História Throne - Eu não preciso de um poder para vencer

Em um quarto escuro e quase vazio, onde existia apenas uma cama velha. Uma pessoa dormia completamente coberta.

Passados alguns minutos, o indivíduo começa a despertar, se levantando devagar. Caminhou calmamente ainda coberto com o lençol branco até um banheiro sujo, lá ele soltou o tecido, revelando um corpo magro, levemente musculoso. Era coberto por cicatrizes e uma única tatuagem, essa que cobria toda a sua costa. Era o desenho de um par de assas pretas.

O seu cabelo verde cacheado estava completamente bagunçado. Seu rosto também possuía algumas cicatrizes, além de dar um leve contraste para as sardas, onde cobriam o seu corpo em conjunto com os ferimentos recentes.

Por mais que não parecesse, ele era um adolescente, mesmo que sua expressão mostrasse outra coisa.

O garoto entrou em uma banheira cheia de água morna.

Deve ter sido ela que colocou essa água.... Pensou enquanto olhava ao redor, encontrando uma barra de chocolate.

- Era a minha favorita...

[...]

Midoriya Izuku. Antigamente sonhava em se tornar um herói, admirava All Might.

Midoriya Izuku. Atualmente... Bom, sua vida deu um giro de 180°, se tornando algo que nunca desejou ser um dia. Assassinou inúmeros heróis e estudantes de cursos de heróis pelo Japão todo. Estava cansado, não gostava do que aquele mundo se tornou.

Sofreu na pele a repressão por não possuir uma individualidade. As pessoas são diferentes e se você nascer muito fora desse eixo, estará fadado a sofrer. O normal é nascer com um poder, anormal seria se você fosse alguém sem esse poder.

É injusto, não? Midoriya acha que sim. Mas naquela época ele não tinha enxergado isso.

Foi preciso receber um poder a força para perceber. Ao se tornar uma pessoa “normal”, foi nesse momento que percebeu o erro na humanidade.

Era um saco ver tantos heróis de fachada andando por aí. Todos dizendo que desejam só salvar as pessoas, sendo que querem apenas a fama e fortuna que essa profissão gera.

Stain tinha razão, no final.

E mesmo com um poder, Izuku nunca o usou realmente.

Esse poder poderia ajudá-lo a combater os heróis? Sim. Mas ele precisa de um poder para vencê-los? Não.

Midoriya era melhor que isso. Era inteligente o suficiente para lutar contra heróis sem precisar de uma individualidade. E foi isso que ele fez.

Assassinou tantos com individualidades, sem nunca precisar usar seu poder. Os anos em que analisou os heróis profissionais foram o suficiente. Midoriya sabia todas as suas fraquezas e pontos fortes de cabeça. Usava essas informações para lutar contra eles, ao mesmo tempo que espalhava esse conhecimento para organizações criminosas vizinhas, por um preço justo, claro.

Graças a isso, conseguiu armas melhores e agora pode combate-los sem se preocupar. Todos esses heróis são previsíveis ao seu ver.

Parando para pensar. Midoriya já usou o poder que recebeu uma vez, uma única vez.

- Izuku!

Toga se jogou em cima do esverdeado. A loira estava muito animada em rever uma das pessoas que amava. Atrás da garota vinha Twice.

- Continua com o ótimo trabalho! Eu teria feito melhor! Que medo!

Midoriya ficou encarando Jin com um ponto de interrogação na cabeça. Nunca entendeu aquele homem de verdade.

- Poderia me largar, Toga?

Com alguns resmungos, a adolescente soltou o garoto.

Sons de alguém correndo soaram. A porta que dava atrás do balcão do bar em que eles se encontravam foi aberta. Revelando Eri vestida com uma blusa maior que ela.

A menina foi carregada por Toga, e colocada sentada nas pernas da garota.

- Essa blusa não é do Dabi?- Izuku.

- Não conta pra ele!- Eri.

Midoriya apenas levantou os braços para cima, dando de ombros. Não se importava muito com o que acontecia naquele lugar, só não queria ser incomodado.

- Midoriya Izuku.

Izuku olhou para Shigaraki, esse que havia acabado de entrar no bar junto de Kurogiri. Só de olhar para ele, Midoriya já imaginava o que poderia ser.

- Quem é dessa vez...- Izuku.

- O quarto- Shigaraki.

- Hawks de novo? Esse cara já tentou se aliar, só pra descobrir sobre nós, agora fica nos vigando?- Izuku.

- Se ele sabe onde estamos, por que não aconteceu um ataque até agora?- Toga.

- Ele não sabe, mas desconfia- Izuku.

O esverdeado se levantou. Andou apressado até seu quarto, tirou de dentro de uma mala seu uniforme. Colocou uma camiseta azul escuro e uma calça preta. Prendeu ligas em sua blusa, junto com algumas facas.

