História Tormento - "Eu quero voltar pra casa"

Sarah e Ellen montaram uma estrutura simples, mas bastante agradável, ao qual serviria de abrigo a todas. A lona foi apoiada em galhos fortes, ainda verdes e sob ela estrategicamente folhagens para que escondesse o abrigo. A lona negra acabava camuflada por entre as folhas secas. Lauren e Camila estavam sentadas sob um tronco ao chão, enquanto olhavam as estrelas sonhando com o dia que poderiam ter aquela visão através de seus quartos.

Lauren sentia o coração disparar, o medo envolvido no desespero de voltar acabou sendo mais forte que a vontade de vingar-se. Sarah havia espalhado o fio de nylon por entre as árvores e em sua experiência puderam ouvi-la apenas mover o fio, pois galhos e arbustos se mexeram imediatamente. Sentiam-se mais confiantes daquela maneira, ninguém passaria sem alertar as demais. Por sorte a comandante encontrou algumas frutas. Uma delas semelhante a que Lauren encontrou inicialmente e se alimentaram, mais uma vez, somente com frutos.

- Podem ir dormir, meninas - disse Ellen docemente.

Camila era uma garota extremamente doce. Sorriu obediente e levantou-se em direção ao abrigo. Lauren por sua vez, permaneceu onde estava, olhando seriamente para a tenente. Mais a frente Sarah continuava checando as condições de segurança e como poderia melhorar ainda mais seu desempenho. Ellen parecia ter notado algo passar pelos olhos da cantora, uma escuridão que parecia escurecer fisicamente seus olhos.

- Algo errado, Lauren?

- Estou com medo, Ellen - disse com a voz embargada.

- Não se preocupe. Sarah sempre dá um jeito em tudo - sorriu confiante.

- Esse plano dela não tem cara que vá funcionar.

- Sabe, Lauren. Eu convivi alguns anos com Sarah, mas quando a conheci, tive que passar 24 horas com ela em uma situação bastante crítica. Enfrentamos algo semelhante ao que estamos enfrentando agora e claro que em momentos tive dúvidas da capacidade dessa mulher em resolver situações bastante complicadas como aquelas e ela conseguiu. Eu tenho muito orgulho da mulher que ela é e eu não tenho a menor dúvida de que sairemos disso.

- Passou pela minha cabeça hoje desistir. Eu tive um impulso enorme de entregar tudo e pedir que fosse embora. Que mandem o exército para cá porque eu não sou capaz de lidar com esse tipo de situação.

- Eu sei do que está falando e acima de tudo sei o que está sentindo e é absolutamente normal. Escute… essas coisas simplesmente passaram e saíram da sua cabeça ou ainda quer ir embora?

- Estou preocupada com Camila - disse por sua vez.

Ellen sorriu. Um sorriso orgulhoso e maternal. Lauren estava perdidamente apaixonada por Camila e o medo de fazê-la algum mal, já que graças a sua decisão em ficar, a jovem aceitou permanecer ao seu lado, talvez por sentir-se da mesma forma ou simplesmente como uma prova de amor que jamais esperou receber de alguém.

- Camila está sozinha lá dentro - Ellen disse sorrindo - Sarah e eu vamos demorar aqui um pouco mais. Acredito que tenha tempo para esquecer apenas por um instante, onde estamos.

Lauren olhou a mulher surpresa. Será que ela realmente quis dizer aquilo? O que ela queria dizer com o alerta da demora? Mas não conteve um sorriso estampado no rosto. O que mais queria era um momento a sós com Camila, um momento para dizer o quanto a ama e o quanto sonha com o dia que iriam voltar para casa, que tomariam um banho, que se beijariam de lábios suaves e dentes escovados. Se estava apaixonada por Camila na situação a qual se encontravam, sujas, lábios rachados, imaginava como seria quando tudo estivesse contrário.

- Obrigada, Ellen - sorriu levantando-se e indo ao seu encontro para um abraço.

