História Time After Time - Julho, 2009. III.

O clima de alegria se estendeu pelos dias seguintes. A felicidade por estarem compartilhando alguns dos melhores momentos de suas vidas se fazia maior que qualquer outra coisa.

Todas as noites Troy e Jake reacendiam a fogueira e eles cantavam, brincavam até tarde. Durante os dias passeavam pelas redondezas para explorar a natureza. Descobriram algumas coisas interessantes, como uma casa na árvore, que Troy não fazia ideia de quem havia construído e que ninguém teve coragem de entrar.

Em outra tarde encontraram uma família de coelhos, que morava perto de uma das cercas da propriedade, voltaram lá mais algumas vezes com legumes para alimentá-los. E também havia alguns macacos que sempre apareciam perto da casa para pedir comida, todos se divertiam com a graça dos bichinhos.

Os laços de amizade e o carinho que tinham uns com os outros era bonito, sincero e nesses momentos se destacavam, eles se ajudavam, faziam as refeições juntos, passavam horas a fio conversando assuntos irrelevantes.

Ally espalhava beijos de bom dia e boa noite em todos. Jake cantarolava canções pelos quatro cantos. Troy não cabia em si de tanta felicidade por ter todos em sua casa. Dinah e Normani estavam mais espirituosas que nunca. Tudo era motivo de piada, de brincadeira e de boas risadas, a atmosfera estava envolta na pureza dos detalhes, no amor as coisas simples da vida.

A simplicidade é sempre ingênua e talvez tenha sido esse o motivo pelo qual nem Lauren e nem Camila se atreveram a conversar sobre o acontecido no corredor, na noite das cartas.

Durante momentos de descontração Lauren tomou a liberdade de perguntar algumas vezes a Camila o que ela tinha escrito em sua carta, mas a garota estava irredutível na ideia de que era segredo e que ela só saberia em dez anos.

No final da tarde do sexto dia Lauren partiu rumo a sua ultima aventura ali. Ally havia descoberto, no dia anterior, que passando a cerca depois do morro havia um córrego e logo após uma plantação de girassóis que valia a pena ser visitada.

Todos estavam ocupados com outas coisas Ally e Troy organizando a casa, já que no outro dia voltaríamos cedo para Miami, Dinah e Normani preferiram levar comida para a família de coelhinhos uma última vez, enquanto Jake e Camila terminavam de arrumar as malas. Por isso Lauren resolveu ir sozinha mesmo até o campo dos girassóis.

No entanto, antes de chegar ao pé do morro ouviu uma voz a chamando e parou para ver Camila se aproximar aos tropeços, a garota realmente tinha problemas com coordenação motora.

- Ufa! Achei que não iria conseguir te alcançar – Disse com a respiração entrecortada, enquanto apoiava as mãos no joelho para descansar.

- Desculpa! Você estava fazendo as malas, não sabia que iria querer vir.

- Eu tava fazendo as malas, mas o Jake queria dormir um pouco daí resolvi que era melhor sair do quarto para não fazer barulho. – Camila recuperou o folego e as duas seguiram morro acima.

- Ele reclamou que você fala dormindo e que por isso ele não consegue dormir, deve tá com sono mesmo o coitado – Lauren falou divertida. Camila deu de ombros.

- A Ally disse para termos cuidado na hora de passar pela cerca, pra não derrubar nada – Camila respondeu, mudando de assunto.

- Sim – Lauren disse por fim e seguiram a caminhada em silêncio.

Passaram pela cerca do outro lado do morro, com muito cuidado para não derrubá-la e para não se machucarem. Caminharam por um campo de vegetação rasteira depois cruzaram o córrego que Ally havia indicado, pularam de pedra em pedra para não molhar os pés na água gelada. Camila é claro quase caiu, mas por sorte Lauren conseguiu segurá-la no lugar.

- Obrigada Lolo! Essa foi por pouco – Ela agradeceu com os olhos arregalados pelo susto.

- De nada Camz. – Respondeu Lauren com um sorriso fraco.

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Seguiram em frente e após uma pequena descida lá estava, maravilhoso entre as montanhas, milhares de pontos amarelos virados na mesma direção. Era difícil dizer se os girassóis estavam se exibindo para o sol, ou se o sol era quem se curvava a eles. O contraste do amarelo com o azul do céu, as borboletas que voavam de flor em flor, era uma das coisas mais lindas que os olhos poderiam ver. 

