1. Spirit Fanfics >
  2. Time After Time >
  3. Setembro, 2015. VIII.

História Time After Time - Setembro, 2015. VIII.


Escrita por: AmandaCSousa

Notas do Autor


Oláááááááááá galerinha das fiiiiiiiiiics

Eu demorei, eu sei. Mas eu cheguei, porque o decair é do homem, mas o levantar é de deus.

Então vamos aos fatos.

Tem 01 musiquinha apenas no capítulo de hoje, eu até já tinha divulgado ela la no twitter.

Surrender - Natalie Taylor (link nas notas finais)

Agradeço imensamente a indicação dessa musica que foi da @Fifthniizer, já faz um tempããão e agora rolou de encaixar ela na fic.

Aliás, quero dizer, eu amo as indicações de música de vocês, mas nem sempre da pra encaixar peço desculpas a todos e que não deixem de mandar as músicas que lembram a fic, ou etc, pois eu fico mt feliz de escutá-las e conheço um monte de bandas/cantorxs legais.

Obrigada a todos!

Espero que vocês gostem do capítulo.

Capítulo 35 - Setembro, 2015. VIII.


Fanfic / Fanfiction Time After Time - Setembro, 2015. VIII.

Impaciente por todas as vezes que teria que caminhar até a porta para abri-la, Dinah optou em deixá-la aberta. O jantar já estava pronto e Ally, que chegou cedo para ajudá-la, andava de um lado para o outro na sala com seu celular em mãos discando pela terceira vez para Troy, que não respondia.

- Ele não me atende. – Resmungou para a maior. – Acho que não vem.

Normani adentrou sem cerimonias no apartamento, usando um vestido branco de renda que a deixava deslumbrante, beijou o topo da cabeça de Ally antes de rumar para a cozinha e abrir as portas do armário.

- O que você quer? – Dinah questionou de onde estava, sentada à bancada de mármore. – Não faz bagunça!

- Eu não vou bagunçar nada, não! Se acalme ai mulher, só vou arrumar a mesa. Não quero acusações de que não ajudei em nada. – Alegou.

- Você pode lavar a louça depois.

- Nem fodendo! A Lauren que lave é o primeiro jantar dela, ela poderá ter essa honra... – Normani nem terminou de falar a frase e foi surpreendida por um tom de voz rouco parado à porta.

- Eu o que? – Lauren questionou.

- Você lava a louça. – Normani quase berrou da cozinha e deu um passo atrás, para a sala, com o intuito de encarar Lauren. – Oh! Que espertinha você trouxe reforço. – Falou ao identificar Savannah logo atrás de Lauren.

Dinah balançou negativamente a cabeça e rolou os olhos.

- Dra. Benson. – Apressou-se em falar para a loira. – Não repara ela é assim mesmo. - Savannah riu. – Você não vai precisar lavar a louça, pois é convidada especial essa noite.

- Oh! Obrigada pela gentileza, mas se precisar a gente lava a louça. Não tem problemas.

- Vocês me matam de vergonha. – Lauren soltou caminhando em direção a Ally, que tentava mais uma vez falar com Troy.

- Estou tentando falar com Troy, mas ele não atende. Eu acho que ele se esqueceu do jantar. – Reclamou para Lauren.

- Ele deve estar ocupado. – Lauren pontuou e beijou o rosto de Ally.

- Provavelmente... – Concordou e desistiu da ligação, saiu em direção a Savannah para cumprimentá-la. – Eu nem acredito que você já está voltando para Nova York. – Ally constatou. – Ficou tão pouco tempo aqui.

- Ah sim! Infelizmente. Eu vim apenas para orientar o Neurologista daqui sobre o funcionamento da pesquisa com estímulos elétricos. – Explicou.

- Pois é! A Lauren comentou. Fico feliz que possamos aproveitar esse jantar para nos despedirmos. Você não faz ideia do quanto somos gratos por tudo que você fez pelo Jake. - Savannah respondeu com um sorriso recheado de sinceridade.

Lauren aproximou-se de Dinah e usou um tom de voz baixo, para não fazer alardes.

- Afinal de contas... Camila vem? – Questionou simples.

- Não faço ideia! Primeiro o Jake disse que sim, mas depois disse que não. Eu não quis perguntar diretamente para ela, porque, bem... Porque ela está num momento estranho e eu não quero ser a pessoa a despertar a fúria latina que ela possui. 

Lauren soltou uma risada anasalada pelo comentário.

- Você é terrível... E eu não vou lavar a louça. – Afastou-se sem esperar pela resposta. – Ally? – Chamou a menor. – O Jake vem como? Devemos ir buscá-lo? Ele não teve sessão hoje, não nos falamos desde sexta-feira...

- Eu conversei com ele essa manhã, mas ele não falou nada. Vou ligar para saber, espera...

Lauren observou a menor discar e levar o celular ao ouvido outra vez. Caminhou até a porta da varanda de Dinah e abriu, era uma noite agradável de segunda-feira e o vento fresco de final de setembro correu apartamento adentro, bagunçando minimamente ao passar por seus cabelos. Lauren usava um jeans básico e uma blusa preta de manga curta e o vento que cortava sua pele já não era aquele quente do verão, espiou pessoas exercitando-se na rua. Deveria começar a praticar algum exercício também, anotou mentalmente.  

A morena sentia-se bem, quase tranquila, não fosse a pequena ansiedade em saber se Camila viria ou não para o jantar estaria em paz. De alguma forma, Lauren acreditava que o pior já havia passado.

Na manhã daquela segunda tivera aula de história da arte com a latina, seu coração, ao contrariamente à tranquilidade, pulsava na garganta, nervoso e inquieto. Esperou por Camila de onde estava, na última carteira da sala de aula, e o nervosismo a impedia de socializar com os demais alunos, nem sequer conseguia mexer-se. Seria o primeiro encontro desde a conversa que tiveram e Lauren não sabia o que esperar, só rezava para que Camila não tivesse mudado de ideia e reerguido todas as barreiras possíveis entre elas outra vez, perder as ínfimas esperanças recém-conquistadas seria o fim.

Para alívio da morena a latina entrou na sala com um semblante calmo e cumprimentou a todos com aparente diversão no tom de sua voz. Durante a explicação da matéria Lauren ousou fazer duas ou três perguntas e todas foram respondidas de forma natural por Camila. Não houve avanços, mas também não houve nenhum recuo, o que para Lauren era motivo de alegrar-se tanto quanto.

Saudações explodiram na sala atrás de si e Lauren virou-se para ver quem acabara de chegar, apenas para encontrar os castanhos infinitos ao seu alcance. Um sorriso espontâneo brotou-lhe nos lábios e ela não o impediu, deixou-o sair solto de encontro a latina, que limitou-se a um acenar gentil e leve com a cabeça, que Lauren retribuiu de pronto.  

- Cadê o Troy? – Camila questionou voltando sua atenção para a Ally.

- Trabalhando... – Ally respondeu num tom baixo.

Lauren voltou para o interior do apartamento e Jacob deslizou a cadeira ao seu encontrou com um sorriso largo nos lábios, que a morena não tardou em corresponder.

- Legal que você convidou a Dra. Benson...

- Achei que seria bacana para todos se despedirem dela.

Ambos encaravam do outro lado do apartamento a loira numa conversa animada com Normani e Dinah.

Ally estava sentada no sofá e Camila sentou-se ao seu lado, tentando ligar para Troy, já que a menor alegou ter desistido.

- Ele não atende, não adianta. Deve estar no meio de alguma reunião importante.

- Qual o número da secretaria? – Camila pediu.

- Eu já liguei para a secretária não atende também, até porque já é tarde os funcionários não estão mais lá.

Camila bufou e deu-se por vencida.

 

Os auditores depositaram as últimas planilhas de analises sobre a mesa de Troy e sentaram-se a frente do homem. Havia três deles, todos com a expressão exausta, depois de longos dias de trabalho.

- Há de fato um desvio. – O mais velho deles anunciou. – Como prevíamos.

