História Too Late - Por que essa criança te chamou de mãe?

JUSTIN BIEBER POINT OF VIEW

SEGUNDA-FEIRA, 13hr45min.

Meu queixo cai no chão quando ouço o que Mason diz, quando eu percebo que toda aquela situação é assustadora. Ele está tranquilo no colo daquele desconhecido, esticando os braços para a garota que ele acabara de chamar de mãe. Eu imaginei que ele se apegaria a ela assim como ele se apegou a Senhora Martínez, mas nunca ao ponto de ver em Ellie uma figura materna. Eu não sei o que pensar disso, mas ao fitar a expressão do homem mais velho, eu estou aterrorizado.

– Ellie... Por que essa criança te chamou de mãe? – O homem pergunta, encarando somente a sua filha.

– Eu juro que não é o que parece, pai – Esclarece, tomando Mason de seu colo. – Eu posso explicar.

– Mamãe! – Mason repete, animado. Eu balanço a cabeça para ele, mas ele não entende e acha aquilo engraçado.

– Eu não vou aguentar outra notícia chocante. Eu vou me sentar – Ele caminha lentamente até uma poltrona perto da janela e se senta.

– Pai, eu posso...

– Ele é meu filho, só meu – Eu confesso, me sentando do lado de Ellie.

– Lembra daquele meu emprego de babá? Então, ele é o pai do bebê – Ela termina a explicação.

– E você.... Trouxe o trabalho pra casa?

– Huh, não. Nós somos amigos, ele também estuda da Easter High.

– Hum, então você estuda? Qual é o seu nome? – A pergunta foi para mim.

– Justin, Justin Bieber. E, sim, eu estudo.

– E por que ele te chamou de mamãe? Ainda não entendi a ligação – O homem cerra os olhos para nós dois, passando a mão na barba mal feita.

Nenhum de nós dois disse nada, não soubemos o que dizer, apenas nos entreolhamos no silêncio até Ellie dizer alguma coisa.

– Pai, eu não estou a mãe dele, se é isso que você está pensando.

– Graças a Deus! – Ele suspira aliviado, dando um risinho fraco. Novamente nos olhamos sem entender muita coisa. – Eu só queria ouvir isso da sua boca, me deixa muito aliviado – Ele se levanta, um pouco mais relaxado. – William.

Eu também me levanto e aperto sua mão firme. Nós dois balançamos a cabeça no mesmo tempo, um gesto estranho que me lembro ter visto o meu pai fazer algumas vezes.

– Bom, já que vocês estão aqui, sintam-se convidados para almoçar com a gente – William sorri para mim e para meu filho, de um jeito que eu quero considerar sincero. – Eu vou subir para me trocar. Ellie, eu trouxe comida japonesa suficiente para nós três – Ele deixa avisado e sobe as escadas.

– Comida japonesa a essa hora? – Sussurro para a garota na poltrona. Ela levanta-se e entrega Mason para mim.

– Você prefere frango? – Provoca ela, me dando as costas logo em seguida.

A situação já é constrangedora o suficiente, por isso eu fico calado no sofá da sala com Mason no colo. Eu prestar atenção somente nele e em sua inquietação, mas simplesmente não consigo pensar em outra coisa que não seja no que ele disse a Ellie e no que eu fiz com ela. Nós transamos, nós transamos pra valer. Eu estou pagando por tudo que disse que não iria fazer e eu estou gostando.

William desce alguns instantes depois e ajuda a filha a pôr a mesa. Eles parecem bastante entrosados enquanto distribuem pratos e dão risada um para o outro. Ellie já é uma boa pessoa, mas desse lado da cidade, nessa situação tão estranha ela me parece ainda melhor. Quando ela fica de costas para mim, eu reparo na curva perfeita da sua bunda e como ela é bonita naturalmente empinada.

Mason está normal agora que estamos na mesa, Ellie preparou uma comida diferente para ele. O prato inteiro era colorido e chamativo, ele não gostou dos verdes, mas o resto ele comeu tranquilamente. O pai de Ellie pareceu animado durante todo o almoço, ele me fez várias perguntas e várias vezes Ellie respondeu por mim. Eu não entendi se aquilo era para ainda manter a privacidade que me restava, ou se ela só não queria que ele me conhecesse. Eu não estava mais desconfortável com a situação e seu pai, mas me sentia tenso só de pensar o que tinha acontecido entre nós.

O pai de Ellie precisa sair quando terminamos de conversar, e sobra para mim lavar os pratos sujos. Com Mason vidrado no desenho da televisão, Ellie e eu deixamos a sala para ficar na cozinha. E enquanto eu lavo os pratos, Ellie os seca e os guarda.

