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História Trust me - Família


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


Gente, desgurba a demora, eh q tá no período de vestibulares, tô nervosa SOCORRO

Enfim, boa leituraaaaaa 💛

Capítulo 107 - Família


*** 29 de Julho ***

Stiles não dormiu direito naquela noite. Em parte pela conversa com Derek da noite anterior, mas talvez mais por aquele dia, em específico.

Era aniversário de sua mãe. Todo ano, ele e o pai a visitavam no cemitério naquela data. Não no dia em que morreu, no dia em que nasceu. Levavam flores, que alguém sempre roubava em menos de duas horas, mas seu pai dizia que era a intenção que contava. Era uma tradição que tinham, e Stiles ainda se sentia do mesmo jeito oito anos depois, como quando fora da primeira vez.

Estava acordado quando os primeiros raios de sol entraram pela janela do quarto de Derek. Não é que ele não havia pregado os olhos a noite toda, mas sim que foi tirando pequenos cochilos, e se mexendo de um lado para o outro no colchão no meio tempo.

Derek dormia ao seu lado. Era mais fácil de ver, agora com a luz alaranjada do amanhecer iluminando as costas do beta. Stiles passou um tempo contornando a tatuagem de triskele com os olhos, até que resolveu contorná-la com a ponta dos dedos. Adorava aquela tatuagem, apesar de as lembranças da tatuagem de Scott ainda o provocarem náuseas.

O beta se mexeu preguiçosamente com os toques. Stiles se sentiria culpado, mas Derek sempre acordava mais ou menos naquele horário, de qualquer jeito. Puxou o ombro do maior, que entendeu o recado e se deitou de costas, facilitando que Stiles chegasse mais perto e enterrasse o rosto na curva de seu pescoço. Derek não havia acordado, apenas alcançara a consciência por um momento breve, e logo voltara a dormir.

Stiles se aconchegou mais no outro. Começou a distribuir pequenos beijos por todo seu pescoço. Assim, não se sentiria mal por acordá-lo, porque, sinceramente, aquele era o melhor jeito de acordar. Acordaria todos os dias de manhã muito feliz se fosse com aquela técnica. E Derek parecia concordar, já que sorriu e se virou de novo, dessa vez deitando de lado, de frente para o garoto.

Ele se acomodou para que estivessem na mesma altura, deitados de lado em travesseiros diferentes. Derek piscou algumas vezes, tentando acordar.

- Bom dia, Sourwolf. - Stiles beijou a testa no namorado.

- É cedo demais pra você estar me irritando. - bocejou.

- Nunca é cedo demais.

- Está tudo bem? - esfregou os olhos, tentando ficar mais desperto para conversar com o menor. - Você está agitado.

- Não estou, não. - pensou por um momento. - Tá, talvez só um pouco ansioso.

- Pesadelos?

- Não, não. Eu nem dormi, eu... - respirou fundo. - É aniversário da minha mãe. - soltou de uma vez. Derek abriu os olhos no mesmo instante, definitivamente acordado. - Eu e o meu pai sempre vamos visitar ela hoje.

- Você vai conseguir. - suas mãos foram até às de Stiles. - Mesmo que eu tenha que te carregar no colo o tempo todo.

- Completamente desnecessário. Eu super consigo ir com as muletas.

- É, até você tropeçar.

- Não vai acontecer, eu sou habilidoso demais.

- Aham. - sorriu de lado, tirando alguns fios de cabelo da testa do menor. - Quer que eu vá com você?

- Você iria?

- Claro que sim.

- Legal. - assentiu devagar, tentando ignorar as sensações pesadas que sentia. Não tinha certeza do que eram. - Isso não é... não é exatamente você conhecendo ela, mas... acho que é o mais próximo que vamos conseguir.

- Não, não é. - Derek passou o dedão pela bochecha de Stiles, em um carinho gentil. - Eu posso conhecer a sua mãe, igual você conheceu a minha.

- Quando foi que eu conheci a sua? 

- Quais eram as flores favoritas da minha mãe?

Stiles franziu as sobrancelhas.

- Violetas? Você me disse uma vez que ela tinha um mini jardim na frente da casa.

- E o que a gente fazia no aniversário dela?

- Nada, ela odiava fazer aniversário. Você me disse que ninguém nem podia comentar nada, e que quando chegava o dia, ela mal saía de casa. Mas... - desviou o olhar, tentando puxar mais informação de sua memória. - Quando era o aniversário de algum de vocês, ela tratava como se fosse um feriado nacional. Ela ficava super feliz e fazia todo mundo comemorar, mesmo se o aniversariante não quisesse.

- Aham. - Derek assentiu, com um olhar e sorriso nostálgicos. - Ninguém nem se atrevia a dizer nada sobre a hipocrisia dela. Quando sua mãe é o Alpha, você tem dois motivos para obedecer.

- Está tentando dizer que eu deveria falar sobre a minha mãe pra você?

- Só se você estiver confortável com isso. - chegou mais perto, deixando um pequeno beijo na testa do menor. - Eu sempre me sinto bem quando falo da minha família pra você. Me dá uma sensação boa. É como se você conhecesse eles um pouquinho.

- Eu... eu não sei por onde começar. - começou a se sentir nervoso, por algum motivo.

Seus dedos começaram a tamborilar contra o ombro e peito de Derek, que pareceu notar seu desconforto, porque se ajeitou na cama de maneira que seu queixo ficasse logo em cima da cabeça de Stiles. Assim, o garoto não sentia a pressão de alguém olhando pra ele. Era bem melhor assim. Stiles sempre preferia estar escondido de algum jeito quando tinha que falar de coisas que eram difíceis pra ele.

- Começa por como ela era. - passava as mãos pelos fios de cabelo do garoto, tentando passar segurança. - Seu pai me disse uma vez que ela era engraçada.

- Você já falou com o meu pai sobre ela?

- A gente estava falando sobre você, na verdade. Ele comentou como você se parece com ela.

- Vocês dois conversam sobre mim pelas minhas costas?

- Você fez soar super dramático, mas é. Suponho que é isso o que a gente faz. O tempo todo.

- Por quê?! - sua voz subiu algumas oitavas. - Por quê? Quando? Onde... onde é que vocês ficam se encontrando pra fofocar sobre mim?

- Stiles, a gente tem coisa melhor pra fazer do que ficar fofocando sobre você. - Stiles não podia ver, mas ele simplesmente sabia que Derek tinha revirado os olhos. Podia sentir em sua alma. - Você às vezes aparece em conversas casuais. Ele se preocupa e pergunta como você está, e eu conto pra ele toda vez que você faz alguma coisa idiota.

