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História Tragédia Grega - IV. Solilóquio


Escrita por: byetae

Notas do Autor


Oi, amores, olha quem tá aqui domingo de dia dos pais.
Hoje também tenho alguns avisos:
+ Esse capítulo é com foco no JK, mas não posso garantir que vai seguir uma sequência do tipo "daqui a dois capítulos é o Taehyung de novo" porque, como já foi dito anteriormente, minha criatividade tem vida própria e não depende de mim;
+ A capa de capítulo nova é só porque mudou o ponto de vista mesmo;
+ Pelo visto é slow burn isso aqui;
+ Chikin é o frango frito de lá;
+ Sobre os comentários, eu não costumo apelar e tal, mas seria bom que vocês me dissessem o que estão achando. É bem difícil manter o ritmo das postagens, por conta da minha vida estar tipo muito corrida no momento, mas eu me esforço bastante porque é algo que eu gosto de verdade. Essa semana eu tive certeza de que não ia ter capítulo novo, mas sexta à noite arranjei um tempo pra escrever e acabei adorando o resultado desse capítulo.
Espero que vocês adorem também. Beijos, e até as notas finais! <3

Capítulo 5 - IV. Solilóquio


Fanfic / Fanfiction Tragédia Grega - IV. Solilóquio

 

“Solilóquio: é a combinação das palavras: solo e monólogo. Um discurso feito por uma única pessoa.”

 

Se tivesse o benefício da escolha, Jeongguk jamais frequentaria um lugar como o no qual se encontrava agora. O ambiente sofisticado do restaurante 5 estrelas em Cheongun-dong não era, em si, o problema. Desde cedo lhe foi ensinado que lugares com uma atmosfera assim, de padrões elevados, o pertenciam de certa maneira. O seu desconforto estava na realidade associado à inconveniente fome de três homens escondida sob camadas de roupa social, incluindo um blazer preto que limitava seus movimentos do braço.

Era do seu conhecimento que lugares recomendados por críticos de gastronomia indicavam serviço empratado. Na terra da culinária, o termo significava que existiam regras na hora de montar um prato. Na sua linguagem, porém, era sinônimo de pouca comida por um valor alto, mesmo que o valor não fosse um problema para si. Muito menos quando se tratava de agradar Kim Taehyung, o único ômega com quem interagia espontaneamente depois de meses de fracassos em sequência. A sugestão do local havia partido inclusive, do próprio Taehyung, logo após Jeongguk convidá-lo para jantar.

Estava há pouco mais de vinte e cinco minutos esperando por ele, detalhe que jamais seria citado em uma conversa, com uma taça de água mineral apoiada em cima da mesa arredondada. Já era a terceira que tomava num curto intervalo de tempo, uma tentativa falha de aliviar a fome. Um jazz repetitivo soava nos alto-falantes do local desde o momento em que chegara, e as conversas nas mesas ao redor eram tão baixas que sequer pareciam acontecer.

Deu outro gole de sua taça quando do largo corredor de entrada surgiu o seu acompanhante. Taehyung ostentava um visual difícil de ignorar. Vestia uma calça social preta que deixava suas pernas ainda mais bonitas, junto a uma camiseta branca básica e uma sobreposição feita com blusa social listrada que poderia ser, no mínimo, três vezes o seu tamanho. Meias roxas chamavam atenção em contraste com o calçado claro.

Como em um perfeito clichê, Jeongguk não foi capaz de desviar os olhos de sua figura. Taehyung devia ser mesmo um bom ator, porque a presença de palco o acompanhava mesmo quando fora deste. Ele tinha uma habilidade estranha de tomar tudo o que estivesse ao seu alcance, como uma tendência aos holofotes. Jeongguk gostava disso, especificamente no sentido de achar atraente, ainda que o deixasse um pouco inseguro a respeito de si mesmo.

A recepcionista acompanhou o ômega até a mesa e, quando se aproximaram o suficiente, o Jeon se colocou de pé. Foi avaliado por Taehyung durante alguns segundos, recebendo um sorriso que foi incapaz de decifrar. — Te fiz esperar muito?

Sim, Jeongguk pensou. Resposta que jamais externaria. Em vez disso sacudiu a cabeça em negativa, fazendo menção de puxar a cadeira para que Taehyung se sentasse, gentileza que foi prontamente negada. O Kim o repreendeu com o olhar como se dissesse “pareço o tipo de pessoa que aceita isso?”, no que Jeongguk ocupou o seu lugar outra vez. Por um instante achou que um silêncio desconfortável cairia sobre os dois, como acontecia em todos os seus encontros pós-faculdade, mas, como já devia ter imaginado, Taehyung não seria regra. Ele era extrovertido demais para ficar quieto, independente da circunstância.

