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História Trust me - Treinamento


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


OEEEEEEEEEEEE EU VOLTEI <3 <3 <3
Gente, se tem uma coisa que eu posso dizer é que a vida é estressante. Minha saúde mental foi pra fossa nos últimos meses, e ainda não está lá essas coisas, ent nn vou prometer cap toda semana, mas eu estou melhor, e eu amo escrever, não tenho intensão de deixar essa fic sem terminar, não quando ainda tem tantos personagens pra torturar, quer dizer, desenvolver :3
Espero que gostem desse cap, Malia está aqui pra ficar <3 E eu espero desenvolver ela melhor que a série

Capítulo 77 - Treinamento


Stiles acordou sozinho na cama, de novo. Bufou, encarando o teto. Nem mesmo em sua casa ele conseguia acordar primeiro, ou, pelo menos, ao mesmo tempo que Derek. Levou a mão até o celular no criado mudo, desligando o despertador. Suas pálpebras se abaixaram de novo quase imediatamente, parecendo pesar toneladas. Sua cama estava tão quentinha, tão confortável...

Eu salvei tantas vidas parando aquela lista. Eu mereço ficar na cama.

Não. - forçou os olhos abertos, piscando várias vezes com força. - Você tem que se formar esse ano, Stiles, anda.

Respirou fundo, tomando coragem, e saiu das cobertas, se levantando. Escovou os dentes, lavou o rosto e colocou uma roupa qualquer antes de descer as escadas, encontrando Derek na cozinha, como já esperava. Ele estava em frente à pia, lavando alguns talheres e tigelas que não estavam sujos na noite anterior.

- Bom dia. - o menor sorriu, andando até o namorado e o abraçando por trás. - O que você está fazendo?

- Dando banho na sua louça. 

- Idiota. Quis dizer pro café da manhã, não tem nada aqui além de miojo.

- Na verdade, vocês só tinham um pacote de miojo, então eu aproveitei e comprei isso também.

- Sério?

- Aham, até comprei vegetariano pro seu pai.

O menor riu, aumentando o aperto na cintura do namorado.

- Você é incrível.

- Eu comprei umas coisas pro café da manhã, mas eu não esperava que você acordasse tão cedo. - enxaguou a última tigela, terminando de lavar tudo.

- Eu tenho que ir pra escola.

Derek rodou em volta de si mesmo até estar de frente para o namorado, envolvendo-o também, mas com as sobrancelhas franzidas.

- Você vai pra escola? Você quase morreu ontem, tira o dia pra você.

- Eu não posso. - levantou os olhos para o maior. - Eu preciso ter uma presença mínima pra passar de ano, e eu já faltei um mês inteiro.

- Bom, - pegou seu celular no bolso, vendo a hora. - acho que dá tempo de você comer os brownies.

- Brownie?! - arregalou os olhos. Se afastou do namorado e se agachou na frente do fogão, vendo a massa de chocolate assando no forno. - Eu não acredito que você fez brownie!

- Fazer é uma palavra muito forte. Eu só comprei a massa e adicionei leite. Aliás, eu comprei leite pra vocês.

Stiles riu, se levantando num pulo e envolvendo o pescoço de Derek para beijá-lo.

- Eu te amo.

- Você é um interesseiro.

***

Isaac só saiu da cama umas três horas depois que Melissa o tinha acordado. Enquanto escovava os dentes, ouviu a voz de Scott no andar de baixo, dando instruções. Levou alguns segundos para o seu raciocínio lento processar que ele ainda falava com Malia.

Eu não sei bem explicar. - ele falava pacientemente. - Meio que.. você só tem que deixar acontecer.

Riu sozinho. Scott não tinha ideia do que estava fazendo, mas estava tentando mesmo assim, ele era bom demais para esse mundo.

Bom, se ele estava se esforçando, era justo que Isaac também tentasse. Respirou fundo antes de descer as escadas. Okay, não tinha se dado bem com a garota na noite anterior, mas ele tinha ficado preso em um carro por doze horas, estava cansado e irritado, hoje seria diferente.

Encontrou os dois na sala, sentados no sofá. Scott tinha suas garras para fora, e mostrava como fazia para encolhe-las e saca-las. Malia também estava com as palmas para cima, os dedos bem separados um dos outros, e parecia estar fazendo muita força.

- Tenta não pensar muito nisso. - Scott notou a presença do namorado ali. - Hey, bom dia.