– Como você acha que as coisas seriam se a Juliette estivesse viva? – A pergunta de Ellie me pega desprevenido. Olho-a nos olhos, percebendo que ela está muito seria agora.

– Terríveis – Eu confesso, bufando um riso seco. – Já me peguei pensando nisso várias vezes. Eu estaria completamente infeliz.

– Mas você amava ela, não amava?

– Sim, eu amava. Mas, eu também amava a ideia de ser bem-sucedido na minha carreira. Ellie, eu não quero mais pensar nisso. Não quero me lembrar o quanto eu fui estúpido – Falo, terminando de limpar a pia. Ellie estende um pano limpo e eu seco minhas mãos. – O seu pai é bacana.

– Eu sei – Ela dá um sorriso, não do tipo que quer se gabar.

– Você acha que ele desconfiou de alguma coisa?

– Talvez, eu não costumo trazer muitos garotos aqui.

Vamos juntos para a sala.

– Você não pode mais se afastar, é tarde demais – Eu a seguro pelo braço e diminuo a força quando percebo seu rosto corado. – Olhe só em que situação nós estamos, ele pensa que você é a mãe dele.

Nós olhamos o pequeno e Ellie suspira.

– Você não acha que nós fomos rápidos demais? – Ela me pergunta, mordendo o lábio inferior.

– Com certeza. Mason te chama de mãe, nós dois transamos e almoçamos com seu pai como se fôssemos uma família feliz – Coço minha nuca, rindo fraco.

– Exatamente, e nós só nos declaramos amigos agora.

– O que você quer dizer?

–  Só que eu não quero que as coisas aconteçam tão rápido assim...

– Pode deixar, isso não vai mais se repetir.

– Justin – É ela quem me segura. – Eu só estou querendo dizer que quero um amigo agora. Meus pais estão se separando e... As coisas com eles são mais complicadas do que parecem. E ainda tem Logan.

– O que tem ele? – Eu enrijeço meus músculos e a fito com curiosidade.

– Nós terminamos na semana passada – Ellie passa a mão por seus cabelos lisos e olha para o chão. Não sei decifrar seu olhar, mas ela provavelmente está triste.

– Você por acaso ia me contar isso em algum momento?

– Eu ia, mas então, você veio contar sobre seu encontro com a Sydney e você estava feliz. Não achei justo te incomodar com isso.

– Então, era isso que você ia me contar quando chegou lá?

– Sim.

– Que droga, você deveria ter me contado – Me sento do lado dela, apoiando os cotovelos nos joelhos e agarrando meu rosto com as duas mãos. – Você tá arrependida por ter transado comigo?

– Não. Eu não estou me sentindo mal com isso, se é isso que tá passando pela sua cabeça. É triste dizer isso, mas Logan não passa pela minha cabeça por esse motivo, eu to firme com a minha decisão.

– Então qual é o motivo?

Ellie me olha, um pouco triste.

– Eu acho que foi ele quem fez aquelas montagens.

ELLIE POTTER POINT OF VIEW

Acordei assustada e me sentei na cama, tentando controlar minha respiração ofegante. Ainda era cinco da manhã, tinha tempo de sobra para um banho.

Quando desci as escadas para o café, meu pai já estava sentado a mesa. Ele põe as folhas de jornal sobre a mesa quando percebe que eu me aproximo.

– Então, aquele é o seu namorado? – Ele dispara a pergunta assim que eu me sento a mesa.

– Não, pai.

– Eu não disse nada porque vocês já estavam constrangidos o suficiente, mas eu reparei no jeito desajeitado que vocês estavam descendo do segundo andar.... Onde tem o seu quarto...

– Pai – O encarei chocada. – Não vou ter essa conversa com você.

– Por que não? Eu sou seu pai, sua mãe já conversou com você sobre...

– Não! Não precisa terminar, por favor.

– Tudo bem, tudo bem – Ele levanta as mãos para cima, achando aquilo engraçado. – Mas ele é seu namorado, certo? Eu não vejo problema nele ter um filho, ele me pareceu um bom rapaz.

– Ele não é meu namorado, somos só amigos – Pego um pedaço de maça e arrumo a mochila nas costas. – Agora eu preciso ir.

– Espera – Eu seguro forte a maçaneta e me viro para encara-lo. – Ontem eu recebi uma ligação do seu colégio dizendo que eles lamentavam pelo que aconteceu ontem e você poderia tirar uns dias de folga se quisesse. Por que você não me contou que tinha acontecido alguma coisa?

