História Trouble Next Door - Capitulo 1

Seoul, 7:32 A.M. 

- Qual é Kook, anda logo! 

- Pega aí, você que aguenta esse tamanho.... HAHAHAHAH! - duas vozes irritantes caíam na gargalhada. 

- Levanta essa caixa, levanta! 

Cocei os olhos, ouvindo dois seres animados no andar debaixo e me levantei, olhando pela janela. A claridade maior fez com que meus olhos ardessem, mas, ao se acostumarem com a luz pude notar o caminhão de mudança e os dois seres donos das risadas esvaziando o mesmo. Bufei. Parece que o novo vizinho do 307 havia chegado. 

- Aaaaaish, porque tão barulhentos? - Me ajeitei na cama e coloquei o travesseiro na minha cabeça tentando abafar a voz dos dois lá em baixo. Uma tentativa falha. - Que horas são?  
Perguntei a mim mesmo enquanto me sentava na cama para ver as horas no celular. COMO ASSIM JÁ PASSA DAS SETE ?! 

Sem ânimo nenhum, mas com pressa, parti para o banheiro. Tomei um banho o mais rápido que pude e vesti qualquer coisa fresca para não morrer sufocado. Eu podia apostar que o calor de Seoul se assemelhava ao do Inferno. Talvez pior, já que aquela cidade em si era o próprio Inferno na Terra. Eu não fazia ideia do porquê de meus pais gostarem tanto daqui, por mim ainda moraria em Daegu, mas, como a vida nunca é gentil, tive que me mudar para cá junto deles, uma vez que meu pai foi promovido no trabalho para a sede da empresa em Seoul. Além do mais, tenho 23 anos, ainda estudo e não trabalho, o que me deixa preso nesse lugar por mais alguns anos até juntar dinheiro suficiente para ir embora deste prédio mediano o qual aluguei para não morar com meus pais. Mas temo que até lá eu já tenha morrido nesse lugar. 

Fora que o dinheiro que eu recebo dos meus pais somado com as minhas economias - de uns tempos atrás de quando trabalhava - servem mal e porcamente para as despesas da casa, roupa e comida para o mês. O que evidência ainda mais a minha necessidade de arranjar um emprego. Tenho sorte de meus pais pagarem minha faculdade, se não teria que recorrer ao fundo estudantil, e isso me deixaria endividado pro resto da vida até que a morte nos separasse. E esse definitivamente não é o tipo de relação extraconjugal que eu almejo. 

Terminando a busca implacável pela mochila, sai catando o material do dia não me importando muito se a mochila ficaria organizada ou se os papeis ficariam amassados. O que importava naquele momento é que eu estava atrasado, mas do que de costume, e que se eu não chegasse lá a tempo tinha certeza que Namjoon ia inventar de mudar o curso dele pra culinária só pra me fazer virar um prato. 

Calcei os sapatos que estavam jogados já na entrada de casa mesmo e sai batido dando graças a Deus pela porta ter a tranca eletrônica, assim não precisava me preocupar em fechar a porta, o que me dá mais tempo. Fui correndo até a porta do elevador apertando o botão do mesmo, que estava no 26° ANDAR ?! ISSO É PRAGA DO NAMJOON OU O QUE ?! Vai ter que ser de escada mesmo. Ao menos eu moro no 3° andar, ou seja, são só alguns lances de escada. Sai correndo para a escadaria que era o lado oposto do elevador. Porque os infelizes que criaram esse prédio fizeram os dois tão distantes? Colocassem os dois perto um do outro, os dois são meios de descer desse inferno mesmo, não faria diferença e ainda ajudaria na pressa de muitas pessoas, no caso a minha. Passando pela minha porta de novo e quase chegando na escada, escuto um cara na porta do apartamento vizinho ao meu, o qual estava de mudança, falar comigo. Estava levando algumas caixas para dentro e pareceu perceber minha pressa para ir pra escada. O que pareceu preocupa-lo. 

