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História Tropical - Família


Escrita por: Lyzander

Capítulo 3 - Família


Fanfic / Fanfiction Tropical - Família

Primeiro Ato - PARAÍSO - Capítulo III.

Vovó nos surpreendeu com sua pilotagem, e com ela chegamos em Salvatore em pouco tempo.

Com vida, não esquecendo desse detalhe.

Victoria parecia ainda ressentida com o assunto de seu pai. E uma nuvem de preocupação nublava meus pensamentos, com relação a Cecília, esperando que ela conseguisse encarar a situação e permanecer na ilha.

Galgamos a escadaria de pedra, já conhecida, do prédio dos advogados da vovó. Assinamos alguns papéis como de costume e recebemos uma orientação básica. Um lance de testamento foi citado, o que me deixou inquieto, mas tentei deixar passar sem dar muita atenção.

A questão era; toda essa burocracia nos desgastava.

Queríamos aproveitar o verão. Nos desprender de pensamentos que faziam ficarmos acordados durante a noite. Queríamos esquecer dos prazos de provas escolares, das contas para pagar, do mundo. Mas todo esse assunto nos agregava a uma responsabilidade que não sabíamos se ainda podíamos encarar.

- Já passou pela minha cabeça que talvez montar barquinhos em garrafas seja mais interessante que isso aqui - Victoria agarrou uma das revistas que estava em uma mesa de centro.

Quando vovó estava ainda na sala, pois eu e garota já havíamos ganhado nossa liberação.

- Eu lembro desse menino - apontei para uma figura masculina em uma das páginas da revista que a loira portava. - Nossa, como ele cresceu…

- Parece que ele se tornou uma subcelebridade aqui. Por que os outros fazem pessoas estúpidas famosas?

- Ele surfa e é bonito. Acho que isso já responde - eu disse.

Estávamos distraídos, fazendo um dos testes da revista; "Qual a cor de azulejo mais combina com sua personalidade?". Quando uma das secretárias do local saudou nosso avô.

- Bom dia, senhor King.

Eu e Victoria nos entreolhamos. Comentamos a coincidência que era nos encontrarmos no mesmo lugar.

Mas não era nosso vovô Sebastian que respondia pelo nome.

Magro e alto, seus cabelos lívidos eram de certa forma longos. Uma identificação visual completamente diferente do homem que tínhamos na ilha, mas carregava os mesmos olhos por trás dos óculos.

- Senhor e senhora Nott, desejam alguma coisa? Um café, quem sabe? - outra secretária passava pelo corredor, nos fazendo a pergunta.

Negamos. E da mesma forma que a nossa atenção foi chamada pelo nome do velho, ele teve no nosso, se aproximando, fazendo Victoria enrugar a testa de curiosidade.

- Ouvi um Nott? Ora, crianças nesse tipo de lugar. Já estão assinando os papéis para sujar seus nomes? - o homem perguntou.

- Perdão, mas o senhor nos conhece? - a loira pareceu incomodada com a abordagem incisiva.

- E como conheço, jovem querida - ele disse.

- Estou sempre atenta, Icaro. Não se preocupe - vovó Antoinette apareceu logo em seguida, com a face preenchida de choque quando viu que o velho se dirigia a nós.

O silêncio se instalou, trazendo consigo tensão.

- Podia jurar que este era um lugar de confiança, vejo que me engano - ela disse, amarga.

Nossa avó parou de calçar suas luvas negras de pilotagem, desferindo um crítico olhar que abrangeu o homem dos sapatos até o topo da cabeça. Engolindo em seco, como se a visão lhe tivesse causado náuseas.

O homem ergueu suas sobrancelhas brancas e desenhou um sorriso nos lábios rachados.

- Antoinette, o tempo lhe fez muito bem.

- Não posso dizer o mesmo. Nos poupe disso, Oscar - vovó deu sinal para que levantássemos e fizemos como ela quis. - Vamos crianças, não o deixem aborrecer vocês.

- Você tem uma linda família. Os Nott sempre carregaram formidáveis traços. A semente é forte - ele disse, agarrando o braço de nossa avó quando estávamos saindo do local. - Aproveite o tempo em que a ilha ainda está no seu nome.

Vovó Antoinette olhou no fundo dos olhos daquele homem e eu pude sentir a onda de ódio transpassar seu corpo. - Eu disse. Para você. Nunca mais. Por suas imundas mãos em mim.

