1. Spirit Fanfics >
  2. Tormenta >
  3. Retrocesso.

História Tormenta - Retrocesso.


Escrita por: athalar

Capítulo 9 - Retrocesso.


A tempestade ainda não havia acabado.

O vento parecia mais forte do que duas semanas atrás, quando eu me permiti acabar com tudo aquilo. Com todo meu relacionamento com Eunseo. Na saída, pedi para Yoongi deixa-la na Vila e não dirigir nenhuma palavra sequer a ela. Felizmente, ele me obedeceu dessa vez. Contou que ignorou minha garota o trajeto inteiro até a volta de sua casa.

E eu sabia que ele estava falando a verdade, pois senti a frustração, raiva e tristeza de Eunseo. E isso estava me matando aos poucos. Não só saber disso, como sentir isso, duas vezes mais.

Mas eu me controlei e foquei em fazer certo dessa vez. Acabaria com toda essa tormenta. Mataria Zeigh.

E depois...eu não saberia mais o que fazer. Não sem ela. Mas Zeigh não é a única questão de nossa separação. Não quando ainda temo a morte dela na transformação. Até lá, seria melhor assim, para ela.

Parei exatamente onde planejei estar. Despistei o coveiro do cemitério mais próximo e andei nas escuras até achar a cova que procurava. O céu estava escurecendo cada vez mais, fazendo uma mistura de cinza claro e cinza escuro no céu; o vento chicoteava as árvores, fazendo-as balançares e ameaçarem cair umas as outras. O frio era mais insuportável ainda, mas isso nunca me incomodou. E nunca irá me incomodar. Mas, mesmo assim, vesti uma camisa preta e calcei meus sapatos. Como um humano comum.

Os Alfas das Alcateias que se juntaram em união após a separação de Zeigh, pegaram o corpo do animal morto e enterraram no canto do final do cemitério. Depois, colocaram uma placa com seu nome, e conseguiram fazer entender o coveiro e o dono do cemitério que havia realmente um humano, morto, ali.

E fizeram isso com outros lobos que se sacrificaram, ou morreram durante os anos. Mas, apenas um me interessava ali. O primeiro morto a estar nesse cemitério. O primeiro lobo morto.

Min Jae foi morto antes que eu pudesse me transformar. Mas, pelo tanto que Yoongi era apegado ao seu irmão, pensei em ser alguém muito bom. Um lobo justo. E apaixonado.

Como eu. Eu podia entender o ponto de Yoongi nessa questão. Eu só...não imaginava que pudesse doer tanto.

Fiquei encarando sua cova e seu nome sepultado até sentir a presença de mais alguém vivo além de mim.

— Jimin.

Eu respirei fundo. Não quis olhar. Continuei encarando a cova de Min Jae, e sentindo a porra de um peso enorme em meu peito.

— Jimin.

Continuei ignorando, mas por pouco tempo. Logo a voz da pessoa já estava próxima demais para ela pousar sua mão em meu ombro. Rapidamente me afastei e a olhei.

— O que você quer, Namjoon? — perguntei, irritado.

Quando o olhei, estranhei o fato dele estar exatamente assim como eu. Vestido da cabeça aos pés. O tempo nunca incomodou um lobisomem, então por que fez questão de se vestir também?

— Só vim saber como você está. Não só como amigo, mas como seu Alfa — respondeu, continuando calmo. Como sempre.

Eu desviei o olhar, sem conseguir parar de encarar a cova de Min Jae.

— Você já deve saber como estou. Yoongi deve ter o contado — murmurei, baixinho.

— Não contou. E não precisamos disso para saber o que estava acontecendo. Lemos a sua mente e a mente de Yoongi.

Engoli seco. Ótimo, era uma vantagem não ter que processar tudo o que aconteceu e contar para eles. Ficar voltando nisso era como aprofundar a faca em meu peito; e mesmo assim, minha mente insistia em voltar naquele dia. Passar um dia já era uma eternidade em Eunseo. Eu ainda não sabia como estava suportando ficar essas duas semanas sem ela. Sem desistir de tudo e correr atrás dela, implorando para voltarmos.

Não dera tempo de responder, Namjoon já continuava.

— Sei que passamos essas duas semanas sem tocar no assunto. Mas não há mais tempo, Jimin, precisamos falar sobre isso.

— Precisamos matar Zeigh, e é isso o que importa agora.

— Não sem ela. — Isso me fez o olhar. Namjoon agora não parecia mais calmo, e sim, preocupado. — Jimin, sei que a ama mais do que sua própria vida. Mas agora não estamos contando apenas com ela. Estamos contando com a vida de várias pessoas em jogo. E isso inclui Eunseo.

Fechei os olhos por um momento. Frustração estava longe do nome do que estava sentindo. Eu não queria continuar voltando a esse assunto, não queria ter que continuar lembrando. Eu só queria...só queria mata-lo o mais rápido possível.

Namjoon suspirou.

— Precisamos dela.

— Somos sete contra um, Namjoon. Podemos lidar com isso sem Eunseo — respondi meio ríspido.

— Não sabemos se há mais alguém do lado de Zeigh. Se ele tem...capangas.

— E tem alguém que ainda tem coragem de ficar ao lado daquele Demônio? — O olhei, sentindo a raiva borbulhar aos poucos em meu corpo.

