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História Through Your Eyes - Sobre a manhã seguinte


Escrita por: NoahBlack

Notas do Autor


Boa noite!

meia noite no Brasil!

Esse capítulo também tem um andar mais lento, abordando várias conversas durante um curto tempo.

Boa Leitura.

Capítulo 21 - Sobre a manhã seguinte


[Sehun recebido às 02:30] Não quero mais pensar em você!

[Sehun recebido às 02:43] Só consigo pensar em vc.

[Sehun recebido às 02:55] Só queria estar com vc, Nic.

[Sehun recebido às 03:10] Quero estar com vc.

[Sehun recebido às 04:15] Eu te amo.

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– Por que você faltou ontem? O treinador tava uma fera!

– Vê se me erra, YiFan!

– Hey! – Kris encostou no braço de Nic de forma a pedir para que ela lhe encarasse, afinal, chamá-lo pelo nome chinês era mau sinal. – Que foi que eu te fiz?

Mas Nic só bufou, recolhendo o braço e largando o corpo magro e desengonçado em um dos bancos do refeitório.

– Meu pai...

– Te obrigou a experimentar cerveja na frente dele de novo?! – A garota revirou os olhos. – Podia ser, uai.

– Ele comprou uma camisinha. Uma não, um pacote! Você sabia que isso vende em pacotes?!

– Sério?! Achei que tinha que comprar por unidade – a informação realmente chocou o sino-canadense que, de repente, viu como poderia ser econômica aquela ideia, apesar de nunca ter comprado uma camisinha antes. – Queria que meu pai me comprasse camisinhas... Ai, Nic! – Ele massageou a cabeça onde a garota tinha o acertado com um peteleco.

– Eu até poderia te dar as minhas se meu pai não tivesse me mostrado detalhadamente como é que põe uma, aliás, três.

– David te ensinou a colocar camisinha?! – A voz dele soava mais receosa do que deveria; afinal, para quê que Nic precisava saber como colocar uma se ela era uma garota? Garotas não têm pênis. – Pra quê?

– Essa é a pior parte. Meu pai me mostrou um vídeo na internet sobre sexo e partes femininas e... – Nic simulou o movimento de vômito com a boca e depois estremeceu o corpo. – Eu nunca vou fazer sexo, Kris. NUNCA! Meu pai falou que o pênis entra na vagina... não tem como entrar lá! Deve doer horrores isso.

Wu YiFan, ou Kris, como era amplamente conhecido por aquelas bandas do planeta, era um curioso nato acerca do sexo e tinha uma certa coleção de vídeos inapropriados para menores numa pasta oculta em seu laptop. Era também adolescente nos auge dos seus 14 anos que fazia bom uso do tempo sozinho no banheiro e no quarto à noite, antes de dormir.

Ele, ao contrário da amiga – melhor amiga –, queria muito fazer sexo e saber se era tão bom quanto os pornôs mostravam ser. Tinha um ou o outro amigo que juravam de pé junto já terem perdido suas respectivas virgindades, mas Kris não botava muita fé não. Mas olha que legal seria se seu pai, que morava na China, pudesse fazer uns downloads e contar para o filho como era transar com uma mulher e não com a mão direita.

Nic tinha uma sorte do caramba por ter um pai tão descolado como David Humsberg. Até aí ela já tinha muita sorte simplesmente por ser filha dele.

– Se você não quiser fazer é uma escolha sua.

– Mas?

– Mas o quê?!

– Tem que ter um mas nessa sua frase. Você nunca concorda comigo de primeira.

– Mas nada. Se você não quer, não faça. Ninguém vai te obrigar.

– Mas.

Kris chutou uma sujeirinha qualquer no chão.

– Mas – ele começou, torcendo o nariz por ter agido exatamente como Nic previra, - todo mundo faz. Quer dizer, menos os padres e freiras e tal, mas a grande maioria das pessoas faz, então algo de bom deve ter, né?!

– E se todo mundo tiver mentindo e só fazem porque acham que todo mundo faz?!

– Acho que não dá para manter uma mentira por tanto tempo, Nic. Alguém já teria contado, não acha?!

– Mas e se ninguém fala porque tem medo de que só ele ache ruim, mas isso na verdade é com todo mundo, mas ninguém quer falar?!

Kris revirou os olhos. Por que mesmo era amigo daquela garota?

– Você é muito chata, Nic.