- Hey cara, a escada está ocu... – passei por ele correndo, não dando-lhe tempo para terminar a frase. Mas entendi imediatamente o que ele iria falar quando acabei de descer o primeiro lance de escadas e esbarrei bruscamente com um outro cara que carregava ainda mais caixas que o anterior. Nisso algumas caixas pequenas caíram da pilha que o cara carregava. 

- Cara cuidado tem coisa que quebra aqui! – Disse o cara se escorando na parede tentando equilibrar o que segurava. 

- Desculpa, desculpa... – disse e catei as caixas que ele derrubou quando se chocou comigo para tentar me redimir ao menos um pouco. Mas logo sai correndo de novo, gritando mais um pedido de desculpas, tentando não perder mais tempo. Depois eu me preocupo em ser educado com eles. Desci o mais rápido que pude o restante da escada logo saindo em disparada para a entrada do prédio, esbarrando no porteiro e iniciando mais uma sequência de desculpas, mas logo saindo do prédio. Agora é só correr para o ponto de ônibus mais próximo. 

***

Finalmente cheguei ao campus da minha faculdade. Pensei que nunca chegaria nesse momento do dia. 

- Consegui? – Disse assim que encontrei com Namjoon e Kidoh no nosso ponto de encontro de sempre. A árvore do lado esquerdo do prédio central da faculdade. Parei na frente dos dois e me apoiei em meus joelhos tentando me recuperar da corrida do ponto até aqui. 

- Ainda tem que perguntar? – Disse Namjoon me encarando como se dissesse mentalmente “serio isso? ”- Não, chegou atrasado para os dois primeiros tempos de novo! 

- Já passa das nove, onde você estava Yoongi? – Disse o outro também indignado com minha falta de pontualidade. O irritamento dos dois era até plausível já que eu sempre fazia isso, e o período da faculdade mal tinha começado e eu já havia chegado atrasado quatro vezes. Uma coisa que de fato era costumeira, mas dos meus atrasos esse foi sem dúvida o dia que eu mais demorei a chegar. 

- Da um desconto tá! Meu despertador não tocou, e eu ainda perdi todos os ônibus e trens que vinham direto pra cá. Eu tive sorte de os meus vizinhos estarem se mudando hoje, se não fosse isso eu perderia o dia de aula e não só os dois primeiros tempos. - Disse isso e acabei me lembrando, brevemente, do incidente de hoje de manhã. Certamente depois me desculparia com o cara que eu quase derrubei na escada hoje de manhã. Mas percebi a cara de irritação de Namjoon pra mim e isso me tirou completamente de meus devaneios para com o meu novo vizinho. Enquanto isso Kidoh parecia fazer questão de gargalhar da minha jornada miserável até aqui. Pigarreei e continuei a falar. – O senhor Park já chegou? – Perguntei sobre o nosso professor de mixagem tentando mudar de assunto. 

- Há tempos, enfim, ainda tem algumas partituras para o projeto que ficaram sobrando em cima da mesa. Melhor correr antes que você acabe sem nenhuma. Aliás eu e Kidoh já pegamos os nomes dos nossos tutores pra esse semestre. Melhor correr para pegar um também. 

Só de olhar a cara dele falando isso já dava para ver o tamanho do sermão que eu ia receber daquele ser. Olhando assim nem parece que eu era o hyung da relação. Não só pela altura, mas pelo puxão de orelha que ele me dá desde sempre. Ele tinha essa postura por meus pais simplesmente me confiarem a ele quando disse que iria morar sozinho assim que entrei na faculdade de música. Eles disseram a ele para não me deixar fazer muita besteira, mal sabiam eles que o mais arruaceiro era ele. Fora que isso tudo é um exagero, eles poderiam fazer isso eles mesmos já que moram só a algumas quadras da minha casa. Mas ainda assim eles confiavam em Namjoon para “tomar conta” de mim, uma vez que eu nunca fui muito sociável e ele era um dos meus únicos amigos desde o ensino fundamental ou como ele mesmo dizia “um dos únicos capazes de me aguentar”. 

