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História Trust me - Captura


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


HAHAAA OLHA EEEEEEEU :3

Capítulo 96 - Captura


Derek ia só olhar. Era só isso, ele só ia olhar. Estacionou o carro alguns quarteirões antes do apartamento e correu a distância que faltava. Quando estava na forma de lobo, encontrou todas as câmeras do lado de fora, e percebeu um pequeno ponto cego na parte leste. Não era muita coisa, mas era o suficiente para Derek se aproximar dos muros sem ser visto.

Esperou do lado de fora. Podia ouvir barulhos e sussurros no estacionamento do prédio, mas não conseguia ouvir exatamente o que diziam. Em forma de lobo, podia ouvir cada andar daquele apartamento, mas preferiu ficar na forma humana. Tinha outros jeitos de conseguir ouvir melhor. Era mais arriscado, mas tomaria cuidado. Seria rápido.

Saltou sobre o muro. O estacionamento era do outro lado da propriedade. Derek precisou esperar, procurar e analisar muito bem onde todas as câmeras estavam, e as melhores rotas que poderia seguir. As vezes, algum segurança ou morador passava por ali, mas não o viam. Estava escondido. Quando julgou ser suficiente, saiu dali. Andou rápida e silenciosamente pelo caminho que provavelmente evitava câmeras e com certeza evitava pessoas.

Estava quase no estacionamento quando os ouviu. Várias pessoas, saindo e entrando dos elevadores e escadas, se dirigindo aos carros e então voltando aos apartamentos, carregando coisas. Quando Derek pulou sobre os muros do estacionamento, se escondeu atrás de um dos carros, longe de onde estavam.

Dava para vê-los claramente. Pelo menos sete deles, colocando malas na traseira de carros, conversando aos sussurros, vigiando em volta. A proprietária, Karen, estava ali. Parecia irritada enquanto discutia em voz baixa com a única pessoa que Derek reconhecia dos retratos falados. Roger.

Ele não pensou duas vezes. Pegou o celular e imediatamente mandou uma mensagem para John.

***

- ...e eu vi que você fez um pedido de mandato para um armazém, não é? - a agente Bohen adicionou, assim que ela e John terminaram os últimos relatórios.

O xerife sabia que aquilo iria aparecer. Estava fazendo a maior parte da investigação no escuro, sem que o FBI entrasse no meio e, principalmente, sem que Katelyn Bohen soubesse de alguma coisa. Mas esconder demais também lhe daria motivos para investigar, então, ultimamente, trabalhar naquela delegacia era como pisar em cascas de ovos.

- Ah, sim. - John confirmou. - Não tem nada a ver com o nosso caso, eu só coloquei minha assinatura. Um dos meus homens tem razões para suspeitar que tem um corpo em uma dessas garagens.

- Que lugar pouco criativo para escondê-lo.

- Provavelmente um dos nossos muitos casos de pessoas desaparecidas. - suspirou, fingindo cansaço. - O problema de ter uma reserva florestal tão perto da cidade, é que é muito fácil de se culpar esses desaparecimentos com ataques de animais. É um problema que estamos sempre enfrentando.

- Eu imagino. - ela sorriu de lado, parecendo satisfeita. - Quanto às buscas pelas câmeras de segurança, nós precisamos...

- Ah, sim. Esses arquivos chegaram de manhã. - se levantou da cadeira. - Eu vou pegar, só um segundo.

Então ele saiu da sala. Bohen achou que ele pareceu aliviado por sair, mas devia estar imaginando. Ela só tinha que enrolá-lo tempo suficiente. Roger e os outros estariam fora daquela maldita cidade muito em breve, alguém provavelmente já estava recolhendo todo o conteúdo do armazém número treze. Tudo bem, estava tudo bem. Ela ficaria ali mais alguns meses, eles voltariam para Willow Valley e tudo ficaria quieto por um tempo. Ir para Beacon Hills tinha sido uma péssima ideia, mas nada que não pudessem contornar.

Um barulho agudo interrompeu seus pensamentos. O celular do xerife vibrou em sua mesa, a tela se acendendo com a chegada de notificações. Katelyn se inclinou, curiosa. O celular não tinha bloqueio de tela, não era nem mesmo preciso arrastar para cima para desbloquear. Bohen franziu as sobrancelhas. Ele era chefe da polícia, francamente...

Olhou pela janela, para se assegurar que John não estava voltando ainda. Pegou o celular, se certificando de que estava de costas para a câmera no canto da sala, e abriu as mensagens. O nome do contato era Derek. Ela já o tinha visto na delegacia, namorava o filho de John.

"Eles estão saindo." - dizia a mensagem.

"Você precisa trazer um esquadrão pra cá agora. Rápido."

"E mande um para os armazéns."

Katelyn arregalou os olhos. Ele não podia estar falando sobre...

A próxima mensagem era uma localização. 

Então Derek estava ligando para John. Ela agiu rápido, rejeitou a ligação, abriu o contato e bloqueou o número de todas as formas possíveis. Então desligou o celular, deixando-o no mesmo lugar que estava antes.

Quando John voltou, ela já tinha avisado seus homens.

***

Derek encarou a tela de seu celular, incerto. As primeiras mensagens que enviara a John haviam sido lidas, o que era bom, mas as outras pareciam nem ter chegado ao celular do sogro. Suas ligações tocavam sem ser atendidas. Tinha alguma coisa errada.

Ponderou bastante antes de ligar para Stiles. Não queria que o garoto se envolvesse, mas pensou que podia confiar que Stiles apenas falaria com o pai, sem realmente se colocar em risco. 

Ligou duas vezes, Stiles também também não atendeu. 

Uma pontada de preocupação atingiu seu peito. Stiles não estava respondendo. Talvez ele só estivesse obcecado com alguma coisa, ou estivesse longe do celular. Não podia ter acontecido alguma coisa com ele, podia? Ah, podia, era Beacon Hills. Será que ele devia tentar Scott? Só para pedir que ele checasse se Stiles estava bem. Se bem que já eram onze horas da noite, podia não ser nada...

Percebeu um movimento incomum no estacionamento. Estava prestando atenção em todos os sons, em todas as pessoas que entravam e saíam dali, e na maioria do que falavam. Pareciam agitados agora, falando alguma coisa sobre terem visto alguém entrando nas câmeras de segurança.

Derek guardou o celular, ficando alerta. Sabiam que ele estava ali. Alguma das câmeras devia ter passado despercebida, mas ele ainda estava com vantagem. Nenhuma daquelas pessoas parecia achar que ele estava no estacionamento, escondido atrás de algum carro, um pouco afastado de onde eles estavam. Um a um, saíram dali, recebendo ordens para procurar Derek pela propriedade. Duas pessoas ficaram ali, uma mulher junto aos carros, e um homem que patrulhava todo o estacionamento.