— Odeio mudanças. Quer dizer, gosto da ideia de me mudar, mas o processo em si é uma grande droga. Passei o dia procurando móveis, só que tudo nessas lojas parece muito sem personalidade. Em NY eles tem vários brechós de móveis pela cidade toda, além de barato é bem trendy.

— Deve existir algo do tipo em Seul. — Jeongguk comentou, mesmo que não tivesse tanta certeza do que estava dizendo. Ele não teria como saber, uma vez que jamais teve de escolher móveis, e muito menos comprar em um brechó. Sequer frequentou um brechó em algum momento da vida. Só sabia o que a palavra significava por cultura de filmes.

— Se existe, vou descobrir. Posso usar aplicativos de troca e venda. Sempre encontro coisas inesperadas em plataformas digitais. Uma vez comprei uma passadeira a vapor, uma de passar roupa, sabe? Acabou sendo uma grande porcaria.

Antes que ele pudesse continuar, o garçom se aproximou para que fizessem seus pedidos. Jeongguk se sentiu especialmente grato pelo jazz do ambiente ocultar os roncos discretos de seu estômago faminto. Aceitou o cardápio que lhe foi estendido, passando os olhos pelas diversas opções de pratos sem real intenção de comer nenhum deles. Era pedir demais uma porção de chikin?

Se remexeu inquieto em sua cadeira, atraindo a atenção de Kim Taehyung para si.  Os olhos amendoados estudaram a sua linguagem corporal por cima do cardápio, baixando-o para que pudesse avaliar melhor. — Está tudo bem?

Engoliu em seco. Mentiras não estavam na sua zona de conforto, nem mesmo as pequenas mentirinhas brancas para agradar alguém. Tentou pensar no discurso mais convincente que podia oferecer sem suar frio e piscar vezes demais.

— Sim, só não faço ideia do que pedir. Acha que pode fazer isso por nós dois?

Pareceu ser o suficiente, já que Taehyung abriu um sorriso compreensivo. — Claro. Posso pedir um vinho? — quando recebeu um aceno positivo da parte de Jeongguk, voltou-se para o garçom que ainda os aguardava de prontidão ao lado da mesa.

Os dois ingressaram em uma discussão amistosa na qual o funcionário pôde dar sua opinião a respeito dos pratos, inclusive sugerindo os preferidos de clientes VIP. Jeongguk tentou se manter focado na conversa mas, sem que tivesse controle algum sobre isso, em determinado momento passou a prestar atenção apenas nas expressões faciais de Taehyung. De certo ele não era um ômega comum. Tinha um estilo próprio encantador, além de uma personalidade expansiva que certamente poderia engolir a de Jeongguk com facilidade.

E foi exatamente o que aconteceu naquela noite. Quando o garçom enfim se afastou, Taehyung passou a falar sobre tudo; as diferenças entre Nova Iorque e Seul, os novos vizinhos de seu prédio, o jazz que parecia ser o seu estilo musical preferido. Jeongguk não se incomodava em ouvi-lo falando — longe disso —, o problema estava na sua própria imagem. Quanto mais o discurso de Taehyung se estendia, mais parecia que o alfa não passava de um herdeiro desinteressante, sem opinião própria e assertividade. Talvez essa fosse uma meia verdade. Ele tinha conteúdo o bastante para falar tanto quanto Taehyung, ele realmente tinha. Gostava de filmes, música, alguns livros — talvez não tanto quanto poderia, mas já era alguma coisa. Só que era tão mais cômodo permanecer em silêncio. Observar e escutar atentamente fazia mais o seu tipo.

A comida chegou algum tempo depois, encerrando por hora o monólogo de Taehyung. O Kim parecia tão animado com os pratos que sequer notou a careta estampada no rosto de Jeongguk. O alfa até tentou disfarçar, mas sua barriga pareceu se revirar em melancolia ao pôr os olhos no minúsculo pedaço de salmão centralizado no prato, rodeado de pequenos montinhos coloridos de salada e molho. Nem mesmo as pequenas porções de acompanhamentos o aliviaram.

Quando o vinho foi servido em duas taças novas, Jeongguk tomou bons goles após brindar com Taehyung. Não podia reclamar do sabor de nada, pois de fato as combinações eram ótimas, misturando sabores salgados, doces e apimentados na medida certa. O grande problema era o mesmo; nada daquilo seria o bastante para saciar a fome.

