1. Spirit Fanfics >
  2. This strange feeling >
  3. Exposição

História This strange feeling - Exposição


Escrita por: laranjinhamec

Notas do Autor


Mais um "capítulo gatilho"
mais uma dificuldade pra escrever e controlar minhas emoções.
Peço desculpas antecipadamente se ele causar mal estar em alguém.
Não vou dizer mais nada sobre isso.
Quero agradecer a todos que acompanham essa fic que tá sendo uma das melhores experiências que eu já tive de soltar minha imaginação e escrever; agradeço também a quem dedicou um tantinho do seu tempo pra comentar nela, vocês me fazem muito feliz! sério!
(PS: Essa semana aluguei "As you are" pra quem não sabe, o primeiro filme do Charlie Heaton. E esse filme foi um dos mais intrigantes que eu já assisti.)

Capítulo 12 - Exposição


Hawkins – Indiana – 1983

(Jonathan)

Aqueles dias passaram tão rápido que eu mal pude acreditar. As coisas na minha vida mal pareciam ser real de tão boas. Fui por tanto tempo uma pessoa infeliz e rejeitada que quando me senti pela primeira vez saber o que estava fazendo da vida e me senti amado, quase pude dizer que era outra pessoa, não eu que estava vivendo minha vida.

Pela primeira vez eu começava a acreditar no futuro e me sentir digno de perseguir meu sonho. A ideia de deixar Hawkins começava a tomar forma na minha cabeça.

Naquela noite, enquanto minha mãe preparava o jantar, tomei coragem e fiz a pergunta que estava na minha cabeça o dia todo.

 

- Mãe.. será que a gente pode conversar? - perguntei enquanto colocava os pratos na mesa. Will estava no quarto jogando.

-Mas é claro querido, sobre o que exatamente?

-Mãe, eu... eu quero ir pra faculdade!

No momento em que eu disse aquilo, os olhos da minha mãe brilharam até se encherem de água.

- Querido! Mas isso é maravilhoso! - ela largou os pratos e veio me abraçar do outro lado da mesa.

-Mas eu não sei por onde começar, ainda é só uma ideia – acrescentei na defensiva.

-Se é uma ideia, vamos fazê-la florescer! Meu amor, você pode fazer tudo o que quiser! Eu acredito em você, é esforçado e talentoso. Além do mais, tem todo o talento necessário para conseguir a bolsa. Você vai ver!

- Mas mãe, a bolsa é muito difícil, são centenas de concorrentes e portfólio qualificado..

- Não quero saber de nada disso, você é você e os outros são os outros! Filho, você tem tanta chance! Procura se dedicar agora. Vai dar certo! - ela levantou os polegares e sorriu.

Eu amava tanto o entusiasmo que minha mãe tinha que acabei sendo contagiado também por ele. Será que ela entenderia que a fonte de outro entusiasmo é que tinha me feito ter essa ideia de entrar para a faculdade? Será que ela aceitaria que seu filho amava outro garoto?

Minha mãe sempre nos criou com a máxima liberdade possível. Apesar de passarmos por períodos turbulentos tanto com meu pai quanto com Lonnie. Ela não era uma pessoa de mente fechada, até porque a nossa vida não nos permitia ser assim. Podíamos muito bem ter nascido em uma comunidade hippie que não ligaríamos. Aprendemos desde cedo a nos virar, e esse era o tema máximo de nossa família.

No entanto, eu não sentia a segurança que eu deveria sentir. Lonnie sempre fazia questão de lembrar o quão aberração eu era por não conseguir fazer “as coisas de homem” que ele achava que todo garoto deveria fazer. Cresci com o estigma de que ser daquela maneira era errado e que o problema estava em mim. Eu já havia me relacionado com outros garotos, mas eram coisas das quais eu me envergonhava. Eles me faziam sentir-se sujo, culpado. Eu sempre me sentia usado por eles quando eles iam embora sem me dar qualquer explicação. Mais tarde comecei a entender o que eles faziam comigo e chorava sozinho no meu quarto me sentindo a pior pessoa do universo.

Quando conheci Steve, me apaixonei por ele no seu simples ato de me defender dos garotos. Talvez não tenha sido intencional, mas aquele era o sinal que eu precisava pra entender que ele era diferente de todos que eu já havia conhecido. Ele me deixou seguro.

O que temos não pode ser errado. Como algo que faz com que eu me sinta seguro e pleno pela primeira vez na vida pode ser errado?

Os outros é que estavam errados.

- Tá bom, você venceu... - admiti certa noite para Steve em seu quarto. Seus pais haviam saído e eu tinha escalado a janela, já estava ficando bom naquilo.

- O que? - perguntou interessado na vitória inesperada de qualquer coisa que fosse.

- Eu falei com minha mãe sobre ir pra faculdade.

- E? - perguntou ansioso

- Ela me deu o maior apoio, como você.

- Mas é claro que ela te apoiou porque é o que você deve fazer, Jonathan! Eu não estaria sendo tão insistente se eu não achasse que você não tem talento pra fotografia!

 

Olhei em seus olhos, podia sentir a verdade impressa neles.

 

- Mas digamos que eu consiga mesmo ir pra faculdade, e quanto a você? O que você faria? - me sentei ao seu lado na cama.

 

Ele me encarou por um momento, depois de um breve momento de silêncio.

 

- Você quer dizer, se mudaria alguma coisa entre a gente?

- Não sei... - passei a mão pelo cabelo meio sem jeito.

