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História Trust me - Donovan


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


helloooooo <3 <3 <3

gente, esse capitulo ta menor q o normal, mas eh pq eu dividi ele na metade, pra poder postar logo pq vcs estavam ansiosos e eu me senti culpada pq eu causei a ansiedade de proposito no ultimo capitulo dhiusahdiusahdiusahd deus colocou a mão na minha cabeça e falou "minha filha, vc nn acha q eles ja sofreram demais?" entao eh isso hdiusahdiusadhiuahda aiai

Capítulo 120 - Donovan


Consertar um jipe não era tarefa para uma pessoa só. Stiles tinha que ir até o motor, tentar arrumar alguma coisa, voltar e tentar ligar o carro. Já tinha feito isso isso duas vezes, sem sorte. As luzes amarelas dos postes não serviam como uma boa iluminação, então tentava usar a lanterna do celular sob o capô.

Na terceira vez que se sentou no banco do motorista e falhou em dar a partida, desistiu. Claramente, o jipe não queria ser consertado. Seu bebê estava fazendo algum tipo de birra, provavelmente tentando ganhar mais atenção, com ciumes por Stiles agora ter outro filho, e Stiles se recusava a incentivar seu mal comportamento. Se ele não queria funcionar, então ficaria no estacionamento da escola a noite toda, de castigo.

Também, Stiles estava com muita dor para se levantar de novo, então declarou sua desistência oficial.

Empurrou o banco para trás, assim teria espaço o suficiente para erguer as pernas e apoiá-las acima do volante. Bem mais confortável. Seus pés estavam inchados, tinha certeza. Suas costas também doíam. E suas pernas. E sua cabeça. E seus ombros e  pescoço, por ter dormido na mesa, na biblioteca. Stiles tirou um momento para contemplar o estado atual de sua vida.

Sua mão foi até o bolso, pegando seu celular. O brilho da tela contra a pouca luz do ambiente fez seus olhos doerem. Levou o celular ao ouvido, esperando Derek atender.

Stiles? - a voz de seu salvador veio do outro lado da linha.

- Hey, Der. - sorriu, se sentindo exausto. - Derek, querido Derek. Amor da minha vida, luz do meu ser, pai dos meus filhos.

O que você quer?

- Eu preciso de um resgate.

Você sentou no chão e não consegue mais levantar?

- Haha, eu ainda não cheguei a esse ponto. - revirou os olhos. - Não que eu esteja longe. Eu tenho certeza que isso vai acabar acontecendo, e não vai demorar. No outro dia, eu derrubei uma caneta, e decidi que a existência dela não valia a pena para mim, sabe? Eu só fingi que ela não existia mais, porque pegar coisas do chão dá muito trabalho. Eu quase escorreguei na caneta depois, mas...

Stiles.

- Oh, certo. Ah… então, lembra quando eu te falei que eu já estava em casa, são e salvo?

Sim, você mandou mensagem faz um tempo.

- Então, eu posso não ter… falado a completa verdade?

Stiles.

- Eu estou são e salvo! Eu só não estou em casa.

Onde você está? São quase onze horas, Stiles.

- Não são… - olhou a tela do celular. - Nossa, são mesmo. Eu estou no estacionamento da escola. O jipe não quer funcionar, vem me buscar?

Você está sozinho? - Stiles não gostou daquele tom.

- Kira e Malia estavam comigo até a agora. - o que não era totalmente mentira. Stiles tinha que alterar um pouquinho a verdade, ou Derek iria começar a dizer que Stiles já devia estar em casa, e blá blá blá. Não estava afim de levar mais uma bronca. - E eu tentei arrumar o jipe. Sabe o que eu acho que deveria acontecer? Eu acho que você precisa consertar ele de novo, que nem daquela vez, lembra? Sem camisa, e todo suado e sujo de graxa.

- Eu preciso é te prender em casa, isso sim. - Derek bufou. Stiles ouviu barulhos de portas abrindo e fechando. - Eu estou indo aí. Eu já estava preparado para dormir, sabia?