- Tipo o quê?! - abandonou seu posto seguro para se apoiar em um cotovelo e fazer contato visual com o namorado, que tinha uma expressão de satisfação em seu rosto.

- Tipo aquela vez na lanchonete que você derrubou a comida em cima da garçonete.

O queixo de Stiles caiu.

- Você contou isso pra ele?!

- Claro que eu contei. - deu de ombros, nem um pouco arrependido. - E, eu descobri que não foi a primeira vez que você fez isso. Seu pai tem umas histórias ótimas de quando você tinha cinco anos.

- Okay, é isso. Vocês dois não têm mais permissão pra conversar. Tipo, nunca mais.

- Sua permissão não significa muita coisa.

- Inacreditável. - bufou, e então, voltou para sua posição segura, escondido logo abaixo do queixo de Derek. Levou alguns instantes para parar de resmungar e deixar o assunto pra lá. - Ele falou que eu pareço com ela? Ele sempre fala isso.

- Sempre?

- Antes, quando ele costumava beber, ele ficava me contando como se conheceram. Eu já ouvi essa história tantas vezes, você não tem ideia.

- Como foi?

- Antigamente, faziam comemorações públicas quando soldados voltavam do Afeganistão. É que Beacon Hills é pequena, né. Enfim, meu pai voltou com alguns colegas dele, e conheceu ela lá. Ela e um pessoal tinham feito os cachorros quentes. Eles ficaram três anos namorando, e aí, um dia antes do casamento, minha mãe estava nervosa... - riu sozinho, lembrando de como seu pai costumava contar. - Tipo, super nervosa. E ela começou a perguntar se meu pai tinha certeza. Ele disse que sim, e ela disse "você não pode ter tanta certeza mesmo! Você não sabe toda a verdade!".

- A verdade?

- Aí ela revelou, depois de todo aquele tempo, que foi a mãe dela que obrigou ela a ficar na barraquinha de cachorro quente, e que ela odiava cachorro quente.

- O quê? - a voz de Derek subiu um tom. Era o mesmo tom que usava quando ria de algo idiota que Stiles fizera.

- É que tinha virado uma coisa deles, sabe? No primeiro encontro deles, meu pai convidou ela pra comer cachorro quente. E eles faziam isso nos aniversários de namoro e datas comemorativas. Ela achava que ele ia ficar chateado se soubesse.

- Então você é dramático assim por causa da genética. Interessante.

- Não é drama! Eu super entendo ela. Tipo, era uma coisa especial deles. Seria como... seria como, sei lá, descobrir, depois de anos, que você nunca gostou de Star Wars, e que só assistia comigo por obrigação.

- Stiles, eu não go...

- Eu nem sei como eu me sentiria! - colocou a mão no peito, dramaticamente. - Seria como... seria como se tudo tivesse sido uma mentira! Todo o nosso relacionamento, todos os momentos que passamos juntos... oh, eu não posso nem imaginar.

- Stiles.

- Também, - continuou, aumentando a atuação em sua voz. - seria como descobrir, depois que nosso filho já tivesse ido pra faculdade, que você nunca gostou do nome Miguel!

- Ele não vai se chamar...

- Seria devastador! - secou suas lágrimas imaginárias das bochechas, suspirando. - Eu acho que não conseguiria suportar.

- Já acabou?

- Tá bom, parei.

- Você é um idiota.

- Enfim, ele sempre contava que ela era super inteligente. E que ela conseguia se livrar de qualquer situação. Bom, - pensou um pouco. - tecnicamente, ela conseguia livrar ele de qualquer situação. Ele que se metia em problemas, ela era uma pessoa certinha.

- Você podia ser mais como ela.

- A gente não teria se conhecido se eu fosse mais como ela.

- É verdade. - beijou o topo da cabeça do garoto, aconchegando-o em seus braços. - Viu? Já é como se eu conhecesse mais ela.

- É, acho que sim. Eu... eu não lembro muito. Quer dizer, eu tinha dez anos quando ela morreu, mas eu tinha seis quando ela começou a ficar doente. Eu não lembro muita coisa de como ela era de verdade.

- O que você lembra?

- Que ela gostava de brincar comigo. Meu pai trabalhava bastante, então eu sempre brincava com ela. E ela gostava de abraçar. Isso antes, porque, quando ela ficou doente, ela começou a não gostar mais de contato físico. Foi a primeira coisa que mudou.

- Vocês brincavam de quê?

- Super-heróis. Eu sempre gostei, eles me compravam bastante quadrinhos. - sorriu. Um pouco, mas sorriu. - Eu lembro que eu sempre me vestia de super-herói no Halloween. E ela sempre ia junto comigo pegar doces, porque ela tinha medo de me deixar ir sozinho.

- É claro, você acabou de falar que tinha seis.

- Eu já era grande! Eu podia muito bem ir sozinho.

- Não, não podia.

- E ela sempre roubava meus doces! Ela achava que eu não sabia, mas eu sabia! Eu contava todos os que eu ganhava.

- Você tinha seis.

- É, a gente aprende a contar com dois.

- Não, não aprende.

- Eu aprendi. 

- Eu duvido.

- Enfim, ela era o tipo de pessoa que roubava doce de criança, disso eu lembro. - seu sorriso aumentou, enquanto tentava fingir indignação. - E ela me fazia arrumar a cama todos os dias, apesar de eu ter argumentos sólidos a favor de deixar bagunçada. Ela dizia que eu não podia ir pra escola até a cama estar arrumada. E eu gostava de ir pra escola, então eu não tinha escolha.

- Minha mãe também me obrigava. Mas ela não tinha que me ameaçar com nada, ela era a Alpha.

- Devia ser um saco. Se bem que, eu parei de reclamar depois que ela ficou doente. Eu achava... - riu, tentando impedir um nó de se formar em sua garganta. - Eu comecei a sempre arrumar minha cama, e fazer mais coisas, também. Porque... eu achava que, se eu fizesse todo o trabalho de casa, ela ia ter mais tempo pra descansar, e aí ela ia ficar melhor. Não... - tossiu. - Não funcionou muito.

- Eu tenho certeza que ajudou. Ter menos trabalho pra fazer.

- Ah, eu era criança. Em retrospectiva, eu tenho certeza de que eu estava fazendo tudo errado, e meus pais acabavam lavando e limpando as coisas tudo de novo.

- Mas ela sabia que você queria ajudar.

