História Trust me - Expectativas

*** Dia 20 de Maio ***

- Eu não aguento mais. - Stiles massageava as laterais da cabeça. Os cotovelos apoiados na mesa, a perna tremendo contra o chão. Esforçava-se para focar a visão nas palavras do livro de biologia a sua frente. - Eu. Não. Aguento. Mais. Por que a última semana de aula é sempre a mais lenta?

- Não é necessariamente a última semana. - Isaac respondeu, sem tirar o olhar do próprio livro. - Só se você passar direto em todas as matérias. E a gente ainda tem que vir segunda para checar.

- Oh, obrigado, Isaac. Isso ajuda bastante, e não piora nem um pouco a minha ansiedade.

- Tem razão, eu não devia te deixar mais ansioso. Você já está fedendo o suficiente.

- Dá pra vocês pararem? - Lydia bufou, virando uma página de seu caderno. - Estamos em uma biblioteca, tem gente tentando estudar.

- Sabe, - Stiles ergueu o olhar para a ruiva. - você dizer isso é quase insultante. Por que diabos você está estudando? Você já sabe até a matéria do ano que vem.

- Talvez seja um disfarce. - Kira sugeriu. - Ela deve ser uma super espiã de inteligência superior da CIA. E as mensagens vem codificadas nos livros da escola.

- Isso explicaria muita coisa. - Scott assentiu. - Aposto que Lydia nem é mesmo o nome real dela.

- O nome dela de verdade é Tasha Rasputín. - Stiles sentiu o peito se encher de inspiração. - Ela foi recrutada pelo governo russo com quatro anos de idade para um programa de crianças super dotadas. Eles a transformaram em uma super agente secreta. Ela quase derrubou o governo americano aos doze, mas a CIA a fez uma oferta melhor, e ela mudou de lado. Desde então ela vem se escondendo...

- Às vezes, eu não suporto vocês. - Lydia revirou os olhos, escondendo um pequeno sorriso. - Nenhum de nós devia estar preocupado com esse teste. O professor passou aquele trabalho extra na sala, lembra?

- Mesmo assim. - o garoto deu de ombros. - Eu quero ter certeza. Parece que eu não assisti nenhuma aula direito nos últimos meses.

- Se te serve de consolo, - Scott colocou a mão no ombro do amigo. - você nunca prestou atenção nas aulas, não só nesses últimos meses.

- Você costumava ser tão prestativo, Scott. Olha o que a influência do Isaac está fazendo em você.

- Eu sou prestativo! - Isaac protestou. - Aliás, eu sou tão prestativo, que eu arrumei outro trabalho.

- Vai ser babá de novo? - Kira perguntou.

- Deus me livre, não. Uns caras precisavam de gente para carregar umas cargas pesadas para um caminhão. Alguma coisa assim.

- É perfeito pra você. - disse Stiles. - Cuidado para não exibir demais a sua super força.

- Ele tem razão. - Scott concordou. - Você toma cuidado, e eu vou ficar em casa. Sozinho. O dia todo. De novo.

- Aí, meu Deus. - Isaac revirou os olhos.

- Qual o drama, agora? - Stiles fechou seu livro, desistindo oficialmente de estudar.

- Ontem, eu passei o dia na casa do Nathan. E o Scott não parou de falar até agora que eu abandonei ele.

- Eu não disse que você me abandonou. - o Alpha se defendeu. - Só que você me tocou por outra pessoa.

Uma onda de pequenas risadas e reclamações passou pela mesa. Isaac apenas olhou para os amigos, com as palmas das mãos apontadas para cima, com uma expressão de "entendem o que eu estou dizendo?".

- Scott, - disse Stiles. - você precisa trabalhar a sua carência.

- Que tal eu ir na sua casa, hoje? A gente pode jogar videogame.

- Eu disse para o Derek que eu ia para o loft, desculpa.

- Okay. Então agora são duas pessoas que me abandonaram. Quem é o próximo? Lydia?

- Eu vou ajudar o Parrish. - a ruiva explicou, com uma expressão de dó. - Estamos tentando descobrir qual criatura sobrenatural ele é.

- Aham. - Stiles falou, cético. - E vocês têm que se encontrar todos os dias para fazer pesquisa?

- A gente não está se encontrando todos os dias.

- Okay, - Scott voltou a atenção para si. - então são três. Kira? Quer ser a quarta? Relaxa, eu nem vou mais levar para o lado pessoal, já estou acostumado.

- Ah... - a Kitsune pensou por alguns momentos. - Você pode vir em casa, se quiser. A Malia vai estar lá. Hoje a gente vai...

- Scott, você não pode ir junto! - Isaac exclamou. - Você vai atrapalhar!

- Ah, entendi. - Scott cruzou os braços. - Então todo mundo vai ficar com os respectivos pares românticos, menos eu. Hoje não é meu dia.

- E eu achei que eu que era dramático. - Stiles murmurou.

- A Malia não é meu par romântico! - a garota estava levemente vermelha. - Você pode vir comigo, Scott. A gente só vai estudar.

- Aham. - Isaac assentiu. - Igual a Lydia e o Parrish.

O sinal bateu, abafando a exclamação de dor do loiro quando Lydia lhe deu um tapa.

***

- Então, - Scott tirou o capacete, descendo da moto ao mesmo tempo que Kira saía do carro, ambos estacionados em frente à casa da garota. - o que vocês estão estudando?