- Hmmm, o que você está usando?

Estou usando todo o autocontrole que eu tenho para não te bater quando eu chegar aí.

- Sexy.

Cala a boca.

- Não, eu me recuso a me calar. Tudo o que você faz é sexy, e o mundo precisa saber.

Você ainda não jantou, não é? Estava na biblioteca até agora?

- E ainda não terminei de pesquisar todos aqueles livros.

- Você não precisa fazer isso de uma vez.

- A gente tem que descobrir o que está acontecendo! Eu estou pensando na segurança de todos.

Menos na sua.

- Perder um jantar não vai me matar.

Você está sozinho em um estacionamento. Fica aí, okay? Eu já estou indo.

- Derek, eu estar sozinho é o que me faz estar seguro, o problema seria se eu não...

Sua voz morreu em sua garganta. Ouviu um barulho. Passos.

Alguma coisa estava estranha. Tinha certeza que estava ouvindo passos, mas não ali. Parecia… parecia que estavam longe. Longe demais para Stiles poder escutar. Estava silencioso, mas não devia estar. Até um segundo atrás, havia o barulho dos poucos carros que passavam, e outras coisas ao redor. Agora, a única coisa que Stiles podia ouvir era sua respiração, e alguém se aproximando. Era como se seus sentidos estivessem escolhendo algo para se focar.

Uma dor se espalhou por sua barriga, de um chute particularmente forte. O sentido de urgência o tomou assim que entendeu o que estava acontecendo. Era como quando Kate invadiu o hospital, ou como quando fora sequestrado. Os resquícios da raposa, a aura ainda dormente, o estava avisando sobre o perigo.

Estava em perigo. O bebê estava em perigo.

Stiles? - Derek o chamou, depois de momentos de silêncio. - Eu estou saindo do apartamento, está tudo bem?

- Derek… - sua voz não passava de um sussurro, mas Derek provavelmente ainda podia ouvi-lo. Stiles não arriscaria falar alto e chamar a atenção de quem, o o que, estivesse ali. - Eu acho… acho que tem alguém aqui.

Não conseguia ver ninguém por perto. Mas, se sua audição recém aguçada podia ser confiada, a pessoa que se aproximava ainda estava longe, e vinha em pequenos passos. Ainda tinha tempo para pensar. Ainda podia descobrir o que fazer.

Não conseguia explicar, mas sabia. Simplesmente sabia. Se sentia em um daqueles sonhos em que estava sendo perseguido, sabendo que seria pego, e sabendo que seria ruim.

O quê? - o alarme em sua voz fez Stiles segurar o fôlego. Com o quanto seu coração batia acelerado, sua respiração rápida saía pela boca. Devagar, tirou as pernas de cima do volante, se sentando ereto. - Stiles, onde você está? Está no jipe? Fique de cabeça baixa, espere a pessoa ir embora.

- Eu acho que… - abriu a porta devagar, tentando ser silencioso. A mão que segurava o celular no ouvido apertava o aparelho com força, como se ter a voz de Derek com ele o deixasse mais seguro.

- Stiles?

- Derek, eu acho… - sua voz estava quebradiça. - Eu acho que sabe onde eu estou. Eu acho que está vindo atrás de mim.

Colocou as pernas para fora do carro, e tentou se levantar. Um grunhido de dor escapou de sua garganta, e então estava sentado de novo. Seu corpo inteiro doía, os passos chegavam mais perto.

Ele te viu? Por que você…

- Derek, eu não consigo… - as palavras ficaram estranguladas em sua garganta, o pânico já apertando seu peito. - Eu não… eu não vou conseguir correr. Derek, eu não sei o que fazer, eu não...

Stiles, me escuta. - Derek ordenou. Todas as palavras apressadas e assustadas que Stiles estava prestes a dizer se calaram com a intensidade de seu som. Aquilo era sério, Stiles tinha que agir. - Você tem o revólver, não tem? Embaixo do banco.