- É, quando ela sabia que era eu. - precisou fazer uma pausa. Fazia tempo, mas era bem mais fácil quando ele não falava sobre aquilo. - Foi meio gradual, sabe. Ela tinha períodos de tempo que ela se esquecia das coisas, e depois tudo voltava pra ela. Eram só momentos no começo, aí foi aumentando, até que ficou dividido em dias bons e semanas ruins. E ela tinha uma alucinações também, uns delírios.

- Eram muitos ruins?

- Alguns eram violentos, mas a maioria, não. A maioria era inofensivo. Eu lembro de uma vez, que estávamos eu e o Scott em casa, e ela achou que eu era o Scott, e que ele era eu. Aí a gente ficou o dia inteiro fingindo que um era o outro. Eu fiquei o dia inteiro falando com a boca toda torta pra irritar o Scott.

- Oh, então você foi sempre uma pessoa horrível. Que interessante.

- Foi engraçado, ele ficou muito bravo. - riu de novo, o que fez seus olhos embaçarem, mas ele piscou com força para que voltassem ao normal. - Eu ainda brincava com ela quando ela estava em casa. Aí, no último ano, ela teve que ficar sempre no hospital, então nossas interações eram meio limitadas.

- Ela não ficava no hospital antes?

- Às vezes, quando ela tinha um episódio muito forte. Quando ela teve que ficar internada, eu ficava o tempo todo no hospital. Eu ia pra lá direto da escola. E eu brigava com o meu pai pra ele me deixar dormir lá. O Scott ficou lá comigo um monte de vezes. Ele falava que era porque estava esperando o turno da Melissa acabar, mas eu sabia que ele estava lá por mim.

- Teve sorte de ter ele. Não existem muitas crianças que iriam querer ficar o dia inteiro em um hospital.

- É, mas era o Scott, claro que ele ia ficar. - revirou os olhos. - Ele era a criança mais compreensiva do mundo. Tipo, às vezes, eu brigava com ele sem motivo nenhum. Descontava tudo nele, sabe? Ele sempre me perdoava.

- Ele sabia que você não fazia de propósito.

- Ele foi o único que sobrou. Nossos outros amigos, eu... eu não tinha... capacidade emocional pra lidar com eles. Então eu me afastei de todo mundo, mas o Scott foi atrás. E... ele acabou se afastando dos outros também. Depois que ela morreu, foi só nós dois por bastante tempo. Pelo menos, até toda a merda sobrenatural cair nas nossas costas.

- É assim que você nos chama?

- Ah, não. É assim que eu chamo o Peter. Você e todo o resto são mais uma consequência da merda sobrenatural.

- Justo. Está se sentindo melhor?

- É, estou. - se levantou um pouco no colchão, para poder beijar o maior. - Melhor, porém com fome.

- Como sempre.

- Vamos tomar café da manhã.

- Daqui a pouquinho. - empurrou Stiles de volta no colchão, para poder ficar sobre o garoto. - Você ainda precisa se sentir um pouquinho melhor pra eu te deixar ir.

***

Foram ao cemitério depois do almoço. Stiles ficou algumas horas na cápsula de magia de cura do feiticeiro de manhã, e John tirou o dia livre. Não era problema pra ele, já que ficava tanto na delegacia que seus oficiais começavam a ficar preocupados.

O feiticeiro continuava insuportável, cada dia de um jeito diferente, e Stiles tinha desistido de tentar entender. Talvez ele só estivesse cansado de ficar no loft - o que, sinceramente, Stiles entendia, e muito.

- Teve pesadelos essa noite? - o feiticeiro perguntou, em algum momento durante a sessão de cura.

- O quê? - Stiles franziu as sobrancelhas. - Não, por quê? Você está sentindo que eu estou estressado, ou alguma coisa?

- E nos últimos dias? - continuou, ignorando completamente a pergunta do garoto. - Tem tido pesadelos?

- Não, cara, eu melhorei. Faz uns dois meses que eu não tenho pesadelos ruins. Por quê?

- Por nada. - respondeu, simplesmente, e voltou sua atenção para o celular, como se a conversa não tivesse acontecido.

- Se está sentindo meu estresse, é por outros motivos. E hoje pode ser que minhas emoções estejam todas bagunçadas, mas é por causa do...

- Eu perguntei de pesadelos, não disse que você podia extender a conversa para outros tópicos. Fiz uma pergunta, tive minha resposta. Pode voltar a ficar em silêncio pra magia de cura agir mais rápido.

É, Stiles devia ter previsto aquilo. Tentou não se deixar irritar, e não falou mais nada durante a sessão. Não valia a pena.

Aquele dia não foi tão difícil quanto Stiles achou que seria. Quer dizer, estava acostumado a ir ao cemitério todos os anos naquela data, mas achou que, com Derek e o bebê, seria pior. Pensou que se sentiria mais triste, por tudo o que sua mãe não poderia ver e saber.

Não se sentiu. Na verdade, se sentiu mais calmo. Se sentiu mais aliviado por ter mais pessoas com ele, bem diferente das outras vezes que fora só com o pai.

Não que seu pai não fosse suficiente, mas... sua família sempre fora pequena. Ainda era, mas, agora, um pouco menos. Era confortável.

Também pensou que seria fisicamente difícil ir. No sentido que, teria que testar de verdade suas habilidades andando com as muletas. Mas isso, também, foi mais fácil do que pensou. Quer dizer, descer as escadas levou bastante tempo. Tanto as escadas de dentro do loft, quanto os dois lances de escada do prédio - sério, porque é que Derek morava em um lugar tão alto?

Fora isso, o resto foi fácil. Andar até o carro, esperar chegar no cemitério, andar até o túmulo de sua mãe.

Seu pai não disse muita coisa a princípio. Normalmente, eles contavam para ela tudo o que acontecera no ano. Stiles não saberia por onde começar.

Decidiram deixar o sobrenatural de lado. Seu pai contou sobre algumas coisas que aconteceram na delegacia. Stiles passou alguns minutos contando que arrumou um namorado lindo, até Derek e John coletivamente o mandarem calar a boca.

Stiles queria contar do bebê. Queria, mas tinha que falar para o pai primeiro, e aquele não era um bom lugar ou momento. Depois que falasse, voltaria ali e contaria para ela.

Não levou muito tempo, menos de uma hora. E então, já estavam de volta ao loft. Stiles cedeu e deixou Derek carregá-lo escada acima, estava cansado demais depois do todo aquele tempo em pé.