Me despedi dos dois e fui buscar o tal material que falaram, por sorte ainda tinham algumas pautas na mesa da sala, e peguei o papel de tutores que por acaso só restava uma pilha. Assim que sai da sala ouvi o sinal de intervalo, então fui logo me juntar a aqueles dois. 

*** 

- Professor Chung-Ho!? Ha há eu tô ferrado. Isso não é justo! Eu queria o Dong-Yul ou a Min Sook. – Disse quando parei para ler o nome do meu tutor na folha de instrução do semestre. – ... Kidoh, troca comigo? 

- Nem pensar o Chung-Ho é o professor mais rígido do campus, ninguém quer ficar sobre a tutoria dele. Prefiro ficar com o que eu peguei, a Min Sook é muito melhor. 

- Aaaaaaish, você ficou com a Sook ?! Haha porquê?! – Me lamentei. Apoiando a cabeça nas mãos e abaixando numa tentativa frustradas de me acalmar. Mas me levantei tendo uma ideia. – Namjoon-ah~! - Cheguei mais perto dele no banco da mesa da cantina, onde estávamos sentados, e comecei a fazer aegyo. Pra vocês verem meu desespero, eu não costumo fazer isso. 

- Hell no, foi sua culpa que você chegou atrasado! – Disse ele nem olhando pra mim e continuando a comer o lanche dele. 

- Tudo bem... –disse voltando pro meu lugar de origem.- eu não virei um aprendiz da Sook – fingi choro, já que eu estava esperando pra ter a Min como tutora desde que entrei na faculdade de música. Ela é a professora de composição musical mais famosa de toda coreia, ela já fez música para todo tipo de artista deste pais. Eu queria tanto aprender alguma coisa com ela. – MAS! ... eu... uh... acho que vai ser de grande uso, trabalhar com um engenheiro de mixtape. Tá legal que eu queria fazer o semestre com a Sook pra aperfeiçoar minhas letras... MAS TUDO BEM! O aprendizado sobre como fazer um mixtape será de grande importância, até porque o que é uma um artista sem um portfólio. Isso vai me ajudar em uma possível futura carreira. No final das contas o mau humor do Chung-Ho não vai ser nada. 

Enquanto fazia meu monologo dramático/otimista Namjoon continuava tranquilamente comendo seu sanduiche, enquanto Kidoh ria controladamente do meu discurso. Aishhh, definitivamente o ano tinha começado corrido. Pra quem queria só um pouco de tranquilidade e calmaria nessa nova etapa da vida, ter um novo vizinho que infelizmente é barulhento, um tutor inesperado e ranzinza, e ainda levar advertência por chegar atrasado pela quarta vez consecutiva sendo que você poderia ter passado despercebido, pois o diretor estava distraído, mas só não conseguiu porque a porcaria do inspetor de corredor não vai com a sua cara, definitivamente era algo fora do planejado. O que mais me esperava nesse ano? O que mais podia dar errado? 

*** 

P.O.V Hoseok 

Que cara mais maluco, quase me derrubou da escada. Ao menos catou o que ele me fez derrubar, ainda bem, porquê na minha atual condição eu teria que fazer uma segunda viagem desse carregamento. 

- Esse tava com pressa – disse o Jeon encostado na porta observando com ar risonho a passagem pela qual eu tinha acabado de sair. 

- Nem me fala, quase caio com essa pressa dele – Kook riu enquanto me ajudava pegando algumas caixas da pilha que eu carregava as levando pra dentro junto comigo. 

- Ao menos ele era bonitinho. 

- Se acha? Não deu para eu ver direito sabe, tinha uma pilha de caixas na frente da minha cara - disse e ele riu com meu comentário. 

Sentamos no chão apoiando as costas na parede aproveitando pra descansar já que a gente tinha acabado de descarregar o caminhão de mudança. Finalmente. Casa nova, vida nova. Hora de deixar o passado pra trás. Me mudar foi só o primeiro passo, agora é ver no que vai dar. Quem sabe o que me espera nesse ano? Espero que algo bom.