História Torn Between Two Loves - Desaparecer

Point Of View Kimberley Caldwell

     Quando finalmente parei, não havia mais espaço livre de cortes em meus dois antebraços. O sangue escorria pelo ralo da pia do banheiro e eu me sentia muito fraca. Não só por ter perdido sangue, mas por ter cedido novamente às lâminas.

     Me despi e entrei no chuveiro. A água caía rosada devido ao sangue e minha pele ardia por conta dos vários cortes. Saí do banho e fiz um curativo. Vesti um moletom lilás e uma legging preta. Me deitei e dormi. Mas não antes de encharcar meu travesseiro com lágrimas de um choro baixinho.

          [...]

     Acordei com o sol forte batendo no meu rosto. Olhei em meu celular e já passava das duas da tarde. Desci até a cozinha e fiz um sanduíche. Depois de comer sentei no sofá da sala e comecei a assistir Hora De Aventura.

     Depois de alguns episódios, a campainha tocou. Antes que eu pudesse se quer me levantar para abrir a porta Georgia entrou super feliz. Mas assim que me viu, o sorriso em seu rosto deu lugar a olhos extremamente arregalados.

     - Meu Senhor Kimberley! O que aconteceu com você?! Parece que uma manada de elefantes passou por cima da sua cara ainda tentaram comer o seu cabelo! Tá horrível!

     - Nossa Georgia, obrigado por me avisar. Sabe, eu nem tinha notado isso. - Falei na maior ironia enquanto ela se sentava a meu lado e me olhava com um misto de curiosidade e algo como... Pena?

     - O que houve, Kim?

     - Eu fiz de novo. - Me encolhi no sofá e lágrimas teimosas insistiam em cair por meu rosto e eu as secava o mais rápido possível.

     - Deixa eu ver. - Puxou meus braços delicadamente e levantou as mangas do moletom. Só dava para ver os curativos. - Vamos trocar esses curativos. - Puxou-me até meu quarto e entrou no banheiro.

     Fui atrás dela e vi o que Georgia havia encontrado. Minha caixinha cinza de lâminas.

     - Você tem que se desfazer disso, Kim. Só vai te machucar mais.

     - Você não me entende. Ninguém me entende. - Choraminguei feito uma criança e me encostei no balcão da pia. - Eu não posso.

     - Bem que eu queria poder entender o que se passa nessa cabeça oca de Kimberley Caldwell. Mas, já que não posso te entender, posso te levar à sorveteria e depois ao cinema. O que acha? Só eu e você.

     - Pode ser.

          [...]

     Lembra daquele "só eu e você"? Pois é. Ele não existe mais.

     Assim que chegamos à sorveteria, Georgia encontrou um "velho amigo" e os dois ficaram conversando enquanto eu tomava meu sorvete. E a partir do momento que ela encontrou Paul, o "velho amigo", nem olhou mais na minha cara. Se eu fosse embora ela nem ligaria.

     Fui tirada de meu pensamentos depressivos por uma mensagem. Tirei meu celular do bolso e vi que era uma mensagem de Michael.

     " Hey, Kimy. O que acha de sairmos agora? Se você não tiver o que fazer, é claro.        Xx Michael"

     " Adoraria. Mas estou com minha amiga Georgia.        Xx Kimy"

     " Hum. Então podemos combinar outro dia.        Xx Michael"

     " Se bem que ela não ligaria. Acabei sobrando aqui.        Xx Kimy"

     " Onde você está?        Xx Michael"

     " Ice Cream Factory.        Xx Kimy"

     " Ok. Já chego aí.        Xx Michael."

     É. Talvez eu devesse estar preocupada com a mídia ver eu e Michael juntos, mas eu não estou ligando. No momento não. Eu só preciso me divertir. Tirar os problemas da cabeça por um tempinho. Claro que a bebida seria muito melhor que sorvete e cinema mas, a bebida tem também o seu "efeito negativo" que não é muito agradável. Então acho que sorvete e cinema deve servir.

     Depois de alguns minutos de puro tédio Michael finalmente chegou. Assim que entrou na sorveteria pareceu me procurar com o olhar e então acenei. Quando me viu sorriu e se sentou a meu lado. Agora sim Georgia e Paul pareceram notar minha presença.

     - Esse é Michael. Michael, esses são Georgia e Paul. - Os apresentei.

     - Olá. - Michael sorriu e chegou uma garçonete perguntando o que ele queria. Fiquei um pouco incomodada já que ela estava praticamente com os peitos na cara de Michael e tentava de todas as formas flertar com ele, e o mesmo dava alguns risinhos. Em alguns instantes senti uma vontade imensa de pular no pescoço dela, mas me mantive calma e respirei fundo.

     - Conseguiu o telefone dela? - Perguntei a Michael assim que a garçonete - vulgo vadia - saiu rebolando.

     - Não. Por que? Ficou com ciúmes? - Sorriu e revirei os olhos.

     - Não.

     - Acho que esse não quer dizer sim.

     - Talvez.

     Michael me puxou para um beijo e senti uma luz forte. Um flash, mais precisamente. Mal nossos lábios se tocaram e me separei rapidamente procurando de onde tinha vindo o flash. Avistei um cara com uma máquina fotográfica correndo do outro lado da rua.

     Droga. Mil vezes droga.

     Depois dessa todo mundo vai querer me matar. Principalmente minha mãe. Talvez Luke, mas pouco me importo com Luke Hemmings.

     Me levantei bruscamente e o olhar de todos à mesa foi em minha direção.

     - Isso tudo foi um erro. - Falei a Michael baixinho e saí dali o mais rápido possível.

     Quanto tempo iria demorar para essa foto aparecer em revistas? Um dia? Uma hora?

     Não faço ideia.

     Mas eu só faço coisa errada mesmo. Não deveria ter falado aquilo para Michael.

     E se eu o magoei?

     E se ele não quiser olhar na minha cara nunca mais?

     Droga, eu só queria desaparecer agora e nunca mais voltar.