Derek o deixou no quarto, na cama, como sempre. Como sempre. Stiles estava começando a odiar aquela cama. Fantasiava sobre queimá-la, quando estivesse melhor. Derek precisaria comprar outra cama com seu dinheiro de gente rica para que eles pudessem se divertir de um jeito sexy, porque aquela cama não daria mais. Stiles a odiava.

- Você está bem? - Derek perguntou, enquanto Stiles se ajeitava, sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama.

- Estou com fome. - resmungou.

- Você acabou de almoçar.

- Bom, aparentemente eu comi por um só. - deu de ombros, com um olhar de "o que posso fazer?", o que o rendeu um revirar de olhos de Derek.

- Eu vou fazer alguma coisa pra você.

Derek lhe deu um beijo de despedida, e saiu do quarto. Stiles pegou o celular. Tinha algumas mensagens, nenhuma tão importante, só conversas aleatórias e alguns memes de Scott e Isaac. Na verdade, só de Scott, mas dava pra ver que algumas mensagens eram de Isaac. Eles estavam começando a virar uma pessoa só, era assustador.

Ouviu uma batida na porta. Quer dizer, a porta estava aberta, mas John estava ali, e batia os nós dos dedos no batente para avisar que estava entrando. 

- Hey, garoto. - se aproximou da cama, se sentando no colchão ao lado do filho. - Você está bem? Fiquei com medo de você se sobrecarregar indo até lá.

- Tá brincando? - deixou o celular de lado no colchão. - Faz três semanas que eu não saio daqui. Ir até lá foi terapêutico.

- Um lugar um pouco estranho pra uma terapia.

- Eu sempre acho um pouco terapêutico ir ver ela. - deu de ombros, esfregando os dedos uns contra os outros de forma nervosa. - Você não?

- Acho que... pra mim, vai ficando mais difícil. - sua voz estava estranha. Ele não olhava para Stiles, o que só deixava o garoto mais preocupado.

- Pai? - franziu as sobrancelhas. - O que foi?

- Nada, eu só... - ele riu, balançando a cabeça. - Eu penso, às vezes, em tudo o que ela está perdendo. Quer dizer, você está quase terminando a escola. Você está só... crescendo tão rápido. E... vai ficando mais difícil.

- Não devia. Quer dizer, ela ficaria feliz pela gente. Por como estamos.

- É, suponho que sim. - fez uma pausa. - Eu já... eu nunca te contei, não é? Que ela ficaria muito triste por você ser filho único?

Stiles franziu as sobrancelhas.

- O quê? - sorriu. - Ela queria mais filhos?

- Sua mãe? Oh, ela adorava crianças. Você teria uns quatro irmãos se dependesse dela.

- Meu Deus, seria horrível.

- Ela queria tentar de novo quando você tinha dois anos, mas eu não estava pronto ainda. Continuei sem estar pronto, e aí foi tarde demais.

- Acredite, foi melhor. Imagina se tivesse dois de mim? Ou nós nos odiaríamos, e seria um caos. Ou nós nos uniríamos, e seria um caos. Nunca saberemos.

- É triste o quanto eu concordo com isso.

- Uau, valeu.

- Eu queria que ela pudesse te ver agora. - colocou a mão no ombro do filho. - Ela estaria orgulhosa.

- É, eu sei. - Stiles revirou os olhos. - Você fala isso todo ano. Estava demorando.

- É diferente. Esse ano foi diferente.

- Ano passado também foi, é que você não sabia ainda.

- É diferente. - insistiu. - As coisas que eu te vi passar esse ano, filho... ela estaria orgulhosa.

- O quê? Só porque eu sobrevivi um espírito de raposa do mal? Eu não devia ganhar muito crédito por isso, eu estava possuído. Então, só o que eu fiz foi esperar até não estar mais possuído, sério.

- Não foi só sobreviver à raposa, foi tudo o que veio depois, também. Tudo o que você suportou, tudo... - molhou os lábios. - Todas as decisões que você teve que tomar que... foram difíceis, com tudo o que aconteceu, mas você conseguiu. Você não é como seus amigos, e você não precisa ser. Eu estou muito orgulhoso de quem você se tornou.

Stiles ficou ali, com os olhos aguados, e o coração batendo forte contra o peito. O que podia responder para algo como aquilo? "Obrigado" não era uma opção. Não quando Stiles sabia que não merecia.

- Me desculpa. - acabou dizendo, e tinha tantas maneiras de completar aquela frase. Me desculpe pelo que aconteceu com o seu celular. Me desculpe por sempre mentir pra você. Me desculpe por você não poder confiar em mim. Me desculpe por ser um péssimo filho. - Por... por tudo.

- Você nunca vai fazer nada que vá me fazer pensar menos de você, entende? - se levantou, dando alguns tapinhas no ombro de Stiles. - Você é meu filho, nada nunca vai mudar isso, okay?

Começou a andar até a porta, mas Stiles agarrou a manga de seu casaco, o impedindo de se afastar mais. Engoliu em seco sob o olhar curioso do pai. Podia sentir o nervosismo acumular em seu peito e se espalhar por todo lado, o deixando tenso.

- Preciso te contar uma coisa. - as palavras simplesmente escaparam de seus lábios. Nem mesmo teve tempo de processar o que estava fazendo. Estava ali, iria contar, era hora.

John pareceu perceber que era sério. Se sentou de novo, dessa vez na poltrona ao lado da cama. Stiles endireitou as costas, suas mãos tremiam um pouco.

Ele e Derek haviam passado os últimos dois dias pensando naquele momento. Do jeito que ensaiaram, a conversa sempre começava assegurando John de que Stiles estava, e ficaria bem. Então falavam que queriam aquilo, que estavam felizes com aquilo, que não tinham tudo planejado ainda, mas queriam seu apoio... ou era o contrário? Será que eles tinham planejado falar do bebê, e depois pedir apoio? Não, falar do bebê ficava mais pro final. Espera, qual era a ordem? O que tinham planejado mesmo?

Oh, Deus, não conseguia se lembrar de nada. Tinha que falar alguma coisa, seu pai estava ali. Estava olhando pra ele, esperando que Stiles dissesse alguma coisa, e ele teria que improvisar. Meu Deus, o que é que ele e Derek tinham combinado? Não conseguia lembrar, não conseguia pensar, estava tão nervoso.

- Filho? - a voz de John interrompeu seus pensamentos. - Está tudo bem, pode me contar o que for.

- É que... - sua voz morreu. O ar entrava e saía de seus pulmões em intervalos irregulares. - Tá, eu... meu Deus, isso vai ser difícil. Okay, é que... tá, calma, calma.