O semblante de Troy permaneceu o mesmo, aquilo não era surpresa.

- Isso já era de se esperar, mas um desvio onde? De quem? – Questionou irritado passando uma das mãos pelos cabelos loiros.

- As contas saem do financeiro com um numerário e chegam ao contador com outro valor. Quem faz essa transmissão de dados?

- Eu. – Troy respondeu simples e os três homens o encararam com olhos frios. – Eu não estou desviando dinheiro da minha própria empresa. – Apontou como se fosse óbvio. – Eu não teria contratado vocês para fazer uma auditoria se fosse eu o responsável pelo rombo. Isso é ridículo. – Desdenhou.

- Pode ser alguém da sua confiança... – Um dos três falou.

- Uhum! – Troy concordou um tanto transtornado, desejando encerrar a conversa. – Vocês tem mais alguma coisa a acrescentar?

- Está tudo nos documentos. Todas as conclusões alcançadas...

- Ok! Vocês podem se retirar agora. – Estava impaciente e irritado.

Segundos depois Troy estava sozinho em sua sala. Encarou os papéis a sua frente e soltou o ar com indignação, não era possível que os desvios partissem da própria administração. Rolou os olhos, indignado pelo resultado absurdo daquela auditoria, principalmente depois de todos os esforços e expectativas que havia lhe custado.

Resignado puxou a pilha de documentos e começou a lê-los, ignorando seu celular, que configurado no silencioso, limitava-se a acender a cada nova chamada recebida, mas sem fazer alarde o suficiente para atrair a sua atenção.

 

- Vamos esperar mais alguns minutos... – Camila pediu. – Ele deve estar a caminho, no trânsito, por isso não atende. – Falou ao ver Dinah colocando a comida à mesa.

- Tudo bem! – A maior concordou, mas não interrompeu a tarefa.  

- Nós precisamos anunciar algo e é importante que todos estejam aqui. Esperaremos por Troy – Normani concluiu.

Lauren conversava com Jacob e Savannah sobre alguns detalhes de como funcionaria a pesquisa sem a médica no comando das sessões.

- Eu vou mudar meu horário para noite. – Jacob salientou. - A vantagem de fazer no período da tarde era ter você como médica. – Riu.

- Eu fico lisonjeada. – Agradeceu. – É legal que o hospital ofereça o a possibilidade do turno da noite, para os que trabalham é a melhor solução...

Camila observava a interação de onde estava, ainda sentada do lado da Ally.

- Está tudo bem? – Ally questionou ao vê-la atenta na conversa alheia.  

- Sim. – A latina respondeu simples, desviando os olhos dos três para a mulher.

- Que bom que você veio. – A menor sorriu docemente e Camila deixou-se sorrir em retorno.

- Você está bem? – Perguntou ao analisar Ally detidamente. Ela tinha olheiras, um semblante opaco e parecia levemente mais magra. Fazia dias que não se viam e a latina sentiu remorso por aquilo.

- Estou cansada. – Disfarçou. – Tenho dormido pouco. Essa situação toda com a empresa tira o sono não só do Troy... – Justificou. 

Camila encarou Ally por alguns segundos, vasculhando nos olhos escuros da menor algo que justificasse a sensação que tinha de que aquilo não era mentira, mas sim uma meia verdade. No entanto, Ally desviou o contato e contraiu os lábios numa espécie de sorriso sem graça. A latina deslizou sua mão por sobre a da menor e apertou os dedos pequenos nos seus.

- Ele não vem. – Ally confessou baixinho ao sentir o aperto de Camila lhe confortar. – Ele tem trabalhado até tarde todos os dias.

Camila mordeu o lábio inferior e soltou o ar com lamento, aquilo a preocupava de verdade.

- Vai ficar tudo bem... – Garantiu. – A gente é mestre em passar por coisas realmente ruins. – Tratou de aliviar a tensão que via na menor, porque aquelas palavras se encaixariam até para as coisas que Ally eventualmente não lhe disse. Funcionou, viu a menor relaxar os ombros e lhe sorrir fraco, mas com sinceridade.

- Que bom que você veio. – Repetiu. 

Lauren deixou sua atenção desprender da conversa de Jacob e Savannah e seus olhos correram para onde Camila e Ally estavam. As mãos da latina apertavam firmemente a da menor e havia um mínimo sinal de alivio em Allyson, que Lauren não sabia como havia surgido, mas teve vontade de agradecer Camila por produzi-lo. Sorriu involuntariamente para a cena, um sorriso maior do que esperava exibir, o que não passou despercebido pelas mulheres sentadas no sofá.

Ally lhe encarou e sorriu em retorno. No entanto, no momento que Camila rolou os olhos em sua direção Savannah posicionou-se entre elas, impossibilitando a visão da latina.

- Você falou com ela? – Ally perguntou a Camila.

- Ela está em todos os lugares, eu não tive outra saída.

- E como foi?

Camila ergueu os ombros numa tentativa de demonstrar-se indiferente ao assunto.

- Nada demais... Você falou com ela? – Inverteu o jogo.

- Sim. – A menor respondeu rápido.

- E como foi?

- Como eu precisava que fosse...

- É bom ver você e Jake felizes por ela estar de volta. Eu sei que vocês sentiram muito a falta dela aqui.

- Fala a verdade pra mim... – Ally procurou os olhos de Camila com o seu. – Não existe nem uma pequena partezinha de você feliz porque ela voltou?

- Porque estaria? – Camila tentou conter sua indignação pela pergunta sem fundamento de Ally, mas não evitou que soasse grosseiro.

- Porque durante muito tempo essa era a nossa maior duvida, não era? Saber se um dia ela se importaria o suficiente para voltar. Ela voltou. Então eu acho que temos uma resposta agora. Ela se importa, Camila. – Foi Ally quem apertou a mão da latina dessa vez, para assegurar-se de que Camila lhe escutaria. – Sabe o que eu acho? Que ela não voltou antes porque estava perdida, não da gente e sim dela mesma.  Só que ela sempre se importou, ela se importava tanto que foi isso que fez ela se encontrar de volta.

Camila engoliu em seco as palavras sem expressar reações e quando Savannah deu um passo para o lado não havia mais nada entre ela e a imagem de Lauren. A morena já não lhe encarava porque tinha os olhos perdidos em Jacob, que falava algo aparentemente importante. Lauren estava ali, devota ao homem em sua frente, oferecendo-lhe seus olhos e seus ouvidos. Ela sorriu de algo que ele falou, um sorriso leve, mas que enrugou a pontinha do nariz. Lauren havia voltado e, pensando neste fato isoladamente, Camila deixou-se aceitar que, talvez, Lauren se importasse e, talvez, aquilo fizesse uma partezinha dela regozijar-se em um misto de alegria e satisfação, talvez, felicidade? Seu maxilar travou pela constatação.

- Eu vou tentar falar com Troy mais uma vez. – Falou de súbito cortando o próprio pensamento e levantou-se de onde estava sem preocupar-se em responder o apontamento de Ally.

Assumir o controle de si mesmo é custoso, não é um processo fácil, ou rápido. Todos os dias Camila precisaria readquirir uma pequena parcela do que era e, ela não sabia ainda, mas haveria, eventualmente, algumas parcelas incômodas. Como aquela, que era capaz de sentir-se feliz pelo retorno de Lauren.

A latina trancou a porta do banheiro atrás de si e puxou o ar com força, sentido que o controle iniciava pela sua respiração antes de qualquer coisa. Soltou. Puxou mais uma vez e soltou. Acalmou-se. Não deixou que nenhum desespero, ou raiva, lhe dominasse, ela estava no comando de si. 

Discou mais uma vez o numero de Troy e fechou os olhos pedindo, numa oração muda, que ele lhe atendesse. Estava preocupada que ele furasse com todos e não fosse ao jantar, além disso precisava dele ali, Troy era uma fonte de força e inspiração. Ele atendeu.

- Graças... – Resmungou ao ouvir a voz do homem do outro lado da linha.  

