; Chan, por outro lado, estava atônito com um leve rubor nas bochechas.

— É, majestade. — Hansol suspirou, olhando o povo comemorando — O senhor conseguiu.

— Todos nós conseguimos, Hansol. — Afaguei seu ombro e sorri, desviando o olhar até Wonwoo, que observava tudo de longe, perto da carruagem.

— Você realmente acha que Siena ficará bem após sua partida? — Ele perguntou quando me aproximei.

— Tenho certeza. Esse povo é forte. — Dei de ombros e segurei sua cintura.

— Pois bem. — Wonwoo abraçou meus ombros — Eu não vou ficar.

— Wonwoo... — Fiz um bico triste e o mago riu, me dando um selinho.

— Eu amo você, Mingyu.

— Também amo você, Wonwoo.

Eu e Suyeon resolvemos ficar por mais um dia. Jihoon, então, organizou uma pequena festa de despedida dentro do castelo. Comemos, bebemos e nos divertimos bastante, era deveras gratificante ver as expressões alegres e tranquilas de cada um. Decidi me afastar um pouco da festa, que acontecia no salão principal, e me apoiei numa das janelas ali. Observei o céu escuro e a lua brilhando juntamente das estrelas, enquanto sentia a brisa balançar meus cabelos.

— Que viagem essa nossa, hein? — Ouvi a voz de Suyeon. Olhei para o lado e a vi se debruçando no parapeito da janela.

— Literalmente. — Ri baixinho, suspirando em seguida — Vou sentir falta daqui.

— Eu também. — Ela murmurou, e então, segurou minha mão — Como você está, Mingyu?

— Bem. — Olhei nossas mãos entrelaçadas e sorri — Muito bem. Sabe, às vezes eu fico pensando, talvez virmos para cá não fora obra do acaso. Essa experiência um tanto esquisita me ajudou em muita coisa, inclusive a decidir o que quero pra minha vida. Eu... Não sinto mais medo, Suyeon. Eu me sinto... Livre.

Minha amiga analisou meu rosto e então sorriu brilhante.

— Fico muito feliz em saber disso, Mingyu.

— Obrigado por não me abandonar, Su.

— Eu nunca te abandonaria, seu... Asfalto em pé.

— Tampinha.

— Cotonete de orelhão.

— Arquiteta de lego.

— Uau, essa foi boa. — Suyeon riu e me deu um tapa no ombro.

— Ei, vocês aí! — A voz de Jun chamou nossa atenção, ele parecia um pouco bêbado — A festa é para vocês, e vocês vão contar estrelas? Não pode, voltem pra cá!

— Acho que ele está bêbado. — Seokmin, sentado no trono do rei com Jihoon em seu colo, disse entre risadas.

— Convenhamos, e quem não está? — Jihoon ergueu as sobrancelhas. Ver os dois juntos era fofo, Seokmin parecia estar no auge da sua felicidade pelo modo que ele abraçava a cintura do outro. Espero que o casamento saia logo.

— Vem, Mingyu. — Senti as mãos frias de Wonwoo percorrerem meus braços até se entrelaçarem no meu pescoço. Seus olhos estavam rosa claro.

— Epa, você está bêbado também? — Engoli em seco, sentindo meu coração dançar sapateado.

— Descubra. — Ele sorriu lerdo e me beijou. Quase morri de vez quando seus beijos desceram até meu pescoço, é, Wonwoo estava bêbado mesmo. Porém, ninguém parecia se importar com seu surto de afeição por mim; pude ver Suyeon correr até Minghao e Seungkwan e os três, cada um, virarem um copo de bebida, enquanto Hansol tentava controlar Seungkwan e Jun gritava para beberem mais; Soonyoung perambulava pelo salão gritando o nome de Chan, dizendo que o amava. Estava tudo um caos.

No entanto, decidi parar de me preocupar e aproveitar minha última noite em Siena junto de meus amigos e meu namorado. Espero nunca esquecer este momento.

Acordei, no outro dia, com Wonwoo em meus braços. A luz batia diretamente em seu corpo, o fazendo brilhar. Fiquei uns cinco minutos só o observando, ele é tão lindo. Afaguei suas costas nuas e suspirei, enfiando meu rosto em seus cabelos e sentindo seu cheirinho doce. Esse meu ato pareceu o acordar, pois, Wonwoo soltou um gemido de protesto e abriu os olhos, me encarando com irritação.

— Bom dia, flor do dia. — Lancei a ele um sorriso.

