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História Trust me - Apoio


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


oiiiiiiiiiiiiiiiiiii huahsuahsuah
a primeira cena vai para SafiraDragon3, mto obggg! <3
espero que gostem! :3

Capítulo 87 - Apoio


*** Dia 2 de Maio ***

Stiles não sabia há quanto tempo estava encarando a primeira folha do caderno que Derek lhe dera. Suas costas estavam começando a doer por ficar tanto tempo curvado sobre sua mesa daquele jeito.

Quer dizer, como se começava uma coisa como aquela? 

"Querido Derek,"

Apagou a linha. Péssimo, Stiles, péssimo.

Suspirou, esfregando a testa.

"Amor da minha vida,"

Nope. Não.

"Futuro pai do meu filho,"

Meu Deus, cérebro. É tão difícil assim funcionar de vez em quanto?

Olhou em volta do caderno. A mesa estava cheia de pó de borracha. Deus, por que aquilo era tão difícil?

"Hétero super gostoso,"

Encarou a página por alguns segundos.

É, assim está bom.

*** Dia 4 de Maio ***

- Então, - Scott começou assim que Stiles terminou a explicação. - ele te deu um diário? Do Bob Esponja?

- Basicamente. - Stiles deu de ombros, folheando o caderninho em suas mãos. - Quer uma figurinha?

- Não, não. Estou bem.

Os dois haviam ido para a casa de Stiles depois da escola. Scott o ajudaria a estudar para a prova de biologia de terça-feira, no dia seguinte. Stiles compreendia a matéria, mas como eles tinham que estudar, estava mais que contente em deixar Scott se divertir explicando-o tudo.

O Alpha estava sentado na cama do amigo, com os livros abertos em seu colo, procurando a página certa. Stiles estava sentado em sua mesa, o caderno brochura preto de Derek logo a sua frente.

Isaac não estava ali. Por mais que Stiles odiava admitir, queria que estivesse. Mas, naquele dia, era a vez de Kira ajudar Malia. A garota tinha passado os últimos três dias indo à casa de Scott. Isaac insistiu que fosse com ela no primeiro dia à casa de Kira, para que as garotas se acostumassem mais facilmente com a presença uma da outra. Malia tinha um histórico de causar más primeiras impressões, e a Kitsune tinha um histórico de ser extremamente tímida em primeiros encontros.

- Olha só. - Stiles dissera para zombar do loiro. - Nem parece que odiava ela até uma semana atrás.

- Pois é. - Isaac concordara. - Comecei a gostar dela depois de uma semana, mas você continua sendo um desafio. O que será que isso diz sobre a sua personalidade?

Stiles o dera um soco no braço logo em seguida. Esperava que estivesse tudo bem com os três.

- Eu acho isso uma boa ideia. - a voz de Scott trouxe Stiles de volta ao presente. - Você já escreveu alguma coisa?

- Scott, eu estou com o caderno há três dias. - bufou. - Claro que já escrevi. Quinze folhas.

- Quinze folhas?

- Frente e verso.

- Boa sorte para o Derek. E ele? Escreveu alguma coisa?

- Ele me entregou o que escreveu quando eu fui na casa dele ontem. - pegou o caderninho do namorado. - Duas páginas só. Ele disse que era para nós dois, mas dá pra ver quem é que tem mais problemas.

- Você se abre mais fácil do que o Derek, tem esse fator. Ele escreveu sobre o quê? Espera. - ergueu uma das mãos a frente de seu rosto. - Eu não devia ter perguntado. É pessoal.

Stiles ponderou por um momento. Derek havia dito algumas coisas muito pessoais naquelas duas páginas. Sobre como tinha medo de que, como ele era seu primeiro namorado, Stiles fosse perceber que havia mais opções, melhores opções. O garoto se surpreendeu ao ler aquilo, porque havia escrito algo muito similar sobre o mais velho. Pensou que achava um medo bobo de Derek, então, provavelmente, Derek também acharia ser um medo bobo de Stiles.

Era estranhamente confortante como os dois eram ferrados em maneiras tão semelhantes.

- Ele disse que tem medo de me perder. - foi o que acabou contando a Scott. - Você acharia que alguém com aqueles bíceps teria uma melhor autoestima.

- É, autoestima não é só questão de aparência.

- Isso é deprimente, porque eu estava confiante que assim que eu ganhasse mais uns quilos minha autoestima melhoraria.

- Pode ser que melhore, mas você não pode contar só com isso. - encolheu os ombros. - E você? Escreveu o quê?

- Sobre o Miguel. Sobre perder ele. Sobre o Nogitsune. Sobre a minha autoestima. Sobre a faculdade. Sobre o Miguel de novo. E mais sobre ele. E mais de novo...

- Quem é Miguel?

- Ah, é assim que eu estou chamando o bebê até darmos um nome de verdade pra ele.

- O quê? Por que não ele chama de bebê?

- Porque bebê é o meu jipe. Não quero confusões.

- Sabe um nome legal? - Scott sorriu. - Doug.

- Doug? - fez uma careta. - Me lembra algum desenho... sabe, que tinha... alguém com um nome de maionese...

- Ah, qual é. Você não pode eliminar todos os nomes de desenhos.

- Também tinha um policial idiota que trabalhava com o meu pai que se chamava Doug. Não, não, más lembranças.

- E Richard? É um nome legal.

- É mesmo. - assentiu. - Tem uma sonoridade legal. Richard. Vou mandar pro Derek. - pegou o celular da mesa e começou a digitar a mensagem. - Mas é muito parecido com Rick. Já eliminamos Rick.

- Bom, vamos lá. - olhou para os livros em seu colo. - Você quer começar por onde?

***

- Você está nervosa. - disse Isaac.

- Não, não estou. - Kira estacionou o carro em frente a sua casa. - Só porque eu nunca fui professora particular antes, não quer dizer que eu estou nervosa por ser agora. Pela primeira vez. Porque eu nunca fiz isso antes. Pra alguém que eu não conheço. E que tem problemas de raiva. E que não estuda há oito anos. E que precisa de muita, muita paciência. - respirou fundo. - Okay, estou nervosa.