Namjoon ficou em silêncio. Sim, a resposta era afirmativa.

— Desgraçado.

Agachei-me e peguei uma pedra do tamanho de minha mão, logo a arremessando em uma árvore próxima. Depois fechei os olhos e continuei agachado, tomando em minhas mãos meus cabelos. Eu estava delirando, alucinado de raiva.

Depois percebi que havia algo estranho. Não escutei o barulho do impacto da pedra contra o tronco da árvore. Ainda agachado, olhei para a árvore e lá estava ele.

Yoongi segurava a pedra arremessada por mim. Ele tinha os olhos fixos em mim.

— Mais um para completar o esquadrão contra mim — ironizei, negando com a cabeça.

— Não estamos contra você, Jimin — Namjoon respondeu por Yoongi. — Estamos com você. Você está loucamente apaixonado e não está enxergando a pior das circunstancias.

Me levantei depressa, se aproximando dele a ponto de confrontá-lo.

— Você nunca saberá o que é amar alguém como eu amo Eunseo. Eu estou enxergando o pior das circunstancias e é isso o que está me matando — gritei em sua frente. — Ser quem eu sou é perigoso para ela e isso machuca.

Namjoon engoliu seco e passou a observar seus pés. Era a primeira vez que eu o vi tao impotente. Mas não tanto quanto eu. Eu estava fraco, sem alternativas. Eu precisava dela e isso me deixava louco.

Escutei os passos próximos de Yoongi e quando me virei, ele já estava do meu lado. Recuei a tentativa dele de me tocar e o olhei com repulsa.

— Tão certo estava, fez com que me sentisse a pior pessoa do mundo — disse num tom mais baixo.

— Eu não quis... Não... — ele suspirou. — Só estava tentando fazer o certo.

Eu não respondi. Então, Namjoon voltou a falar.

— Traga ela de volta. Precisamos lutar contra Zeigh e ela precisa ficar com nós... Lutar conosco. Traga ela de volta, Jimin.

E eu estava disposto a fazer de tudo para conseguir isso.

 

***

Os joelhos da mulher fraquejaram e ela se encontrou ao chão, com suas mãos tiritando e seus olhos marejados de lágrimas. Ela largou o pano de prato ao mesmo instante que suas mãos tocaram em seu rosto e a senhora não conseguia ter mais forças para não chorar.

O homem ao seu lado me encarava incrédulo. Como se eu fosse uma espécie de assombração; algo irreal. Ele tremia tanto quanto a mulher, e ambos estavam tão surpresos que não conseguiam esboçar mais nenhuma reação do que chorar e tremer.

— Jimin — a mulher sussurrou em meio ao choro.

Eu sorri.

— Querida mamãe — eu me aproximei e me ajoelhei à sua frente. — Não chore, por favor. Quebra meu coração te ver assim.

Ela não respondeu, e sim me abraçou. Tão forte que eu sentia o coração dela bater acelerado em meu corpo inteiro. Meu pai também se agachou e me abraçou de lado. Eu abri os braços e abracei os dois, com um sorriso enorme nos lábios.

— Você voltou... Você voltou para nós, filho — ela disse, engasgando o riso no meio do choro. — Eu não acredito! Ouviram-se as minhas preces. Você está de volta!

— Estou aqui mamãe, seu Jimin está aqui — sussurrei para ela, então virei para meu pai. — Eu estou bem. Estou vivo. Estou aqui.

Meu pai deixou cair algumas lágrimas antes de se levantar e sair gritando:

— Ele está de volta! Está de volta! Meu filho está vivo! — Ele gritava, saindo da oficina e começando a correr nas ruas. — Meu filho está bem! Jimin está de volta!

Eu ri da sua reação quando eu e mamãe nos levantamos e observamos sair correndo por aí. Eu ainda o olhava enquanto minha mãe tocava em meus cabelos, em meu rosto, em meus braços. Ela não conseguia conter as lágrimas que insistiam em cair.

Então meu pai abraçou alguém. Um senhor, mais ou menos de sua altura, acompanhado de uma mulher. Eles conversavam e o senhor olhou para mim sem acreditar; a senhora fez o mesmo.

Como pude não reconhecê-los? Logo os pais de minha garota.

E ela logo apareceu. Ao lado de sua mãe, entrelaçadas com o braço. Ambas de vestido e cabelos amarrados. A alegria de seus pais era evidentes ao saber que a filha voltou. Tão felizes quanto meus próprios pais.

Ela estava linda. De cabelos amarrado em duas finas tranças, com o vestido rosa e branco que iam até os joelhos. A boca rosada e tão bem quanto antigamente. Quando éramos apenas eu e ela contra o mundo.

Os dias de ruína e tristeza da Vila Malegryan acabaram. Acabaram-se os dias nublados e chuvosos, fui recebido com um grande sol e árvores mais verdes. As pessoas agora estavam dispostas a limpar a destruição do incêndio. As ruas estavam mais limpas, mais alegres. Fui recebido com um monte de crianças correndo para a escola. As pessoas conversando nas janelas de suas casas e meu pai trabalhando em sua oficina.

Eu estava tão feliz em vê-los. A minha alegria era tanto que até me esqueci de todos os problemas. Do verdadeiro motivo por ter voltado. Eu tomei essa decisão e me arrisquei. Passaram-se semanas, meses desde que sumi para as cabanas. Desde que me tornei um lobo. E agora eu estava de volta.