— Você parece puto da vida. — Taehyung disse de repente, o despertando de seu transe. — Desculpe, não tinha introduzido palavrões na nossa relação ainda, não é? Deve ser estranho pra você ouvir um ômega falando assim, mas eu passei bastante tempo no exterior e —

— Eu não ligo. — Jeongguk garantiu. Não gostava da ideia de interromper alguém no meio da fala, mas Taehyung tendia a atropelar-se nas próprias palavras com frequência, algo que notou ao longo de horas ouvindo-o falar. — Meu irmão mais velho é um ômega, assim como você, e é provavelmente o ser humano mais desbocado de Seul.

Taehyung levou a taça de vinho até os lábios desenhados, sorvendo de um gole apenas antes de perguntar:

— Você tem dois irmãos mais velhos, não é?

— É. — foi inevitável fechar a expressão. A pergunta não chegou a ser invasiva de nenhuma maneira, só que todo o estresse que acumulou ao longo do dia tinha origem familiar. O peso sob os seus ombros parecia cada vez mais difícil de suportar.

Mastigou a última garfada bem lentamente, já sentindo falta da curta refeição. Se tivesse sorte, Taehyung sugeriria um petit gateau para sobremesa, e então talvez o sorvete tapasse parte do buraco negro em seu estômago. Era nisso que estava pensando quando sentiu a mão do Kim dedilhar a sua por cima da mesa.

Os dedos compridos buscaram os seus, massageando pontos específicos de sua mão. — Está com dor em algum lugar? — a voz grave soou perigosamente baixa. Jeongguk sentiu um calafrio percorrer o corpo, as orelhas pegando fogo sem que pudesse evitar a reação. De repente estava bem mais consciente do cheiro adocicado que o ômega exalava.

— Nos ombros.

Ele levou os movimentos até seu dedo mindinho, fazendo pressão desde a palma até a ponta do dedo. Parecia muito concentrado na tarefa, enquanto Jeongguk se concentrou nele. Taehyung era bonito de uma forma desconcertante.

— Eu já notei que você não é de falar muito — Taehyung disse ainda sem fazer contato visual — mas é a primeira vez que parece tão distante. Se eu estiver sendo um saco, você pode me dizer. — ergueu o rosto de repente, os olhos encontrando os de Jeongguk. — Se não estiver mais interessado também.

Piscou algumas vezes, sem realmente acreditar no que estava ouvindo. Uma risada seca escapou de sua boca sem que pudesse evitar. — Não estar interessado? — repetiu. Quem não ficaria interessado por você, se perguntou em pensamento apenas. Talvez não fosse educado da sua parte externar algo assim.

— Bom, alguma coisa de errado tá’ rolando. Se não é isso, então seja lá o que for, você não está confortável o suficiente para ser honesto comigo.

Uma maneira bem sútil de colocar pressão, Jeongguk reparou. A expressão no rosto de Taehyung tampouco parecia de arrependimento. O ômega reclinou-se vitorioso em sua cadeira, o princípio de um sorriso debochado ameaçando aparecer no canto dos lábios.  Finalizou a taça de vinho sem pressa alguma, ainda aguardando pela resposta do alfa à sua frente.

— Ok. — suspirou derrotado, empurrando o prato já vazio um pouco mais para frente. — Eu tô morto de fome desde que cheguei, e comer só isso aqui não vai melhorar a minha situação. — fez um esforço para ser um pouco mais aberto, algo que exigiu bastante da sua parte. — Talvez eu queira muito algo bem gorduroso, tipo pizza? — desviou os olhos para uma das mesas vizinhas, pensando um pouco mais. — Chikin também cairia bem, com cerveja e soju. Era tradição nas sextas-feiras quando ainda estava na faculdade.

Ao notar que estava falando demais, voltou a olhar para Taehyung, as bochechas esquentando consideravelmente.

— Por que ficou com vergonha? — Taehyung quis saber. Ele estendeu a mão acima da cabeça, buscando o garçom com os olhos. — Acha que não me interesso pelas suas histórias de faculdade? — finalmente chamou a atenção do funcionário. — Você fica bem mais atraente assim, Jeongguk-ssi.

— Assim como? — se permitiu perguntar.