 

Troy adentrou o apartamento vermelho e todos pararam para olhá-lo.

- Desculpa... Eu vim pela escada porque... O elevador estava demorando. – Manejou falar cansado. – Eu não consegui sair antes... Desculpa. – Direcionou a Ally e foi até a baixinha, que lhe recepcionou complacente.

- Ok. – Dinah caminhou até o meio da sala e falou alto, chamando atenção para si. – Agora que estamos todos aqui vamos aos fatos?

- EU VOU PARA PARIS! – Normani anunciou sem pestanejar de onde estava, sentada numa das baquetas que serviam a bancada da cozinha, e todos os pares de olhos voltaram-se para ela. – Mas não pensem que vocês vão se livrar de mim, porque eu voltarei o mais rápido possível. – Finalizou.

As reações foram distintas. Troy foi o primeiro a abraça-la, desejou sorte.

Ally emocionou-se.

- Eu não acredito que já estou com saudades. – Resmungou afundando-se em Normani, que lhe apertou fazendo um bico.

- Como você faz para conseguir tudo o que quer? – Lauren questionou num misto de descrença e divertimento Dinah, que ergueu os ombros convencida. 

Todos cumprimentaram Mani e o furor ao redor da novidade persistiu durante o jantar, que Dinah tratou de servir logo após.

- Quando você vai? – Camila perguntou curiosa sentando-se à mesa.

- Final de novembro.

- Quando você volta? – Foi Ally quem perguntou.

- Se tudo der certo em cinco anos...

- Mas você vem visitar, não vem? – A menor desesperou-se.

- Credo! Claro que eu venho e vocês têm que ir para lá também. Todos. Ou eu vou morrer sozinha naquele país.

- Paris é linda. – Troy usou um tom de voz doce enquanto servia-se de um punhado de salada. – Você vai amar... Vai até se esquecer da gente quando chegar lá, não vai mais querer voltar... 

- A Lauren própria criadora do isolamento voltou. Você acha mesmo que euzinha não voltarei? – Normani indagou espontânea e Lauren moldou um perfeito “O” de espanto e indignação em seu semblante.

- Ei! – A morena jogou uma bolinha de guardanapo em Normani. – Vai devagar ai...

Houve uma gargalhada uníssona e nem mesmo Camila conseguiu impedir um riso fraco de escapar-lhe dos lábios. Lauren esperou que todos cessassem o riso e adotou um tom sério.

- Eu sei que deixei uma má impressão sobre ir embora. – Iniciou encarando Normani. – E sei que isso de alguma forma pesou na demora da sua decisão sobre ir ou não para Paris, e, provavelmente, pesa em todos que estão nessa mesa nesse momento. Eu consigo ver o medo do abandono e o desespero de que você não volte por trás dos sorrisos e das felicitações de todos. – Lamentou. – Mas eu já te falei isso antes e repito. Você está indo por todos os motivos certos e não há erro nisso. Independentemente, ainda que houvesse... A gente sempre volta para o que precisa e eu não tenho dúvidas que você precisa da gente, tanto quanto nós precisamos de você.

Quando Lauren terminou de falar não havia um único rosto que não estivesse voltado em sua direção e Normani tinha os olhos marejados, não mais que os de Ally.

- Tão fãs de um climão... – Jacob soltou. – Eu tenho os amigos certos.

- Querem mesmo saber o que é um climão? – Troy perguntou divertido embarcando no assunto. – Você pagar para fazerem uma auditoria na sua empresa e ao final os auditores concluírem que é você quem desvia seu próprio dinheiro. Talvez eu denuncie a mim mesmo na polícia. – Riu.

- Que? – Ally questionou boquiaberta.

A conversa seguiu ininterrupta entre o farfalhar dos talheres, risadas e comentários expressivos surgiam tão naturalmente quanto as assuntos mudavam. Dinah engasgou de rir quando Savannah começou a expor seu rol de histórias bizarras e exóticas do Pronto Socorro e Lauren não conseguiu livrar-se da louça.

Antes de todos saírem da mesa ela já vestia um avental, pronta para ir a pia. Ao menos Jacob lhe ajudou tirando a mesa, enquanto gabava-se que era o único ali a conseguir levar todas as louças para lavar de uma só vez, isso porque as acomodou sobre as pernas, de forma a não perder a mobilidade, mas tendo que deslizar a cadeira com muita calma.  

Ally se prontificou a secar a louça. Logo Camila e Troy rumaram para o conforto da sala, enquanto Savannah usava Jacob de modelo, deslizando o dedo na altura do joelho dele, para explicar algo medicinal à Normani e Dinah.

A latina se sentou numa das poltronas fofinhas do apartamento e Troy acomodou-se no braço do móvel.

- Ela não está bem... – Camila indiciou, sabendo que Troy entenderia a quem ela se referia.

- Eu sei. – Confessou. – Eu a flagrei chorando ontem a noite, mas ela não me contou o que está acontecendo. Disse que está preocupada com a empresa...

- Você tem que contar para ele... – Lauren advertiu Ally entredentes enquanto enxaguava um prato. – Ele precisa saber.

- Eu decidi esperar o resultado do outro médico. Além disso, você viu como ele está envolto com os assuntos da empresa, Lauren, ele não tem cabeça para lidar com isso agora...

Lauren depositou o prato no escorredor e encarou a mulher ao seu lado.

- Eu tenho experiência com auditorias, porque fazemos todos os anos nas filiais do hotel. Eu posso tentar ajudá-lo com isso... – Sugeriu.

- Estou um pouco surpreso que tenha vindo. Como você está?  – Troy perguntou a Camila.

- Não é tão simples. – Informou. – Eu ainda não consigo agir naturalmente e a raiva é algo involuntário, difícil de ser evitado, mas você tinha razão, estabelecer limites e controlar a situação me deixa muito mais tranquila. Eu senti isso hoje de manhã, no início eu estava nervosa, mas depois ficou mais fácil. 

Troy apoiou uma das mãos no ombro de Camila e apertou minimamente.

- É o primeiro passo... Em minha opinião você está indo bem.

Camila se calou. Queria ter a confiança de Troy, porque na opinião dela aquele poderia até ser um primeiro passo, só não tinha tanta certeza em direção ao que.

- A propósito. – Troy voltou a falar. – Seu talento é inconfundível.

- Ah? – Camila questionou confusa e Troy indicou com a cabeça o grande quadro na parede da frente, que exibia exuberante a fotografia de Dinah e Normani dançando e que ela havia tirado anos atrás.

O homem se levantou de onde estava e foi para a cozinha. Camila continuou em silêncio encarando a fotografia de sua autoria, a imagem ali eternizada possuía tanta vivacidade quanto em sua memoria. Ela poderia rever em sua frente os movimentos bem marcados, as posturas firmes e delicadas ao mesmo tempo, a sincronia perfeita das amigas em palco. Por um segundo jurou ouvir o balanço da música ao fundo.  

Lauren, que havia dado seu lugar a Troy na pia, já que o homem insistiu em terminar de lavar a louça, parou o gesto de secar as mãos no pano de prato, quando seus olhos recaíram sobre a latina. Algo na cena, que passava despercebida aos outros, fez seu coração inflar.

Camila encarava a fotografia na parede com fascínio, deslumbramento, quase uma curiosidade, pensou Lauren. Como quem vê pela primeira vez algo que gostou muito e não consegue desviar os olhos sem perder ali bons minutos, se questionando como fora feito, quem fez, porque o fez, com qual proposito?

A latina sentiu uma fisgadinha em seu peito, uma pequena descarga elétrica que veio acompanhada da vontade de levantar e tocar a superfície da foto, apenas para garantir que era uma impressão inanimada. Riu da ideia balançando a cabeça negativamente para si própria, parou o meneio ao constatar verdes intrigados em sua direção. Lauren sentiu-se ruborizar por ser flagrada enquanto a observava e agilmente, numa tentativa de disfarçar, voltou sua atenção ao pano que tinha em mãos e a ação que havia interrompido.