- Eu não vou mentir, a Malia é difícil. Muito difícil. Na verdade, ela é um saco. - sentiu o nervosismo da amiga aumentando. - Mas a gente teve um início complicado com ela, você pode se sair melhor. Quer dizer, quem ela conheceu até agora? Eu, o Stiles, Scott e o Derek. Nenhum de nós é bom com pessoas, você sim!

- A primeira vez que eu conversei com vocês, eu comecei a falar sobre demônios japoneses e disse que vocês iriam morrer.

- Tá, não foi bem assim. A gente meio que já estava naquela conversa, e você não sabia que nenhuma dessas coisas eram reais.

- Na segunda vez, eu fui resgatada de um terrorista que meio que usou meus poderes para fazer um ser maligno tomar conta do Stiles.

- É, isso foi mais culpa das circunstancias do que sua.

- Na terceira vez, vocês acharam que eu tinha nudes no celular.

- Em sua defesa...

- Na quarta vez...

- Okay, eu sinto que você ficou passando esses momentos várias vezes na sua cabeça e repensando cada detalhe e se convencendo de que você falou alguma frase idiota ou coçou o nariz de algum jeito embaraçoso. E, eu tenho que te dizer, isso não é saudável.

- É, foi exatamente o que eu fiz. É o que eu faço. Eu vou estragar isso de algum jeito, acredite.

- Mesmo que você fale alguma coisa embaraçosa, ela não vai entender. Sério, ela é lerda.

- Mas você vai estar lá.

- E você ainda tem vergonha de mim?

- Há! Não me subestime.

- Okay, olha. - colocou a mão no ombro da Kitsune. - Vai dar tudo certo. Fale em palavras pequenas e bem devagar, e vocês vão chegar em algum lugar.

- Você é mau com ela.

- Eu estava explicando física pra ela no outro dia. Acredite, "lerda" é eufemismo.

- Você é horrível, física é difícil. - abriu a porta. - Vamos entrar. Você acha que ela já está aí?

***

- Vocês demoraram.

Foi a primeira coisa que ouviram assim que pisaram na sala e jantar. Malia tinha vários livros de história abertos em cima da mesa, parecia ter começado sem eles. Ela tinha as costas completamente apoiadas no encosto da cadeira, os braços cruzados, e as pernas descansavam sobre uma outra cadeira. Isaac podia sentir a impaciência emanar dela.

- A gente estava na escola. - Isaac respondeu.

- Ainda assim, demoraram.

- Escola termina às três.

- Três da tarde? Meu Deus... - deixou a cabeça cair para trás, encarando o teto. - Estou começando a mudar de ideia.

- Você disse isso todos os dias na casa do Scott. - Isaac puxou um assento para si. - Já discutimos que não é opcional.

Malia bufou e abaixou o queixo de novo. Mirou Kira de cima a baixo, deixando a garota ainda mais desconfortável.

- Essa é a Kira? - perguntou.

- Ah... - a Kitsune engoliu em seco. - Sim, eu... prazer. Yukim... quer dizer, Kipa. Não, Kira. Kira, meu nome é Kira. Como você disse. E-eu moro aqui. Ah, você sabe. É minha casa. Você está na minha casa. Onde eu moro. Kira.

Isaac fechou os olhos e comprimiu os lábios, balançando a cabeça levemente. Oh, Kira...

- Aham... - Malia franziu as sobrancelhas, voltando o olhar para Isaac. - O que ela é? Ninguém me disse que ela era alguma coisa.

- Ela é um Kitsune.

- Como o Stiles?

- Ah... - deu de ombros. - Mais ou menos.

- Ela não cheira igual o Stiles.

- Existem tipos diferentes de Kitsunes.

- Tá bom. - descruzou as pernas e colocou os pés no chão, endireitando a coluna. - Então? Vamos começar?

***

Isaac tinha que admitir que foi melhor do que esperava. Kira não começou bem, mas quando começou a falar, uma estranha confiança tomou conta da garota. Ela sabia o que estava fazendo. E Isaac se impressionou com Malia também. Ele praticamente não precisava estar ali. A garota não se rebelou, não agiu impulsivamente, nem nada. Ouviu a Kitsune falar sem nunca interromper, ela até guardava suas dúvidas para o final.

O loiro não podia evitar se sentir indignado. Com ele e Scott, Malia havia sido um verdadeiro desafio. Sempre falando por cima, se irritando quando não entendia alguma coisa, e com o bastante de comentários sarcásticos para competir com o próprio Isaac. Mas ali não. Ela parecia completamente envolvida e interessada. Apesar que, o garoto tinha que admitir, Kira sabia explicar muito bem.

Quando decidiram que já estava bom para aquele dia, Kira dirigiu Malia para casa, e Isaac para a sua. O loiro ainda tinha que estudar para a prova de biologia no dia seguinte.

Antes mesmo de entrar, percebeu que Scott não estava - provavelmente continuava com Stiles - mas Melissa parecia assistir um filme na sala.

Assim que entrou, viu a mulher ali. Os olhos fixados na TV. Parecia estressada. Tinha uma taça pela metade nas mãos, e a garrafa de vinho no chão ao lado do sofá. Assim que notou Isaac, afastou a bebida dos lábios e abriu um sorriso.

- Isaac, querido! - procurou o controle remoto para pausar o filme. Parecia envergonhada. - Não te vi chegar.

- Hey, Sra. McCall. - andou em sua direção.

- Eu já disse pra me chamar de Melissa.

- Desculpa.

- Como foi na casa da sua amiga?

- Foi bem, foi bem. Você... ah... está tudo bem?

- O quê? Oh, é claro que está, querido. - colocou a taça na mesa de centro da sala. - Eu só... só estava estressada. Precisava relaxar.

- Eu não te culpo.

- Eu tenho uma coisa pra você. - se levantou.

- Pra mim? - franziu as sobrancelhas. - Como assim?

A enfermeira andou até o outro lado da sala, pegando uma sacola de cima da cômoda que Isaac nem mesmo notara. Voltou para o garoto com um sorriso e o entregou.

- Veja se gosta de alguma coisa, se te serve, e me avise.

Isaac piscou para o pacote em suas mãos. Eram roupas. Não pareciam novas, mas com certeza ainda estavam em bom estado. Ela estava lhe dando um presente?

- Sra. Mc... Melissa, não... não precisa. É sério.