Oh, Deus, o revólver. É claro, é claro. Tudo bem, tudo bem, Stiles podia fazer isso. Não estava indefeso, podia fazer isso. Derek estava chegando, só tinha que aguentar até lá.

- Tenho, eu tenho. - tentou se levantar de novo, usando a porta para se apoiar. A pessoa estava muito perto, agora. Stiles não precisaria de audição sobrenatural para ouvir seus pés contra o chão.

Desistiu de tentar se levantar. Ao invés disso, se ajoelhou no chão, deixando o celular no carro, e esticou a mão para baixo do banco. Stiles havia feito um tipo de suporte improvisado ali, para que a arma ficasse presa na parte debaixo do assento.

Tentou puxá-la, mas não conseguia tirá-la do encaixe. Os passos estavam tão altos, agora, soavam como marteladas em seu cérebro. Todos os seus instintos o diziam para fugir, mas não chegaria longe a pé. E principalmente não sem a arma. Seus movimentos apressados e desesperados não ajudavam a desencaixar o revólver do lugar.

Então ele viu, através do jipe, pela janela do banco do passageiro, viu a silhueta. Era um homem, apenas se podia ver seu contorno. Ele vinha devagar, devagar demais. Parecia quase estar esperando.

Queria que aquilo durasse. Se fosse um lobisomem, então estaria sentindo o medo e o pânico de Stiles. Se fosse… oh, Deus, era Theo. Só podia ser.

Com aquela realização, finalmente conseguiu tirar a arma. Imediatamente a destravou e colocou em posição.

Sabia onde Theo estava, podia vê-lo. O que significava que podia atirar.

Usando o jipe como apoio, se colocou de pé. Quase caiu de joelhos, tomado pela dor aguda em sua cintura para baixo. Mas estava cheio de adrenalina, tinha que servir para alguma coisa. Theo estava ameaçando seu bebê, não iria deixar.

Respirou fundo, o mais fundo que conseguiu com o quão erráticos eram seus batimentos. Deu um passo, grunhindo de dor. E depois outro, até não estar mais atrás do jipe. Até a silhueta de Theo estar bem a vista, a metros de si. Suas mãos estavam em posição, o revólver apontado para o peito do lobisomem. Balas não eram tão úteis contra eles, mas Stiles não confiava em sua mira para acertar sua cabeça, o único lugar verdadeiramente vulnerável.

Uma risada, e Theo parou no lugar. As mãos de Stiles tremiam, assim como sua respiração. Sentia algumas lágrimas pingarem de seu queixo, mesmo que não houvesse percebido elas escorrendo de seus olhos. Estava assustado, tão assustado. Todos os músculos de seu corpo estavam tensos.

Ele sabia. Sabia que Theo… ah, não era hora para isso. Reclamaria depois.

Deu um passo para trás. De novo, quase caindo de joelhos. Então, deu outro. A figura de Theo não se moveu. Stiles sentia os olhos dele em si como se queimasse.

Tão rápido quanto Theo se moveu, Stiles puxou o gatilho. O barulho da arma ecoou pelo quarteirão todo, na noite silenciosa. Theo caiu de joelhos, Stiles continuou atirando.

Seus ouvidos zumbiam com o barulho repentino dos disparos. Atirou quatro vezes. Não sabia quantas acertara, mas imobilizaria Theo por algum tempo, talvez o bastante para Derek chegar até ele. Theo estava com as mãos apoiadas no chão, o que queria dizer que os tiros não foram o suficiente para derrubá-lo. Não por muito tempo, de qualquer jeito.

Talvez a melhor resposta fosse continuar atirando, mas Stiles não estava pensando direito. Queria sair dali, era a única coisa que queria fazer.

O medo que sentia era quase irracional. Quer dizer, era um medo justificável, mas o pânico que tomou conta de seu corpo era rápido e desproporcional de mais. Tinha a impressão de que estava revivendo alguma coisa, mas não conseguia entender o quê.  