Não sabíamos exatamente o que tinha acontecido ali, mas deixou nossa vó deveras aflita. Não disse uma palavra sequer até voltarmos a ilha, tanto que ignorou até o enjoo que atingiu Victoria, fazendo-a por para fora todo o café.

Não era o único a não estar acostumado em navegador depois de tantos anos.

Quando chegamos ao cais, ela desligou a lancha. O som do motor se foi e deu espaço para uma quietação quase que absoluta, se não fosse pelas ondas que quebravam-se nas rochas.

- Ele é irmão do seu avô. Meu primeiro namorado - a velha não faz cerimônia, como sempre. - Hawk, nos ajude.

Oliver já estava de volta e fez o que tinha para se fazer, nos auxiliando para o desembarque. Athena não estava no cais, nos avisando que o restante não tinha retornado ainda.

Uma troca de olhares aconteceu quando Oliver Hawk ajudou Victoria a descer e torci para que vovó não tivesse dado atenção. Nada passava despercebido por ela. Principalmente a relação direta de um empregado com um dos netos.

Mas com toda certeza, sua mente não estava disposta a prestar um papel de fiscal naquele momento.

- Como assim, primeiro namorado? - eu perguntei, a caminho de Wellcrouth. - Achei que tivesse sido nosso vô.

A surpresa havia voltado, quando me desprendi dos pensamentos que envolviam minha prima e o tio de Ansel.

- Não fale tão alto, Lyzander - a velha me ralhou. - Não é um assunto que nos convém ao gosto de falar.

Mais um. Quantos assuntos nossa família jogava para baixo do tapete?

A figura da ilha sobre um mar de segredos me veio em mente. No todo, não era uma analogia falha.

- Quando eu tinha um pouco menos que a idade de vocês, meu pai junto de outros dois amigos compraram esta ilha. Ficamos com a parte maior, inicialmente. Mas logo os Hawk e os King começaram cobiçar pelo restante da fatia do bolo - ela seguia em seu passo contínuo, nos deixando para trás. - No verão dos meus quinze, conheci Edgar King e sua família. Seus dois filhos eram exuberantes, figuras magnificas de homens naquela época. Oscar e Sebastian.

- Por que nunca soubemos da existência desse irmão do vovô? - Victoria disse, levando uma das mãos até a testa suada.

- Tudo ok? - certa preocupação me dominou, vendo que os efeitos do enjoo não haviam passado.

Ela balançou a cabeça positivamente.

- Porque não era para este homem existir em nossa história - Antoinette continuou. - Acabei sendo tola e me apaixonando por Oscar nos poucos dias daquele maldito verão e estava disposta a abandonar qualquer coisa para viver algum tipo de momento com ele. Realmente, vivi.

Demonstrei choque por ouvir tudo aquilo em uma dose só. Minha prima, ao meu lado, parecia estar amando cada palavra que saia da boca de nossa avó.

- Como toda história de amor, a minha não foi para sempre. Fui abandonada por Oscar no verão seguinte, após vivermos átimos em que eu agradecia todos os dias por estar viva e poder aproveitar ao lado dele - estávamos próximos de Wellcrouth, fazendo vovó reduzir seus passos. - Sumido da ilha, que até o momento não tinha nome. Oh, que tempos difíceis aqueles. A ganância dos Hawks se mostrou em seu ápice.

Vovó tinha cicatrizes sentimentais. Logo ela que pareceu nunca se abalar a questões como essas.

- Com a morte de minha avó, seu viúvo marido caiu em um vício de jogos que fez meu pai temer a cada noite, com medo dele por a sua parte da ilha em uma das apostas. A pressão dos Hawk continuou forte e o que eu poderia fazer para ajudar meus pais? Casei-me com Sebastian King, mesmo com o coração em feridas abertas por seu irmão.

Então vovó não havia casado com vovô por amor.

- A parte dos Nott então foi anexada a dos King. Os pais de Sebastian foram atrás de Oscar e deixaram seu avô como administrador dos negócios - nossa avó soltou uma risada irônica. - Tolo ou gentil, essa foi uma grande dúvida. Mas seu avô me presenteou com sua parte da ilha e por tanto batizando como meu nome. Mas ainda haviam os Hawks. Bom, aqueles foram consumidos pela sua própria avareza. Olho por olho e todos ficaram cegos.

Chegamos em Wellcrouth. Nossa avó retirou as luvas de couro, deixou sobre um dos sofás e continuou seu rumo pelo interior da casa, até seu escritório.