- Não seja bobo, querido. Você tem tão poucas roupas, e não é como se as de Scott servissem direito. Então vai, experimente.

- Não precisa comprar pra mim. Vocês já gastam demais comigo...

- E vou continuar gastando o quanto eu quiser. - cruzou os braços. - Você mora aqui, Isaac. Está sob meus cuidados, e eu vou te mimar, você querendo ou não.

O loiro queria responder, mas não sabia o que dizer. Melissa trabalhava turnos duplos toda semana, estava sempre estressada ou cansada, tudo para pagar as contas da casa. E ali estava ela, se preocupando com o fato de que Isaac lavava as mesmas duas calças todos os dias para ir para a escola.

Ela precisa redefinir as prioridades. - pensou, sentindo a culpa tomar conta de seu peito. - Eu não devia ser uma delas.

- E, também, - ela continuou. - você tem me ajudado bastante com as coisas aqui. Você merece.

- Eu moro aqui. Não é mais que a minha obrigação.

- É, claro. Diz isso pro Scott, o senhor "eu arrumo minha cama, e isso já é suficiente". - suspirou. - Vai experimentar. - apontou com o dedão para as escadas atrás de si. - Pode pegar todas, se quiser. Eu consegui um bom preço nelas.

*** Dia 6 de Maio ***

Lydia havia subestimado o quão complicado seria explicar química para alguém que vivera como um animal desde criança. Mas Malia era dedicada, isso ela tinha que admitir. A garota queria entender, ela só precisava de mais tempo para conseguir acompanhar o pensamento de todo mundo.

Estavam sentadas na cama da ruiva, que usava o computador para explicar melhor. Química era uma coisa visual. Escolheu vídeos para mostrar, e ia falando conforme os experimentos iam acontecendo. Nada muito extravagante, coisas que Malia pudesse identificar.

A cada vídeo, a beta parecia mais intrigada, fascinada. Como se visse mágica acontecer. Em certo ponto, viu algo tão surpreendente que precisava assistir de novo.

- Volta! - agarrou o mouse por cima da mão de Lydia, voltando o vídeo no começo.

A Banshee imediatamente reagiu ao toque. Seu estômago ficou frio. As vozes encheram sua cabeça. Ela paralisou no lugar, como se estivesse em um transe. Aquilo nunca ficava menos desnorteante, menos esmagador. Ela nunca sabia exatamente o que era. Era sempre uma intuição, mas também parecia uma coceira. Ou, pelo menos, era assim que começava. Aquilo ia acumulando, aumentando conforme o tempo passava, pressionando contra o crânio da garota. Uma informação desesperada para ser libertada.

- Lydia? - Malia chamou. - Tudo bem?

- Aham. - engoliu em seco. - Vamos... vamos para o próximo.

Só tinha um jeito de aliviar a pressão, ela sabia.

Mas esperou. Horas, com aquela coceira interminável, até Malia ir embora. Até estar sozinha em casa.

Então ela gritou.

***Dia 7 de Maio***

- Que tal Wilson?

- Stiles.

- É, você tem razão, Der. É muito comum. Então... Jord... não. Jordan não, más memórias. Que droga, por que isso é tão difícil?

- Stiles, você vai deixar queimar.

- Eu estou olhando, eu não sou idiota. - pensou por um momento, vendo o namorado cortar os tomates na pia. - Que tal... Eli. Não, espera, minha mente ainda está ali. Que droga, eu tenho que pensar em outra coisa.

- Stiles, se você não ficar mexendo, vai queimar.

- Como você sabe?

- Ah, pelo amor de Deus. - Derek e apressou em pegar uma colher de pau na gaveta da pia e se dirigiu ao fogão, onde seu namorado incompetente deixava o feijão queimar. - Deixa que eu faço, sai.

- Já sei, Jonas. Jonas é lindo, eu gostei. Ou... ou Philbert. Podíamos chamar ele só de Phil.

- Eu devia ter feito isso enquanto você não estava aqui.

- Ah, qual é. Isso é uma coisa nossa agora. - abriu os braços, sorrindo. - Nós somos namorados que cozinham juntos para que nosso filho se desenvolva bem e saudável. Eu não sabia o quão divertido isso podia ser.

- Pra mim, é estressante.

- Você está sempre estressado.

- Olha o que você fez com a minha cozinha.

- Ah, não. Isso não é só culpa minha, nem tenta. E eu vou te ajudar a limpar.

- Eu devia te fazer limpar sozinho.

- Eu vou terminar a salada.

- Não! - arregalou os olhos. - Eu não confio em você com a faca.

- O quê? Você acha que eu vou arrancar meu dedo, ou coisa parecida?

- Isso sendo otimista.

- Haha. Está bem, eu vou lavar a alface, então. Pode ser? - começou a andar até a geladeira, em passos lentos. - Acha que eu consigo lidar com isso?

- Claro, claro. Vai em frente. - sorriu. - Estou curioso para ver como você vai arrumar um jeito de se matar sozinho com a alface.

Stiles estava prestes a responder, mas uma batida na porta chamou a atenção dos dois. Derek desligou o fogo do feijão, mexendo-o algumas últimas vezes.

- Quem é? - o garoto pegou um guardanapo de papel para limpar as mãos.

- É a Lydia. - Derek também limpou as mãos.

O garoto franziu as sobrancelhas. Ele já teve um mal pressentimento quando a amiga faltou na aula naquele dia, e agora estava no loft. Da última vez que estivera ali, foi para gritar na cara deles no meio da noite porque estava tendo premonições de que Derek ia morrer. É, Stiles estava oficialmente preocupado.

Andaram até a porta. Diferente da última vez, Lydia não parecia com um fantasma assassino de filmes de terror, ela parecia seu eu normal. Talvez até arrumada demais, comparada a Stiles e Derek, que estavam de camiseta e bermuda.

- Hey, Lyds. - abraçou a amiga. - Está tudo bem?

- A gente precisa conversar. - ela se convidou para entrar, se jogando no sofá de Derek.

- Oh, isso nunca é bom. - Stiles cruzou os braços, enquanto Derek fechou a porta de novo. - O que aconteceu? Premonições de Banshee? Quem que vai morrer dessa vez? Se for o Derek de novo, eu juro que vou ter um colapso mental.