– E você ainda me ama.

– Pra caralho, aliás.

E era bem verdade. Existem poucas certezas de que se dá para ter aos 14 anos, e uma delas era o fato de que Kris sabia que amava a amiga. Nic era o melhor exemplar feminino daquele mundo; jogavam basquete juntos e ele até ousava, às vezes, considerar a hipotética ideia de que ela poderia ser um pouquinho melhor que ele; todo dia de manhã ele passava na casa dela para irem andando até o colégio e depois do treino voltavam juntos no mesmo ônibus – porque ela dizia que estava muito cansada para andar. Ela gostava dos mesmos animes que ele e tinha pais divorciados e morando em países diferentes.

Nic não tinha uma boa relação com a mãe e foi por isso que pediu para vir morar com o pai – e quem é que não gostaria de morar com o pai quando ele era o seu?! – e Kris não tinha uma relação próxima ao pai, mas mais pelo simples fato de ter se mudado muito criança para o Canadá com a mãe. Porém, ele entendia muito bem o sentimento dela de não estar em casa e, ainda por cima, ter que se virar num outro idioma.

Aos finais de semana, David conseguia algumas entradas para os dois irem aos jogos das temporadas e até teve uma vez em que foram para os EUA ver o jogo do WEST X EAST. Kris achou sensacional, ainda mais quando quase todos os jogadores foram cumprimentar David depois do jogo.

Bem a verdade, naquela Vancouver de clima meio estranho, eram ele e Nic contra o mundo, construindo o sonho de quererem ser grandes enquanto dividiam o mesmo cobertor na sala da casa de sua mãe ou segredavam um ao outro o medo de nunca terem sucesso em nada.

– Kris?!

– Hm?!

– Você quer... sabe, transar?!

Os olhos do menino se arregalaram.

– Agora?!

– Não, Kris! Não é isso que eu perguntei. Na vida, com alguém... sabe?!

– Eu quero. Você é que não quer.

– É que... droga! Meu pai disse que a minha primeira vez vai ser horrível e que provavelmente vai ser com alguém de que eu nem goste. Isso não é horrível?! Quer dizer... e o lance do amor?

– Meninas querem amor, Nic. Garotos querem transar. Só isso. Simples.

– Eu não quero que seja com qualquer um... quer dizer, a perspectiva de estar pelada para um desconhecido é muito estranha.

– Eu não vejo problema nenhum. Minha nudez é linda – e abriu um largo sorriso jocoso para a amiga.

– Você é muito esquelético, Kris. Até seu reflexo no espelho não quer te ver pelado.

– Você nunca me viu sem roupa; não pode falar isso!

– Eu não preciso ver quando o que me é revelado todo dia com esses bracinhos finos nessas blusas largas me dá material o suficiente para saber que você, com muito esforço, deve atingir o mínimo de peso para sua estatura e idade. Venha, temos aula de matemática e o Sr. Hautman odeia que cheguemos atrasados.

– Eu tenho um peso bom e estou em fase de crescimento e você me faz chegar atrasado nas aulas, sua... sua...

– Só para avisar que a palavra que você está procurando é procrastinadora.

– Sua chata! Era isso que eu ia dizer. E pode ir na frente que eu preciso ir ao banheiro.

Nic não era inocente a ponto de achar mesmo que falaria sobre sexo e afins e ele não teria uma ereção rapidamente, certo?! Mas, mesmo que Kris se considerasse bom naquele negócio de ereção, ainda não tinha controle sobre, tornando muito, mas muito difícil mesmo o processo de desfazer-se daquilo. Não que ele entendesse o por quê de precisar aprender isso, afinal, que homem queria se livrar do pau duro?! No entanto, pareceu bem apropriado encontrar um jeito agora que estava no meio do colégio e vestindo uma calça moletom.

Pensar em sexo e amor, mesmo que algo dentro de Nic dissesse que não estavam diretamente relacionados, a remetia a pensamentos que não queria lidar, como a ideia de que seus pais fizeram isso, algumas boas vezes, para que ela própria viesse a esse mundo. E que, por muito tempo, eles fizeram isso e, em algum momento, eles provavelmente continuaram fazendo isso, mas sem amor.

Porque não dá para criticar tanto uma pessoa se existe amor. Certo?!