- Vamos terminar a Idade Média hoje. - ela explicou, já andando em direção à porta. - Depois que começa a ficar complicado. 

- Eu gosto de história. - sorriu. - Acho que vai ser divertido. 

Assim que entraram, foram abordados por uma Malia de braços cruzados e expressão irritada. 

- Por que você está aqui? - ela praticamente fuzilava o garoto com os olhos. 

- Ah... - Scott deu um passo para trás, levemente intimidado. - Eu vim junto. 

- Pra quê?

- Pra participar da aula. 

- Algum problema? - Kira perguntou, em um tom tão doce que pareceu desarmar os ataques de Malia. 

A beta bufou, jogando os braços no ar como se desistisse de tudo em sua vida. 

- Não. - resmungou, de má vontade. - Não tem problema. Anda, vamos estudar. Com o Scott. 

*** Dia 21 de Maio ***

- Hey. - Stiles abordou Scott, que pegava seus livros no armário da escola. - Como foi com a Kira ontem?

O Alpha parou tudo o que estava fazendo para lançar um olhar de exasperação e cansaço para o amigo. 

- Nem me fala. - voltou a mexer no armário. - Eu nunca mais cometo esse erro.

- Por quê? O que foi tão ruim?

- Não foi ruim, foi péssimo. Você lembra... - suspirou. - Você lembra que antes de você e o Derek ficarem juntos, eu falei que dava para sentir que vocês dois se gostavam? Tipo, dava pra sentir o cheiro?

- Lembro. É assim com elas?

- Ah, não. Não, não. - fechou o armário. - É muito pior. 

- Mentira. - Stiles sorriu perante a indignação do amigo. - Pior que eu e o Derek?

- Pior.

- Pior que eu? - indicou o próprio peito com o dedão. - Eu devo estar sempre cheirando. Tudo o que o Derek faz me deixa excitado. Ele cozinha, eu fico excitado. Ele cruza os braços, eu fico excitado. Ele vira de costas...

- É, é, eu sei. - levantou uma das mãos para interromper. - Acredite em mim, eu sei. E elas são piores. 

- Como?

- Porque pelo menos você e o Derek eram mais confortáveis com isso, sabe? A Kira fica o tempo todo tentando achar um equilíbrio entre prestar atenção em tudo o que a Malia faz, e fingir que não está prestando atenção em tudo o que a Malia faz. E a Malia nem tenta disfarçar, acho que ela não vê motivo para isso. 

- Uau. 

- Aham. E sem falar que a Malia queria me matar por eu estar lá. 

- A gente te avisou que você não devia ficar entre as duas. Tem um nome para isso, você sabe, né?

- Ficar de vela?

- Também, mas eu ia dizer empata-foda. 

- Justo. 

- Dá próxima vez, você vem pra minha casa, okay?

- Ah, vai abandonar o Derek?

- Eu vou pra casa dele depois que você for embora. - deu de ombros. - Eu ando dormindo lá quase todos os dias agora.

- E seu pai não reclama? Se fosse minha mãe, ia dizer "mas você não tem casa não?".

- Parece que ele é quem não tem casa.

- Como assim?

- Ele está todos os dias na delegacia. Tem esse novo caso de drogas que eles todos estão trabalhando que é enorme.

- Um caso de drogas? É comum para eles, não é?

- É, mas você não tem noção do quanto é grande. É no país inteiro. Esses caras estão sendo perseguidos há anos. A sede muda de cidade a cada seis meses, mais ou menos. Agora estão em Beacon Hills. Estão tentando encontrá-los antes que se mudem de novo.

- Uau. E você sabe disso tudo porque...?

- Porque eu sei sobre todos os casos do meu pai, é claro.

- Mas você não vai se envolver nesse, né? Parece péssimo.

- Eu já pensei nisso. Melhor não arriscar. Sabe, por causa do...

- Eu sei. - sorriu. - Stiles Stilinski sendo responsável. Não achei que veria esse dia chegar.

- Quer saber, você está desconvidado de passar o dia na minha casa.

- Eu não preciso de convite. - deu as costas ao amigo, ainda rindo. - Vem, vamos para a sala.

- Não quer passar e buscar o Isaac? - apontou mais para frente do corredor, onde o loiro conversava com Nathan, que vasculhava o próprio armário. 

- Tanto faz. - deu de ombros.

- Aham. - os dois começaram a andar, dando voltas nos outros adolescentes no corredor.

- O quê? Eu já superei isso, fala sério. 

- Aham. 

- O Nathan tá sempre andando com a gente agora, eu acho ele super legal. 

- A-ham.

- Stiles. 

- Eu também acho ele super legal. - sorriu. - Ele não merece todo o seu ódio. 

- Eu não odeio ele. 

- Aham. 

- Tá bom, ele me irrita um pouco. 

- Um pouco?

- É que... - espremeu os lábios, pensativo. - Quando eu estou com os dois, é meio difícil de acompanhar. Eles começam a falar de coisas que aconteceram com eles, ou piadas internas. Eu fico meio de lado. 

- Mas não é intencional, Scott. Deve ser a mesma coisa com nós dois. 

- Como assim?

- A gente se conhece há mais tempo, a gente tem outro jeito de conversar. Quando outras pessoas estão com a gente, também devem estranhar. 

