Eu ainda tentava inutilmente raciocinar tudo que havia acontecido nessas últimas semanas. Descobri que Taehyung era o oposto de tudo que eu havia imaginado ou pensado; ele era agressivo e possessivo quando algo que queria estava em jogo. Minha respiração ainda estava descompassada graças aos tapas e ameaças que me fizera, porém eu tentei manter-me firme.
- Vamos, eles devem estar estranhando – assenti e sua mão agarrou meu pulso de maneira forte, bruta.
- E-está me machucand...
- O que disse? – lançou um olhar ameaçador e eu engoli um seco, piscando repetidas vezes. Talvez nada passe de um pesadelo, Keary. Sim, eu tenho razão: é apenas um horrível pesadelo.
- Nada – abaixei a cabeça e acompanhei-o forçadamente porta afora, sentindo suas mãos apertarem ainda mais meu pulso.
- Ei, Kea! – Jin veio até nós e Tae puxou-me contra ele, impedindo que um abraço ou qualquer tipo de contato fosse desenvolvido entre nós. – Caralho, tu tá bem?
- Eu...
- Não foi nada, ela apenas tentou pegar uma caixa da prateleira e caiu no seu rosto
- Isso é... – seu olhar direcionou-se para mim e um olhar assustado tomou conta do meu corpo. – Verdade? – Perguntou, receoso. Voltei a fitar meus pés e murmurei em um tom praticamente inaudível:
- Sim – as mãos dele apertaram ainda mais contra meu pulso e um grunhido baixo escapou pelos meus lábios.
- Você está machucando ela, Tae! – tentou me defender e eu apenas mantinha meu olhar baixo.
- Cala a sua boca. Ela não está machucada – ergueu meu pulso e meus olhos acompanharam, encontrando um Jin nervoso e podendo escutar alguns passos vindos detrás da porta. – Você não vê? – Riu, cínico.
- Vejo que está mais que na hora de soltar ela, cara – senti a mão dele ser posta contra meu pulso e logo ser retirada, graças ao empurrão que havia levado.
- Não encoste um dedo nela – meus olhos começaram a marejar e eu ainda permanecia estática, sem expressar qualquer ação.
- O que tá acontecendo? – a porta havia sido aberta e pude ver um Hoseok preocupado, junto com o restante do grupo atrás de si.
- Ele tá machucando a Kea – Jin disse, apontando para Tae.
- O que você está fazendo com a minha irmã, porra? – a única voz que eu queria ouvir finalmente apareceu e eu senti uma pontada de paz em minha mente que estava cercada de caos.
- Nada que você já não tenha feito – disse rápido e senti um soco em meu estômago.
- O que você quer dizer com isso? – Yoongi desvencilhou meu pulso de sua mão e eu senti que o sangue finalmente estava voltando a circular normalmente.
- Que você já deve ter assediado sua preciosa irmã
- Repete isso, desgraçado – Yoongi tentou avançar contra Tae porém eu segurei seu braço, colocando-o contra meu busto forte o suficiente para que meus batimentos cardíacos pudessem ser sentidos.
- Não o machuque... – disse baixinho. – Por favor – Apertei meus olhos e percebi que todos observavam a cena abismados; como se não esperassem nada daquilo. Pra ser sincera, nem mesmo eu esperava tudo isso.
- Kea... – sua voz saiu mais calma, da maneira que eu mais gostava de ouvir.
- Vamos embora, Keary – Tae caminhou até o elevador e eu soltei o braço dele, indo em passos largos até ele, que passou os braços sob meu pescoço.
- Kea, o que significa isso? – disse, alterado.
- Ela apenas está indo com quem sempre quis – mordi meu lábio para não dizer nenhuma besteira e as mãos dele foram até minhas bochechas, me forçando a olhá-lo nos olhos. – Não é, amor? – Permaneci em silêncio até sentir suas mãos apertarem minhas bochechas.
- Sim, claro, amor – menti e seus lábios encostaram-se nos meus.
Talvez o sofrimento seja apenas algo necessário. Algo que todos precisamos sentir para podermos nos tocar que nem sempre é o certo e eu consegui perceber o que era o certo.
O certo era eu desistir de amar meu irmão.
- Para onde vamos? – perguntei, fitando a porta de prata do elevador.
- Minha casa – disse rápido, apoiando-se no corrimão que ficava na frente do espelho.
- Mas eu quero ir para minha casa – disse sem pensar e eu notei o que havia dito, porque meus olhos focaram-se nele e um arrepio percorreu meu corpo. – Digo... eu queria mesmo ir para sua casa
- Vamos curtir bastante – deu um passo até mim e eu fui forçada a levantar a cabeça graças à diferença de altura entre nós, notando seus olhos castanhos me fitando. – Não acha, Kea? – Sua mão gentilmente percorreu minha bochecha e a repudia fora o único sentimento que eu pude sentir naquele momento.
- Sim – Tae fechou os olhos e aproximou seus lábios dos meus, selando-os. Sua língua pediu passagem e eu, já que não queria levar uma surra novamente, concedi. Nossas línguas cruzavam-se e dançavam de maneira desnorteada, já que eu me recusava a beijá-lo. Separamo-nos, ofegantes, e eu pude sentir o gosto que sua boca tinha: era hortelã. Um hortelã forte e, por mais que eu odiasse admitir, era um sabor que me deixava numa ânsia indescritível.
Por que eu desejava o cara que me machucou? Por que meu corpo estava sendo tão sarcástico a esse ponto?
- Você está bem? – sua mão pousou em minha coxa e eu encarei-o, ainda tentando engolir o fato de que ele pretendia ignorar tudo que havia acontecido na agência.
- Melhor? Impossível – disse num tom cínico e vi que seu olhar parecia estar repleto de... arrependimento. – Você está bem? – Curvei-me um pouco para poder olhá-lo nos olhos, já que havia desviado o olhar.
- Eu... – sua voz parecia estar falha, o que me fazia pensar que estava prestes a chorar. – Eu não sei...
- Ei – levei minha mão até sua bochecha, forçando-o a olhar para mim. – Não fique assim – Por mais que ele fizesse mal para mim e para o que eu ansiava em ter, isso não significava que eu não poderia me importar com ele. Na verdade, significava sim, mas eu não consigo. Algo nele me faz querer tê-lo e isso é um sentimento que me irrita.
- Por que você se importa comigo? – as lágrimas já desciam pelo seu rosto e eu limpei-as com meu dedão, dando um sorriso de canto.
- Algo me força a isso, eu simplesmente não consigo te deixar assim, Tae – fechou os olhos e as lágrimas desciam descontroladamente, me deixando com um sentimento incômodo em meu peito.
Talvez outra punição seja eu me importar tanto com as pessoas, a ponto de ignorar até mesmo as vezes que elas me fizeram mal.
- Eu sou...
- Shiii, não diga nada – colei nossas testas e permaneci de olhos fechados, escutando seus suspiros aumentando conforme o tempo. – Eu estou aqui. Com você – Levei minha outra mão para seu rosto e comecei a acariciar sua bochecha com meu polegar, me surpreendendo ao ver que em seus lábios brotou um sorriso e eu, inevitavelmente, senti os meus também formarem um.
Eu me odeio por ser tão fraca, mas odeio mais ainda você parecer ser invulnerável aos meus sentimentos negativos, Taehyung.
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