No entanto, Camila não se fez de rogada seus olhos continuaram a seguir Lauren. Viu a morena jogar a toalha em cima da bancada de mármore e direcionar-se a mesa onde o restante das pessoas mantinham uma conversa amigável. Não deixou de perceber que o sorriso de Savannah abriu-se instantâneo ao menor sinal da aproximação de Lauren, e, caramba, o sorriso daquela mulher era lindo.

Ally secava a louça de cabeça baixa, concentrando-se em sua tarefa, mas podia ver Troy a espiar pelos cantos dos olhos, enquanto ensaboava um talher e outro, e havia interrogação neles. Ela sentia.

- Está tudo bem? – Ele perguntou ao enxaguar o último garfo.

Ally lhe sorriu fraco.

- Sim. – Respondeu simples buscando no escorredor um copo para enxugar, no entanto, Troy interrompeu a ação.

Ally encarou surpresa e a expressão do homem era seria, mas os olhos estavam carregados de calma, o que fez a pequena querer chorar. Sentiu seus lábios tremularem, estava muito próxima de vacilar. Troy a puxou para dentro de seus braços firmes e a envolveu por completo, apoiou o queixo sobre a cabeça da menor e nada disse, compenetrou-se somente no abraçou. Porque não há mal no mundo que não se amenize dentro do espaço de um abraço.

O gesto chamou atenção de Camila que observou o casal com afeto e, pela primeira vez em anos, correu-lhe, ainda que no espaço mais remoto da mente, o pensamento de que a cena que via a sua frente merecia um registro. Mas não um registro qualquer e sim um feito por olhos capazes de captar a essência, que garantisse a imagem o poder de carregar eternamente a ternura e singeleza do momento, da forma como ela o via. A cena merecia um registro que precisava ser seu.

Quando a latina voltou a si Jacob estava ao seu lado, lhe sorrindo amavelmente.

- Vamos embora? – Ele questionou.

- Vamos... – Ela sorriu para o marido.

Jacob não escondeu a alegria quando Camila decidiu ir ao jantar. Durante o percurso de casa até o prédio de Dinah ele mencionou, mais de uma vez, o quanto estava feliz por aquela noite e horas depois, já prestes a ir embora, a alegria permanecia. A mulher se levantou e juntos voltaram até onde o grupo estava.

- Vê se não some! – Dinah falou baixinho ao abraçar Camila, que lhe respondeu com um sorriso amável.

A latina despediu-se de Normani enquanto via Savannah abraçar Jacob com carinho.

- Amanhã você não estará mais lá? – Ele perguntou.

- Só pela manhã. – Ela respondeu afastando-se.

- Obrigado por tudo! – Ele falou com sinceridade nos olhos. – O que você faz é incrível, a sua dedicação a essa pesquisa e a todos os pacientes... É incrível. Eu serei eternamente grato a você, ao seu empenho e sua energia.

- Obrigada, Jake! Eu vou continuar na torcida por você lá de Nova York. Aliás, tenha certeza que continuarei observando os seus resultados. – Riu, levemente emocionada.

- Não se preocupe tanto assim, muitos resultados importantes já foram alcançados com o incentivo dessa pesquisa. – Olhou para Lauren ao falar e a morena sorriu, compreendendo o real significado daquelas palavras.

Savannah depositou um beijo no rosto de Jake e deparou-se com Camila ao seu lado. A latina e a loira não tinham intimidade o suficiente, por isso o abraço que seguiu foi um tanto embaraçoso e breve.

- Obrigada! – Camila agradeceu simples. – Espero que você faça um bom retorno.

- Obrigada!

Camila girou sob os calcanhares e se direcionou a cozinha, onde Troy e a Ally assistiam a movimentação e organizavam-se para ir embora também.

- Tchau casal! – Falou animada. – Eu amo vocês, sabia?

- A gente te ama também... – Foi Troy quem respondeu, depositando beijo na testa de Camila.

Jacob acenou para Troy e Ally já a caminho da saída, enquanto Camila pegava sua bolsa na sala. 

- Tchau seus lindos! – Falou para os dois.

- Tchau, Jake! – Ally mandou um beijo no ar.

- Eu vou lá ainda essa semana... – Troy finalizou um assunto que começaram durante a noite. – Levo os documentos da auditoria para você me ajudar a conferir. 

- Perfeito. A gente combina por mensagem. – Jacob completou já alcançando a porta, que Lauren correu para lhe ajudar a abrir ao ver que havia um tapete enroscando nela.

- Tchau, Laur! – Jake falou enquanto Lauren segurava a porta aberta para ele passar.

- Tchau, Jake! – Lauren curvou-se e depositou um beijo leve no rosto do amigo e ele saiu para o corredor a fim de chamar o elevador.   

Lauren manteve-se segurando a aporta, pois Camila vinha logo atrás. A latina tinha os olhos grudados no interior da bolsa onde procurava a chave do carro.

- Tchau! – A voz rouca de Lauren soou ao seu lado e a fez brecar, já estava um passo para fora do apartamento, virou-se de encontro à voz e deparou-se com órbitas terrivelmente verdes.

Lauren sorriu amigavelmente e Camila não teve reação.

- Até amanhã? – A Latina soltou sem pretensão.

- Até amanhã... – Respondeu com um semblante tranquilo. – E obrigada por ter vindo... – Completou.

Camila segurou seu olhar no de Lauren por um breve segundo, dimensionando o significado daquela frase. A presença dela ali era um passo importante e em algum momento durante a noite Camila deu-se conta que era importante não só para ela, mas para todos. Sorriu para Lauren ao fim. Sentiu-se plenamente satisfeita consigo mesmo por ter ido, como sentiu-se satisfeita ao lançar um último olhar para a bela fotografia na parede antes de afastar-se de vez.

 

Lauren nunca fora amante das artes, não que fosse incapaz de apreciar as belezas que só delas advém, tampouco era insensível a ponto de não compreender a importância delas. O problema é que há na grandeza do artístico algo abstrato demais, ilusório demais, e Lauren não era uma pessoa dada a abstrações, ou ilusões. Nunca fora, não era da sua natureza.  

No entanto, analisava atentamente as linhas de contraste, os pontos iluminados, os ângulos de cada foto que era projetada no quadro da sala. Passou a imaginar que por trás de todas as obras de artes havia alguém como Camila costumava ser e aquilo era suficiente para prender sua atenção até em rabiscos desenhados em uma calçada. 

Lauren sempre fora assim, não amava as artes, mas ao menor sinal de Camila detinha-se. Ironia, ou não, era a arte em Camila o que mais fazia falta.

A foto no quadro apagou e outra imagem surgiu, um por do sol em um campo aberto impregnado de tons alaranjados e amarelos, que formavam sombras e silhuetas.

- Golden Hour – A voz de Camila soou baixa vinda das sombras de um dos lados da sala. – Ou a hora de ouro, o horário queridinho dos fotógrafos, ao nascer ou se pôr do sol quando a angulação frontal dele é perfeita para ser capturada, passando a fazer parte do cenário das imagens. Não é só isso... – Camila surgiu em frente ao quadro e a projeção da foto reproduziu-se sobre ela. – Conseguem ver como as sombras se tornam mais suaves? – Ela indicou um ponto sombrio com um dos braços. – Isso se chama luz dura e luz suave. A luz suave ajuda a dramatização da imagem, é praticamente um filtro natural.

Lauren em algum momento perdeu-se no dourado brilhando em Camila. Havia algo de muito macio no tom de voz usado pela latina àquela manhã que lhe fazia sentir-se flutuar, como se fosse Camila o próprio filtro de raios solares das fotos: suaves, ternos, livres, cheio de sombras arrastadas e impregnadas de uma magia nostálgica.

Se você pudesse usar um filtro para capturar todas as imagens da sua vida, qual seria? Sob qual efeito você guardaria suas memórias? Qual a tonalidade e a cor de seus momentos? Você brilharia como uma luz dura, ou suave? Lauren não entendia muito de fotografia, de artes, cores, filtros ou luzes. Mas se ela tivesse escolha o filtro de sua vida seria feito da voz de Camila.