Era uma oportunidade. Derek se aproximou um pouco mais, ainda andando atrás dos carros e longe da visão das câmeras. Esperou o homem passar perto de si, e, propositalmente, fez barulho de passos. Quando o homem se aproximou, Derek o derrubou imediatamente, prendendo-o em uma chave de braço apertada o suficiente para que ele não pudesse gritar pela falta de ar. Assim que percebeu que o outro desmaiara, o largou no chão.

- Eric? - a mulher o chamou, notando sua ausência. - Eric? Onde você foi?

Em movimentos rápidos e silenciosos, Derek deu a volta no lugar. Desistira de ficar longe das câmeras, o que significava que tinha que agir bem mais rápido. O beta, que estava escondido na fila de carros junto às paredes, se mudou para a fila do meio, onde a mulher observava o último lugar em que avistara Eric, exalando desconfiança. Ela tinha nas mãos uma arma com um silenciador, destravada. Derek a abordou por trás e a desarmou em segundos, agarrando-a pelos cabelos e forçando sua testa contra o porta-malas fechado do carro, fazendo com que desmaiasse também.

Ele com certeza estava visível para as câmeras. Se abaixou, sacando as garras para fora e enterrando-as nos pneus traseiros de um dos carros. Enquanto o xerife não chegava, podia garantir que nenhum deles sairia dali. Teve tempo de estragar três carros antes de ouvi-los se aproximando novamente. 

Pelo menos sete pessoas corriam até onde estava. Ouviu armas sendo destravadas. Se apressou. Pegou o revolver da mulher desmaiada no chão, e conseguiu interferir em mais dois carros antes de realmente ter que sair dali.

Ouviu tiros. Todos usavam silenciadores, mas eles não tornavam os tiros impossíveis de se ouvir, mesmo se Derek não tivesse audição sobrenatural. Enquanto se escondia de novo, agachado atrás de carros importados na fileira do meio, podia ouvir onde cada uma daquelas pessoas estava.

Alguma daquelas pessoas trocava instruções com alguém por uma ligação. Vinda do outro lado da linha, Derek pôde ouvir a ordem "tragam-o vivo".

Sorriu. É, isso facilitava as coisas.

O primeiro homem que se aproximou de seu esconderijo foi facilmente nocauteado. Um outro homem percebeu e se aproximou, foi quando Derek resolveu aparecer. 

Se levantou, apontou e atirou, então se abaixou de novo. Apesar da falta de experiência com armas de fogo, seus sentidos sobrenaturais ajudavam bastante quando precisava atirar e se esconder. Atingiu um homem e duas mulheres nas pernas antes de ter que sair daquela fileira. 

Correu até a outra parede, se esquivando de todas as balas direcionadas a ele, menos uma que raspou por sua costela. Atingiu mais um. Quatro pessoas corriam até onde estava, cercando-o atrás de um carro. Sem pensar duas vezes, Derek arrancou a porta traseira, usando-a como escudo para se aproximar de um deles.

Nocauteou um dos homens com um único soco. Um outro tentou abordá-lo em uma luta mano a mano, mas Derek aproveitou a oportunidade para largar a porta do carro no chão e prender os braços do homem contra as costas, deixando-o perto de si como um escudo humano.

Agora olhava para as únicas duas mulheres ainda em pé. Elas apontavam as armas para ele, mas Derek sabia que não iriam matá-lo. De longe, ele podia ouvir mais pessoas correndo até o estacionamento. Tinha que sair dali, pular os muros, talvez. Fugir, chamar o xerife. Ele tinha furado pneus de cinco carros, isso os atrasaria bem.

Derek teve aproximadamente três segundos para decidir o que fazer em seguida.

Soltou o homem que usava como escudo. Colocou as mãos para o alto, nuas, em um sinal de redenção. 

Se entregou a eles.

***

Stiles saiu do banheiro com uma toalha enrolada na altura do peito. Ele nunca contaria para ninguém que passou pelo menos quinze minutos a mais no banheiro, se olhando no espelho, e decidindo se ele devia enrolar a toalha na cintura, ou mais pra cima. Quer dizer, ele sempre colocou na altura da cintura, como era normal, mas será que o bebê sentia frio quando ele fazia aquilo? E, também, e se seu pai o visse? Ele estava com o feitiço de disfarce, então John provavelmente não notaria a pequena curva que sua barriga fazia agora, mas mesmo assim. Stiles simplesmente se sentia desconfortável com a ideia de que alguém a visse. Então, sim, prendeu a toalha sob as axilas, e saiu do banheiro confiante em sua decisão que afetaria os próximos quatro meses, mais ou menos.

Não encontrou seu pai no corredor. Já em seu quarto, terminou de se secar e colocou uma roupas largas e confortáveis para passar o resto da noite vendo séries até pegar no sono. Se deitou na cama, confortável sob as cobertas, com o notebook apoiado em alguns livros ao seu lado. Ficou algum tempo decidindo entre as opções até decidir que assistiria a primeira temporada de Sherlock pela trigésima vez. Parecia apropriado, levando em conta os recentes acontecimentos. E, também, ele nunca iria se cansar de assistir a óbvia tensão sexual entre os protagonistas tão héteros quanto o Scott.

Assim que o episódio começou, alcançou seu celular no criado-mudo. Era muito raro que se contentasse em fazer uma coisa de cada vez. Assim que desbloqueou o aparelho, percebeu que tinha algumas mensagens de Scott, duas de Lydia, e duas chamadas perdidas de Derek.

Franziu as sobrancelhas. Retornou a chamada, é claro. Uma, duas, três vezes. Ele sempre acabava caindo no correio de voz. Uma sensação ruim tomou conta de seu corpo, um mal pressentimento. Tentou mais uma vez, e então mais uma.   

Se sentou na cama. Todos os seus planos foram cancelados em segundos. Se livrou das cobertas e do conforto que seria o resto de sua noite. Estava oficialmente preocupado.

Ah, ótimo. - se levantou para poder andar pelo quarto. - Ele deve ter sido sequestrado de novo, não é possível.

Toda santa vez. Eu viro as costas por dois segundos e alguém sequestra ele.

Por favor, ainda esteja no país.

Por favor, ainda esteja vivo.

Não, não, não, não, não. - esfregou os olhos, se controlando. - Não, não, sua cabeça não vai ir para aí. Você não vai pensar nisso, Stiles. Você está melhor, você vai se manter calmo.

Ligou para Scott. Ele também não estava atendendo. Deus, o que estava acontecendo que ninguém atendia o celular?

Tentou de novo, no terceiro toque, a chamada foi aceita.

Stiles?

- Scott, eu preciso que você...

Não é possível! - a voz de Isaac surgiu no fundo. Stiles ouviu alguns barulhos do outro lado da linha, e, quando o loiro falou de novo, sua voz era clara na chamada, como se ele houvesse roubado o celular de Scott das mãos do Alpha. - Você tem uma câmera instalada aqui em algum lugar, não tem? Fala a verdade.