- U-A-L! É lindo – A voz estralada de Camila soou, estava vidrada no campo a sua frente.

- Sim Camz! É maravilhoso... – Lauren tentou responder, mas Camila a pegou pela mão, a arrastando em disparada para o meio das flores.

Correram sem parar até que tudo ao redor fosse amarelo.

Quando chegaram no meio do campo Camila finalmente parou, soltou a mão de Lauren começou a girar no meio dos girassóis. Rodopiando no ritmo de uma música imaginária, os cabelos esvoaçando rebeldes, Lauren gargalhou com a cena.

- Lolo! Para de rir – Ela protestou manhosa – Dança comigo, é incrível.

- Não mesmo! – Lauren respondeu, mas não teve escolha porque Camila começou a girar ao seu redor, levantando os braços e sorrindo. Vencida, imitou seus movimentos e começou a rodopiar ao lado da outra.

O sol batia nas flores e em movimento e Lauren poderia jurar que elas estavam brilhando. Camila dançava ao seu lado e em alguns momentos seu corpo esbarrava no dela. Em outros os olhares se cruzavam, banhados pelo brilho amarelo. Castanhos, amarelo, verdes, cabelos voando, amarelo, castanhos, verdes, sorrisos, misturados numa música imaginaria que não acabava.

Quando os corpos pararam a cabeça de Lauren girava e ela sentiu seu estômago revirar. Viu Camila afundar entre as flores e se abaixei para encontra-la sentada no chão.            

- Eu tou tonta – Camila alertou gargalhando.

- Eu também – Lauren respondeu rindo e se sentou próxima a outra garota. As flores sobre as suas cabeças formando uma nuvem amarela. – Acho que é melhor ficarmos sentadas aqui até passar.

- Deve tá cheio de bicho e insetos no meio dessas plantas – Camila disse rindo do perigo.

- Acho que a gente consegue se defender Camz. Não somos mais menininhas vulneráveis. – Lauren disse com um sorriso fraco, olhando Camila de rabo de olho.

Na noite das cartas Camila pediu a Lauren que acreditasse nela, disse que tudo ficaria bem e Lauren não a respondeu. Mesmo estando tudo tranquilo entre elas desde então, nos últimos dias a morena sentiu dentro de si a necessidade de dizer para Camila que acreditava nela. A latina fintou fitou longamente em silêncio e sorriu compreendendo o significado da afirmação de Lauren.  

Camila levantou a cabeça para cima e encarou as flores sobre ela.

- Eu te desafio a me amar – Ela disse em voz baixa ainda olhando para as plantas.

- O que? – Lauren perguntou confusa.

- Eu te desafio a me amar – Camila disse alto dessa vez e voltou a encarar Lauren – Lembrei do filme Imagine eu e Você, que a florista sabe o significado das flores, e a flor delas significa “eu te desafio a me amar”. Nunca assistiu?    

- Já – Lauren respondeu ainda confusa – Mas a flor delas são os lírios. Os lírios é que significam “eu te desafio a me amar” não os girassóis.

- E por acaso você sabe o que significam os girassóis? – Camila perguntou presunçosa.

- Não...

- Eu te desafio a correr – Camila levantou de supetão e começou a correr.

Lauren correu atrás da dela até alcançarem o outro lado do campo de girassóis, durante o percurso podia ouvir o som das gargalhadas de Camila a sua frente.

- Você não vai me alcançar Lolo – Camila berrou zombeteira, olhando para trás – Eu corro mais rápido que você!

Quando alcançaram a borda se deitaram no chão, exaustas, suadas, e com alguns arranhões pelos braços, por causa das folhas das plantas.

Fim da música

- Sinceramente – Lauren manejou falar esbaforida – Você é ridícula.

- Você correu atrás de mim porque quis. – Camila respondeu zombando.

- Eu correria até o inferno atrás de você – Lauren respondeu rápido, sem pensar. Paralisou ao processar o que acabara de falar, permaneceu imóvel encarando o céu, torcendo para que Camila não tivesse escutado, mas ela escutou.

- Então por que você não corre? – A garota perguntou se virando para ter uma visão de Lauren.