Sorriu em direção a ela e a latina lhe devolveu o sorriso amistosamente.

- Prestem atenção nas imagens... – Alertou e Lauren forçou-se a recobrar a postura. – Eu quero que vocês percebam que não se precisa de muito para fazer uma fotografia bela. É tudo uma questão de enquadramento, luz e algumas técnicas...

Perdeu-se de novo e voltou a si quando as luzes da sala foram acesas ao termino da aula. Os demais alunos já se punham de pé e Lauren nem sequer havia levantado, queria agarrar-se na sutileza daquela manhã.

Camila encostou-se a sua mesa, de frente para a sala e observou os últimos alunos saírem porta a fora, despedindo-se frenéticos.

- Pelo que eu entendi teremos que tirar fotos com todas essas técnicas que você mostrou hoje? – Perguntou à Camila de forma simples, guardando o bloco de anotações que usava em sua bolsa.

- Sim... – Camila respondeu. – A avaliação final do curso é feito com base nessas fotos.

- Mas são técnicas bem elaboradas... Você acha que, mesmo alguém sem talento algum pode fazer isso? – Preocupou-se.

- Como você mesma disse: é técnica. Não é um dom, para isso que servem os professores, para ensinar a técnica. – Riu, vendo Lauren percorrer a sala na sua direção ao invés da oposta, a da porta.  

- Eu não entendo nada de fotografia. – Confessou. – Será que eu consigo? – Estava realmente preocupada.

Com Lauren próxima Camila viu logo abaixo dos olhos verdes um cílio caído, conteve o instinto de levar uma das mãos até o rosto da morena para tirá-lo.

- Nenhum aluno até hoje reprovou e te garanto que nem todos entendiam sobre fotografia. – Pegou suas coisas depositadas sobre a mesa. – É só dedicar-se a dominar uma coisa de cada vez e vai dar tudo certo...

- Uma coisa de cada vez... – Repetiu internalizando o conselho.

- Tchau Lauren! – Camila despediu-se com um sorriso sem mostrar os dentes.

- Até amanhã...

Lauren assistiu Camila sair da sala e ao olhar para fora, de alguma forma, o filtro ainda parecia estar lá. Talvez fossem em seus olhos, ou projetados por sua mente. Forçou a visão e lá do lado de fora reconheceu os olhos azuis e cabelos loiros de Savannah.

Demorou menos de um minuto para alcançar a frente do prédio.

- Ei! Eu disse que te pegaria no hospital. – Adiantou-se a falar antes mesmo de chegar até a médica.

- Eu sei! Mas eu não tinha mais o que fazer lá e estava entediada, então resolvi dar uma última volta por Miami e te encontrar aqui.

Lauren aproximou-se de Savannah e depositou um beijo delicado em seu rosto acompanhado de um meio abraço.

Camila, que saia da garagem à lateral do prédio em seu carro, teve seus olhos sugados pela aparição das mulheres. Observou a interação mesmo sem escutar uma única palavra do era dito, devido a distância e aos vidros fechados do carro.

- Tem uma coisinha aqui. - A loira falou levando a mão até o rosto de Lauren com pericia e retirou o pequeno cílio caído. – Pronto.  

- O que é? - Perguntou curiosa.

- Um cílio. Aperta aqui e faz um pedido... – Esticou o polegar com o pequeno cílio, para que Lauren apertasse com o dedo.

- Isso é ridículo.

Savannah rolou os olhos e Lauren se deu por vencida e fez o que médica pediu.

- Mentaliza o pedido com a mesma força que apertar hein...

Lauren riu, mas fechou os olhos e mentalizou. Savannah aliviou a pressão no polegar e soltou os dedos. - Droga! – Resmungou. – Não acredito que ficou com você. O que você pediu?

Um sinal de luz refletiu no retrovisor e Camila atentou-se ao fato de que outros veículos queriam sair do estacionamento. Acelerou o carro para a rua, acompanhou pelo espelho interno Lauren, cada vez menor e mais distante, formar um bico com os lábios, soprar o próprio dedo e disparar um sorriso para a mulher a sua frente.  

- Se eu contar não se realiza. – Respondeu para Savannah.

- Ah qual é? Você nem queria fazer pra começo de conversa. – A loira retrucou lhe fazendo gargalhar.

- Temos até a noite livre? – Lauren perguntou.

- Sim, meu avião sai às 20h.

 

- Então esse é o lugar que você queria me mostrar? – Savannah perguntou enquanto cruzava a ponte de pedra que ligava a calçada do Vizcaya Museum a um pequeno cais.

Lauren levou uma das mãos aos olhos, protegendo-os do sol que brilhava forte no céu da tarde.

- Sim. – Confirmou. – Você vai embora hoje, não podia te deixar voltar para Nova York sem conhecer um dos lugares mais lindos de Miami. – Pontuou convicta.

- É de fato muito bonito aqui. – Savannah concordou girando a cabeça para observar ao redor. – Essa construção é incrível. – Referiu-se ao prédio que acabaram de deixar para trás.

- O engraçado é que antes de morar em Nova York eu estive aqui poucas vezes, mas desde que eu voltei se tornou um dos meus lugares preferidos.

- Você sente falta de Nova York? – A loira perguntou curiosa, realmente interessada na resposta que Lauren daria.

- A cidade em si, talvez. A forma como eu me sentia estando lá não.

- Complexo... – Savannah encarou Lauren franzindo o cenho de forma a deixar os olhos num risco, o que fez a morena rir de leve.

- Eu acho que, nesse momento, não existe outro lugar no mundo onde eu deveria estar e isso me deixa tão satisfeita que não há espaço para sentir falta de Nova York.

As duas deram meia volta no final do cais e puseram-se a voltar pelo mesmo caminho.

- Eu entendo você. – Savannah pontuou. – Mas você sabe... Momentos não são para sempre.

- Como assim? – Lauren questionou confusa.

- Nesse momento você tem a necessidade de estar aqui, mas pode ser que, em algum ponto, essa necessidade deixe de existir e você sinta que é hora de voltar. – Havia um meio sorriso em Savannah, despretensioso, apenas brincando em seus lábios, como era característico dela.

- Eu não estou pensando nisso agora. – Lauren respondeu sincera. – Mas, de qualquer forma, você tem razão.

- É eu sempre tenho. – A loira soltou convencida.

- Eu gosto do jeito como você pensa... – Lauren confessou.

- O que você pediu?

- Eu não vou contar... – Respondeu indignada. – Para de perguntar. – Empurrou de leve um dos ombros da mulher com o seu.

- Me deixe adivinhar então... Você pediu dinheiro?

- Eu não preciso de dinheiro!

- Eu esqueço que você é rica. – Riu.

- Eu não sou rica. Só não preciso de mais dinheiro.

- Então você pediu aquele sanduíche maravilhoso de frango?

Lauren gargalhou.

- Definitivamente não!

- Ah! Então você pediu férias?

- Eu gosto do meu trabalho. Além disso, não é como se eu já não estivesse tendo algum tempo livre desde que vim para Miami.

- Eu desisto! – Savannah deixou os ombros caírem e Lauren riu.

 

Lauren levou Savannah ao aeroporto aquela noite e diante da iminência da despedida sentiu-se triste. Em pouco tempo a médica havia se tornado especial, por tudo que fizera, pelo humor espirituoso, por todas as conversas fáceis e sorrisos doces que lhe arrancou, pela companhia disponível e conselhos adoráveis. Savannah era o tipo de pessoa que qualquer ser humano desejaria ter ao seu lado, ela era a junção de todas as coisas que fazem bem, que inspiram os outros a serem pessoas melhores, ao menos Lauren se sentia assim sempre que a tinha por perto.

- Me mande notícias do Jake, ok? – A loira pediu com olhos brilhosos parando de pé em frente a Lauren na primeira chamada de seu voo.