Não se lembrava da dor nas pernas. No momento, não se lembrava de nada. Seu corpo todo quase parecia dormente, a adrenalina tão alta em seu sistema. Tudo o que Stiles sabia era que estava se afastando em passos difíceis e desajeitados, mais rápido que uma simples caminhada, mas ainda devagar demais. Uma das mãos segurava a arma, e a outra apoiava sua barriga para conseguir se movimentar melhor.

Olhava para trás a cada três ou quatro passos. Estava quase na entrada da escola, quando viu que Theo havia se levantado, e corria em sua direção.

Ergueu a arma de novo, disparando mais três vezes. Aquele revólver tinha capacidade para doze balas, então Stiles ainda tinha… merda, quantas balas ainda tinha? Quantas já tinha usado? Não conseguia lembrar, não conseguia se concentrar.

Tentou abrir a porta principal. Estava fechada. É claro que estava fechada, Stiles havia visto o zelador trancar tudo. Mas que droga, Stiles, pensa!

Sua barriga doía, sentiu como se pudesse gritar. Era uma dor fantasma, um tipo de impressão digital. Podia senti-la por todo o corpo, e não sabia o que era.

Estava andando de novo, até a biblioteca. A porta da biblioteca se abria com o cartão, independente do horário. Theo também tinha um cartão, podia segui-lo, mas era o único lugar que Stiles podia ir.

Mal percebeu todo o caminho que fez até ali. Em algum momento, atirou de novo, mas não sabia se acertara o alvo. Não podia parar pra ver, não podia parar. Tinha que sair dali o mais rápido que seus pés inchados permitissem. Mesmo que seus joelhos não se movessem direito, e precisasse se apoiar na parede.

Chegou até a porta. Sua mão trêmula e frenética levou tempo demais para conseguir alcançar dentro de seu bolso. Sinceramente, estava surpreso por não ter quebrado o cartão da biblioteca ao meio.

Passou o cartão no leitor, e a porta se abriu. Stiles praticamente se jogou para dentro, caindo de joelhos no chão assim que a porta se fechou atrás de si. Apoiou as mãos no chão, baforadas de ar doloridas rasgavam sua garganta, soando como um chiado.

Nunca sentiu seu peito tão apertado. Não conseguia respirar. A falta de oxigênio em seu corpo fazia com que tudo doesse. Sua cabeça, seus músculos, seus membros chegavam a tremer com a fraqueza. Não sabia se era por ter corrido, ou se estava tendo um ataque de pânico, só sabia que tinha que se acalmar, porque tinha que se levantar de novo. Theo também tinha um cartão da biblioteca. Mesmo se não estivesse, Theo era um lobisomem, quebraria a porta.

Doía respirar. Uma pequena voz na cabeça de Stiles o lembrou que não podia realmente correr, já que o bebê pressionava seu diafragma. Falta de ar era um sintoma bem comum.

Uma batida forte na porta, do lado de fora, atrás de si. Theo estava ali.

Stiles rastejou. Por mais humilhante que fosse, era o único jeito que conseguiria chegar a algum lugar. Uma das mãos segurava sua barriga firmemente, enquanto usava o braço livre para se arrastar pelo chão. Usava a lateral de seu corpo, cuidando para não machucar o filho. A arma estava travada, presa em sua cintura na barra da calça.

Estava doendo. Sua barriga estava doendo. Por que estava doendo? Não, não, não, não podia…

A porta se abriu. Não foi derrubada, nem nada, apenas se abriu. Stiles estava esperando por isso, mas não significa que ficou menos aterrorizado. Já estava perto de uma das mesas, então apoiou as costas nela. Se sentou ereto, com os pés o mais firme possível no chão, e tirou a arma para apontá-la. Suas mãos ainda tremiam, tanto pela fraqueza, quanto pelo medo, mas fez o melhor que pôde para mirar em Theo.