Estar deitada no chão, com Camila ao seu lado a encarando, fez Lauren se lembrar do fatídico dia em que seu coração foi roubado. A sensação de vulnerabilidade lhe atingiu em cheio e por reflexo se sentou. Encarou a garota ao seu lado, dessa vez, ao contrário daquela, Lauren reagiria em sua defesa.

- Porque eu não posso, porque você não pode – Disse o óbvio – Porque a gente Camila, não pode – Respondeu firme em tom definitivo.

Camila engoliu em seco, nem se quer cogitou uma resposta, fechou a cara e voltou a encarar o céu. Lauren comemorou internamente o fato de, pela primeira vez, ter conseguido se expressar com alguma coerência e exatidão.

Depois de algum momento em silêncio, o sol se pondo no horizonte indicava que era hora de voltar para casa, logo começaria a esfriar. Lauren não queria dar o braço a torcer e ser a primeira a falar, mas também não podia simplesmente sair e deixar Camila pra trás.

- Eu vou terminar com o Jake – A voz de Camila soou fraco de repente.

- Você o que? – Lauren perguntou incrédula.

- Eu vou terminar com o Jake. Você não queria tanto saber o que eu coloquei na minha carta? – Havia acusação em sua voz – Eu comecei pedindo desculpas pro Jake, porque eu vou terminar com ele quando a gente voltar pra Miami.

Camila levantou impaciente e começou a andar de volta o caminho que haviam feito. Lauren a alcançou antes que ela adentrasse a plantação de girassóis.  

- Camila você não pode terminar com o Jake – Tentou manter a calma – De onde você tirou essa ideia?

- Como assim de onde eu tirei essa ideia Lauren? Olha pra gente, é tão difícil assim perceber de onde eu tirei essa ideia?

- Você não pode terminar com o Jake por causa disso – Havia urgência em sua voz.

 Camila não poderia estar falando sério. Ela estava estragando o quadro. Ela não podia terminar com Jacob porque eles iriam juntos para a faculdade, ele cuidaria dela nos dias difíceis e ela seria o porto seguro dele, Lauren pensou. Ela precisava da droga do quadro completo para ir embora tranquila.

- Lauren, a gente não tá mais no colegial. A nossa vida está começando de novo agora. A gente vai pra faculdade, eu e você, nós vamos juntas pra faculdade e tudo vai ser diferente porque a faculdade é diferente do colegial. Você me entende? – Camila estava se descontrolando, gesticulava rápido, certamente havia mais pensamentos em sua mente do que ela era capaz de reproduzir, seus olhos encheram-se d’água - A gente tem uma vida inteira pela frente e eu simplesmente não posso mais continuar com isso.

Camila raramente se alterava, mas ela parecia ter segurado suas emoções por tempo demais e começou a despejar tudo de uma única vez. De todas as coisas que a garota falou as palavras “faculdade” e “juntas” martelavam na mente de Lauren.

Camila iria terminar com Jake porque elas iriam juntas para a faculdade? Absolutamente nada daquilo fazia sentido para Lauren, mas a única coisa que ela conseguia pensar era: elas não iriam para a faculdade juntas. Seja lá o que fosse que Camila tivesse planejado para o futuro, não iria acontecer porque elas não iriam para a mesma faculdade. Lauren sentiu a culpa espremer a verdade de dentro de si.

- Camila – A chamou com calma - Nós não vamos para a faculdade juntas – Abaixou a cabeça em silêncio enquanto os castanhos a encaravam confusos.

- Como assim Lauren? É claro que a gente vai. A gente combinou. Todo mundo combinou – A garota derrubou as lágrimas que estavam presas em seus olhos – Do que você tá falando?

- Eu me inscrevi para a NYU e fui aceita. Eu vou embora pra Nova York assim que voltarmos para casa.

 Quando Lauren terminou de falar Camila a fulminou com os olhos, os castanhos a queimavam enquanto as lágrimas escorriam ininterruptamente. Os lábios trêmulos se abriram algumas vezes, mas nenhum som saiu. Lauren esperou as acusações, esperou a briga, mas não vieram.