- Hey... - respondeu, se forçando a ir até eles e parecer confortável. - Então... como está indo a transformação?

- Eu ainda sou humana. - Malia nem sequer olhou para ele, totalmente focada em suas mãos, que tremiam com a força que fazia.

- Certo. - forçou uma expressão amistosa, mas a garota não se incomodou em vê-la. - Posso ajudar de algum jeito?

- Você não é um Alpha. - ela rosnou em frustração, ainda fixada em suas unhas humanas. Fechou as mãos em um punho e socou as próprias pernas, irradiando raiva por todo o quarto. - Você me atrapalhou!

- Malia, ele só... - Scott tentou ser paciente, mas Isaac não se conteve. 

- Como é que é? - o loiro rosnou de volta.

Ela finalmente levantou os olhos para encará-lo.

- Eu estava quase conseguindo! - ela bufou. - Você me fez perder a concentração!

- Tudo que você ia conseguir fazer era distender os músculos da mão! - colocou as mãos na cintura, indignado.

- E dai? Eu me curo rápido. - voltou sua concentração para suas mãos. - Você não pode me ajudar.

- Por que não? Por que não sou um Alpha?

- Sim. - Malia suspirou, como se ponderasse se o trabalho de responder aquela pergunta tão óbvia valia a pena. - Alphas são os mais poderosos, se ele ainda não conseguiu me ajudar, então você também não vai.

Scott finalmente interveio:

- Isaac sabe controlar a transformação muito bem. - sua voz era firme. - Melhor que eu, inclusive. - se virou para o namorado. - Mas você acabou de acordar, vai comer alguma coisa.

Os dois adolescentes trocaram olhares por um tempo, como se estivessem tendo uma conversa, Até que Isaac suspirou.

- Tudo bem, é uma boa ideia. - deu as costas para eles, indo na direção da cozinha.

- Não fica tão animado. - ouviu Malia falar da sala. - Não tem muito pra comer.

Isaac cerrou o maxilar, respirando fundo várias vezes para poder controlar sua vontade de responder. Quando falou de novo, já na cozinha, sua voz mostrava apenas alguns resquícios de sua raiva.

- Scott? - chamou. - Pode me ajudar a achar as coisas aqui?

- Estão no armário!

- Eu não estou achando. - entonou sua voz significantemente. - Pode me ajudar?

- Mas está...

- Eu acho - Malia se pronunciou. - que ele quer falar com você sem eu por perto.

- Oh. - Scott pareceu envergonhado. - Ah... nos dá licença um momento?

- Não se preocupa, eu não vou ficar escutando.

- Ah... obrigado. - foi a última coisa que disse antes de ir até a cozinha, encontrando o loiro com os braços cruzados e uma postura rígida. - O quê?

- Como assim "o quê"? - Isaac bufou. - Por que ela ainda está aqui?

- Estamos treinando. Eu ensinei ela a focar os sentidos. Bom, mais ou menos, ela chega lá.

O quê?! - gritou em um sussurro. - É pra você transformar ela em coiote, não num lobisomem super habilidoso. Vai lá e ruge na cara dela igual um Alpha!

- Eu não quero que ela volte a ser coiote!

- Como é?

- Olha, - tirou um tempo para organizar seus pensamentos. - ela está confusa. Eu acho que se a gente dar um tempo pra ela, ela pode desistir disso e querer ficar humana, ficar com a família dela.

- Ela assassinou dois terços da família dela! - sua voz subiu algumas oitavas, mas ele ainda tentou manter o volume baixo. - Oh, desculpe, a família adotiva dela. A gente nem sabe como que ela é parente do Derek, a gente vai ter que falar tudo pra ela.

- Quer que eu desista dela só porque vai dar trabalho?

- Quero que desista dela porque é o que ela quer! Ela quer voltar a ser um coiote, vai lá e transforma ela.

- Estamos falando da vida dela! Acho que posso convencer ela a continuar humana, só precisamos de um tempo. E depois, quem sabe, ela pode ser parte do pack.

- Você não pode estar falando sério.

- Qual é, Isaac. A gente pode simplesmente deixar ela viver isolada naquela floresta pra sempre. E o pai dela?

- Ela não é problema nosso, Scott. Nós a ajudamos, mas claramente não era o que ela queria. Agora sim que você pode ajudar com o que ela quer. Ela quer ser um coiote.