- Como é que é? - franziu as sobrancelhas.

Toda vez! - Isaac bufou, irritado. - Toda vez que a gente está quase transando, voc...

- Isaac, me devolve isso!

Como é que você sabe? Sério! Toda santa vez! É só eu pensar em..

- Isaac, eu juro por Deus...

- Calem a boca, vocês dois! - Stiles gritou, fazendo os amigos perceberem que alguma coisa provavelmente estava errada. - Derek não está me respondendo.

- São onze e meia da noite! - Isaac protestou. - Ele está dormindo!

- Ele me ligou duas vezes, eu estava tomando banho. Agora ele não atende.

Você acha que aconteceu alguma coisa? - a voz de Scott estava clara na ligação, indicando que Stiles devia estar no viva-voz. 

- Eu não sei, estou preocupado. Eu iria até lá, mas eu estou tentando ficar longe de situações perigosas, e, Deus, isso é bem mais difícil do que eu pensava. Vocês podem checar pra mim? 

- É claro. - Scott respondeu, ao mesmo tempo que Isaac reclamou:

- Mas...! Mas...! - o beta suspirou. - Não é possível, toda santa vez... a gente está indo lá olhar.

- Obrigado. - se sentou na cama de novo, seu pé batia contra o piso.

Mas relaxa, - disse Scott. - provavelmente não é nada. A gente te avisa assim que souber de alguma coisa.

- Se ele estiver lá, eu dou permissão para vocês xingarem ele.

***

A cabeça de Derek foi jogada violentamente para o lado com o impacto do sétimo soco nos últimos dois minutos. Havia sido levado para um dos apartamentos que a gangue alugara. Estava em um quarto que era desenhado para ser um escritório, mas estava vazio com exceção a um armário com prateleiras vazias, à escrivaninha às suas costas, e à cadeira em que fora amarrado.

Suas mãos e pernas estavam presos à madeira com fita adesiva. Havia três pessoas ali com ele. Duas mulheres com revolveres na porta, e um homem que pensava torturá-lo pelos últimos dez minutos, mais ou menos. Derek podia sentir a frustração de seu sequestrador ao ver que o rosto do beta continuava praticamente intacto. Seus olhos não inchavam, apesar dos golpes, e Derek tinha certeza de que as marcas em sua pele não deviam levar mais que segundos para desaparecer. A única coisa que comprovava a agressão era o pouco sangue que escorrera se seu nariz, que também não mostrava nenhum sinal de estar machucado. Depois de certo ponto, Derek mordeu a língua propositalmente para poder cuspir um pouco de sangue. Deixou a cabeça abaixada, fingindo estar fraco.

Na mão de uma das mulheres na porta, seu celular vibrava com a ligação de alguém.

- Quem é? - perguntou, o homem que o socava.

A mulher com o celular franziu os olhos para a tela.

- O nome do contato é "Melhor coisa que já te aconteceu". Tudo junto.

Derek revirou os olhos. Tinha desistido que mudar os nomes que Stiles colocava em seu próprio contato. Cada vez que o beta abria o celular, era uma coisa diferente. Os piores até agora haviam sido "Delícia hiperativa" e "Café da manhã" (quando Derek perguntou o que diabos aquilo queria dizer, Stiles lhe explicou que era porque ele era "a refeição mais importante do dia").

- É um garoto. - a mulher virou o celular para todos verem a foto que Stiles havia posto de contato. Estava fazendo uma careta com os olhos arregalados, as bochechas cheias de ar, e o cabelo despenteado. 

O beta revirou os olhos de novo. Stiles era tão adorável, que ódio.

- O filho do xerife. - disse a outra mulher. - Red, eles sabem. 

- Não, não sabem. - "Red" respondeu. Ele tinha muita certeza da resposta, provavelmente falara com a agente Bohen. - Desliga isso.

A mulher assentiu, guardando o celular no bolso. Derek agora estava levemente preocupado. Grande parte de seu plano de se entregar para eles se baseava na premissa de que John havia visto suas mensagens e estava reunindo um esquadrão para vir. Tudo bem, essa parte não saiu como o planejado. Tinha que analisar suas opções.

- Isso não é com o xerife. - improvisou, atraindo os olhares de todos ali. - Isso é pessoal.

Red pareceu surpreso, a princípio, então deixou uma risada excêntrica escapar.

- Ah, é pessoal, é?

- O que quer dizer com isso? - uma das mulheres perguntou, em um tom ameaçador.

Derek não respondeu, o que resultou em outro soco. Fingiu levar alguns segundos para se recuperar, antes de erguer os olhos e sussurrar o único nome que conhecia de algum membro da gangue:

- Roger. 

***

- E aí? - Stiles atendeu o celular em menos de um segundo, ainda andando pelo quarto.

- Ele não está aqui. - a voz de Scott veio do outro lado.

- Como assim ele não está aí?

Não está, mas só parece que ele saiu. O apartamento está trancado, e o carro sumiu. E ele levou o celular, tentamos ligar e não ouvimos nada.

- Levou o celular, mas não está respondendo. - sua garganta estava seca. - Vocês não podem seguir o cheiro dele?

É claro! - Isaac gritou no fundo da chamada, seguido pelo barulho de uma porta sendo arrombada. - Vamos pegar umas roupas!

***

Ele disse o quê? - Derek ouviu a voz de Roger no final do corredor. As duas mulheres ainda guardavam a porta, Red havia saído alguns minutos atrás para procurá-lo.

Disse que tinha questões pessoais. Com você.

Não temos tempo pra isso. - Roger abriu a porta com um estrondo, enchendo a sala de raiva. Ele deu uma boa olhada em Derek antes de se virar para Red novamente. - Eu nunca vi esse cara em toda a minha vida.

- Faça um esforço. - Derek improvisou de novo, não deixando a fachada misteriosa cair.

- Ele está nos enrolando. - Roger bufou. - Se a polícia não está vindo, atirem nele e vamos embora.

- Já faz um tempo, Clark. - o homem estava quase saindo do quarto. - Faz um tempo que ninguém te vê no Colorado.

O beta precisou se esforçar para não sorrir, claramente dissera a coisa certa. Uma das poucas coisas que sabiam, era seu sobrenome, e que ele tinha família no Colorado. Aquilo com certeza chamou sua atenção. Roger se virou para o beta, olhando-o de cima como se tentasse decifrar o que aquilo queria dizer. Alguns segundos de tensão se passaram antes que voltasse a falar.

- Saiam. - seus olhos não deixaram os de Derek. - Todos vocês.

- O quê? - uma das mulheres protestou.

- Ainda tem muito o que fazer. E precisamos de pneus, graças ao nosso amigo aqui. - deu um último olhar de aviso aos seus colegas. - Saiam. 

