História Treat You Better - Nem eu mesma consigo entender

Meu pulso dói, sinto-o apertar cada vez mais. Pelos fundos, onde estava vazio, ele me arrasta até chegar em um ponto que ninguém podia nos ver. Jack prensa meu corpo com força contra o carro, me fazendo gemer baixinho, mas não da forma que eu queria.

— Eu vou perguntar só uma vez. — ele me encara, falava com a voz firme. — Você dormiu com aquele nerd?

— Stiles. — sussurro, isso parece irritá-lo. Ele leva uma das mãos em meu pescoço, apertando com todos os seus dedos. Sinto a falta de ar me preencher.

— O que disse?

— Disse que o nome dele é Stiles.

— Pouco me importa isso. Eu te fiz uma pergunta e espero que seja honesta.

— E-eu o dei… O dei carona. — Digo com dificuldade, já não sentindo meus pés tocarem o chão. Ao passo que ele apertava mais, ficava sem ar. Jack me larga, fazendo com o meu corpo deslize sobre a porta do carro na qual ele me enforcou. Sugo o ar com toda a força que possuía, sentindo um aperto no coração.

— Não me surpreende o quão vadia você é. Ouse em me trair, e eu mato você.

Jack some de minhas vistas. Assim que consigo sentar, apoio minhas costas no pneu do carro, abraçando minhas pernas e deixando com que as lágrimas seguissem livres pelos meus olhos.

Jack é descontrolado. Descobri que ele tinha esses problemas um mês após começarmos a namorar. Ele havia ameaçado me bater, e eu fiquei completamente assustada. Isso aconteceu outras vezes, e eu reconheci um relacionamento abusivo. Já tentei terminar, fugir, evitá-lo, mas nunca dera certo. Ele me tratava como a vadia que hoje aceito que sou, e não mereço mais do que isso. Nas aparências, Jack me trata como se fosse o melhor namorado do mundo, mas assim que não tem ninguém envolta, ele é a pior pessoa.

Eu o amo, e uma parte de mim não consegue afastá-lo por isso.

Malia Tate — POV

É a quinta vez que aquele barulho de sino soa. Não me canso de tocar a campanhia, e nem Scott de esperar. Assim que toco mais 10 vezes consecutivas, Stiles abre a porta com a cara emburrada. Ele veste apenas o pijama e parecia estar dormindo, antes de vir nos atender.

— Por que diabos estão aqui?

— Não vamos ficar de tarde pras aulas, e já que não tínhamos nada pra fazer, viemos até aqui. — Scott diz irônico, me arrancando uma risada baixa.

— Ha-ha. Vocês vieram me dar sermão?

— Meu filho, queremos apenas saber o que foi que aconteceu hoje. Então para de infantilidade e nos deixe entrar.

Ele bufa, saindo de nossa frente, subindo lentamente para o seu quarto. Fecho a porta, seguindo-o. Quando entro no seu quarto, vejo que estava tudo uma bagunça, como sempre esteve. Stiles se joga na cama, recolhendo uma revista em quadrinhos.

— Pode começar.

— Você fala como se eu precisasse dar satisfação da minha vida pra você, ou pra qualquer um. Odeio que haja como se fosse minha mãe. — ele diz sarcástico o que definitivamente não me surpreende.

— Eu sou sua melhor amiga, e se o que você fez ou irá fazer é uma burrada, tenho que estar lá pra te ajudar e apoiar. Então sim, você deve.

Cruzo os braços, ele bufa. Larga a HQ no chão e senta em cima do colchão, olhando para um ponto vácuo, tentando não me encarar. Isso quer dizer que eu não irei gostar.

— Lydia veio aqui ontem. — ele diz baixo, mas alto o suficiente para que eu o ouvisse. — Estava tarde, eu estava no banho, iria me arrumar para sair com o Scott quando a vi sentada na minha cama. Ela disse que tinha brigado com o pai, e…

— E você acreditou? — digo, incrédula. — Céus, Stiles! Como pode ser tão tolo?