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- Camila eu... – A latina lançou seus braços ao redor de Lauren, lhe interrompendo a fala, suas mãos nas costas da outra repuxavam o tecido da blusa. A urgência de Camila se tornou de Lauren, o seu desespero a desesperou. Lauren segurou Camila o mais forte que pode. Apertou-a contra si.

Lauren segurou firme em suas mãos todos os motivos que tinha para ir embora, e ainda assim tudo que ela podia fazer era se agarrar ainda mais a eles, se agarrar a Camila.

Camila se afastou minimamente, o suficiente para olhar Lauren nos olhos enquanto as lágrimas castigavam seu rosto. A menina traçou delicadamente feição da outra com as pontas do dedo. Lauren fechou os olhos para sentir o toque. Camila deslizou das sobrancelhas até o fim do nariz e quando alcançou os lábios Lauren os pressionou.

Lauren sentiu a respiração quente da latina a alcançado. E quando Camila aliviou a pressão de seus dedos nos lábios da outra foi para, gentilmente, toca-los com seus próprios lábios. As bocas imóveis, se reconhecendo, se sentindo, se permitindo existir no mesmo espaço.

A sensação de ter os lábios de Camila nos seus ativou todos os extintos do corpo de Lauren, que em resposta a apertou ainda mais contra si. Camila finalmente invadiu o espaço de Lauren com lábios ávidos. As línguas se encontram urgentes. Lauren sentiu necessidade de ter Camila em si, de levar cada centímetro da garota com ela. Camila segurou Lauren pela nuca, enrolou as mãos em seu cabelo prendendo Lauren a ela. Agarrou-a em si com toda a força que possuía.

Quando o folego faltou Camila se afastou com dificuldade para recuperar o ar. Encostaram as testas fitando-se diretamente nos olhos. Apenas os girassóis testemunharam a cena mais injusta que esse mundo já presenciou.

- Você não podia ter feito isso com a gente – As lágrimas de Camila voltaram a cair. E então ela se desvencilhou dos braços de Lauren. Cruzou a plantação caminhando de volta para casa.

Lauren não tentou alcança-la, nem se esforçou para chegar rápido. Presumiu que Camila contaria a verdade para todos e quando chegasse teria que enfrentar tudo que eu estava evitando.

 Ao contrario do que Lauren pensou, quando finalmente adentrou a casa tudo estava calmo. Ally e Troy faziam a janta. Normani e Dinah assistiam TV.

Jake saiu do seu quarto com uma cara feia, tremor me percorreu o corpo de Lauren, certamente Camila teria contando ao menos para ele.  

- Camila não está se sentindo bem – Disse em tom preocupado – Eu achei que vocês estivessem juntas Laur, mas ela disse que não conseguiu te encontrar e acabou indo na direção errada. Acho que ela caminhou demais no sol, está com uma aparência horrível.

Lauren respirou aliviada por Camila não ter contado nada

- Vou fazer um chá para ela – Ally falou da cozinha.

- Eu preciso arrumar as minhas malas – Lauren disse caminhando para o seu quarto, a cabeça girando devido aos últimos acontecimentos, ela não conseguia olhar para Jake. Ela havia beijado sua namorada, ainda que houvesse justificativas para o que havia feito, isso fazia dela uma traidora, certo? Mais do que nunca, Lauren agradeceu por estar indo para longe, ela precisava se livrar de tudo isso o mais rápido possível.

Camila passou o resto da noite em seu quarto, no outro dia quando Lauren levantou descobriu que ela e Jake voltaram para Miami cedo. O garoto estava preocupado com a saúde dela. Lauren sabia que Camila não estava mal fisicamente, ela não se sentia bem na alma e no coração.

Ainda assim, seu coração se aliviou um pouco por ter certeza que o quadro estava completo e que todos ficariam bem enquanto ela estivesse fora. Mas, no fundo do seu peito, uma parte dela queria ficar onde todos estivessem, principalmente Camila, queria ir para faculdade ao seu lado e viver sabem-se lá quais planos que a latina havia planejado para elas.  

Entre todas as flores que esse planeta abriga os girassóis foram designados para significar força, porque em sua majestosa existência passam os dias a contorcerem seus caules em função do seu único e verdadeiro amor, o sol. Girassóis combatem a si mesmos por amor, diariamente. Afinal, existe batalha na qual se precise ser mais forte do que essa de vencer a si mesmo por amor?