- Ela nem teve tempo para se ajustar. Deve ser difícil viver com o pai depois de tudo o que aconteceu. Malia só precisa...

- Ah... vocês dois? - a voz de Malia veio da sala. - Dá pra conversar depois? Eu não achei que isso aqui ia levar tanto tempo.

Isaac respirou fundo, lentamente, cerrando os punhos e mandando um olhar de "entende o que estou dizendo?" para o namorado.

- A gente tem que dar uma chance. - foi tudo o que Scott disse antes de voltar para o sofá, onde a garota o esperava.

***

Stiles passou as primeiras aulas como sendo o único de seu círculo de amigos a ir na escola naquele dia. Ficou um pouco frustrado, mas não podia realmente culpa-los, ele mesmo ainda estava cansado da viagem.

Durante o intervalo, avistou Lydia comendo sozinha em uma das mesas do refeitório. Sorriu aliviado, indo até ela o mais rápido possível.

- Lydia! - sentou a sua frente. - Achei que você não tinha vindo hoje.

- Oh. - ela não parecia impressionada com a presença do amigo. - Hey, Stiles. Eu vi você de manhã.

- Me viu? - ergueu uma sobrancelha. - Por que está comendo sozinha então?

- Sei lá. - deu de ombros. - Eu só estou.

- Prefere comer sozinha do que comigo?

- Claro que não. Eu só... Kira não veio, então eu... estou aqui. Estou sozinha. Só isso.

Stiles levou alguns segundos para responder.

- Lydia, está tudo bem?

- Está. Está sim.

- Vai ter que falar com mais convicção que isso se quiser que eu te deixe em paz.

Ela riu. Aquele tipo de risada que era mais um ruído se sua garganta. Esfregou a testa, largando os talheres no prato. Stiles esperou que terminasse de mastigar e engolir a comida antes de começar a exigir mais respostas.

- Lydia? - insistiu.

- Eu só... - respirou fundo. - Eu ainda não me acostumei, sabe? Ainda não entrou na minha cabeça que ela não está aqui.

- Quem?

Ela.

Stiles arregalou os olhos gradualmente, sentindo seu peito se apertar. Sua boca ficou seca de repente. Escondeu as mãos embaixo da mesa, tamborilando os dedos na coxa de forma nervosa.

- É. - sua voz era baixa. - As vezes eu esqueço também.

- Eu ainda acho estranho passar pelo armário dela e não ver ninguém, sabe? Não é certo.

Stiles sentiu o celular vibrar no bolso. Pegou ele e o desbloqueou embaixo da mesa, ainda completamente atento ao que a amiga dizia.

- Depois que ela morreu... - limpou a garganta. - Eu meio que... substitui ela com a Kira. Quer dizer, não me entenda mal, eu adoro a Kira. Não estou dizendo que só ando com ela por isso.

Era uma mensagem de Scott. "Você está na escola?".

- Está tudo bem. Eu entendi. - tranquilizou-a, respondendo "estou, por quê?" ao amigo.

- Eu a coloquei como substituta. E hoje ela não veio. Eu... é só... solitário.

Stiles sentiu sua própria expressão cair. Colocou uma mão na dela, sorrindo de forma solidária. Lydia olhou para ele, completamente vulnerável, um semblante bastante raro de se ver nela.

- Talvez. - ele assentiu. - Mas não tem que ser.

Demorou alguns instantes, mas ela acabou sorrindo. Pegou os talheres de novo, levando uma garfada de comida à boca.

- Você vai ficar me vendo comer, ou vai pegar alguma coisa?

- Eu vou comprar alguma coisa. - se levantou. - Já que eu volto.

A caminho da cantina, sentiu seu celular vibrar de novo:

"Pode vir aqui depois da aula?".

***

- Scott? - Stiles batia na porta da casa do amigo. - Você tá aí? Eu vim!

A porta se abriu bruscamente. Isaac estava do outro lado, a expressão fechada, assim como os punhos, e o cabelo todo bagunçado.

- Você não é o Scott. - o moreno cruzou os braços.

- Ele tá ali. - apontou para trás de si com o dedão. - Boa sorte.

E, com isso, deu as costas e saiu do campo de visão de Stiles. O garoto levantou uma sobrancelha e entrou na casa com cautela, não sabendo bem o que esperar dali.