- Pode deixar!

- E do Giu, também...

- Sim, Dra.

- E não se sinta envergonhada em me pedir algo, mesmo longe eu posso ajudar com muitas coisas.

- Tá bem... Se eu ou Jake precisarmos de algo recorremos a você.

- Você pediu para que ela voltasse? - Lauren soltou uma risada nervosa, meio anasalada e muito constrangida.

- Não... – Tentou negar.

- Você espera que ela volte. Você não tem certeza se é possível, mas deseja que seja. Tudo bem, Lauren, é difícil assumir isso. – Savannah procurou pelas mãos de Lauren e segurou entre as suas. – É quase tão difícil quanto foi aceitar a sua sexualidade. São questões morais suas. Para você era moralmente errado amar outra mulher e agora está diante da mesma batalha interna, você acha moralmente inaceitável que tenha voltado por Camila, porque ela é casada e casada com o Jake.  

- De onde você tirou isso? – Lauren mostrou-se relutante.

- Você sabe... Médicos... Nós diagnosticamos doenças e problemas pelos sintomas, por isso é tão importante prestar atenção no que seus pacientes relatam e, principalmente, naquilo que eles calam, mas que você os percebe sentir. Com tempo isso se torna automático, querendo ou não, a gente presta atenção demais, faz diagnósticos mesmo quando não deve... Na maior parte das vezes eu guardo para mim, porque não quero ser a metida dando palpite na vida alheia.

- E por que você está me falando então?

- Porque você disse que precisava se curar para seguir em frente e isso não vai acontecer se você cometer os mesmos equívocos e eu quero que você siga em frente. – Savannah usou uma voz mais baixa, quase um sussurro que permitiu Lauren sentir o hálito quente dela em sua pele. – Ela tem cicatrizes que não vão sumir. São marcas que ficam, Lauren. A Camila não vai voltar a ser a mesma de anos atrás e você precisa superar isso de verdade.  

- Eu sei...

- Então se deixe sentir tudo o que você precisa, de verdade, para que termine, de verdade. E quando acabar, quando você tiver terminado de viver esse momento, volta para Nova York... Volta e me procura? – Intercedeu. – Porque esse foi o meu pedido também: Que ela volte.

Lauren não soube como responder a mulher a sua frente. Havia se esquecido de como era horrível a sensação de ter tudo a dizer e não ter palavras para expressar. Encarou Savannah com olhos firmes, soltou suas mãos da dela e subiu-as para as laterais do rosto da mulher, mergulhou os dedos nos fios de cabelo loiro atrás das orelhas e usou os polegares para acariciar a face da médica.

Todo homem, ao menos uma vez na vida, já esqueceu os motivos pelos quais percorre seu caminho. É que, de repente, no meio do percurso, quando a paisagem já caiu na mesmice e os desafios surgem maiores do que imaginados, tudo fica um pouco confuso: Você está na trilha da esquerda, mas a da direita têm flores mais bonitas com casas bem arquitetadas em ruas arborizadas. Então, existe logo adiante um atalho para o outro caminho e você tem em mãos a chave da casa mais bela que há lá e se flagra pensando “porque não?”. Você ousa e vai, se aproxima, olha através dos vidros das janelas de um azul tão generoso, e parece lindo, está tudo limpo e decorado com esmero e perfeição. Por que não? Você gira a chave na porta e a abre. 

Lauren grudou seus lábios ásperos em Savannah e foi recepcionada com gentileza em um beijo doce.

Você para a soleira da porta e percorre todo o interior da residência com os olhos.

Savannah deu passagem à língua ávida de Lauren, que aprofundou o beijo sem perder a delicadeza do gesto.

Você admira cada detalhe e tudo é muito bonito, tanto quanto parecia de fora, porém, é ali que você encontra os porquês para sua resposta, os motivos pelas quais não.

Lauren separou os lábios dos de Savannah e lhe sorriu. A médica imitou o gesto e antes que a morena pudesse falar algo, adiantou-se.  

- Eu preciso ir. Já fizeram a segunda chamada para o voo.  

- Uhum... Boa viagem! – Desejou com sinceridade encarando os azuis de Savannah.

- Obrigada. – Depositou, no cantinho dos lábios de Lauren um beijo carregado de carinho. – A gente se vê...

Lauren acompanhou com os olhos Savannah afastar-se por entre as pessoas e lhe enviar uma piscadela divertida em meio a um sorriso, aquele terrível sorriso encantador que tinha.

Inegavelmente era uma casa muito bonita e você estava prestes a entrar, bastava tirar os sapatos e sentar no sofá. Ali, de fato, tudo era muito melhor, mas nada tinha a sua cara, a sua marca ou o seu toque. Aquela não era a sua casa, aquele não era o seu caminho. Então, você da meia volta, fecha a porta com educação e agradece a oportunidade, ciente de que ela era mesmo ótima só não era sua. É nessas horas que você recupera a força, resgata o ânimo e volta para o seu caminho com os passos mais firmes do que nunca.

A trilha de Lauren era tortuosa, o chão de pedras soltas, não havia muitas flores e as sombras das árvores eram poucas e a casa do seu caminho, a sua casa, não era pequena, ao contrário era gigante, mas há muito tempo estava vazia, havia poeira nos cantos e tapumes nas janelas. Ainda assim, aquela noite Lauren retornou resoluta, repleta da aceitação de que não haveria para si outro caminho senão aquele, ou outra moradia senão Camila.

 

Play – Surrender (Natalie Taylor) – até o fim do capítulo

Os dias começaram a vir mornos conforme setembro chegava ao fim, esvaecendo-se através das horas dos últimos dias de sua existência naquele ano. Para Lauren morna era a sensação ao se sentar todos os dias na última carteira da sala de aula, para ouvir Camila explicar sobre fotografia. Continuava sem entender nada, mas apreciava cada detalhe.

Às vezes, inevitavelmente sorria, era difícil manter a postura, com um pouco de sorte Camila não via seu deslize, com muita sorte via e soltava um riso tímido e contido em retorno. Aos poucos, assim como setembro que ia embora, algo em Camila partia também.

Lauren não saberia dizer exatamente o quê, no entanto, tinha certeza que era pesado, porque até a postura da latina sugeria alívio. 

Camila saberia dizer o quê era, ainda mais, saberia dizer exatamente o quanto aquilo estava lhe custando. A libertação era grande, mas o esforço também. Todos os dias praticava o mesmo exercício mental: Assumir o controle, abrir espaços, impor limites. Era o mantra que repetia baixinho ao abrir os olhos de manhã ao encarar o teto da sala de sua casa. Repassava o pensamento antes de entrar na sala de aula, prevendo as galáxias verdes sempre ao fundo.

 

We let the waters rise

We drifted to survive

Nós deixamos as águas subirem

Nós derivamos para sobreviver

 

- Trouxeram suas câmeras, conforme eu pedi na última aula? – Perguntou ao iniciar a primeira aula do mês de outubro.

Lauren depositou a caixinha, ainda intocada, sobre a mesa. Abriu a embalagem e encarou o objeto com estranheza.

- Perfeito! – A voz de Camila voltou a soar. – Hoje vou mostrar para vocês as partes das câmeras, os nomes e qual a finalidade. Cada câmera tem suas especificidades, é verdade, mas de um modo geral todas tem as mesmas funções básicas e vamos aprender sobre elas.

Lauren nem sequer sabia manusear o aparelho. Riu de si mesmo e a cena não passou despercebida por Camila, um traço de diversão revelou-se no rosto da latina ao ver a morena girando a câmera de um lado para o outro nas mãos.

- Tem tantos botões... – Lauren confidenciou exasperada à professora, que passava de mesa em mesa verificando as configurações dos aparelhos de cada aluno.

