1. Spirit Fanfics >
  2. Tudo que eu mais desejei - ZURENA >
  3. Três

História Tudo que eu mais desejei - ZURENA - Três


Escrita por: zule_escorpion

Capítulo 3 - Três


Fanfic / Fanfiction Tudo que eu mais desejei - ZURENA - Três

Macarena permaneceu sentada no chão por alguns minutos, apenas até se recuperar da emoção e do choque que sofreu ao ver essa inesperada surpresa, ainda mais vinda de Zulema. A árabe nos últimos meses estava agindo de forma diferente, mais emotiva, sentimental e vulnerável.

A loira se lembra de que ela notou a mudança de comportamento da morena no dia em que ela chegou em casa e havia uma cama elástica no quintal, Zulema estava deitada sobre ela, parecia estar com o pensamento distante, a resposta um tanto aleatória quando Macarena perguntou o que tinha acontecido para ela ter comprado uma essa coisa tão inusitada.

Zulema também estava mais calada do que de costume, muitas vezes nem respondendo as provocações que Maca costumava fazer à ela. Ela parecia estar distante, um olhar hipnotizado no invisível, inclusive já havia presenciado uma cena bastante estranha, Zulema parada em frente ao espelho gesticulando e falando coisas que ela não conseguiu escutar, mas parecia estar brigando com alguém, com seus próprios pensamentos.

Houve tantas outras coisas, atitudes que ela não esperava da mulher mais fria que ela já havia conhecido... sorrisos, olhares e alguns gestos que demonstravam afeto para com ela, a polaroid, a noite que passaram juntas apenas se deixando levar, sentindo uma a outra. Mas nas últimas horas a morena havia superado todas as expectativas. Maca jamais teria imaginado que Zulema prepararia um quarto para o seu bebê, ainda mais depois de ter ouvido dela mesma que não se importava com ela e nem com seu filho.

Finalmente a loira tem forças para se levantar daquele chão, ela entra no quarto com os olhos bem atentos observando cada detalhe, ela desliza os dedos de uma mão sobre cada superfície, e acaba pousando as duas mãos em uma das grades do berço, em seguida ela toca o lençol macio com estampa de bichinhos, acariciando com leves movimento que se arrastavam para cima e para baixo, então um pequeno sorriso se forma em seus lábios.

De repente ela precisa de ar, ela precisa sair para respirar, aquele quarto lhe causava muitas emoções, uma variedade de sentimentos que a estavam sufocando. Lentamente ela se afasta sem dar as costas, ela apaga a luz e fecha a porta, logo se recostando na parede ela inclina a cabeça para trás, olhando para o teto e puxando profundamente o ar pelas narinas.

Macarena segue pelo corredor, desce as escadas na intenção de sair para respirar um pouco de ar fresco, ela queria um cigarro mas devido à gravidez estava evitando. Chegando na parte de baixo da casa ela avista uma porta ao fundo da sala de jantar, que ela não tinha visto antes. A loira caminha até ela, está trancada, então ela retira as chaves do bolso e experimenta uma por uma, finalmente encontrando a chave certa, ela abre a porta e vê uma pequena área com uma escada, mais alta do que a que levava para os quartos no interior da casa.

Dava acesso ao segundo andar, e lá mais uma bela surpresa, um ambiente bastante familiar, um terraço com duas espreguiçadeiras, paralelas uma à outra em cima de um gramado artificial, não havia cobertura, apenas o céu que neste momento está cheio de estrelas. Zulema pensou em cada detalhe, e transformou aquele terraço em um lugar que se parecesse o máximo possível com o teto da caravana, onde ela tanto gostava de apreciar o nascer e o pôr do sol, e as estrelas.

Maca se senta em uma delas, se reclina no encosto e relaxa, por um momento ela até se sentiu em casa, a casa que ela e a morena dividiram até alguns dias atrás. Agora ela se pergunta porque Zulema teria preparado essa casa pensando em todos os detalhes que a incluiam? Com certeza tudo foi planejado e preparado antes dela dizer para a morena que não queria mais a vida que levava com ela. A loira percebe que a morena não planejava se separar, por assim dizer.

Na verdade nem ela queria essa separação, mas tudo mudou depois que ela descobriu a gravidez, fruto do seu envolvimento com um homem que ela conheceu em um bar, em uma das noites em que Zulema e ela brigaram, e ela saiu para se distrair. Era pra ser só uma noite de diversão e talvez um pouco de prazer, mas eles mantiveram contato depois disso, o que acabou se tornando algo, que ela não sabia o nome... logo depois por descuido aconteceu a gravidez.