- A parte dos dentes meio que dói um pouco. - ouviu a voz de Scott vindo da sala de jantar. - Você meio que tem que forçar a mandíbula.

Stiles se aproximou para ver o amigo sentado em uma das cadeiras em frente à mesa. Do outro lado havia uma garota. Ele a olhou com curiosidade, tentando lembrar-se se já a havia visto antes. Ela franziu as sobrancelhas e abriu a boca, mostrando os dentes. Dava pra ver que fazia bastante força. Era quase cômico.

- Ah... - foi chegando perto. - Oi, Scott.

Os dois se viraram pra ele. Scott pareceu aliviado, mas a garota ficou alerta.

- Quem é você? - ela atirou. Stiles tinha certeza que ouviu um rosnado.

- Tá tudo bem. - Scott a tranquilizou. - É o Stiles. É meu amigo.

- Por que ele está aqui?

- Eu chamei ele.

Ela direcionou seu olhar irritado para o Alpha.

- Por quê?

- Porque ele pode ajudar. - arrastou uma cadeira para o lado. - Stiles, senta aqui.

- Okay. - Stiles andou até eles. - Minha vez: quem é ela? - apontou.

- Lembra da Malia?

O garoto arregalou os olhos.

- Malia Hale? O coiote que me atacou?

A expressão de Scott congelou, como se Stiles tivesse dito algo muito errado. Mas Malia não pareceu se importar, só negou com a cabeça.

- É Tate. - ela corrigiu, não parecendo pensar muito sobre isso. - Malia Tate.

Stiles arregalou os olhos. Claro, não a tinham contado que era uma Hale. Por que contariam?

- Ah, sim. - assentiu. - Desculpa.

Malia se virou para Scott.

- O que ele é?

- O quê? - o Alpha franziu as sobrancelhas.

- Ele cheira estranho.

- Ah! Ele... ah... não é importante.

- E como é que ele pode ajudar? Eu nem sei o que ele é.

- Nos dá um segundo. - se levantou. - Stiles, vem comigo.

O garoto estranhou, mas foi mesmo assim. Os dois pararam no pé da escada, alguns metros da cozinha.

- Scott. - Stiles sussurrou. - O quê está acontecendo? Por que ela tá aqui?

- Ela quer que eu transforme ela em coiote de novo.

- O quê? Por quê?

- Porque ela se sente culpada pelo que aconteceu.

- Faz sentido. Qual o problema então? É só dar um rugido de Alpha.

- Eu não quero transformar ela de volta. - ele meio que gritou e sussurrou ao mesmo tempo.

- Por que não?

- Porque ela só está fazendo isso porque não consegue se perdoar.

- É compreensível.

- Eu quero ajudar ela.

- Mas ela quer sua ajuda?

- Ela não está em condições de tomar uma decisão dessas.

- Scott, - sua voz ficou mais suave. - você não é responsável por todo mundo.

- Qual é, Stiles...

- Se é o que ela quer... quer dizer...

- Ela perdeu o controle. Eu sei como é. Nas primeiras luas cheias eu quase matei você várias vezes.

- É, nem precisa me lembrar. - colocou as mãos na cintura. - E você ia se perdoar se me matasse?

Scott levou alguns segundos pra responder.

- Não. - fez uma pausa. - Mas você iria querer que eu me perdoasse, não iria?

Stiles suspirou.

- Está bem. O que estavam fazendo até agora?

- Estou enrolando. Ensinei ela a focar alguns sentidos, tipo olfato e visão. Coisas que não vão fazer ela se transformar.

- Só isso?

- Eu estava enrolando! Tentei falar sobre outras coisas também, mas ela não deixa.

- E qual é o plano?

- Foi pra isso que eu te chamei.

- Pra eu criar o plano?

- Você é bom nisso.

- Tá me zoando.

- Qual é, Stiles, me ajuda.

- Tá bom, tá bom. - respirou fundo, esfregando a testa. - O problema é que ela se sente culpada por ter matado os pais, certo?

- Basicamente.

- Compreensível. - começou a andar para os lados. - Temos que convencê-la de que não foi sua culpa, mas temos que fazer ela falar sobre isso primeiro. E pra isso temos que ganhar um pouco de confiança. Temos que passar mais tempo com ela.

- Eu estou com ela desde as sete da manhã. - Scott parecia frustrado. - Toda vez que eu tento falar alguma coisa não relacionada a lobisomens, ela me dispensa.