- Me deixa ver... – Tomou a máquina das mãos de Lauren. – É parecida com a que você me deu... – Refletiu totalmente compenetrada no equipamento. Apertou dois botões laterais e não viu, mas uma expressão levemente surpresa brincou no rosto de Lauren. Devolveu a câmera a sua dona. – É um bom equipamento, eu já vou explicar para o que serve boa parte desses botões... – Camila finalizou simples, antes de passar para a fileira de alunos ao lado.

Lauren acompanhou com os olhos o movimento do corpo, a graciosidade dos gestos o entusiasmo de Camila ao analisar cada uma das câmeras. Não poderia negar que a mulher, visivelmente, fazia aquilo com muito carinho.

 

I needed you to stay

But I let you drift away

Eu precisava de você

Mas eu deixei você ser carregado para longe

 

Na manhã seguinte a latina surgiu em sala com duas câmeras analógicas em mãos e uma pilha de rolos de filmes fotográficos.

- Hoje faremos as coisas ao modo antigo! – Anunciou depositando as coisas em cima e da mesa e encostando-se também a ela. – Para sorte de alguns, aparentemente, usava-se menos botões antigamente. – Lauren rolou os olhos no meio de um riso. – Quero que vocês dividam-se em dois grupos, cada um pega uma câmera e a metade desses rolos de filmes, e saiam pelo prédio para fotografar. Voltem quando tiverem acabado todas as poses.

- Nós vamos revelar essas fotos? – Um aluno questionou.

- Sim! Vamos aprender o processo de revelação com elas, provavelmente em alguma aula da semana que vem. Mas ainda tenho que ver a agenda do laboratório para confirmar a data.

- Vamos aprender a revelar? – Lauren perguntou animada. – Tipo, mesmo? Vamos aprender o processo químico de revelação de fotos?

Toda a sala caiu numa gargalhada pela animação quase infantil de Lauren e a morena retraiu-se tímida. É que a ideia da química em meio ao curso lhe animou profundamente.

- Sim, nós vamos! – Camila repetiu. – Portanto caprichem nas fotos. – Alertou.  

Assistiu os alunos saírem em seus grupos, os sons das vozes espalharam-se pelo corredor e dissiparam-se ao longe, restando apenas ela e as carteiras na sala bem iluminada pela luz do dia. Sentou-se sobre a mesa e observou as paredes brancas, que valorizavam a claridade ainda mais. Nunca teve a dimensão exata do tamanho da sala, no entanto, analisando-a sem ninguém era maior do que parecia.

Saiu de onde estava e caminhou até o fundo do cômodo, sentou-se na carteira em que Lauren usualmente sentava-se, a última da fileira da parede no lado oposto às janelas. A visão dali era ainda mais estarrecedora, a sala duplicava de tamanho.

Com exceção das cortinas, que dançavam leves junto ao vento, nada se movia e apesar de uma gargalha ou outra, que ousada cortava o espaço do corredor até seus ouvidos, não havia barulho. Tudo estava claro, silencioso e claro. O momento não durou muito, como em geral não duram os momentos de clareza, mas foi o tempo suficiente para Camila assimilar a essência dele: Era necessário deixar-se iluminar, é na clareza do vazio que vemos o tamanho real do que somos.

 

My love where are you? My love where are you?

Meu amor, onde você está? Meu amor onde você está?

 

Aquele dia Camila adentrou em casa feito um raio, foi recebida por um Red saltitante a quem ela não deu muita atenção.

- Tudo bem? – Jacob perguntou espichando-se para vê-la sem sair de seu escritório.

Camila brecou.

- Sim! Tudo certo. – Respondeu afoita e continuou seu caminho.

Parou em frente à outra porta da sala, a que ficava ao lado daquela de onde Jacob lhe assistia. Puxou pela gola da blusa que usava um cordão, pendurado nele havia a pequena chave dourada que abriria a porta, passara a carregá-la sempre consigo desde o incidente com Lauren. Deschaveou a porta e sem preocupar-se com os olhos curiosos de Jake entrou determinada.

Cortou o ambiente em passos largos, abriu as cortinas com urgência deixando a luz entrar, não satisfeita escancarou todas as janelas do quarto. Não bastava a luz, Camila precisava da ventilação. Soltou todo o ar que parecia pesar-lhe os pulmões e observou o o sol, em toda a sua majestosa luminosidade, entrar por entre suas coisas, tocando as superfícies de suas fotos, refletindo no vidro das lentes de suas câmeras, tocando as paredes, os móveis e a si mesma. Sorriu aliviada.    

Jacob, que espantado pela singularidade da situação saiu de seu escritório e foi ver o que Camila fazia, parou à entrada do quarto, ciente de que não era pertinente ultrapassar dali.

- Está tudo bem? – Questionou intrigado.

- Sim. – Respondeu com naturalidade. – Só precisava abrir isso aqui e deixar o ar circular um pouco.

- Ok. – Limitou-se a concordar como se aquilo fosse comum. 

- Você já almoçou? – Camila perguntou docemente.

- Estava esperando você...

Outubro trouxe a Lauren o princípio da realização, da efetivação, talvez não fosse apenas outubro, e sim o conjunto de todas as coisas fluindo. No sábado decidiu de uma vez por todas sair para caminhar. Aproveitou o clima ameno, colocou um tênis de corrida, que não se recordava em que momento da vida havia comprado e foi. Sentiu-se fazer parte do movimento, o coração acelerado e o fôlego que lhe faltando foi o ápice da sensação de estar viva.

Aproveitou para levar sua câmera e tentou com afinco usar as técnicas de fotografia já aprendidas. Tirou foto de todos os ângulos imagináveis do Vizcaya, afinal era seu lugar preferido, haveria de servir para inspiração. No entanto, aparentemente, inspiração não seria suficiente para Lauren. As fotos ficavam ‘ok’, mas não chegavam aos pés das que mostravam no curso.

No seu percurso de volta, ao cruzar distraidamente as vias movimentadas de turistas e moradores do Coconut Grove, não se deu conta, mas olhos castanhos curiosos passearam juntos de si. Camila, que como de costume segurava Red na coleira de corda azul, viu no refletida na vitrine de sua loja de artesanato preferida Lauren passando do outro lado da rua. Protegida pela distância e o vai e vem de pessoas a latina limitou-se a seguir Lauren com os olhos. Viu-a desviar de um grupo de turistas indecisos, que empacaram na entrada de um restaurante, logo em seguida foi interrompida por um cachorrinho, que interceptou seu caminho. O dono puxava o animal insistente em mover-se na direção a Lauren, a morena abaixou-se para acariciar a cabeça de pelos pretos e levou uma lambida na mão. O dono desculpou-se e Lauren sorriu gesticulando para o homem que tudo bem.

Lauren estava ali e estava em todos os lugares.

 

Whenever you're ready (whenever you're ready)

Whenever you're ready (whenever you're ready)

Quando quer que você esteja pronto (Quando quer que você esteja pronto)

Quando quer que você esteja pronto (Quando quer que você esteja pronto)

 

No meio da tarde de domingo, enquanto Jacob dormia no tapete da sala ao lado de Red, Camila entrou em seu quarto de fotografia, que passara a abrir todos os dias. Sentou-se sobre o balcão branco, flexionou as pernas e enlaçou-as com os braços, aconchegou o queixo nos joelhos e assim permaneceu por horas, imóvel, desejando fundir-se ao ambiente, para, de alguma forma, fazer parte do que era seu outra vez. Admirou profundamente o que tinha ali, as fotografias nas paredes, a macha amarronzada sobressaindo-se em uma delas, tantas outras dispersas por sobre a mesa, suas máquinas e lentes em desuso, levemente empoeirados, alguns livros que há anos não abria, catálogos de exposições que nunca viu.

Precisava controlar aquela parte de sua vida de novo e sabia disso, no entanto, seria o mais difícil a ser feito. Precisaria abrir algo em si que nunca soube controlar, uma parte que não enxergava demarcações e tampouco respeitava limites. Não sentia-se suficientemente forte para isso, agarrou-se ao fato de que, ao menos, não estava mais no escuro.

 

Can we, can we surrender

Can we, can we surrender

I surrender

Nós podemos, nós podemos nos render?