- Faz sentido. Ainda me irrita. 

- Você vai superar. - estavam perto o suficiente para que Stiles pudesse ouvir a conversa de Isaac e Nathan. Ele disse uma última frase ao amigo antes de que os dois emergissem na interação alheia. - Seja pleno. 

- Eu estou dizendo: - Isaac falava enquanto os dois se aproximavam. - Batata frita e sorvete. Você tem que tentar algum dia.

- Eu não confio. - Nathan tinha os braços cruzados em uma pose firme. - Lembra quando você disse que mostarda e...

- Eu estava sendo sarcástico! - suspirou, frustrado. - Não é culpa minha se você é lerdo.

- Você fez de propósito!

- Eu não... Scott! - Isaac se virou para trás, assustando um pouco os amigos. - Fala pra ele.

- Ah... - o Alpha franziu as sobrancelhas.

- Batata frita e sorvete não é uma delícia?

- Ah! É. - sorriu e assentiu. - Pior que é verdade.

- Credo. - Stiles fez uma careta. - É isso o que vocês dois comem?

- Fica gostoso, estou dizendo! - Isaac fechou o armário. - Quando a gente vai naquela lanchonete depois da escola, eu peço as batatas, ele pede milkshake.

- Aham. - Scott assentiu. 

- Okay. - Nathan ergueu as mãos, se rendendo. - No Scott eu acredito. Ele não condenaria uma pessoa a fazer algo assim.

- Como você é dramático. - o loiro revirou os olhos.

- Batata frita e sorvete custam dinheiro, sabia?

- Algum dia...- Scott começou, mas Isaac o interrompeu sem querer.

- Falando nisso, Scott, eu não vou voltar com você hoje de novo.

- De novo?

- Aqueles caras que eu ajudei a carregar o caminhão, precisam de ajuda em outro lugar hoje. 

- Você tem muita sorte. Faz todo o sentido pra você. - disse Nathan, então se virou para os outros dois garotos. - Pode não parecer, mas o Isaac é tipo, muito forte. O Scott deve saber.

Stiles se virou para o amigo e tentou não rir da expressão de "Saber? Saber o quê? Saber que o Isaac é um lobisomem e tem super força e podia levantar um carro se quisesse? Saber disso? Não sei de nada." que ele portava. Parecia se esforçar tanto para formular uma resposta, mas o namorado o salvou do problema:

- Como assim "não parece"? - a voz do loiro adquiriu um tom indignado. Apontou para si mesmo. - Você já viu o meu tanquinho?

- Ah, para, vai. - o menor revirou os olhos. - Você parece forte? Sim. Forte o suficiente para levantar uma geladeira? Nope.

- Ele fez o quê, agora? - Scott ergueu as sobrancelhas.

- Por que você levantou uma geladeira? - Stiles questionou.

- Ah, foi pra me ajudar. - Nathan explicou. - Eu derrubei açúcar, não tinha como varrer lá embaixo. Se começasse a juntar barata na cozinha, minha mãe ia me...

- Enfim. - Isaac interrompeu, forçando uma risada. - A moral é: eu sou muito forte. Olha os meus músculos.

- Aham. - Stiles concordou. - O único músculo que você não dá atenção é o cérebro.

- Wow! - Nathan abriu um sorriso, ao mesmo tempo que arregalava os olhos. - Caramba! Stiles, eu te venero.

- Idiota. - Isaac bufou. O sinal da escola interrompeu a conversa. Enquanto todos ainda riam, o loiro se desencostou dos armários e começou a andar para longe. - Vocês são todos idiotas!

***

No intervalo, Scott e Isaac foram para a biblioteca. Teriam uma prova na próxima aula, uma no dia seguinte, e então, finalmente acabaria. Se fossem bem, nem mesmo precisariam ir à escola na próxima semana. Isaac não via a hora. Deus, como precisava de férias. 

Scott queria se sentar nas mesas do segundo andar, mas Isaac avistou Nathan no fundo da biblioteca. O amigo estava estudando sozinho, com fones de ouvido, parecia estar cantando baixinho. 

- A gente não vai atrapalhar? - Scott perguntou enquanto andavam na direção do garoto. 

- Ele não precisa estudar, só está sendo dramático. 

Nathan não notou os garotos se aproximando até que estivesse literalmente sentados junto a ele. Estava realmente concentrado. 

- Can't you see that it's just raining? There ain't no need to go outside... - ele interrompeu seu cantarolar baixinho, erguendo a cabeça para os amigos. - Hey, não vi vocês chegarem. 

- A gente percebeu. - Isaac sorriu e puxou uma cadeira para si. - Você está...

- Espera. - Scott se sentou também. - Você estava cantando.

- Ah... - ele pareceu envergonhado por um momento. - É, eu... eu canto quanto estou nervoso, e essa prova...

- Não, não. O que eu quero dizer é... você está ouvindo Banana Pancakes?

- Você conhece? - o rosto do menor se iluminou no mesmo instante. - Ninguém nunca conhece as músicas que eu gosto!

- Eu sei! - o Alpha abriu um sorriso de orelha a orelha. - Eu amo Jack Johnson! As letras dele são tão...

- Ah, não. - Isaac se lamentou. - Quais as chances de vocês dois gostarem dos mesmos artistas que ninguém conhece?

