História Trem de carga emocional - Saída de emergência

Umas horas atrás eu chorei minhas mágoas num daqueles bancos que ficam de frente com a linha do metrô. Eram lágrimas doídas, sabe? Daquelas que vem do nada, te engasgam e deixam a cabeça latejando. 

Sentei pra amarrar os cadarços do meus tênis novos e do nada tava ensopando eles com água salgada. Foi engraçado, até.

Passou gente de todo tipo olhando minha cara inchada, espiando a tristeza que eu guardei por muitos meses gotejando no chão. Tinham expressões de pena, de zombaria, de coisa nenhuma. 

Mas eu não queria nada deles, porra, eu não queria nem pensar na morte. Culpa dos tênis. 

No vai e vem de pessoas sem rosto eu estava congelando. Menos de 15 graus em plena primavera, o vento foi cúmplice da minha vergonha.

Dezesseis anos, trezentos e sessenta e quatro dias. Enlouquecida. 

Então passaram-se duas horas, eu limpei o nariz com a manga do moletom e saí andando, como se nada tivesse acontecido. Com a alma lavada. 

Agora que saí da beira do precipício dá até pra respirar um pouco, perdi umas toneladas que estavam nos ombros. 

Você sabia que os olhos são as saídas de emergência da alma? Eu aprendi isso essa tarde. 

Só que agora eu já estou no ônibus, e tanto a dor quanto a leveza estão sumindo aos pouquinhos, porque cidade não tem espaço pra dor não, menino. Aqui eu conto meus causos em crônicas, e escondo tudo no bolso, antes de perder a hora do próximo trem.