03 de Março de 2023
Guardo em minhas memórias o dia que meu pai foi me buscar naquele orfanato em Jonesboro. Com certeza foi o dia mais feliz da minha vida porque eu sabia que finalmente teria uma família de verdade... Muito prazer, meu nome é Charlotte Jones e esta é minha história.
Eu tenho 17 anos e 11 dias de idade, nasci no dia 20 de fevereiro, em 2006. Estudo na Escola Watson Chapel High e para alguns pode parecer meio estranho que eu esteja frequentando todos os dias o lugar onde passei o dia mais aterrorizante da minha vida. Foi aqui onde eu e meu pai nos abrigamos durante o tornado de 2017 em Pine Bluff, eu tinha 11 anos e não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas no final tudo correu bem, quer dizer, quase tudo. Algumas pessoas que eu gostava não conseguiram sair do tornado e é por isso que eles são tão perigosos!
Moro com meus dois pais, John e Finn. Os dois são muito apegados e já faz dois anos que eles se casaram, mas estão juntos há muito mais tempo. Os meus avós moram no Brasil já que lá não existem tornados, mas sempre vamos visita-los nas férias e eu gosto muito porque as praias de lá são as melhores!
Agora estou indo para a aula de história, não posso me atrasar pois essa é a matéria que tenho mais dificuldade. Prefiro álgebra e ciência da computação. Vocês devem achar que eu sou louca agora, né?
— Ei!
— Oi! — respondi, me virando para o lado
Esse é o Maxwell Bassett, ele é meu melhor amigo e um ano mais velho que eu. Meu pai acha que ele é meu namorado, sempre acho graça quando ele fala isso.
— Vamos indo, hoje tenho que trabalhar até tarde da noite! — ele disse.
— Tá tudo bem com você Max?
— Claro, não tem nenhum problema! — é óbvio que havia algum problema, era perceptível o quão cansado ele estava
— Sei que você faz isso para ajudar nas contas de casa, mas... — apressei o passo enquanto íamos pelo corredor — Você vai acabar ficando exausto por ter que frequentar a escola e o emprego!
Max trabalha como garçom depois do horário da escola. A família dele é pobre e ele tenta ajudar da maneira que pode, é admirável.
— Você se preocupa demais comigo!
— Claro, você é meu melhor amigo! — respondi, notando alguém se aproximar.
— E aí Charlie, pronta para levar uma surra no League of Legends mais tarde? — era o Oliver, meu arquirrival no mundo da tecnologia!
— Eu sempre ganho e você sabe disso! — sorri, confiante.
Entramos os três juntos na sala de aula e nos sentamos no canto. Percebi que Max sentou atrás de um rabo de cavalo loiro, então eu e Oliver nos entreolhamos e demos risada. Max é caidinho pela Nora, a melhor jogadora de vôlei da Watson Chapel, uma pena que ela não dá a mínima para ele.
— O-oi Nora... — disse ele, tentando puxar conversa enquanto eu e Oliver assistíamos de camarote mais uma tentativa frustrada de paquera de Maxwell Bassett — Hoje você está realmente linda... quer dizer, você sempre é linda... isso, você é muito linda!
— Obrigada, eu acho... — ela respondeu, rindo.
Continuamos conversando e tirando uma com a cara do Max até que finalmente o professor chegou para dar aula.
— Bom dia a todos! — disse o professor, colocando as coisas dele na mesa — Todos sentados e por favor prestando atenção na aula, pois hoje estudaremos um tema muito importante...
O tempo foi passando e a aula seguia seu curso, mas de repente me deu uma imensa vontade de ir ao banheiro, então pedi permissão ao professor para sair e me locomovi até a porta da sala. Saí e caminhei pelo corredor em passos apressados, quem diria que foi ali que Leslie enfrentou Bruce como uma verdadeira bibliotecária corajosa e destemida? Infelizmente o final dessa história vocês já conhecem e têm em mente que não foi nada agradável.
Cheguei ao banheiro, por fim, e após fazer o que eu tinha para fazer fui à pia lavar as mãos. Subitamente, ouvi um barulho vindo de dentro de uma das cabines. “Parece alguém vomitando” pensei comigo mesma e logo em seguida bati levemente na porta.
— Oi, você está se sentindo mal? Quer que eu chame ajuda? — perguntei, esperando por uma resposta vinda do outro lado.
— Vai embora! — a garota respondeu, grosseira — Eu estou bem...
— É evidente que você não está nada bem!
— Já disse pra sair!
— Então eu vou sair, mas vou chamar alguém para te ajudar!
Após eu falar isso, ouvi o trinco da porta girar e finalmente ela abriu. A garota que estava dentro da cabine era muito bonita e tinha um lindo cabelo castanho, mas estava tão abatida que era quase impossível notar sua beleza.
— Você está se sentindo mal? — perguntei, preocupada — O que aconteceu e por que você estava vomitando?
— Por causa disso! — ao dizer isso, ela levantou um pouco a blusa larga que estava usando e me mostrou sua barriga.
— Você está...
— Sim! — ela respondeu.
— Seus pais já sabem? — questionei.
— Se soubessem eu não estaria mais viva.
Ela caminhou até a pia e lavou o rosto. As luzes começaram a piscar, mas logo em seguida voltaram ao normal, deve ser uma queda de energia.
— E o pai do bebê? — perguntei, me aproximando.
— Ele ordenou que eu abortasse!
— E o que você quer fazer?
— Eu... não sei.
— Quantas semanas?
— Quatro!
Um silêncio irritante tomou conta do ambiente nesse instante. Eu realmente queria poder ajuda-la, mas não sabia como.
— Qual o seu nome? — perguntei.
— Madison, mas todo mundo me chama de Maddie... — ela responde — Olha, o que isso tem haver? E além do mais, eu nem deveria estar te contando nada disso!
Madison se dirigiu até a porta para ir embora, contudo as luzes voltaram a piscar rapidamente e apagaram de vez. Ficamos no escuro e no silêncio, mas não por muito tempo, pois logo em seguida um tremendo barulho fez-se ouvir do lado de fora do prédio.
— O que foi isso? — Maddie perguntou assustada e então corremos uma para perto da outra.
Sentimos o chão tremer por um instante, pensei ter sido um raio que caiu próximo à escola. O forro no teto começou a rachar e alguns pedaços caíram sobre nós, Madison gritou com medo e tentamos ficar agachadas para proteger a barriga dela. Eu estava muito aflita, muito mesmo.
Um raio, é só um raio. Nada daquele dia vai se repetir.
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