- Nós dois temos cultura, Isaac. - Nathan ergueu o queixo. - Era de se esperar. Você conhece Vance Joy?

- Claro que eu conheço! Ele é incrível!

- Uau. - Isaac sorriu de lado. - Eu não achei que ia acontecer tão cedo, mas parabéns, Nathan. Você fez o Scott gostar de você. 

- Cala a boca. - o menor nem mesmo lhe dignou o olhar. - Você já ouviu Rhys Lewis?

- Rhys Lewis... - O Alpha pensou por um momento. - Não, eu acho que não. 

- Migo, você tem que ouvir. - pegou seu celular e desbloqueou a tela. - Ele é maravilhoso, sério. 

- Você tem que parar de falar "migo". - o loiro reclamou. - Já falei que irrita. 

- E eu já falei que você não manda em mim. - tirou os fones de ouvido e os estendeu para Scott. - Aqui, ouve.

Scott estava prestes a pôr os foninhos quando uma quarta pessoa apareceu atrás dele. Isaac se surpreendeu ao ver Liam ali, fazia um tempo que o beta mais novo não falava com eles. Aquilo não podia ser bom sinal, certo? O que é que estava acontecendo agora?

- Liam, hey. - o Alpha cumprimentou. - Está tudo bem?

Claramente, não estava. O beta apertava as mãos juntas na frente do estômago, e mudava o peso do corpo de um pé para o outro de maneira nervosa. Ele olhou de Scott para Nathan, para Isaac e de volta para Nathan. Parecia estar tentando descobrir um enigma. 

- Eu só... - engoliu em seco, voltando o olhar para McCall. - Eu queria perguntar sobre... sabe, semana que vem. 

- Semana que vem?

- É, sabe, terça-feira. 

- Oh. - Isaac entendeu primeiro. - A gente nem tinha pensado nisso. Terça-feira, Scott. 

O moreno continuou com um olhar vazio, esperando por mais informação. 

- Ah... - Nathan se ajeitou na cadeira. - Vocês querem... privacidade?

O loiro bufou. 

- Terça, Scott. - insistiu. - Lembra? Vai ser um dia bem cheio. 

O Alpha finalmente entendeu, arregalando os olhos. 

- E agora vocês estão falando em código! - Nathan apontou. - Okay, eu vou ali na outra mesa. Aí vocês podem...

- Não, não! - Scott se levantou. - Você estava aqui primeiro, pode ficar. A gente vai pra lá.

Os três lobisomens se afastaram um pouco. Nathan não pareceu irritado, ou curioso para saber do que estavam falando, nada do tipo. Ele apenas colocou os fones novamente e voltou a estudar. Isaac sabia que seria assim. Nathan sempre fez um esforço extra para respeitar limites pessoais. 

Quando estavam longe de todos, escondidos entre as prateleiras de livros, Liam voltou a falar:

- O que vamos fazer? - olhava de Isaac para Scott como se tivessem uma solução mágica. - Na última lua cheia, eu quase matei o Stiles. Será que o Derek pode me ajudar de novo?

- O problema é que não é só você, dessa vez. - Isaac cruzou os braços. - Vai ser a primeira lua cheia da Malia. 

- Vai mesmo. - Scott suspirou. - Precisamos de algum lugar para conter vocês dois. 

- Na casa da vó da Lydia. - Liam sugeriu. - Como dá última vez. 

- É uma ideia. Precisamos falar com ela. E com o Derek, podíamos usar a ajuda extra. 

- É. - Isaac deixou a cabeça cair para trás, como se estivesse cansado dessa vida. - Vai ser um saco. 

*** Dia 22 de Maio ***

- Alguma dúvida nessa parte? - Kira perguntou assim que terminou sua explicação. Estavam na mesa de jantar da casa da garota, já estavam estudando há pelo menos uma hora.

- Só uma: - Malia bufou, virando a página do livro. - Por que todo mundo na idade moderna era idiota? Achei que eles iriam melhorar depois da idade média.

- Eles até melhoram. - sorriu de lado. - Mas é muito, muito lentamente. Ainda estamos melhorando.

- Eu meio que estou ficando decepcionada.

- É normal. - olhou para os lados. Onde diabos seus pais haviam se metido? - Ah... você quer comer alguma coisa antes de a gente continuar? Ou beber água, sei lá.

- Acho que não, mas aproveitando que estamos em uma pausa, - ela se esticou até alcançar a mochila no chão. - eu trouxe uma coisa pra você.

- Pra mim? - Kira piscou, surpresa.

Malia trouxe a bolsa até seu colo e abriu o zíper. A Kitsune havia notado que a mochila estava estranhamente estufada, como se carregasse uma bola de praia. Ela só pôde arregalar os olhos enquanto a beta mergulhava ambas as mãos até o fundo e puxava um objeto azul grande e redondo, do tamanho de suas cabeças, com um suporte de plástico.

O queixo da garota caiu. Era um globo. Um globo terrestre. Com os nomes dos países, mares, oceanos, tudo. Malia o deixou na mesa, dando um leve empurrão para que girasse.

- Wow. - Kira abriu um sorriso espantado. - Onde você...

- Eu comprei. - a beta deu de ombros. - Outro dia você disse que sempre quis um.

- Você está me dando ele?

- É, quer dizer, - mordeu o lábio. - assim a gente pode usar. Você pode explicar apontando os países, sabe. Vai ficar melhor pra gente estudar.