Macarena reflete sobre como tudo mudou à partir daquele momento, em que ela se deu conta de que o seu atraso menstrual aliado aos últimos sintomas, só poderia ser gravidez, o que logo foi confirmado após ela realizar um teste, desses de farmácia mesmo. O resultado não poderia ser diferente, ela já esperava, mas desejava que estivesse errada, porém estava lá, bem diante de seus olhos, duas listras representando o tão temido positivo.

Ela sabia que agora tudo teria que mudar, e isso a assustava muito, mais do que ter que cometer algum tipo de crime. Isso representava uma mudança no seu padrão de vida, nos seus costumes, sua rotina, mas acima de tudo, significava se afastar de Zulema, não que a morena fosse uma ameaça direta para seu bebê, mas porque permanecer ao lado da árabe significava insegurança devido ao estilo de vida que elas levavam, e Zulema não mudaria sua vida por um bebê que não era seu, certo?

Isso não deixava outra escolha para a loira, ela teria que abandonar essa vida, a adrenalina, as aventuras, os riscos... a morena! e tudo o que essa vida ao lado dela, e de assaltante procurada pela polícia lhe proporcionava, tudo que era o seu combustível para seguir sua vida.

Mas e o quarto que Zulema preparou, pensando em cada detalhe? Ela estaria disposta a abandonar essa vida também e seguir com a loira nessa nova jornada? Afinal só lhe restavam meses, provavelmente ela apenas quis garantir um lar confortável, aconchegante e seguro para Maca e o bebê para quando o câncer finalmente a destruísse. Zulema queria passar o resto de seus dias com a loira irritante... seu lar afinal.

A escolha de Macarena a levou até onde ela está neste momento, mas não era pra ser assim, as coisas não eram pra acontecer da maneira que aconteceram... Primeiramente era para Zulema estar viva, naquela casa comemorando junto com ela, com uma garrafa de tequila na mão, dançando alguma das músicas que ela gostava. Maca sorriu imaginando a cena da morena pulando de um lado para o outro, levantando as mãos e sacudindo-as no ar de qualquer jeito, e balançando os quadris ao som da música agitada.

Depois disso elas se despediriam, da maneira delas, como se não tivessem importância uma para outra, sem palavras afetivas, mas que estavam lá o tempo todo não pronunciadas, tudo dito através dos olhos, talvez um abraço, ou não, afinal Zulema ainda era traumatizada com o abraço de Macarena, era impossível esquecer um ferro de passar roupas quase esmagando sua cabeça por trás enquanto ela estava nos braços da loira. E então, depois seria o fim dessa parceria, e finalmente Maca partiria para sua tão desejada vida, uma casa de verdade, com seu bebê, seu futuro marido e talvez um cachorro.

Teria sido simples, se não fosse o fato dela descobrir que seu futuro marido era um policial que por coincidência acabou se apaixonando por ela, mas logo depois descobriu quem ela era de verdade, uma procurada da polícia. Se ele não fosse tão certinho e não tivesse feito ela escolher entre ser presa ou entregar Zulema, talvez ele não tivesse acabado morto pelos próprios colegas da polícia dentro daquele quarto do hotel Oásis.

Se também não fosse o fato de Zulema ter um câncer terminal que a estava destruindo dia após dia lentamente, fazendo com que ela não raciocinasse corretamente algumas vezes, como no dia do roubo no casamento, onde ela simplesmente inventou de querer dançar...talvez agora ela estivesse aqui. Aquela dança deixou uma grande brecha para o que aconteceu a seguir, uma grande confusão com o tiroteio, resultando numa bala atravessando o quadrante inferior direito do abdômen de Flaca, e a noiva sendo levada como escudo e garantia de vida, o que claramente se tornou um rastreador bem no traseiro delas, e que certamente levaria Ramala à encontrá-las.

Nesse momento, Macarena não sabe o que dói mais, pensar que ela partiria para começar uma nova vida, carregando uma dentro dela mesma e deixando outra vida que estava se acabando para trás, mesmo que ela não soubesse... ou perceber que a pessoa que ela estaria deixando foi a mesma que deu à ela e ao seu bebê a chance de estarem vivos enquanto ela decidiu ficar e dar a própria vida.