- Não, ninguém vai morrer. Olha. - respirou fundo. - A Malia foi na minha casa ontem, pra estudar.

- Certo. - se sentou ao lado da ruiva. Derek se acomodou na poltrona, ainda sem dizer uma palavra.

- Eu senti uma coisa. Uma intuição. Eu... eu acho que eu descobri uma coisa. Sobre a Malia.

- Ela vai matar todo mundo, não vai? - suspirou. - Eu sabia que...

- Tem a ver comigo. - Derek se pronunciou. - Você descobriu o parentesco dela.

Lydia engoliu em seco.

- Eu estava com o Parrish. Ele concordou em me ajudar, porque eu estou ajudando ele a descobrir a criatura sobrenatural que ele é. Nós meio que rastreamos os papéis de adoção da Malia. Registros dos hospitais. Encontramos uma mulher chamada Corinne. Te é familiar?

Derek negou com a cabeça.

- Bom, ela era uma amiga da sua mãe. Era próxima da sua família. Ela está desaparecia, agora. Simplesmente sumiu do mapa. Sua última aparição foi na América Central.

- Eu não me lembro de já ouvir esse nome.

- Eu acho que... eu tenho quase certeza, que a ligação dela com Peter era possível.

- Espera. - Stiles levantou uma das mãos. - Peter?! Quer dizer, o Peter?

- Eu acho que sim. - assentiu. - Devíamos falar com ele.

- Nem pensar..

- Devíamos. - disse o beta.

- Derek! É o Peter! Ela está trancado na Eichen House.

- Ainda podemos falar com ele.

- O problema não é ele estar trancado, é o porquê. Lembra? Ele tentou te matar.

- De novo: ele não tentou me matar.

- A gente está mesmo tendo essa conversa de novo?

- Stiles. - sua voz era firme. - Eu prometi a Malia que iria ajudar.

Stiles suspirou. Sua vida era um drama atrás do outro.

*** Dia 8 de Maio ***

Derek odiava aquele lugar.

Stiles não quis vir com ele, Derek nem mesmo insistiu. O namorado também não era muito fã da ideia de o beta vir sozinho, mas os dois eventualmente concordaram.

O lobisomem seguiu o funcionário até a cela de Peter. Ele se sentia sobrecarregado pelo lugar. Cada parede continha cinzas da montanha. O prédio era construído para enfraquecê-lo, principalmente aquele andar.

A cela de seu tio era um quarto de tamanho médio, mas um vidro a separava no meio. A cela mesmo só tinha uma cama e uma privada. Do outro lado, Derek viu Peter como nunca o havia visto antes. Estava degradado, sujo, deitado na cama com um livro em mãos, a única coisa que tinha para fazer naquele lugar.

Uma risada veio de sua garganta. Derek se manteve firme.

- Olha só. - Pete dobrou a ponta da folha que estava lendo para não perder a página e deixou o livro de lado. - Eu estava me perguntando o quanto eu teria que esperar até receber uma visita.

Derek não respondeu. Doía ver o tio daquele jeito. Alguém que um dia ele confiou tanto, em que se apoiou tanto. Mas ele tinha que ser realista. Aquela pessoa se fora há muito tempo atrás. Morrera no incêndio. O que sobrara era uma versão enraivecida e distorcida do que já havia sido.

- Vai me dar o tratamento do silêncio? - se sentou na cama. Tinha uma expressão quase teatral. - Eu admito que não estou na minha melhor forma, mas quem é o culpado disso?

- Você. - Derek nem mesmo hesitou.

- Oh, é claro. É claro que você pensa assim.

- Você tentou matar o Scott.

- Eu fiz o que era certo. Uma criança não merece um poder como aquele. Não sabe nem o que fazer com o que tem.

- Eu não vim aqui para conversar.

- Você nunca vem para conversar. Sempre atrás de alguma coisa. O que é, dessa vez? Como posso salvar o traseiro seu e daquelas crianças inconsequentes hoje? No que foi que Stiles se meteu dessa vez?

- Você conhece uma mulher chamada Corinne?

Peter franziu as sobrancelhas.

- Por que está me perguntando isso?

- Responda.

- Não, não conheço.

Derek concentrou sua audição. Batidas constantes. Ele não estava mentindo.

- E quanto a uma garota chamada Malia?

- Sinto que você desperdiçou seu tempo aqui. Eu não reconheço nenhum desses nomes, e não sei porque deveria.

- Pense. - deu alguns passos para frente, ficando a um metro do vidro. - Essa mulher, Corinne, era amiga de Talia.

- Eu não sabia de tudo o que acontecia na vida de minha irmã.

- Você sabia o suficiente. Ela esteve perto de nossa família por bastante tempo.

- Se fosse verdade, você acha que eu não lembraria de... oh. - suspirou, cruzando os braços. - Há uma possibilidade.

- O quê?

- Talia... roubou algumas memórias de mim. Talvez tenha roubado de você também.

- Por quê?

- Se eu me lembrasse, eu poderia te responder.

Derek bufou. Não sabia quanto tempo mais conseguia ficar ali. Era sufocante.

- Se você quer desenterrar isso, - continuou. - eu sugiro usar Lydia.

- Como?

- Você ainda tem as garras de sua mãe, não tem? - sorriu de lado. - Não as perdeu, não é mesmo?

O beta ouviu o suficiente. Peter não tinha mais informações para dar-lhe, e para o resto, já sabia como agir. Então deu as costas ao tio, andando até a saída.

- É isso? - ouviu Peter rosnar atrás de si. - Vai me deixar aqui? Depois de eu te ajudar? Depois de todas as vezes que eu te ajudei antes?! Com Jackson! Com...com...o idiota do seu namorado ainda estaria possuído se não fosse por mim! Eu...

Derek não aguentou mais. Cerrou a porta atrás de si, deixando o tio e tudo aquilo para trás. Mas não era suficiente. Apenas conseguiu respirar de novo quando saiu daquele maldito prédio.

***

- O que eu faço? - Lydia perguntou, mirando as garras à sua frente, mesinha de centro da sala do loft.