- Eu estou calmo.

- É, por enquanto. - respirou fundo, tentando ficar no controle. Não percebeu que sua perna começou a tremer. - É que é uma coisa que eu e o Derek íamos te contar. Talvez a gente devesse chamar ele. Não, não! Deixa que eu conto. Eu quero contar eu mesmo. Mas, se bem que, ele devia sim estar aqui. Mas eu acho que seria melhor se fosse só a gente. Mas o Derek também...

- Stiles.

- Okay, okay, ah... tá, olha, pra começar, me desculpa. Eu devia ter te contado isso antes. Bem antes. Tipo, meses atrás. Eu sinto muito. Eu não... eu não tenho uma boa desculpa. Eu estava com medo desse momento em específico que estou vivendo nesse exato momento, e... com medo do que você vai dizer, ou o que vai pensar de mim... eu só não quero que as coisas mudem. Quer dizer, eu sei que é idiota, porque tudo vai mudar. Tipo, literalmente tudo. Cada pedaço da minha vida. E acho que eu estava com medo que isso te incluísse, porque eu não quero que a gente mude. Eu só... eu espero que você...

- Não precisa se preocupar.

- O quê? - foi bom o pai ter interrompido. Stiles não tinha percebido até o momento o quanto precisava respirar.

- Não precisa se preocupar. - John repetiu, pacientemente. Não parecia bravo por descobrir que Stiles escondia outro segredo, ou ansioso por Stiles estar demorando tanto para contar. Parecia apenas... calmo. - Nada vai mudar as coisas entre a gente, está bem? Eu estava falando sério quando disse todas aquelas coisas pra você.

- Mas ninguém nunca pode saber isso com certeza! - reclamou, o medo claro em seu rosto. - Quer dizer, e se você descobrir que eu sou um assassino em série, ou sei lá?

- E você é um assassino em série?

- Esse é o meu ponto! Não dá pra saber! Você não pode simplesmente afirmar que...

- Se você fosse um assassino em série, eu destruiria todas as provas contra você. Você é meu filho.

- Você só diz isso porque sabe que eu não sou um assassino em série, porque, se eu fosse mesmo um assassino em série, você nunca deixaria que um assassino em série estivesse...

- Stiles, você é, ou não é, um assassino em série?

- Não! - sua voz subiu algumas oitavas. - Claro que não!

- Então do que você está falando?

- Estou dizendo que coisas estranhas acontecem! E você não pode afirmar que nunca vai me odiar, ou... o-ou me achar uma aberração, ou... - teve que parar de falar, sua voz ficou comprimida demais. - E-eu não...

- Stiles. - John se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Sua voz estava mais séria, mais imposta. - Eu nunca, jamais, vou te ver como uma aberração. Você confia em mim?

Stiles assentiu, sem nem mesmo pensar. Claro que confiava, esse não era o problema.

- Eu... tá, olha, é que você vai achar estranho. Vai parecer bem estranho, e a gente também achou, okay? E... e foi sem querer. Foi muito sem querer. Nem era pra acontecer, na verdade. E não foi culpa do Derek! - lembrou de acrescentar, às pressas. - O Derek é o que menos tem culpa nisso tudo, sério. Quer dizer, ele teve grande parte em me fazer concordar com isso, mas ele ia me apoiar de qualquer jeito. Sério, ele é o melhor. Você não pode atirar nele!

- Eu não vou atirar nele.

- Aí, graças a Deus. - suspirou, aliviado. - Porque, olha, ele é maravilhoso. Eu não ia conseguir sem ele. E, se você atirasse nele, eu nunca mais ia conseguir ninguém que nem ele. Quer dizer, não que eu quisesse, mas se eu estivesse procurando, eu não ia achar. Sério, eu nunca ia achar, ele é incrível. 

- Eu entendi, Stiles.

- Okay, okay. Então... não atira no Derek, não foi culpa dele, e ele me apoia. Me apoia no que eu quero, porque eu quero isso. Tipo, muito. Eu quero muito isso. E... e eu estou feliz com o que aconteceu. No começo não, porque é estranho. E eu quase desisti. Quase, e... o Derek me apoiava nisso também. Aí eu desisti de desistir e ele continuou me apoiando. Já falei que o Derek é maravilhoso?

- Já.

- Okay. Ah... enfim, eu estou muito feliz com isso, nós dois estamos. E a gente não planejou tudo ainda, e a gente sabe que é muita responsabilidade, e tudo mais. E eu não estou preparado pra isso. Tipo, nem um pouco. Mas aconteceu, e... e é isso.

- É isso? - John ergueu uma sobrancelha.

- É, acho que é isso. - Stiles desviou o olhar pra parede, tentando pensar em mais alguma coisa. Começou a contar as coisas nos dedos. - Por favor não atire no Derek. Estamos felizes com isso. Queremos o seu apoio. É, acho que é só isso.

- Você percebe que, mesmo depois de falar tudo isso, você ainda não me disse o que é que você quer me contar, não percebe?

- Ah, certo. - esfregou os olhos, sentindo o nervosismo voltar a construir em seu peito. - Aí, droga. Tá, pai... isso vai ser estranho.

- Você já disse isso.

- Eu sei, é que... isso é muito difícil. Eu nem sei quais são as melhores palavras pra usar. Olha, eu... é que eu... tem uma... tem uma coisa acontecendo comigo.

- Tudo bem. - ele assentiu. Stiles não conseguia entender como ele estava tão calmo. Até mesmo Stiles estava se irritando consigo mesmo pela demora, mas não John.

- Pai, eu... - não conseguia, simplesmente não saía. - Deus, isso é difícil demais. E-eu... eu estou... eu vou... você vai s... e-eu e o Derek...

Então, finalmente se cansando de esperar, John completou:

- Vão ter um filho?

Stiles paralisou. Literalmente, todos os seus músculos ficaram rígidos no lugar. Sua respiração parou. A única coisa que continuou foram as batidas fortes e doloridas de seu coração contra as costelas. Aquilo não fazia o menor sentido, não...

John, por outro lado, continuava calmo, o que era tão assustador para Stiles quanto as outras opções. John olhava para ele com carinho, e não só para ele. Estava olhando para a barriga, onde Stiles levara suas mãos em um instinto protetor. Ele podia ver. Estava vendo. O feitiço de disfarce não funcionava nele, porque ele sabia.

Ele sabia. Como diabos ele podia saber daquilo? Não... aquilo não fazia nenhum sentido. Não tinha como... quem... alguém contou pra ele. Ou...