Eles obedeceram. Derek não disse nada, não até se certificar que todos os três chegassem ao fim do corredor. Roger andou em volta do beta, ainda parecendo em conflito. Quando parou, cara a cara com Derek, lhe deferiu um soco antes de se curvar sobre ele, apoiando as mãos no encosto da cadeira, um pouco acima dos ombros de Derek.

- Eu não sei o que você acha que está acontecendo aqui, mas eu garan...

Derek não aguentou mais aquele teatro. Soltou as mãos das amarras de fita adesiva como se elas fossem de papel e agarrou os cabelos de Roger, empurrando sua cabeça contra o apoio de braço de madeira. Duas pancadas fortes foram o suficiente para que desmaiasse.

Bufou, se levantando. Puxou a gola da camiseta para cima, limpando o sangue do rosto.

As duas mulheres pareciam ter saído do apartamento, mas Red devia ter ouvido algum barulho, pois estava voltando para aquela sala. Esperou. Quando o homem girou a maçaneta, Derek empurrou a porta contra ele com força, deixando-o, no mínimo, bastante desnorteado.

Saiu no corredor. Dois socos, e agora haviam dois homens nocauteados aos seus pés. 

Derek suspirou.

- Que bando de idiotas. - se abaixou, procurando por um celular nos bolsos da calça.

Assim que achou, desbloqueou a tela. É claro que precisava de uma senha, mas não para chamadas de emergência.

Arrastou a tela para o lado, e digitou 911.

***

- Entre. - John respondeu à batida na porta.

- Xerife? - a policial entrou no escritório, levemente envergonhada por interromper a reunião de John com a encarregada do FBI. - Tem uma ligação de emergência para o senhor.

- Para mim?

- É o seu genro. Ligou pela emergência, pediu para falar com o senhor.

John e Bohen trocaram olhares por alguns segundos.

- Eu já volto, agente.

***

- Nada? - Stiles tinha certeza de que iria enlouquecer se continuasse no quarto, então começou a dar voltas por toda a casa. Naquele momento, estava andando pela cozinha, observando a pilha de louça que deixara para o dia seguinte com o canto dos olhos.

Nada. - Scott respondeu do outro lado da linha. - Podemos conseguir mais gente. Malia, Liam... Lydia?

- O que é que a Lydia vai fazer?

Da última vez, quando eu e Isaac sumimos, foi ela que...

- É, okay, okay. - engoliu em seco. - Da última vez, okay.

Vamos conseguir mais gente, está bem? Fique aí.

Então ele desligou, deixando Stiles sozinho ali, com os pensamentos a mil.

***

Derek pegou e desligou os celulares, tirou as chaves, e tudo mais o que achou nos bolsos dos dois homens que nocauteara. Quanto às armas no chão, retirou os cartuchos de munição. Pensou por um momento o que faria com tudo aquilo. Não podia ficar carregando por aí, não tinha bolsos o suficiente. Por fim, jogou tudo embaixo de algum armário, eles não iriam procurar ali.

Se concentrou por um momento. Dava para ouvir o movimento lá embaixo, mas nenhum carro. John estaria chegando e cercando o lugar em alguns minutos. Tudo parecia estar bem.

Ouviu movimento no apartamento do final do corredor. Duas mulheres discutindo. Derek reconheceu as vozes, eram as guardas que estavam na porta. Uma delas lhe confiscara o celular.

Onde estão os papéis?

- No banheiro. Não peguei ainda.

- Temos que levar tudo lá pra baixo.

- Pra quê? Não tem carros. Isso ainda vai levar umas horas, se você não percebeu.

- Não nos falaram pra parar.

Quer saber, Beth? Faz o que você quiser. Eu vou falar com o Roger. E é melhor aquele filho da puta não descontar em mim por tudo estar dando errado.

Uma porta abriu e fechou. Passos no corredor. Ela estava vindo.

Derek se posicionou atrás da porta. Assim que a mulher entrou, a golpeou na cabeça. Ela caiu de costas no chão. Quando Derek lhe roubou a munição e a revistou, encontrou um celular, mas não o seu. Devia estar com a outra.

Deixou-a ali. Em silêncio, andou até o apartamento de onde ela saíra. A outra mulher, Beth, parecia estar na cozinha. Entrou no apartamento, em silêncio. Tão fácil quanto os outros, nocauteou Beth.

Em seu bolso traseiro, encontrou, finalmente, seu celular. Ligou o aparelho. O xerife não lhe respondera, mas haviam 14 chamadas perdidas de Stiles, assim como um monte de mensagens.

- Merda. - encarou a tela. É, com certeza estava em apuros.

***

Quem é?

Stiles respirou fundo antes de começar a falar.

- Olá, como você está? - fez o sua melhor imitação de alguém feliz. - É o Stiles. Beacon Hills, California. Eu queria saber se...

Garoto, pelo amor de Merlin! - a voz do feiticeiro se tornou inesperadamente dramática. - De novo? Eu não aguento mais ouvir você! "É normal isso?", "É normal aquilo?", você tem internet!

- Na internet não fala se é normal em toda gravidez! - se defendeu, abrindo os braços como se o feiticeiro pudesse vê-lo. - Principalmente quando você é um homem que...

Eu juro, garoto, se a internet diz que...

- Não foi por isso que eu liguei! - respirou fundo de novo. - Olha, eu só queria saber se... tem algum jeito de... quer dizer, você é um feiticeiro. Você consegue achar pessoas, não consegue? Rastrear elas?

Quem foi que você perdeu?

- Eu não sei se eu perdi!

Eu precisaria de alguma coisa da pessoa. É um feitiço simples.

- Ah... - Stiles olhou em volta, até puxar a própria camiseta. - Ah! Eu tenho uma blusa dele.

Tem que ser alguma coisa dele, não pode ser algo que ele deu a você.

- Bom, tecnicamente, ele não me deu essa camiseta. Eu meio que roubei.

Você perdeu seu namorado?

- Isso acontece com mais frequência do que eu gosto de admitir. - esfregou a pele da nuca, ainda andando pelo quarto.

- Uma pena. Bom, para esse trabalho em questão, teríamos que discutir...

A chamada foi interrompida por uma outra. O contato "Hétero" apareceu no topo da tela.

- AH! - cobriu a boca com a mão, arregalando os olhos.

Garoto?

- Ah... não precisa mais! Obrigado mesmo assim! - então desligou, atendendo a ligação do namorado. - Derek?!

Stiles, eu...

- Derek, mas o que diabos...

Wow, calma. - Derek soava calmo demais para os nervos de Stiles. - Você está bem?

- EU?! Eu estou excelente! Onde diabos você está?

Stiles, calma, está tudo bem. Eu estou...

- Não está tudo bem, seu idiota! Você não estava me respondendo! Não estava no loft! Onde diabos você está?! O que...

Stiles, eu peguei eles.

- O quê? Quem?

Os traficantes. 

Stiles piscou.