Foi com um isso na cabeça que dispensou a companhia do melhor amigo porque iria de ônibus para o outro lado da cidade para pegar o pai de surpresa na produtora. Poderia ter convidado Kris para ir junto, nem ela e nem o pai se importariam, mas queria sentir seu conflito sozinha por um instante.

Kris, obviamente, entendeu e disse que ligaria para ela à noite. Assunto entre os dois era o que não faltava e, mesmo passando praticamente o dia inteiro colados, ainda precisam de mais tempo depois do colégio para traçarem outras teorias malucas sobre o mundo.

O recepcionista era uma cara bem grande, em todos os sentidos, com a pele ébano reluzente e coberta por tatuagens cujas histórias Nic já sabia de cor.

– Seu pai tá no meio de uma gravação, Nic. – Ele avisou com aquela voz de trovão quase a assustando mesmo estando atenta ao homem.

– Tudo bem, Sr. Kyle. Vou esperar aqui mesmo.

– Você pode ir para a sala dele.

– Não... aqui tá bom. Lá tem muita informação e pode distrair minha linha de raciocínio. – E então se sentou numa das cadeiras confortáveis de recepção e olhou para os tênis de basquete que outrora foram pretos e agora só pareciam sujos e desgastados.

– Tá tudo bem?

– Tá sim.

– Você não costuma vir muito aqui, sabe, Nic... então, se quiser conversar...

A verdade é que ninguém está de fato interessado nas peripécias de uma adolescente. Nic sabia disso tão bem que a única pessoa com quem se abria era Kris. Com o pai... bem, seu pai tinha uma visão um pouco diferente sobre paternidade. Seja um pai relativamente presente na primeira infância, troque um pouco menos que meia dúzia de telefonemas quando se separar da mãe da sua filha, diminuía a frequência com os anos e não esteja preparado para recebê-la em sua casa.

Nic demorou seis meses para ter um quarto com coisas somente suas e não ter que dividir ou com os livros do pai, ou a coleção de discos, ou o que fosse mais que ele destinou para o que jurava ser o quarto dela no plano original.

E adicione a tudo isso o fato dele achar que tinha que ser cool e comprar a primeira bebida alcoólica quando a mesma não queria. E esse era só um dos exemplos.

– Sr. Kyle? – Chamou depois de um bom tempo presa num silêncio intrigante. – O senhor já fez sexo?

Observou o homem se engasgar e começar a tossir sucessivamente, dando alguns tapas no peito, o que fez Nic pensar se ele tinha algum problema pulmonar.

– Como é que é?

– Sexo. Homem e mulher... ou homem e homem; não sei qual a sua preferência.

– Que tipo de pergunta é essa, garota?! – O homem estava notoriamente constrangido, mas Nic estava absorta demais nas próprias dúvidas para perceber.

– É que eu gostaria que fosse com alguém que eu gosto, mas me parece que nesse mundo você acaba transando com mais pessoas que não gosta do que com aquelas que gosta. E me parece meio injusto transar com alguém que eu não gosto sendo que deveria ser com alguém que eu gosto. Entende?!

–Não. Você só deve fazer isso com quem você gosta, Dominique. E você é muito nova para pensar nessas coisas. É aquele menino Kris que anda enfiando essas coisas na sua cabeça?!

– O Kris?! Por que o Kris faria isso?!

– Não sei – desconversou o homem.

– Em todo caso – retomou a garota, arrumando a band head sobre os fios, - é só que eu tava pensando nisso. Por exemplo, os pais do Kris são separados. Você acha que eles transaram mesmo não gostando mais um do outro ou pararam com o sexo e se separaram?!

Kyle suspirou e deslizou a mão pela cabeça, entendendo que mesmo que o assunto fosse mais complexo não era sobre sexo em si.

– Nic... esse negócio de gostar de pessoas, casar, construir uma família e, bem, fazer sexo, é mais complicado que apenas gostar ou não de alguém. Mas por que diabos você tá pensando nisso agora?!

– Meu pai.

E com essas palavras, Sr. Kyle logo imaginou que a menina pegara o pai no ato e fez um lembrete mental de dar uma ralhada em David. Onde já se viu ser tão descuidado assim? Agora ele tinha uma adolescente para cuidar e guiar por essa vida; não podia ficar levando mulheres para casa.

Nic não sabia de nada do que se passava na cabeça do recepcionista, que, aliás, estava ao lado do pai desde que ela se entendia por gente – e aqui Nic poderia perfeitamente começar a divagar sobre “o que significa se entender por gente”, mas ela não estava afim. As palavras do pai ainda pesavam em sua cabeça.

