História Tokyo Ghoul - Recomeço. (Segunda Temporada) - Novas Roupas do Imperador.

- Então sim.

- Excelente!

   Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o demônio veio diretamente até mim, me invadindo. Eu senti sua aura atravessar todo meu corpo, como uma onda, pelos meus olhos, narinas, boca e ouvidos. Aquilo pareceu durar uma eternidade, mas foram apenas cinco segundos. E logo após esses cinco segundos, eu senti algo a mais dentro de mim, uma segunda consciência, pesada. Não me senti sozinha, havia uma presença.

- Hm, interessante! — disse o demônio, através da minha voz — Já fazia muito tempo desde que não possuíra um corpo! Principalmente de uma mulher. Certamente será muito... divertido.

   Após sua possessão, a imagem do demônio se projetou para fora do meu corpo, mesmo ainda estando lá. Um sorriso confiante e macabro estava estampado em seu rosto.

- Já que aceitei isso, tem uma condição nesse contrato. — disse seriamente.

- Diga.

- Durante esse período, eu não quero que machuque o Juuzou. Se você encostar em um fio de cabelo dele, está tudo acabado! Entendeu?

- Hahah, está bem. Lhe garanto que não encostarei em um fio de cabelo sequer dele.

- Certo. Vamos embora daqui.

~ TIME SKIP ~

- Uau...! Quanta atualidade! Certamente a tecnologia avançara muito desde minha última visita. — disse o demônio, surpreendido.

- Tá, tá. Para de agir assim ou vou parecer uma louca!

   Estava passando pelo centro da cidade, já que havia voltado do campo de treinamento. As luzes dos prédios, comércios, lojas, carros e tecnologias brilhavam em todo lugar, dando grande ênfase na beleza encontrada nas cidades de Tóquio. Não me admira o demônio ter ficado impressionado, já que esteve confinado naquele túnel subterrâneo por não sei quanto tempo.

- Vendo a lista de coisas que você já pensou, pensou em dizer ou fazer... Eu não diria que você é muito normal.

- Como você tem acesso a essas coisas??

- Humana tola, eu sou um demônio. Eu estou dentro do seu consciente e subconsciente, tenho acesso às suas memórias, pensamentos e ações, inclusive, posso ter acesso às emoções ligadas com suas memórias, sejam elas tristes, felizes, românticas ou até mesmo assustadoras.

" Desse jeito preciso tomar cuidado com o que penso. "

" Não serás necessário. Eu posso entender suas reais intenções com as palavras, na mente ou na fala."

- Argh, esquece!

   A noite caiu mais rápido do que o esperado, desde então não interagi com ninguém. Eu decidi manter isso em segredo, com certeza ninguém entenderia o por quê de eu ter feito uma escolha que pode ser considerada tão burra. Afinal, que tipo de pessoa venderia a alma para um demônio para ajudar os amigos?

   O frio da noite era mais intenso que do dia, eu peguei uma coberta simples e que não esquentasse tanto para me cobrir. Eu não pude jantar, o demônio não deixou, ele disse que queria espaço no estômago para que assim saciasse sua fome. Peguei o livro macabro, me sentei de forma confortável o suficiente para que eu pudesse lê-lo e praticar as magias ao mesmo tempo.

- Hm, deixa eu ver...

   As primeiras páginas pareciam confusas, mas o demônio me recomendou um feitiço que eu entenderia melhor, e aquilo soou levemente generoso— o que me surpreendeu um pouco. As páginas viraram até uma página específica do livro, contendo muitas palavras que explicavam sobre o feitiço e um diagrama.

- Comece com este, prosseguirá melhor com sua fluência.

- Certo... Eu preciso citar as palavras destacadas aqui, né? É como os feiticeiros faziam nos filmes.

- Faça da maneira que melhor se adapte a você.

- Uhm, ok. Ah, estou nervosa, nunca mexi com isso antes — eu respirei fundo, buscando concentração — Fortanctus Magiak...!

   Assim que proferi tais palavras, minha mão esquerda flambou uma chama negra, com pigmentações roxas; o fogo em minha mão não queimava, não era frio também, apenas estava ali, mostrando sua presença e força.

- Wow... — um sorriso pequeno e surpreso escapou dos meus lábios — Pelo o que estava escrito na página, esse feitiço é uma ativação de magia. Por isso o "fogo" em minha mão, certo?

- Exato. A partir deste ponto, poderás agir por si. Cada feitiço tem um merecimento de seus respectivos donos, então quando fizeres qualquer feitiço os efeitos caberão em você como uma luva. Todos a seu favor, humana.

- Todos... ao meu favor?

- Cada um deles.