- Do que está falando? Como assim você pegou eles?

Mais ou menos. A maioria ainda está lá embaixo. Já falei com o seu pai, ele está vindo pra cá.

- Lá embaixo? Onde você está?

- No apartamento de um deles, eu meio que invadi.

- Você fez o quê?! Mas o que é que você estava pensando?!

Na verdade, eles meio que me sequestraram, então... mas é, eu invadi o lugar primeiro.

- Por quê?!

Pra impedir elesIam fugir hoje. Mas está tudo bem, deu tudo certo. Já estou ouvindo os carros de polícia chegar. Estão a alguns quarteirões.

- Seu idiota. - esfregou o rosto, limpando o suor de nervosismo em sua testa. - Você me liga e depois não responde mais. Você não pode fazer essas coisas com o maldito histórico que você tem! E ir sozinho enfrentar uma gangue? Você perdeu todo o direito de me chamar de irresponsável! Você tem alguma noção do que...

Stileseu encontrei uma coisa. - ele pareceu animado de repente. - Tenho que desligar.

***

"Onde estão os papéis?" - uma delas tinha perguntado.

"No banheiro. Não peguei ainda." - a outra havia respondido.

Enquanto ouvia Stiles gritar com ele no telefone, procurou por todo o cômodo. Não encontrou nenhum tipo de documento impresso ou nada do tipo nos armários do banheiro, ou escondidos entre as toalhas e produtos. Nenhuma das gavetas tinha um fundo falso, e não havia nada preso atrás ou embaixo dos armários ou da pia.

Mas então Derek viu o espelho. Não parecia ser preso à parede, apenas pendurado. Assim que o tocou, teve uma boa sensação.

Stiles ainda estava gritando com ele quando o pegou nas mãos e o virou. Grudado à superfície, havia um saquinho de plástico que continha alguns papéis. O primeiro que Derek viu era uma planilha. Os outros deveriam ser tão valiosos quanto, ou não estariam tão escondidos.

Você tem alguma noção do que...

- Stiles, eu encontrei uma coisa. - interrompeu o menor, arrancando o plástico da superfície do espelho. - Tenho que desligar.

Deixou o celular na pia. A maioria deles eram planilhas para o controle de mercadoria. Não só de tempos passados, ou de esquemas que pareciam ainda estar em progresso em várias cidades diferentes, mas, também, de planos futuros. Uma das planilhas, em específico, parecia um esquema feito as pressas para os próximos meses, em uma cidade chamada Alta Sierra, não tão longe dali. Era improvisado, mas parecia muito bem pensado. Não que Derek entendesse as logísticas de se traficar drogas, mas, ainda assim, se sentiu impressionado. 

Aquilo sim era uma mina de ouro. Abriu a câmera do celular, tirando pelo menos duas fotos de cada folha.

Talvez fosse o impacto da descoberta daqueles planos ou a conversa com Stiles que o houvesse distraído, mas tardou ao perceber os batimentos cardíacos de mais alguém naquele apartamento. Eram batidas rápidas e constantes, tinha alguém consciente ali com ele.

Não ouviu passos, então, seja lá quem fosse, estava parado em um lugar. Talvez estivesse junto à mulher desacordada na porta da sala. Derek não sabia dizer.

Colocou os papeis de volta no plástico e atrás do espelho, exatamente como os encontrou, rápido e em silêncio. Guardou o celular no bolso. Quando estava certo de que não havia mais ninguém vindo, saiu do banheiro. 

Percebeu que os batimentos não vinham da porta, estavam um pouco mais afastados, vinham da cozinha. Atravessou o corredor até ter uma visão completa da sala, que era integrada à sala de jantar. Uma pequena parede separava a cozinha do outro lado. A mulher que nocauteara ainda estava do mesmo jeito que a deixara, mas...

Foi rápido. Mesmo que Derek houvesse percebido sua posição, uma mulher apareceu atrás da porta da cozinha, se inclinando para o lado apenas o suficiente para apontar e atirar.

O primeiro tiro atingiu seu ombro. O beta correu até ela, mas os disparos nunca cessaram. Seu peito, tórax, pernas, seu corpo todo foi tomado por balas. Quando uma atravessou sua garganta, não conseguiu mais. Seu corpo tombou no chão. Quase imediatamente, se viu em uma possa de seu próprio sangue.

Tentou se concentrar em se curar, mas era difícil quando não conseguia sequer respirar. A mulher na cozinha correu ate ele. O beta demorou para perceber o que ela estava fazendo, apenas se dando conta quando a viu, com a visão turva, roubar seu celular de seu bolso. 

Então correu para longe, sumindo no corredor do apartamento. Provavelmente atrás voltara pelos papéis. 

Os policias já estavam ali. Na garagem e no térreo.

Tão rápido quanto se foi, a mulher apareceu de novo no campo de visão de Derek, apenas para atravessar a sala e sair pela porta, saindo do apartamento sem nem olhar para trás. Não carregava nada consigo.

O beta se concentrou, apesar da dor excruciante em todo seu corpo. Suas presas cresceram, seu rosto mudou, seus ossos mudaram de lugar, pelos cresceram por todo o corpo. Quando a transformação de lobo estava completa, algumas roupas haviam caído no chão, e algumas balas já haviam sido expulsas de seu corpo.

Sentiu o cheiro de algo queimando. Mais tarde naquela noite, descobriria que a mulher não levara os papéis, mas os queimara na banheira, eliminando-os para sempre. 

***

Por sorte, Derek conseguiu se curar completamente e se transformar de volta antes dos policiais alcançarem o andar em que estava. Claro, o encontraram em uma poça de seu próprio sangue. 

O levaram direto para uma ambulância, as roupas encharcadas, mas os paramédicos não tinham o que fazer com um homem completamente saudável. Ofereceram-lhe um daqueles cobertores que vítimas de acidentes normalmente usavam ao serem resgatadas, mas o simples olhar de Derek os fez mudar de ideia. 

John o emprestou uma jaqueta, parte do uniforme da polícia, para que não ficasse apenas com sua camiseta esburacada toda manchada de sangue. 

O lugar virou um pequeno caos. Os moradores que saíam de seus apartamentos no meio da noite assustados pelos tiroteios e cheios de raiva por terem sido acordados. Depois de prender todos que estavam no estacionamento, Derek indicou os apartamentos certos para vasculhar, e para onde ir. No início, os policiais estavam desconfiados, mas John lhes assegurou que Derek era confiável.

Podia ter levado horas, Derek não tinha certeza, até ele estar relativamente calmo do lado de fora, contando a John tudo o que aconteceu, iluminado pelas luzes vermelhas e azuis dos carros de polícia no meio da noite, e com pessoas sendo arrastadas pela calçada com as mãos algemadas nas costas.

- Ela queimou tudo. - John contou. - Acabaram de confirmar.