— Vamos todos jantar juntos! — Meu pai exclamou. — Vamos todos comemorar o dia mais felizes de nossas vidas!

— Nossos filhos voltaram — minha mãe falou, enxugando uma lágrima. — É um milagre. Um milagre!

E eles concordaram. Mas, ao olhar para Eunseo, não vi a surpresa em seus olhos. Vi a tristeza. Vi ela dar um passo para trás e agarrar discretamente a sua mãe. Eu tive vontade de correr até ela e fugi-la com ela novamente. Mas agora ela temia de mim. Mas não me odiava. Sabia que nunca seria capaz. E eu também não.

***

Nossos pais riram então voltaram a comer. Eu sorri educadamente e tomei mais um gole do meu suco.

— Então, Jimin caiu daquela árvore e arrancou um dente — o pai de Eunseo riu. — Eunseo ficou tão assustada pela quantidade de sangue que quase desmaiou ali.

Eles riram novamente.

Eunseo brincava com a comida, tocando a carne com o garfo e, com a outra mão, apoiava sua bochecha. Ela ainda estava com a mesma roupa de quando havíamos nos reencontrado, algumas horas atrás. Eu apenas tomei um banho e coloquei a roupa mais adequada possível.

Eu me remexia de calor. O calor era insuportável, eu pressionava os músculos quando a vontade de rasgar tudo vinha.

— Eu preciso ir ao banheiro — avisei, me levantando.

Apenas minha mãe me notou, que com o brilho nos olhos, concordou e sorriu. Ela estava tão feliz, e uma parte de mim me culpava por não ter voltado antes. Eu sentia tanta falta deles. Voltar agora me parecia uma decisão muito mais certa. Mesmo que isso me prejudicasse e colocaria em risco a minha verdadeira identidade.

Em vez de ir mesmo ao banheiro, sai da sala de estar e afrouxei a minha gravata. Também enrolei as mangas da minha camisa social azul escura e abri os primeiros botões.

— Por que voltou?

Me virei para trás e encontrei Eunseo á poucos centímetros de mim. Ela estava com os braços cruzados e as bochechas coradas. Ela ainda estava linda, até mesmo com raiva.

— Não está contente por estar de volta? — Perguntei, querendo sorrir.

— Jura que você está me perguntando isso? Depois de tudo, Jimin...

Eu parei de amarrar minhas mangas até o cotovelo e coloquei as mãos no bolso da calça. Eu não sabia como me aproximar dela agora. E antes parecia tão fácil. Tão natural. Porque sempre foi eu e ela.

Agora, parecia eu e... apenas eu. Ela não estava mais. Pelo menos não queria estar.

— Eu sei — continuei a encarando, e ela também não quebrava o contato visual. — Será que podemos conversar?

Ela respirou fundo.

— Veio explicar novamente porque não podemos ficar juntos? Que é perigoso demais para mim? Que não valho a pena como um...

Ela parou. Sabia que nossos pais poderiam escutar.

— Vale, você vale a pena, Eunseo — eu tentei me aproximar, mas por reflexo, ela deu um passo para trás. — Tanto quanto para um lobo, quanto para mim.

Eunseo sorriu amargamente e desviou o contato, olhando para o lado e sem descruzar os braços.

— Não foi o que me pareceu...

— Há três semanas atrás? — A interrompi. — Sabe, não é só com um humano mortal que as opiniões podem mudar.

— É mentira! Está mentindo para mim — exclamou.  — Você não mudou de opinião. Você não me quer mais, quer alguma coisa de mim. Então voltará a dizer que preciso voltar a ser uma humana normal e que nossa relação é errada.

— Não é disso que estou dizendo — tranquei o maxilar, começando a ficar nervoso. Vê-la tão distante de mim me deixa nervoso.

— Então o que está dizendo? Continue esfregando em minha cara, Jimin.

— Estou dizendo que vou me matar por você.

Ela parou e ficou quieta. Pude finalmente soltar o ar em meus pulmões. Comecei a relaxar os músculos e tentar ficar o mais calmo possível. Ela havia ficado surpresa agora, sem saber o que responder. E isso me deixava com tempo para pensar.

— Estou dizendo que não posso matar Zeigh sem você. Não posso mais conviver com meus irmãos sem você por perto. Não posso ser mais eu mesmo sem você. Não posso mais viver sem você — eu confessei, me aproximando novamente. Ela não recuou, o que era bom. — Sem você, eu me mataria.

Eunseo voltou a me olhar.

— Você me parece bem vivo para mim.

Eu ri um pouco, mesmo que ela ainda esteja com cara fechada.

— É porque ainda não desisti. Isso é só o começo de ter você de volta — disse.

Ela negou com a cabeça, olhando, dessa vez, para os próprios pés.

— Eu não entendo... Não entendo você, Jimin.

— Não precisa entender — coloquei a mão levemente em seu ombro. — Apenas confie em mim. Só confie em mim.

Eunseo me olhou novamente e tirou minha mao do seu ombro.

— Já confiei.

Então saiu de volta para a sala de jantar. Eu respirei fundo. Não iria desistir. Eu ainda teria ela de volta.

Voltei a me arrumar e parti para dentro de casa novamente.

***

— ... E foi isso.