- Uau. - disse seu perseguidor. - Quem diria que correr um pouquinho seria tanto esforço para você. Você tem asma, ou algo do tipo, cara?

Stiles piscou algumas vezes, o sangue pulsando alto em seus ouvidos. Ainda estava com a arma erguida, sem abaixar a guarda, mas alguma coisa estava errada. Quer dizer, várias coisas estavam erradas, mas…

- A arma foi inesperado. - o garoto continuou. - Mas foi erro meu. Eu devia ter imaginado que o filho de um xerife teria fácil acesso a um revólver.

Aquele… oh, Deus. Aquele não era Theo.

- Donovan. - o nome saiu quase como um sussurro.

- Oh, você se lembra de mim. - Donovan sorriu, encostando o corpo na parede, ao lado da entrada. Não havia se aproximado ainda, o que garantia a Stiles vários metros de distância. No momento, aquela distância era a única coisa impedindo Stiles de entrar em um completo ataque de pânico.

- Você… - sua voz morreu. Donovan estava coberto de sangue, o que significava que tinha se curado de todas as balas. Donovan era sobrenatural.

- Eu peguei isso aqui, aliás. - ele tirou algo do bolso, erguendo-o no ar para que Stiles pudesse ver. Era seu celular, que havia encontrado no jipe. - Seu namorado soava preocupado.

Então deixou o aparelho cair, e em um movimento bruto, o esmagou com a sola do sapato. Era uma demonstração de força, Stiles entendia, mas a primeira coisa que pensou foi: oh, lá se vai outro celular. A segunda coisa, foi a conclusão de que Donovan devia ser uma quimera. Se ele sempre houvesse sido sobrenatural, não teria sido pego pela polícia em primeiro lugar. Então devia ter sido transformado pelos cientistas depois que escapou pela segunda vez.

- Você quer alguns minutos para se recuperar? - Donovan debochou.

- Por quê? - Stiles retrucou. Sua garganta estava seca. - Você só gosta de matar pessoas em perfeita saúde?

- Matar você nesse seu estado deplorável seria considerado piedade. - balançou a cabeça. - E eu quero que você tenha forças, porque eu vou usar todo o tempo que eu tiver.

Então Donovan não sabia que Derek estava vindo. Interessante.

Ele não devia ser um lobisomem. Um lobisomem teria escutado a conversa enquanto Stiles ainda estava no jipe. Ou talvez Donovan só fosse um péssimo lobisomem. Mas, considerando que quimeras eram misturas de criaturas sobrenaturais, era provável que os cientistas tivessem sido mais criativos.

Stiles respirava melhor, agora, apesar de seu corpo inteiro ainda implorar por um descanso. Pensou na probabilidade de se levantar, e concluiu que era mínima. Talvez ainda pudesse se arrastar, mas na posição que estava tinha uma mira mais firme em Donovan do que meio deitado no chão. As balas não ajudariam muito, mas talvez Stiles conseguisse atingir a cabeça, dessa vez. Mesmo se ele se recuperasse de ter metade de seu cérebro explodido, Stiles ainda ganharia tempo.

Só o que precisava era tempo. Derek estava vindo, repetia para si mesmo, como um mantra.

- Então você realmente veio atrás de mim, huh? - tossiu para limpar sua voz. Seus braços tremiam com a força que fazia para manter a arma no lugar. - Você deve realmente odiar policiais que fazem o trabalho deles. Como eles ousam te mandar para a prisão por… o que foi mesmo? Invasão e roubo? Verdadeiros monstros, realmente.

Donovan riu. Muito bom, isso era bom. Precisava ganhar tempo, era só isso. Ficaria bem. Miguel ficaria bem. E quando Derek estivesse ali, chamaria o feiticeiro, e o feiticeiro tomaria conta de tudo. Miguel ficaria bem.

- Você realmente não sabe quem eu sou, não é, Stiles?