A questão ficou sem resposta. Logo o garçom se aproximou e Taehyung pediu pela conta, enfatizando que deveriam dividir o valor total por dois. Jeongguk não ficou muito satisfeito com a condição, mas não insistiu como teria feito em outras ocasiões. Ainda lhe parecia estranho o fato de que Taehyung estava morando em um bairro de nível inferior, e permanecia frequentando restaurantes como esse sem peso na consciência.

— O meu carro está parado no estacionamento. — avisou assim que passaram pela porta de entrada, a fria brisa noturna os envolvendo. Só o disse porque Taehyung não estava seguindo rumo às vagas. — Taehyung-ssi? — o chamou mais alto, sem entender porque o ômega permanecia andando em direção à avenida.

— Vem logo, Jeongguk-ah. — o uso do sufixo menos formal pegou Jeongguk de surpresa. — Vamos achar o seu chikin com cerveja e soju. Será que é pedir demais encontrar um lugar que venda red velvet? — divagou sozinho, sem esperar que Jeongguk o seguisse.

Mas o alfa o fez. Teve de acelerar o passo para emparelhar com o ômega, colocando-se ao lado dele conforme caminhavam meio sem rumo pela cidade. Taehyung não parecia preocupado com o fato de que poderiam se perder, apontando para tudo o que o intrigava no caminho. Artistas de rua, placas neon, vitrines bonitas. Ele parecia do tipo facilmente impressionável, como uma criança que vê tudo pela primeira vez.

— Você já morou lá fora até. — Jeongguk comentou divertido, intrigado com o deslumbramento do ômega. — Como pode achar tudo isso tão interessante? Aposto que NY é mais iluminada à noite.

— Faz tempo que não ando por Seul de verdade. — ele disse, empurrando Jeongguk levemente para que virassem numa esquina específica, esta com várias barracas de comida espalhadas. O cheiro que vinha dali era incrível, e o fluxo de pessoas parecia ainda maior, o que fez o Jeon engolir em seco. Não estava acostumado a andar no meio da multidão. — Normalmente passo pouco tempo aqui, e não costumo explorar a cidade. É só vir, fazer o que tenho que fazer, e então ir embora.

Jeongguk quis perguntar o que ele tinha de fazer, mas não teve a oportunidade. Não quando foi puxado pelo pulso na direção de um restaurante de chikin. Ele devia ter um terço do tamanho do 5 estrelas no qual jantaram, com o dobro de mesas espalhado no ambiente limitado mas, diferente do que havia imaginado, Taehyung não quis ficar no interior do local. Em vez disso fez o pedido do lado de fora, alegando que ainda tinham muito o que andar.

Agora com um balde tamanho G em mãos, e também um sorriso discreto nos lábios, Jeongguk se sentia infinitas vezes melhor. Poderia explorar Seul a noite toda desde que o frango durasse. E foi essa a impressão que teve ao ser arrastado pelas ruas sob o comando do espírito aventureiro de Taehyung. Cada vez mais o lugar parecia desconhecido para si, mesmo tendo vivido nele por toda a sua vida.

A sensação de ser guiado por um ômega era diferente. Coçava o orgulho alfa de seu lobo, o espírito de liderança natural sendo questionado, embora não alcançasse o seu descontentamento como pessoa.

Pararam para beber em um dos poucos bares com mesas e bancos ainda disponíveis. O balde de frango agora era apenas uma memória distante e feliz de Jeongguk. Pediram por garrafas de soju e cerveja, misturando ambos em determinado ponto da noite.

— Amo musicais. Mamma Mia, Rock of Ages, La La Land. Sem falar nos clássicos. Tipo Chicago, Moulin Rouge. — Taehyung tentava enumerar os filmes em seus dedos, mas, enquanto citava o quinto, a contagem de suas mãos já estava no oitavo. Jeongguk conteve a risada. — Eu já disse A Escolha Perfeita?

— Não, não disse. — o Jeon virou o que poderia ser o copo que o faria cair de bunda no chão. Já sentia os efeitos do álcool nas bochechas quentes e na súbita vontade de não controlar mais a própria língua. — High School Musical conta como musical?

— Acho que o nome é autoexplicativo.

O ômega exibia um sorriso retangular divertido que aqueceu Jeongguk de dentro para fora. Gostava do formato do sorriso dele. Gostava mais ainda de fazê-lo sorrir. Subitamente permitiu a si mesmo expressar algo que vinha o incomodando desde o início da noite:

— Eu juro que entendo o que você está me dizendo. Já ouvi falar desses filmes, eu realmente ouvi. — ao notar que as sobrancelhas de Taehyung se franziram em questionamento, tentou ser um pouco mais claro. — Quando você faz referências específicas, ou quando cita alguma música estrangeira... eu conheço boa parte. E o que eu não conheço, quero aprender sobre.