- Stiles, está tudo bem. - o xerife disse mais uma vez, puxando a poltrona para mais perto da cama. - Está tudo bem, okay?

- Mas... - o ar saía em grandes baforadas agora. Não tinha percebido que está a segurando a respiração até o momento. - N-não... mas eu... você não... você... você sabe?!

- Eu sei. - assentou, e seu olhar voltou para a barriga de Stiles. O garoto tentou cobri-la em um reflexo, se sentindo tão envergonhado de repente.

- Como?! - sua voz saiu mais aguda do que pretendia. - Como você... quem te contou?!

- Stiles...

- Foi o feiticeiro? E-ele não podia ter feito isso, a gente... a gente tem um contrato! Não...

- Não foi. Stiles, ninguém me contou. Ninguém me disse nada. - seu tom mudou consideravelmente. Ele tinha o tom que Stiles estava esperando até o momento: decepção.

- Me desculpa. - seus olhos se encheram de água. Tentou piscar para afastá-las, mas era muita coisa de uma vez só. - Me desculpa, eu... mas como? Como foi que...

- Stiles, eu sou o xerife.

- Ah, não. Não, não tem... não tem como! Quer tentar me convencer de que você seguiu as pistas e fez a brilhante dedução de que seu filho homem estava... - ainda não conseguia dizer. Por que era tão difícil falar pra ele? - De que eu estou... de que isso está acontecendo?

- De que você está grávido? - John riu para si mesmo, balançando a cabeça. - Essa palavra existe? Grávido? Meu Deus, essas coisas sobrenaturais vão me deixar louco.

- Quanto tempo? Como...? - piscou, atônito.

- Não faz muito tempo. Quero dizer, faz uns meses que eu sei que você está me escondendo alguma coisa. Desde... desde a lista. - fez uma pausa. - Foi por isso que você não me contou, não foi? Que estava na lista?

- Eu... é. - molhou os lábios. - Eu não... eu não queria, na época. Eu ia tirar. Por isso não te contei. Nem o Derek.

- Tirar. O... - apontou com o dedão para a porta. - O cara lá...?

- O feiticeiro, é. Agora ele tá servindo como um tipo de médico. Eu avisei que era estranho.

- Está bem. Bom, como eu estava dizendo, eu sabia que tinha alguma coisa que não estava me contando. Mas eu achava que era algum tipo de poder.

- Que era o quê?

- Você estava em uma lista de criaturas sobrenaturais. Eu achei que você estava escondendo poderes, ou que estivesse tendo problemas para controlá-los. Alguma coisa assim.

- Por quê?

- Você estava agindo estranho. - deu de ombros. - Foram várias coisas. Você mudou a alimentação. Nunca mais voltou ao médico para renovar a receita do Adderall. Você propositalmente ficou de fora de coisas que com certeza enfiaria o nariz antes. E... quando aconteceu, quando você ficou desacordado, eu sabia que tinha alguma coisa errada. Sabia que tinha algo que Derek não estava me contando.

- Foi porque eu pedi. - se apressou em esclarecer. - Ele queria te falar, queria mesmo. Fui eu, eu juro. Ele não falou porque eu não queria.

- Bom, pelo menos, você sabe ele te respeita.

- Então você só descobriu depois do que aconteceu?

- Só depois que você acordou de novo. Eu precisava de respostas, eu precisava saber. Eu... eu já volto.

Então se levantou. Stiles tentou chamá-lo de volta, mas ele saiu do quarto e andou pelo corredor, entrando no quarto de hóspedes. Stiles sentia um mal pressentimento enquanto o pai voltava. Não parecia estar carregando nada, mas ele não teria ido até ali sem motivo.

- Eu precisava saber o que era. - John continuou, se sentando de novo na poltrona. - Então, eu fui pra casa. Eu olhei por todos os lados, revirei tudo, até que...

- Você revirou o meu quarto? - Stiles interrompeu, com os olhos arregalados. - Você não pode fazer isso! Você não pode simplesmente...

- Tem certeza que você quer me falar sobre invasão de privacidade? Tem certeza? Você?

Stiles tentou achar um bom argumento contra aquilo, mas falhou. Aquilo era tão injusto, mas ao mesmo tempo não era. Era tão frustante. Como foi que chegou naquela situação?

- Justo. - foi o que acabou dizendo, com raiva de si mesmo, de seu pai, de tudo. - E... o quê? O que você achou? O histórico do meu computador, com os sites de compras de coisas de bebê? As roupinhas que eu escondi nos fundos falsos da gavetas? O cachorrinho de pelúcia atrás das minhas coisas da escola? O...

Parou de falar imediatamente. De dentro do bolso interno do casaco, seu pai tirou um caderninho. O caderninho pequeno que Derek lhe dera. Com a capa e figurinhas do Bob Esponja, e mais da metade das folhas completamente escrita.

Instintivamente, se esticou para arrancá-lo das mãos de John. Era seu caderno, só seu. Era pessoal. Era muito pessoal. Tinha coisas ali tão pessoais que Stiles nem mesmo mostrara a Derek. John não tinha nenhum direito de ter visto aquilo, nenhum. Não importava o quanto Stiles mexesse em suas coisas, John não podia ter... ninguém podia...

- Você...! - segurava o caderninho contra o peito, como se o protegesse. - Não... você não podia ter...! Eu não acredito que...

- Eu sei. - o xerife abaixou o olhar. Sua voz ficou grossa. - Eu sei. Eu parei de ler quando...

- Você devia ter parado quando viu o que era! Você não podia ter... quanto você leu?! Até onde?!

- Eu parei de ler quando descobri. - repetiu, pacientemente. Como é que ele conseguia ainda estar calmo? Stiles estava tão furioso.

- Até parece! - esbravejou. - Então o quê? Você leu alguma coisa sobre um bebê e imediatamente chegou à óbvia conclusão de que eu estava grávido? Você tinha que ter lido um monte pra ter descob...

- Eu li algo sobre um feitiço. - interrompeu. - Um feitiço pra esconder o bebê. Eu não entendi, então li mais um pouco. Li sobre como você não queria que outros seres sobrenaturais, e principalmente eu, soubesse sobre ele. Li sobre como você estava assustado e ansioso. E então parei de ler.

- Parou de ler? E aí fez o quê? Voltou pra cá e fingiu que nada tinha acontecido até agora? Você sabia, você... por que não disse nada? O que foi que...

- Eu voltei pra cá, e vi você. Eu não acreditei, até ver você. Até... - seus olhos se desviaram para a barriga do filho.