Oh, alerta de monólogo. Graças a Deus, Donovan faria um monólogo. Stiles se arrastou mais para trás, até poder usar uma cadeira para apoiar seus braços cansados. A dor fazia seus olhos lacrimejarem. Em todos os seus músculos, no peito, e…

Era estranho. Agora que não estava correndo ou lutando para conseguir respirar, conseguia analisar melhor o que estava sentindo. Sua barriga não estava doendo, não era… não era dor. Era mais uma… sensação. E era estranha, algo que Stiles não se lembrava de haver sentido antes.

Em seus pulsos, também. Sentia aquilo em seus pulsos. Sentia como se algo os estivesse prendendo juntos, mas não havia nada. Não usava um relógio, ou qualquer tipo de pulseira. Suas mãos estavam próximas, ambas segurando a arma que apontava para Donovan, mas não estavam amarradas juntas. Não havia nada o prendendo, mas sentia como se desesperadamente precisasse se soltar. Como se fosse questão de vida ou morte. Não sua vida, mas a do filho.

- Talvez você tenha ouvido falar do meu pai. - Donovan continuou, quando Stiles não respondeu. - Oficial Donatti, seu pai te falou sobre ele?

Não. Stiles não tinha a menor ideia do que ele estava falando. Isso devia ser óbvio em seus expressão, porque o tom de Donovan mudou de um casual forçado, para a verdadeira raiva que sentia.

- Xerife Stilinski nunca te contou sobre a vez, quando ele ainda era um policial, e o parceiro dele foi pego em um tiroteio?

Oh, ótimo. Era um monólogo de vingança, então. Que original. Stiles precisou conter a vontade de revirar os olhos.

- Ele te contou que uma bala atravessou a vértebra T-9 do meu pai? - Donovan parou de se apoiar na parede, assumindo uma postura mais rígida e ameaçadora. Stiles quis se arrastar para trás de novo, mas escolheu manter a posição e a mira da arma. - Passou direto pela coluna dele, sabe o que isso significa?

Paralisia.

- Significa que tudo abaixo da cintura dele é inútil. E não só as pernas. - disse aquelas palavras como se as cuspisse. - Então você imagina o apelo que virar um alcoólatra imbecil teve para ele.

- Sério, essa é a sua desculpa? - Stiles não conseguiu se conter. - Porque meu pai também bebia. E o pai de um amigo meu trancava ele em um freezer a noite inteira, então suas desculpas para ter ficado assim não são muito boas, não.

- Seu pai te contou que ele estava lá? - Donovan deu um passo para frente, voz tremendo de raiva. Stiles firmou seu aperto no revólver, se preparando para usá-lo. - Ele te contou que estava sentado no carro, chamando reforços, enquanto o meu pai foi sozinho? Ou será que pais covardes não contam para seus filhos covardes sobre as merdas que fazem?!

- Fica aí. - disse Stiles, em um tom de aviso. - Se você der mais um passo…

- Você acha que isso vai me parar? Você ainda não percebeu que eu não sou como você?

- Eles te pegaram. - onde diabos estava Derek? Stiles estava ficando sem ideias para distração. - Os cientistas.

- Cientistas. - Donovan pareceu ponderar por um momento. - Ele os chamou de doutores.

Stiles franziu as sobrancelhas.

- “Ele” quem?

- Os doutores me deram um dom. - a quimera o ignorou. -  Eu sou bem mais forte, agora. Suas balas não vão poder te proteger.

- Eu adoraria ver o quão bem você se recupera de um crânio estourado. Chega mais perto para a gente poder testar.

- Com prazer.

Oh, merda. Por que diabos Stiles disse aquilo?

Atirou, assim que viu Donovan se mover. O barulho ecoou pelas paredes, parecendo ficar três vezes mais alto. Não viu aonde a bala foi parar, mas não atingiu Donovan. Claro, com suas mãos tremendo como se estivesse congelando. Seus olhos se encheram de água, dificultando que visse seu alvo.

