Tudo estava desmoronando novamente, eu me sentia fraco e cansado outra vez. Eu passei o dia todo deitado na cama me arrependendo de minhas escolhas. Aquela cama tinha o cheiro do Sebastian, eu já tinha trocado os lençóis, mas o cheiro parecia não querer ir embora, e isso me deixava ainda mais atormentado. É difícil resistir à tristeza, e eu realmente queria me levantar e seguir em frente, mas não agora. Agora eu só queria pode pensar e ficar em silêncio.
A noite chegou e o Sebastian já devia estar nos Estados Unidos junto com a Angela começando sua nova vida. Eu não fui para a faculdade naquele dia, não tinha vontade nem de me mover, quanto mais de sair de casa.
O Soma havia me ligado várias vezes, mas eu não atendi. Eu não queria falar com ninguém, o silêncio era a única companhia que eu queria ter. Todos os meus pensamentos giravam em torno do Sebastian e eu não acho que o Soma iria querer me ouvir falando dele o tempo todo.
O Sebastian nunca esteve comigo de verdade, e agora menos ainda. Nós quase não nos víamos, mas mesmo assim eu sabia onde encontrá-lo, sabia que ele estava por perto. Mas agora a situação havia mudado, ele estava distante e eu provavelmente nunca mais iria vê-lo.
Eu queria esquecer, mas não conseguia. Queria dormir, mas o sono não chegava. Passei à noite toda acordado, já estava de manhã quando consegui pegar no sono. Nem sei direito até que horas dormi, acordei com meu celular tocando e ouvindo batidas na porta. Peguei o celular e vi que era o Soma. Desliguei o telefone e continuei onde estava, mas as batidas na porta não paravam. Então me vi obrigado a ir até lá embaixo abrir a porta.
- O que aconteceu com você, Ciel?
- Nada.
- Você não foi para a faculdade, não atende ao telefone. Minha última opção foi vir até aqui.
Eu me aproximei do Soma e o abracei. Eu estava prestes a chorar.
- Ele se foi Soma. Ele me deixou, eu nunca mais vou vê-lo.
- Você e o Sebastian terminaram?
- Ele se mudou para outro país, Soma. Junto com a Angela.
Eu continuei agarrado ao Soma, enquanto chorava desesperadamente. Talvez eu precisasse colocar para fora tudo o que estava sentindo, talvez eu precisasse chorar um pouco. A gente nunca sabe o que fazer quando as coisas dão errado. Nós ficamos parados em pé, próximos a porta de entrada.
- Você não quer ir para o seu quarto agora, Ciel?
- Não, eu não quero ficar lá. Eu sinto o perfume do Sebastian por toda a cama, não importa quantas vezes eu troque os lençóis. – falei chorando.
- Então vamos sentar aqui.
O Soma me levou até o sofá e se sentou junto comigo. Eu continuava abraçado a ele.
- Ele me disse uma vez, que eu me lembraria dele todas as vezes que ficasse naquela cama e é justamente isso o que está acontecendo.
- Eu realmente não sei o que te dizer, Ciel.
- Não precisa dizer nada, apenas fique aqui comigo.
Eu percebi com a chegada do Soma, que ficar sozinho naquela casa não era a melhor opção.
- Ele sempre me disse que não queria relacionamentos sérios, e do nada resolve ir morar junto com aquela mulher que ele conhece há tão pouco tempo. Por que a realidade tem quer ser assim?
A mão do Soma acariciava meu rosto, ele então me olhou no fundo dos olhos.
- Pode parecer o fim do mundo agora, e eu sei que parece. Mas você vai se recuperar, você acha que é o fim do mundo, mas não é. A vida também é feita de sofrimentos. E eu sei também que essa conversa clichê parece sem sentido agora, mas um dia você vai se lembrar dela e perceber que a dor passou.
- Eu espero que isso seja verdade mesmo.
Eu me deitei no colo do Soma e então adormeci, enquanto ele acariciava meus cabelos e não sei por quanto tempo dormi, mas quando acordei ele ainda estava lá, no mesmo lugar.
- Que horas são? –falei
- Já é quase meia noite.
- Eu acho que perdi a noção do tempo. Eu faltei dois dias na faculdade?
- Sim, por enquanto só dois dias.
- Me sinto tão cansado. Nem parece que acabei de acordar.
- Acho que você se sentirá melhor depois de um banho.
- Acho que vou tomar um banho então.
- Quer que eu prepare algo para você comer?
- Não precisa, não tenho fome.
Tomei um longo banho, e pensei um pouco no que faria dali pra frente. E podia até parecer mentira, mas eu já me sentia um pouco melhor. Toda aquela dor demoraria a passar por completo, mas eu já me sentiria feliz se fosse melhorando aos poucos.
Troquei-me e voltei para a sala, o Soma estava vendo televisão. Eu deitei novamente em seu colo.
- Se sente melhor, Ciel?
- Sim. Acho que lá no fundo eu sei que vou superar tudo isso.
- Fico feliz por ouvir isso. Te ver sofrendo me faz sofrer também.
O Soma dormiu lá em casa já que estava muito tarde para ir embora. Eu não queria dormir naquela cama, pelo menos não por enquanto. Então nós passamos a noite no sofá. O Soma já estava acordado quando eu me levantei, e então eu ouvi a voz dele vindo da cozinha.
- Vem tomar café da manhã comigo, Ciel.
Eu sai do sofá e fui até a cozinha.
- Meu corpo inteiro está doendo. Dormir no sofá não foi uma boa idéia. -falei
- Estou com um pouco de dor no pescoço, mas nada muito incômodo.
Peguei um café preto e me sentei ao lado do Soma.
- Você vai para a faculdade hoje, Ciel?
- Sim, eu vou.
- Eu vou passar em casa para trocar de roupa e depois eu volto para cá. Então nós vamos junto para lá, pode ser?
- Sim, pode ser.
- Vou indo agora, até mais tarde.
O Soma me deu um beijo na testa e saiu. Eu tenho certeza de que estaria bem pior caso ele não estivesse comigo, talvez eu ainda estivesse deitado naquela cama. Ele ficou comigo mesmo quando eu não conseguia deixar o Sebastian, e ainda continuou comigo quando o Sebastian me deixou. E isso me fazia gostar mais ainda da companhia dele.
Teve uma época em que eu tinha certeza de que o Sebastian e eu daríamos certo, eu tinha aquela idéia boba de que o amor muda tudo. Acho que é normal pensar assim quando se está cego de amor, temos essa tendência a ver tudo pelo lado otimista das coisas, sem nem chegar a pensar que tudo pode dar errado. Eu não queria me tornar uma pessoa amargurada, então naquele momento só restava me agarrar à idéia de que seria feliz um dia, e esperar ansiosamente que o tempo levasse toda aquela tristeza que o Sebastian havia deixado.
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