Eu odiava mentir. Odiava. Mas, como contaria para meus pais — e os pais de Eunseo — o motivo de meu sumiço? Do nosso sumiço.

— Eu pensei que tinha morrido, meu filho — minha mãe comentou, abraçada a meu pai. — Foram dias tão sofridos... Era como ter perdido uma parte de mim.

— Sei como é perder uma pessoa que ama mãe — disse, olhando especialmente para Eunseo. Ela começou a mexer em sua trança, fingindo que não estava prestando atenção. Mas eu sabia que estava. — Mas, o importante agora é que estou de volta. Prometo não fazer nada de tão perigoso...

Eunseo me olhou e suspirou. Sua mãe, ao lado, percebeu e olhou para ela.

— Meu filho, eu não entendo... — meu pai começou a falar, tirando o meu foco de Eunseo. — Como você conseguiu voltar para casa?

Eu engoli seco, me encostando nas costas do sofá.

— Bem, eu...

— O ajudei — Eunseo interrompeu. Todos nós olhamos para ela, confusos. — Sabe, depois que consegui voltar para casa, também estive a procura dele. Sentia tanta sua falta... Então, eu o encontrei largado em uma parte da floresta e o trouxe de volta. Claro que iria imediatamente para a casa de vocês, senhor e senhora Park, mas Jimin insistiu para voltar ele mesmo. Sozinho...

Meus pais ergueram a sobrancelha, parecendo entender.

— É. Foi isso.

Começamos a nos encarar de forma tão intensa que não podíamos escutar o que nossos pais comentavam. Ela ainda estava séria, e eu estava tentando me manter calmo. Mesmo quando minha vontade era de levantar daqui e a encher de beijos.

— Por favor, Eunseo?

Ela se despertou e olhou para seu pai. Sorri ao constatar que ela não estava mesmo prestando atenção neles.

— Perdão, o que disse?

— Eles pediram para você pegar um jogo para jogarmos — respondi quando seu pai iria voltar a falar. Mesmo a encarando tão intensamente e pensando de todas as formas possíveis para tentar tê-la de volta, eu ainda escutava tudo muito perfeitamente. — No que está pensando, Eunseo?

Ela engoliu seco e se levantou rapidamente.

— Nada de importante — ela me olhou ao passar por mim e se direcionou escada a cima.

Eu fechei os olhos por um momento e massageei as minhas têmporas. Convencê-la a voltar vai dar mais trabalho do que esperava.

Nossos pais voltaram a conversar novamente, então eu decidi me levantar também.

— Sabe o que eu acho? — Chamei a atenção deles. — Que o jogo de tabuleiro está em cima do guarda roupa e Eunseo não irá conseguir alcançar. Talvez eu deva ajuda-la.

— Boa ideia, filho — meu pai sorriu.

Subindo as escadas rapidamente, consegui fazer com que Eunseo não escutasse a minha aproximação. Como suspeitava, ela estava se equilibrando na ponta da cama, se esticando para tentar pegar a caixa retangular.

Propositalmente, eu empurrei de leve sua perna, o que fez com que ela caísse para o lado. Ela gritou mas sua garganta se fechou e o som se conteve ao sair quando a peguei no colo. Eunseo me olhou confusa, mas não durou muito tempo para se debater e sair do meu colo.

Eu suspirei, triste pelo o contato ter durado tão pouco. Eu estava adorando tê-la em meus braços.

— Você por acaso acha que sou burra? — Ela exclamou.

Eu comecei a rir.

— Não, talvez só bobinha.

— Venha, eu te ajudo — eu estendi a mão e Eunseo me ignorou totalmente.

— Sei segurar um jogo sozinha, obrigada, Jimin. — Ela desviou de mim.

Eunseo estava prestes a abrir a porta do quarto e sair, mas eu fui mais rápido e fechei. Peguei em seu ombro para impedi-la que seu rosto batesse com tudo na madeira. Ela tomou um pequeno susto, sem se mover enquanto eu me aproximava aos poucos. Minha boca foi ao encontro da sua orelha.

— Sabe o que você não consegue fazer sozinha, Eunseo? — Perguntei, e ela ficou quieta. Sua respiração estava acelerada e eu sabia que ela estava nervosa. Sentia isso também. — Matar alguém...

Eunseo respirou fundo e jogou o jogo em cima de sua cama, se virando para mim. Estávamos perigosamente pertos. Suas costas estavam encostadas na porta e meu braço esticado, com a mao encostada na porta, alguns centímetros a cima de sua cabeça.

— Então, qual é seu plano? Me levar até a Cabana novamente e ajudar vocês a matar Zeigh? Certo, então, o que devo usar? Um pedaço de madeira? Meus dentes? Ou talvez até minhas próprias mãos e...

— Eu já entendi — a interrompi, tentado a colocar meu dedo em seus lábios. Mas não fiz. — Sei que está brava comigo, e tem todo o direito. Afinal, eu mandei você ir embora e, não dei noticias por duas semanas...

— Que bom que sabe — foi a vez dela de me interromper. — Você foi um cretino.

— Me escuta — pedi. Ela ficou quieta e eu voltei a falar: — Vou te transformar em um lobo.

Eunseo abriu e fechou a boca várias vezes, como um peixinho. Ela engoliu seco e sorriu, rindo amargamente.

— Eu não entendi — ela parou de rir e me encarou incrédula. — O que você pensa que está fazendo?