– Filhote! – A voz grave do pai se fez presente quando Nic pôde entrar na sala de gravação. David abriu os braços, ainda sentado na sua cadeira toda almofada e confortável, para receber um abraço meio frio da filha. – Que te aconteceu, Nic?!

– Pai – chamou, porque se tinha um ponto positivo no pai era o fato de poder ser direta, afinal, ele era direto e às vezes bem literal no que queria abordar. – Você fazia sexo com a mãe mesmo não gostando mais dela?

Na lata. Sem rodeios.

David arqueou as sobrancelhas grossas e arrumou a postura na cadeira.

– Isso é por causa de anteontem?! – Ela concordou. – Senta aqui, filhote – e puxou uma cadeira e fez a filha se acomodar na sua frente.

– Eu só queria entender por que a minha primeira vez vai ser com alguém que eu não gosto e ainda por cima vai doer. Você disse isso.

– Ai, Nic... – David suspirou e se inclinou sobre os joelhos para poder nivelar os olhos aos dela. – Por que você pensa demais, hein?! – E tentou bagunçar os cabelos dela, mas se arrependeu ao perceber que estavam molhados de suor. – Isso é porque você tem 14 anos e provavelmente você vai ser movida pelo tesão e achar que tesão e amor andam juntos, te fazendo acreditar que o cara é o grande amor da sua vida.

Os olhos azuis do pai reluziam em cumplicidade com ela. David não sabia ser pai, mas parte de si queria muito aprender porque, no ápice do desespero ao acomodar uma menina em sua casa de solteiro, ele se descobriu apaixonado por ela. E naquele dia em que ela entrou em sua casa contando que tinha feito um amigo e que ele a ajudaria a entrar no time de basquete do colégio, com um tremendo sorrisão na cara, muito semelhante ao seu por sinal, prometeu a si mesmo que a trataria de igual para igual.

Se era a melhor forma de ser pai? Não tinha a menor ideia. No entanto, Dominique merecia o melhor.

– Por que ele não pode ser o maior amor da minha vida?

– Porque sua vida tá no começo e seria muito injusto conhecer agora o grande amor de sua vida, filhote.

– Minha mãe foi o grande amor da sua vida?!

David levou a mão calejada de corda ao rosto da filha, afagando a pele meio pegajosa de suor, e sorriu.

– Eu amei sua mãe. Amei muito. Eu me casei com ela. E por muito tempo ela foi o amor da minha vida e eu pensei que fosse o maior, mas amores podem acabar, e acabou. Só que sua mãe me deu o meu maior amor da minha vida.

– A oportunidade de se dedicar à música de forma integral. – Na cabeça da menina, aquela era uma resposta bem óbvia, uma vez em que sabia que música estava encravada nos ossos do pai.

– Sua mente funciona de um jeito bem peculiar, Nic. Estou falando de você, espertinha.

Aquilo era bem inesperado. Nic se mexeu na cadeira assim em que recebeu um peteleco carinhoso e sem força nenhuma na testa, mordendo a bochecha por dentro e tentou rodar no próprio eixo da cadeira.

– Nic?

– Hm?!

– Eu te amo, filhote.

– Nha, pai! Quer tocar?!

Era um eu te amo camuflado, porque era algo que ela fazia só quando estava sozinha ou com ele. David sempre esteve atento à musicalidade dela, mesmo quando pequena criança descoordenada, e a incentivou em todos os aspectos que encontrou. Liberou a sala de gravação e foram os dois em direção aos instrumentos posicionados ao fundo, deixando a menina tomar posse do piano enquanto ele a acompanhava com o violão.

Kris, do outro lado da cidade, já de banho tomado e pijama vestido debaixo das cobertas, fingindo estar estudando para não precisar interagir com os amigos da mãe no andar debaixo da casa, pensava em Dominique.

Ele odiava quando se pegava pensando nela. Primeiro, porque ela sempre acertava mais cestas que ele e, segundo, porque às vezes sentia um nó no estômago e o corpo ficar quente.

Por que diabos ela tinha que falar de sexo? Não poderia continuar só sendo ela, falando de coisas normais ou até mesmo tentando usar teorias químicas para explicar relações humanas?!