- Uma pena. - Derek admitiu. - Eu tirei fotos de tudo. Perdi meu celular, mas acho que dá pra recuperar. Eu tenho quase certeza que os dados da minha conta ficam salvos em algum lugar.

- Eu não entendo de tecnologia, vamos esperar que esse seja o caso. - fez uma pausa. - Mas você viu antes? Os papéis? Vamos precisar do seu depoimento.

- É claro.

- Eu não posso expressar o quanto estou grato pelo que você fez, Derek. - sorriu de lado, olhando em volta para se certificar que ninguém estava ouvindo. - A burocracia a partir de agora vai ser um inferno, mas nós os pegamos. O FBI não vai poder interferir da vez. Parrish encontrou umas coisas, disse que podemos ter um caso contra Bohen. Isso é uma vitória.

- Não completamente. Não pegamos todos.

Era verdade, Derek percebera assim que descera para o térreo. Quando viu os criminosos ajoelhados no chão, percebeu dois faltando: a mulher que lhe disparara e roubara seu celular, e Roger.

- Vamos achá-los. - John garantiu. - Até isso acontecer, você vai ficar sob proteção.

- John...

- Não estou te fazendo uma sugestão, estou te dizendo. Essas pessoas não lidam bem com civis se intrometendo em seus negócios. E eles te viram.  

- Não tive problemas em lidar com eles dessa vez.

- Te dispararam.

- Ainda assim.

- Você os pegou de surpresa, e eles te subestimaram como um homem comum. Não vai acontecer de novo. Você vai ficar sob proteção até os encontrarmos, ou, pelo menos, até termos certeza de que não vão tentar nada.

Derek continuaria a protestar, mas um som familiar chamou sua atenção. Levou alguns segundos para ter certeza, mas aquele era, sem dúvida, o jipe de Stiles que acabara de estacionar na esquina do quarteirão.

Virou a cabeça, logo avistando o namorado descendo a calçada até onde estavam. Usava uma jaqueta quente sobre uma blusa branca que Derek reconheceu como uma de suas camisetas roubadas. Mas não estava reclamando, Stiles ficava ótimo usando suas roupas.

Hey, garoto! Você não pode passar! - um dos oficiais tentou impedi-lo de entrar na área interditada pela fita amarela, mas Stiles nem mesmo lhe deu atenção. - Garoto!

- Anderson, está tudo bem! - John gritou, e recebeu um aceno de cabeça do policial. - Estava demorando para ele vir. - acrescentou em voz baixa para Derek. - Ele não parece muito feliz, parece?

Derek teve que concordar. Era de se esperar que Stiles estivesse animado, falando sem parar e fazendo um milhão de perguntas, enquanto John se irritava e repetia que não podia compartilhar informações confidenciais com o filho, mas Stiles apenas andava até eles, em uma linha reta, sem nem mesmo olhar para os lados e se impressionar com os criminosos algemados, fotógrafos e pelo menos três dúzias de oficiais.

Quando estava a uns quatro metros, Derek teve certeza de que estava com problemas. Stiles exalava raiva e irritação.

Seu idiota! - ele gritou tão alto que pelo menos meia dúzia de cabeças se viraram para olhar a cena.

- Okay, vou deixar vocês sozinhos. - John se afastou em passos rápidos, nem mesmo vendo a expressão traída de Derek ao ser abandonado sem que pensasse duas vezes.

- Seu...! - Stiles nem mesmo terminou a frase, mas se resumiu a socar e tapear o braço de Derek repetidamente, enquanto o maior fazia o mínimo para se proteger. - Eu não acredito nisso! Mas que idiota!

- Stiles. Stiles! - segurou os braços do menor, que começou a chutar sua canela com força. - Ouch! Stiles, se acalma. As pessoas estão olhando.

- O quê?! - começou a chutar com mais vontade, se debatendo para tentar liberar suas mãos. - É sério isso?! As pessoas estão olhando?! Seu idiota!

- Okay, okay. - se rendeu. - Eu sou um idiota. Para de me chutar.

- "Você tem que ser mais responsável, Stiles"! - imitou uma voz irritante, ainda tentando se soltar. Pelo menos seus pés agora estavam fixos no chão. - "Você não pode se colocar em perigo desnecessário, Stiles"! Isso valia só pra mim? - finalmente livres, seus braços se abriram em uma pose indignada. - Você por acaso também não é pai dele?!

- Wow, okay. - puxou o garoto para perto em um abraço forçado, olhando em volta para se certificar de que ninguém o ouvira. - Stiles, você está exagerando. Eu...

Eu estou o quê?!

- Está bem, está bem. Me desculpe. Você tem razão. Você tem total razão, eu sou um idiota.

- Você não está falando de verdade, - bufou contra o ombro do beta. - só quer que eu cale a boca!

- É porque você está falando um pouco alto.

- Você podia ter morrido, okay?! - sua voz cedeu um pouco. A raiva deu espaço para a preocupação e agonia que havia sentido nas últimas horas. Foi quando Derek entendeu. - Por que fez isso? Eu não sabia o que tinha acontecido, achei que tinham te sequestrado de novo. 

- Bom, tecnicamente...

- Você veio procurando por eles! - se afastou para poder discutir com ele cara a cara.

- Eu não planejei encontrar com eles! Só aconteceu, seu pai não atendia o telefone. Te liguei duas vezes, e você também não...

Derek Hale, você nem tente colocar a culpa em mim!

- Ninguém tem culpa! Deu tudo certo. - colocou as mãos nos ombros do garoto, ainda tentando acalmá-lo. - Stiles, está tudo bem. A gente...

- O que é isso?! - foi quando ele notou as manchar enormes de sangue nos jeans furados do namorado. Derek viu sua expressão passar de irritação, para confusão, e então horror. - Derek...

- Eu estou bem, eu... - tentou explicar, mas Stiles se apressou em abrir a jaqueta de polícia que o maior usava, descobrindo as provas dos diversos tiros que havia levado por todo o tronco.

O menor cobriu a boca com as mãos, seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas.

- Hey, hey... - Derek fechou rapidamente a jaqueta e puxou o menor para si, fazendo tudo o que podia para confortá-lo. - Está tudo bem, tudo bem. Eu estou bem.

- Idiota. - ele fungou entra o ombro do namorado. - Idiota, idiota, idiota. Você tomou o quê? Uns dez tiros? E se tivesse sido na sua cabeça?

- Eu me curaria.

- Não é pra você se curar! Não é pra você ser atingido! Você realmente não entende?!

- Está bem, está bem, me desculpe. Mas já acabou, Stiles. Acabou. Pegamos eles.

- O quê? - o menor se afastou, mirando-o com as sobrancelhas franzidas. Algumas lágrimas haviam escorrido por suas bochechas.

- Olha em volta.

- Nós... - ele pareceu desarmado por um segundo. Então olhou para os lados, como se reparasse pela primeira vez a cena que se desenrolava ao seu redor. Limpou o rosto com a manga da jaqueta. - Você... você pegou eles sozinho?