- Uau, é... é verdade. - assentiu, girando o globo em torno de seu eixo. - Você pensou em tudo. É uma boa ideia.

- Que bom que gostou. - Malia colocou a mão sobre a África, seus dedos incentivavam a esfera a se mover, assim como os de Kira. - Eu não tinha certeza.

- Eu gosto. - seu rosto esquentou. - D-do presente. Eu gosto do presente. Muito obrigada. Você não precisava ter comprado nada.

- Meu pai fica me dando dinheiro. E eu não faço muita coisa, então...

Alguns segundos de silêncio se seguiram. O globo dava voltas e voltas entre as duas. A Kitsune mirava os países aparecerem e desaparecerem de seu campo de visão, tentando disfarçar a sensação da pele formigando sob o olhar fixo de Malia. A beta não tirou os olhos da outra por um segundo, como se analisasse uma obra de arte.

Kira pensou que podia aguentar até a outra desviar o olhar, mas não esperava que Malia juntasse suas mãos sobre a Austrália, parando o globo no lugar. Seu coração batia tão rápido que até mesmo a asiática podia ouvir.

Teve que se virar para a outra, então. Quando seus olhares se cruzaram, foi quase como um transe. Os olhos de Malia eram lindos. Seus cabelos compridos caiam aos lados do rosto. Kira queria tocá-los, colocá-los atrás das orelhas da garota, para que nada impedisse sua visão.

Prendeu a respiração involuntariamente quando Malia se aproximou. Mal percebeu o que estava acontecendo, apenas se deu conta que os lábios dela estavam sobre os seus, firmes e fechados, completamente desajeitados. Como se não soubesse o que estava fazendo.

- Wow! - Kira se afastou, com os olhos arregalados. - O que você está fazendo?!

- Te beijando. - Malia franziu as sobrancelhas, confusa com a pergunta. - Não... você não entendeu?

- Não, mas... - escondeu o rosto nas mãos, esfregando a testa. Sentia que estava vermelha até o pescoço. - Malia, não... não é isso. Por que fez isso?!

- Porque você gosta de mim. - era impressionante como a voz da garota conseguia se manter em um tom constante.

- Eu não disse isso! - Kira cruzou os braços, tentando se proteger.

- Não precisa, eu sinto essas coisas, lembra? O Scott me ensinou a captar os sinais quím...

- Aí, meu Deus! - olhou para os lados, tentando pensar em um modo para se salvar. - Não é assim que funciona!

- Mas o Scott...

- Não, Malia. Você não pode só ir me beijando.

- Mas você...

- Não importa o que você acha que eu sinto, você não pode só... uh. - respirou fundo. Tudo bem, estava tudo bem. Não era a coisa mais embaraçosa que já havia acontecido. - Não funciona assim, tem que ter toda uma coisa... quer dizer, você não pode só me atacar!

- Eu não te ataquei!

- Atacou sim!

- Tá bom, então eu pergunto: vamos nos beijar?

- Ai, meu Deus. - ela se curvou para frente, se escondendo em seus braços. Talvez fosse a coisa mais embaraçante que já havia acontecido.

Ouviu Malia suspirar, mas não saiu de sua posição.

- Eu não achei que seria tão difícil. - resmungou. - Eu só queria ver como era.

- O quê? - ergueu um olhar confuso para a beta.

- Eu queria ver como era. Beijar. - cruzou os braços, deixando as costa deitarem no acento da cadeira. - E você parecia querer, então...

- Espera, você nunca... claro que não. Como poderia? Desculpa, eu... espera. Você... você só queria testar.

- O quê?

- Você só queria testar, você não... você gosta de mim?

- Claro que gosto. - deu de ombros. - Você é legal.

- Mas... é só isso, não é? Você não gosta de mim!

- Eu acabei de dizer que sim!

Kira suspirou.

- Você não entende. Claro que não entende. Olha, vamos só voltar a estudar, okay?

Ficaram estudando por mais meia hora antes de a beta ir embora, bem menos do que normalmente ficavam. O clima era meio tenso, e Kira suspeitava que Malia nem mesmo entendesse o porquê. Bom, era culpa sua. Malia não pensava como ela, tinha passado oito anos como um coiote, Kira não podia esperar que... oh, ela era tão idiota.

Deitou em sua cama de barriga para baixo, cobrindo a cabeça com um travesseiro. Não queria se levantar tão cedo.

*** Dia 23 de Maio ***

- Scott, tem certeza que você não viu mesmo o meu tênis? - Isaac se abaixou para olhar embaixo da cama pela terceira vez, suspirando de frustração quando não os encontrou.

- Ah... - o Alpha levantou o olhar do caderno em seu colo. Se ajeitou na cama, deixando as costas retas para que pudesse olhar pelo quarto. - Vamos pensar de novo. É um sapato, onde ele podia estar?

- Eu sempre deixo perto da porta. - se levantou novamente. Estava começando a ficar irritado por ter que andar de meia desde que acordara. Péssimo jeito de começar seu sábado.

- É, eu sei. - bufou. - E quantas vezes eu tenho que falar para não deixar ali?

Isaac parou no lugar, se virou para Scott, e cruzou os braços.

- Onde você colocou?