Virou de bruços na cama afundando a cabeça no travesseiro. Abafou um grito rebelde contra o tecido e voltou para a posição inicial. A amiga era muito chata, isso sim.

A verdade é que nunca se dera tão bem com uma garota como se dava com Nic. Bastou um encontro no parque e depois no colégio para tudo fluir e, no dia seguinte, eram melhores amigos. Kris era popular, conhecia várias pessoas, de todos os anos, improvisava raps no meio do intervalos, mas, com o tempo, percebeu que tudo era simplesmente melhor se Nic estivesse lá para presenciar.

Ela nem gostava de rap, mas o ajudava a melhorar suas rimas!

Por que o pai dela não poderia ter dito algo sobre fazer amor, encontro de almas, fazer com quem você ama... como todo adulto fala?!

Poxa, Dominique era a melhor garota do mundo e seria muito injusto se o primeiro cara dela não fosse alguém que a amasse demais. E um pequeno pensamento surgiu em sua cabeça, mas Kris o ignorou porque era mais uma constatação abstrata do que concreta.

Nenhum cara desse mundo seria capaz de amá-la como ele a amava.

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Dominique não conseguiu dormir o tanto que achei que dormiria. Pouco mais de duas horas depois, ela abriu os olhos e não fez nenhum movimento na cama. Apenas abriu os olhos e os travou em mim, sentado no chão com os braços cruzados no limite da cama e a cabeça repousando sobre.

Eu não me movimentei também.

Muita coisa passou pela minha cabeça nessas duas horas – e a que mais me amedrontava era a possibilidade de Kris ter quebrado tanto Dominique que ela nunca mais seria capaz de amar de novo.

De me amar, quero dizer.

Foi um pensamento egoísta pra caralho.

Eu tinha muita coisa travada na garganta e queria sussurrar no ouvido dela que eu seria capaz de protegê-la e mostrar que existem caras bons nesse mundo.

– Posso? – Perguntei ao estender a mão em direção ao rosto dela, que apenas fechou os olhos e esperou pelo contato.

Deslizei com suavidade minha pele em contato com a sua e, instantemente o fiz, uma lágrima grossa saltou de seus olhos, encharcando os cílios ainda maquiados e escorrendo pelo contorno do nariz.

Ela levou sua mão até a minha e a segurou sobre a bochecha, permanecendo com os olhos fechados para depois trazê-la para perto dos lábios a fim de deixar um leve selar entre meus dedos.

– Desculpe, Sehun.

– Shh – digo, me aproximando um pouco mais dela. – Não fala nada, Nic. Você precisa descansar. – Acaricio sua pele lentamente até ela se permitir fechar os olhos de novo. – Só por hoje, Nic, durma o máximo que conseguir.

– Você vai ficar aqui?!

Abro o meu sorriso mais afetuoso para ela, coberto de carinho e cumplicidade.

– Eu sempre estou aqui. – O ínfimo sorriso que me é direcionado aquece meu peito. - Mas confesso que preciso ir ao banheiro. – Mas, melhor que um sorriso, é a sombra de uma risada. – Posso te dar um beijo?

Colo meus lábios em sua testa, me demorando um pouco no ato e finalizando com um leve carinho com a ponta do nariz, para poder me afastar e fechar com cuidado a porta atrás de mim.

No caminho de volta do banheiro, vejo pela porta semi aberta ChanYeol deslizando a mão pelos cabelos de Baekkie enquanto este parece estar dormindo. Channie-hyung­ me vê e com um aceno me pede para entrar.

– Como ela está?

– Dormindo. – Não dá para falar que ela está bem e não ouso dizer que esteja mal, porque acredito que não deva chegar nem perto do quão mal ela realmente esteja. – Acordou agora pouco, mas voltou a dormir. Como ele está?

– Esbravejou contra todo mundo, chorou e agora conseguiu dormir. Achei que ele fosse pular a janela e caçar o Kris pela cidade.

Apenas a menção do nome dele faz meu sangue ferver. Cerro os punhos ao lado do meu corpo e o ato não passa despercebido de ChanYeol.

– Você sabe... sabe o que aconteceu, Channie?!

– Acho que não tem muito o que especular, né?! Quando eu a carreguei no colo pude ver claramente que o corpo inteiro dela está machucado. O menor toque a fez sentir dor. Como é que isso pôde chegar a esse estado, Sehun?! É a única coisa que eu fico pensando. Não consigo conceber a ideia de fazer isso com alguém.