Stiles se sentiu mal por ela. Todos sempre esperavam que ela tivesse uma solução milagrosa. Como não sabiam exatamente os poderes da garota, ela era como uma explosão de potencial que precisava ser testado. Aquilo parecia exaustivo só de pensar.

Resolveu se sentar ao lado da amiga no sofá, para lhe dar suporte. Derek estava sentado na poltrona a frente dos dois, parecia tenso. Stiles conversaria com ele mais tarde,

- Se concentre. - disse o beta. - As garras podem conectar você com o espírito de Talia. Você sabe o que quer. Quer a memória que ela arrancou de Peter, e, possivelmente, de mim. Apenas concentre-se e procure pela informação.

A ruiva respirou fundo e assentiu. Fechou os olhos.

Stiles imaginou se ter se sentado com ela era uma boa ideia, talvez ela precisasse de espaço. Não sabia bem o que fazer ali. Derek olhava Lydia com expectativa, os cotovelos rígidos apoiados nos joelhos, as mãos juntas entre as pernas.

Começou a bater o pé no chão. Quanto tempo já havia passado? Dez minutos. Deus, parecia que estavam ali há horas. Sua boca estava tão seca, estava com sede. Seus dedos começaram a tamborilar contra o joelho. Será que seria ruim ir até a cozinha? Não era tão longe, mas talvez seus passos fossem desconcentrar Lydia. Uau, quanto tempo fazia que não comia? Precisava comer. Será que ainda tinha...

- Stiles? - Lydia chamou.

- Hum?

- Está atrapalhando.

- Oh. - enrijeceu seus músculos, tentando parar de se mexer. - Desculpa.

- Stiles, - Derek se pronunciou. - por que você não pega água pra gente?

- Okay. - assentiu, se levantando. - Entendi. Eu vou... pegar água. Ali na cozinha. Deixando vocês sozinhos.

Saiu do cômodo o mais silenciosamente possível. Ainda podia ver os dois dali. Lydia voltou a se concentrar.

Certo. - abriu a geladeira, procurando a água. - É só não fazer barulho.

Pegou a garrafa amarela onde deixavam a água gelada. Estava cheia, tão pesada que Stiles precisava segurá-la com as duas mãos. Deixou-a em cima da pia, aliviado por não segurá-la mais.

Abriu o armário de parede, procurando pelos copos. Eles eram guardados no mesmo cabinete em que Derek guardava os vinhos. Algum dia Stiles ainda ficar muito bêbado com todas aquelas garrafas. Daqui a alguns meses. Hum... Tobias era um bom nome também.

Pegou o copo. Com a visão periférica, viu Lydia esticar o braço para tocar as garras. Oh, alguma coisa estava acontecendo, ele tinha que ver.

Curvou as costas, tentando ficar em um ângulo melhor para ver direito o que estava acontecendo. Antes que percebesse, a garrafa de plástico escapara de suas mãos e causara um estrondo ao cair no chão, inundando o piso quase imediatamente.

Tentou minimizar o desastre, pegando a garrafa e colocando-a de volta na pia, mas acabou derrubando o copo, que se desmanchou em dezenas de pedaços no chão.

Cobriu a boca com a mão, observando a zona de guerra que em que havia transformado a cozinha em menos de um minuto.

Quando voltou o olhar para a sala, nenhum dos dois o olhava de volta. Tinham os rostos cobertos com as mãos, estressados.

- Eu... - apontou o teto. - Eu vou lá pra cima.

***

Derek o chamou de volta à sala depois de alguns minutos.

- E aí? - perguntou, sentando-se de volta no sofá. - O que descobriu? É o Peter mesmo?

- Temo que sim. - Lydia suspirou. - Mas eu descobri mais um coisa. Aquela mulher, Corinne, ela tinha um codinome. Talvez signifique alguma coisa para vocês.

- Qual era? - perguntou Derek.

- A Loba do Deserto.

***

- Obrigado, Lydia. - Stiles fechou a porta, ficando sozinho com o namorado no loft. - Bom, e agora?

- Agora? - Derek bufou, deixando as costas se apoiarem no encosto do sofá. - Agora você vai arrumar a minha cozinha.

O garoto revirou os olhos. É claro que ele ia arrumar tudo, em algum momento. Naquele segundo, havia alguma coisa incomodando Derek. Era hora de ser um bom namorado mais uma vez.

- Eu vou arrumar. - andou até o beta e se sentou em seu colo, ficando cara a cara com ele e passando os braços por seus ombros. - Assim que você me disser como está.

- Estou bem. - envolveu a cintura do menor. - Estou triste pela minha cozinha.

- Como foi com o Peter?

Derek suspirou. Sua testa caiu sobre o ombro de Stiles, que o abraçou para trazê-lo mais perto.

- Foi tão ruim assim? - depositou um beijo nos cabelos negros.

- Não, suponho que não. Não sei como estou me sentindo. - respirou fundo. - Ver Peter daquele jeito foi... difícil.

- Você sabe que ele merece isso, não é?

- Eu sei. Mas, ao mesmo tempo, tem muito que eu devo a ele.

- Você não deve nada a ele.

- Foi graças a ele que te separamos do Nogitsune.

- Tá, ele fez uma coisa legal, isso não desculpa por tentar nos matar.

- E ele ajudou quando eu fui sequestrado pela Kate.

- É, mas, de novo: tentou nos matar.

- Eu sei. - deu de ombros. - Mas é minha família.

Stiles suspirou. Não tinha mais argumentos. Derek sabia tudo o que pudesse lhe dizer, mas Peter era seu tio, ele tinha o direito de estar triste por como as coisas aconteceram.

Puxou a cabeça do namorado de seu ombro, para que pudesse fazer contato visual. Deus, que olhos lindos, podia encará-los para sempre.

Juntou suas testas, então seus lábios. Tão macios contra os seus, mas firmes também. Segurou a nuca do maior, enquanto este apertava sua cintura. Ambos temerosos de que o outro se afastasse, como se isso fosse possível. O beijo terminou com um pequeno sorriso de Stiles, e vários outros beijinhos no rosto do beta.

Queria dizer que ia ficar tudo bem, mas havia desistido daquela frase. Nunca chegava a lugar nenhum. Precisava demonstrar, não dizer.

- Você é lindo. - disse, enterrando os dedos nos cabelos de Derek.