- Durma bem, Lauren.

Passos firmes e apressados a levaram até o pequeno abrigo improvisado. Com cuidado afastou a lona que servia como uma espécie de porta e agachou-se. Camila já estava deitada de costas para a entrada, com os joelhos dobrados, quase abraçando-os. Um pequeno sorriso de canto que parecia ter brotado sem esperar. De joelhos engatinhou até a garota e deitou-se atrás dela. Camila imediatamente, sentindo a chegada da parceira, virou-se ficando de frente a ela. Sorriu igualmente, enquanto seus olhos seguiam dos dela aos seus lábios.

- Oi - Lauren disse com a voz rouca em um sussurro sedutor.

Camila teve seu sorriso alargado, ocupando quase todo o seu rosto. Os olhos brilharam e o coração de Lauren parecia querer sair pelo peito, tamanha velocidade que seu coração chegou a bater. A latina a puxou para um abraço, doce e apertado, podia sentir o coração da parceira bater alinhado ao seu. Afastaram-se lentamente, seus olhos olhavam os lábios uma da outra com desejo e vontade, fazendo seus instintos se aflorarem e aproximarem-se de encontro um ao outro. Apesar do frio que chegava a fazer a noite, os lábios de ambas estavam quentes e a língua que invadiam as bocas mais suave do que costumeiramente conseguiria ser. O doce dos frutos se misturavam e as respirações apressavam-se.

Lauren apertou seu corpo contra o de Camila, enquanto a latina a puxava para ficar sobre si, ao qual fora bem recebido pela cantora, que em instantes já estava pressionando todo seu peso contra o corpo esguio de Camila, que sorria entre os beijos que aceleravam. As mãos da garota percorriam por suas costas, enquanto Lauren a beijava ardentemente, mordiscando suavemente seu lábio inferior. Seu quadril iniciou um movimento suave, um rebolado sedutor, que fazia pulsar entre as pernas de Camila, que ao sentir as pulsações aumentarem de velocidade, cravou as unhas contra as costas de Lauren, que gemeu baixinho entre o beijo. Determinado momento, quando o calor subia a espinha, forçou seu quadril contra o de Camila, enquanto sua virilha encontrava a da parceira.

Era incrível como os instintos e o desejo respondiam por si próprios. Camila abriu as pernas quase imediatamente, ao sentir as investidas de Lauren, que em um beijo intenso continuava pressionando seu corpo contra o da latina com ainda mais força, atingindo o ponto que levaria a garota ao prazer absoluto. Afastando seus lábios da garota, jogou a cabeça para trás, aquela imagem de prazer de Camila fez com que pontadas fortes pressionassem o seu íntimo levando-a ao mesmo estágio de êxtase da latina. Ambas sentiram seus corpos serem tomados de uma descarga intensa que ainda levavam seus músculas a tremerem e permanecerem levemente fracos. Lauren deixou seu corpo cair sobre o de Camila, sentindo seu peito subir e descer, enquanto seu ouvido podia acompanhar as batidas aceleradas do coração da garota.

- Eu queria voltar pra casa - Lauren disse com a voz fraca.

Camila ouviu. Levou as mãos ao rosto e cabelo da cantora, acariciando docemente com imenso carinho, na única intenção de confortá-la, como sempre fazia. A importância de Lauren em sua vida aumentou significativamente com o passar dos dias. O esforço incansável da garota em protegê-la era notório e o calor que todo aquele cuidado trazia a sua alma, era impagável. Lauren permaneceu em silêncio, olhou para Camila e uma lágrima que há muito já desejava escorrer, descia sorrateiramente.

- Você está cansada, Lolo - disse Camila em sussurro bondoso.

- Muito.

- Mas logo vai acabar e voltaremos para casa com a alma lavava e nossos corpos recuperados.

- Parece que não, Cam.