- Teresa Hawk foi diagnosticada com uma enfermidade contagiosa que a matou em pouco tempo, assim como grande parte da família. O que restou se integrou a nós. Nos tornamos os principais donos da ilha e juntos construímos End Gates e por fim West Wind - seu olhar pareceu distante. - Todos os dias eu passava na presença do seu avô e ele me confortava, me dizia coisas que faziam-me esquecer de Oscar. Em pouco tempo me vi apaixonada de novo. Sebastian comprou Athena com sua poupança, fizemos um belo cruzeiro. Arquitetei meu amor pedrinha por pedrinha, e quando vi, erguemos juntos a muralha que cerca toda a fortaleza dos Nott. Construímos a nossa família.

Ao menos a história de que vovô havia conquistado nossa vó com Athena não era uma mentira total.

Vovó se posicionou atrás de sua mesa, oferecendo dois lugares em cadeiras confortáveis o bastante para viver uma vida nelas.

- Mas se vocês acham que foi mil maravilhas todo o percurso, ah, não - o pulso da mulher se fechou, marcando linhas brancas na pele avermelhada com a força do ato. - Oscar voltou. Quando eu estava grávida de Alan. Estava feliz novamente, e o maldito voltou. Exigiu direitos que perdeu assim que se foi. Não o deixamos pisar novamente na ilha, mas desde então ele vive em função de tentar tirar a ilha de nós. Um fracasso de humano.

Victoria e eu estávamos sentados de frente para vovó, absortos num mar de informação que foi se interligando. Então a pressa para passar a ilha para nossos nomes fazia todo sentido. Vovó estava garantindo nosso domínio, garantindo nosso lar. Uma vez que nossos nomes tivessem nos registrados como proprietários da ilha, ninguém poderia alterar. Nem Oscar King.

- É isso que nós fazemos, queridos. Somos Nott.

 

...

 

 

- Meus dedos doem de tentar montar aqueles barquinhos nas garrafas - Mabel reclamou, massageando as articulações.

- Haja paciência - Ansel tirou a camisa, revelando seu corpo definido e já bronzeado. - Como foi a manhã?

Seu corpo havia mudado potencialmente desde o último verão.

- Hm, chata. Nada de novo, o mesmo de sempre - menti.

É claro que vovó pediu sigilo. E quase nos fez assinar um termo de compromisso antes que pudéssemos sair daquele escritório. Liberados, fomos para West Wind. O pessoal chegou em seguida e partimos para a Praia Baixa, a mais próxima da casa.

- Victoria, você pode passar protetor em mim? - Cameron já estava sem a camisa, com o frasco de protetor na mão, próximo à cadeira de praia da garota.

- Ah, não. Pede pra outro alguém - a loira disse, demonstrando frustração.

Victoria estava incomodada, pensativa. Ou só um pouco doente. Se queixou de uma dor de cabeça, mas insisti para que participasse do momento na praia.

Na verdade, eu achava que ela estava receosa. Por Oliver. Por tudo o que vovó disse. E se a relação com o Hawk fosse só um jogo de poder para aos poucos retomar seu pedaço da torta?

- Estou com dor na mão, nem vem - a irmã de Cameron protestou, quando ele foi na sua direção. - Pede pro Lyzander, ele tá aí sem fazer nada.

- Ly, tem problema? - parecia um filhote.

- Claro que não, Cam. Vem - me levantei da cadeira e Cameron me entregou o bloqueador solar.

Apertei o frasco, pondo uma pequena quantidade do líquido branco em minha mão, logo em seguida espalhando na pele acobreada do garoto. Fui sentindo cada pedaço e músculo das costas definidas de Cameron. Aproveitei pra massagear seus ombros e me entregar ao momento, que Mabel observava pelo canto do olho e Victoria não dava a mínima de atenção. Ansel já estava no mar.

- Vira - eu pedi e o garoto atendeu, ficando de frente.

- Valeu, Ly - ele disse olhando nos meus olhos, mas não mantendo o contato visual por muito tempo.

É claro que meu cardiologista acharia a minha frequência cardíaca perigosa naquele momento. Meu coração parecia prestes a sair pela boca.

- CamCam… - eu disse, alisando seu peitoral. Descendo minha mão em sua barriga, sentindo as elevações dos músculos.

Gostaria de dizer que naquele momento eu falei algo inteligente e sedutor para Cameron, e que nos beijamos ali mesmo, assumindo nosso amor adolescente na ilha em que adorávamos viver. Mas não.