- Aham. - lhe deu um último beijo. - E você é a pessoa que vai arrumar minha cozinha.

*** Dia 9 de Maio ***

- Tem certeza de que quer fazer isso? - Stiles tinha que perguntar uma última vez

Do bando de trás do carro de Derek, Malia suspirou. Do lado de fora do carro, a visão da Eichen House naquela dia nublado causava arrepios a qualquer um que passasse em frente.

- Pela milionésima vez, sim. - voltou o olhar para Derek no banco do motorista. - Ele é sempre assim?

- Até que ele está comportado hoje. - foi o que o beta respondeu.

- Malia, é sério. - Stiles a ignorou. - Ele é o seu pai, tá. Mas ele é uma péssima pessoa. É um imbecil manipulativo. Mesmo que ele não possa te machucar fisicamente, ainda pode mexer com a sua cabeça.

- Eu sei me cuidar.

- Não, você não sabe! Você não tem nenhuma barreira emocional, você nunca precisou disso na floresta!

- Eu vou estar com ela. - Derek entrou na conversa. - Tem certeza que quer ficar no carro?

- Ah, sim. - Stiles estremeceu levemente. - Eu quero mostrar suporte emocional e tudo mais, mas é melhor eu ficar aqui.

- Sim, eu sei. Digo, tem certeza que quer ficar no carro? Você vai morrer de tédio.

- Ah, eu baixei uns episódios de Dr. House para ficar assistindo. - pegou o celular em seu bolso. - Eu vim preparado, não se preocupe comigo. Se preocupe com a senhora "eu preciso falar com o meu pai psicopata" ali no bando de trás.

- Certo. Então você fica aqui, e nós vamos falar com o meu tio psicopata.

- Se cuidem, crianças. - sorriu de lado, dando um beijo de despedida no namorado antes dos dois saírem do carro.

Ele imaginou que, em outras circunstâncias, teria feito de tudo e discutido com quem fosse para que o namorado não fosse sozinho. Arriscaria sua saúde mental e ataques de pânico entrando naquele lugar horrível que ainda lhe trazia pesadelos. Sim, teria feito isso no passado. Sempre fora inconsequente.

Mas ele tinha apenas alguns meses para se tornar uma pessoa responsável e emocionalmente estável, e não ia estragar tudo. Não podia estragar tudo. Miguel precisava dele.

O garoto bufou.

Miguel é um ótimo nome. - desbloqueou o celular, pronto para se distrair com uma de suas séries preferidas. - Merda de país que fala inglês. Só tem nome ruim...

Talvez Matthew...

***

Apesar de dizer a Stiles que estaria com Malia o tempo todo, tudo o que Derek fez realmente foi acompanhá-la até a cela do tio. Dali em diante, sabia que a garota precisava de privacidade. Se não fizesse aquilo sozinha, estaria sempre com perguntas na cabeça e jamais estaria em paz.

Então esperou do lado de fora. Esperou por pelo menos meia hora, até a garota sair de lá, com a mesma feição de quando havia entrado.

- Vamos? - ela cruzou os braços. Não parecia abalada, nem nada do gênero. Derek não sabia bem como a garota se sentia.

- Tudo bem? - tentou soar neutro. - Como foi?

- Eu não sei o que esperava. - deu de ombros. - Ele falou, eu ouvi. Nada demais.

- Você contou pra ele? - ela apenas assentiu. - E você está bem?

- Eu descobri que minha família de verdade é composta por: ele, que assassinou sua irmã; a Loba do Deserto, que assassinou um monte de gente; você, que eu nem preciso dizer; e eu, que também não preciso dizer. - suspirou, abraçando o próprio corpo. - Eu acho que eu podia estar pior. Sinto como se fôssemos amaldiçoados. A família inteira.

- Talvez. - sentiu um gosto amargo em sua garganta. - Mas ainda estamos aqui. E você tem que saber que pode contar comigo, se precisar.

- Sério? - grunhiu, mostrando uma expressão desacreditada. - Você me ideia bem longe na semana passada.

- Você não tinha nada a ver com aquilo, era eu. E as coisas mudaram. Você é da minha família, quero que fique bem. - fez uma pausa. - Você acha que vai vir fazer outras visitas?

- O Stiles não...

- Ele não tem que saber. E, depois, é decisão sua, não dele. Se algum dia quiser falar com Peter de novo, eu venho com você.

- Obrigada. - sorriu de lado. - Mas eu não acho que vá acontecer.

- Me da seu celular.

- O quê?

- Seu celular.

Ela hesitou por um momento, mas não protestou. Derek pegou o celular da garota e salvou seu número nos contatos.

- Se um dia você decidir vir de novo, - devolveu o aparelho. - ou se precisar de qualquer outra coisa. Pode me ligar.

***

- Chegamos. - Stiles anunciou assim que estacionaram na frente da casa de Malia. - Última parada do dia, senhoras e senhores. Agradecemos a preferência pela Derek expresso. Nossas viagens à manicômios para conversar com pais psicopatas são válidas apenas uma vez na vida. Nossos outros serviços incluem...

- Ele está se comportando assim porque você não falou nada a viagem inteira. - Derek se virou para trás, explicando para a garota. - Ele está pensando em mil coisas que você pode estar pensando e está ativando nervoso.

- Você me conhece tão bem. - o menor sorriu, também se virando para falar com Malia. - Mas então? No que você está pensando?

- Eu quero achar minha mãe.

Eles caíram no silêncio por alguns momentos. Stiles e Derek se entreolharam. Stiles estava levemente alarmado, e Derek tinha a feição séria de sempre, como se já estivesse esperando por aquilo.

O menor bufou.

- Jesus, como você dá trabalho.

*** Dia 11 de Maio ***

Como sempre, Malia já estava em casa quando Kira chegou da escola naquela segunda-feira. Ela havia tido dois dias sozinha com a garota até o momento, já que Isaac disse que sua presença não era requerida naquelas aulas.

E realmente não era. Falar com Malia era bem mais fácil do que os garotos haviam insinuado. Talvez a beta simplesmente não gostasse deles, ou coisa do tipo, Kira não sabia dizer. Apenas sabia que estava se divertindo com aquelas aulas, principalmente as de história.