Wonwoo me olhou por mais um tempo e então fechou os olhos, se aconchegando mais em meus braços.

— Não queria ter acordado hoje.

— Por que?

— Você sabe o porquê. — Ele disse, baixinho, me abraçando mais forte.

Soltei um suspiro e olhei o teto. Hoje é o dia em que eu e Suyeon iríamos embora de Siena. Nunca parei para pensar em como seria quando esse momento chegasse, parecia tão longe, como se nunca fosse acontecer. Me sinto mais ansioso do que no dia em que eu cheguei, a ideia de deixar tudo isso para trás, todos que conheci aqui, me entristecia ao extremo. Os dias passaram tão rápido...

— Fique aqui. — Wonwoo sussurrou em meu ouvido — Fique comigo.

Afastei-me dele e toquei seu rosto, ele me encarava com seus olhos azuis marejados e eu jurei ouvir meu coração se partir.

— Eu não posso.

Wonwoo fechou os olhos e se inclinou na direção do meu toque.

— Eu sei.

Juntei nossos lábios delicadamente, o saboreando lentamente, como se fosse a última vez que provaria de seu gosto. A mera ideia de deixar Wonwoo para trás já era o bastante para me fazer chorar, sinto que jamais encontrarei alguém como ele, e meu peito dói, sabendo que é verdade.

— Eu posso ir com você. — Wonwoo, novamente, quebrou o silêncio — Me adaptar ao seu mundo e viver contigo.

— Não seria justo. Você tem uma vida aqui, Wonwoo.

O mago se afastou e se sentou, ficando de costas para mim. Ele chorava baixinho.

— Eu não quero que você vá, Mingyu. Eu quero viver com você.

Não consegui responder, apenas apoiei meu braço sobre meus olhos e deixei as lágrimas caírem. Odeio despedidas. Talvez vir para Siena não fora obra do acaso, irei levar para o resto da minha vida o que aprendi e experienciei aqui; no entanto, passei a odiar o destino quando este decretou que eu e Wonwoo não poderíamos terminar juntos. Em parte foi minha culpa, eu sabia que, em algum momento, teria que ir embora, eu não devia ter me apegado a alguém desse jeito.

— Desculpe, Wonwoo. — Solucei e encarei sua figura turva ainda de costas para mim — Por te fazer sofrer assim. Eu não queria...

— Não diga mais uma palavra. — Ele se virou para mim, seus olhos estavam laranjas — Sim, nosso destino estava fadado à tristeza, mas, em nenhum segundo, por mais mínimo que seja, eu me arrependi de tê-lo conhecido, Mingyu. Você... Você me mudou. Você me deu uma nova perspectiva. Você me ensinou o que é amor de verdade. E, por isso, eu lhe carregarei em meu coração para todo sempre.

Me ergui de uma vez e o beijei com força, digerindo aquelas palavras lentamente, mais e mais lágrimas escorrendo de meus olhos a cada segundo que se passava.

— Eu também, Wonwoo. — Falei, ofegante, olhando dentro de seus olhos castanhos — Conhecer você foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Tudo o que vivemos aqui... Nunca vou esquecer. Meu coração será seu para sempre.

Wonwoo, aos poucos, abriu um sorriso, ao mesmo tempo que seus olhos se coloriram de rosa claro. Levei meu tempo observando seu rosto rubro e seu sorriso doce, tentando grava-los em minha mente para que eu nunca os esquecesse. Nos vestimos devagar, e, ao terminarmos, ficamos um tempo abraçados. A porta de meu quarto parecia ser feita de espinhos quando eu a abri. Fui surpreendido por Jihoon, que estava parado no meio do corredor. Ele pareceu acordar de um transe quando me viu.

— Oh, bom dia, majestade. Eu ia chamá-lo. Bom dia, Wonwoo.

— Bom dia, Jihoon. — Lancei a ele um sorriso fraco enquanto Wonwoo só balançou a cabeça.

— Sooyoung lhe espera no jardim. — O mais baixo voltou a falar, baixando o olhar — Todos já estão lá, majestade.

— Não precisa me chamar mais de "majestade". — Soltei um risinho — Você que é o rei agora.

— Mas, você, Mingyu... — Ele murmurou, erguendo os olhos até mim, eles estavam marejados — Sempre será o verdadeiro rei de Siena. Nunca esqueceremos você.

Soltei uma risada amarga e me inclinei, o abraçando com força. Me surpreendi quando os bracinhos alheios agarraram minhas roupas, apertando meu corpo da mesma maneira.