Fechei os olhos querendo encontrar uma resposta certa para que aquilo não acabasse em confusão. Não quero mentir, não gosto de mentir para ele, mas essa não é a hora certa para contar a verdade e nem de preocupa-lo com o que aconteceu.

– Eu passei mal por causa da comida do refeitório, fui para a enfermaria, mas depois pedi pra voltar pra casa. Foi só isso, não quis te preocupar.

– Foi só isso?

– Foi – Eu confirmo com a cabeça. – Posso ir agora? – Meu pai balança a cabeça e eu rapidamente deixo minha casa.

Ontem eu pensei em não voltar para o Easter High hoje, seria mais fácil se eu deixasse as coisas se acalmarem e as pessoas esquecerem desse assunto. Mas não era tão fácil como eu pensava que fosse, eles só iriam se esquecer se outro escândalo aparecesse, e ultimamente todos estão folgando de escândalos e polemicas. Aquilo não passa de uma brincadeira de mal gosto, eu não preciso me esconder de uma coisa que eu não sou culpada, ao contrário de Logan.

Caminhando confiante e passando pelo estacionamento gigante, noto que vários alunos estão saindo pela porta da frente e uma massa de pessoas está em círculos. Todos estão agitados, uns estão tirando fotos, outros só estão gritando como se estivessem assistindo ao UFC. De longe eu vejo Mallory gritando com Brian, e aquilo me da uma sensação ruim.

Justin joga Logan no chão e lhe acerta um soco. Logan não reage, ele é esperto demais para saber que se revirar ele perderá a razão. Gale e Brian tentam em vão tirar Justin dali, mas ele só para quando o diretor Monaghan aparece, e de repente, o silencio.

– Justin enlouqueceu! – Mallory estava realmente chocada, minha amiga balançou a cabeça e olhou o namorado. – Eu não achei aquilo legal.

– Eu não entendi o que aconteceu, foi tudo muito rápido – Brian recupera o fôlego.

Do topo das escadas, o diretor Monaghan pede que todos entrem para as salas. Mallory não diz nada e sai de mãos dadas com Brian. Bem atrás deles eu e Gale caminhamos lado a lado.

– O que aconteceu?

– Justin simplesmente atacou o senhor Baldwin – Ele diz. – Eu sei porque ele fez isso, se eu não tivesse controle faria o mesmo.

– Do que tá falando?

– Ele também percebeu de quem era a culpa das montagens. Ontem ele estava tranquilo demais, se fosse comigo no mínimo eu checaria como a minha ex estava, principalmente se fosse você. Ele deve ter feito isso num ato de raiva, mas Justin errou ao bater nele ali na frente de todos. Ele perdeu a razão e ainda se entregou.

– Se entregou como?

– Se ele fez aquilo com você, eu aposto que ele queria uma reação de alguém que se importasse o suficiente pra tomar suas dores. Justin tomou suas dores, ele se importou ao ponto de bater no nosso professor na frente da escola inteira só pra defender a sua honra.

– Eu não deveria ter dito nada, e se ele fizer alguma coisa contra o Justin? – Aperto meus braços mais forte.

Gale suspira alto.

– Vamos ter que esperar pra ver, mas ele com certeza não vai deixar isso barato.

Uma das coordenadoras apareceu para nos mandar para a sala, mas eu a despistei para conseguir chegar até Justin.

Ele está saindo do banheiro masculino quando eu o encontro. Seu rosto está intacto, mas só de ver suas mãos vermelhas, eu me sinto extremamente culpada.

– Não esperava te ver aqui hoje.

– E por isso achou que seria um ótimo momento pra bater no Logan?

– Não acredito que você tá defendendo ele – Sua expressão muda, ficando um pouco mais séria.

– Eu não estou defendendo ele.

– Então por que você está assim?

– Porque isso vai trazer problemas! Justin, eu não estou me importando com ele, to me importando com você. Você não entende que você bateu em um professor? Todo mundo viu isso!

– Eu estourei, tá? Foi mal, perdi a cabeça – Justin balançou a cabeça e esfregou o próprio rosto. – Ele foi um canalha, eu não consegui me controlar.

Eu fito suas mãos e as seguro com suavidade, beijando os locais vermelhos. Justin põe as mãos na minha nuca e me leva para perto dele.

– Então eu estava certo, – A voz amargurada de Logan surge atrás de Justin. Seu rosto está péssimo, Justin causou um grande estrago. – você me trocou por um marginal.

– Logan...

– Você se apaixonou por ele? Justo por ele, Ellie? – Ele cerra os olhos em minha direção. Junto a ele, Justin também me olha. – Eu podia ter te dado o melhor, eu sempre te dei o melhor.