- Onde eu sempre te digo para colocar! - deixou o caderno de lado e se levantou, indo em direção ao guarda-roupa. Abriu a última porta, onde todos os sapatos estavam guardados. - Isaac, sapatos. Sapatos, Isaac.

- Meu tênis! - o loiro os alcançou no guarda-roupa. - Você escondeu eles de mim! Eu estou procurando há vinte minutos!

- Eu não escondi, eu guardei! Você não pensou em olhar no único lugar em que os sapatos deviam ficar?

- Ah, e as coisas que você devia guardar, você não guarda, né?

- O que isso quer dizer?

- Quero dizer que você escondeu meu tênis, mas suas roupas, - apontou uma pilha no chão. - seus livros, - apontou outra. - aquele monte de papel que eu nem sei o que é, tudo o resto, eu que tenho que arrumar!

- Você não tem que arrumar nada.

- Alguém precisa. Minhas roupas? Guardadas. Minhas coisas da escola? Guardadas e organizadas. A única coisa que talvez estivesse fora do lugar era o tênis, e você me viu procurando, e você não disse nada!

- Eu já te disse um milhão de vezes para não deixar perto da porta! Toda vez que eu entro no quarto, me faz tropeçar!

- Você é um lobisomem! O que acontece com os seus reflexos?!

- Eu nunca estou preparado para tropeçar no seu tênis!

- Os reflexos não acontecem quando você está preparado! É por isso que...

- Espera. - Scott ergueu uma mão, indicando que parasse. Mirava o chão, e tinha as sobrancelhas franzidas,

- Ah, agora você não quer...

- Não, Isaac, eu acho que... - ergueu o olhar para o loiro, uma mistura de mágoa e confusão em seu rosto. - Eu acho que meu pai está na porta da frente.

***

Quando os dois garotos desceram as escadas, Melissa havia atendido a porta.

- Raf. - o tom da enfermeira era difícil de decifrar. - Você voltou rápido.

- Eu consegui terminar o caso mais rápido do que o previsto. - explicou.

- O que ela quis dizer, - Scott se aproximou, com Isaac logo atrás de si. - é que é surpreendente que você realmente tenha voltado.

- Eu disse que voltaria. - o agente ergueu as mãos, mostrando as várias sacolas de plástico que carregava. - E eu trouxe o almoço.

- Eu já fiz o almoço, Raf. - disse a mulher.

- Então vocês podem guardar para a janta. - ele sorriu, mas Melissa e os garotos nem mesmo piscaram. - Eu posso entrar?

- Simples assim? - Scott riu, sem humor. - Você é inacreditável.

- Eu precisei ir, foi uma emergência. - adentrou a sala, indo em direção à cozinha. - Mas nada mudou.

- Você voltou pelo novo caso, não foi? - o garoto o seguiu. - Dos traficantes em Beacon Hills?

O agente McCall deixou as sacolas sobre a mesa e se virou para o filho, o mirando com estranheza.

- Como você sabe disso?

- Não importa.

- Foi o Stiles. - Isaac respondeu atrás de Scott. O moreno se virou para ele, com um olhar reprovador. O loiro arregalou os olhos. - Oh, desculpa. Eu não devia estar na conversa. Eu... eu vou... pra lá.

Então o beta saiu da cozinha, deixando os dois sozinhos. Scott respirou fundo, tentando se acalmar. Havia sido duro para ele aceitar colocar as mágoas de lado e ter um relacionamento com o pai. E bem quando estavam começando, ele simplesmente foi embora. Nem mesmo lhe disse que iria, apenas lhe mandou um e-mail.

Desapareceu por quase dois meses, sem ligar ou mandar mensagens. E, agora, simplesmente aparecia de volta. O que estava pensando?

- Stiles, claro. - Rafael assentiu. - Eu devia ter imaginado.

- É por isso que voltou? O FBI está envolvido?

- O FBI os está seguindo há anos, mas eu não estou nesse caso. Depois do fracasso do meu último caso aqui, eu precisava compensar para o meu chefe, então precisei pegar o caso de emergência. Mas fiz um bom trabalho, e o convenci a me deixar me estabelecer em Beacon Hills permanentemente.

- Então você está aqui...

- Por você. Disse que queria que tivéssemos uma relação, nada mudou.

- Você podia pelo menos ter ligado. - teimou. - Você só sumiu por dois meses.

- É, eu sei. Acho que não sabia o que dizer. Eu... eu não sou muito bom nisso.

- Não. - bufou. - Você não é.

- Mas eu estou tentando. - deu um passo para frente, ficando bem próximo ao filho. - Podemos começar de novo, não podemos?

*** Dia 24 de Maio ***

- Aí você passa tudo o que tiver letra pra um lado, - Stiles explicava, fazendo a equação em seu caderno. - e tudo o que for só numero para o outro.

- Mas isso aqui é número. - Malia indicou "14x" com o dedo.

- Mas não é só número, ele está colado com o x, está vendo? - se ajeitou na cadeira da mesa de jantar. Suas costas e pescoço começavam a doer, já fazia uma hora que os dois estavam estudando na casa do garoto. - Então ficou: quatorze x, mais dois x, mais quatro x, igual trinta e sete, mais vinte e cinco, mais trinta e oito. E agora?

- Agora a gente soma x com x, e número com número.

- Exatamente. - o garoto sorriu, orgulhoso.