Donovan havia se abaixado ao primeiro tiro, mas decidiu que chegar até Stiles o mais rápido possível era a melhor opção. Stiles atirou mais duas vezes, uma vez pegando de raspão no braço de Donovan, mas mal o afetando, e a segunda vez em seu estômago.

O problema, era que Donovan já estava tão próximo, que o tiro em seu estômago o fez cair bem a frente de Stiles.

Stiles gritou, se arrastando para trás por puro instinto. Levou instantes valiosos para pensar em atirar de novo, a cabeça de Donovan sendo um alvo tão fácil.

Menos de um segundo, foi essa a vantagem que Donovan teve. Foi o pequeno momento de terror e desespero que Stiles sentiu que o impediu de apontar a arma mais rápido. Foi o tempo que Donovan usou para agarrar o braço de Stiles, fazendo com que a arma apontasse para qualquer outro lugar, e o deixasse intacto.

Mais nenhum tiro se seguiu. Ao invés disso, o som que ecoava pela biblioteca era o som dos pequenos cliques do gatilho. O cartucho estava vazio. Acabou.

Donovan riu, contrastando com os grunhidos de agonia e desespero de Stiles enquanto tentava se soltar. A quimera era obviamente mais forte. Stiles sentia como se seu pulso pudesse quebrar a qualquer momento.

Lágrimas pingaram de seu queixo. Iria morrer. Seu bebê iria morrer. Sentia como se já estivesse.

- Espera, espera, espera… não... - não se importava por estar implorando. Não se importava com nada. - Não, não, por favor, por favor, por favor, não… não faz isso, por favor…

- Nada sarcástico para dizer agora, não é? - Stiles mal o ouviu com o som de suas próprias súplicas.

- Você não entende, espera, por favor… por favor não faz isso, por favor...

- Stiles. Stiles! - Donovan rugiu. Suas palavras morreram, mas não seus soluços agoniados. - Eu não vou te matar.

A quimera ergueu a mão livre, mostrando sua palma. Com horror, Stiles viu a mutação da pele. Viu ela se abrir, mas não para mostrar músculos e nervos, mas sim dentes. Afiados, e alinhados em um círculo perfeito.

- Ainda não. - Donovan completou.

Em um instante, o braço de Stiles explodiu em uma dor excruciante, com cada um dos dentes perfurando sua pele. Seu sangue pingou no chão, enquanto seus gritos preenchiam o ar.

E então, uma explosão. Uma explosão de energia.

Donovan foi jogado para longe. Suas costas bateram contra a parede, no lado oposto da entrada, no fundo da biblioteca. As mesas e cadeiras perto de Stiles também foram empurradas para longe. O ar se movia furiosamente a sua volta, como se criasse um tornado.

De repente, estava flutuando. Seus pés a alguns centímetros acima do chão. Não se lembrava de como chegara ali, não estava pensando. Sua visão estava em tons de vermelho, e a única coisa que passava por sua cabeça era que havia uma ameaça. Tinha que se proteger.

Não. Tinha que matar.

Esticou o braço, sua mão aberta apontava para Donovan.

As coisas começaram a se mover. Cadeiras, mesas, livros. Objetos tremiam, e então eram arrancados de seu lugar e atirados em Donovan. Havia gritos, e o vento forte fazia as roupas e o cabelo de Stiles balançar violentamente para todos os lados. Em seu braço esticado, percebeu um brilho envolvendo seu corpo. Um campo de energia que se movia freneticamente sobre sua pele. Era quase como fogo. Brutal e veloz, com o único propósito de queimar.

Em determinado momento, seu braço voltou para sua posição ao lado de seu corpo. O queixo de Stiles se ergueu, olhando para cima sem realmente ver nada. Nada além de energia. Nada além da sensação. O vento, a força que tomou conta de seu corpo de repente. Se sentia tão bem, como nunca antes.

Alguma coisa estava acontecendo. Alguém estava gritando. Uma voz familiar.

Era seu nome, alguém chamava seu nome.