Stiles sentiu de novo, aquela vergonha e vontade corrosiva de se esconder. Puxou um travesseiro para si, escondendo a barriga e o caderninho sob ele. Sua visão estava embaçada de novo, então virou a cabeça para o outro lado. Precisou morder os lábios para que parassem de tremer.

Deus, aquilo era tão difícil. Não só estivera mentindo até agora, mas John sabia que estivera mentindo até agora. De algum jeito, aquilo era bem pior. E estava com raiva. Não queria que John tivesse descobrido, não queria que tivesse lido o caderno. Queria ter contado antes. Queria que fosse ele, e não suas palavras idiotas em um caderno que tivesse dado a notícia. E agora já era, não tinha como fazer aquilo do jeito certo.

- Você não podia ter lido, você não... - fungou, e usou a manga do suéter para limpar o nariz. Não, não ia desabar. Estava bem. Estava muito bem, estava tudo bem.

Respirou fundo. Já não estava mais olhando para o pai.

- Eu estava preocupado. - disse John, como um pedido de desculpas que Stiles sabia que não merecia. - Eu precisava saber o que estava acontecendo.

- E você descobriu, e aí? Por que você... por que não falou nada? Por que... - secou os olhos para poder virar para ele. - Por que você está assim? Por que não chegou gritando comigo no dia que descobriu? Por que esperou? E por que... - riu, porque aquilo era ridículo. - Por que você está tão calmo? Por que não está furioso? Você... você devia estar furioso comigo!

- Não estou bravo com você.

Stiles não aguentou o olhar do pai por muito tempo. Era tão sincero, tão calmo. Não condizia nem um pouco com a enxurrada de emoções conflitantes que estava sentindo.

- Por que não? - seus olhos se mexeram de água de novo. Seus dedos começaram a esfregar a fronha do travesseiro em seu colo. - Você está... está decepcionado demais pra isso?

- Não estou decepcionado com você.

- É mentira.

- Stiles...

- É claro que você está! Você tem que estar, porque... - balançou a cabeça, piscando com força. - E-eu sou um péssimo filho. Eu sei disso. Eu...

- Não. - chegou mais perto com a poltrona, a ponto de conseguir colocar a mão no ombro de Stiles. - Você é o melhor filho que eu podia ter. Eu estou tão orgulhoso de você.

- Por quê? - era pra ser apenas uma pergunta, mas soou mais como uma súplica. - Nada, em toda essa série de acontecimentos, pode ter feito você se orgulhar de mim. Não tem motivo nenhum, não tem...

- Naquele caderno. - John interrompeu. - O... o feitiço não foi a única coisa que eu li sobre. Até você escrever sobre o feitiço, você escreveu sobre algumas coisas que te aconteceram. Coisas que eu só imaginava.

- Não...

- Me deixa falar. Você falou sobre o Nogitsune. Sobre tudo o que você teve que enfrentar. Coisas de pesadelos. Você disse que queria tirar antes, e não fez isso. Requer coragem, assumir algo assim. Ainda mais considerando todo o resto.

- Pai...

- Eu... eu entendo. Entendo porque não quis me contar. Isso é uma coisa grande. Muito grande. Tudo vai mudar, e você queria pelo menos que uma coisa permanecesse igual. Não é uma coisa ruim de se querer.

- Não tem desculpa. - negou com a cabeça. - Eu devia ter te contado antes. Bem antes.

- Devia, mas está tudo bem. Eu te perdôo.

- Como? Eu não te disse nada! Por meses! Cinco meses! Você devia estar furioso, é o seu... - sua garganta se fechou, mas ele engoliu o nó para conseguir falar de novo. - Pai, é o seu...

John sorriu, mesmo que a frase não estivesse completa. Era um sorriso sincero, depois de tudo aquilo. Era como um brilho.

- É o meu neto. - seus olhos abaixaram para a barriga ainda coberta de Stiles. - Eu... eu posso...?

Então ergueu uma das mãos. Stiles precisou de alguns segundos para processar aquilo. Quando conseguiu, tirou o travesseiro de seu colo, colocando-o de lado, assim como o caderninho. A pequena curva de sua barriga podia ser vista sob o suéter largo. Era pequena, para cinco meses, mas era bem visível.

Os olhos de John estavam molhados. Ele esticou a mão devagar, até as pontas dos dedos encostarem levemente contra o tecido.

Stiles sentiu que estava sorrindo também, as lágrimas que tanto tentou segurar finalmente escaparam por suas bochechas. Colocou a mão sobre a do pai, incentivando-o a encostar a palma toda.

- É... - John pareceu perder a voz por um momento. - É um menino, não é?

Isso fez Stiles rir de novo. Dessa vez, de alegria.

- É, é um menino. - limpou o rosto. - Um lobisomem, aliás. Porque né, o Derek...

- Meu Deus. - se lamentou, mas não de verdade. Estava feliz, dava pra ver. - E como é isso? Nas luas cheias ele vai ser um bebê sedento por sangue?

- Ah, não, isso se manifesta depois. Derek disse que a sede de sangue é mais uma coisa da puberdade.

- Faz sentido. - assentiu. - Isso é incrível. Isso é...

Stiles não conseguiu evitar algumas outras lágrimas que desceram por seu rosto. Porque seu pai não estava bravo, não estava horrorizado, não estava pensando que ele era uma aberração. Ele estava tão maravilhado quanto Stiles naquela situação. Era perfeito.

- Tem... - John ergueu o olhar para encontrar o do garoto. - Tem alguma coisa que você precise? Eu estou cem por cento com você, filho. Quero compensar tempo perdido.

- Pai, não foi...

- Sem discussão. Tem alguma coisa que você precisa?

- Ah... - deu de ombros, secando os olhos. - Ah! Calças novas. Sério, eu preciso de umas calças. Eu tenho, tipo, duas que ainda servem.

John abaixou a cabeça, os ombros tremendo com seus risos. Stiles não pode evitar rir também. E então, quando se deu conta, o pai estava sentado na cama ao seu lado, abraçando-o com cuidado. Stiles sabia que John estava tentando não machucá-lo, então o abraçou se volta com força, para mostrar que estava tudo bem.

Soltou uma pequena exclamação. O bebê estava fazendo aquilo, estava chutando de novo.

- Pai, pai, pai! - se afastou do maior e agarrou sua mão, puxando-a para sua barriga. - Olha, olha. Espera.

Esperaram alguns segundos, o bebê não demorou para chutar de novo. John voltou a rir. Era surreal o quão feliz estavam. Aquele momento era incrível.