Malia puxou o caderno para si e começou a fazer as somas. Stiles aproveitou para esticar as costas e relaxar contra o encosto do acento.

Normalmente os dois estudavam umas duas horas e depois ficavam conversando, ou faziam alguma coisa antes da garota voltar para casa. Mas, normalmente, eles progrediam bem mais com os estudos. Malia não gostava de matemática, mas ela estava se esforçando bastante para poder entrar no ensino médio junto aos novos amigos. Porém, naquele dia, eles haviam feito apenas quatro exercícios. Era como se a beta mal estivesse ali metade do tempo.

Ele esperou. Depois de cinco minutos, Malia ainda não havia terminado a conta. Estava quase, mas encarava a página como se procurasse o sentido da vida ali.

- Malia? - chamou, em um tom cauteloso. - Terminou de somar? Vai ficar vinte x igual a cem.

- Tá bom. - ela escreveu a equação, ainda com uma face pensativa.

- E agora? O que você tem que fazer?

- Dividir.

- Exatamente. Você lembra aquele negócio do zero? Se tem um zero dos dois lados da equação você pode cortar.

Ela apenas murmurou alguma coisa em concordância e começou a fazer. Muito, muito lentamente.

- Ah... Malia? - é, ele devia tentar. - Tem... tem alguma coisa te preocupando?

- Tem, por quê?

- Oh. - piscou. Esperava negação e achou que teria que insistir, mas nada com a garota nunca acontecia como pensava que aconteceria. - Okay. Estou perguntando porque talvez eu possa ajudar, qualquer que seja o problema.

- Não é um problema. - suspirou. - É que amanhã eu vou na casa da Kira, e vai ser estranho.

- Por quê?

- Porque ela ficou agindo estranho depois que eu tentei beijar ela.

- Depois que o quê que você tentou o quê por que o quê? - Stiles franziu as sobrancelhas e arregalou os olhos ao mesmo tempo. Com certeza não esperava por aquilo.

- E, do jeito que ela é, - continuou falando, como se não fosse grande coisa. - ela ainda vai estar agindo estranho.

- É, ela é assim mesmo. - limpou a garganta. Sentia que tinha que ser um tanto cauteloso. - Então, você tentou beijar ela.

- Aham. Eu sou um lobisomem, eu sei que ela gosta de mim.

- Todo mundo sabe, ela é péssima nessas coisas. E quando você fez isso, ela...?

- Ela ficou super brava. Disse que não era daquele jeito que funcionava.

- O que não era daquele jeito?

- Beijar.

- Não era daquele jeito que... Malia, como diabos você beijou ela? - fez uma careta. - Ai, foi com o dente, não foi?

- Não é isso. - ela revirou os olhos. - Kira disse que eu não posso só beijar, tem que ter coisas antes.

- Ah, entendi. - abriu os braços. - Então chama ela pra sair!

- Sair para onde?

- Sei lá, um cinema, um sorvete. Acho que ela ia gostar.

- Eu não sei. - pensou por um momento. - Como foi com você e o Derek?

Stiles se lembrou de seu primeiro beijo. Derek tinha um plano estúpido e ia decididamente morrer, Stiles estava tentando impedi-lo e o beijou numa explosão de emoção. Derek o trancou no quarto, foi lutar contra os Alphas, acabou morrendo, mas não realmente. Stiles acabou parando em um motel nojento onde seus amigos quase cometeram suicídio. Então voltou para Beacon Hills, Derek tinha dormido com sua professora de Inglês que na verdade era uma assassina em série. Os dois brigaram, fizeram as pazes quando Stiles se sacrificou. Depois...

- Stiles? - Malia chamou, fazendo o garoto piscar e balançar a cabeça.

- O quê?

- Você...

- Ah, tá. Ah... comigo e com o Derek foi diferente. Era uma situação de vida ou morte. Não vai te ajudar.

- Pra vocês foi mais fácil, então.

- Eu não diria isso.

- Em uma situação de vida ou morte você não fica pensando em como deveria ser.

- Justo.

- Eu devia achar outra pessoa.

- Você não acha que... espera, o quê?

- O quê?

- Como assim "achar outra pessoa"?

- Não vai dar certo com a Kira, eu já tentei.

- Mas ela gosta de você! Ela só quer que vocês passem mais tempo juntas e se conheçam melhor primeiro.

- Eu vejo ela toda semana.

- Estudar não conta. Vocês tem que se divertir juntas.

- Eu me divirto com ela.

- Meu Deus, como você é difícil. Só chama ela para sair, eu garanto que vai funcionar.

- Aí eu posso beijar ela?

Stiles abriu a boca para responder, mas a fechou novamente. Fez isso algumas vezes até conseguir formular alguma coisa concreta.

- É difícil dizer. Talvez. Você devia esperar ela beijar você.

Malia meio que grunhiu e suspirou ao mesmo tempo, deixando a cabeça cair para trás.

- Eu não quero mais falar disso. - ela anunciou, mirando o teto.

- Okay, mas eu ajudei, não ajudei?

- Não.

- Ajudei sim!

- Vou perguntar para Lydia depois.

- Você me magoa.

- Vamos continuar. - abaixou a cabeça, voltando o olhar para a equação em seu caderno. Pensou por um momento. - Isso vai dar cinco, não vai? Próximo exercício.

*** Dia 25 de Maio ***

- E aí? - Scott fitava Stiles com esperança nos olhos. - É bom, não é?