Sentiu um toque em sua mão, dedos fortes e familiares envolvendo seu braço. Foi como acordar quando se estava quase caindo no sono. Aquele toque o trouxe de volta. Podia se focar nas sensações físicas, ao invés da energia pura de antes. Seus pés tocaram o chão, a gravidade o trazendo de volta alguns centímetros até o solo. Seu outro braço também estava sendo segurado. Stiles sentiu o vento se dissipar.

Sugou o ar com a boca. Sua visão ficou escura, o vermelho de antes se dissolvendo nas sombras. Aos poucos, foi se ajustando à pouca luz. Quase nenhuma luz, na verdade, apenas as da rua que entravam na biblioteca pelas janelas e pela porta aberta.

A biblioteca. Estava na biblioteca. E… e o que…?

- Stiles. - foi chamado, de novo. Estava olhando o tempo todo, mas finalmente conseguiu entender o que estava vendo. Derek estava ali, era quem o segurava. As mãos do beta eram firmes em seus cotovelos, e seu rosto estava a centímetros do de Stiles.

Seus olhos brilhavam em azul, mas voltaram ao normal ao ver que a situação estava mais controlada. Normais, porém ainda assustados e arregalados. Stiles alternava o olhar entre eles, como se tivessem a resposta para o que estava acontecendo. O que estava acontecendo? Por que…? O que…?

- Derek… - o nome saiu de seus lábios como um instinto, mal percebeu que o dizia. Então estava caindo.

A fraqueza e a dor em seus músculos voltou de uma vez. Seus joelhos teriam se chocado contra o chão duro, se Derek não o segurasse tão firme. O beta se ajoelhou no chão com ele, apertando Stiles contra seu peito. Logo Stiles estava sentindo a sensação de alívio e entorpecência de ter sua dor subindo pelas veias negras nos braços do namorado.

Agora conseguia pensar. Derek estava aqui, estava seguro. Sabia que estava mas… mas onde… onde estava Donovan?

Derek ainda o chamou de novo, provavelmente preocupado com o aumento de seus batimentos. Lentamente, Stiles virou o rosto para trás, olhando por cima de seu ombro. Para o último lugar em que lembrava ter visto Donovan. Antes de… antes do quê? Stiles não tinha certeza. Não tinha certeza do que havia acontecido.

Arfou, o terror tomando conta de seu corpo mais uma vez.

Donovan estava ali, a alguns metros de si. Estava imóvel, morto, empalado. O andaime, que estava sendo usado na reforma da biblioteca, estava bem atrás dele. Um de seus canos fora arrancado, e atravessava o corpo de Donovan. Passava por seu peito, saía no meio de suas costas, e se cravava no chão. Fazia com que ficasse suspenso, mesmo que as pontas de seus pés tocassem o solo. Seus braços pendiam inúteis ao lado do corpo, assim como sua cabeça de seu pescoço. No chão, o sangue que escorria pelo cano lentamente formava uma poça cada vez maior.

Stiles podia ver seu rosto, caindo para o lado, sobre o ombro. Sangue havia escorrido por queixo, e seus olhos desfocados permaneciam abertos. Estava morto. Estava mesmo morto.

Melhor assim.

- Não olha. - Derek trouxe o rosto de Stiles volta para seu peito. Stiles não resistiu, não teria forças para resistir nem se quisesse. - Você está bem, Stiles. Está tudo bem.

Havia matado Donovan, percebeu, com horror. Se sentia errado. Sentia como se tudo estivesse errado, mas também se sentia bem. A estranha familiaridade da situação era tão marcante, mesmo sob todo o choque.

Havia matado. E era melhor assim.

 


Notas Finais


como eu disse, eu separei esse capitulo no meio, eu nn sei pq eu demorei mais pra escrever esse, acho q me deu um bloqueio temporario, sorry husahdiusahdiusahdia
eu esperei tanto tempo por esse capitulo hsuahsaushaushauh aiai, agr a quinta temporada começa de vdd, hihihiiiiii <3
comentem! me digam o que acharam :3


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