— Ela estava dizendo a verdade, cara. Lydia tem seus problemas e ela veio me ver.

— Com tanta gente ao seu redor, ela veio justamente vê-lo?

— Pare de me desmerecer. Talvez ela tenha me usado para fazer ciúmes no Jack, mas eu a entendo. Eu vejo uma Lydia…

— Que ninguém mais vê, bla bla bla. Como pode soar tão patético?

— Se veio pra falar no meu ouvido, pode ir embora.

— Tudo bem, vou mesmo, mas quando precisar de mim, não venha atrás.

— Malia! Pare de ser tão dura com ele. De fato, você nem a conhece. Se Stiles quer ser amigo dela, ou qualquer outra coisa, deixe-o. Você não é mãe dele, nem nada assim. Ele é crescidinho o bastante, e isso só os afasta.

— Obrigada, Scott. Obrigada por me entender.

Não respondo, apenas saio do seu quarto irritada. Stiles não vê, mas eu ainda nutro um sentimento de carinho por ele muito grande, e eu odiaria vê-lo com o coração partido, principalmente por Lydia Martin.

Lydia Martin — Point of view.

3h30pm, Middleton High School.

— O gatinho do primeiro ano? — Diz em tom de risadas. — Nada mau.

— Fala sério, Lydia. Ele tem dezesseis anos. Não vai usá-lo, vai? — Dessa vez, é Molly que fala, bebendo a água na garrafinha como todas nós.

— Ah, parem. Ele é uma graça. — Jéssica diz, amarrando seus cabelos loiros.

— Não pretendo usá-lo, realmente ele é um amor. Quando peguei em sua mão hoje cedo, foi por puro impulso e raiva.

Agora, não há ninguém perto de mim, apenas Jess e Allison. Sinto liberdade para contar a elas o que tanto me aflige.

— Jack dormiu com a vagabunda da Ava, aquela loirinha do segundo ano. Quis apenas trocar o veneno, mas foi tudo muito de última hora.

— Me surpreende você ainda estar com ele. — Allison diz, revirando os olhos.

— É o amor! — Dou uma risada baixa quando ouço Jéssica cantarolar. Sinto uma mão no meu ombro, quando me viro, encaro a garota mais alta, cujo eu reconhecia.

Malia.

— Podemos conversar? — diz ríspida e seca.

— Fale.

— A sós.

— Querida, nada do que possamos conversar elas não podem ouvir, então agiliza.

— Ok, serei direta. — diz, cruzando os braços. Semicerro os olhos, esperando que ela prossiga. — Quero que fique longe do Stiles.

Já esperava algo do tipo. Rio irônica, enquanto a garota se permanecia séria e minhas amigas quietas.

— E por que eu ficaria?

— Pois estou pedindo com educação, não iria gostar se eu pedisse novamente.

— Certeza?

— Sim, e porque somos melhores amigos e seus papos de vítima não me comove, Lydia. — Ela sorri agora.

— Acho que você me vê como uma ameaça.

— Ah, é? Ameaça?

— Sim, ameaça. Sei que gosta dele, seu pretexto de amiga e namorada perfeita não cola comigo. Acha que irei roubá-lo de você.

— Roubar não, magoá-lo sim. — ela estala a língua, desfazendo o sorriso. Não se intimidava e nem eu. — Foi meu primeiro aviso.

— E esperamos que seja o último. Não toque na Lydia, e tudo ficará bem. — ouço a voz rouca de Jéssica. — Isso fica entre eles, e nós não devemos nos meter.

— Concordo. O problema é com ele, e ela. — Malia me encara, dando um passo a frente. Ela sussurra em meu ouvido, exalando seu sarcasmo. — Mas se tornará meu se fazer dele, o seu próximo fantoche. Está avisada, Lydia.