- E o Isaac?

- Falta isso aqui para esses dois pularem na garganta um do outro. - colocou os dedos próximos um do outro.

- Ué, por quê? O que eles têm um com o outro?

- É mais o que eles não têm: um filtro.

- Faz sentido. - pensou mais um pouco. - Tá, acho que eu sei o que fazer, mas o Isaac vai ficar aqui.

- Por quê? Onde nós vamos?

- Fazer... - deu alguns passos na direção da porta, mas paralisou no meio do caminho, com os olhos arregalados. Quando falou de novo, sua voz era ainda mais baixa: - Espera, Scott?

- O quê? - o Alpha encolheu os ombros, sussurrando sem saber o motivo.

- Como sabemos que ela não estava ouvindo o tempo todo?

- Ah. - voltou ao normal. - Confia em mim, ela não se importa o suficiente pra ouvir a conversa.

- O quê?

- Ela... ela é meio estranha, okay?

- Estranha como?

- Ela não falou com outro ser humano por oito anos. Não é muito sociável.

- Tá bom, tá. - balançou as mãos. - Anda, vamos.

- Ainda não me disse onde vamos.

- Vamos fazer amizade, é claro. - saiu da cozinha, sendo seguido pelo amigo até a sala, onde Malia continuava na mesma posição, ainda tentando sacar as garras. - Hey, Malia?

- O quê? - ela virou o rosto com tudo, rosnando. Suas mãos tremiam de tanta força que fazia para se transformar, mas continuavam humanas.

- Wow. - ergueu as mãos, num sinal de paz. - Que tal uma pausa, hã?

- Por quê? - bufou. - Não me transformei ainda!

- Exatamente por isso. Scott, há quanto tempo vocês estão aqui?

- Ah... - o Alpha coçou a nuca. - Desde as sete.

- E que hora vocês comeram?

- A gente não comeu.

Stiles arregalou os olhos.

- Até agora?

- Quer dizer, eu comi umas bolachas.

- E você? - se virou para Malia. - Não está com fome?

- Eu comi ontem. - a garota respondeu, rude.

- E... hoje?

- Eu já comi ontem.

- Okay, mas você é humana agora. Humanos comem todos os dia.

- E é por isso que ele - ela apontou Scott. - tem que me ensinar a me transformar de novo.

- Justo, mas humanos não aprendem nada de estômago vazio. O que você gosta de comer?

- Veado.

Os garotos trocaram olhares, as sobrancelhas erguidas. Stiles piscou, apertando os lábios.

- Está bem. Scott, chama o Isaac.

- O quê? - ele levou alguns segundos para entender, então revirou os olhos. - Ah, sério? 

- Desculpa, não resisti. - voltou o olhar para a garota. - O que acha de umas rosquinhas?

***

- Meu Deus. - Malia gemeu ao dar a primeira mordida. - Isso é delicioso.

- Não é? - Stiles sorriu, mordendo sua própria rosquinha.

- Aposto que é melhor que veado. - Scott tomou um gole de seu café.

- Na verdade, não. - ela deu de ombros. - Mas ainda é gostoso.

Stiles sorriu de lado.

- Aposto que não tem isso na floresta.

- Não tem. - olhou em volta. - Não tem lugares como esse, também. Eu gostei daqui.

O garoto examinou a cafeteria em que estavam. Ele e Scott já haviam estado ali algumas vezes, era bem aconchegante. Sempre tinha uma musica acústica tocando de fundo, e a decoração tinha um estilo meio vintage, mas de um jeito moderno. Era agradável.

- Sabe o que é legal daqui? - se voltou para a garota. - É limpo, sabe? Não tem terra pra todo lado, é confortável. Você pode... falar com as pessoas, socializar.

- Eu me socializava. - deu outra mordida. - Eu tinha uma matilha.

- A gente também tem. - deu uma cotovelada nas costas de Scott.

- Ouch. - reclamou. - Ah... é, a gente tem um pack.

- Ah, é? - ela pareceu se interessar. - Quantos são?

Stiles semicerrou os olhos, pensando. Ele, Scott, Derek, Isaac, Kira, Lydia...

- Seis. - respondeu, ao mesmo tempo que Scott disse:

- Sete.

Os dois olharam um para o outro.

- Sete? - Stiles ergueu uma sobrancelha. De quem estava se esquecendo?