- Ah. - Stiles deu de ombros, mergulhando a batata frita em sua mão de volta na taça de milkshake. - É normal.

- O quê?! - o Alpha bateu as mãos na mesa.

- Como assim normal? - Isaac pegou uma batata para si, imitando o gesto do menor. - São duas coisas deliciosas combinadas. Como isso pode ser normal?

- É gostoso. - Stiles admitiu. - Mas não é tudo o que vocês falaram. 

- Você não sabe do que está falando. - o loiro mordeu a batata no meio. - Você não sabe apreciar as coisas gostosas da vida.

- Uau, você está mesmo falando isso para mim? Eu namoro o Derek!

Os dois lobisomens fizeram caretas, reclamando do comentário desnecessário do amigo. Stiles riu, pegando mais uma batata. Alcançou o potinho de condimentos daquela mesa de lanchonete, decidindo que preferia maionese a sorvete.

Estavam na área de fora da pequena lanchonete. O dia estava bem ensolarado, mas tinha ventos o bastante para evitar que fosse muito quente. Era como se o universo soubesse o quão belo aquele dia deveria ser, era o último dia de aula, afinal. Stiles não havia reprovado em nenhuma matéria. Aquilo, bem ali, era uma prova concreta de que milagres existiam.

Aquele lugar ficava a umas duas quadras da escola. Nathan ia vir com eles também, mas sua namorada estava se sentindo mal, e ele resolveu ficar com ela. Uma pena, Stiles gostava de passar tempo com ele. No mínimo, era divertido assistir sua dinâmica com Isaac. E, definitivamente, era hilário observar Scott tentar o seu melhor para não demonstrar o quanto queria socar o pobre garoto.

- Já está tudo pronto para amanhã? - puxou assunto de novo. - Vai ser uma noite e tanto.

- Nem me fala. - Scott pegou outra batata. - Não sei quem vai ser pior, Liam ou Malia.

- Malia. - os outros dos responderam ao mesmo tempo.

- Com certeza a Malia. - Stiles continuou. - Vai ser a primeira lua cheia dela.

- Mas o Liam tem os problemas de raiva, lembra? - o Alpha contrapôs. - Eu estava com ele da última vez. Tivemos que deixar ele inconsciente por parte do tempo.

- Malia também tem bastante raiva. - disse Isaac. - Alguém quer trocar comigo? Não aguento mais tentar explicar física para ela.

- Derek disse que ajuda com ela. - Stiles pegou mais um saquinho de maionese. - Ele é bom nessas coisas. E não é como se ela já não tivesse ensinado ela antes.

- É, mas não era lua cheia. - o beta pegou um guardanapo de papel, limpando o sorvete dos cantos da boca. - Você não vai, né?

- É claro que eu vou!

- Meu Deus, esse bebê não vai sobreviver.

- Isaac! - Scott lhe deu uma cotovelada de lado.

- Ouch! O quê? Ele tem que parar de se colocar em situações perigosas! - apontou o indicador para Stiles. - Se alguma coisa acontecer com esse bebê, eu quebro a sua cara.

- Olha aqui, primei... - Stiles interrompeu a própria fala. Um semblante espantado tomou conta de seu rosto, e então se tornou preocupado.

- Stiles? - Scott chamou, cauteloso. - Tudo bem?

- Merda. - o garoto murmurou sob a respiração. Olhou de um amigo para o outro quase triste, e então tomou coragem para contar. Indicou com a cabeça algo que estava atrás dos dois. Os lobisomens se viraram na cadeira, se deparando com a cena que se desenrolava do outro lado da rua.

Era o agente McCall, o pai de Scott, em roupas casuais, sentado em uma cafeteria de frente aos garotos. Exceto que ele não estava sozinho. Havia uma mulher com ele. Ou melhor, beijando ele.

Stiles podia quase ouvir as esperanças de Scott se quebrarem e se transformarem em decepção. O Alpha, apesar de ressentido, estava entusiasmado para ter seu pai por perto e novo. Claro que estava, por que não estaria? E lá estava ele, com outros motivos para estar na cidade, motivos que não eram Scott.

- Hum. - Isaac ergueu uma sobrancelha, ainda fitando a cena. - Então foi por isso que ele voltou.

- Inacreditável. - a voz de Scott era baixa. - Não acredito que eu caí nessa de novo.

- Hey, - Stiles se esticou para tocar o amigo. - podemos ir embora se quiser. E se a gente...

- OI, SENHOR MCCALL! - Isaac gritou, balançando as mãos no ar para chamar sua atenção. - COMO O SENHOR ESTÁ?

- Isaac! - Scott tentou impedi-lo, mas era tarde demais. Rafael se separara da mulher e estava olhando mortificado para os garotos.

Scott não perdeu tempo, se levantou, puxou a mochila da escola para si, e deu passos rápidos para fora da lanchonete. Isaac e Stiles seguiram o amigo, quase imediatamente, mas Stiles voltou para pegar o milkshake e as batatas. Ele podia dar um jeito de levar tudo no jipe.

Os dois lobisomens foram embora com a moto. Stiles considerou segui-los, mas viu que o agente McCall estava entrando em seu carro. Ele provavelmente havia tido a mesma ideia.

Suspirou. É, teria que esperar para ver como a história iria se desenrolar.