— Impedi que você se transformasse também pois tinha medo de você morrer, Eunseo. Mas agora... agora... eu... — respirei fundo e olhei para meus pés. — Decidi me matar também, caso isso acontecesse. É isso o que vou fazer.

— Se matar? Você não pode fazer isso — ela protestou.

— Se você não estiver mais aqui, eu posso.

Olhei para ela que me observava calmamente. Seu nervosismo foi embora e agora ela apenas me olhava. Desejei ler seus pensamentos, mas eu sabia que isso só seria possível quando ela se transformasse.

Peguei vagarosamente em sua mão e a entrelacei com a minha. Ela não fez nada, não disse nada. Depois, com as mãos entrelaçadas, levei-a perto de minha boca e depositei um beijo especificamente em sua mão.

Eunseo fechou os olhos.

— Eu confio em você. Eu também vou estar ao seu lado em todo o processo, não irei te deixar por um segundo sequer — com minha outra mão livre, toquei na ponta de seu olho fechado e fiz um caminho lento até seu queixo. — Eu prometo.

Eunseo ficou imóvel, assim, por alguns segundos. Até eu ver sua cabeça mover para cima e para baixo; meio hesitante, mas ainda, sim, confirmando. Eu havia conseguido. Consegui com que ela aceitasse.

Agora, era só tê-la para mim de novo. E se ela for minha novamente, vai voltar uma hora ou outra. E eu estava preparado para começar a acelerar as coisas.

Aproveitando seu estado calmo e sua redenção, tirei minha mão de seu rosto e toquei em seu pescoço, inclinando sua cabeça levemente e sem ela perceber no que estava fazendo. Abaixei nossas mãos entrelaçadas e movi minha cabeça até seu pescoço.

Eu apenas toquei meus lábios em sua pele, e pude sentir sua respiração ser contida. Sua pele estava quente. Eu deveria refresca-la. Abri a boca e mordi levemente o local onde havia beijado. Com a língua me ajudando no processo, eu distribuía em outros locais do pescoço. E sentir sua pele em minha boca era uma das melhores sensações que já havia permitido sentir.

Eu tinha o total controle dela. Por enquanto.

Suas mãos então pareceram acordar e encostaram em meu peito, tentando me afastar. Mas sua força era quase equivalente a zero, pois Eunseo estava dispersa demais na sensação da minha boca em seu pescoço.

Eu subi minha cabeça e encontrei ela ainda de olhos fechados, fazendo algumas caretas de satisfação. Eu sorri e roubei um beijo no canto de seus lábios. Ela abriu a boca e soltou a respiração contida. Ela ajeitou sua cabeça e nossas bocas estavam a poucos centímetros, próximo um do outro.

Eunseo ainda mantinha a boca aberta, e por um momento, abri a minha também e apenas raspei nossos lábios. Ela estava pronta para avançar, mas eu me afastei.

No mesmo instante senti falta de seu calor, mas tentei me acostumar. Ela também deve ter sentido falta, porque seus olhos abriram-se surpresos. Também percebi que ela estava cheia de expectativas, então presumi que havia feito um bom trabalho.

— Eles estão te chamando — a alertei.

Eunseo piscou algumas vezes e escutou a voz de seus pais a chamando. Ela me olhou mais um pouco antes de pegar o jogo em cima da cama e sair rapidamente do quarto, como um jato.

Eu sorri. Faltava pouco para eu tê-la só para mim.

***

— Aonde você disse mesmo?

A mãe de Eunseo sorriu e largou o pano de prato em cima da pia. Ela se aproximou da janela, onde eu estava, só que do outro lado, e falou baixinho para mim:

— Eunseo estava tão triste, que se recusava a sair de casa. Eu e o pai dela pensamos que seria bom se ela tivesse algo com que ocupasse o tempo. Então Eunseo se inscreveu para ajudar os professores depois das aulas. Ela está lá agora mesmo.

— Hum. — Balancei a cabeça novamente. Triste demais, não saía de casa... era bom saber. — Eu acho que vou passar lá agora mesmo.

A mãe de Eunseo arregalou os olhos e voltou a lavar sua louça.

— Tem certeza de que não irá atrapalhá-la? — Perguntou, me olhando pelo canto do olho.

Eu sorri e me inclinei no batente da janela, colocando minha cabeça para dentro da cozinha. Eu estava mais perto dela assim.

— Eu tenho certeza que ela irá adorar me ver lá.

Então pisquei e me desencostei da janela de sua cozinha, começando a caminhar para a escola. Não sem antes dar um tchau para minha sogra.

Voltar para aquele inferno a última coisa que queria fazer depois que me transformei em um lobisomem. Mas, ao mesmo tempo, me trazia uma sensação nostálgica. Eu e ela ainda estávamos em aula, então acredito que Eunseo tinha voltado a estudar.

Passei pelos corredores vazios e parei em frente a nossa sala, dando uma espiada na pequena janela da porta. A sala estava vazia pelo final das aulas, e Eunseo também estava sozinha. Haviam papeladas em cima da mesa da professora e ela leia e corrigia algumas coisas.

Abri a porta e caminhei silenciosamente até suas costas. Graças a seu cabelo curto — que aos poucos ia crescendo, percebi isso desde a última vez que a vi cortar. — eu consegui chegar rapidamente e sem muitos esforços até a ponta de sua orelha. E lá, eu mordi levemente.