   As palavras do demônio foram prazerosas de se ouvir. Cada feitiço usado será efetivo ao meu favor, e isso parece bom, muito bom. Após este belo pontapé inicial, eu me prendi mais ao livro. Simplesmente fiquei ansiosa e curiosa. Eu não consegui dormir, passei a noite inteira fissurada no livro, durante horas eu fiquei praticando e pronunciando as escritas, e me senti, aos poucos, cada vez mais adaptada e apegada às escrituras do grande livro.

~ TIME SKIP + POV do Juuzou ~

   Gaby-chan disse que iria para o campo de treinamento ontem, é uma pena que eu não tenha ido. Mas eu realmente precisava focar no trabalho. Pena que ela não me mandou mensagem dizendo como foi a visita ao acampamento, nem mesmo à noite ela mandou mensagem. Normalmente ela me manda alguma mensagem antes de dormir ou coisa assim. Sim, eu sou mal-acostumado por isso. Mas a culpa é dela.

   Eu estava novamente no salão de entrada da CCG, como sempre. Sempre para viajar pelos meus pensamentos ou para esperar a garota de grandes olhos âmbar aparecer com sua postura confiante. E em questão de minutos, lá estava ela.

- Bom dia, Gaby-chan — cantarolei. Logo percebi a aparência cansada da menina — Caramba, você tá bem?

- Ela está bem—Digo, eu estou bem! Hah!

- Hahah. Desde quando começou a se referir na terceira pessoa? — ri para a garota.

- Hahahah... Pois é, foi mal.  

- Você dormiu bem, por acaso? Está com olheiras.

- Eu não dormi, hah.

- Por quê??

- Eu estava... estudando! Estudando para uma prova de História.

- Você virou a noite estudando? Uau, quem é você e o que fez com Gaby-chan?

   Estranhamente a figura de Gaby-chan travou, ela deu um sorriso constrangido, como se o que eu disse tenha deixado-a em choque, defensiva. 

- Ei, relaxa, eu tava brincando! Tehee! — sorri descontraído, cutucando-a no ombro.

- Ah... Hah.

- Mas sério, essa de "estudar para a prova de História" não desce. Eu te conheço. Estudar pode ser uma das suas prioridades mas você não prioriza tanto assim. Vai, desembucha, por que não dormiu à noite?

- Eu tive insônia. Na minha cabeça achei que você pensaria que é besteira.

- Viu? Não precisa mentir pra mim. E tudo bem, eu também tenho isso às vezes quando fico deitado na cama pensando demais. 

- Obrigada por entender.

- Mas eu não quero saber de insônia de novo, ok? Gosto de ver você saudável.

~ Meu POV ~

' Awn, que bonitinho. Ele se preocupa! Patético.'

- Certo... Uhm, e quanto ao caso? — perguntei.

- Está mais complicado do que imaginei. Se suas costas melhorarem logo, pode fazer uma investigação física comigo! Há alguns lugares que preciso dar uma olhada.

- Tô ansiosa pra isso! Já faz um tempo que não saio para investigar, ultimamente tenho lidado com muita papelada.

   Tive que fazer o máximo para impedir que o Demônio Ghoul interagisse com o mundo. Ele é um demônio inteligente com as palavras, mas certos atos são simplesmente estúpidos. Eu considero que ele aja assim por ainda estar desnorteado com a atualidade que está vivendo.

   Embora eu não sentisse mais a dor dos arranhões nas costas, eles ainda estavam lá. Eu posso me movimentar normalmente, e com isso posso praticar minhas magias. Talvez pareça que eu tenha escolhido isso por uma simples batalha que meus amigo irão perder, mas não, no fundo, é muito mais que isso. É algo pessoal, eu quero ser forte para os amigos de um jeito que eu não enfraqueça, e meus colegas precisam disso atualmente, pelo menos vindo de mim.

   Havia se passado algumas horas, estava indo em direção a sala de treino. Pretendia treinar alguns cortes mágicos que aprendera no livro durante a madrugada, em casa seria muito arriscado pois corria o risco de quebrar algo. Durante o caminho, eu passava pelos grandes corredores, onde podia-se notar a presença de vários investigadores.

- Então assim que funciona a Comissão de Contador Ghoul  — disse o demônio, sempre através de minha voz — Lembro de alguma época que esse lugar me fora mencionado.

- Demônio Ghoul, fica quieto! — sussurrei — Você não pode ficar falando através de mim assim, sempre que quiser. Vai ficar muito suspeito.

- Preferes que eu fale assim, então? — o demônio magicamente usou sua voz habitual e macabra, dando-me calafrios.

- Não! Fazemos assim: nada de falar em público para não levantar suspeitas. Assim também os outros não vão pensar que eu falo sozinha!

- Certo, me parece justo.

   Depois de mais dois corredores eu já estava na sala de treino. Já fazia alguns minutos desde que comecei a treinar, até que eu estava indo bem, acho que minha empolgação me fez aprender mais rápido.