Maca entendeu que aquela atitude de Zulema não foi um sacrifício para salvá-la, mas que mesmo assim a beneficiou. Ela sabia que a morena tinha dolorosamente decidido que ali seria seu ponto final, porque o que mais ela faria se tivesse entrado no helicóptero? Para onde ela iria, quem estaria esperando por ela quando ela aterissasse? A loira sentiu uma dor ao pensar nessas coisas.

Macarena pensou que a morena provavelmente teria passado o pouco tempo de vida que lhe restava sozinha, nessa casa enorme que ela preparou para elas e mais ainda para um bebê, que provavelmente ela não chegaria nem a conhecer, mas que imaginando pelo quarto que a árabe preparou, ela gostaria de poder ver o pequeno ser dentro do berço que ela escolheu... esse pensamento fez o coração da loira apertar, um pesar tomou conta de todo seu ser.

A loira agora só conseguia se lembrar das últimas palavras da morena, o significado de cada uma delas pesando em sua mente, um filme dos momentos que passaram juntas durante o tempo que durou a parceria e o tempo que ficaram presas. Agora, Maca se sentia mal por ter sido tão fria nas vezes que Zulema tentou se aproximar dela, sempre rebatendo de maneira seca as palavras ou as atitudes mais afetuosas da árabe. Não que ela não se importasse, ela só não queria deixar que a outra soubesse que ela se importava, isso pareceria sinal de fraqueza e vulnerabilidade, algo que poderia ser uma arma fatal nas mãos de Zulema, e ela não poderia correr o risco de se expôr dessa maneira.

Com esses pensamentos, com as lembranças que pairavam agora no ar, as incertezas do amanhã e do seu futuro, assim como do seu bebê, Macarena estava exausta e acabou cochilando com a imagem da árabe em seus últimos momentos, o sorriso dela tentando lhe trazer tranquilidade e certeza de fazer o que ela tinha que fazer, estava preso dentro de suas pálpebras, assim de olhos fechados, a imagem daquele sorriso permanecia lá, nos olhos de uma loira adormecida sobre a espreguiçadeira, embaixo do céu estrelado, igual acontecera diversas vezes na van, porém agora, sem a morena para acordá-la.

 ***************

Algumas horas antes no deserto em Almería 

Zulema vê a loira sumindo por entre as montanhas de terra e areia, mechas loiras balançando com o vento que corre na direção oposta à seu corpo, desaparecendo então por completo, Zulema se vira e instantâneamente o sorriso que ela tinha nos lábios desaparece, e nos seus olhos o medo tomava o lugar do brilho que ocupava sua íris segundos atrás, a respiração pesada, o coração acelerado, as pupilas dilatadas, a adrenalina correndo uma maratona por todo seu corpo, e os músculos contraídos.

Em outra ocasião ela estaria pronta para atacar, como sempre fez, assim como um animal que se sente ameaçado faria, mas agora não, agora ela vê a si mesma observando-a com aquele uniforme amarelo, “que vás hacer?” a alucinação pergunta simplesmente, quase que zombeteiramente.

" No lo sé" Zulema responde à ela mesma,“pero prefiero morir aquí que en el hospital”.

A decisão estava tomada, era o seu fim, e ela decidiu assim, ela foi contra tudo o que a sua alucinação dizia que ela faria, ela não matou nem Goya, Triana, muito menos Maca e seu bebê. Nem tampouco morreria numa cama de hospital! Ela viveu sem medo e morreria também sem medo.

A árabe se agacha curvando seu corpo para frente, ela se abaixa e coloca sua testa no chão, em seguida murmura algumas palavras que parecem uma canção ou talvez uma prece à Ala, parece árabe. Os carros a alcançam mas mantém uma certa distância, eles sabiam do que ela era capaz, sua fama percorreu diversos lugares, seus feitos eram inacreditáveis e assombrosos, ela era uma caixinha de surpresas, uma bomba relógio. Certamente pensaram que ela se auto explodiria levando todos pelos ares, fazendo com que fossem reduzidos à apenas uma névoa rosa, formada pelo sangue, pele, órgãos e ossos dissipados a microparticulas. Eles manteriam uma distância segura, até ver qual seria seu próximo passo.