– Isso não te dá vontade de caçar Kris pela cidade?!

– É o que está causando em você também?!

Suspiro fundo e relaxo os ombros, esfregando uma das mãos em minha cara. Sento no limite da cama para não acordar Baekkie.

– É. Existe uma parte de mim que quer esfolar a cara dele no asfalto.

– Mas?!

– Mas... ela precisa decidir o que fazer. E não eu.

– E se tudo o que ela mais quer agora é alguém para vingá-la? Mesmo que ela não tenha coragem de dizer?!

– Nic não é vingativa.

A resposta não sai da minha boca e sim da de MinSeok, que entra no quarto e puxa uma cadeira para perto da cama.

– Não conseguiram dormir também?!

– Tenho medo de dormir e perder Baek de vista – ChanYeol e eu rimos baixinho com a real perspectiva de BaekHyun pular a janela do último andar e, não sei por que, mas a minha imaginação o faz usar um lençol amarrado no pescoço.

– O que devemos fazer, hyung?! – Pergunto inseguro, porque temo estar tomando uma atitude muito passiva diante da gravidade da situação.

– Conversei muito com JunMyeon agora e ele acha que independente de qualquer coisa, ela deva ir para um hospital e fazer a profilaxia.

– Fazer profilaxia pra quê?!

Esse é o momento em que você abre a boca, faz a pergunta e o olhar do seu hyung lhe lança uma verdade tão sombria e horrível que é como se mil bigornas acabassem de te acertar na boca do estômago e você precisa sair correndo para vomitar no banheiro.

– Sehun-ah?!

MinSeok afaga meu ombro, me ajudando a ficar de pé, mas olhar a água do vaso sanitário parece mais intrigante.

Eu quero falar. Quero falar muitas coisas – mas não consigo. É muita dor dentro de mim e muita cena imaginando Dominique impotente debaixo de Kris. Meu Deus! Como ele ousou fazer isso? Como ele teve coragem de fazer isso com ela?! Porra, ele a chama de amor! Diz que ama e faz isso?! Ele tem sido o merecedor de todo o amor dela por todos esses anos e tudo termina assim?!

Me afasto de MinSeok  e atinjo a parede atrás de mim até sentir meus nós doerem, e depois soco de novo, e de novo e paro quando ele me puxa para trás.

– Para, Sehun!

– Parar?! Parar?! O que é isso – e mostro o sangue esfolado na minha mão – perto de tudo o que ela sentiu, hyung? O que são três socos perto de tudo o que ela ainda vai sentir?! Nic tinha isso daqui – e estreito os dedos para diante do rosto dele – para conseguir ser feliz e esse filho-da-puta conseguiu romper o mínimo que ainda a mantinha intacta. Sabe o que deve estar passando na cabeça dela?! Que tudo acabou aqui.

E então caiu sobre os meus joelhos, levando as mãos ao rosto e começo a chorar porque tudo dentro de mim dói e porque tudo dentro de mim quer sentir o desespero dela, a impotência, as dores e porque eu me sinto culpado.

– Ele... e-ele m-machucou ela, hyung – consigo dizer com a voz abafada pelo choro e pelas mãos. – Ele deveria cuidar dela... ser o melhor cara desse mundo. E-ele tinha... tinha o amor dela e destruiu. Como é que eu deixei ele destruir a pessoa mais incrível? Por que eu não exigi antes? Por que não me declarei pra ela logo no primeiro dia? Por que eu não consegui protegê-la, hyung? Por que eu não estava lá?!

– Eu tenho me perguntado isso a todo instante, Sehun.

Só então percebo que os olhos de MinSeok estão avermelhados e fulguram numa dor líquida que ele sabe que não vai conseguir conter.

– Me pergunto a todo instante onde foi que errei. – Entramos um silêncio culposo e compartilhamos esse momento.

– Hyung?

– Hm?

–Eu tô com medo.

– Eu também, Sehun-ah... eu também.

---

As chamadas no celular dela começaram depois das 10 da manhã. MinSeok segura firme o objeto entre os dedos e finta sem expressão nenhuma o nome que ali brilha. Eu sinceramente estou apreensivo.

Foram as horas mais longas da minha vida.

Mesmo que tenha conseguido dormir, tive flashs de pesadelos que aparentam estar cravados na minha mente. Parece mais que foram pesadelos emocionais do que com imagens, afinal, não havia nenhuma forma definida. Eram borrões com cargas sentimentais intensas demais.