- Não pode se deixar pensando isso, amor - tocou seu rosto - Precisa pensar que vamos pegar aqueles idiotas, que vamos honrar nossos nomes, que vamos nos proteger e proteger outras garotas inocentes que estão o tempo todo sendo sequestradas e que a todo instante acontece esse tipo de coisa…

- Estão acordadas? - ouviram a voz de Ellen soar do lado de fora.

- Sim - Lauren respondeu afastando-se do corpo de Camila o suficiente para terem uma imagem respeitável diante da situação.

- Como estão? - Ellen perguntou entrando.

- Estamos bem - Camila respondeu prontamente.

Ellen por sua vez não acatou a resposta da latina como verdade e olhou para Lauren rapidamente. A cantora olhou para o chão. Toda a ferocidade que aquela garota tinha demonstrado até ali, estava visivelmente abalada e precisavam agir rápido, se ainda queria sua ajuda para continuar.

- Sabe… muitas coisas aconteceram em minha vida, que fizeram me tornar quem sou hoje. Coisas muito ruins mesmo. Mas são essas coisas que transformam a gente.

- Do que está falando? - Lauren perguntou com a voz embargada.

- Quando eu era jovem, fui nomeada ao lado de um grande amigo, chefe de uma missão muito importante, que por não saber me posicionar ou ordenas previamente, levaram a morte de alguns de meus colegas. Claro, fui julgada e enviada para um treinamento que me capacitaria para efetuar as missões que era encarregada. Foi quando conheci a Sarah. Não foi nada fácil.

- Imagino, a Sarah é uma pessoa difícil.

Ellen olhou para Camila e riu do comentário da garota, concordando absolutamente com o que foi dito para caracterizar sua esposa.

- Exatamente, muito difícil. Mas foi muito interessante que ela fosse difícil, porque explodiu algo dentro de mim que surpreendo-me todo momento ao qual me pego pensando. Passamos por situações muito complexas, enfrentamos homens muito cruéis, inclusive que acreditava estarem ao nosso lado. A posição de tenente, em um meio tão masculino, é uma tarefa muito difícil, garotas. Eu tenho que me impor e lutar todos os dias. Mas nada, nada do que fiz e faço até hoje, supera o momento ao qual enfrentei a amnésia da minha esposa - Ellen disse enquanto seus olhos enchiam de lágrimas, contidas.

- Amnésia? - Lauren questionou surpresa.

- A Sarah havia sido baleada quando estávamos em uma tarefa na floresta amazônica. Acabou resultando em um trauma que afetou sua memória mais recente, fazendo-a esquecer quem eu era.

- Meu Deus - Camila surpreendeu-se.

- Lidar com essa situação foi a tarefa mais difícil que enfrentei em toda minha vida, podem ter certeza. Valorizo cada segundo com ela, cada missão que enfrento. Hoje com cuidado e muito planejamento, porque preciso voltar para essa mulher todos os dias. Talvez o que sintam uma pela outra, não seja o que sinto por minha esposa… mas eu quero que se agarrem naquilo que mais amam e que enfrentem tudo com tanto empenho e coragem, para que possam voltar e abraçar o que mais querem.

Lauren olhou para Camila com o coração acelerado. Estava com a pessoa que até aquele momento, sabia amar, entregou-se ao sentimento como antes jamais havia feito. Talvez lá fora a situação fosse diferente, talvez não descobrisse tão cedo o sentimento que nutria pela amiga e sequer chegasse em um momento onde enfrentasse a aceitação daquele amor que parecia crescer cada vez mais.

A situação com Sarah e Ellen não havia sido diferente. Ambas talvez não chegassem a se conhecer, se Ellen não houvesse falhado em uma de suas missões. Talvez não se apaixonasse daquela maneira, se não houvesse enfrentado o frio, a fome e a sede. Iriam sair daquele momento e o que Ellen dissera foi muito importante. Enfrentaria com toda coragem e voltariam para casa, pois a curiosidade em saber o que aconteceria quando saíssem dali era maior que o medo de continuar ali.