Diferente do que havia pensado, Malia era realmente engajada no assunto. Ela queria entender, queria aprender. Estudar história com ela era como ler um livro, ou ver um filme juntas.

Então foi o que a Kitsune preparou para aquele dia. Selecionou um filme sobre Esparta e um sobre o Egito para complementar o assunto de civilizações antigas. Malia gostou tanto dos filmes que foi até cômico. Ela parecia se divertir com cenas de ação, tinha uma reação para cada golpe e cada morte de personagem.

No começo do segundo filme, Kira acabou pegando no sono. Em sua defesa, ela já havia assistido aquele filme tantas vezes que quase decorara as falas. Somente acordou com Malia balançando seu ombro, chamando seu nome.

- Kira? - chamava em uma voz suave. - O filme acabou. Kira?

A Kitsune piscou, esfregando as pálpebras para despertar. Assim que percebeu onde estava, congelou no lugar. Estava com a cabeça no colo de Malia, deitada de lado no sofá. A beta acariciou o cabelo de Kira, tirando uma mexa que estava em seu rosto.

- Kira? - franziu as sobrancelhas.

A garota se sentou em um pulo, ainda com uma expressão alarmada, e o rosto ardendo de tanta vergonha.

- Desculpa. - engoliu em seco, falando uma palavra por cima da outra. - Foi sem querer. Eu não quis dormir com você. Em você! Em você. Em cima de você.. não com você. Quer dizer, eu não quero dormir com você. Quer dizer... não que tenha nada de errado com você, eu só... quero ficar com... as roupas. Eu não sei. Deixa pra lá.

Malia piscou.

- Okay... - deu de ombros. - Vamos ver outro filme?

- Oh. - Kira limpou a garganta, o rosto ainda queimando. - Ah... você quer ver mais um? Já são... - pegou seu celular no bolso. - São sete e meia.

- O que que tem?

- Vai ficar tarde.

- Mas a gente nem viu as outras civilizações! - protestou. - Quer dizer, e os gregos? Os romanos? A Mesopotâmia? Babilônia? Os persas, os fenícios...

- Wow, calma. - levantou uma das mãos. - A gente só viu metade desses ai, como você...

- Eu estudei mais em casa. - deu de ombros. - Eu acho interessante. E aí depois a gente pode conversar sobre isso aqui, não queria que a gente ficasse sem assunto, ou que você achasse que eu não estou interessada. Então...

- Oh. - sorriu de lado. - Isso é legal. Ah... bom, acho que a gente pode procurar mais filmes, se você não se importa de voltar tarde pra casa.

- Nem um pouco.

*** Dia 12 de Maio ***

Isaac achou estranho quando entrou no refeitório da escola e viu a mesa dele e de seus amigos ocupada por outras pessoas que nunca havia visto antes. Procurou por todos os lados até constatar que nenhum deles estava ali. Onde diabos estavam, então?

A outra alternativa era a biblioteca. Talvez eles estivessem estudando para a prova de geografia no próximo período. Assim que chegou ao lugar, pôde sentir o cheiro distinto e inesquecível da ansiedade de Stiles, assim como o barulho de seus dedos nervosos batucando contra alguma superfície.

Subiu para o segundo andar da biblioteca. Stiles e Kira estavam na mesma mesa, atenção focada nos livros a sua frente. Scott estava ali também, mas em uma mesa separada. Scott era do tipo que preferia estudar isolado de todos para evitar se distrair.

Tirou a mochila dos ombros e andou até os amigos, se sentando na cadeira ao lado de Stiles.

- E aí. - jogou a bolsa no chão ao seu lado. - Como vocês estão?

Ótimo! - Stiles falou alto demais para o lugar em que estavam. - Não dá pra você sentir o quão ótimo eu estou?!

Isaac arregalou os olhos. Se virou para Kira, que lhe devolveu a mesma expressão impressionada em seu rosto. Stiles nem mesmo se deu o trabalho de olhar para cima, apenas continuou batendo os dedos na mesa e o pé no chão, lendo compulsivamente o livro de... economia?

- Vocês estão estudando pra economia? - o beta tinha até receio de perguntar.

Stiles apenas soltou um suspiro irritado, então Kira assumiu a responsabilidade de manter a conversa.

- A gente descobriu que vai ter um prova surpresa hoje. - explicou. - A gente te mandou mensagem avisando.

- Eu nem vi. - tentou ler o que estava no livro do amigo por cima de seus ombros curvados. - Mas economia é fácil.

Mas economia é fácil. - Stiles repetiu com uma voz aguda e agressiva. - Você já pensou, Isaac, que talvez a sua opinião pessoal não seja um padrão universal?

- Como é que é? - o loiro não poupou a indignação em sua voz.

O amigo parecia prestes a responder, mas se interrompeu de maneira bruta. Curvou o corpo para frente e cobriu a boca com o punho fechado, como se estivesse prestes a vomitar. Se conteve, engolindo de volta tudo o que lhe subiu à garganta. Kira enrijeceu na cadeira, ficando alerta. Até mesmo Scott, na mesa distante, ficou atento.

- Wow. - Isaac exclamou. - Você está bem?

- Não ouviu quando eu disse que estava ótimo? - resmungou, escondendo o rosto nas mãos. - Minha cabeça está explodindo, meu estômago quer sair do meu corpo, eu vou ter prova de uma matéria que eu não entendo, tem uma picada de pernilongo na minha mão que não para de coçar... nada está dando certo, e eu não sei por que diabos eu saí da cama hoje. - sua voz ficou embargada no final, e ele cerrou o maxilar para se controlar.

Isaac sentiu o lugar inundar com raiva, vergonha, tristeza e frustração. Tudo de uma vez. Stiles respirou fundo com a boca e cerrou os punhos, tentando com tudo o que podia manter tudo dentro de si.

- Huh. - o loiro cruzou os braços, levantando uma das sobrancelhas. - Isso é uma daquelas coisas de grávida em que elas ficam super emotivas?

Com a visão periférica, viu Kira e Scott arregalar os olhos, como se estivessem prestes a ver um desastre.

Stiles cerrou os dentes e socou os punhos contra a mesa, deixando escapar de sua garganta um grunhido de raiva que a biblioteca inteira certamente escutou.