- Eu, você, Isaac, Liam, Derek, Kira e Lydia.

- Liam? - piscou. - Ele não...

- Ele é meu beta!

- É, mas ele não... ah... - suspirou. - Está bem, sete.

- É bastante. - Malia pegou outra roquinha. - Eu andava numa matilha com outros três coiotes.

- Vocês... - Scott não parecia saber bem o que dizer. - Vocês eram... próximos?

- A gente se protegia. - assentiu. - Caçávamos juntos.

- A gente faz isso também. - disse Stiles. - Não a parte de caçar, mas a gente se protege. Não tem ideia das coisas que a gente passou essas últimas semanas.

- Vocês todos vivem naquela casa?

- Não, não. Cada um tem a própria casa.

- Então vocês não são um pack de verdade.

- É meio diferente pra...

- O que você é?

Stiles piscou, sem saber como deveria reagir.

- Desculpa? - forçou a rosquinha em sua boca pelo fundo da garganta.

- Esse cheiro está me irritando. Você não é um lobo, como ele. - apontou. - Não é um coiote, como eu. E você não cheira humano. O que você é?

- Oh, hã... - trocou um olhar com Scott. - Raposa.

Ela ficou pensando alguns segundos, então deu de ombros, satisfeita.

- E vocês se transformam igual a gente?

- Não, eu não consigo me transformar.

- Eu não entendo. - olhou para o Alpha. - Como é que ele vai me ajudar?

- Ele me ajudou a controlar quando eu era novo nisso. Vai te ajudar também.

- Como comer vai ajudar?

- Já disse. - Stiles bebeu um gole de seu café. - Humanos não conseguem aprender muito quando estão estressados. Vai, você nem encostou no seu café.

A garota fechou a cara para seu copo. Pegou-o com um semblante desconfiado, mas o levou aos lábios mesmo assim.

- É quente. - passou a língua pelos dentes. - E doce.

- É por causa do chocolate. Admita, é gostoso.

- Eu gostava de chocolate. - por um momento, a garota pareceu prestes a sorrir pela primeira vez desde que Stiles a vira, mas disfarçou seja lá qual fosse sua reação com outro gole.

É, ela é mesmo parente do Derek. 

- Do que mais você gostava? - puxou assunto.

- O quê?

- Você disse que gostava de chocolate. Do que mais você gostava?

- Eu gostava da minha família. - sua voz abaixou algumas oitavas. - Mas agora só tenho meu pai e a tristeza constante dele.

O garoto abriu a boca, mas a fechou quase imediatamente. Olhou para Scott, que encarava um ponto fixo na mesa, os lábios comprimidos um contra o outro. Stiles tomou um gole de café. Depois outro. Depois outro. Assistindo as pessoas na cafeteria enquanto aquele canto se afundava cada vez mais na tensão.

É. - suspirou, terminando seu café. - Não estava esperando por isso. 

- Eu também gostava de filmes. - ela soltou de repente, enfiando outra rosquinha na boca.

- Gostava de quê? - Stiles piscou.

- Filmes. - deu de ombros. - Eu ficava sempre na frente da TV. Vendo desenhos.

- Hum... - lançou um olhar para Scott. - Interessante.

***

Stiles e Scott sentavam rígidos nas cadeiras do cinema.

- Stiles? - Scott se inclinou para a direita, sussurrando para o amigo.

- Sim? - chegou mais perto.

Ao invés de falar, o Alpha lhe entregou seu celular, que estava ligado em uma tela de bloco de notas, com uma frase escrita as pressas.

"Vc sabia q a família inteira morria nesse desenho?"

O garoto bufou, começando a digitar.

"Claro q nn. Era o único filme de animação disponível."

"Será q é melhor ir embora?"

"Vai parecer suspeito."

"Será q ela vai fica brava?"

Stiles se inclinou para frente, observando Malia do lado esquerdo do amigo. Ela apenas comia sua pipoca, parecendo desatenta a qualquer coisa que acontecia ao seu redor.

Voltou os olhos para o celular, voltando a digitar.

"Tá sentindo algum sinal químico de fúria?"

Scott levou alguns segundos.

"Não." - digitou. - "Ela tá tranquila."

"Ent a gente tbm tá."

***

- O que a gente faz agora? - Malia perguntou assim que saíram do cinema.

- Você gostou do filme? - Stiles perguntou.