— Obrigado, Jihoon. — Funguei e me afastei dele, pude ver algumas lágrimas escorrerem dos olhos alheios.

— Eu que agradeço, majestade. E, novamente, me desculpe por tudo.

O caminho até o jardim foi silencioso. Tentei não prestar atenção na mão trêmula de Wonwoo entrelaçada na minha. Ao chegarmos, pude ver Suyeon agarrada a Minghao, os dois chorando que nem crianças. Sooyoung estava lá, plena, com seu corvo no ombro, segurei a vontade de esgana-la quando a bruxa se virou e sorriu para mim.

— Olá, Mingyu.

— Mingyu! — Soonyoung veio correndo na minha direção, pulando em meu colo em seguida — Não vá embora!

— Também vou sentir sua falta, parceiro. — Soltei uma risada e afaguei suas costas, continuando a me aproximar do resto.

— Ouvi dizer que tulipas são suas flores favoritas. — Seungkwan fungou e me entregou um saquinho marrom — São sementes. Vão florescer e sobreviver durante muito tempo em qualquer solo.

— Ah, Kwan. — Senti meus olhos lacrimejarem.

— Solta ele, Soonyoung, eu quero meu abraço também.

O duende fez um muxoxo, mas desceu de meu colo. Seungkwan me abraçou com força e tremeu levemente.

— Vou sentir sua falta, Mingyu.

— Eu também, Seungkwan.

Quando a fada me soltou, Minghao correu até mim e me abraçou, dando soquinhos em minhas costas, enquanto repetia que eu era um bobão. Soltei uma risada e afaguei seus cabelos. Jun veio logo depois, colocando um braço em meu ombro e me olhando intensamente.

— Sua história jamais será esquecida, Kim Mingyu. Farei questão de contá-la.

Sorri em agradecimento e observei Hansol se aproximar de mim, lentamente. Seu rosto estava vermelho, mas, mesmo assim, ele me olhava nos olhos.

— Conhecê-lo foi uma dádiva, majestade. — Ele segurou minhas mãos — Obrigado por tudo.

— Eu que agradeço, Hansol. — Funguei enquanto segurava as lágrimas — Espero que viva alegremente de hoje em diante.

— Eu vou, sim. — O garoto sorriu e olhou Seungkwan. A fada baixou o olhar, constrangida, enquanto pequenas rosas vermelhas cresciam em seus cabelos.

Ergui a cabeça e respirei fundo. Meu último dia em Siena. De longe, pude ver Seungcheol e Jeonghan juntos, no meio das flores. Eles sorriram para mim e se curvaram, desaparecendo jardim a dentro.

— Majestade. — A voz de Chan me trouxe para a realidade — Tem alguém aqui que também quer se despedir.

Um canto de andorinha chamou minha atenção. No ombro do Guardião havia um pequeno pássaro azul, batendo as asas alegremente. Sorri, finalmente deixando as lágrimas caírem, e toquei a cabeça de Jisoo.

— Oi, amigo. — Afaguei seu pescoço enquanto olhava em seus olhos escuros — Obrigado pelo que fez por mim. Você é a fada mais corajosa que eu conheço.

A andorinha cantou e voou até meu rosto, me observando por mais um tempo. E então, enquanto eu encarava o pequeno rostinho daquele pássaro, a voz doce de Jisoo reverberou em minha mente, dizendo:

— Espero que encontre sua felicidade, majestade.

E voou céu afora. Sequei meus olhos e vi Suyeon se aproximando de mim. Ela tinha o rosto inchado de chorar, mas ainda sim sorriu na minha direção.

— A-Antes de tudo, meu Guardião. — Seungkwan quebrou o silêncio — Eu queria lhe pedir uma coisa.

— Sim? — Chan sorriu, como se já soubesse o que era.

— Quero me isentar do meu cargo em seu jardim. — Seungkwan se curvou.

— Posso saber seu motivo? — O Guardião perguntou, suavemente.

— Quero viver com Hansol. — Seungkwan disse prontamente. Pelo canto do olho, vi Wonwoo abaixar a cabeça.

— Se é o que deseja, então que assim seja. — Chan afagou os cabelos da fada e olhou Soonyoung — Você... Deseja ocupar o lugar de Seungkwan e viver comigo em meu jardim?

Soonyoung arfou, o rosto se tornando totalmente rubro, e encarou Wonwoo.

— E-Eu posso? — O mago assentiu, e Soonyoung soltou um gritinho, beijando Chan em seguida — Eu aceito!