- Por que você é assim?! - apoiou os cotovelos em cima do livro e a testa nas mãos, mordendo os lábios para evitar chorar.

O beta encolheu os braços contra o próprio corpo, procurando se proteger. Quando olhou para os amigos em busca de apoio, recebeu seus olhares de reprovação e descontentamento. Scott tinha até as mãos na cintura para complementar seu olhar de "olha o que você fez".

Isaac lhe respondeu com um encolher de ombros e um olhar de "o que foi que eu fiz?".

Suspirou. Mas que palhaçada.

Colocou a mão no braço do amigo e se concentrou em sugar sua dor. Suas se tornaram grossas linhas negras que subindo por seu braço, espalhando uma dor surda por todo seu corpo. Sentiu um súbito mal-estar e ânsia de vômito, assim como pontadas fortes na cabeça. Stiles arfou, primeiro enrijecendo, e então relaxando.

- Wow. - o menor fungou, limpando as bochechas. Franziu as sobrancelhas para Isaac, levemente confuso. - Você...

- Caralho, Stiles. - fez uma careta, segurando toda a bile saiu de seu estômago. - Não se acostuma, eu nunca mais vou fazer isso. Se eu pudesse te devolver tudo, eu devolveria e nem me sentiria culpado.

- Eu não te pedi pra fazer nada. - limpou a garganta e secou as pequenas lágrimas que ainda tinha nos olhos. - Espero que você esteja morrendo de enjoo.

- Sério? Você é um idiota.

- Você que é a pessoa horrível aqui. - respirou fundo, ainda um pouco trêmulo. - Eu ainda vou ir muito mal nessa prova.

- Hey. - Scott havia saído da outra mesa e se sentado ao lado de Kira. - As provas surpresas não tem o mesmo peso das normais. E você vai ir bem na de geografia.

- Acha mesmo?

- Claro que você vai. - Kira lhe deu um sorriso carinhoso. - Você estava me explicando hoje mais cedo, lembra? Você vai ir bem.

- Aham. - Scott concordou com a cabeça. - E, hey, da próxima vez que estiver mal, pode falar pra mim. Eu estou sempre aqui pra te ajudar, você devia saber disso.

- Eu estou mal. - Isaac entrou na conversa, atraindo todos os olhares para si. - Não que alguém se importe, mas eu resolvi os problemas do Stiles, e agora estou sofrendo.

- Menos, Isaac. - Scott bufou. - Bem menos.

- Me sinto tão sozinho.

- Tá, tá. - Stiles esfregou os olhos. - Deus, este dia está sendo horrível.

- Pra mim també...

- Cala a boca, Isaac. - o garoto suspirou. - Sabe o que eu queria? Macarrão com queijo.

- Isso melhoraria seu dia? - Scott perguntou.

- Macarrão com muito queijo. - estalou a língua. - Muito queijo. E molho.

- Aí, que ótimo. - Isaac bufou. - Agora ele está tendo desejos. Você é um problema atrás do outro. 

Stiles suspirou, melancólico.

- Eu sei. - deitou sobre o livro ainda aberto, se escondendo em seus braços. - Eu sei.

Mais uma vez, Isaac se viu atacado pelos olhares reprovadores e aborrecidos de seu namorado e sua amiga.

- Ah, pelo amor de Deus. - grunhiu. - Stiles, para de ser dramático.

- Isaac! - Scott colocou a mão no ombro do melhor amigo. - Stiles, você não está sendo dramático. Está tudo bem. Estamos aqui pra você.

- Ah, para. - o loiro esfregou os olhos, se sentindo cansado. - Não sei se eu vou conseguir lidar com isso por mais seis meses.

- É, - Stiles levantou a cabeça. - porque é você quem vai ter que lidar com tantas mudanças na sua vida, não é mesmo?

- Dra-ma. - respirou fundo. O mal-estar que tirou de Stiles finalmente parecia se esvair. - E a Malia? Kira, é você quem vai ficar com ela hoje?

- O quê?! - a garota ficou vermelha quase imediatamente. - Eu não vou ficar com ela. Não quero ficar com ela. Aquilo não quis dizer nada. Como você sabe?

A mesa caiu no silêncio. Os olhos dos garotos se fixaram em Kira, confusos e perplexos. Quando percebeu que falou um pouco mais do que devia, a Kitsune escondeu o rosto nas mãos.

- O quê? - Stiles foi o primeiro a se pronunciar.

- Ah, meu Deus. - Scott sorriu. - Você gosta da Malia!

- Não! - a mentira era tão clara na voz quanto nas batidas irregulares de seu coração.

- Meu Deus, Kira. - Isaac revirou os olhos. - Você não consegue encontrar uma garota sem se apaixonar?

- Não é verdade!

- Claro que é! Primeiro a Allison, agora a Malia. Você é tipo, um desastre lésbico.

- Não é toda a garota. A Lydia é só minha amiga. E eu não estou apaixonada pela Ma...

- E você não quer pegar a Lydia? - Stiles perguntou.

- Não!

- A gente sabe quando você mente. - Isaac fez questão de lembrá-la.

- Eu não... - sua voz foi interrompida pelo sinal do fim do intervalo. Ela se levantou, juntando suas coisas rapidamente. - Essa conversa termina aqui.

- Essa conversa definitivamente não termina aqui. - Stiles começou a guardar seus livros também. - Como estão indo as aulas na sua casa? Vocês já ficaram? A Malia sabe...

- Tchau! - Kira praticamente saiu correndo, mesmo sabendo que ela estava indo para a mesma sala que eles.

- Uau. - o garoto sorriu, colocando a mochila nas costas. - Isso melhorou muito meu humor.

- Ah, claro. - Isaac semicerrou os olhos, colocando as mãos na cintura. - Dê o crédito a Kira, que só passou vergonha, ao invés de dar o crédito a mim, que fiz toda a sua dor sumir.

- Isaac, ninguém está falando com você.

- Ah, mas que ingrato...

- Anda logo, vocês dois. - Scott indicou as escadas com a cabeça. - Vamos nos atrasar para a prova.


Notas Finais


heheheeeee.... Malira <3 <3 <3
e calma, calma, tenho planos pra lydia tbm, nossa banshee favorita <3
até o proximo! comentem, me digam o que acharam :3


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