- Hyaah! — grunhidos de batalha quase mudos podiam ser ouvidos. Eu estava sozinha, mas com toda magia podera facilmente imaginar milhares de inimigos.

   O brilho fraco da chama negra em minhas mãos são tão potentes, usando-os bem, os cortes soam como trinta facas num único corte. Os manequins simplesmente eram dilacerados, e eu me diverdia com isso, estava confiante acima de tudo.

- Uh. Isso tá melhor do que eu imaginei. — sorri pra mim mesma.

   Eu caminhei até a garrafa d'água que havia deixado no chão, perto da porta. Eu não me sentia tão cansada, mas por algum motivo minha garganta estava extremamente seca. Não pude evitar de beber a garrafa inteira, e quando terminei, dei um longo suspiro para recuperar o fôlego.

- Eu não me lembro de ficar tão cansada! Então por que tanta sede? — me perguntei — Demônio Ghoul, você está aí?

   Não houve resposta. Dei de ombros e decidir encerrar o meu treino, logo segui para o meu escritório e fiz o meu trabalho habitual. O demônio não se mostrou presente pelo resto do dia, mas eu sentia sua aura infernal.

~ TIME SKIP ~

   A noite caiu, e era hora. O demônio deu seu sinal, e quando ele o fez, meu estômago entrou em colapso, como se eu não comesse algo há dias. A magia negra do demônio corria pelo meu corpo, senti o Demônio Ghoul tomando posse de mim naquele momento.

- Vamos começar?

   Nas ruas nós estávamos, a noite mal me fazia enxergar—se é que eu conseguia enxergar, eu não senti meu corpo sob meu controle. Minha mente estava consciente, mas eu não podia controlar nada em mim, apenas observar o que o demônio fazia. Me senti adormecida, embora pudesse ver o que acontecia ao meu redor.

   Foi capturada a primeira vítima, uma jovem moça, parecia estar em todo de seus vinte e poucos anos. Uma pena. Pelo horário diria que estava voltando do trabalho, estava com um uniforme simples com um crachá na camisa.

   A mulher tentava se livrar de meu aperto, porém, com uma força bruta nos meus braços seu pescoço foi quebrado, dobrado para a esquerda, depois para a direita, e assim sua cabeça foi arrancada de seu pescoço, a cor escarlate do sangue tornava-se vinho, esparramado no chão e em minhas roupas. Pude sentir a alegria do demônio ao ver a espinha pendurada na cabeça da vítima, inalando o cheiro metálico do líquido espesso.

- Ah... Eu estava ansioso pra isso!

   Vi o Demônio Ghoul usar o meu corpo para devorar aquela pobre moça. Mas já estava previsto, afinal, era a parte do contrato que eu devia cumprir. Aos poucos sentia meu estômago preencher-se cada vez mais e mais, até o ponto onde nada conseguia ser ingerido. E quando aconteceu, não sobrava nada além de ossos e pedaços inúteis da mulher. Minha cabeça inclinou-se para trás, encarando a lua, da minha boca saiu um gemido prazeroso, fora de me eu controle:

- ... Foi satisfatório, mas não o bastante. Eu esperava mais. Como um ser humano pode ter um estômago tão pequeno?

- Simplesmente por eu ser humana. Não há como comer mais nada!

- Urgh. Esta forma é limitante. Mas aguardaremos até o próximo dia, isso está só começando.

' O que ele quis dizer com isso?'

   De qualquer forma, não poderíamos deixar aquele cadáver ali por motivos óbvios. Usei a magia negra para drenar a água e passagem de oxigênio dos ossos, assim a pressão diminuiria os restos cada vez mais, até virarem pó. Não havia mais nada ali, os ossos e pedaços de carne foram diminuídos a nada, o sangue secou com a drenagem, mal pode-se ver. O máximo que encontrariam aqui seria o cheiro de cadáver, mas mesmo se chamassem a polícia para investigar, eu duvido muito que encontrariam algo. 

' Este é o fim de nossa noite. Aguardaremos para a próxima, querida humana.'

~ TIME SKIP + POV do Juuzou ~

   Tarde de noites assim é bom para aproveitar o tempo sozinho. Uma chuva intensa começou a cair do céu não faz muitos minutos, e num clima tão confortável assim, eu fiz o melhor que pude para deixar a sala de estar um ambiente agradável pra mim. 

   Um cobertor felpudo, Netflix e um chá morno com alguns doces. Sim, a melhor noite pra mim. Estava fazendo minha seleção de seriados, até porque, torço pra esse Rei Joffrey morrer da forma mais dolorosa existente. Apertei o pequeno botão do controle remoto, dando início ao episódio. Estiquei a mão rapidamente para pegar a caneca, mas por algum motivo meus olhos fitaram em outro lugar, nas costas da minha mão esquerda. Ali estava suturado as iniciais de dois nomes. Eu parei inesperadamente.