Aquilo fez todos ali rirem — menos Sooyoung, ela apenas revirou os olhos —, quebrando um pouco do clima triste. Senti uma mão em meu ombro e reconheci o rosto se Seokmin.

— Desculpa a demora, majestade. — Ele suspirou — Andar ainda é um grande esforço para mim.

— Sem problemas. — Sorri e toquei sua mão — Você está bem?

— Muito melhor. — Seokmin sorriu, seu sorriso voltara a ser brilhante e deveras contagiante, suspirei aliviado — Tudo graças ao senhor. Nunca esquecerei do que fizera por mim e por Siena.

— Obrigado, Seokmin. — Balancei a cabeça e ele me soltou, se apoiando em Jihoon em seguida — Espero que você seja feliz, juntamente de Jihoon.

— Eu vou. — O guarda disse, firme, e encarou o rei ao seu lado com um sorriso bobo no rosto.

— Pois, então, a hora é agora. — Sooyoung bateu palmas e seu corvo grasnou, percebi, em seu pescoço, um colar com um pequeno pingente preto. Imaginei se aquilo era o que restou do Monstro.

— Apressada você, né? — Suyeon resmungou e a bruxa sorriu ladina.

— Irei sentir falta de você e desse seu sarcasmo, meu docinho.

Suyeon cruzou os braços e desviou o olhar, seu rosto se enrubescendo no ato. Balancei a cabeça e olhei a bruxa.

— Estamos prontos.

— Mingyu...

Virei o rosto na direção da voz baixinha de Wonwoo. Ele se aproximava de mim, e olhos azuis me encaravam com toda tristeza do mundo.

— Eu amo você.

— Eu também amo você, Wonwoo. — Reprimi um soluço e toquei em seu rosto — Meu coração é seu.

— E o meu é seu. — Ele sussurrou e beijou meus dedos.

Sooyoung fechou os olhos e ergueu as mãos, uma névoa densa cobriu tanto a mim quanto Suyeon. Arfei de susto e agarrei a mão de minha amiga, encarando seu rosto. Ela balançou a cabeça e fechou os olhos, respirei fundo e fiz o mesmo. Me senti cansado, meu corpo pesou e eu adormeci. Acordei de supetão, soltando um grito no processo. Pisquei rapidamente e tente me situar.

— Mingyu? — A voz de minha mãe me assustou. Ela abriu a porta do meu quarto e me encarou, preocupada. Ela ainda vestia seu roupão de dormir, então presumi que acabara de acordar — Meu querido, você está bem?

— E-Estou, mãe. — Respirei fundo, observando as paredes do meu quarto. Fazia tanto tempo desde a última vez que dormi ali, eu me sentia estranho — Foi só um pesadelo.

— Ah, que susto! — Ela colocou a mão no peito — Deve ter sido por causa daquela feirinha de ontem. Vocês ficaram até tarde da noite por lá. Ah, bom dia, Suyeon!

— Bom dia, tia. — A dita cuja respondeu, só então percebi que ela dormira ao meu lado na cama. Suyeon parecia tão perdida quanto eu.

— Bom, já que os dois estão de pé, se arrumem e venham tomar café!

Assenti com a cabeça e a observei fechar a porta. Olhei minha amiga e vi que ela encarava as mãos com um olhar perdido.

— Não foi tudo um sonho, não é? — Ela murmurou, seus olhos se lacrimejaram instantaneamente.

— Não. — Toquei sua mão e sorri minimamente — Não foi.

Suyeon soluçou e me abraçou, chorando em seguida. Beijei o topo de sua cabeça e comecei a chorar junto dela. Talvez doeria menos se realmente fosse tudo um sonho. Ou talvez não. Não sei. Só sei que esse vazio em meu peito vai demorar para cicatrizar.

O mês passou rápido e minhas aulas começaram. Eu e Suyeon nos tornamos ainda mais próximos, porém, nos últimos dias de férias ela arranjou uma namorada e esqueceu de mim. Chorei um pouco, mas vou sobreviver. Às vezes, no fim de tarde, eu me apoiava na cerca da entrada da minha fazenda e observava toda sua imensidão, observava as árvores, o capim, as vacas e os cavalos, e lembrava de Siena. O rosto de Wonwoo aparecia todas as noites em meus sonhos, e, na maioria das vezes, eu acordava chorando.