— Não entendo, Jeongguk-ah.

— Eu sei que não sou tão agradável assim. — especificou. Ergueu as mãos quando reparou que Taehyung ia interrompê-lo, impedindo-o. — É sério, não precisa fingir que sim. Talvez você me ache um pouco, e eu espero que esteja certo já que estamos aqui, mas o interesse das pessoas em mim costuma morrer depois de alguns encontros. Não é grande coisa, eu sei que sou mediano na vida e isso é sem graça.

Levou o copo até os lábios, finalizando a dose do líquido ainda restante ali. Taehyung permanecia atento, como se esperasse mais alguma coisa até, por fim, perguntar:

— Isso foi um discurso autodepreciativo com que finalidade?

— Pra te pedir uma chance. — disse suavemente. — De mostrar que posso ser interessante também. Ninguém costuma ficar tempo o suficiente para descobrir.

Os olhos de Taehyung o estudaram durante alguns instantes. Deixou que suas palavras fossem processadas pelo outro, servindo ambos os copos com o conteúdo da última garrafa na mesa, mesmo que faltasse bem pouco para a sua cabeça girar. O ômega parecia bem mais forte para a bebida do que Jeongguk.  

Decidiram que já era hora de ir meia hora depois. Na realidade a decisão partiu de Taehyung apenas, uma vez que Jeongguk já ameaçava trocar os pés pelas mãos, e foi o ômega quem dirigiu o carro do alfa até o seu prédio. O Jeon não quis dizer onde morava por pura birra, fazendo-se de vítima no banco do carona. Já tendo estacionado em uma vaga bem próxima do portão de entrada de seu novo prédio, Taehyung ajudou Jeongguk a sair do carro, tendo de apoiar o braço do alfa por cima de seus ombros. Era uma cena engraçada para ambos os rapazes.

— Posso chamar um táxi. — o ômega disse. A rua parecia ainda mais silenciosa por conta da madrugada, em especial por conter poucos estabelecimentos em sua extensão. Havia apenas uma farmácia no outro quarteirão, e uma loja de conveniência aberta, ainda que vazia. Nenhum sinal de pessoas na rua. — Ou você pode subir e esperar ficar melhor.

— Eu posso? — Jeongguk mordeu os lábios apreensivo, arrancando uma risada sincera de Taehyung. — Aish, pare de rir, eu estou falando sério!

— Também estou. É claro que pode.

Subiram com dificuldade, Jeongguk tendo de se apoiar ora em Taehyung, ora na parede. Tropeçou nos próprios pés algumas vezes, ameaçando vomitar no vaso de plantas de recepção pouco antes do elevador chegar. Já no terceiro andar, Taehyung abriu a porta com pressa, temendo causar uma cena no corredor. Felizmente Jeongguk era um bêbado minimamente consciente, de maneira que comportou-se muito bem, aceitando até mesmo os remédios que lhe foram oferecidos pelo dono da casa.

Uma pílula para o estômago, outra para enjoo, e também um chá que o ômega preparou em poucos minutos, um que lhe foi oferecido numa caneca escrito “lágrimas de sereia”. Jeongguk sequer reclamou, bebendo tudo em poucos goles porque o gosto era uma grande porcaria.

— É uma delícia, não é? — Taehyung perguntou, observando-o beber rápido demais. — Também gosto muito. Se quiser tem mais um pouco no —

— Não precisa! — sorriu amarelo, apoiando a caneca no chão mesmo. A sala de estar ainda parecia muito vazia, contendo apenas um sofá colorido de gosto duvidoso, e nenhuma mesa de centro. Soluçou alto, tapando a própria boca com medo de que fosse vomitar. Uma sensação de tontura o fez se apoiar no braço do sofá.

— Está tudo bem?

— Acho que vou vomitar.

E vomitou. Por sorte, teve a decência de ir até o banheiro antes. Taehyung o acompanhou, passando a encher a banheira localizada no canto do cômodo. Ele jogou diversas coisas na água, desde sachês até alguns produtos específicos, e então veio ajudar Jeongguk que já se encontrava em um estado letárgico, logo após vomitar tudo o que tinha em seu estômago.

— Se sente melhor? — o ômega abaixou-se para remexer o armário debaixo da pia, retirando de lá uma escova de dentes ainda na embalagem. A abriu ao rasgar o plástico, passando pasta sabor menta e a entregando para o outro.