- Não sozinho. Se o seu pai não tivesse...

- Eles estavam fugindo, você os impediu, e segurou eles aqui até a polícia chegar... sozinho?

Ele claramente queria uma resposta, mas Derek só deu de ombros. Stiles enterrou as mãos nos cabelos, massageando a própria cabeça.

- Eu estou... tão irritado... e tão orgulhoso ao mesmo tempo! - bufou, esfregando os olhos. - Isso foi incrível. Você é um idiota, muito idiota,  mas foi incrível. Como você...

- Eu vou contar tudo. Tenho que dar depoimento pro seu pai.

- Claro que tem. - se permitiu sorrir, desacreditado. - Pegamos eles!

Então pulou nos braços de Derek, que não hesitou em envolver sua cintura. Enquanto ria, Stiles ainda repetia o quanto o maior era um idiota.

***

Nenhum dos dois voltou pra casa antes do dia amanhecer, John muito menos. Depois de dar o depoimento, Derek concordou em ouvir os interrogatórios atrás de uma janela de vidro junto com o xerife, ajudando-o a decifrar algumas coisas. Stiles esteve presente em cada passo, é claro, apesar dos lembretes recorrentes de John sobre ele não precisar estar ali.

Quando o sol nasceu, John os mandou para casa. Derek concordou em tirar um dia livre e voltar na tarde seguinte para continuar seu depoimento sobre o que ouviu, e sobre os planos futuros e em outras cidades que havia encontrado. Policiais o acompanharam até uma loja de celulares para que pudesse comprar um novo, e então até em casa, e foram designados para ficar de guarda do lado de fora do apartamento do beta.

Stiles protestou, esperneou e fez de tudo para não ter que sair da delegacia quando seu pai os expulsara. Ainda estava de cara fechada quando entraram no loft, mas Derek deu um jeito naquilo. Ele sempre dava. Quando terminaram, Stiles estava cansado demais para continuar reclamando, então decidiu que faria isso ao despertar, e adormeceu.

E, sem decepcionar, o garoto se levantou na hora do almoço, já dizendo que eles deveriam ir à delegacia e ajudar no que pudessem, que tinham coisas a fazer. Derek teve que lembrá-lo de que não era mais trabalho deles, e que John lhes disse para tirar o dia para descansarem de toda aquela confusão. Iriam no dia seguinte para Derek dar seu depoimento final, apenas.

Stiles ainda estava reclamando enquanto comiam, mas conseguiu aceitar aquelas condições quando se lembrou que havia combinado de passar o dia com Scott e Isaac. Não só eles iriam jogar vídeo game, como o garoto iria passar horas exibindo Derek e jogando na cara dos amigos que o namorado vencera uma gangue inteira de traficantes sozinho.

- Não foi bem isso o que eu fiz. - Derek o lembrou, lhe dando um beijo de despedida.

- Shiu, é assim que eu vou contar. - enquanto andava até a porta, ilustrava toda a cena com gestos no ar. - Tinha cinquenta deles, e só um de você. Eles tinham katanas, e você só tinha os próprios punhos humanos, porque você não podia deixar eles saberem que você é um lobisomem e tal. E estava sem camisa. O sangue escorria pelo o queixo e os músculos....

- Ele estava sem camisa? - Isaac teve que interromper a história, apoiando as costas no pé da cama de Stiles, sentado com as pernas cruzadas no chão do quarto, assim como os outros dois.

- Essa é a parte difícil de acreditar? - Scott abriu os braços, indignado. - Ele está sempre sem camisa!

- Ele não está sempre sem camisa! - Stiles o defendeu. - Cite um exemplo.

- Lá no México, do lado de fora da igreja.

- Ele tinha se transformado num lobo! Cite outro exemplo.

- Com a Malia, aquele dia na floresta.

- De novo: lobo.

- Cara, isso é muito legal. - Isaac sorriu, olhando para cima com uma expressão satisfeita. - Qualquer grande batalha que tiver agora, a gente vai ver ele pelado, não vai?

- Isaac! - Scott o repreendeu. - Pelo menos finge que você está desconfortável com a situação.

- Ah, tá, desculpa. - colocou a mão sobre o peito, começando sua cena dramática. - Nossa, Stiles, nossa. Seu namorado fica mostrando as coisas dele pra gente. Oh, minha inocência está sendo arrancada de mim! Oh, não sei por quanto tempo mais eu posso suportar! Oh, não, minha pureza!

- Aí, que idiota.

- Eu não consigo! Você tem que controlar seu homem, Stiles. Se eu ver aquela bunda perfeita mais uma vez...

- Okay, okay! - Stiles o deteve, levantando as mãos. - Meu Deus, eu vou viver em um constante conflito entre não querer que vocês olhem, e querer jogar na cara de vocês que aquele é meu namorado.

- Uau. - Scott cruzou os braço em desaprovação. - O que o Derek acha de você objetificar ele desse jeito? 

- Ele não tem que saber.

- Deve ser muito legal virar lobo de verdade. - Isaac divagou. - Deve doer, seus ossos tem que mudar de lugar.

- Ele fica muito poderoso, sério. - Stiles colocou os joelhos para cima e os abraçou, os pés inteiramente apoiados no chão. - Ele ficou do lado de fora do apartamento deles na outra noite, ouvindo tudo o que todo mundo falava em todos os andares! Os sentidos ficam muito aguçados.

- Ele deve ficar muito forte também. - disse Scott. - Isso é bom. A gente precisa disso.

- Você já transou com ele transformado? - Isaac perguntou com um tom empolgado, se inclinando para frente para receber a resposta.

- Quê?! - Stiles e Scott gritaram ao mesmo tempo.

O loiro se voltou para trás, surpreso com a reação repentina.

- Como assim "quê"? - abriu os braços. - Acabamos de constatar que ele fica mais forte e melhor em tudo!

- Mas ele vira um lobo! - a voz de Stiles subiu várias oitavas. - Jesus Cristo, você tem uns fetiches muito estranhos.

- Como assim? Ainda é seu namorado!

- Mas é um bicho!

- Mas é o Derek! Não é zoofilia, só é coisa de lobisomem.

- Ah, mas não é. - Scott negou com a cabeça. - Eu concordo com o Stiles. Você tem uns fetiches meio peculiares.

- Para de julgar meus fetiches! Nem é tao estranho. 

- Ah, tem uns que são.

- Cite um exemplo.

- Semana passada, você me fez colocar...

- Não! - Stiles cerrou os olhos, cobrindo os ouvidos com as mãos. - Não, não, não, não, não. Não, não quero saber! Não.

- Não foi estranho! - Isaac se defendeu. - Você adorou!

- O jeito que você fez foi legal, mas aquele...