No momento, como era domingo e não tinha aula, eu estava deitado no meio do pasto junto das vacas. Era início de tarde e o sol queimava minha testa, mas eu não me importava. Ouvi um barulho de capim se mexendo ao meu lado e pensei que fosse outra vaca se deitando junto a mim, então continuei de olhos fechados, aproveitando o silêncio.

— Olá, Mingyu.

Me levantei de uma vez com o susto, arfando de desespero. Algumas vacas saíram correndo no processo, mas não me importei. Chan estava ali, sentado ao meu lado, sorrindo na minha direção.

— C-Chan? O que... Como você...

— Decidi lhe fazer uma visita. — Ele tocou a grama, uma brisa refrescante balançou meus cabelos — Queria vê-lo uma última vez.

— Sabe, teve momentos em que eu quase acreditei que tudo aquilo fora um sonho. — Comentei, ainda atônito — Então... Vê-lo aqui me deixa estranhamente aliviado.

— Fico feliz. — Chan riu — Siena está prosperando, graças a você. Jihoon cumpriu a promessa que fez a você, está sendo um rei bom e justo.

— Ele pediu o Seokmin em casamento?

— Ainda não.

— Droga.

Chan sorriu e ergueu a cabeça, só então percebi o quão bonito ele era.

— Tudo voltou ao normal. Sooyoung viajou para outro reino, Seungkwan continua trabalhando no castelo junto de Hansol, Soonyoung vive comigo no meu jardim, e Minghao e Jun ainda servem Wonwoo.

Engoli em seco ao ouvir aquele nome. Meu coração se acelerou loucamente e senti minhas mãos tremerem.

— Ele... Ele está bem? — Perguntei, pigarreando — Wonwoo está bem?

— Ele está se curando. — Chan balançou a cabeça — Aos poucos, bem devagar. Mas ele ainda procura por você, todos os dias.

Meus olhos encheram d'água e eu reprimi um soluço. Meu coração batia tão forte que pensei que fosse sair de meu peito.

— Eu sinto falta dele.

— Eu sei, minha criança. — O Guardião sorriu, doce — Wonwoo também sente a sua. Ouvi dizer que ele plantou um canteiro de dentes-de-leão no jardim de sua casa, e, todos os dias depois de se levantar, ele vai até este canteiro e assopra um dente-de-leão, desejando que, em sua próxima vida, vocês se encontrassem novamente e ficassem juntos.

Enterrei meu rosto em minhas mãos e soltei o choro entalado em minha garganta. A saudade de Wonwoo ainda doía, me rasgava por dentro. Pensei que depois de um tempo a dor sumiria, mas ela fez foi piorar. Eu queria tanto encontrá-lo de novo, senti-lo novamente em meus braços, ah, como eu odeio o destino.

— Diga para ele... — Falei entre soluços — Diga que eu o amo, que também procuro por ele todos os dias, e que não pararei de procurar até encontrá-lo.

Chan sorriu e tocou meu rosto, beijando minha testa em seguida. Me senti mais calmo, um calor confortável preencheu meu corpo fazendo com que eu suspirasse aliviado. Chan me olhou intensamente e afagou minha bochecha.

— Fique bem, majestade. Até uma próxima vida.

E sumiu, deixando para trás uma sombra dourada. Caí na grama novamente e voltei a observar o céu. Eu pensava em nada, apenas olhava aquela imensidão azul e ouvia as vacas mugindo à distância. Acordei de meu transe com minha mãe berrando meu nome. Me ergui lentamente e respirei fundo, olhando a grama verde. Surpreendi-me ao ver um pequeno dente-de-leão perto de meu pé. Peguei o bendito e me levantei do chão.

Olhei para o horizonte e suspirei. Desejei voltar para Siena mais uma vez, ver meus amigos e me divertir com eles. Desejei voltar para Wonwoo. Desejei sentir seu toque sobre o meu outra vez, sentir seu beijo, ver seu sorriso e ouvir sua risada. Desejei que, mesmo que demorasse anos, eu o encontrasse novamente, e que soubéssemos que fomos feitos um para o outro. Desejei que, da próxima vez, eu e Wonwoo ficássemos juntos para sempre.

E então, assoprei o dente-de-leão.


Notas Finais


e acabou :( chorei bastante escrevendo esse capítulo, não vou negar
recomendo vocês ouvirem a música dandelions, da ruth b., eu me inspirei nela para fazer esse final hihi
espero que tenham gostado!!
obrigada por acompanharem this is (not) a dream, e me apoiarem no decorrer dela, eu não teria conseguido sem esse apoio ❤️
até uma próxima história!!


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