Eunseo deu um pulo na carteira e deixou cair um estojo de lápis. Ela olhou para mim assustada.

— Jimin, caramba. — Ela arfou.

Fiz um sinal para ela não se abaixar e peguei o estojo em um segundo, deixando-o completamente arrumado e em ordem em cima de sua mesa. Ela piscou confusa por causa da velocidade e encarou o estojo intacto bem em sua frente.

— Então, pensou na proposta, linda?

Agora eu estava na cadeira em sua frente, e ela novamente tomou um susto pela minha aparição.

— Para de fazer isso — ela gesticulou com as mãos. — Muito rápido.

Percebi que sua franja de seu cabelo cor de mel estava presa em uma presilha delicada e florida. Achei fofo. Eunseo continuava encantadora de todos os jeitos. Estiquei meu braço até a presilha e tirei um fio preso. Ela ficou parada. Era bom ver que Eunseo não estava mais na defensiva. Era muito mais fácil assim, mas, confesso que ver ela brava era muito mais tentador e divertido.

— Eu tenho pressa. — Pisquei para ela.

Eunseo respirou fundo e deixou de lado a prova em que estava na mão

— Eu aceito. Vamos fazer isso.

Arregalei meus olhos apesar de não estar surpreso. Eunseo não mudaria de opinião em duas semanas. Ela ainda era a mesma teimosa de sempre.

— Posso saber o motivo? — Provoquei-a.

Ela fez uma cara de poucos amigos e eu tive quer ir. Era claro que ela sabia que eu sei o motivo. Mas era tão divertido provoca-la que perder uma oportunidade seria um completo desperdício.

— Quero ser uma de vocês, Jimin. Quero ser um lobo também. Quero saber me proteger sozinha e ajudar os outros. Hoseok disse que vocês são lobos do bem e que seu único inimigo é Zeigh, então eu... Eu quero isso. Quero ajudar — ela parou por alguns instantes, parecia receosa em falar. — Quero ficar com vocês.

Comigo. Ela queria falar isso. Eu tinha certeza.

Eunseo ainda quer ficar comigo. Sorri feito um bobo e encostei minhas costas na cadeira, brincando com uma caneta deixada na mesa.

— Bom, sabe que estamos adiando a briga entre Zeigh para fazer parte do processo da sua transformação, certo? — Perguntei, olhando a caneta dançar em meus dedos.

— Por que não tentaram essas semanas? — Ela questionou.

— Eu já te disse. Precisamos de você. E...

Eunseo afastou a cadeira mais para trás. Eu deixei cair a caneta em meus dedos e a olhei, confuso.

— O que está fazendo? — Perguntei ao vê-la levantar.

— Então é isso?

Eunseo estava com a feição fechada e o maxilar levemente trancado. Seu peito subia e descia repetidas vezes e ela carregava fúria em seus olhos.

— Isso o que? Quer que eu explique tudo de novo? — Suspirei, me sentando direito. — Não é tão difícil de entender.

— Não, Jimin, eu entendi muito bem. Bem até demais. Você só quer que eu volte para ajudar matar Zeigh. Você e sua Alcateia só me querem para se vingar e acabar com toda a ameaça da Vila Malegryan. Vocês só vão me usar, é isso.

Eu engoli seco.

— Não foi isso o que quis dizer — tentei me levantar, mas ela levantou a mão, me impedindo.

— Me diga, Jimin. Apenas me responda uma coisa — ela deu uma pausa e eu concordei, hesitante. — Você... — ela suspirou. — Você voltou porque sentiu minha falta, porque me quer de volta, ou por que viu que não seria possível matar Zeigh sem mim?

Eu fiquei quieto. Isso não estava em meus planos. Porra, realmente não.

— Eunseo eu...

— Você voltou mesmo porque quis, Jimin? — Seus olhos encheram-se de lágrimas, e ela lutava para não deixar derramar nenhum. — Ou foi por que pediram para você voltar?

Eu me levantei e olhei em seus olhos. E lá estava Eunseo, completamente frágil e sem defesa alguma. Eu só queria ir até lá e abraça-la forte. Vê-la assim, novamente, chorando, me fez voltar algumas semanas atrás, quando eu terminei nosso namoro. E toda a fraqueza veio se apossar em meu corpo.

— Eu sinto muito — fechei os olhos.

Escutei ela arfar e depois suas sapatilhas bateram contra o piso, a porta sendo aberta então fechada com tudo.

Eu ainda estava de olhos fechados, tentando pensar em algo para fazê-la acreditar que sim, eu voltei porque Namjoon pediu. Porque Yoongi mudou de ideia e viu que eu estava sofrendo sem ela. Porque Hoseok, Taehyung, Jin e Jungkook sentiam a sua falta. E porque eu a amava, e não estava suportando ficar sem ela.

Eu voltei por tudo isso. E agora, mais uma vez, ela fugiu de mim por entender algo errado.

A porta é novamente aberta e eu abri os olhos, na expectativa que fosse ela.

Suspirei derrotado.

— Ah, não, porra — bati a mão em minha testa.

— Uma bela tarde para você também, senhor Park. — Professora Kang entrou com uma pasta na sala, deixando em cima da mesa. — Está um dia ótimo, não?

— Melhor impossível.