- Lá, lá, lá, lá, lá, lá... - Stiles se encolheu, como se tentasse se proteger. - Não estou ouvindo! Não estou ouvindo!

- Tá bom, tá bom. - Scott ergueu as mãos, em sinal de rendição. - A gente não vai falar.

- Mas foi legal. - Isaac bufou. - Transar com o Derek lobo, também deve ser. Aquele dia na floresta que ele e a Malia se transformaram? Cara, ele não vira um cachorrinho, ele vira um puta lobo! Ele fica gigante!

- Isaac! - Scott lhe deu um tapa no braço.

- Com licença, - Stiles abaixou os joelhos, assumindo uma pose mais séria. - para a sua informação, o Derek humano, já é gigante. E eu estou mais do que satisfeito, obrigado. Não tem necessidade...

- Ai, meu Deus. - Scott se lamentou, enterrando o rosto nas mãos.

- ... de eu me voltar para zoofilia.

- Você se contenta muito fácil. - Isaac balançou a cabeça, como se estivesse decepcionado. - Quanto maior, melhor.

Okay. - Scott ergueu a voz. - Estou começando a me sentir inseguro.

- Está bem. - Stiles limpou a garganta. - Vamos voltar ao que interessa: meu namorado capturou uma gangue inteira sozinho. - endireitou a coluna, preparando-se para retomar seu conto épico. - Lá estava ele, contra cinquenta traficantes com metralhadoras....

- Eu achei que eram katanas. - Isaac lembrou.

- Isso. - o menor assentiu. - Katanas em uma mão, metralhadoras na outra. Ele estava sozinho, sem camisa...

Perdeu a noção de quanto tempo ficou ali com os amigos, mas eles tiveram que ir embora quando Melissa ligou avisando que já deviam ter voltado para jantar. Stiles havia dito que voltaria para o loft para dormir e acompanhar Derek à delegacia no dia seguinte, então, assim que os lobisomens saíram, mandou uma mensagem para o pai, checou se todas as luzes estavam apagadas, se as portas e janelas estavam trancadas, e saiu de casa.

Entrou no jipe. Mandou uma mensagem para o namorado avisando que estava indo antes de dar a partida.

Enquanto dirigia, seus pensamentos vagavam para todo tipo de lugar. Estava tudo dando tão surpreendentemente certo que era bem provável que um meteoro caísse em suas cabeças, ou que um tsunami se formasse em um rio próximo e destruir a cidade, sabe, só para as coisas ficarem balanceadas.

Para chegar ao loft, Stiles gostava de pegar uma estrada um pouco afastada da cidade, ao invés de atravessar o centro. Era um caminho pouco usado, então ele sempre dirigia calmamente, aproveitando qualquer musica que estivesse na rádio.

Estava na metade do caminho quando tudo começou a dar errado.

Ao longe, havia outro carro naquela estrada de mão-unica, mas estava errado. Ele vinha na direção contrária, de encontro com Stiles. O garoto não se preocupou tanto, era só alguém fazendo besteira. A rua era larga o suficiente para os dois carros passarem um ao lado do outro, mesmo que não fosse permitido.

O carro ainda estava a uma boa distância do jipe quando se virou para o lado, como se fizesse uma curva, e então parou. Estacionou no meio da rua, de lado, bloqueando o caminho.

Stiles franziu as sobrancelhas. Diminuiu a velocidade, mas não parou de dirigir, olhando curioso para o outro carro, que ficava cada vez mais próximo. Sera que o motorista estava bem? Talvez precisasse de ajuda.

Quando se aproximou o suficiente, percebeu pessoas descendo dele. Um homem e uma mulher, ambos com uma aparência estranha. Stiles sentiu alguma coisa esfriar em seu interior. Um mal pressentimento.

Estava a menos de quinze metros quando resolveu parar. Ficaram ambos ali, parados no meio da estrada, esperando algo acontecer.

Então Stiles percebeu outro carro, vindo atras de si. Nunca tinha ninguém naquela estrada. Não podia ser coincidência. Seus dedos começaram a batucar contra o voltante. Estava sendo paranoico. Devia haver muitas explicações para aquilo. Não podia ser...

Foi quando viu, na mão da mulher que descera do carro, um revolver.

O carro atrás de si estacionou a poucos metros do jipe.

Estava encurralado. Era uma emboscada.

Não pensou duas vezes. Abriu a porta e saiu correndo para fora da estrada, entrando na floresta.

Ouviu um disparo, mas não foi atingido. Correu o mais rápido que podia, e não demorou para ouvir os passos de pelo menos quatro pessoas que o seguiam, passos que amassavam as folhas e galhos caídos entre as arvores altas.

Seu sangue pulsava em seus ouvidos. Pensar enquanto corria por sua vida não era fácil. Tinha que fazer alguma coisa. Obviamente, seja lá quem fosse que o perseguia, não iria perder para ele no quesito velocidade. Já estava começando a respirar forçadamente, sua barriga pesava, e o forçava a ficar inclinado para frente, dificultando tudo.

Assim que achou tê-los despistado por alguns instantes, parou atrás de uma árvore particularmente larga, se escondendo. O ar entrava e saía de seus pulmões em grandes baforadas. Cobriu a boca com uma das mãos suadas, tentando não fazer tanto barulho. 

Pensa, Stiles, pensa.

Trêmulo, pegou o celular em seu bolso. Onde exatamente estava? Tinha que falar para Derek, talvez ainda desse para...

- Opa, opa, opa. - uma voz desconhecida surgiu ao seu lado, tinha um tom divertido.

Stiles, que havia derrubado o celular com o susto, nem mesmo se virou para ver quem era. Voltou a correr, mas outro disparo o apavorou tanto que sua única reação foi se abaixar e se encolher no chão, se escondendo sob seus braços em um reflexo. 

Risadas surgiram atrás de si. Ele ergueu as mãos, todo o tronco se movendo para cima e para baixo com a força que fazia para respirar.

- Levante. 

Não sabia quem tinha falado com ele, e não importava. Obedeceu, ainda de costas para aquelas pessoas, ainda se rendendo.

- Ele está com medo até de nos ver. 

Mais risadas. 

- Olha o celular dele aqui no chão.

Ouviu movimentos, e então passos em sua direção. Seu corpo inteiro ficou ainda mais tenso, se é que isso sequer era possível.

Então um homem entrou em seu campo de visão. Magro e não muito alto, com alguns piercings e um pedaço de tatuagem visível um pouco abaixo do pescoço. Na mão que não segurava um revolver, carregava o celular de Stiles. Ao parar na frente do garoto, o devolveu.

- Acho que isso é seu, moleque. - sorriu. - Por que não liga para seu namorado? A gente gostaria de dar uma palavrinha rápida com ele.


Notas Finais


Esse capitulo foi tao divertido de escrever, que SDDS q eu tava e fazer umas coisa assim, ain <3
comentem! me digam o que acharam :3


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