' Eu lembro do dia em que fiz isso... Ah, na verdade, eu nem sei porque tomei a decisão de fazê-lo. Não. Eu sei qual é o motivo. Eu queria marcar Gaby-chan com algo meu, para que ela não me deixasse da noite pro dia. Eu não queria deixá-la escapar... Tinha a sensação de que ela era boa. Eu gostei da sensação. E ainda gosto.'

   Voltei à realidade, parte do episódio já fora esquecido pelo meu devaneio. Apenas ignorei e peguei a caneca, bebendo em goles suaves, atento ao que acontecia ao decorrer das cenas na TV. Não muito tempo depois, ouvi toques na porta, logo bufei ao imaginar quem seria a essa hora.

   Preguiçosamente caminhei até a entrada, e para minha (não) surpresa, lá estava ela. O que eu estranhei foi o fato de Gaby-chan estar coberta de sangue, minha cabeça caiu para o lado.

- Oi... — ela disse timidamente.

   Eu a fitei de baixo a cima.

- Se meteu em encrenca? — perguntei naturalmente. É um pouco comum ver Gaby-chan machucada ou com alguma mancha se sangue no corpo atualmente, eu não questiono o por quê dessas coisas acontecerem, ela se mete nesse tipo de problema muitas vezes. É natural.

- Mais ou menos — ela encolheu-se, evitando contado visual — Desculpa, a sua casa estava mais próxima. Eu tava pensando... Será que posso passar a noite aqui?

' Ok, isso é novo.'

- Claro. Vou pegar um par de roupas pra você, ok? A água do chuveiro está no quente, então vá logo.

- Valeu mesmo. Ah, perdão, eu tô atrapalhando algum momento seu? — perguntou a garota, ao espiar a sala pela porta.

- De modo algum! — cantarolei — Por que está sendo tão educada? Hah, você é bem-vinda aqui! Lembra?

- É verdade, foi mal. — ela abriu um sorriso.

- Agora vá logo tomar um banho. — ordenei.

- Certo, certo! Estou indo.

   Depois de uns bons minutos esperando, a garota de longos cabelos negros saiu do banho, já limpa e vestida. Eu aproveitei esse tempo para continuar assistindo o episódio do seriado. Embora não parecesse, Gaby-chan demonstrava cansaço e estresse. Eu virei e perguntei:

- Você quer comer alguma coisa?

- Não! — ela ergueu a voz de repente, me fazendo recuar um pouco. Sua expressão tensa amansou na mesma hora — Digo, não, obrigada. Sério. Eu tô bem cheia, acredite.

- Uhm, ok. Quer assistir GoT comigo? — propus sorridente — Senta aqui do meu lado.

- Eu vou ficar só por um pouco. Tô bem cansada.

   Então ficamos ali por um tempo, eu me divertia com o episódio emocionante, mas algo me distraía. A expressão nublada de Gaby-chan me distraía. Eu fiquei um pouco irritado, então pausei o episódio por um momento.

- Ei, que cara é essa? Cara feia pra mim é fome. — disse.

- Humph, pode ter certeza que fome é a última coisa que tô sentindo. — ela murmurou, sarcástica.

- Não deboche assim. Sério, me responde, você tá bem?

- Sim, só estou cansada. Meu dia foi bem exaustivo.

- ... Tem algo errado acontecendo que eu não tô sabendo?

   A garota negou com a cabeça.

- Ah, se eu pudesse te contar... Não quero te envolver. — ouvi ela murmurar algo.

- Disse alguma coisa?

- Não, só tava pensando alto.

- Hm, ok.

~ TIME SKIP + Meu POV ~

   Juuzou me fez ficar para assistir mais dois episódios de seu seriado. Aquilo me matou de vez. Fomos dormir, finalmente. Depois de dizer boa noite o menino costurado virou-se e adormeceu, enquanto eu encarei a chuva, o som da tempestade me abraçou, me aconchegando. E em questão de segundos, meus olhos fecharam-se e adormeci de vez.

" Isso, durma, pequena humana. Em breve meu poder se intensifica, e assim, ficarei forte o suficiente para sair deste corpo tão debilitante e patético, e tão fraco. Esta forma é limitante. Tão pouco espaço num lugar que deveria ser infinito, claro, porque sinto uma outra presença aqui. Essa aura consome toda a força vivente nesse consciente, huh. Não sobrará mais nada de você quando eu me saciar. Isso é apenas o começo... Mas logo, logo colocarei meu plano em prática. Então aguarde mais um pouco.

 

 

Isso tudo é questão de tempo.'