— Sabe me dizer para onde senhorita Kim foi? — Ela se sentou na cadeira, atrás da mesa.

Eu suspirei.

— Para bem longe de mim — respondi, sem ânimo. — Para ser mais exato, para o outro lado do mundo, se pudesse.

Professora Kang tirou seus óculos.

— Eu não estou entendendo.

— Eu vou atrás dela.

— Ótimo, e quando acha-la, traga-a de volta para cá. Precisamos continuar ajeitando essas provas — ela começou a mexer na papelada.

Eu olhei para ela e sorri.

— Huh, acho que não.

Ela olhou para mim e eu já estava saindo da sala.

— Senhor Park? Senhor Park!

Antes de sair do colégio, dei alguns passos para trás e voltei para sala. Dessa vez, apenas abri a porta e coloquei metade do meu corpo para dentro.

— E ah, quer saber de uma coisa, professora Kang? — Ela olhou para mim incrédula. — Os inimigos são mesmo os lobos. São muito terríveis e assustadores. Quer um conselho? Mate-os. Todos.

Eu abri a boca e mostrei meus caninos, ameaçando a entrar na sala e a mordê-la. Professora Kang gritou e caiu da cadeira, deixando alguns papéis voarem. Eu sorri e comecei a correr para longe daquela escola.

Eu tinha que ter feito aquilo agora do que nunca mais. Eu não pisaria aqui novamente.

***

Mais um passo e eu despencava do segundo andar. Sorte a minha ser um lobo, porque, literalmente, estava frio de doer. E eu não estava sentindo absolutamente nada. Dei um passo para o lado e me encostei na lateral da janela, observando atento Eunseo arrumar sua cama para dormir.

Ela estava apenas de camisola e seus cabelos soltos. Ela então se sentou na ponta da cama e tirou a presilha, olhando para ela um tempo. Sua mão involuntariamente tocou aonde a presilha estava e ela suspirou.

Eu sorri de imediato. Ela estava se lembrando dessa tarde.

Então Eunseo respirou fundo e tacou a presilha para a porta do banheiro, depois, jogando seu corpo para trás e olhando para o teto.

Depois de alguns segundos assim, tomei coragem para bater com o indicador na janela três vezes. Eunseo se sentou novamente e seus olhos arregalaram-se ao me ver.

Ela correu para a janela e, com um pouco de minha ajuda, abriu e trancou-a no máximo.

— O que você pensa que está fazendo?

Eu me agachei e segurei na janela para não cair para trás.

— Quando estou pensando em outra coisa que me tira o foco, geralmente, não penso também no que faço — respondi, com um sorriso no rosto.

Ela ficou confusa por um momento, mas, ao notar pelo meu sorriso, já pode imaginar o que é.

— E no que você esta pensando? — Perguntou, baixinho.

— Você.

Eunseo revirou os olhos e cruzou os braços.

— Você vai cair daí. Venha, entre — ela deu espaço para eu passar.

— Bela receptiva, Eunseo. Mas agora eu estou curioso. Você está subestimando os meus poderes?

— Você por acaso não tem medo de morrer?

Eu comecei a rir.

— Dessa altura? — Olhei para baixo e neguei com a cabeça. — É como fazer cócegas.

Eunseo deu um passo para frente, ainda de braços cruzados, dando uma espiada na altura que eu supostamente iria cair.

— Você é louco.

— Por você — respondi na hora. — Vamos, isso está começando a ficar chato. Te flertar é tão fácil.

— É porque você já me teve uma vez — ela respondeu, tentando ficar séria. Mas eu via o quanto ela estava magoada.

— E eu posso te ter duas? — Perguntei, me aproximando um pouco, mas sem sair do batente da janela. — A segunda e única vez?

Eunseo engoliu seco e deu de ombros.

— Não sei, me diz você.

Eu sorri.

— Isso é uma briga de casal, certo? Ok, é um passo.

Eunseo sorriu levemente. Meu peito se encheu de felicidade e satisfação. Isso realmente era um passo.

Então eu estiquei minha mão para ela. Eunseo olhou e presumiu para ela me ajudar a sair do equilíbro no batente. Porém, na hora em que ela foi pegar, eu desviei a mão.

— Confia em mim?

Eunseo respirou fundo.

— Já te respondi isso.

— Eu sei. Mas, estou falando agora. Quero que confie em mim porque estou prestes a fazer uma loucura.

Eunseo arregalou os olhos.

— O que você quer dizer?

— Confia em mim, apenas confie.

Eunseo segurou em minha mão sem hesitar. Eu continuei com o mesmo sorriso bobo ao aproximar ela vagarosamente. Tirei minha mão que me equilibrava na janela e segurei sua cintura com as duas. Ela segurou em meus ombros no mesmo instante, provavelmente com medo de eu acabar caindo.

— Relaxa — pedi.

Eunseo obedeceu, relaxando os ombros e suspirando. Eu, novamente, a puxei mais perto, até que nossas testas se colaram e nossos nariz estivessem a um triz de roçarem. Eu sentia sua respiração quente batendo em meu rosto.

— Eu só quero que você confie em mim, e que, ao meu lado, eu jamais te deixaria morrer. — Afastei meu rosto do seu e seus olhos brilhavam ao me observar. — Não irei deixar você morrer, Eunseo.

Ela sorriu aos poucos e eu a acompanhei.