– Você fez com que todos caçoassem de mim, que tipo de pessoa faz isso? Sério, quantos anos você tem? Nós terminamos, você precisa aceitar que eu tenho o direito de seguir em frente.

– Você não esperou nem um mês para seguir em frente! – Ele gritou na minha direção. Justin me abraçou de lado, e quando vi que Logan estava chorando, meu peito se encolheu. – Você é...

– Cuidado com o que você vai falar – Justin murmura.

– Baldwin e Bieber – O diretor os chama. – Na minha sala.

JUSTIN BIEBER POINT OF VIEW

Eu fui expulso.

Eu não tive como me defender, tudo foi rápido, claro e registrado por várias câmeras de celular.

Não tive muito o que falar nas quase duas horas que ficamos na sala, a maioria do tempo o Senhor Monaghan tentava convencer Logan que registrar queixa sobre o acontecido não seria a melhor escolha, isso afetaria o nome da escola e principalmente o seu nome como diretor. Mas Logan estava convencido em me foder e insistiu que faria isso discursando que isso serviria para que a violência contra professores na escola fosse denunciada. Eu já estava fodido o suficiente, então não disse mais nada.

Não sentia total arrependimento porque tive razão em bater naquele canalha, mas eu deveria ao menos ter esperado a hora da saída ou quem sabe, persegui-lo até sua casa. Bom, estava feito.

Quando voltei para casa e me vi ali sozinho, minha mente foi coberta por memórias da casa dos meus pais. Lembrei de minha mãe cozinhando e meu pai assistindo ao canal de esportes. Eu sempre beijava minha mãe e me sentava ao lado do meu pai para assistir com ele, os esportes me interessavam, mas era ainda melhor passar um tempo com meu pai. Nós nos distanciamos quando entrei no ensino médio, quando descobri o universo das garotas, quando descobri que Juliette existia. Depois dela as coisas ficaram um pouco sem sentido e era prazeroso ver meu mundo girar em torno dela.

***

Meus olhos lentamente se abriam e aos poucos eu pude enxergar a face de Mason e Ellie bem na minha frente. Mason estava em cima da minha barriga sorrindo para mim e Ellie fazia o mesmo, sentada na ponta do sofá. Ao ver os dois ali, eu sorri.

– Por que você voltou mais cedo? – Ellie pôs Mason no colo para que eu pudesse me levantar a vontade. Deixei um espaço para que ela se sentasse e envolvi meu braço em seu ombro.

– Eu fui expulso.

– Você o quê?!

– Isso mesmo que você ouviu. Expulso.

Nós dois suspiramos.

– Justin, eu sinto muito, muito...

– Ellie, não se culpe por isso – Massageio minhas têmporas com a mão livre. – Eu não me arrependo tanto, ele merecia cada soco.

– Sim, ele merecia, mas você não merecia ser expulso. Você não deveria ter feito isso, eu admiro muito você ter se preocupado, mas isso foi errado. Estamos a poucos meses de acabar o ensino médio, você precisa terminar seus estudos.

– Eu sei, mas já tá feito.

– Me desculpa – Ellie deita a cabeça no meu ombro e eu apoio minha cabeça na dela.

– Mamãe, papai – Mason diz.

– Ele precisa parar de me chamar de mamãe.

– Tudo bem, eu não me importo.

– Não?

– Não. Eu já te disse que você é uma boa figura pra ele, mais tarde eu vou ensinar a ele que a mãe dele já não está mais aqui. Ele não vai entender se eu explicar agora, então tudo bem. Você deveria se sentir lisonjeada por isso, ele te enxerga como uma mãe.

– Obrigada, Mason – Ela diz divertidamente. – Eu me sinto bem com isso, tudo bem por mim ser a mamãe dele. – Ele deita a cabeça no colo dela e nós dois sorrimos. – Eu vou ter que visitar a minha mãe, o meu pai disse que.... Bom, ela ainda é a minha mãe.

– Ele tem razão – Eu concordo com a cabeça. – Então, você quer uma folga? – Brinco.

– Quero que você peça uma folga – Ela diz. – Quero que você venha comigo, você e o Mason. Eu vou precisar de alguém do meu lado.

– Claro, tudo bem – Eu olho meu filho. – Nós estamos mesmo precisando dar uma volta, não é campeão? – Ele sorri. Por alguns minutos nós ficamos em silêncio, eu só escuto a respiração dos dois ao meu lado. É estranho dizer isso, mas eu sinto como se fossemos uma família.