Não era qualquer mulher à frente deles, era Zulema Zahir, uma das criminosas mais temidas da Espanha, ela não facilitaria dessa maneira para eles, se entregar não era uma opção plausível na mente de qualquer um que conhecesse aquele escorpião. Mas lá estava ela, abaixada com seu resto enterrado na areia. Ninguém se mexia, um silêncio pairando sobre aquele lugar, até o vento havia parado para reverenciar à rainha árabe.

Tudo se passava em questão de segundos, logo ela se levantou, mas nenhum dos homens se mexeu, ela soltou as armas, encarando seu destino, esperava que fosse rápido, porém sabia que seria doloroso, a dor de um tiro queima, e dependendo de onde acerta, pode levar alguns minutos agonizando até finalmente a morte chegar.

Ela estava preparada, estava em paz e agora estava conformada, apesar da puta vida de mierda que teve, os últimos anos deram à ela tudo que ela não experimentou a vida toda... ela teve um lar, ela não precisou fugir mais, ela confiou em alguém, e deixou alguém se aproximar, pouco a pouco, deixou esse alguém ir mais longe do que qualquer um jamais poderia ter ido, “puta rúbia eu deveria ter te matado quando pude” ela pensou, “mas como matar minha gêmea vitelina como disse Altagracia?”

Havia chegado a hora...

“Zuleemaaa!!! Um grito ecoou inesperado por trás de uma montanha de terra, chamando a atenção do exército de mexicanos que instantâneamente se viraram para olhar.

Zulema sorriu, ela conhecia aquela voz, era a voz de Saray! “Mi gitana" ela vibrou silenciosamente, logo avistando sua hermana se aproximando em uma caminhonete, acompanhada de Goya em cima da carroceria levando em seu ombro um lança míssil, enquanto ao seu lado Triana empunhava um fuzil assim como Saray que estava na janela da cabine, enquanto sua esposa Maria dirigia.

Bastaram algumas palavras da cigana para que tudo acontecesse em questão de segundos, um grito saiu de sua garganta “a lo loco!”, neste mesmo instante cada uma delas disparou respectivamente suas armas.

Os mexicanos não tiveram chance ao serem atingidos pelo míssil lançado por Goya, e pelos diversos tiros disparados pelas outras mulheres, elas não pararam enquanto não tiveram certeza de que todos estavam mortos. Não sobrou nem mesmo um para contar a história.

Após a confirmação de que não havia mais nenhum risco, as mulheres esperam que Zulema fosse até elas, para saírem o mais rápido possível daquele cenário de terror, porém a morena simplesmente não apareceu. O pior passa pela mente da cigana, ela teria sido atingida ou estava escondida atrás de alguma rocha?

Imediatamente ela desce do carro, “Zuulee" ela gritava entre os destroços que haviam sobrado, mas não obteve nenhuma resposta, ela olha mais adiante e a vê, caída no chão, totalmente imóvel. Saray se aproxima e se ajoelha diante da morena, “Zule” ela sussurra segurando o rosto da árabe entre suas mãos, nenhum movimento, nenhum som em troca.

“Acorda bela adormecida, porque nenhum príncipe montado num cavalo branco vem te resgatar" ela brinca em meio as lágrimas, mas eu estou aqui, eu vim por ti, e eu iria por ti até a porra do inferno, então fique aqui por mim... a cigana chorava segurando a cabeça de sua hermana contra o peito.

As outras apenas observavam de longe aquela cena dilacerante, não queriam acreditar no que seus olhos viam e não queriam interromper aquele momento de dor da mulher que chorava por sua amiga, sua irmã que a vida lhe deu.

“Desde quando você acha que eu acredito em príncipe encantado?” uma voz fraca e rouca saiu da boca da árabe, fazendo a cigana enxugar as lágrimas e sorrir,

“ Desde que eu te vi caída nesse chão, com os olhos fechados igual a bela adormecida! Você me deu um susto sua árabe de merda" ela disse sorrindo com a voz ainda entrecortada pelo choro de antes.

“Também estou feliz por te ver cigana" Zulema sorriu apenas esticando os lábios, com os olhos cheios de lágrimas.



Notas Finais


Eu não poderia deixar nossa Zuzu morrer né gente! Ufa, agora me sinto mais aliviada, espero que tenham gostado 😅
Eu não sei descrever cenas de ação, nem sei se foi convincente, mas pelo menos a Zulema está mais viva do que nunca.
Algumas questões serão respondidas no próximo capítulo, senão esse ficaria ainda mais longo.
Até a próxima atualização 😘


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...