No cinto da calça, colocou armas e munições. Pegou a jaqueta verde.

Por dentro ela era vermelha e tinha inúmeras facas presas nela. Colocou em cima da cama, checando se estava tudo preso. Assim que confirmou, o garoto vestiu uma blusa branca folgada, e por cima dela um suéter vermelho escuro.

Arrumou a jaqueta em seu corpo e pegou a mochila dentro da mala, a colocando em sua costa. Quando estava pegando a máscara e o óculos, uma voz fina o fez parar.

- Vai embora da novo?- Eri.

Midoriya apenas laçou um olhar frio, ignorando a fala da menina. Diferente do esperado, Eri não se importou e entrou no quarto, se sentando na ponta da cama. Ela olhava o esverdeado arrumando as armas que iria usar.

- Se falar alguma coisa, vou te deixar trancada no quarto- Izuku.

Eri formou um bico chateado. Midoriya era muito bipolar, uma hora sorria por aí, outra ficava com esse olhar frio. A garota já estava acostumada, mas ainda se sentia frustrada, queria passar mais tempo com ele.

Quando ficou pronto, Midoriya saiu do quarto como se Eri não existisse. A criança correu seguindo o esverdeado.

A albina viu Dabi e Mr. Compress no bar. Ela se encolheu quando recebeu o olhar interrogativo de Dabi.

Viu Midoriya sair pela porta sem falar nada. Segurou na barra da calça de Dabi, estava um pouco triste, mas sabia que o esverdeado era uma pessoa ocupada. Sentiu alguém a segurar, sendo colocada sentada no balcão do bar.

- Deixa eu te fazer uma pergunta, criança- Dabi.

- Hum?- Eri.

- Você gosta de ver outras pessoas se machucando ou morrendo?- Dabi.

O moreno sorriu cínico quando viu a expressão assustada da menina.

- N-Não...- Eri.

- Então por que gosta tanto do verdinho? Está ciente que ele sai por aí matando heróis, e ele nem faz isso por obrigação, ele gosta do que faz- Dabi.

- Dabi!- Kurogiri.

Dabi soltou uma risada debochada.

- Deixa ele, Kurogiri. Essa pirralha tem que ta ciente sobre quem está com ela- Shigaraki.

Enquanto Eri, ela não sabia o que responder. Por mais que tivesse receio de ficar perto deles, não é como se fosse um inferno. Essas pessoas são diferentes daquelas que ela viveu por anos. E ficar com aquele grupo estranho era melhor do que com Chisaki.

- Eu só.... Prefiro ficar aqui.... É melhor do que aquele lugar- Eri.

- Interessante. Isso significa que não liga de ficar com vilões- Dabi.

- E-Eu...- Eri.

[...]

Hawks voava por entre os prédios de Kamino. Percebeu que tinha alguma coisa errada, uma chamada de emergência, para ser mais especifico. Tinha uma suspeita do que poderia ser, além disso, achava que algo não cheirava bem.

Ao passar rápido por um espaço entre duas construções vazias, o loiro viu algo suspeito. Na mesma hora voltou, pousando na entrada. Sendo o mais silencioso que podia, adentrou o beco. Seguiu os barulhos estranhos, até encontrar a razão de suas dores de cabeça.

- O que faz aqui, Hawks.

Keigo nem teve a chance de responder. Uma faca foi jogada em sua direção, tendo ela passando de raspão em um de seus braços.

- Isso não é muito gentil da sua parte, sabe.

- Se não fizesse isso.... Eu estaria com suas penas cravadas em meu corpo.

Hawks tirou o sorriso debochado do rosto. Aquele olhar escondido pelo óculos de proteção, aquilo não era um bom sinal. Ele tinha que ser rápido em deter aquele vilão.

Midoriya percebendo a movimentação do herói, retirou uma adaga das costas, usando ela para se defender das penas que voaram em sua direção.

Em um momento, Izuku conseguiu rebater umas das penas de forma que ela quase acertasse o rosto de Hawks, no entanto, o herói a parou a centímetros dele. Os segundos de distração foram o suficiente para Midoriya avançar contra Keigo.

O esverdeado já estava de frente com Hawks. O brilho da adaga reluzindo, com a intenção de cortar o pescoço do herói. Foi muito rápido, e o loiro só teve tempo de evitar um ferimento fatal. Keigo usou suas asas, se jogando para trás a toda velocidade.

Midoriya de última hora, mudou o trajeto, causando um corte em diagonal no peito de Hawks. Com a dor, o loiro perdeu o controle das próprias asas, acertando em cheio a vitrine de uma loja.

O som do vidro se quebrando, em contraste com os gritos das pessoas, principalmente daquelas dentro da loja. Alguns atendentes foram socorrer o loiro caído no meio da loja, ele estava coberto de cortes por causa do vidro.