— Não antes de mim.

Eunseo abriu a boca e eu a puxei, jogando meu corpo para trás. Eunseo gritou e no processo em que caíamos do segundo andar, tampei sua boca com minha mão. Ela fechou os olhos com força e seus cabelos voavam junto com o vento.

Um baque e estávamos em terra firme. Eunseo tremia tanto em meus braços que sentia como se fosse apenas uma boneca em minhas mãos. Eunseo abriu os olhos assustada e eu tirei a mão de sua boca, deixando ela arfar intensamente.

Eu estava deitado na grama de sua casa, com um braço segurando sua cintura, e a outra para trás de minha cabeça, servindo de apoio. Ela piscou algumas vezes e se sentou no meu colo, observando como estávamos vivos.

— Isso é...

— Loucura? — Adivinhei.

Ela olhou para mim e viu como estava em perfeito estado. Então começou a rir e tampou sua boca com as próprias mãos. Ela estava rindo de nervoso. Eu acompanhei ao ver sua reação. Ela estava completamente adorável.

— Entende o que quis dizer? — Me sentei e segurei em sua cintura novamente.

Ela se acomodou no meu colo e concordou com a cabeça.

— Venha comigo. Vamos transformar você em uma pequena lobinha. Vamos matar aquele descarado e vamos viver felizes para sempre. — Eu sorri. — Eu, você... Taehyung.

Ela cerrou os cenhos e sorriu, sem entender.

— Taehyung?

— Aquele lobo velho sente sua falta. Falava de você o tempo todo — Eunseo mantinha os olhos brilhando e sorriu maior ainda. — Hoseok também. Jungkook então, quis me matar quando fiz aquilo contigo. Todos sentem sua falta...

— Eu também sinto a de vocês — ela respondeu, se acalmando em meus braços. — Sinto todos os dias.

Eu sorri e ajeitei a sua franja que caiu em seu rosto.

— Eu amo você — confessei. — Amo muito você. Nasci e cresci ao seu lado, e não me imaginaria com nenhuma outra sem ser você para morrer também. Fui errado, mas eu estava com medo de ver a minha única companheira morrer em meus próprios braços, e não ter mais forças para viver. Yoongi também não estava errado. Ele esta passando por um trauma ao perder seu irmão, e sinto que ele também não quer perder você. Não quando é a única garota que me incentiva sem ao menos saber quando me levanto da cama.

Eunseo ia falar algo, mas eu tapei sua boca.

— Perdoe-me, Eunseo. Eu preciso de você, para lutar ao meu lado e para o resto da vida. Então, volte comigo e vamos lutar contra Zeigh, vamos fazer de você tão forte quanto é. Vamos te ter com a minha companheira.

— E se eu morrer...

— Então eu me mato depois — respondi sem pensar.

— Voce não pode fazer isso, já disse — ela protestou.

— E eu já disse que, sem você aqui, qual seria o meu sentido de viver? — Eu sorri mesmo assim, tocando em seu rosto novamente. — Mas eu não permitirei isso. Não irei deixar você morrer.

Eunseo esperou um pouco antes de sorrir alargamente.

— Então o que estamos esperando? Vamos, agora — ela tentou se levantar, mas eu a puxei de volta.

— Antes, você tem que saber que tem medidas a tomar — ela estranhou e eu olhei para sua casa. Ela me acompanhou. — Terá que separar de seus pais por semanas. Mas, dessa vez, não precisaremos fugir sem dar notícias. Vamos inventar uma mentira boba, como uma viagem. Até você passar pelo processo de transformação e se acostumar e se conter perto deles.

Eunseo engoliu seco, mas concordou.

— Vai demorar? — Ela me olhou novamente.

Eu suspirei e concordei.

— Depende de como seu corpo irá reagir a transformação, e como vai conseguir se conter ao lado de humanos — isso será difícil, nem consigo voltar e imaginar como eu mesmo passei por isso, sem ao menos querer. Ver ela implorar para acontecer o mesmo me fez entrar em desespero. — Mas você é forte, vai conseguir isso. Entao vamos voltar a vida normal...

Ela sorriu e eu sorri também, querendo rir.

— Está bem, está bem. Quase normal. 

— Então eu topo. — ela se levantou e eu permiti, me levantando também. Nossas mãos ainda não se desgrudavam. — Vamos passar por isso. Juntos.

— Juntos — repeti. — Agora, não precise arrumar sua mala. Você não irá precisar de muitas roupas — pisquei.

Me virei para começar a andar e Eunseo me impediu, segurando meu braço.

— Jimin — ela me chamou. Eunseo sorriu. — Eu amo você.

Como explicar como o meu peito parecia explodir de felicidade? A porra da vontade de gritar por aí que eu a tinha de volta era enorme. Pensei em como contar para Namjoon, para os garotos... para Yoongi. Eu a tinha de volta.

E agora, parecia tudo mais certo. Enfrentaria o processo de transformação com ela e não a deixaria morrer. Eu tinha fé que não. Ela não pode morrer. Não quando eu ainda consigo respirar.

Apertei sua mão e a beijei mais uma vez. Ela se agarrou em meu pescoço e eu a levantei no colo.

— É mais rápido se eu ir correndo — sorri.

— Meu herói — ela riu.

Então eu comecei a correr com a minha companheira nos braços. De volta para a Cabana.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...