 

Passeei pelo seu quarto. Tinha um toca-discos no canto. Comecei a bisbilhotar seus discos à procura de algum interessante.

 

- Céus! Você só ouve.. deixa eu ver.. pop, disco... - fui enfileirando os discos – Sério? Corey Hart?

- Ei! qual é? Decoração e estilo musical não se critica! Seja mais educado, Byers! Aliás, essas são ótimas bandas e fique sabendo que “Sunglasses at night” é meu hino pessoal!

 

Tirou os óculos da gaveta e começou a dançar a música de um jeito desajeitado hilário. Uma imitação perfeita do Corey Hart

 

- Ah, para com isso! - tirei onda com a cara dele e joguei o travesseiro em sua direção.

- E o que você sugere então?

- Não curte rock? Nadinha?

- Elvis Presley, Beatles também é legal.. - divagou

- Suas influências são boas.. para um senhor de 50 anos – Eu ri – O rock é isso também, mas existe muito mais, tão mais que você não imagina.

 

Ele pegou minha mão fazendo uma reverência - Poderia me dar uma aula, senhor?

- Não poderia deixar sua pobre alma sem se perder não é? - me levantei do carpete e fui até a minha mochila, de onde tirei uma fita mixada que eu tinha gravado.

- O que é isso? Obviamente é uma fita, mas como conseguiu?

- Eu tenho alguns segredos pra mostrar pra você – sorri enquanto colocava a fita no aparelho de som. Inclusive depois dessa você vai descobrir que tem muito mais de onde veio.

 

Apertei o play e a música começou a tocar. “Nocturnal Me” do Echo and the Bunnymen. A melodia apressada e forte dos acordes de violino e violão logo tomou conta do quarto. Ele se sentou perto do som olhando o teto e escutando a música estupefato. Quando a música acabou, ele olhou pra mim.

 

- Pensei que fôssemos ouvir rock pesadão.

- Nós vamos, mas primeiro vamos ouvir outras coisas, mas com algo em comum. Todas as canções que eu vou te mostrar são mágicas, e essa é uma delas.

 

“When I'm on fire/My body will be/Forever yours Nocturnal me”

(Quando eu estou em chamas, meu corpo sempre será, pra sempre seu, meu “eu” noturno)

 

O poder daquele verso nos absorveu por um momento. Aquilo queria dizer que enquanto aquele sentimento nos dominasse, nada seria capaz de nos fazer sentir daquela maneira.

 

- Sabe, sinto que eu vou adorar essa educação musical – ele disse enfim levantando e despertando do estado contemplativo – mas seria legal que eu te mostrasse algo também.

- É, seria bom também.

- Já que você veio à minha casa e ofendeu meu gosto musical – ele disse em um tom de como estivesse falsamente ofendido.

- Não foi essa a intenção, minhas sinceras desculpas! - falei em um tom trágico.

- Então, eu pensei... você aceitaria aulas de Baseball?

- Eu não tenho coordenação motora pra isso, pode acreditar, Steve! - a ideia de rebater uma bola com bastão me fazia lembrar das experiências desagradáveis da escola.

- Ah, qual é, vamos tentar! - ele pediu – pode ser quando não estiver ninguém na escola.

 

Ele fez uma cara pidona a qual ninguém resistia

 

- Tá.. tudo bem – suspirei

- Oba! - comemorou como alguém que tinha vencido duas vezes na mesma noite

- Está tarde, tenho que ir, a gente se vê amanhã!

- Tá, pega sua fita – ele a retirou do aparelho e me entregou

- Não, agora você fica com ela e me diz o que achou do resto

- É? ok então!

 

Antes de sair, o telefone tocou, e Steve desceu as escadas para atender. Mas sua fisionomia logo fechou-se seriamente. Pude ouvir ele gritar com alguém mas não entendi direito o que ele disse e os pais dele chegaram em seguida. Pulei rapidamente a janela e escalei o teto para descer vizinho a escada.

 

No dia seguinte, tomei café apressadamente para ir à escola, pois já estava muito atrasado para a primeira aula. Saí correndo sem ao menos me lembrar de trazer o almoço. Fiz o percurso rapidamente e quando cheguei, dei de cara com uma multidão de alunos enorme ainda do lado de fora parecendo observando algo pichado no muro.

 

“O orgulho de Hawkins na verdade é gay”

 

Todos pareciam perceber o significado oculto naquela frase. Quando o time de Steve ganhou no estadual, o diretor o chamou de “Orgulho de Hawkins” por marcar o último ponto da partida. Já podia ouvir os risinhos e comentários sobre o Steve nos corredores.

Meu sangue fervia e congelava ao mesmo tempo quando entrei pra pegar meus livros e ir pra aula. Enquanto eu passava, podia observar praticamente todos os alunos me olhando com expressões variadas no rosto. Entre deboche, nojo, raiva, reprovação.

Quando eu entrei, dei de cara com uma cena que demorou pra sair da minha cabeça. O professor de Biologia estava atônito com o que acabara de ver tanto quanto eu.

 

- Alguém por favor pode me explicar o que significa isso?

 

Dezenas de fotos minhas e de Steve cobriam o quadro-negro inteiro. Nossos momentos íntimos de mãos dadas, nos beijando, e juntos na campina estavam lá expostas. E pichado em vermelho em cima delas estavam duas palavras.

 

“Gays nojentos”.

 

 


Notas Finais


A fanfic passa a partir desse momento para o ano de 1983, ano que as coisas da série estão na primeira temporada \o/


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...