– Quer que eu atenda?

Nosso líder parece estar num conflito interno muito grande. Ele não conhece Dominique e não deve ter trocado mais que somente palavras necessárias com ela durante esses anos, mas o furacão que ela trouxe para dentro de casa está afetando a todos e ele quer encontrar um jeito de lidar com a situação da melhor maneira possível.

Por nós, e não por ela.

Já Sehun, BaekHyun, ChanYeol, eu e especialmente MinSeok estamos em pé de guerra com nossos sentimentos e pensamentos para conseguir trazer pelo menos o mínimo de segurança para Dominique nesse momento. E é por isso que não sabemos se devemos atender a ligação de YiFan.

– Ele sabe que ela tá aqui. – Comento, me controlando para não roer as unhas.

– Aqui ele não entra.

– Mas uma hora ela vai ter que sair daqui, Minnie – contra-argumenta JunMyeon. – Ela precisa ir ao hospital.

– Fazer todo o procedimento, sim, eu sei, você já falou isso...

– Antes disso, Minnie. Sua amiga precisa criar as provas a favor dela. – Todos nós, na verdade somente eu e meu namorado estamos na sala no momento, encaramos intrigados nosso líder. – Desculpe pelo raciocínio frio, mas é verdade. Pode ser que ela não queira abrir qualquer denúncia contra o Wu, mas se no futuro ela decidir levar isso para frente, e ela tem todo o direito de fazer isso quando bem entender, ela vai precisar de provas. Ir para o hospital, fazer a profilaxia e ter um registro médico bem detalhado acerca de todas as escoriações e hematomas é a primeira prova. A segunda é o exame ginecológico. Ela precisa se cercar disso.

É um raciocino frio, de fato, mas correto.

MinSeok se senta ao meu lado ainda com o celular em mãos, mas, ao contrário de antes, agora sustenta um semblante cansado.

– Você não dormiu nada – Digo, afastando alguns fios de sua testa.

– Sei que você também não. Acha que eu deveria atender?

–  Se tem alguém que não deveria atender é você. Você mesmo me contou que ele morre de ciúmes de vocês.

– Mas ele deve ter o mínimo de consciência de que ela viria até mim, certo?! Eu sou o melhor amigo dela, Dae...

– Acho que você é mais que melhor-amigo.

– O pior deles, que a deixou vulnerável e desamparada com o maluco do namorado ciumento. Aish! Que droga! Por que eu não tava lá, Dae?! Por que... – No entanto, ele desiste, porque vem dizendo tais questionamentos desde a hora em que tentou dormir ao meu lado.

– Tá aqui agora, extremamente preocupado e querendo encontrar um jeito de confortá-la. Isso é o que importa, Minnie.

– Como é que você consegue estar tão calmo?! Quer dizer, não que eu esteja te julgando, mas_

– Porque preciso estar por você. E por ela também.

Enquanto me inclino para tocar sua boca, Sehun surge pelo corredor dizendo que Nic acordou e que ela quer falar com MinSeok. Trocamos um breve olhar de consentimento antes dele se levantar.

– Como você está?! – Pergunto, dando duas batidinhas no estofado ao meu lado para Sehun. – Conseguiu dormir um pouco?

– Muito pouco. Mas não me importo.

– E quanto à primeira pergunta?! – E a repito diante de seu semblante confuso.

– Não importa como eu esteja. Sabe – ele retoma depois de um tempo analisando os nós machucados de sua mão, – achei que tinha acabado. Que Kris tinha ganhado e eles seriam um casal feliz e eu seria obrigado a vê-la feliz com ele de perto, porque, mesmo que estivesse caçando motivos para nunca mais vê-la, não achei nenhum. Vê-la feliz seria bom, mesmo que com outro. E aí veio essa agulha e estourou minha bolha e a realidade é horrível. Eu preferiria vê-la feliz com ele do que nessa situação. É um pensamento maluco, Dae?!

Não, Sehun. Isso é Amor.

– Não.

---

– Nic?

Ela está sentada em minha cama abraçando os joelhos perto do corpo. O pescoço todo muito machucado exposto e é quase possível ver alguns pontos de pele esfolada, e igualmente ruim estão os pulsos e braços.