Nós podemos, nós podemos nos render?

Eu me rendo

 

Alguns passos são mais difíceis que outros, assim como algumas técnicas levam-se mais tempo para serem aprendidas. É natural aos seres humanos a dificuldade em lidar com aquilo que não dominam. Camila levou todos os alunos para o terraço do prédio onde funcionava a escola, o vento ali era um pouco mais forte e fazia os cabelos esvoaçarem e o som dispersar.

- Quero que vocês tirem fotos do sol e usem a técnica do lens flare. – Camila falou alto para garantir que era ouvida por todos. – Essa técnica é na verdade uma a distorção do raio de luz quando ele entra diretamente pela lente, porém pelas bordas e não no centro dela. Isso causa um reflexo na imagem, que podem ser em formato de anéis ou raios. Igual esse aqui. – Entregou uma fotografia de exemplo para correr entre as mãos dos alunos.

As câmeras foram aos poucos sendo apontados ao céu. Lauren aproximou-se de uma das beiradas do prédio e tirou diversas fotos, mas em nenhuma delas surgia o efeito desejado.

- O segredo. – A voz de Camila surgiu em suas costas e aproximou-se mais para se fazer audível. – É o ângulo em que você aponta a câmera. – Ao fim, Lauren a escutou quase no pé do ouvido.

A latina levou uma das mãos ao cotovelo de Lauren e com muita perícia angularizou o aparelho. Lauren não moveu um musculo de seu corpo, exceto por aqueles que Camila forçava, prendeu firme a câmera entre os dedos, porque a proximidade inesperada a deixou fraca.

 

No one will win this time

I just want you back

Niguém vai vencer dessa vez

Eu só quero você de volta

 

- Dispara agora. – Camila autorizou.

Lauren obedeceu ao comando e disparou mais de uma vez, por garantia. Abaixou a câmera para ver o resultado no display e lá estava o maldito efeito, anéis vermelhos cortavam a foto, verticalmente, saídos diretamente do sol. Lauren sorriu largo e esticou o aparelho para Camila ver.

A latina sorriu também, satisfeita como resultado alcançado. 

- Parabéns!

- Eu só apertei o botão, essa foto é sua. – Lauren respondeu dando de ombros já apontando a câmera para cima outra vez.

Camila nada respondeu perdeu-se em algum ponto da constatação: Essa foto é sua. Era sua?

Já no fim da tarde, enquanto voltava para casa, olhou para o céu mais de uma vez. Talvez, de alguma forma, indiretamente, fosse sua mesmo. Fechou a porta da casa atrás de si preocupada apenas em dar atenção à Red, que pulava em suas pernas alucinadamente.

- Ei amigão... – Falou em um tom de voz engraçado abaixando-se para acariciar os pelos marrons e cumpridos do cachorro. – Como você está? Ãh? Você quer passear?

- Boa noite! – A voz rouca de Lauren saiu um pouco esganiçada.

Camila levantou depressa e assustada, pega desprevenida, não pela presença de alguém, mas sim porque esse alguém era Lauren.

- Oi? – Respondeu um pouco confusa com a situação.

- Mila! Você chegou! – Jacob saiu do escritório, seguido por Troy.

- Oi! Todos vocês. – Cumprimentou um pouco sem graça. – Desculpe, eu não sabia que tínhamos visitas... - Adiantou-se e cumprimentou Troy com um abraço.         

- Nós estamos ajudando Troy com a análise dos documentos da empresa. – Jacob explicou.

- Ah! Entendi...

- Lauren vá logo beber água. – Jake a apressou. – Não podemos perder o ritmo.

Lauren não respondeu, limitou-se a seguir o caminho que fazia e que foi interrompido pela chegada de Camila.

Pegou um copo que estava no escorredor da louça e sentindo-se desconfortável demais para abrir a geladeira o encheu com água do filtro da torneira. Antes que pudesse leva-lo aos lábios alguém colocou sobre a pia uma jarra de água gelada. Ela virou-se para encontrar Camila ali.

 

I'm running to your side

Flying my white flag, my white flag

My love where are you? My love where are you?

Eu estou correndo para o seu lado

Balançando minha bandeira branca, minha bandeira branca.

Meu amor, onde você está? Meu amor onde você está?

 

- Desculpa! – Adiantou-se em pedir. – Eu sei que você não gosta que eu venha aqui. Eu me ofereci para ajudar sem saber que eles iriam fazer isso justamente aqui. Achei que nós iriamos até a empresa do Troy, ou a casa dele...

- Tudo bem! – Camila a interrompeu. – Não tem problemas você estar aqui. Você veio ajudar os meninos. Está tudo bem... – Garantiu com um tom de voz suave.

- Ok. – Lauren concordou surpreendida.

- Ok! – Camila respondeu dando meio volta e saindo em direção a sala outra vez. – Vamos pedir pizza para a janta. – Escutou apenas a voz da latina a falar com Troy e Jake. – Vou chamar as garotas para virem...

- Isso é ótimo. – Jacob concordou.

Pouco tempo depois a casa estava cheia. Todos se espalharam pelo tapete da sala ao redor de duas caixas gigantes de pizza e Lauren ria exageradamente de uma história que Dinah contava, sobre um aluno que rasgou a calça enquanto fazia aula de dança.

No meio da noite, Troy aproximou-se gentil de Camila, que fora a cozinha jogar as caixas de pizzas já vazias no lixo, a abraçou e depositou um beijo no topo da cabeça.

- Estou orgulhoso de vocês. – Justificou o ato depois de finalizar o gesto.

- Oh não fique. Não é como se eu tivesse muita escolha estou aprendendo a lidar forçosamente, porque ela está em todos os lugares. Literalmente em todos os lugares e sabe o que é pior? Ela nem faz de propósito eu não posso sequer culpá-la. – Queixou-se para um Troy que suspirou, engolindo as palavras que teve vontade de dizer, mas que não seriam adequadas à situação.  

 

Whenever you're ready (whenever you're ready)

Whenever you're ready (whenever you're ready)

Quando quer que você esteja pronto (Quando quer que você esteja pronto)

Quando quer que você esteja pronto (Quando quer que você esteja pronto)

 

Todos os dias Camila se via obrigada a lidar com a presença de Lauren, em situações diversas e por motivos que já não vinham ao caso. O melhor era aceitar e adaptar-se aos fatos, foi por isso que se viu forçada a retomar o controle de sua vida. Resignou-se, porque não adiantava o que fizesse Lauren estava ali.

- Bom dia professora Whitesides! – Piedade, a secretária da casa de arte, cumprimentou Camila que entrava. – O laboratório de revelação está disponível para a Sra. hoje!

- Ah que ótimo! – Camila alegrou-se. - Vou levar os alunos da 203 lá.

Subiu as escadas contente e foi impossível não pensar na felicidade que seria para Lauren ter aquela aula. Ela era, sem dúvida alguma, a pessoa que mais ansiava essa parte do curso. Camila riu sozinha ao lembrar-se da empolgação quase infantil da morena no dia que soube que aprenderiam a revelar fotos. Foi com esse pensamento em mente e já preparando o anúncio de que iriam ao laboratório que a latina abriu a porta da sala.

No entanto, ao contrário do que acontecia todos os dias, Camila não encontrou os verdes lhe esperando impacientes ao fundo e nem em parte alguma.

 

Can we, can we, surrender

Can we, can we, surrender

Nós podemos, nós podemos nos render

Nós podemos, nós podemos nos render

 

Inexplicavelmente, seu coração errou uma batida, num impasse de desapontamento e preocupação. Foi só então que Camila percebeu, pior do que lidar todos os dias com a presença de Lauren seria, eventualmente, lidar com sua ausência outra vez.     

 

I surrender

Eu me rendo


Notas Finais


Natlie Taylor - Surrender https://www.youtube.com/watch?v=5Mrz8t0FCIc

Aguardo comentários

Qualquer coisa berra no @Clara_Decidida


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...