— Sim. — murmurou com a boca cheia de espuma, os olhos meio fora de órbita. Ainda era difícil se manter de pé, e o corpo parecia pesar muito, como se pudesse cair a qualquer instante. Queria muito dormir.

Cuspiu ao finalizar a escovação, deixando a escova apoiada na pia. Se surpreendeu ao ter o corpo virado pela cintura, sendo levemente prensado contra o mármore. Taehyung levou suas mãos até os botões de sua blusa social, passando a abri-los um a um sem reparar no rosto do alfa que queimava violentamente.

— Taehyung-ssi. — tomou coragem de chamar a atenção dele, sentindo-se ainda mais envergonhado conforme seu corpo passava a ser exposto. Podia sentir os olhos do ômega em seu abdômen, atentos aos detalhes, e isso o fez se sentir atraente de uma maneira que não acontecia sempre. — O que está fazendo?

Taehyung não o respondeu. Fez um sinal de silêncio com o indicador, continuando o seu trabalho de tirar as roupas de Jeongguk. O corpo do alfa estava molenga demais para reagir de alguma maneira, de forma que apenas se deixou ser despido até ficar apenas de cueca.

— Banheira. — Taehyung ditou, sendo prontamente obedecido. Jeongguk sequer considerou contestar a ordem. Passou uma perna de cada vez para dentro da banheira, deixando que o corpo submergisse na água fria. Só o que fez foi fazer uma careta pela mudança de temperatura. A espuma, por outro lado, parecia tudo o que precisava naquele momento. — Banhos frios são um bom jeito de ficar sóbrio, mas você parece bem tenso também. — a voz grave dele nunca pareceu tão atrativa.

Jeongguk apoiou o pescoço na borda da banheira, fechando os olhos durante alguns instantes. O seu corpo inteiro arrepiou quando as mãos de Taehyung o tocaram outra vez, embora agora na região dos ombros. Era uma massagem leve, como a que ele havia feito horas antes em sua mão, e nem por isso menos eficaz. Os polegares do ômega massageavam bem perto das orelhas do alfa, e Jeongguk se pegou inclinando na direção do toque ainda mais. Era excitante. Se sentiu especialmente grato pela espuma ocultar a sensibilidade de seu corpo, mais do que consciente do volume que crescia em sua cueca molhada.

— Dia cheio? — Taehyung perguntou de repente.

Jeongguk murmurou um “uhum” vago demais, em parte por estar concentrado nos toques em sua pele. Mordeu o lábio inferior quando os toques desceram até seus braços, deslizando suavemente por toda a região. O movimento provocou ondulações na água, e calafrios que subiam desde a base da coluna. Ele queria que Taehyung o tocasse mais. 

— Quer me contar o que te deixou estressado?

— A empresa. — Jeongguk não hesitou em dizer. Queria pedir para que ele também entrasse na banheira, mas já imaginava que o ômega não o faria. — Meus irmãos também. — acrescentou depois, totalmente entregue. — Nunca me senti tão fraco, talvez porque nunca antes eu quis tanto alguma coisa.

— Quer provar alguma coisa para alguém?

— Eu quero a empresa, Taehyung-ssi. — suas palavras soaram firmes. Era a primeira vez que admitia em voz alta para alguém. Esse era um desejo oculto seu, como homem, e também de seu lobo interior, ambos desejando assumir os negócios da família. Tomar frente em uma situação pela primeira vez, mesmo com todos os artigos que diziam o contrário, e as opiniões alheias, ele queria tentar. Queria mais do que tudo. — Quero me tornar o CEO no futuro. — outra verdade que não costumava externar. Se iria dizer a verdade, então que a dissesse por inteiro. — Ninguém acredita que eu posso, mas eu quero provar o contrário. — não notou que seus olhos estavam marejados até que a primeira lágrima escapou de um deles. Culpou o álcool por isso.  Jamais antes havia usado tantos “quero” no mesmo discurso.

Sentiu um beijo ser plantado em sua nuca, um que pareceu cheio de ternura, isso pouco antes da voz de Taehyung ecoar pelo banheiro silencioso.

— Eu vou te ajudar a conseguir isso, Jeongguk-ah. Eu prometo.

E Jeongguk, sem compreender muito bem o motivo, acreditou.


Notas Finais


Mais uma vez uma Maria insegura esperando que vocês gostem.
Particularmente eu gostei.
Beijos, e até o próximo!
Agradeço demais os 31 favoritinhos, amores <3


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