- Foi legal. - deu de ombros. - O que a gente faz agora?

O garoto semicerrou os olhos. Tinha algo muito familiar ali. O jeito que ela claramente queria que ele pensasse que não se importasse, como ela queria que pensasse que não estava nem aí e seja lá o que fossem fazer agora, seria chato. Fingia estar entediada, mas, se realmente não estivesse gostando de estar ali, já os teria mandado voltar para a casa de Scott e para o treinamento. Malia não tinha nenhum filtro entre a boca e o cérebro, não tinha porque ficar ali se não quisesse.

Meu Deus, ela realmente era parente do Derek.

Stiles sorriu.

- Tem uma sorveteria do outro lado da rua.

Pela primeira vez, ela sorriu.

***

Eram quase nove horas quando o jipe de Stiles parou na frente da casa de Malia.

Stiles não tinha certeza do que achou que ia acontecer naquele dia, mas acabou se divertindo bastante. A garota não era de falar muito, mas fazia o que queria. Depois de um tempo, ela pareceu desistir daquela pose de desinteressada e começou a perguntar e entrar em lojas e outros lugares. Quando as lojas do centro fecharam, eles foram todos para o shopping.

O garoto se sentiu um pouco envergonhado se vestindo tão mal num lugar como aquele, mas o entusiasmo de Malia era ainda mais constrangedor. Ela olhava todas as roupas, objetos brilhantes, utensílios elétricos como se fosse a primeira vez que visse tudo aquilo, o que era compreensível para eles, mas estranho para todas as pessoas em volta. Depois de um tempo, parou de se preocupar e começou a aproveitar o momento.

Deixou Scott em sua casa primeiro. Isaac parecia irritado por eles terem sumido o dia todo, mas não disse nada. A viagem até a casa de Malia foi silenciosa, só com uma música calma tocando no rádio.

- Bom, chegamos. - se virou para trás. A garota encarava a casa com algo diferente nos olhos. - Nos vemos amanhã?

- Quanto tempo mais isso vai demorar? - ela não o olhou, mas ele percebeu algo estranho.

- Eu não sei, não é uma ciência exata.

- Não fizemos praticamente nada hoje.

- Mas você se divertiu, não se divertiu?

- Não fui até o Scott para me divertir, fui para me transformar. - suspirou. - No final, eu ainda voltei pra cá.

- Pra sua casa? Pra onde mais você iria?

- Essa não é a minha casa.

- Por que não? Sua cama confortável, internet, seu pai... - um rosnado vindo da garota o interrompeu. Ele levou alguns segundos para entender. - Oh, seu pai.

- Amanhã - sua voz se tornou amarga. - eu vou virar um coiote de novo. Essa é minha última noite aqui.

- Olha, eu sei que não deve ser fácil, mas eu tenho certeza que...

- Fácil pra mim, ou pra ele?

- O quê?

- É muito mais difícil pra ele. Ele está sempre triste, fica me perguntando o que aconteceu, fica tentando falar comigo, mas eu não... eu não sei o que dizer. Não sei como fazer ele se sentir melhor, não sei como fazer ele me deixar em paz.

- Se passaram oito anos. Ele sentiu sua falta.

- Eu também senti a dele, mas eu não me interesso por cada dia que passou nesses oito anos, ou pelo que ele faz cada segundo do dia.

Okay... - semicerrou os olhos. - Coiotes não devem ter um sendo de empatia muito desenvolvido.

- Eu não estou fazendo bem pra ele. - ela continuou. - Depois que eu sumir de novo, ele vai poder continuar com a vida dele.

- Não vai não.

- Por que não?

- Por que não é assim que funciona. A vida dele parou há oito anos. Se ele conseguir fazer alguma coisa de novo, vai ser junto com você. Se você deixar ele assim, logo depois de ele ter te encontrado de novo... vai ser uma tortura. É desumano.

- Eu não sou humana.

- Não podemos escolher o que somos. Você é humana. E toda essa dor e esses sentimentos de que você está tentando fugir fazem parte de ser um humano. - fez uma pausa. - Nós podemos te ajudar.

Ela não respondeu. Stiles esperou, na expectativa de descobrir um pouco mais sobre o emocional da garota, mas não conseguiu nada. Ela simplesmente abriu a porta de forma bruta e saiu, deixando ele sozinho no carro.
 


Notas Finais


comentem! me digam o que acharam :3


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