– Min... – e automaticamente seus olhos se enchem d´água, mas ela balança a cabeça e as seca na pele da mão. – Eu preciso te contar_

– Não, Nic...

– Sim! Eu preciso. Preciso falar exatamente o que aconteceu porque eu não aguento mais ficar nesse estado de negação. E eu preciso que você escute.

– Mas eu não quero escutar!

– Min... – Sua súplica alcança meus ouvidos e isso me leva a sentar na cama, de frente para ela.

– Por favor, Nic... não me conte. – Peço de volta, já sentindo as lágrimas se formarem.

– Mas eu preciso.

– Por favor... assim em que você disser, vai ser verdade e não um monte de suposições.

– O problema, Min, é que é verdade com ou sem palavras ditas. É tão verdade que não existe uma única parte do meu corpo agora que te mostre o contrário. – Ela estica os braços para mim. – Olha o que ele fez comigo, Min! O homem que vive me dizendo que sou o amor da vida dele conseguiu perfurar todas as camadas do meu ser. É verdade, por mais que eu não queira que seja.

Eu a abraço.

Involuntariamente eu a abraço e choro em seu ombro, pedindo milhares de desculpas. E então Dominique chora, pedido desculpas por não ter conseguido evitar, o que só aumenta ainda mais minha dor porque como Nic conseguiria impedi-lo?! Será que haveria algum jeito? Quais são as nossas certezas de que isso não teria acontecido em qualquer outro momento se ela decidisse por um fim nessa relação?

Com vários “por favor” sussurrados em meu ouvido, permito com muita relutância que Dominique me conte o que quiser e como bem entender. É um relato muito difícil de ser ouvido, com poucos detalhes, graças a Deus, mas muito choro e muita raiva de si mesma. Ela me conta sobre a festa, sobre as pessoas se aproximando, como Kris trouxe o nome de Sehun inúmeras vezes durante o ato e como em algum momento achou que estava presa num looping infinito.

Cada palavra atravessa meu ser de um jeito que eu acho ser irreversível: o que me é dito agora é eterno. Uma vez que se torna o verbo, para sempre é existido. Sou para sempre guardião desse acontecimento.

Estranho mesmo é que a minha fúria é posta de lado e tudo o que consigo fazer é abraçá-la com os braços, pernas, corpo, cabeça; encaixando minha frágil melhor amiga em mim de tal modo até que eu sinta que esteja protegida.

– Mas eu sinto raiva, Min – ela retoma, travando os dentes entre um choro contido e uma raiva crescente e diferente que eu não tinha notado até então, – porque agora é isso que eu sou. Não importa mais o que eu faça, quem eu me torne... essa vai ser para sempre a minha marca. A mulher que sofreu violência sexual do próprio namorado. Kris conseguiu aniquilar tudo de mim e isso me deixa com muita raiva dele. Tudo o que eu tinha era o meu nome. Só Dominique. Eu era só a Dominique aqui em Seoul e agora...

Xiumin, do Exo. Chen, do Exo. Sehun, do Exo. Suho, do Exo. ChanYeol, do Exo. BaekHyun, do Exo. Kai, do Exo. D.O., do Exo. Lay, do Exo.

Dominique.

Vítima de abuso sexual.

Dominique, ex de Kris Wu.

– O que eu faço agora, Min?!

– Suho acha que o mais sensato é você ir a um hospital. BeakHyun acha que você deva nos deixar bater nele.

Ela faz um breve aceno com a cabeça.

– Ok. Você me leva?


Notas Finais


Eu gostei muito da história inicial contando o começo de adolescência de Nic, ainda mais para mostrar que Kris era sim um cara legal no começo e porque diabos ela se apaixonou por ele. Mas o pai tava certo, né? Pode ser uma grande amor, mas não O amor. E Kris, no fim, se mostrou regra e não exceção.

Eu gostei muito desse Suho todo líder de pensamentos sensatos e lógicos diante da situação, viu?! Queria muito que fosse ele a se sentar com ela para ditar o rumo dos próximos passos. Mas eu não tenho controle nenhum sobre os personagens!

E, só uma coisinha:
Eu recebi dois comentários sensacionais no último capítulo e que me deixaram muito feliz pelo feedback, pelas leitoras terem capitado as nuances de Sehun e Dominique e entender os detalhes nem tão soltos assim sobre como Nic se anula perto do Kris. Obrigada, ~UnicornioPink e ~kjunmyeonxx.


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