A garota pisca pra mim e sai andando, solto a respiração que prendia, uma vez que eu estava ereta, tentando passar de superior.

— Tenso. — Allison comenta.

Rimos dela, era tão tontinha e meiga.

Era assim, eu tinha duas melhores amigas nas quais eu não largava de jeito nenhum. Conheci Allison primeiro, tínhamos sei lá, seis anos. Estudamos juntas desde então e quando fomos a nossa primeira festa  da sua prima — na qual tinha só pessoas do terceiro ano, e a gente estava de penetra —, com uns 14 anos, a gente conheceu Jéssica. Ela sempre gostou de nadar, então não perdeu a chance antes de pular na piscina aquecida. Desde então, não as larguei mais.

Somos conhecidas como “triofecta”, que significa “aquelas que fazem efeito”. Nunca liguei para popularidade, a mesma veio a tona por causa de Jack e outras coisas nas quais eu fazia, como os grupos extras e a coroa de rainha do baile. Porém, éramos automaticamente extremamente populares na pequena cidade e escola de Middleton.

Allison sempre foi a garota mais lenta do grupo, ela também é a mais centrada, medrosa, racional, inteligente e perfeccionista. Adora e deseja cursar astrologia, e com o tempo nos fez gostar também. Ela é do signo virgem, ascendente em câncer. Eu nunca dei muita bola pra isso, mas acredito.

Jéssica Sthorne é o diabo vestido de gente. Ela é completamente meiga, engraçada e amigável com as pessoas no geral, mas completamente perversa com os meninos. Quando ela quer, ela vai ter. Ninguém consegue dizer “não” aos mais maravilhosos olhos azuis, os cabelos loiros ondulados e o corpo de babar. Ela é briguenta, tagarela, gosta de uma fofoca, inteligente, festeira, manipuladora e encantadora. Eu mesma me surpreendendo com a quantidade e a rapidez que ela consegue levar alguém pra cama. Quando ela escolhe um alvo, ela persiste até conseguir. Seu signo, de acordo com Allison, é Escorpião, com ascendente em Capricórnio.

Eu sou um meio-termo, uma mistura das duas e muito mais, alguém que nem eu mesma consigo entender. Sou de aquário, ascendente em sagitário. E, por mais que eu admire a astrologia, não acho que nem ao menos ela consegue me descrever. Nem ao menos eu consigo.

— Lydia?

— Ah, oi. — pisco algumas vezes, antes de segui-las para fora do vestiário, indo para o campo.  Eu e Jéssica sempre vínhamos ao vestiário depois do treino, local que estávamos agora, onde a gente sempre encontra a Allison. A garota pegava duro ao treinar as meninas, ela é muito boa.

Ah, ew! Odeio o suor melado em mim, por isso sempre tomo banho após os treinos.

Vejo Jack afastado, outros garotos também. Scott estava entre eles, mas não consigo avistar Stiles. Miro os olhos primeiro na arquibancada, vendo que ela não estava ali, nem ao menos jogando. Respiro fundo, não deveria estar preocupada com alguém que nem ao menos me importo. Jéssica balança meu corpo, quando ela aperta suas vistas e sorri travessa.

— Ele. Eu o quero.

A garota aponta para um semi-loiro que corria em volta do campo, provavelmente, havia chegado atrasado.

— Isaac Lahey? Ah, ele é o dono da festa que fomos essa semana. Ele é do 2° ano, se eu não estou errada. — Allison diz, sempre conheceu todo mundo da escola. Sempre atualizada. — Cuidado, ele namora.

— Quem?

— A Malia. — digo, esperando uma reação desanimada dela. Mas a loura não desvia o olhar, e seu sorriso só cresce.

— Isso não é problema, já fiquei com o namorado de todas.

Ela dá de ombros e eu rio. Mesmo com tal humor,sentia um incômodo enorme, queria tê-lo visto depois daquilo.