Interrompi todo o contato, entregando às pressas o tubo de bloqueador solar para Cameron. Porque outra parte do meu corpo se mostrou mais animada que meu coração. E assim, tive que sentar e por uma das toalhas no colo.

- Ahn, valeu! - Cameron agradeceu e foi correndo na direção do mar, onde mergulhou  e sumiu nas ondas para logo em seguida surgir do lado de Ansel.

- Adorou o momento que eu sei - Mabel riu.

Preferi entrar na água um tempo depois. Gostava quando o mar estava mais calmo. E no tempo que ficamos na areia, conversei com Mabel sobre a vida fora da ilha.

Mabel passava o resto do ano com sua mãe que morava em San Diego. Cameron com Alan, em Los Angeles. Eu era de Santa Monica e estava no ensino médio, prestes a me formar, sem saber exatamente que curso seguir, o que me provocava certa inquietação.

- Vocês já pensaram em trazer alguém pra cá? - Victoria parecia ter deixado a cara emburrada de lado.

- Claro que já. Tenho algumas amigas que sempre se animam quando conto da ilha, de vocês. Mas papai diz que a vovó não gostaria - o peso na voz de Mabel revelou a mesma situação que a minha.

Contei sobre uma amiga que adoraria passar um verão na ilha, mas a possibilidade foi vetada por minha mãe, alegando o mesmo motivo.

- Pessoal, olha o que eu achei! - Ansel voltou do mar, completamente molhado, e exibindo em mãos uma chave de aparência desgastada.

Mabel pediu para ver e deu uma inspecionada no objeto. - É da Meredith Deco. Eles produziam chaves e cofres em Salvatore. Isso deve ter anos, porque eles faliram quando a gente nem era nascido ainda.

- Como você sabe disso? - eu perguntei.

- Porque tem a marca aqui, dur - ela jogou a chave no meu colo e passei os dedos pela gravura com as letras decoradas.

- Vou guardar, achei simbólico - eu disse, inserindo a chave na minha bolsa de praia.

Meus primos e Ansel me olharam de forma patética.

A noite não demorou muito para estender seus braços sobre a ilha. Mas continuamos em Praia Baixa. Eu e as garotas reunimos alguns gravetos e folhagens secas para uma fogueira. Os meninos foram até West Wind e voltaram de lá com alguns marshmallows.

O vento que já estava se tornando frio aos poucos, pode ser ignorado com o calor da fogueira. Suas chamas escarlates lambiam os gravetos que soltavam estalidos e iluminavam nossos rostos, ressaltando expressões fortes de cada um.

Mabel era sinceridade. Victoria era coragem. Ansel era mansidão. Cameron era euforia.

E eu o que era? Precisava saber nesse verão.

Enquanto os outros se divertiam em uma disputa de gravetos, Cameron se aproximou.

Seu cabelo estava apontado para o céu estrelado. Seus olhos escuros demonstravam a satisfação de estar ali. O sentimento condensado dentro de mim, ameaçava a sair toda vez que ele me dizia algo. E eu precisava dizer. Pela luz do fogo que nos beijava suavemente, pelo cheiro do mar que entrava por nossas narinas, dizendo que era real. Pelo tato na areia macia da praia. E eu disse.

- Obrigado por existir.

- Eu? - ele olhou novamente nos meus olhos e um sorriso ameaçou aparecer.

- É. Você é incrível. Só não percebe. E talvez isso que te faça especial - dessa vez eu sorri, e de verdade. Sincero.

- Ah, Ly. Você que é especial. Você é meu melhor amigo, sabia?

Fui golpeado.

Tentei da maneira mais forte possível disfarçar o nó que se instalou na minha garganta e o desconforto repentino.

Mas eu estava feliz por ser seu melhor amigo. Por ser alguém para ele. Ele era uma das pessoas que eu mais admirava, já era um ótimo começo.

- Quando eu comecei a vir para a ilha, não imaginava que encontraria esse tesouro - Cameron disse, me fazendo ficar estático.

O abracei. Pelos mesmos motivos que me fizeram iniciar essa conversa.

Eu o amava. Amava de verdade, e talvez sejamos só crianças brincando de amar. Mas eu sentia tanto que chegava a doer lá no fundo. Ele me fazia sorrir com o mais simples ato, me fazia suspirar com a palavra mais leve de todas, me fazia querer tocá-lo como um artigo raro. Me fazia querer amá-lo.


Notas Finais


E sim pasmem: luvas se calçam.

Assista ao trailer de TROPICAL. https://vimeo.com/184423139


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