Hawks viu o vilão andar calmamente na sua direção.

- SAIAM DAQUI!

O grito de Hawks assustou as pessoas ao redor, mas ninguém conseguiu se mexer.

- AGORA!

Mais um grito foi o suficiente para as pessoas saírem do transe. A maioria saiu correndo sem olhar para trás, outras foram ajudar quem estava ferido.

Com certa dificuldade, Keigo saiu de dentro da loja. Ele estava muito ferido e temia ter quebrado algum osso, sem falar do corte que jorrava sangue.

Isso é ruim.... Estou perdendo muito sangue.... Pensou.

Midoriya sorriu por debaixo da máscara. Tirou uma pistola do cinto, dando três tiros na direção de Hawks, esse que desviou das balas por pouco.

Com a adaga, Midoriya partiu para cima do loiro. Hawks usou uma de suas penas para se defender, a usando como uma faca longa.

Os dois travavam uma batalha árdua, sem se acertarem. Hawks já estava impaciente, sentia sua cabeça rodar e a visão embaçar, os movimentos bruscos apenas pioravam seu estado. Midoriya também não permitia que o herói tivesse tempo para descansar, logo seu corpo iria colapsar.

Em um ato de desespero, Hawks lançou varias penas na direção do vilão. Izuku teve que se afastar, dando chance de Hawks voar com as poucas penas que restavam.

Keigo pousou em cima de um prédio, escondido. Estava ofegante e tonto, já havia pedido muito sangue.

Droga! O que está acontecendo? Eu normalmente duraria mais do que isso! Parece que ele consegue ler os meus movimentos.... Talvez seja sua individualidade? Não posso ter certeza ainda.... Pensou.

Ele respirava com dificuldade, olhava os arredores com cuidado. Pensava em alguma saída, aquele homem não deixaria ele simplesmente ir.

- Não tem muita graça se você só se esconder, sabe...

Hawks arregalou os olhos, em conjunto também sentiu um arrepio na espinha. Ele estava atrás de si.

Midoriya passou um de seus braços pelos ombros de Hawks, enquanto o outro apontava uma faca no pescoço do herói. O esverdeado aproximou a cabeça de uma das orelhas do loiro.

- Sabe...

Começou com a voz em um tom risonho.

- Você tem potencial pra chegar no topo, tem muitas habilidades e sei que não conheci todas hoje...

Sussurrava, passando a faca pelo pescoço do loiro.

- Admito que tive receio de enfrenta-lo, de todos no rank 10, você é o único que possui o estilo de luta mais parecido com o meu. Não posso esquecer das suas atitudes duvidosas como herói.

Izuku soltou uma risada baixa.

- Agora tenho confiança o suficiente para enfrentar o top 3.

Em um surto, Midoriya fincou a faca na perna de Keigo. A puxando, formando um corte fundo e longo.

Hawks segurou um grunhido de dor.

Midoriya jogou o homem no chão, em seguida o dando um chute forte no estômago, deixando Hawks sem ar.

Acho que ouvi crack.... Eu to pior do que imaginei.... Pensou.

Midoriya retirou a máscara junto com o óculos. Hawks tentou focar sua visão no rosto do vilão, porém, já não enxergava quase nada, estava tudo embaçado e Izuku se mantinha longe dele.

- Eu queria te matar agora, mas você ainda tem utilidade.

O esverdeado fechou os olhos, sorrindo com o rosto corado. Hawks estava confuso, não escutava com clareza o que ele dizia.

- Não.... Não fique tão.... Confiante.... Eu não sou... Nada comparado ao... Top 3...

Uma risada alta soou pelo telhado vazio. Uma risada estranha. Keigo sentia um enjoo ao escutar aquela risada infantil e... Inocente?

- Você é quem está confiante!! HAHAHAHAHA! ESSES PORRAS QUE SE DIZEM HERÓIS NÃO SÃO NADA!

O rosto normalmente calmo e frio de Midoriya estava retorcido. Uma expressão sorridente e psicopata tomava seu rosto sardento, mostrando claro sinal de loucura.

- E sabe por que eu digo isso? Quer saber, não? Claro que quer saber!

Midoriya se ajoelhou perto do herói quase desacordado. Hawks conseguia ver apenas um sorriso brilhante, quase como uma criança, um sorriso gentil e macabro.

- Eu nem sequer precisei de uma individualidade para te derrotar, número quatro!

Hawks arregalou os olhos.

O que? Pensou.

- Opa! Pelo visto chegaram reforços do seu lado. Preciso ir. Até qualquer dia desses.

Izuku arrumou a máscara em seu rosto. Saindo calmamente do telhado.

Eu não posso deixar isso ficar assim... Droga! Pensou.

Aos poucos a visão de Hawks foi escurecendo, tendo escutado alguém gritar seu nome antes de apagar de vez.