- Stiles, eu fiz... - uma voz veio da porta. Os olhares de Stiles e John se voltaram para Derek, paralisado na entrada do quarto.

Derek tinha os olhos arregalados, o que era compreensível. Ele tinha deixado Stiles ali, e quando voltou, se deparou com aquela cena. John com as mãos na barriga de Stiles. Uma barriga que John não devia saber que estava ali. Oh, e Stiles estava com cara de choro. Era de se esperar que Derek parecesse tão mortificado quanto estava no momento.

- Ah... - o beta tentou falar, mas nada saiu.

- Caramba, você demorou. - Stiles reclamou. - O que você estava fazendo?

- N-não... - Derek não conseguia tirar os olhos daquela cena, como se tentasse decidir se estava tendo algum tipo de alucinação. - Não sobrou nada do almoço, eu estava fazendo... ah... o que... o que é que está...

- Oh, eu contei pra ele. - esclareceu, o que só fez com que Derek parecesse ainda mais aterrorizado. - Ele não vai te matar! Relaxa. Está tudo bem. Não é, pai?

- É. - John assentiu, sorrindo. - Está tudo bem, Derek. Venha aqui.

Derek hesitou por um momento. Parecia esperar que aquilo se revelasse ser um truque, uma pegadinha, ou algo do tipo. Quando se aproximou, John se levantou e envolveu Derek em um abraço.

O beta olhou para Stiles, paralisado, sem saber o que fazer. Stiles sinalizou que ele devia devolver o abraço, o que fez o beta piscar, atônito, e abraçar John também. Foi um pouco desajeitado. Derek não estava acostumado com contato humano, além de Stiles.

O xerife se afastou primeiro, mas não muito. Deixou as mãos nos ombros de Derek, ficando cara a cara com o beta.

- Eu não vou atirar em você, mas agora são duas pessoas que eu estou confiando em você para tomar conta. - disse, de um jeito brincalhão e sério ao mesmo tempo. - Se você machucar algum deles, aí sim eu vou atirar, entendido?

- U-hum. - Derek assentiu, engolindo em seco.

- Pai, dá pra parar de ameaçar o pai do meu filho?

- Só estamos conversando. - John ergueu as mãos, se declarando inocente. - O que vocês estão planejando fazer?

- Ah... - Derek continuava contribuindo na conversa com balbulcios nervosos.

- A gente já comprou umas coisas. - disse Stiles. - O quarto do bebê é o que o feiticeiro está. A gente...

- Vocês vão se casar?

- Pai! - Stiles gritou esganiçado, e foi mais do Derek fez. O beta apenas soltou uma exclamação assustada, dando um passo para trás. - Pai, meu Deus!

- Está bem, está bem! - John ergueu as mãos de novo, se rendendo. - Foi mal, não devia ter tocado no assunto.

- Aí, meu Deus. - o garoto escondeu o rosto nas mãos. Como é que ia olhar para Derek depois daquilo?

- Nós... nós planejamos que o bebê ia ficar comigo até Stiles terminar a escola. - Derek finalmente falou uma frase completa. - Depois, nós dois iríamos para onde Stiles fosse fazer faculdade.

- E você tem condições de cuidar deles, certo?

- Sim, senhor.

- John.

- Oh. - Derek limpou a garganta, visivelmente nervoso. - John, sim. Claro, desculpe.

- Ótimo. E vocês já pensaram em nomes?

Stiles tirou o rosto das maos. Ele e Derek trocaram olhares rápidos antes de responderem:

- Não é Miguel. - disse Derek, no exato mesmo momento que Stiles praticamente gritou:

- Miguel!

O beta revirou os olhos, e John só pareceu confuso.

- Não é Miguel. - Derek assegurou o sogro, mas Stiles insistiu:

- É Miguel, já está tudo certo.

- Miguel? - o xerife franziu as sobrancelhas para o filho. - Mas que nome é esse? Todo mundo vai pensar que você adotou um mexicano.

- Você está brincando, né? - Stiles abriu os braços em uma pose indignada. - Você quer falar sobre escolher nomes incomuns?! Você?!

- É, ele tem um ponto. - John desviou o olhar para Derek.

- Não, ele não tem! - Derek protestou. - Não vai ser Miguel.

- Miguel Stilinski Hale. - Stiles recitou. - Já está tudo combinado.

- Não tem nada combinado. Espera. - Derek parou de repente, franzindo as sobrancelhas para o namorado. - Quer que ele tenha o meu sobrenome?

Stiles abriu a boca para responder, mas acabou fechando-a de novo. Não tinham conversado sobre aquilo? Oh, ele tinha esquecido completamente daquele detalhe.

- Nossa, a gente não tem nada combinado mesmo. - murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.

- Sabe, - disse John. - esse é o tipo de coisa que vocês deviam conversar.

- Pai. - Stiles falou em tom de aviso, antes que o pai falasse mais alguma coisa que o envergonhasse.

- Está bem, não falo mais nada! - sorriu. - Onde estão as coisas que vocês compraram? Eu tenho que ver se vocês compraram certo.

- E como é que você vai saber?

- Confia em mim, sua mãe ficou completamente obcecada em escolher a melhor versão de cada coisa de bebê que você tinha. Eu sei tudo sobre tudo nesse assunto.

- Como você aguentou? - Derek perguntou, sincero. - Ele leva cinco horas pra escolher cada coisa, eu estou quase enlouquecendo.

- Bom, eu não tive muita escolha. - deu de ombros. - Ela estava trazendo a melhor que iria me acontecer, então...

- Justo.

- Ah... eu estou aqui. - Stiles trouxe a atenção de volta para si. - Dá pra vocês não falarem de mim comigo aqui? Der, me ajuda a levantar.

Derek se apressou para o lado do namorado, o apoiando para que ficasse de pé.

- Anda, pai, você vai super aprovar tudo o que eu comprei.

Então Derek acompanhou o sogro e o namorado para fora do quarto, mal sabendo que John também iria ficar obcecado com cada coisinha, e iriam passar as próximas horas discutindo as funcionalidades do berço, e o design apropriado do guarda-roupa. Bom, não podia reclamar. Era a sua nova família, afinal. 


Notas Finais


PRONTOOOOOOO, PODE PARA DE RECLAMA JÁ, ELES SÃO UMA FAMILIA FELIZ ( ata )

Hihihiiii, eu adorei esse cap, tava esperando bastante tempo pra escrever ele

Comentem! Me digam o que acharam :3


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